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Meu Pai, Vermelhinho e eu.Gostaria de compartilhar com vocês, do quadro Lata Velha do Caldeir?o do Huck, um pouco de minha rela??o emocional com este que hoje se tornou mais do que um carro, mas um lembrete constante da luta que desenvolvi durante a maior parte de minha vida e principalmente da saudade que sinto de meu pai.Enquanto alguns escolhem um animalzinho para pet, escolhemos meio que sem nos darmos conta um carro como tal.Claro que ele n?o virou nosso pet, seria mais fácil ter sido o contrário...rs. Na realidade e com o tempo, ele deixou de ser considerado um mero objeto sem vida, feito apenas para nossa conveniência, mas passou a ter o status de companheiro, mais do que isso, de membro de nossa família.Nosso escort hoje se encontra velhinho, fatigado, machucadinho, mas como um pet, entendemos que jamais devemos abandoná-lo!Este carro esteve ao lado de nossa família nos momentos de maior dificuldade. Desenvolvemos por ele além do apego, uma memória afetiva muito grande.Tanto é, que já foi vítima de tentativa de roubo por três vezes e resistiu bravamente a todas, das formas mais curiosas.Nossa história de amor come?ou há pouco mais de uma década.Sou casada há 20 anos e tenho três filhos. Na ocasi?o tinha apenas dois meninos, ainda crian?as, chamados Cesar e Gabriel.Nossa situa??o financeira nunca foi das mais confortáveis, como a maioria dos brasileiros. Trabalhávamos fora, meu marido e eu, incansavelmente para colocar o mínimo de comida na mesa e dar uma educa??o digna para nossos filhos.Pela gra?a de Deus e ajuda de nossa família, mesmo nos momentos de maior dificuldade, sempre conseguimos dar um jeito.Nunca tive medo de trabalho, meu objetivo sempre foi dar uma vida minimamente digna para minha família. Recordo-me com lágrimas nos olhos, de momentos de grandes dificuldades, mas ainda assim, momentos estes em que sempre fui muito amparada por meu pai, que sempre com seu carinho, palavra amiga e até palavr?es - sim, ele era chegado num palavr?ozinho no melhor estilo Dercy Gon?alves –sempre tinha uma orienta??o de amor e zelo para dar.Certa vez, trabalhei por um período com panfletagem em faróis de Guarulhos-SP. Ele se preocupava muito, pois tinha o Cesar e Gabriel ainda pequenos e precisava sair para trabalhar o dia todo sob um sol de 30 graus para ajudar nas despesas da casa. Nosso almo?o era costumeiramente o p?o com mortadela que minhas colegas e eu conseguíamos comprar com o pouquinho que cada uma conseguia juntar. Para ele, eu deveria largar tudo e retornar para debaixo de suas asas, por considerar que eu merecia uma situa??o um pouco melhor do que a que vivia. Mas a verdade é que mesmo com ele, a situa??o continuaria difícil, e eu n?o queria ser mais uma preocupa??o em sua já t?o sofrida vida.Morávamos com minha sogra, que nos ajudava no que podia. Esta chegou a sair da própria casa e se mudar para a de seu namorado para que pudéssemos ter um pouco mais de espa?o.Após uma sutil melhora em nossas condi??es, conseguimos comprar uma Parati velhinha, meio capenga, que mais quebrava que andava, mas que quebrou um bom galho em um período de grande necessidade em nossas vidas.Serviu inclusive, como entrada em um financiamento de um carro novo, um Uno, feito em nome de meu pai anos depois.Claro que com a aquisi??o do carro novo, n?o nos sobrou dinheiro para o o é de se imaginar, quando n?o se tem algo, é quando mais irá precisar deste algo.No aniversário de um ano, como “presente” tivemos o Uno roubado bem debaixo de meu nariz, mais precisamente, em frente à empresa em que trabalhava. Ninguém viu absolutamente nada e nenhuma c?mera registrou o ocorrido, ficando para nós apenas as 24 parcelas restantes de algo que n?o tínhamos mais uma foto sequer.Ficamos desolados por um tempo e altamente endividados. Com as 24 parcelas pela frente e