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O CICLO DE CRESCIMENTO BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2014 Ricardo L. C. AmorimIntrodu??oA economia brasileira, depois de quase duas décadas de baixo crescimento, recuperou o ímpeto a partir de 2004. Mesmo a crise internacional que atingiu o país, em 2008, teve seu impacto reduzido e, já em 2010, o país apresentou elevado ritmo de expans?o da produ??o. As dificuldades, no entanto, apareceram logo depois da recupera??o na forma de acelera??o da infla??o, crescente taxa endividamento do setor público e flutua??o do PIB. Diante dos problemas, a partir de 2011, uma soma de fatores, além de medidas do Governo Federal para conter a escalada dos pre?os, dificultou a manuten??o do crescimento econ?mico, impondo um desempenho aquém do esperado, seguido, desde 2015, por dois anos de recess?o. Os números conjunturais, no entanto, s?o insuficientes para explicar o movimento “subterr?neo” que estava movendo a estrutura produtiva do país. A hipótese deste trabalho afirma que o desempenho da economia brasileira, depois de 2010, refletiu o esgotamento de um ciclo protagonizado pelo estímulo ao crescimento, sustentado por políticas do Governo Federal em ambiente externo favorável, descuidando da fragilidade crescente da indústria nacional. Ou seja, compreender o esgotamento do modelo de crescimento econ?mico daquele período exige, além de observar a conduta do Governo Federal e as altera??es no quadro internacional, analisar o comportamento racional do setor privado e as mudan?as sofridas pela estrutura produtiva do país. Para dar conta desta discuss?o, o trabalho foi dividido em quatro se??es, além desta introdu??o. A próxima discute os movimentos do ciclo de crescimento vivido pelo Brasil depois de 2003, subdividindo a análise do período em dois momentos: a ascens?o e o declínio. Na se??o seguinte, destacam-se as for?as que conduziram à fase expansionista e, depois, de desacelera??o, buscando evidenciar os limites do modelo de crescimento adotado ent?o. Na terceira, avaliam-se os destaques levantados na se??o anterior e discute-se a hipótese proposta. Por fim, os comentários finais recolocam os pontos centrais da discuss?o e prop?e novos problemas para aprofundar a pesquisa.1. O modelo de crescimento recente do Brasil O modelo de crescimento vivido pelo Brasil desde 2003, como um ciclo, pode ser dividido em duas fases: uma ascendente (2003 a 2010) e outra de crise e descenso (2011 a 2014). Assim, para discutir o período de crise, é importante, antes, aproximar-se do itinerário feito pela economia nacional para alcan?ar taxas de prosperidade material acima da média das décadas anteriores. Para tanto, esta se??o está subdividida em duas subse??es: a primeira discute a fase ascendente do ciclo recente da economia brasileira e, a segunda, analisa a crise e suas prováveis causas. 1.1. Primeira fase: a ascens?o O início do ciclo de crescimento da economia brasileira emerge com a posse do Governo de Lula da Silva. Naquele ano, a balan?a comercial já apresentava superávit em fun??o, tanto do alívio da sobrevaloriza??o cambial, realizado em 1999, como do crescimento da demanda chinesa por produtos brasileiros. Os crescentes saldos positivos na balan?a comercial ajudaram, no período inicial, a retomada da economia (Tabela 1).Apenas a título de exemplo, os termos de troca do país cresceram 38,2%, entre 2003 e 2011, ano de auge da valoriza??o das commodities (Funcex, 2014). Isso significa que o Brasil, com a mesma quantidade exportada, poderia comprar quase 40% mais bens e servi?os no exterior em 2011 quando comparado com 2003. Esse ganho se refletiu nas transa??es correntes e foi revertido apenas com a chegada da crise financeira nos países ricos (Tabela 1). Tabela 1 – Resultado do Balan?o de Pagamentos, 1999-2013 (US$ milh?es)AnoSaldo em Transa??es CorrentesSaldo Balan?a ComercialSaldo Capital e FinanceiraResultado do Balan?o de Pagamentos**Acumula??o do Resultado do BP1999-25.335-1.19917.319-7.822--2000-24.225-69819.326-2.262--2001-23.2152.65027.0523.307--2002-7.63713.1218.004302--2003*4.17724.7945.1118.4968.496200411.67933.641-7.5232.24410.740200513.98544.703-9.4644.31915.059200613.64346.45717.02130.56945.62820071.55140.03289.08687.484133.1132008-28.19224.83629.3572.969136.0822009-24.30225.29071.30146.651182.7332010-47.27320.14799.91249.101231.8332011-52.47329.793112.38158.637290.4702012-54.24919.39570.01018.900309.3692013-81.1082.39974.245-5.926303.443* Início do período de valoriza??o cambial.** O resultado diferente da soma das partes do Balan?o de Pagamentos se deve a rubrica Erros e Omiss?es.Fonte: Banco Central do Brasil (2020).Os números da Tabela 1 chamam a aten??o também para um fato novo: a acumula??o de grandes reservas nos cofres do Banco Central. A última coluna mostra que, entre 2003 e 2013, o Brasil viu suas reservas aumentarem 3.471,6%. ? interessante observar, ent?o, que os números desfazem o mito de que a balan?a comercial foi a responsável pela entrada suficiente de dólares, capaz de permitir a acumula??o de reservas no Banco Central e valorizar o Real frente ao dólar e outras moedas (Gráfico 1). Isto é, o destacado saldo da conta Capital e Financeira n?o corrobora com a hipótese de que o Brasil tenha sido atingido pela Doen?a Holandesa.Gráfico 1 – Taxa de c?mbio real e taxa de c?mbio efetiva real (US$/R$), 1992-2014 (?ndice jan/1992=100)Fonte: Elabora??o própria a partir de dados Banco Central do Brasil (2020)O impacto dessa valoriza??o da moeda nacional se revelou chave para a compreens?o da fragilidade do ciclo iniciado em 2003 no Brasil. Para entender o que ocorreu no país nos anos seguintes, é útil ter em mente que o novo Governo Federal foi eleito com a promessa de cumprir dois objetivos: retomar o crescimento econ?mico e melhorar a distribui??o de renda. Nesse contexto, passado o primeiro ano, sujeito às diretrizes or?amentárias da gest?o anterior, o Governo Federal criou estímulos ao crescimento econ?mico e à implanta??o de programas que elevassem a distribui??o secundária da renda (Amorim e Barbosa, 2013). Para fomentar o crescimento, por exemplo, as medidas que facilitaram o acesso ao crédito no país ampliaram a rela??o crédito sobre PIB de perto de 25%, em 2004, para 43,9% em dezembro de 2009 e 58,9% em dezembro de 2014 (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020). Se for computado o crescimento econ?mico em torno de 27%, entre 2007 e 2013, fica evidente o impacto das medidas em termos de amplia??o do poder de compra de empresas e pessoas físicas. Ao mesmo tempo, foram retomados os investimentos públicos que passaram de 2,5% do PIB, em 2004, para 4,7% em 2010 (IPEA, 2012). Sob o efeito do multiplicador keynesiano da renda, a eleva??o dos investimentos públicos e do credito estimularam o dispêndio de famílias e empresas que, naturalmente, elevaram a demanda e impulsionaram o PIB. O Governo Federal também retomou a formula??o e a implanta??o de políticas industriais esquecidas nas duas décadas passadas, quando imperou o pensamento de curto prazo. Foram três fases, traduzidas em três políticas com aprimoramentos sucessivos: a