QUANDO CRESCER QUERO SER PRINCESA: A CONSTRUÇÃO …

QUANDO CRESCER QUERO SER PRINCESA: A CONSTRU??O DE G?NERO NOS FILMES DE PRINCESA DA DISNEY

Ana Carolina Rocha Lisita UnB, Brasil anac.lisita@

Tatiana Fernandez UnB, Brasil tfernandezster@

RESUMO

Este artigo tem como proposta apresentar problematiza??es acerca do papel educacional de alguns filmes da marca Princesas da Disney, dos est?dios Disney, na constru??o de g?nero na inf?ncia e adolesc?ncia. Nele se fazem considera??es relativas ao uso constante da marca na perpetua??o do arqu?tipo feminino submisso, e sobre a maneira como essas imagens repercutem na forma??o de meninas, mas tamb?m observa-se como os arqu?tipos de princesas mudaram nas ?ltimas d?cadas. Na perspectiva dos estudos de g?nero analisam-se os principais tra?os das personagens para discutir uma pedagogia pleb?ia em base ?s ideias de pedagogias culturais. Frente ? reflex?es que estes filmes podem provocar salienta-se a import?ncia de se discutir sobre identidade de g?nero dentro da escola num momento em que no Brasil h? grupos de resist?ncia a toda forma de despatriarcaliza??o e descoloniza??o.

Palavras-chave: Princesas da Disney; Cultura visual; G?nero; Pedagogia cultural.

Partindo do entendimento sobre o papel da mulher e o que vem a ser mulher dentro da cultura ocidental, este artigo busca analisar a constru??o dos arqu?tipos femininos nos enredos dos filmes de princesas produzidos pelos est?dios Disney, que foca frequentemente em meninas dos anos iniciais at? mais ou menos 12 anos de idade, brancas, magras, de classe m?dia e alta, de cabelos loiros esvoa?antes. Durante d?cadas a ind?stria cinematogr?fica e de maneira particular os est?dios Disney constru?ram arqu?tipos baseados na primazia do homem branco e dos valores patriarcais, coloniais, capitalistas e conservadores. Isso fica bastante claro pelas pr?prias caracter?sticas das princesas e dos personagens que a cercam. Apesar de possuir esse modelo, recentemente com o avan?o do "empoderamento" feminino, essas princesas e personagens vem adquirindo novas caracter?sticas, abra?ando um p?blico misto e abrangente.

A an?lise conduz a observar que assim como os filmes Disney s?o uma forma de pedagogia na constru??o de g?nero, assim tamb?m a escola deveria ser o espa?o pedag?gico em que se discuta a cultura e a forma como ela atua sobre a vida das pessoas. Esta pedagogia de dupla via ? considerada na perspectiva da pedagogia cultural que considera a produ??o cultural como uma pedagogia e a pedagogia como uma produ??o cultural (ver STEINBERG, 1997; TREND, 1992; WEINER, 2001; MARTINS e TOURINHO, 2014; CAMOZZATO, CARVALHO e ANDRADE, 2016). Nesse sentido ? uma an?lise que visa destacar o lugar da Educa??o em Cultura Visual na educa??o que se insere nas rela??es democr?ticas e emancipadoras. Do beijo do pr?ncipe ? rainha sem rei ? um longo caminho de plebeiza??o que requer de hero?nas.

1. DO BEIJO DO PR?NCIPE ? RAINHA SEM REI?

Recentemente uma grupo de psic?logos coordenados pela professora Sarah Coyne da Brigham Young University, dos Estados Unidos da Am?rica do Norte, fizeram uma pesquisa intitulada de "Pretty as a princess: longitudinal effects of engagement with Disney princesses on gender stereotypes, body esteem", na qual buscou desvendar os efeitos das Princesas da Disney na constru??o dos estere?tipos de g?nero, atrav?s dos filmes e brinquedos com crian?as do jardim de inf?ncia, a pesquisa foi feita em tr?s etapas que consistia com respostas dos/das docentes, dos pais e m?es e das pr?prias crian?as, ao total 198 crian?as de ambos os sexos foram estudadas.