um pouco descrentes da possibilidade de comprar um carro novo t?o cedo, continuamos nossa luta. Tendo de trabalhar a pé, pois mal sobrava dinheiro para a condu??o, alguns meses depois. gra?as a uma boa venda que consegui realizar, recebi como premia??o a quantia de R$1.000,00. Juntei com minhas férias e compramos, finalmente, nossa “Efigênia Rocha”, uma brasília bege de nome e sobrenome que nos foi a alegria da casa por um período considerável de tempo.Quando finalmente quitamos o financiamento do “finado” Uno, mais uma vez, meu pai ofereceu ajuda para financiar um carro de modelo mais novo, já que Efigênia Rocha encontrava-se cada vez mais abatida e cambaleante.Nosso amado Escort chegou assim. Travestido de ótima possibilidade de financiamento, com parcelas muitíssimos menores do que o anterior.Um pouco tímido, embora poderosamente vermelho, de terceira m?o, com alguns machucadinhos aqui e ali, mas com uma mec?nica verdadeiramente incrível. Era simplesmente lindo!Mas se você pensa que demos Efigênia Rocha como entrada novamente, lamento desapontá-lo(a), caro leitor(a), mas ela foi reprovada em seu teste de admiss?o pela financiadora. Lembra que seu estado era cambaleante? Ent?o, normalmente essa n?o é uma característica muito... segura, digamos, para se atribuir a um carro. De qualquer forma, meu pai acabou ficando com ela, afinal para pequenas dist?ncias, como na praia onde morava, valia a aventura, mesmo que o departamento de tr?nsito discordasse veementemente.Mas voltando a falar de nosso Vermelhinho do Poder, Escort, foi paix?o à primeira vista, ou a primeira necessidade, n?o sei ao certo, sabemos, no entanto, que veio em um momento em que foi literalmente uma m?o na roda, e olha que de m?o na roda, àquela altura, já estávamos mais do que acostumados.Quando ent?o, engravidei novamente, desta vez, de uma menina que chamamos de Isadora. Ter um carro nesta época foi de imensa ajuda. E é admirável como aquele Escort aguentou as mais diversas prova??es. Era v?mito do filho maior, coc? da menor, comida derrubada pelo do meio, ou seja, sempre uma aventura com minha pequena excurs?o infantil particular.Sem contar as vezes em que resolvia se rebelar e quebrar, obrigando a conciliar as três crian?as com meus dotes mec?nicos, adquiridos ao longo dos anos com nossos carros modelo “televis?o preto e branco”.? medida que nosso amor aumentou com a chegada de nossa menina, a renda diminuiu proporcionalmente, afinal era uma boca a mais para alimentar e uma renda menor. O mais penalizado infelizmente precisou ser justamente quem mais havia nos ajudado pelas correrias da vida.Manuten??es eram praticamente imploradas, mas nossas prioridades precisavam ser as crian?as.Procurávamos garantir o pagamento das presta??es. Com isso, a parte mec?nica, funilaria e saúde em geral foi se deteriorando como passar dos anos, até quase n?o ter condi??es de se mover.Quando Cesar completou 18 anos, apaixonado por carros como seu av?, pediu-me se poderia ficar com o Escort para que pudesse arrumar aos poucos. A esta altura estava trabalhando como gar?om em um buffet e sonhava em revitalizar o Vermelhinho.? mesma época, meu irm?o me ofereceu seu pálio weekend com financiamento direto e em suaves presta??es a perder de vista. Enxergamos aqui uma boa oportunidade de agradar nosso filho, ao Escort e ao restante da família.Quando ent?o, Efigênia Rocha - que já se encontrava falecida há algum tempo – foi substituída por um fusquinha por meu pai. Era uma rela??o de amor e companheirismo, até que foi roubado.Ele, que sempre foi muito apegado a seus carros, chegava a chorar de tanta falta que sentia de sua latinha o moravam sozinhos e já eram idosos, entendemos que Vermelhinho seria de muito mais utilidade com eles do que com o meu pai tinha verdadeiro prazer em mexer em carros, em pouco tempo, sabíamos que ele seria 100% revitalizado. Ele