PITCE (2004 a 2008), a PDP (2008 a 2011) e o Plano Brasil Maior (2011 a 2014). A primeira delas buscou aproveitar a amplia??o do crédito e a retomada dos investimentos públicos. Sua execu??o teve o mérito de desbloquear o debate em torno do desenvolvimento industrial. A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) já navegava sobre o crescimento econ?mico daqueles anos e objetivava superar os gargalos de oferta que surgiram com os avan?os de alguns setores industriais. Para tanto, a PDP focava a competitividade de longo prazo como solu??o para o desenvolvimento do país. Um dos méritos dessa política foi ter avan?ado significativamente na cria??o e melhoria de mecanismos de controle e avalia??o da política industrial e de suas medidas (Coronel, Azevedo e Campos, 2014). Por fim, o Plano Brasil Maior (PBM), implantado em meio a grandes problemas no cenário externo e agressividade comercial chinesa, prop?s medidas desenhadas a partir de dezenas de reuni?es que juntavam empresários, trabalhadores e órg?os do Governo Federal. A presen?a do setor privado foi inovadora e significou uma mudan?a no patamar técnico na constru??o da política industrial brasileira, pois, primeiro, deu ao Poder Executivo clareza sobre as necessidades das indústrias e, segundo, envolveu diferentes órg?os públicos no compromisso com os acordos selados (ABDI, 2015). Neste sentido, as medidas econ?micas focaram: 1. o estímulo ao investimento (por exemplo: barateamento dos financiamentos e linhas especiais de crédito); 2. a amplia??o e cria??o de programas de inova??o, tanto específicos (por exemplo: Inovar-auto), quanto genéricos, através do aumento dos recursos destinados à FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), agência federal responsável por financiar planos voltados à gera??o de tecnologia e inova??o no país; e 3. a polêmica redu??o de custos operacionais (por exemplo: redu??es tributárias sobre a folha de pagamento). O empenho foi possível porque o Governo Federal, a partir do esfor?o para recuperar parte da musculatura perdida nos anos de domínio do pensamento liberal ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"Kvgi8LiZ","properties":{"formattedCitation":"(NOZAKI, 2019)","plainCitation":"(NOZAKI, 2019)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":485,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":485,"type":"chapter","container-title":"Alternativas para o desenvolvimento brasileiro: novos horizontes para a mudan?a estrutural com igualdade","edition":"1","event-place":"Santiago","language":"Português","publisher":"CEPAL","publisher-place":"Santiago","title":"Estado e desenvolvimento no Brasil: estrutura de poder, din?mica política e instabilidade institucional","author":[{"family":"Nozaki","given":"William"}],"editor":[{"family":"Leite","given":"Marcos"}],"issued":{"date-parts":[["2019"]]}}}],"schema":""} (NOZAKI, 2019), optou por abra?ar, marcadamente no segundo mandato de Lula da Silva, parte do desenvolvimentismo, tal como definido por Bielschowsky ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"iZ3nkcox","properties":{"formattedCitation":"(2004)","plainCitation":"(2004)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":281,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":281,"type":"book","edition":"5. ed","event-place":"Rio de Janeiro","ISBN":"978-85-85910-08-2","language":"por","note":"OCLC: 230893142","number-of-pages":"480","publisher":"Contraponto","publisher-place":"Rio de Janeiro","source":"Gemeinsamer Bibliotheksverbund ISBN","title":"Pensamento econ?mico brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo","title-short":"Pensamento econ?mico brasileiro","author":[{"family":"Bielschowsky","given":"Ricardo"}],"issued":{"date-parts":[["2004"]]}},"suppress-author":true}],"schema":""} (2004). A reconstru??o de um governo desenvolvimentista, disposto e enfrentar específicas demandas nacionais e desafios internacionais, evidenciou-se também na cria??o de institui??es como a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a Agência Brasileira Promotora de Exporta??es e Investimentos (APEX), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), fóruns temáticos de articula??o entre órg?os do governo, concursos para reposi??o de m?o de obra tecnicamente qualificada, entre outros. Tabela 2 – Evolu??o do PIB e PIB per capita brasileiro, 2003-2019(em R$ de 2018)PIB?% PIBBase 100PIB per capita?% PIB per capitaBase 10020034.826.784.201.899,991,1%100,026.710,36-0,1%100,020045.104.805.265.026,975,8%105,827.915,704,5%104,520055.268.267.836.292,863,2%109,128.478,492,0%106,620065.476.996.013.883,524,0%113,529.279,102,8%109,620075.809.442.585.086,206,1%120,430.731,575,0%115,120086.105.386.944.764,505,1%126,531.963,664,0%119,720096.097.705.635.365,76-0,1%126,331.597,46-1,1%118,320106.556.754.686.068,217,5%135,833.643,246,5%126,020116.817.347.857.574,024,0%141,234.675,583,1%129,820126.948.321.107.434,091,9%144,035.036,801,0%131,220137.157.105.835.274,743,0%148,335.784,782,1%134,020147.193.174.480.969,030,5%149,035.659,64-0,3%133,520156.938.121.533.394,21-3,5%143,734.098,04-4,4%127,720166.710.834.437.100,66-3,3%139,032.710,79-4,1%122,5Fonte: Banco Central do Brasil (2020).Os esfor?os somados das políticas do Governo Federal animaram o dispêndio na economia e os números se converteram em expectativas otimistas dos empresários e consumidores, patr?es e empregados. Por exemplo, o ?ndice de Confian?a do Empresário Industrial (ICEI), calculado pela Confedera??o Nacional da Indústria, passou de 47,3 pontos, no quarto trimestre de 2001, para 58,1 pontos, no terceiro trimestre de 2008, apontando significativa melhora nas expectativas do industrial brasileiro (CNI, 2020b). O mesmo se viu com o consumidor: o ?ndice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) cresceu de 100,4 pontos para 115,6 pontos no mesmo período (CNI, 2019a). Assim, os anos logo após 2003 ensejaram a retomada do crescimento, detonada e ampliada pelos efeitos da política econ?mica e industrial (Tabela 2). Naturalmente, esse período foi marcado pela queda nas taxas desemprego e por ganhos reais no salário médio pago (Gráfico 2). Gráfico 2 – Taxa de desemprego e rendimento real do assalariado na regi?o metropolitana de S?o Paulo, 2000-2014 (?ndice jan/2001=100)Fonte: DIEESE/SEADE (2019)O Gráfico 1 mostra, entretanto, que a taxa cambial voltou a se valorizar meses antes da posse do presidente Lula da Silva e continuou na mesma tendência até 2011, atingindo, no último ano, patamares semelhantes àqueles observados após implanta??o do Plano Real. ? preciso, ent?o atentar que períodos longos de c?mbio valorizado, além de interferir nos pre?os relativos internos, impactam diretamente a balan?a comercial, ao encarecer as exporta??es e aumentar o volume das importa??es ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"1OzetGiL","properties":{"formattedCitation":"(PEREIRA; OREIRO; MARCONI, 2016)","plainCitation":"(PEREIRA; OREIRO; MARCONI, 2016)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":384,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":384,"type":"book","edition":"1","event-place":"Rio de