Atrav?s desta pesquisa foi poss?vel demonstrar como as produ??es das Princesas perpetuam com o arqu?tipo feminino e masculino machistas, a autora discorre juntamente com outros pesquisadores que "It also supports research showing that engagement with the Disney Princess culture can influence gender stereotypes and may contribute to a "girly girl" culture in which gendered behavior is common and highly valued. " (COYNE, 2016; DINELLA, 2013;ORESTEIN, 2011; WOHWEND, 2009). Coyne (2016) tamb?m aponta que segundo os pais e m?es dessas crian?as, os filmes da franquia s?o seguros e educativos para seus/suas filhos/as. O mais interessante na fala desses pais e m?es ? que para eles os filmes s?o apenas para as meninas, pois as ensinam a serem "educadas, prendadas, zelosa, gentil, obediente", por?m quando sugerido esses mesmo filmes para os meninos, os respons?veis j? acham que n?o ? um perfil para seus filhos, pois para eles os meninos t?m que crescer sob a imagem de se tornar um homem m?sculo, de a??o, que vai ? luta pelos seus ideias deixando tudo para tr?s em busca desse sonho.

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A te?rica Ruth Sabat (2001) tamb?m argumenta sobre o poder que os filmes de anima??es possuem, especificamente, da maneira em que estabelecem uma verossimilhan?a com as reprodu??es da realidade, conseguindo superar a literatura escrita e at? mesmo a hist?ria contada. Assim sendo as anima??es disp?em de uma configura??o de espa?os de constru??o de identidades de g?nero, elas reproduzem narrativas nas quais as diferen?as atribu?das a sexo se apresentam baseadas em um discurso "convencional" e conservador: os homens s?o naturalmente fortes, viris, poderosos e racionais; enquanto as mulheres aparecem como calmas, gentis, fracas e submissas aos homens.

As princesas da Disney possuem um arqu?tipo de mulher: geralmente cis g?nero, heterossexual, de corpo esguio, cabelos longos e tendencialmente loiro, de olhos e pele clara. Essas princesas seguem um modelo que abrange poucas mulheres ao redor do mundo, segue um padr?o euroc?ntrico de beleza. Al?m de sua est?tica ?nica, suas princesas tendem a serem mulheres submissas que est?o ? espera de um homem para salva-las da vida azarenta que possuem por serem solteiras, em geral s?o mo?as dependentes do sexo masculino para enfim poderem viver uma vida dos "sonhos". Entre as 13 princesas da marca Princesas Disney, existem poucas que n?o seguem esse prot?tipo do "ideal" de mulher. Parte-se dessas princesas marginais para fazer o recorte de estereotipo de g?nero dentro dos filmes.

Para a an?lise foram selecionados cinco filmes das princesas da Disney consideradas dentro da marca Princesas Disney. Duas s?o da d?cada de 1990 quando os est?dios Disney quase quebraram ap?s longo per?odo de fracassos: Aladdin (1992) e Mulan (1998). Os outros tr?s prov?m de um novo momento da Disney, na sua parceria com a produtora de desenhos animados, PIXAR: Valente (2012), Frozen ? uma aventura congelante (2013) e por ?ltimo Moana: um mar de aventuras (2017).

As escolhas desses filmes se deram devido ao enredo dessas princesas, no caso do filme do Aladdin (1992) que apesar do filme ser de um protagonista do sexo masculino, temos a princesa Jasmine. A hist?ria foi inspirada e adaptada do conto ?rabe Aladim e a L?mpada Maravilhosa provindo do cl?ssico da literatura o livro As mil e uma noites. O foco da narrativa do filme ? a hist?ria de um rapaz chamado Aladdin que acha uma l?mpada m?gica que ir? mudar radicalmente sua vida, apesar do protagonista ser um personagem masculino quem ? um grande destaque ? a princesa Jasmine, ademais, ela ? a ?nica personagem do n?cleo principal do filme que possui voz ativa.