tinha o costume de passar dias e mais dias desmontando para montar. Gostava de tentar descobrir as solu??es para cada barulhinho ouvido e quase sempre as encontrava. Sua rotina era debru?ar-se sobre o carro diariamente até altas horas da noite. Minha m?e n?o ficava muito feliz com tal comportamento, mas entendia se tratar de uma paix?o.Hoje penso que esta paix?o era recíproca.Quando tentaram roubá-lo pela primeira vez, estávamos no aniversário da filha de um primo.No momento de ir embora, o encontramos com a porta for?ada, miolo quebrado e sem a cadeirinha de transporte de bebê da Isadora.Tínhamos aquelas travas específicas de c?mbio, que cremos que foi o que ajudou a evitar o pior, pois enquanto o c?mbio foi completamente desmontado, o carro ficou.Certa vez, na saída de casa, meus pais foram abordados por quatro bandidos, que os renderam e permaneceram durante todo o assalto com armas apontadas para suas cabe?as enquanto faziam uma verdadeira “limpa” entre os poucos móveis, eletrodomésticos e eletroeletr?nicos.Tudo foi colocado dentro do Escort, mas como que em um passe de mágica, a marcha ré travou de tal forma que impediu com que o levassem. O mais incrível é, que de todos os problemas possíveis e imagináveis, a marcha ré nunca tinha sido um deles, como nunca veio a ser.E em sua terceira vez, o vidro foi quebrado, a liga??o direta foi tentada, mas nada funcionou.Ou seja, mesmo sendo agredido, sempre resistia.Em 2016, recebemos o diagnóstico de suspeita de c?ncer de pulm?o em meu pai, que veio a se confirmar como grave seis meses depois. Com isso, precisou parar com todas as suas atividades devido às fortes dores que sentia e ser internado às pressas em um hospital em Mogi das Cruzes.Em dezembro fez sua primeira sess?o de quimioterapia, que n?o foi nada fácil devido à sua idade e ao estágio avan?ado da doen?a. Em mar?o, ainda internado, fez a segunda sess?o, sess?o esta que n?o veio a resistir e faleceu.Foi o momento mais difícil de minha vida. Tínhamos uma rela??o única e especial. Fiquei ao lado dele o máximo que pude, nada mais me importava, a n?o ser sua recupera??o e bem estar.Lembro-me que mesmo internado, a base de fortes interven??es de morfina, quando recobrava a consciência por breves momentos, perguntava n?o só de cada um dos membros de nossa família como também do carro. Era bonito ao mesmo tempo em que profundamente triste.Após seu falecimento, alguns me questionaram se venderíamos o carro para dividir entre todos os filhos. Pouco tempo depois, entretanto, todos foram un?nimes em entender que por ter sido durante tanto tempo uma paix?o de nosso pai, n?o seria correta a venda. Ele merecia ser restaurado e permanecer conosco como símbolo da realiza??o de seu sonho, t?o precocemente o n?o dispomos de condi??es, como descrito ao longo deste relato de minha trajetória, recorremos a vocês, do Lata Velha para nos ajudar com este sonho.Somos grandes f?s do programa. Nos divertimos assistindo as provas, e ficamos imaginando como seria incrível participar. Só de pensar nesta possibilidade e de quebra restaurar nosso amigo, realizando o desejo de meu pai, seria algo de que agradeceríamos para o resto de nossas vidas, afinal, seria uma forma maravilhosa de honrar todo o carinho que ele sempre dedicou a nós. A homenagem perfeita aos anos de amizade, companheirismo e amor entre Vermelhinho, minha família e eu.Situa??o do carro atualmente:Modelo: Escort.Marca: Ford.Ano: ?Estado: Funilaria desgastada, com partes amarradas, como o para-choque. Muitos amassados, parte elétrica toda comprometida, painel ressecado e estofado deteriorado e sujo.Por que amamos?? um carro 2.0 com motor incrível, que em seu auge tinha ar condicionado, volante escamoteável, funilaria vermelha linda, aerofólio e rodas esportivas. UMA M?QUINA! ................
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