Janeiro","language":"Portuguese","note":"OCLC: 1049152383","publisher":"Campus","publisher-place":"Rio de Janeiro","source":"Open WorldCat","title":"Macroeconomia Desenvolvimentista: Teoria e política econ?mica do novo desenvolvimentismo","title-short":"Macroeconomia Desenvolvimentista","URL":"","author":[{"family":"Pereira","given":"Luiz Carlos Bresser"},{"family":"Oreiro","given":"José Luís"},{"family":"Marconi","given":"Nelson"}],"accessed":{"date-parts":[["2019",8,23]]},"issued":{"date-parts":[["2016"]]}}}],"schema":""} (PEREIRA; OREIRO; MARCONI, 2016). Isto é, c?mbio valorizado, ao implicar no barateamento das compras no exterior, inclusive de insumos e máquinas, retira a efetividade de prote??es alfandegárias ad valorem e fragiliza extemporaneamente as empresas nacionais, marcadamente a indústria. Quando, sem preparar a economia, a valoriza??o cambial é permitida ou usada como política econ?mica, o resultado esperado é a redu??o da densidade das cadeias produtivas, diminui??o da complexidade econ?mica e, consequentemente, perda de competitividade do país (Gala, 2019) . O Brasil, portanto, no período que vai de 2003 a 2011, se exp?s ao risco de ampliar a fragilidade da indústria nacional, utilizando, tal como na década anterior, o c?mbio valorizado como ferramenta de política econ?mica. Isso parece refor?ado pelos números apresentados por Marquetti e Porsse ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"67llZbHS","properties":{"formattedCitation":"(2014)","plainCitation":"(2014)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":494,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":494,"type":"article-journal","container-title":"Revista CEPAL","ISSN":"0252-0257","language":"Espanhol","page":"61-78","title":"Patrones de progreso técnico en la economía brasile?a, 1952-2008","URL":"","volume":"113","author":[{"family":"Marquetti","given":"Adalmir"},{"family":"Porsse","given":"Melody"}],"accessed":{"date-parts":[["2020",7,14]]},"issued":{"date-parts":[["2014",8]]}},"suppress-author":true}],"schema":""} (2014), onde se observa que a taxa de lucro líquido na primeira década do século XXI permaneceu baixa, apesar do crescimento econ?mico e da eleva??o da taxa de acumula??o na economia a partir de 2003. O dinamismo, aqui, parece situar-se nas estatais, semi-estatais e setor público. O que se viu, portanto, foi o Governo Federal se responsabilizando pela retomada do crescimento da economia brasileira e, para tanto, elevou os gastos com investimentos públicos, estimulou invers?es privadas, aumentou o salário mínimo em termos reais, facilitou o acesso ao crédito e ampliou os programas sociais de redistribui??o de renda ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"fhoNJs8w","properties":{"formattedCitation":"(CARVALHO, 2018)","plainCitation":"(CARVALHO, 2018)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":460,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":460,"type":"book","edition":"1","event-place":"S?o Paulo","language":"Português","number-of-pages":"192","publisher":"Todavia","publisher-place":"S?o Paulo","title":"Valsa brasileira: do boom ao caos econ?mico","author":[{"family":"Carvalho","given":"Laura"}],"issued":{"date-parts":[["2018"]]}}}],"schema":""} (CARVALHO, 2018). Agiu, porém, sem fazer caso, aparentemente, dos graves problemas que se acumulavam na estrutura produtiva em raz?o do c?mbio valorizado por quase duas décadas. De outra forma, o ambiente externo favorável, ao sancionar políticas de estímulo ao dispêndio e a distribui??o secundária da renda ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"lBt8bQuf","properties":{"formattedCitation":"(CARVALHO, 2018)","plainCitation":"(CARVALHO, 2018)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":460,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":460,"type":"book","edition":"1","event-place":"S?o Paulo","language":"Português","number-of-pages":"192","publisher":"Todavia","publisher-place":"S?o Paulo","title":"Valsa brasileira: do boom ao caos econ?mico","author":[{"family":"Carvalho","given":"Laura"}],"issued":{"date-parts":[["2018"]]}}}],"schema":""} (CARVALHO, 2018), por outro lado, criou condi??es para que as novas demandas fossem crescentemente direcionadas para as importa??es. O resultante crescimento econ?mico, é importante lembrar, foi favorecido inicialmente, tanto pelo alívio do problema cambial, em 1999, quanto pela valoriza??o dos pre?os das commodities, a partir de 2003. Este benéfico cenário externo possibilitou ao novo governo de Lula da Silva administrar com maior tranquilidade problemas recorrentes, como o previsível efeito Balassa-Samuelson, que atingem economias periféricas como a brasileira. De outro modo, os resultados alcan?ados permitiram que os objetivos assinalados na elei??o de 2002, retomada do crescimento econ?mico e redistribui??o secundária da renda, fossem, ao menos parcialmente, atingidos ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"h18sBoyp","properties":{"formattedCitation":"(CARVALHO, 2018)","plainCitation":"(CARVALHO, 2018)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":460,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":460,"type":"book","edition":"1","event-place":"S?o Paulo","language":"Português","number-of-pages":"192","publisher":"Todavia","publisher-place":"S?o Paulo","title":"Valsa brasileira: do boom ao caos econ?mico","author":[{"family":"Carvalho","given":"Laura"}],"issued":{"date-parts":[["2018"]]}}}],"schema":""} (CARVALHO, 2018). O esfor?o, porém, foi facilitado porque a infla??o n?o voltou a pressionar, em raz?o das importa??es barateadas pela quantidade de divisas oriundas dos saldos positivos do balan?o de pagamentos. Em resumo, o quadro que se desenhou nessa primeira fase foi: 1.a economia brasileira cresceu a olhos vistos até 2008 e recuperou-se da crise de 2009 já em 2010 (Tabela 2), conseguindo manter o nível de emprego mesmo após a eclos?o da crise financeira mundial (DIEESE, 2014) (Gráfico 2);2.houve a retomada das políticas industriais, com foco na amplia??o do investimento [(Ipea, 2012) e ABDI (2014)];3.nunca o país havia conseguido distribuir renda a ponto de reduzir o ?ndice de Gini por anos consecutivos;4.houve avan?os na infraestrutura, na educa??o e no aparelho de Estado (Fonseca e Fagnani, 2013); 5.a infla??o foi controlada através da valoriza??o cambial, possibilitada pela grande quantidade de dólares gerada na conta Capital e Financeira do Balan?o de Pagamentos. A tese de Doen?a Holandesa fica, portanto, enfraquecida. Mas isso n?o foi tudo. Primeiro, o custo dessa política foi pago pelo Estado com a eleva??o dos gastos públicos (Serrano e Summa, 2012) e o setor privado reagiu, sem buscar protagonismo. Segundo, a fragilidade do modelo era perceptível quando se observava as trocas comerciais com o resto do mundo. Os resultados da indústria brasileira, por exemplo, mostravam que a fase ascendente do ciclo n?o repercutiu com a mesma intensidade nas plantas fabris (Arbache, 2012). Naqueles anos, a concorrência internacional foi pouco a pouco ocupando os espa?os de demanda que o parque produtivo do país, em competi??o com o exterior, n?o