Jasmine ? uma princesa diferente das suas antecessoras, ela tem uma voz pr?pria e cr?tica em rela??o ao seu papel como mulher na sociedade ?rabe, tem uma sensualidade que at? hoje nenhuma outra princesa superou, ? uma das primeiras princesas a sair do modelo euroc?ntrico, ela tem a pele negra e os tra?os pr?ximos ao das mulheres ?rabes. Sua majestade, sensualidade e intelig?ncia s?o t?o fortes que lhe deram como melhor amigo Rajah, um tigre e n?o "passarinhos", "veadinhos", etc.

Ela quebra com as normas do sistema de princesas n?o s? uma vez, mas diversas, sendo tr?s as mais imponentes: 1? Ela enfrenta o Sult?o, seu pai, dizendo que n?o ir? se casar com o pretendente que ele escolheu. 2? Ela foge do pal?cio para conhecer o que existe "al?m dos muros do pal?cio". 3? Ela quebra com as regras de "um pr?ncipe encantado que ir? resgata-la", ela se mostra muito mais interessada em quem ? o Aladdin na realidade do que toda aquela fantasia e posses que ele possui/a sendo Pr?ncipe Ali.

Diego Blanco (2012) aponta uma curiosidade pertinente desta produ??o que ? o fato do Aladdin vir no papel de uma "gata borralheira" querendo se tornar uma "princesa" e o G?nio da L?mpada, representa o papel das fadas madrinhas. Segundo ele o filme tomou imenso cunho feminista, por mais paradoxal que isso possa parecer, pois foi poss?vel mostrar esse lado "masculino" de uma princesa, Jasmine acaba ilustrando a emancipa??o da mulher, que agora pode sonhar em sair do pal?cio, ao inv?s de passar a vida toda dentro dele.

O segundo filme do final da d?cada de 1990, ? da Mulan, com o filme intitulado com seu nome, sua hist?ria inspirada em uma lenda milenar chinesa chamada Hua Mulan. Ela est? no hall da fama das Princesas da Disney, apesar de n?o ser e nem mesmo se torna uma princesa no decorrer de sua hist?ria.

Mulan quebra com todas as barreiras poss?veis do modelo de princesa da Disney. Nas cenas iniciais, quando se apresenta ? Casamenteira, para lembrar daquilo que n?o ? deve escrever escondido no bra?o as supostas virtudes de uma mulher que quer casar "Calma e reservada, graciosa, educada, delicada, refinada, equilibrada. Pontual! ". No desenvolver da hist?ria aparece diversas vezes rompendo com o modelo de "boa esposa" descrito no in?cio e mostrando que ? poss?vel ser ela mesma para enfim conseguir "seu par".

A hist?ria se passa na China da Dinastia Han (per?odo entre 206 a.C. e 220 d.C.), quando estava sendo invadida pelos Hunos, por consequ?ncia disso o Imperador ordena que todos os homens das prov?ncias da China sejam convocados a irem a guerra. Ao chegar na fam?lia Fa, a fam?lia de Mulan, seu pai ? o ?nico homem da fam?lia, por?m ele possui um problema na perna que torna dif?cil sua locomo??o sem ajuda de uma bengala. Mulan se revolta e usurpa o lugar de seu pai na batalha, se travestindo de homem, n?o s? as vestes, mas tamb?m o linguajar e como se portar perante aos demais. O ponto chave do filme se encontra nessa invers?o de papeis sociais, em que ela como mulher pode ir ? guerra e "lutar como um homem", por?m melhor, pois se n?o fosse por ela a China teria sido tomada pelos Hunos. Essa invers?o de papeis est? diretamente relaciona com o que ? proposto na teoria/problema/identidade de g?nero explicada adiante.

