Static.apec.org.pt



<sec??o> destaque<etiqueta> D. Leonor<título> D. Leonor de Portugal: empreendedora da Misericórdia Texto de Alexandra de Aboim Barahona Brito Rebelo [DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE EMPREENDEDORISMO E ECONOMIA SOCIAL_SCML]<entrada> A fundadora da Misericórdia de Lisboa foi uma das mais notáveis rainhas portuguesas pela sua obra e pelo importante legado que deixou às gera??es seguintes, conseguindo colocar em prática as 14 obras de misericórdia, num exemplo de inova??o e de empreendedorismo na era de Quinhentos.Em pleno ano do Jubileu da Misericórdia proclamado pelo Papa Francisco, este é um tempo de misericórdia. N?o deveriam ser todos tempos de misericórdia? “N?o devemos esperar que os feridos nos batam à porta, devemos acolhê-los, abra?á-los, e curá-los. Fazê-los sentir amados.” Foi esta, a misericórdia, amplamente praticada pela rainha D. Leonor, que esteve na base da funda??o da Misericórdia de Lisboa e de outras obras de grande vulto, realizadas n?o só num espírito de dedica??o aos menos afortunados, mas também num espírito de apoio à cultura, através de a??es de mecenato nas artes e nas letras, que tiveram início no século XV e que perduram até aos nossos dias.De fisionomia suave, olhos azuis e cabelos louros, herdados de sua bisavó, D. Filipa de Lencastre foi considerada “a mais perfeita Raynha que nasceo no Reyno de Portugal” pelo seu biógrafo, Frei Jorge de S?o Paulo. A infanta D. Leonor, também Leonor de Portugal, Leonor de Lencastre, Leonor de Avis ou Leonor de Viseu, foi uma infanta portuguesa nascida em Beja, em 1458 e falecida em Lisboa, no Pa?o de Xabregas, em 1525. Filha do infante D. Fernando e da infanta D. Beatriz de Portugal, duques de Viseu, foi rainha de Portugal pelo casamento com o seu primo D. Jo?o II, de cognome o Príncipe Perfeito. Descendente da ?nclita Gera??o, assim denominada por Cam?es de gera??o notável, sua m?e era filha do infante D. Jo?o. Por parte de seu pai, sobrinho do infante D. Henrique, o Navegador, era neta do rei D. Duarte, autor do Leal Conselheiro, cujos ensinamentos estiveram presentes na educa??o da época. Considerado como um primeiro ensaio de filosofia em língua portuguesa e versando sobre as doutrinas da ética e da moral, tendo a lealdade como foco central, o Leal Conselheiro surgiu numa época de expans?o marítima e económica. Quando do nascimento de D. Leonor, faziam parte da geografia de Portugal os arquipélagos da Madeira e dos A?ores. O cabo Bojador tinha finalmente sido “dobrado”: a sua passagem foi um importante marco da navega??o portuguesa que derrubou velhos mitos e abriu caminho para os grandes descobrimentos, por “mares nunca de antes navegados”.? no reinado de D. Jo?o II e de sua mulher D. Leonor que decorrem as negocia??es para o Tratado de Tordesilhas, para dividir terras descobertas e a descobrir fora da Europa, dividindo o mundo ao meio. Celebrado entre os reinos de Portugal e de Espanha, o tratado trouxe o Brasil para o domínio de Portugal e abriu caminho para expedi??es em dire??o à ?ndia. Com D. Manuel I é dada import?ncia à diplomacia e a novas descobertas. A explora??o marítima prossegue assim com Pedro ?lvares Cabral e a descoberta do Brasil, e Vasco da Gama com a sua descoberta do caminho marítimo para a ?ndia, onde ent?o foi aclamado o primeiro vice-rei. No exercício da diplomacia e durante o reinado de D. Manuel I é enviada ao Papa Le?o X uma embaixada, que desfilou pelas ruas de Roma, em mar?o de 1514. Marcada pelo exotismo e pela riqueza dos presentes, tinha como objetivo reiterar obediência e apresentar propostas para o fortalecimento da igreja católica. “Chefiada por Trist?o da Cunha e secretariada por Garcia de Resende, a embaixada era composta por mais de cem pessoas, com presentes magníficos: pedrarias, tecidos e joias, um cavalo persa, uma on?a de ca?a e um elefante que executava diversas habilidades.” Era este o ambiente que se vivia na era de Quinhentos, no reinado do “Rei de Portugal e dos Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar, em ?frica, Senhor do Comércio, da Conquista e da Navega??o da Arábia, Pérsia e ?ndia”, contempor?neo de sua irm?, a rainha D. Leonor de Portugal. Uma era de prosperidade, de inova??o e de políticas empreendedoras, em todos os domínios. Este período do Renascimento, marcado por transforma??es na sociedade, na economia e na cultura, foi uma transi??o com profundos efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências, tendo em Itália a sua maior express?o, mas depressa se difundiu pelo resto da Europa. A arte atingiu perfei??o e equilíbrio com Piero della Francesca, Botticelli, Rafael, Miguel ?ngelo, Leonardo da Vinci e muitos outros. O pensamento político teve uma inspira??o decisiva para a constru??o do Estado moderno n’O Príncipe, de Nicolau Maquiavel. Em Portugal, a influência do Renascimento estendeu-se até finais do século XVI e, como principal potência naval pioneira na explora??o marítima, floresceu com as navega??es para o Oriente. Os contactos comerciais e o interc?mbio cultural intensificaram-se. Lucros imensos fizeram crescer a burguesia e enriquecer a nobreza, permitindo novos luxos, o cultivo do espírito e o avan?o de ciências como a astronomia, a cartografia, a matemática e a medicina. Nomes bem conhecidos como Garcia de Resende, Luís de Cam?es, Gil Vicente, Fern?o Mendes Pinto, Dami?o de Góis, mudaram os tempos.Patrona das artes, da ciência e da medicina, D. Leonor de Portugal foi uma das mais notáveis rainhas portuguesas de todos os tempos, pela sua vasta obra e pelo importante legado que deixou às gera??es seguintes, tendo posto em prática as obras de misericórdia. De extraordinário cariz empreendedor, o projeto de funda??o da Misericórdia de Lisboa e o impulso para a cria??o de novas misericórdias com uma mesma miss?o, representam na prática importantes pilares de um espírito inovador, bem representativo daquele período histó origem na institui??o da Irmandade de Invoca??o a Nossa Senhora da Misericórdia, com cem irm?os, “todos de boa fama e s?a consciência e onesta vida, mansos e humildosos a todo o servi?o” surge, durante a regência da rainha D. Leonor, em 15 de agosto de 1498, a Misericórdia de Lisboa, em local conhecido pelo nome de Nossa Senhora da Terra Solta, na capela de Nossa Senhora da Piedade da Sé Catedral de Lisboa. A confraria, orientada pelos princípios estabelecidos no Compromisso da Misericórdia para apoio aos mais desfavorecidos, tinha como objetivo realizar as 14 obras de misericórdia, sete materiais e sete espirituais. Obras pelas quais vamos ao encontro das necessidades do próximo. Instruir, aconselhar, consolar, corrigir os que erram, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do próximo e rogar a Deus por vivos e defuntos s?o obras de misericórdia espirituais. As corporais s?o dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, assistir aos doentes, visitar os presos e enterrar os defuntos. O Compromisso foi aprovado pelo rei D. Manuel I e confirmado pelo Papa Alexandre VI, Rodrigo Bórgia. Em 1534, a sede da confraria estava na Igreja da Concei??o Velha, (inserir imagem) onde se manteve até 1755, sendo depois transferida para S?o Roque, perten?a da Companhia de Jesus. Numa express?o mais profunda do ideal crist?o, que se traduzia no exercício das suas obras, inspirado no amor e na entreajuda, o “espírito do Compromisso defendia a ideia de todos os homens serem filhos do mesmo Deus criador, portanto unidos pela vivência de irm?os de sangue”, princípio defendido pela coroa portuguesa, o que n?o deixa de ser revolucionário para a época.Participante ativa nos desígnios caritativos do reino, D. Leonor, princesa e rainha de Portugal, pela sua vida exemplar e na prática constante da misericórdia e das suas obras, “alcan?ou de alguns historiadores o epíteto de ‘Princesa Perfeitíssima’, inspirado no cognome do rei seu marido, a cuja altura sempre se soube manter para o juízo da história”. Patrocinadora da “primeira edi??o impressa sob égide real”, do seu mecenato beneficiaram as artes e a cultura religiosa, com tradu??es de obras da época e edi??es impressas. A rainha apoiou escritores, músicos, ourives, pintores, escultores, arquitetos e tantos outros.Fundadora das misericórdias, da Misericórdia