conseguia atender. Verbi gratia, o comércio exterior exerceu o papel de abastecer a demanda interna em expans?o que caminhou à frente da capacidade produtiva nacional. A Tabela 2 mostra, por exemplo, que o PIB cresceu entre 2003 e 2013, significativos 48,3%. Ao mesmo tempo, a indústria de transforma??o elevou sua produ??o no período em 20,6% e as vendas no varejo mais do que dobraram em volume no mesmo período, segundo IBGE (2017). Assim, observa-se que a manufatura nacional, longe de reduzir sua produ??o, na verdade, perdeu espa?o relativo no mercado interno, cada vez mais suprido por bens importados (Gráfico 3), dando azo ao debate sobre a desindustrializa??o precoce do Brasil. Gráfico 3 – Coeficiente de penetra??o das importa??es de diversos setores, 4?trim/1996-4?trim/2013 (em porcentagem)a) geral, ind. extrativas, petróleo e gás, ind. transforma??ob) químicos e farmacêuticos e farmoquímicosc) alimentos, têxteis e vestuários e acessóriosb) metais, informática e eletr?nicos, elétricos, máquinas e equipamentos e veículos automotores, carrocerias e reboquesFonte: CNI (2020a).1.2. A segunda fase: o declínio A chegada da crise internacional, no entanto, restringiu significativamente os graus de liberdade da política econ?mica e impactou o balan?o de pagamentos brasileiro. Os números observados evidenciam que, mesmo superando rápido os piores momentos da crise internacional, a desacelera??o enfrentada pelas na??es mais ricas foram sentidas no país. Mais do que isso, o reposicionamento de algumas economias, marcadamente a China, dentro do quadro de baixo crescimento mundial, gerou novos problemas que o Brasil sentiu dificuldades de contornar (Cunha, Lélis e Lima, 2012). Por exemplo:1.entre 2003 e 2011, a valoriza??o da moeda nacional retornou (Gráfico 1), barateando a importa??o de qualquer mercadoria;2.a redu??o nas trocas internacionais elevou a agressividade dos parceiros comerciais que buscaram mercado para suas produ??es (Cunha, Lélis e Lima, 2012); 3.a lideran?a dos oligopólios transnacionais nos mais din?micos setores produtivos do país, marcadamente na indústria, elevou a remessa de lucros no período e refor?ou a tendência de aquisi??o de insumos no exterior para a produ??o de bens finais no Brasil [Cunha, Lélis e Lima (2012), Dieese (2014) e Cruz (2008)]; 4.os pre?os dos servi?os non-tradeables cresceram frente à amplia??o da demanda interna em contraponto a oferta limitada [Ipea (2020) e Carvalho (2018)];5.ao mesmo tempo, os pre?os internacionais de alimentos come?aram a subir a partir de 2004 e continuaram em ascens?o, com oscila??es, até o fim do período em tela (FAO, 2015).O primeiro problema manteve as dificuldades para a indústria brasileira competir com seus pares internacionais. O simples barateamento das importa??es se veria agravado pelo momento internacional, onde oligopólios mundiais, alocando da melhor maneira possível seus custos e produ??es, consideraram o Brasil, recuperado rapidamente da crise internacional, pe?a importante para garantir resultados positivos em seus balan?os mundiais consolidados [Cunha, Lélis e Lima (2012), Dieese (2014) e Cruz (2008)]. Desta maneira, além do pre?o atraente das importa??es, havia um cenário competitivo internacional que poucas oportunidades criava para a atua??o das empresas localizadas no país. Os coeficientes de penetra??o das importa??es refletiam o cenário descrito (Gráfico 3) e os números da balan?a comercial expunham os riscos do período que se iniciava: as compras no exterior continuavam a crescer, apesar do desempenho mais fraco da economia brasileira após 2010. Havia, no entanto, outra quest?o t?o exigente de aten??o quanto o comércio exterior: a eleva??o dos pre?os no Brasil. A infla??o que costuma acompanhar o país em tempos de crescimento econ?mico ressurgiu, sustentada em duas motiva??es: encarecimento dos non-tradables ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"N3llbd0R","properties":{"formattedCitation":"(CARVALHO, 2018)","plainCitation":"(CARVALHO, 2018)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":460,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":460,"type":"book","edition":"1","event-place":"S?o Paulo","language":"Português","number-of-pages":"192","publisher":"Todavia","publisher-place":"S?o Paulo","title":"Valsa brasileira: do boom ao caos econ?mico","author":[{"family":"Carvalho","given":"Laura"}],"issued":{"date-parts":[["2018"]]}}}],"schema":""} (CARVALHO, 2018) e aumento dos pre?os internacionais de alimentos [(ESTAD?O ONLINE, 2014) e (FAO-UN, 2015)]. A primeira causa se vinculou diretamente ao período de significativo aumento da renda e gera??o de empregos, elevando n?o apenas a demanda por servi?os, mas indo além e pressionando a oferta limitada de m?o de obra prestadora desses servi?os (IPEA, 2014). A segunda causa, os pre?os internacionais, fugia ao controle da política econ?mica nacional. Em resposta, o Governo Federal e o Banco Central do Brasil, diante da acelera??o dos pre?os, principalmente após a rápida recupera??o de 2010, adotaram medidas horizontais de conten??o da demanda a fim de suprimir potencial escalada inflacionária. Naquele momento, o Banco Central, por exemplo, elevou a taxa SELIC de 8,8% ao ano, em abril de 2010, até 12,5%, em julho de 2011 (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020a). O Bacen foi além e, diante do crescimento do financiamento imobiliário e sem espa?o para continuar a elevar os juros, adotou medidas para frear a expans?o do crédito na economia: aumentou o valor do depósito compulsório, elevou o capital mínimo exigido dos bancos para realizar empréstimos de prazo mais longo ao consumidor, aumentou os impostos sobre opera??es de crédito ao consumidor e majorou o pagamento mínimo dos cart?es de crédito (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020b). Na mesma dire??o e ainda em 2011, o Governo Federal, após reduzir o superávit primário para pouco mais de 1% do PIB em 2009, auge do impacto da crise internacional no país, voltou a perseguir um resultado de 3,1% do PIB. Assim, se, em 2009 e 2010, a Uni?o arrefeceu o controle sobre seu consumo final, voltou a ser austero em 2011 (IPEA, 2012).Além disso, outras duas medidas pressionaram para baixo a demanda no país em 2011:1.o Governo Federal decidiu n?o aumentar o salário mínimo em termos reais, interrompendo tendência iniciada em 1994 (Ipea, 2020);2.as empresas estatais (financeiras e n?o-financeiras) reduziram o valor de seus investimentos em 2011 (IPEA, 2012). Em resumo, as dificuldades internacionais somadas à postura, agora, contracionista do Governo Federal, forjaram uma mudan?a negativa no ambiente macroecon?mico (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020c), marcadamente para indústria brasileira, pois: a) a competi??o internacional tornou-se excessivamente penosa em raz?o do c?mbio valorizado e da agressividade dos parceiros comerciais; e b) a acelera??o da infla??o levou o Governo Federal a tomar medidas de conten??o de demanda, reduzindo, por consequência, o potencial de crescimento econ?mico. O Gráfico 4 mostra a deteriora??o das expectativas dos empresários industriais