At? hoje a Disney n?o superou essa quebra de padr?o t?o forte, o filme n?o ? apenas uma ant?tese de como ser princesa, mas tamb?m possui um enredo de muita a??o e luta, que n?o era muito comum ser feito pelas princesas nas produ??es das Princesas Disney, chamando aten??o inclusive do p?blico infantil masculino. Sua dubladora Ming-Na Wen em uma entrevista ao "USA

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Today" afirma que Mulan nada mais ? do que "a ant?tese de Cinderela. Ela n?o usa um vestido. Ela usa uma armadura" (2016). A parte final do filme transforma o projeto de "boa noiva" para honrar sua fam?lia em uma grande hero?na, que faz com que o pr?prio Imperador da China se curve diante dela. Desta forma ao retornar para casa, ela leva a espada Imperial, a mais honrosa das honrarias. Mas tamb?m ganha o cora??o do seu ent?o ex comandante oficial do ex?rcito, Shang, como seu pretendente.

No primeiro da fase da jun??o Pixar e Disney, "Valente", Merida ? a protagonista do enredo. Ela ? uma princesa que vai contra a mar? das princesas cl?ssicas, com seus cabelos esvoa?antes vermelhos vibrantes nos da a sensa??o de ter uma personalidade pr?pria, suas roupas s?o mais despojadas possibilitando desbravar a floresta e o reino, al?m de permitir que pratique sua atividade favorita que ? arco e flecha, sendo uma ?tima arqueira, al?m disso seu porte f?sico se difere do padr?o feminino das princesas.

A hist?ria se passa na Esc?cia medieval, e diferentemente dos padr?es da Disney, a hist?ria nasce das lendas celtas. Ela possui tr?s irm?os g?meos, al?m de ter a m?e e o pai vivos. Por consequ?ncia de um conflito entre seu reino e outros tr?s, seus pais criam um torneio para os filhos dos demais reinos disputarem a m?o dela, entretanto, Merida se recusa, e sua recusa ? posta em a??o quando ela vence o torneio, conquistando sua pr?pria m?o. Neste ponto ? valido ressaltar o arqu?tipo de mulher trof?u, na qual se objetifica a pessoa sem levar em considera??o sua vontade real.

O principal conflito ocorre entre ela e sua m?e, Elinor. Enquanto Merida rompe com os valores impostos, sua m?e ? a pr?pria representa??o do arqu?tipo de princesa. Esse ? um conflito de gera??es, de princesas cl?ssicas versus princesas contempor?neas rebeldes. O filme sai da trama da mulher salva pelo pr?ncipe e foca na rela??o entre Merida e sua fam?lia e na descoberta de si mesma. Merida ? a pr?pria representa??o de busca pela liberdade de constru??o dos valores de g?nero impostos pela sociedade.

O arremate final de Valente ? o fato de que ela conquista o direito de n?o precisar se casar de forma arranjada, fugindo do modelo "felizes para sempre" com seu pr?ncipe. Desta forma, ela se torna a primeira princesa da Disney a come?ar e terminar solteira, o que ? um grande passo para a hist?ria das princesas. Mostrando n?o s? que pode ser mulher e ter voz pr?pria, como tamb?m n?o precisa ser meiga, delicada, educada, e usar roupas que machuquem.

"Frozen ? uma aventura congelante" trata sobre Elsa, uma princesa que se torna rainha e sua irm? Anna, que continua sendo princesa. As personagens fisicamente pertencem ao arqu?tipo das Princesas, entretanto a forma de pensar e agir vai contra a corrente dos cl?ssicos contos de fadas. Frozen ? um filme com uma hist?ria tocante de amor fraterno de irmandade, que escala geleiras (literalmente) a procura de uma irm? que fugiu para longe da outra.

Sua hist?ria se passa no reino de Arendelle onde Elsa e Anna eram insepar?veis quando crian?as. Entretanto, devido aos poderes para gerar gelo e neve (criocinese) de Elsa, acaba machucando a irm? quase levando-a a ?bito. Dessa forma seus pais (vivos naquela ?poca) a excluem do conv?vio com os demais at? conseguir controlar seus poderes. Tempos depois Elsa ? coroada Rainha de Arendelle, algo que ? uma novidade para os contos sobre princesas. Por?m ocorre um acidente e ela deixa o reino debaixo de neve. Em consequ?ncia decide se refugiar nas montanhas, longe de todos, inclusive sua querida irm? Anna.

