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São Tomé e Príncipe: "Um Estado quase falhado" - Líder da oposição

** Henrique Botequilha, da Agência Lusa **

São Tomé, 25 Fev (Lusa) - A população de São Tomé e Príncipe "está a deixar de acreditar no Estado" e o país é hoje "um Estado quase falhado", afirma em entrevista à Agência Lusa o líder da oposição são-tomense, Rafael Branco.

"A situação económica é difícil, o país produz pouco, importa quase tudo, não tem divisas para pagar o que importa e até já houve rupturas de `stock`", diz Rafael Branco, presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social-Democrata (MLSTP-PSD).

Como resultado deste quadro, a população "está a deixar de acreditar no Estado", alerta o dirigente partidário.

São Tomé e Príncipe "não consegue cumprir as funções básicas de um Estado, porque tem um Estado incapaz", acusa. "É quase um estado falhado."

Rafael Branco gostaria de se encontrar com Luís Amado durante a visita que o ministro português dos Negócios Estrangeiros está a realizar a São Tomé e que termina hoje. O encontro consta no programa distribuído pelo Governo de Lisboa, mas não está ainda confirmado.

O MLSTP passou a ser a única bancada de oposição no parlamento são-tomense após a queda do Governo de Tomé Vera Cruz, em meados de Fevereiro, entretanto substituído no cargo de primeiro-ministro por Patrice Trovoada, líder da Acção Democrática Independente, que se juntou à aliança já existente, entre o Movimento Democrático Força da Mudança e o Partido da Convergência Democrática.

Para Rafael Branco, a nova coligação resulta de "um casamento muito forçado e muito violento para alguns dos noivos", que, prossegue, "perderam a virgindade de forma traumatizante e isso deixa marcas".

"Daqui a dois anos ver-se-á se resultou. Ou antes...", declara, sem concretizar.

O líder da oposição diz que o seu partido "é agora porta-voz da opinião pública no parlamento" e lamenta que a classe média são-tomense "esteja a empobrecer a cada dia".

"A solidariedade familiar foi única coisa que não se perdeu", afirma. É a única razão que encontra "para não haver uma explosão social".

Além de dirigente político, Rafael Branco é um dos quatro directores da Agência Nacional de Petróleos. Toda a direcção foi demitida há três meses, embora continue em funções até ser substituída.

"Ganho 15 milhões de dobras (cerca de 680 euros) e metade vai logo para a factura de energia e guardas da minha casa", garante Rafael Branco. "E eu sou um quadro superior, portanto estou numa situação privilegiada em relação à maioria da população. Não deve haver sequer 300 pessoas em São Tomé com este salário", afirma.

"Fora da cidade, há miséria, dramática e violenta", adianta.

O presidente do MLSTP culpa "a má gestão do Estado e a falta de capacidade em criar uma política capaz com um novo enquadramento".

O desemprego e a corrupção são outros assuntos que preocupam o dirigente da oposição: "Poucas pessoas trabalham em São Tomé, o que já é um problema grave, e muitas roubam o produto dos poucos que trabalham", acusa.

"O povo vê o que tem acontecido nos últimos 30 anos, vê as casas, vê os carros" de políticos a quem "basta um ano no Governo para ter uma casa nova e um carro de última gama", assinala.

O presidente do MLSTP refere que já houve casos levados à Justiça mas não conhece nenhuma condenação, o que "cria uma ideia de impunidade e de que é possível triunfar na vida rapidamente sem trabalhar".

O ministro da Defesa, Óscar Sousa, acusou duas vezes no parlamento Rafael Branco de ter estado por detrás, visando um golpe de Estado, da ocupação do comando da polícia pela força policial especial ("ninjas"). O líder da oposição desmente, diz que "algumas pessoas individuais tentaram aproveitar-se politicamente da situação", mas resume os acontecimentos, de Novembro passado a "uma típica questão corporativa", lembrando que o estava em causa era o pagamento de subsídios aos agentes policiais relativo a uma formação em Angola.

Rafael Branco, 55 anos, embaixador de carreira e com um longo currículo em governos anteriores, como ministro dos Negócios Estrangeiros, da Educação, das Infra-estruturas, do Petróleo e das Finanças, acredita que São Tomé e Príncipe tem "futuro no turismo e nos serviços".

O dinheiro do petróleo, um recurso que está ainda em prospecção nas áreas de exploração conjunta com a Nigéria e na Zona Económica Exclusiva de São Tomé, "vai ser muito importante", diz o político. Mas deve ser canalizado para "patrocinar aqueles sectores (turismo e serviços) e melhorar a vida das populações".

Para o líder da oposição, São Tomé e Príncipe deveria também adoptar o euro, seguindo a origem da maior parte dos bens que chega ao país: "Eu iria pelas nossas importações e escolheria o euro", defende. "A valorização do euro reflecte-se nos preços aqui e o Estado não consegue ajustar os salários", prossegue.

Sobre a escolha dos parceiros externos de São Tomé e Príncipe, Rafael Branco sustenta que o país deve ter duas ancoragens firmes: "Uma em Portugal (Europa) e outra em Angola (na região). Não devia haver a mínima dúvida sobre isso", conclui.

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