com o cenário econ?mico do país logo após a recupera??o dos piores momentos da crise de 2009.Gráfico 4 – Expectativas dos empresários (ICEI) e consumidores (INEC), 2012-2014*(INEC transformado em índice mar/2010=100 e ICEI cálculo original em pontos)* ICEI é o ?ndice de Confian?a do Empresário Industrial calculado pela Confedera??o Nacional da Indústria (CNI). INEC, por sua vez, é o ?ndice Nacional de Expectativa do Consumidor também produzido pela CNI. Fonte: CNI (2019a e 2020b) As quest?es delineadas, no entanto, criaram e magnificaram uma consequência que se tornou um novo e maior problema: o cenário externo, o ambiente econ?mico interno e a deteriora??o das expectativas contra-arrestaram as for?as que haviam iniciado a fase expansiva do ciclo de crescimento vivido pelo país a partir de 2003. Na verdade, disparou a armadilha construída pelo modelo de crescimento que se sustentava no consumo das famílias, nos gastos do governo e estímulos às invers?es, mas, também, no controle da infla??o via valoriza??o cambial que, por sua vez, fragilizava o principal motor da din?mica econ?mica nacional: a indústria de transforma??o.A rea??o dos empresários industriais, por exemplo, foi conter suas recentes decis?es de investimento, atrasando gastos e diminuindo a propor??o da forma??o bruta de capital fixo no dispêndio do país (Gráfico 5). Gráfico 5 – Indústrias com inten??o de investir e investimento realizado, 2010-2016(em porcentagem)Fonte: CNI (2020c).O Governo Federal, por sua vez, n?o se esfor?ou para compensar a redu??o na taxa de investimento privado e nem mesmo trabalhou para manter os níveis de gastos e invers?es públicos. O efeito esperado, potencializado pelo multiplicador keynesiano, foi a desacelera??o rápida do crescimento do PIB e, a partir de 2014, a diminui??o intensa da utiliza??o da capacidade instalada (Gráfico 6). Gráfico 6 – Nível de utiliza??o da capacidade instalada com ajuste sazonal, 2010-2014 (em percentual)Fonte: FGV (2017)A queda nos investimentos, somada à penetra??o dos insumos importados nas cadeias produtivas, naturalmente, pressionou a complexidade da economia brasileira e, portanto, impactou sua competitividade. O problema se torna claro quando se concentra o olhar sobre o tema da produtividade do trabalho. O Gráfico 7 mostra que, apesar do crescimento vigoroso do número de trabalhadores ocupados, a economia n?o perdeu produtividade entre 2001 e 2012. Na verdade, a partir de 2004, a produtividade superou a estagna??o e seguidas melhoras anuais proporcionaram, até 2012, ganhos acumulados de 19,2% na eficiência da estrutura econ?mica nacional.Já o rendimento médio real das pessoas acima de 10 anos, por outro lado, sofreu mudan?a intensa de comportamento no mesmo período. Num primeiro momento, a diferen?a entre os ganhos de renda e de produtividade cresceu em raz?o da queda no poder de compra do rendimento médio da PIA. Em seguida, a partir de 2005, os rendimentos e a produtividade cresceram, tendo os rendimentos um desempenho mais acelerado, a ponto de superar o aumento da produtividade. Os dados, no entanto, chamam a aten??o para os anos posteriores a 2010, quando os ganhos de produtividade desaceleraram e passaram a preocupar em 2012. Contraditoriamente, os ganhos de renda pessoal, embora também mostrassem desacelera??o no mesmo período, continuaram a crescer. Gráfico 7 – Evolu??o da produtividade do trabalho e do rendimento médio real na economia brasileira, 2001-2012*(?ndice 2001 = 100)* A produtividade foi medida como produtividade simples do trabalho: PIB a pre?os constantes de 2013 sobre popula??o ocupada.Fonte: elabora??o própria, a partir de dados do SIDRA (2017).No caso específico da indústria de transforma??o, a quest?o da produtividade do trabalho exigia ainda maior aten??o. O próximo gráfico permite observar que, desde a recupera??o da economia brasileira, em 2010, após o momento mais difícil da crise internacional, o setor n?o apresentou ganhos de produtividade, sequer recuperando os níveis de 2008. Do outro lado, a queda nos ‘salários, retiradas e outras remunera??es’ pagas pela indústria de transforma??o foi observada apenas em 2009, auge dos efeitos da crise internacional no Brasil. Tais comportamentos criaram um descolamento entre as duas variáveis, denotando que o custo de pessoal sobre a produ??o industrial cresceu nesses anos, pressionando a participa??o do excedente operacional bruto sobre a renda nacional (Gráfico 8). A observa??o dos Gráficos 2, 7 e 8 é compatível com a interpreta??o de que o aumento dos custos de pessoal na indústria de transforma??o respondeu diretamente à diminui??o da m?o de obra disponível no mercado de trabalho, encarecendo os salários. Gráfico 8 - Indústria de transforma??o: evolu??o da produtividade e da média dos salários, retiradas e outras remunera??es, 2007-2012(?ndice 2007=100) * A produtividade foi medida como produtividade simples do trabalho: valor bruto da produ??o industrial em moeda de 2012 sobre pessoal ocupado na indústria de transforma??o.Fonte: elabora??o própria, a partir de dados do SIDRA (2017).Destarte, o problema, na verdade, era triplo: o c?mbio barateou as importa??es, encareceu as exporta??es e tornou a m?o de obra brasileira relativamente cara, elevando os custos da produ??o local e reduzindo a competitividade dos tradables. Quando o alívio cambial surgiu, a partir do primeiro semestre de 2011, os problemas na indústria de transforma??o já eram profundos. Primeiro porque a produ??o nacional havia se adequado a quase duas décadas de dólar barato e, agora, dependia de grande quantidade de insumos importados para ser competitiva no mercado. Segundo porque a eleva??o dos custos pressionava os pre?os dos bens industriais que, somados à infla??o de servi?os e de alimentos, contribuía para dificultar o freio que o Governo Federal pretendia estabelecer sobre o aumento da infla??o (Amorim, 2015). Enfim, o quadro inflacionário se agravou porque, apesar de desacelerada, a economia do Brasil ainda crescia e, por isso, gerava renda e demanda sobre itens que pressionavam a infla??o: alimentos, servi?os e, agora, a indústria de transforma??o. O Governo Federal, buscando, ent?o, atuar sobre o aumento dos pre?os, optou restringir o aumento das tarifas de energia (elétrica e petróleo), com vistas nos custos industriais (ABDI, 2014). Infelizmente, diante do cenário em deteriora??o, a perspectiva de realinhamento de pre?os reduziu ainda mais as expectativas dos empresários para o fim de 2014 e o ano de 2015 (Gráfico 4). A conjuntura foi ainda especialmente abalada em raz?o das elei??es presidenciais de 2014, afinal o pleito trazia mais do que quest?es relativas à altern?ncia de partidos. O debate colocado naqueles dias ia além, pondo em quest?o o modelo vigente de crescimento com forte presen?a do Estado, em contraposi??o a outro, liberal. A disputa gerou ansiedade nos mercados financeiros e cautela nos setores produtivos, movimentos que colaboraram para o clima morno da produ??o naqueles dias.O que se anunciava, portanto, era o descenso do ciclo econ?mico e n?o se podia esperar, para os meses seguintes, a recupera??o da produ??o, marcadamente industrial. Em poucas palavras, a eficiência marginal do capital estava deprimida e caindo em raz?o, primeiro, de um cenário macroecon?mico preocupante que rebaixava as avalia??es e encolhia a demanda efetiva dos empresários e, segundo, porque a indústria de transforma??o brasileira estava sendo sucateada havia décadas e o período de crescimento recente n?o conseguira mudar a tendência. 