Elsa ? uma guerreira por si, luta para conquistar seu espa?o, a m?sica Let it Go escrita pelo casal Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, na qual ela entoa "Be the good girl you Always have to be conceal, don't let them know. Well, now they know. Let it go! Let it go! Can't hold it back anymore, let it go! Let it go! Turn away and slam the door, I don't care what they're going to say" deixa bem claro que ela n?o pertence aquele mundo cheio de regras sociais que a impedem de ser quem ela realmente ?, uma Rainha da Neve, uma rainha que se torna sem precisar se casar com nenhum pr?ncipe ou rei.

Anna em contrapartida a sua irm?, se apresenta como uma sonhadora que deseja encontrar seu pr?ncipe encantado, entretanto pela falta que sua irm? lhe faz decide ir atr?s dela, tornando o tema casamento secund?rio em sua vida, pois para ela n?o importa se sua irm? est? longe. Um ponto interessante no enredo de Anna ? que ela encontra um rapaz plebeu que se apaixonam (mas n?o se casam) e junto a ele encontra um bonequinho de neve, Olaf, que ? o alivio c?mico do filme, que ajudam Anna a encontrar Elsa. Quando se encontram o feiti?o de Elsa sob o reino se desmancha, pois, o amor das duas era a prova do amor verdadeiro.

O outro filme de parceria da Disney com a PIXAR, "Moana ? um mar de aventuras", ? um filme recente, e veio para romper de vez com os mais enraizados dos arqu?tipos de princesas. Primeiramente Moana ? negra, tem um corpo atl?tico, forte como uma guerreira, cabelos negros longos e encaracolados, em seu enredo n?o h? romance, n?o existe pr?ncipe e nenhum homem que ir? salva-la, na verdade Moana nasce para salvar a popula??o de sua ilha. Moana ? filha do l?der de uma ilha Motuni na Polin?sia que proibiu a ida dos nativos para al?m dos corais e se lan?arem mar adentro. Entretanto Moana tem uma liga??o forte com o mar, sendo sempre chamada para suas ?guas.

O ponto chave da trama ocorre vinculada a um conto que sua av? Tala, considerada pelos demais nativos como louca, por contar hist?rias antigas dos e das Deusas, semideusas, deuses e semideuses que existiram e existem na Terra. Tala conta sobre a Deusa Te Fiti que criou a vida e depois tornou-se uma ilha, na qual possu?a uma pedra dentro de si que representava seu cora??o, por?m um semideus chamado Mau? rouba essa pedra, fazendo com que Te Ka o monstro da lava lance uma maldi??o sobre todas as ilhas que Te Fiti criou, e jogando ao mar o anzol de Mau? e o cora??o de TeFiti. O mar d? a Moana essa pedra, e incentivada pela av?, ela segue em busca de Mau? para ajud?-la a devolver o cora??o de Te Fiti. O que Moana n?o contava era que ele fosse um semideus ego?sta, narcisista, entretanto eles partem na miss?o para devolver o cora??o de Te Fiti.

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A partir desse momento que ela se encontra com Mau?, temos uma nova revirada nos padr?es de princesas, com exce??o de Mulan que ? uma lutadora. Moana acaba sendo quem toma a frente de toda jornada, mostrando que, apesar dos percal?os, que s?o muitos. Em toda trajet?ria do filme ela entoa um canto de supera??o apesar dos medos, apesar de a princ?pio n?o saber seu lugar, quem ?. Moana ? um filme de empoderamento feminino, ela ? fiel apenas ?s suas cren?as e convic??es e luta para conquist?-las, sem depender de pai, marido ou qualquer homem.

Esse empoderamento feminino ? parte de uma posi??o de emancipa??o frente ?s quest?es de g?nero. E o que vem a ser g?nero afinal? Dentro da gram?tica, g?nero ? a express?o lingu?stica que se utiliza para classificar certas classes gramaticais, neste contexto, g?nero ? subdivido em duas categorias, feminino e masculino, assim como na biologia, em que existe os seres do sexo masculino e do sexo feminino, ambos conceitos apontam para um binarismo, em que se utilizam como determinante os aspectos f?sicos e biol?gicos do que ? ser feminino e ser masculino.