de Lisboa e, alguns anos depois, daquela que seria a segunda misericórdia do reino, a Misericórdia de ?bidos. Da sua obra fazem parte, entre outros: os banhos das caldas, com a cria??o do hospital-balnear, junto do qual foi construída a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, e o desenvolvimento da cidade com o mesmo nome, Caldas da Rainha. Também, o Convento e a Igreja da Madre de Deus, o Convento da Anunciada, a Igreja de Nossa Senhora da Merceana, a Igreja de Santo Elói, no Porto, as Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha e as sete merceeiras no Convento de Santo Agostinho. “Virtude e Misericórdias descobrem-se e multiplicam-se gra?as a D. Leonor, pelo que continua a ser conveniente, quase ‘obrigatório’, percorrer o caminho que conduz da descoberta da Misericórdia à inven??o das Misericórdias com a ajuda da rainha. Afinal, D. Leonor continuará a ser incontornavelmente a Rainha das Misericórdias…”, com todas as caraterísticas fundamentais que definem os atuais empreendedores. De facto, entrecruzando com os modernos conceitos de empreendedorismo, chegamos às caraterísticas dos empreendedores de sucesso: “iniciativa; orienta??o para a realiza??o e compromisso com os demais” (McClelland, 1987); “sendo fun??o do empreendedor reformar ou revolucionar o padr?o da produ??o, explorando uma inven??o” (Schumpeter, 1952, p. 72.), e introduzindo uma inova??o, como “instrumento específico do empreendedor" (Drucker, 1987, p. 39). Resultado de um constante empenho caritativo, as obras de D. Leonor s?o empreendimentos que surgiram da sua vontade de criar, baseados no ideal crist?o e nas boas obras, com a simplicidade da inova??o, que a sua imensa fortuna permitiu, com o apoio de seu irm?o El-Rei D. Manuel I, para “abrir o cora??o àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contempor?neo cria de forma dramática. Quantas situa??es de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual!”, e nos mundos de todos os tempos. “Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. (…). ? tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irm?os.”<destaques>D. Leonor continuará a ser incontornavelmente a Rainha das Misericórdias…”, com todas as caraterísticas fundamentais que definem os atuais empreendedores.Resultado de um constante empenho caritativo, as obras de D. Leonor s?o empreendimentos que surgiram da sua vontade de criar, baseados no ideal crist?o e nas boas obras, com a simplicidade da inova??o.“Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. (…). ? tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irm?os.”BibliografiaA Misericórdia de Lisboa. Quinhentos anos de história – Joaquim Veríssimo Serr?o – Livros Horizonte e Misericórdia de Lisboa.Arquivo Nacional da Torre do Tombo – ) A Vida dos Reis e Rainhas de Portugal – Verso da Kapa, Edi??o de Livros, Lda.Catecismo da Igreja Católica – Terceira parte - A vida de Cristo – Segunda sec??o – Os dez mandamentos – Capítulo segundo – “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, Artigo 7- Sétimo - VI. O amor aos pobres - § 2447 Comunidade Intermunicipal do Oeste Da Descoberta da Misericórdia à Funda??o das Misericórdias 1498-1525), de Ivo Carneiro de Sousa, Granito Editores e Livreiros, Lda. – Porto. De princesa a rainha-velha, Leonor de Lencastre, de Isabel dos Guimar?es Sá, Círculo de Leitores.Dire??o-Geral do Património Cultural – Leonor de Lencastre, Rainha de Portugal, a sua vida e a sua obra, de Eurico Cardoso, Edi??o de autor.D. Leonor de Lencastre, Grande Senhora do Renascimento, de Maria de Lourdes Amorim, Editora ?squilo.Drucker, Peter Ferdinand. Inova??o e espírito empreendedor, 1987.Il Nome di Dio è Misericordia – Andrea Tornielli – Edizioni Pimme Spa, Milano.Misericordiae vultus, bula de proclama??o do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, Francisco, Bispo de Roma, Servo dos Servos de Deus.Os Lusíadas, canto 1, Luís de Cam?es, Alvarenga.Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – scml.pt Schumpeter, Joseph. Can capitalism survive?, 1952, p. 72. ................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download