2. O recente modelo de crescimento brasileiro em destaqueO Brasil, após 2003, parecia ter reencontrado o caminho do crescimento. A partir dali, a??es e gastos do Governo Federal estimularam a economia, tanto através do crédito, da retomada dos investimentos públicos, quanto do aumento do salário mínimo, seguridade social e outros programas de redistribui??o de renda, com reflexos as vendas, inclusive industriais. O cenário externo era favorável: o crescimento acelerado chinês favoreceu as exporta??es de commodities em volume e pre?o, gerando superávits comerciais significativos. Mais do que isso, o crescimento brasileiro e as elevadas taxas locais de juros atraíram, a partir de 2007, elevados volumes de dólares que permitiram ao Brasil alcan?ar reservas acima de US$ 300 bilh?es em 2013 (Tabela 1). O balan?o de pagamentos, ent?o, deu folga ao Brasil para executar políticas de estímulo ao crescimento, redistribui??o de renda e, ao mesmo tempo, controlar a infla??o ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"G60adeDs","properties":{"formattedCitation":"(CARVALHO, 2018)","plainCitation":"(CARVALHO, 2018)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":460,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":460,"type":"book","edition":"1","event-place":"S?o Paulo","language":"Português","number-of-pages":"192","publisher":"Todavia","publisher-place":"S?o Paulo","title":"Valsa brasileira: do boom ao caos econ?mico","author":[{"family":"Carvalho","given":"Laura"}],"issued":{"date-parts":[["2018"]]}}}],"schema":""} (CARVALHO, 2018). Todavia, a mesma folga terminou por voltar a valorizar a taxa de c?mbio em patamar semelhante ao vivenciado nos anos 1990 (Gráfico 1) e gerar quatro resultados importantes: a) barateamento das importa??es, ajudando a controlar os impulsos inflacionários que surgem em momentos de rápido crescimento econ?mico; b) encarecimento das exporta??es (reduzindo a competitividade da indústria brasileira no exterior); c) favorecimento da entrada de bens importados baratos (em moeda nacional), principalmente insumos, partes e pe?as, que reduziram a densidade e a complexidade da indústria brasileira; e d) eleva??o do custo da m?o de obra em dólares, colaborando para reduzir a competitividade da economia brasileira como um todo, mas principalmente dos tradeables. Enquanto a economia brasileira cresceu rápido e o setor externo n?o enfrentou crises, o modelo escolhido pelo Governo Federal foi internamente legitimado ao causar demanda à produ??o nacional, reduzir o desemprego e distribuir renda junto à popula??o mais carente.Quando a crise internacional eclodiu, porém, os limites do modelo que havia iniciado o ciclo de crescimento come?aram a exigir aten??o. A atua??o rápida da política econ?mica, em 2009 e 2010, ao favorecer a recupera??o da produ??o ante os impactos dos problemas externos, fez também os olhos de países e transnacionais se voltarem para uma das únicas economias importantes do planeta que continuou a apresentar bom desempenho. Mas o Brasil que, já em 2010, parecia ter superado o abalo de 2009, sentiu as dificuldades da nova realidade internacional: 1. com o c?mbio sobrevalorizado – desde o Governo Fernando Henrique Cardoso, ajustado em 1999, mas desfasado a partir de 2003 ?, as empresas brasileiras elevaram, ano após ano, seus níveis de importa??o de pe?as e insumos aos quais se somaram os esfor?os de outros países para alcan?ar o mercado brasileiro. A fragiliza??o ou mesmo desaparecimento de elos das cadeias produtivas nacionais frente à concorrência internacional continuou a pressionar a densidade industrial do país, reduzindo a competitividade da economia brasileira (Gráfico 3);b) a infla??o acelerou, respondendo a causas internas e componentes internacionais, inclusive a desvaloriza??o cambial, a partir de 2011. O Governo Federal adotou, ent?o, medidas de conten??o, cujo impacto nublou o horizonte das expectativas empresariais e reduziu a demanda efetiva. Moto contínuo, o número de empresas decididas a investir caiu, o PIB desacelerou a partir de 2011, a incorpora??o de inova??es diminuiu, a abertura de vagas de empregos melhor remunerados desacelerou, a renda per capita cresceu cada vez menos e a arrecada??o tributária sofreu o impacto.O resultado das a??es de conten??o foi, naquele momento, abater a economia e mostrar que problemas profundos haviam sido acumulados. Tanto assim que o tamanho da desacelera??o da produ??o, já em 2012, diminuiu o ímpeto contracionista da política econ?mica e deu ensejo a ado??o de programas pontuais, visando melhorar o desempenho de setores chaves (ABDI, 2014). Mas a produ??o n?o reagiu como esperado. De outro modo, as expectativas dos empresários se deterioraram irremediavelmente e, marcadamente os industriais, n?o ousaram investir em cenário incerto, com economia fragilizada e estrutura produtiva pouco competitiva. O baixo crescimento resultante, naturalmente, n?o ajudou as contas do Governo Federal. Outros fatos já apontavam, desde os anos 1990, para a crescente fragilidade da indústria de transforma??o no Brasil. Mais recentemente, a contar de 2003, foi marcante o insuficiente crescimento da oferta frente à rápida expans?o da demanda interna, abrindo uma brecha que foi preenchida rapidamente pela importa??o dos mais diferentes bens, dos mais sofisticados aos mais simples. Na verdade, desde o início do período em tela, se o crescimento do PIB elevou a renda das famílias e seus gastos, as decis?es microecon?micas de produ??o e investimentos estiveram condicionadas por um ambiente macroecon?mico antigo e desestimulante: primeiro, havia a sobrevaloriza??o cambial (e suas consequências) e as elevadas taxas de juros (e suas consequências) (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020a); depois, na segunda fase, apesar do ensaio de desvaloriza??o da moeda nacional, efeitos negativos se somaram como, por exemplo, a conjuntural política fiscal errática do Governo Federal e a já n?o mais conjuntural adequa??o da estrutura produtiva aos pre?os básicos, principalmente taxa de c?mbio. Os dois pre?os, juros e c?mbio, desde o Plano Real, mostravam-se hostis à indústria de transforma??o ? e parecem n?o responder à Doen?a Holandesa ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"0BytqSXr","properties":{"formattedCitation":"(RESENDE; TERRA, 2018)","plainCitation":"(RESENDE; TERRA, 2018)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":489,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":489,"type":"article-journal","abstract":"RESUMO A rela??o entre taxa de c?mbio, investimento e crescimento econ?mico tem sido objeto de estudo de autores de diferentes matizes teóricos, e está no centro da análise do chamado Novo Desenvolvimentismo, cujo modelo foi sistematizado recentemente por seus autores, após muitos anos trabalhando neste tema e com diversos artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. O objetivo deste artigo é realizar uma avalia??o crítica do Novo Desenvolvimentismo (DM). Conforme seu argumento central, os países em desenvolvimento apresentam aprecia??o cr?nica e cíclica da sua taxa de c?mbio real que, por sua vez, imp?e limites ao investimento e crescimento dos setores mais din?micos e de maior produtividade da economia, impedindo a convergência da renda per capita dos países em desenvolvimento e desenvolvidos. Constatamos diversas contribui??es do DM à literatura, mas, também, equívocos, contradi??es e a necessidade de elabora??o teórica em diversas áreas da economia para que seja alcan?ado um modelo coerente e completo, capaz de explicar as barreiras ao aumento da renda per capita nos países em desenvolvimento, como também as políticas necessárias para superá-las.