Segundo Joan Scott (1995) a ideia do uso de g?nero nas discuss?es sobre as rela??es de poder e domina??o patriarcal inicia-se nos movimentos feministas norte-americanas, que utilizavam a nomenclatura para designar a uma organiza??o social da rela??o entre os sexos, desta forma "a no??o de g?nero como uma constru??o social teve como objetivo analisar a rela??o de mulheres e homens em termos de desigualdade e poder"(Scott, 2012, p.333).

J? Judith Butler (2002) o caracteriza como uma subst?ncia ou um `n?cleo' preestabelecido, denominado pessoa, desta forma argumenta que ao contr?rio do que defendiam as teorias feministas, o g?nero seria um fen?meno inconstante e contextual, que n?o denotaria um ser substantivo, "mas um ponto relativo de converg?ncia entre conjuntos espec?ficos de rela??es, cultural e historicamente convergentes" (p. 29). G?nero ? nessa perspectiva ? uma quest?o de performatividade.

A defini??o do conceito ainda ? bastante conturbada, entretendo, ela vem para fazer uma quebra do sujeito androc?ntrico, buscando uma equidade entre as pessoas, na qual a forma como ela se identifica, ou como performa como sujeito culturalmente, ? dominante sobre os padr?es bin?rios homem/mulher da biologia. Simone Beauvoir em sua frase emblem?tica afirma que "A gente n?o nasce mulher, torna-se mulher", ou seja, g?nero ? algo n?o fixo, como no caso do sexo. Jane Flax (1999), aponta ainda que as rela??es de g?nero n?o possuem uma ess?ncia fixada, ela oscila conforme o tempo e al?m dele.

As discuss?es sobre g?nero hoje representam um grande inc?modo para os grupos conservadores da sociedade. No Brasil acontece um momento de grande repress?o dentro da educa??o. Em 2014 foi lan?ado o Plano Nacional de Educa??o (PNE), que serve de modelo para a cria??o dos Planos de Ensino dos munic?pios e estados para os pr?ximos 10 anos. Dentro das propostas bases do PNE, ap?s v?rias conferencias anteriores com membros dos governos no ?mbito municipal ao federal, educadores/educadoras que atuam em sala de aula pelo pa?s, pensadores/as da educa??o, grupos de lutas sociais e INGs foi proposto no inciso III do artigo 2 da lei 13.005 de 25 de junho de 2014 a "supera??o das desigualdades educacionais, com ?nfase na promo??o da igualdade racial, regional, de g?nero, de orienta??o sexual e identidade de g?nero."(BRASIL, 2014).

Entretanto, as comunidades religiosas crist?s ficaram ensandecidas, achando amoral ensinar sobre sexo para crian?as, argumentando que isso vai contra a fam?lia, moral e bons costumes, baseados na B?blia. Os grupos religiosos possuem representantes pol?ticos no Senado, na C?mera, nas prefeituras e nos governos; conhecidos como a Bancada Evang?lica. Contando com esse apoio pol?tico, entraram com v?rias a??es na C?mara dos Deputados e Senado Federal, pedindo para a exclus?o do uso dos termos "identidade de g?nero", popularizado por eles por "ideologia de g?nero", e "orienta??o sexual". Sob a press?o desses grupos os termos foram retirados da lei 13.005 e proibido o uso dos termos e seus conceitos dentro do espa?o escolar.

2. PEDAGOGIAS CULTURAIS: A VIDA NA PERSPECTIVA DAS PLEBEIAS

O debate dentro de sala de aula sobre g?nero, orienta??o sexual ? de total relev?ncia, pois ? na escola que as crian?as e jovens passam maior parte do tempo de sua vida at? atingir a idade adulta. A escola tem um papel fundamental, em conjunto com a fam?lia, m?dia, etc. no processo de educa??o para essas/esses jovens. ? dentro desse ambiente de sociabilidade e forma??o individual que s?o produzidos e reproduzidos os preconceitos e a discrimina??o.