\n , \n ABSTRACT Authors from distinct schools have studied the relationship between the exchange rate, investment and growth. This relationship is key for the named Developmental Macroeconomics, whose leaders have just recently started to compound a systematic model evolving all the ideas they had worked out since long ago and after several papers published in Brazilian and foreign Journals. The aim of the paper is to critically assess the Developmental Macroeconomics (DM) model. DM argues that the exchange rate in the lower and medium developed economies (LME) tends to be chronically and cyclically overvalued begetting a barrier to investment and growth in the manufacturing industry, which is the best to provoke the productive enhancement of any economy, preventing the convergence of per capita income between LME and developed countries. We conclude that DM contributes to the literature in many points. Nonetheless, DM model is misleading in some points, showing some mistakes and contradictions. It yet needs fulfilling several branches to construct a full model to explain why some LME do not reach sustainable growth and do not converge their per capita incomes to that of developed economies.","container-title":"Brazilian Journal of Political Economy","DOI":"10.1590/0101-31572018v38n01a05","ISSN":"1809-4538, 0101-3157","issue":"1","journalAbbreviation":"Brazil. J. Polit. Econ.","page":"76-98","source":" (Crossref)","title":"Developmental macroeconomics: a post-keynesian assessment","title-short":"Macroeconomia desenvolvimentista","URL":"","volume":"38","author":[{"family":"Resende","given":"Marco Flávio Da Cunha"},{"family":"Terra","given":"Fábio Henrique Bittes"}],"accessed":{"date-parts":[["2020",7,8]]},"issued":{"date-parts":[["2018",3,18]]}}}],"schema":""} (RESENDE; TERRA, 2018) ?, tornaram a indústria dependente de importa??o para se manterem competitivas. Como resultado, apesar do crescimento econ?mico e dos estímulos do Governo Federal que deveriam elevar a demanda efetiva, a taxa de lucro líquida no Brasil n?o cresceu e a taxa de acumula??o foi elevada a partir dos recursos públicos destinados aos investimentos e às compras ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"4IuxF7nD","properties":{"formattedCitation":"(MARQUETTI; PORSSE, 2014)","plainCitation":"(MARQUETTI; PORSSE, 2014)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":494,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":494,"type":"article-journal","container-title":"Revista CEPAL","ISSN":"0252-0257","language":"Espanhol","page":"61-78","title":"Patrones de progreso técnico en la economía brasile?a, 1952-2008","URL":"","volume":"113","author":[{"family":"Marquetti","given":"Adalmir"},{"family":"Porsse","given":"Melody"}],"accessed":{"date-parts":[["2020",7,14]]},"issued":{"date-parts":[["2014",8]]}}}],"schema":""} (MARQUETTI; PORSSE, 2014). Diante disso, a produtividade n?o evoluiu suficientemente e, portanto, a competitividade da economia brasileira, marcadamente industrial, se reduziu frente aos competidores internacionais e a insuficiente amplia??o do parque produtivo nacional e sua módica moderniza??o estavam na raiz dos problemas. 3. Entre a a??o e a acomoda??oSurpreende pouco que o ambiente macroecon?mico desenhado desestimule investimentos e inova??es ao nível das empresas e termine por reduzir ou, no limite, paralisar os ganhos de produtividade do parque industrial do país. A racionalidade das decis?es empresariais, marcadamente na indústria de transforma??o, diante de quase duas décadas de sobrevaloriza??o cambial – além de juros elevados ?, de adequa??o da produ??o aos pre?os básicos e, mais recentemente, de uma política econ?mica pouco previsível apontou para um potencial maior de lucratividade quando as empresas importam partes, pe?as e máquinas e revendem os produtos no mercado interno que demorou a sofrer recess?o. Naturalmente, a densidade das cadeias produtivas se reduziu e a competitividade brasileira diminuiu. Assim, na segunda fase do ciclo, o resultado das a??es de conten??o do Governo Federal foi abater a economia e mostrar que problemas profundos haviam sido acumulados. N?o houve mudan?a pontual de política econ?mica e nem mesmo esfor?o de desvaloriza??o da moeda nacional capaz de mudar a dire??o ou tendência ao esgotamento do modelo de crescimento aplicado pelo Brasil naqueles anos. E a raz?o para isso era aguda: a estrutura produtiva do país havia sido remodelada, com a indústria de transforma??o se adequando aos pre?os básicos que haviam sido alterados desde o início da sobrevaloriza??o cambial, ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso e prosseguido no período Lula da Silva. Foram mudan?as importantes, pois o pre?o da divisa internacional influenciou o comportamento da taxa de juros e, ambos, impactaram a expans?o da economia e, portanto, os salários. Assim, as empresas se adaptaram, se reposicionaram e alteraram sua rede de fornecedores e, consequentemente, mudaram a composi??o e a densidade das cadeias produtivas. A mudan?a da densidade das cadeias, por sua vez, se refletiu na competitividade do país, continuando tendência observada desde os anos 1990 ADDIN ZOTERO_ITEM CSL_CITATION {"citationID":"l5mNcEiY","properties":{"formattedCitation":"(LAPLANE; SARTI, 2004)","plainCitation":"(LAPLANE; SARTI, 2004)","noteIndex":0},"citationItems":[{"id":495,"uris":[""],"uri":[""],"itemData":{"id":495,"type":"chapter","call-number":"HD2834 .I57 2003","collection-title":"Cole??o Economia contempor?nea","container-title":"Internacionaliza??o e desenvolvimento da indústria no Brasil","edition":"1a. ed","event-place":"[Campinas, S?o Paulo, Brazil] : S?o Paulo","ISBN":"978-85-7139-492-6","note":"OCLC: ocm56614864","publisher":"UNICAMP, Instituto de Economia ; Editora UNESP","publisher-place":"[Campinas, S?o Paulo, Brazil] : S?o Paulo","source":"Library of Congress ISBN","title":"O Investimento Direto Estrangeiro e a internacionaliza??o da economia brasileira nos anos 90","author":[{"family":"Laplane","given":"Mariano"},{"family":"Sarti","given":"Fernando"}],"editor":[{"family":"Laplane","given":"Mariano Francisco"},{"family":"Coutinho","given":"Luciano G."