O lugar `Escola' ? um ambiente democr?tico, embora cada institui??o possui seu escopo moral e ?tico. De toda forma, a polariza??o sobre o tema parte dos lugares em que as quest?es sobre g?nero e orienta??o sexual s?o vistos como amorais. Mas, ent?o como prosseguir uma agenda emancipadora na educa??o? Segundo Fernando Hernandez (2013) a escola ainda ? um local de transmiss?o de informa??o, entretanto, est? voltada para uma submiss?o e uma padroniza??o da massa, e os pesquisadores, educadores t?m o dever de articular juntamente com o corpo educacional para buscar as resist?ncias, trazendo provoca??es, transformando-a em um espa?o de educa??o humana democr?tica.

Guacira Louro (1998) argumenta que ? dentro da escola as crian?as aprendem e refor?am a dualidade das diferen?as que herdamos da sociedade ocidental moderna. A escola, como institui??o, o primeiro contato efetivo de formas de segrega??o social na vida de uma pessoa. ? neste espa?o escolar de uma forma normatizada que se perpetua com diversas formas de preconceito e discrimina??o existentes na sociedade, a partir dessas a??es ? que surgem os primeiros padr?es de hierarquiza??o entre os meninos e as meninas.

Acredita-se que o alicerce da constru??o do car?ter, personalidade e atitudes de uma pessoa, ocorre no per?odo da inf?ncia, sendo assim, ? de suma import?ncia buscar o di?logo com a pluralidades existentes no mundo, de uma forma que essas crian-

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?as n?o se tornem adultos, racistas, mis?ginos, homof?nicos. Lev Vygotsky (1896 ? 1934), psic?logo e educador russo, afirma que as nossas aptid?es b?sicas como raciocinar, compreender e memorizar se d?o no per?odo da inf?ncia, ele apontava que o desenvolvimento humano se pautava em tr?s n?veis: cultural, interpessoal e individual. Sua pesquisa focava principalmente em dois deles, o cultural e interpessoal que ? designado a partir do contato social do indiv?duo com o meio, dessa forma ele acreditava que as crian?as aprendem os valores morais, ?ticos, sociais, atrav?s do meio que a cerca, sendo assim se a Escola possui uma vis?o machista, racista, principalmente se for debaixo dos panos, essa mensagem chega as crian?as e vai se internalizando dentro delas.

Vivemos na era da tecnologia, na qual estamos constantemente conectados com dispositivos que reproduzem imagens, somos cercadas/os praticamente 24 horas por dia por elas, seja na forma de publicidades ao redor da cidade, nas revistas, jornais, ou nas telas do cinema, televis?o, dos smartphones, tablets, computadores, somos constantemente bombardeados por elas, dessa forma elas est?o impregnadas em nossa mente, direta ou indiretamente. Tendo isso em mente, a te?rica Gillian Rose (2001) em base ao pensamento de Guy Debord (1983) de "sociedade do espet?culo" enfatiza que o mundo tornou ?se um palco em que estamos constantemente tentando ressaltar nosso valor para o mundo atrav?s das produ??es de imagens por meio dos novos mecanismos tecnol?gicos (MARTINS, 2013). Evidenciando ent?o o uso da imagem como potencializadora de uma disputa de significados pelo controle do imagin?rio social contempor?neo, articulando na cria??o de tens?es entre os elementos emp?ricos e simb?licos de forma atemporal, pois "trabalhar com imagem ? articular idas e vindas no tempo, inventando mundos e narrando hist?rias. " (MARTINS, 2013, p.85). A imagem ganha assim uma exist?ncia antes reduzida aos espa?os sagrados.

O estudo da imagem se d? como um jogo complexo entre visualidades, aparatos, institui??es, discursos, corpos e figura??o. Cada um dos termos indica um complexo conjunto de pr?ticas subentendidas que tornam poss?vel a imagem e sua predisposi??o em conter significados. Segundo Thomas Mitchell (2002) a dimens?o visual segue al?m de um conjunto de eventos ou objetos vis?veis, porque pressup?e uma compreens?o dos seus processos, o modo como operam, suas implica??es e, principalmente, seus contextos. Sendo assim para Mitchell "a imagem passa ser o foco e o objeto de um amplo espectro de forma??es sociais e culturais que incorpora e representa conflitos ideol?gicos, pol?ticos, religiosos, psicol?gicos e educacionais" (1995, Apud MARTINS e TOURINHO, 2010, p.41).