},{"family":"Hiratuka","given":"Célio"}],"issued":{"date-parts":[["2004"]]}}}],"schema":""} (LAPLANE; SARTI, 2004).Logo, o freio macroecon?mico, a incerteza sobre o comportamento fiscal do Governo Federal, o incerto reajuste de tarifas de energia, somados aos problemas criados pela valoriza??o cambial e a adequa??o das empresas a essa realidade já de longo prazo, apontaram um horizonte onde a conjuntura negativa convergiu com a estrutura produtiva fragilizada, pouco capaz de multiplicar e, menos ainda, gerar impulsos positivos em investimento, amplia??o e moderniza??o do parque. De outro modo, as expectativas dos empresários se estiolaram, tanto para o curto, como para o longo prazo.? interessante, portanto, perceber que o debate sobre a desindustrializa??o precoce no Brasil parece deslocado, levando alguns economistas a diagnosticarem os sintomas de Doen?a Holandesa em fun??o do aumento das exporta??es de primários no início dos anos 2000. O problema, entretanto, afigura outro componente interno mais decisivo: o uso da taxa de c?mbio como política econ?mica de controle inflacionário. Primeiro porque a valoriza??o cambial é anterior aos superávits do balan?o de pagamentos da primeira década deste século, remontando ao governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo, porque as reservas formadas no governo Lula da Silva n?o dependeram dos superávits comerciais e o dólar barato foi usado para repetir o controle inflacionário do governo anterior, diluindo os impactos dos aumentos dos rendimentos dos trabalhadores e do crescimento econ?mico. N?o se tratou, deste modo, da abund?ncia de recursos naturais causar problemas, mas da entrada de recursos na conta Capital e Financeira outorgar o uso da taxa de c?mbio como meio para executar específica política de estabiliza??o de pre?os que, irrecorrivelmente, traria custos elevados no longo prazo. Outra quest?o merece ainda ser citada. Diante da longa fragiliza??o da indústria de transforma??o nacional, marcadamente devido valoriza??o cambial, a produtividade do país, que recuperou pontos na primeira fase do ciclo, n?o voltou a crescer após a crise internacional de 2008. E aqui duas causas se somam: primeiro, como já discutido, a baixa demanda efetiva do capital brasileiro e, segundo, o fato de os setores industriais mais din?micos serem liderados por transnacionais. Estas últimas decidem o nível tecnológico empregado no Brasil, levando em conta suas cadeias globais de valor e a lógica da competi??o oligopólica mundial. Logo, diante da crise internacional e da recupera??o rápida do Brasil, o país se tornou importante fonte de lucros e elo relevante na readequa??o, no uso de ativos e reposicionamento nas cadeias de fornecedores para garantir a rentabilidade das matrizes. Isto é, n?o se tratou de elevar o investimento, a produtividade ou o valor agregado dos produtos, mas, sim, de, a partir de rearranjos, garantir, no curto prazo, taxas de rentabilidade para grupos econ?micos atingidos pela crise mundial que afetou os principais mercados consumidores do globo. Chama a aten??o, todavia, que a salutar diversidade e o vínculo entre as unidades fabris do país, mesmo frente aos desafios descritos, revelou significativa resiliência em cada fase do ciclo econ?mico. Isso permite afirmar que a indústria brasileira, por seu tamanho, diferentes elos, níveis e complexidade, ainda é capaz de repercutir, principalmente a montante, a estímulos gerados por políticas que permitam aos empresários antever maior lucratividade em seu horizonte de planejamento. 4. Comentários finais O cenário desenhado pelos números da economia brasileira mostraram que, se houve uma política decidida de retomada do crescimento econ?mico e de diminui??o das desigualdades sociais, esta se fez sobre bases instáveis e sujeitas a intempéries n?o apenas internas ? ao usar reservas cambiais para controlar a infla??o ? mas também externas, como demonstrou o período após o impacto da crise de 2008.Nos anos entre 2003 e 2014, os avan?os sociais alcan?ados legitimaram as decis?es do Governo Federal, mas, por outro lado, o prolongamento do modelo de crescimento escolhido esgotou as possibilidades de o país sustentar o aumento da produ??o e da renda nacionais. Afinal, o principal motor de uma economia industrializada como a brasileira, o setor fabril, escolheu racionalmente utilizar cada vez mais bens importados em detrimento da produ??o nacional. O motivo, no entanto, n?o se amparou em aloca??es mais eficientes com maior produtividade, mas, sim, na constata??o de que o insumo comprado no exterior era mais barato do que o fabricado em território nacional e a causa básica deste fen?meno estava na taxa de c?mbio valorizada desde antes de 2003. Diante disso, suspeita-se que as decis?es do Governo Federal n?o observaram a gravidade da situa??o que se desenhava para a segunda metade da década de 2010. Havia, na primeira fase, clara incompatibilidade entre as políticas de estímulo à produ??o e à demanda interna e a inten??o de utilizar a taxa de c?mbio para evitar acelera??o da infla??o. Essa descoordena??o de interven??es econ?micas parece revelar, na verdade, que havia ausência de planejamento de longo prazo entre as autoridades da República. Já na segunda fase, quando a crise internacional exp?s os problemas acumulados por quase duas décadas, a malfadada combina??o entre políticas estruturais e conten??o de pre?os enfrentou impasses. Havia reclama??es sobre as taxas privadas de retorno de curto prazo, horizonte de planejamento nebuloso, infla??o e fragilidade competitiva da estrutura produtiva nacional. Todos nós cuja gravidade era difícil desatar. Existia, porém, temas que iam além da economia e escalavam para a esfera política. A consequente desacelera??o do crescimento da renda nacional caminhou pari passu com problemas de legitimidade do governo da época. De outro modo, o desafio para o segundo governo Dilma Rousseff era especialmente complexo e desafiador, dada a profundidade da armadilha em que a economia brasileira havia sido presa, essencialmente por decis?es de mais de uma autoridade máxima do próprio Governo Federal. O apontamento dos problemas, no entanto, longe de significar uma crítica apenas contra as decis?es do Governo Federal, tenta chamar a aten??o que a sociedade brasileira também se acomodou ao modelo e, por isso, n?o mostrou clareza sobre qual futuro antevia ou ambicionava. Isto é, o Brasil parecia n?o saber realmente se deseja se desenvolver, posto que isto implicasse em provável ascens?o das classes subalternas ao consumo e aos direitos, reduzindo, de outra parcela da sociedade, privilégios e poder. Hoje, parece claro que, apenas depois de resolvida ou superada esta escolha, o país poderá debater seu futuro e será capaz de construir seu projeto nacional. Até lá, provavelmente, o Brasil continuará patinando entre surtos de crescimento e crise, às vezes mais brandos, às vezes mais violentos, mas que repetir?o as posi??es de classe ao final de cada ciclo, mantendo, ainda por um longo tempo, a estrutura social injusta, fortemente hierárquica e pouco democrática. 5. 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