Em consequ?ncia dessa exposi??o latente de imagens, existem diversas culturas de m?dias, incluindo para o p?blico infantil. Martins e Tourinho (2010) apontam que a atrav?s dessa cultura infantil da m?dia cria-se um tipo de curr?culo "cultural-imag?tico" na qual de uma forma nada ing?nua (do ponto de vista das corpora??es que produzem esses conte?dos) exp?e seus interesses comerciais, ao mesmo tempo que exercem uma forte influ?ncia sobre esse p?blico. Segundo Douglas Kellner (1995, Apud Martins e Tourinho, 2010, p. 42) "a cultura infantil da m?dia tende a naturalizar uma estetiza??o da viol?ncia que tem profundo impacto sobre o pensamento e o comportamento das crian?as".

Ao entendermos que as imagens s?o como artefatos que produzem conhecimentos que contribuem para a forma??o de nossas representa??es e nos falam sobre como s?o (ou devem ser) os meninos e as meninas, cria-se ent?o um imagin?rio social sobre quais s?o os comportamentos aceit?veis para cada g?nero, instituindo falas e gestos para as mais diversificadas situa??es sociais (NUNES, 2010). Por este motivo ? indispens?vel buscar entender como essas reprodu??es imag?ticas, no caso os filmes de princesas da Disney, contribuem para a perpetua??o da hierarquia de poder do homem, branco e heterossexual dentro na nossa cultura, e como pode-se fazer para quebrar essa hegemonia masculina, sob os corpos femininos.

A import?ncia do estudo dessas representa??es f?lmicas dentro da escola se d? ao fato de que primeiramente elas s?o feitas por adultos para um p?blico infantil, segundo, por vivermos em uma sociedade capitalista com um consumo exacerbado, essas produ??es al?m de incentivar na forma??o das crian?as, elas jogam com atrav?s dos filmes seus produtos de consumo, incentivando n?o s? na perpetua??o de arqu?tipos femininos de submiss?o, mas tamb?m ao consumo para que se tornem similares a essas personagens. Vale ressaltar que apesar desse incentivo constante as crian?as, isso n?o as torna seres passivos/submissos, ? fato que nesta fase da vida a pessoa aprende com mais velocidade que na fase adulta, entretanto, essas crian?as tamb?m s?o dotadas de gostos pr?prios e de formas particulares de ressignificar essas personagens em suas vidas cotidianas.

E para isso ? crucial compreender que a produ??o cultural ? tamb?m uma forma de pedagogia e como ela atua. Nesse sentido, a pedagogia cultural que prop?e Henry Giroux compreende a pedagogia como uma forma de produ??o cultural e a produ??o cultural como uma forma de pedagogia. (WEINER, 2001). ? crucial entender a pr?tica educativa como uma forma de produ??o pol?tica e cultural que responde ?s preocupa??es contempor?neas e se relacionar com os artefatos da cultura visual de uma forma din?mica e ativa. Debater as novas ex-princesas da Disney na perspectiva da vis?o pleb?ia ? fundamental para sociedades que buscam a democracia.

3. CONSIDERA??ES FINAIS

De toda forma, ? poss?vel observar que os filmes dos est?dios Disney foram mudando ao longo das d?cadas os arqu?tipos de mulher apresentados pelos filmes selecionados nesta an?lise. Isso n?o significa que a filosofia da marca Disney tenha mudado sua posi??o conservadora. O que ? relevante neste caso ? que a constru??o de g?nero na inf?ncia e adolesc?ncia apresenta uma nos filmes de Disney uma mudan?a em dire??o a uma figura com atributos antes negados pela sociedade ao g?nero feminino. De Jasmine a Moana, de Mulan a Merida ou Elsa h? um processo de identifica??o maior com gera??es mais sens?veis ?s

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