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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UNIBRASIL

JENIFER MAGRI

A ESPETACULARIZAÇÃO E A BUSCA PELO FURO DE REPORTAGEM NO CASO ISABELLA SÃO APRESENTADOS POR DOIS VIESES NARRATIVOS: DRAMÁTICO E TÉCNICO

CURITIBA

2011

JENIFER MAGRI

A ESPETACULARIZAÇÃO E A BUSCA PELO FURO DE REPORTAGEM NO CASO ISABELLA SÃO APRESENTADOS POR DOIS VIESES NARRATIVOS: DRAMÁTICO E TÉCNICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Jornalismo, Escola de Comunicação das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.

Orientadora: Profª. Maura Oliveira Martins

CURITIBA

2011

RESUMO

A presente pesquisa investiga a cobertura a jornalística da morte da menina Isabela Nardoni em duas notícias exibidas na revista eletrônica Fantástico veiculada pela Rede Globo de Televisão, tendo em vista a hipótese: de que uma seria a espetacularização do conteúdo da outra, e não um “furo” jornalístico, tal como foi anunciada. A análise é feita com base nas reportagens das edições do dia 27 de abril e 20 de julho de 2008, que configuram o mesmo conteúdo, os laudos da perícia. Desse modo a diferença entre as reportagens analisadas está na construção dos textos casados com as imagens e a criação de personagens típicos do melodrama que são apresentados na segunda edição. Por meio de análise do discurso o trabalho busca compreender a construção narrativa das reportagens, que foram apresentadas como “furo” de reportagem.

Palavras-chave: Espetacularização; Dramatização; Sensacionalismo; Jornalismo Policial; furo de reportagem.

Sumário

1 INTRODUÇÃO 5

2 A BUSCA PELO FURO 7

2.1 A evolução das tecnologias, da produção jornalística e o sentido de tempo presente 7

2.2 ‘Furo’ de reportagem e o caso Nardoni 11

3. A ESPETACULARIZAÇÃO DA NOTÍCIA 16

3.1 A espetacularização do telejornalismo policial 18

3.2 Telejornalismo da Rede Globo de televisão 20

3.3 A espetacularização dos fait divers 25

4. O RECURSO DA DRAMATIZAÇÃO NOS CASOS POLICIAIS 27

5. ANÁLISE DO DISCURSO APORTE METODOLÓGICO 30

5.1 A enunciação e as imagens 31

5.2 Os sujeitos da enunciação 34

6. ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO NARRATIVA DAS REPORTAGENS 36

6.1 Caso Isabella na Reportagem de 27 de abril de 2008: jornalismo policial narrado por uma ótica técnica 36

6.2 Caso Isabella na Reportagem de 20 de julho de 2008: jornalismo policial com características melodramáticas 43

6.3 A construção do “furo” de reportagem, a espetacularização e a dramatização no caso Isabella 50

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 57

8. REFERÊNCIAS 59

9. ANEXOS 62

INTRODUÇÃO

A presente monografia busca analisar as estratégias discursivas, sob a ótica do “furo” de reportagem, de duas reportagens sobre o caso Isabella Nardoni veiculadas na revista eletrônica Fantástico, da Rede Globo de Televisão. As matérias escolhidas para essa análise foram exibidas na edição do dia 27 de abril de 2008, assinada pelo repórter Cezar Tralli e 20 de julho de 2008, sob a assinatura de José Roberto Burnier.

Ambas as notícias foram anunciadas como inéditas – “furos” jornalísticos, no jargão profissional – embora tenham o mesmo conteúdo. As informações exploradas se referem aos laudos dos peritos, que revelam as descobertas da polícia. A principal diferença constatada entre elas é a construção narrativa. A primeira aborda as informações dos laudos dos peritos de forma técnica, com uma perda do trágico dando ênfase aos resultados da perícia, e a segunda de forma dramática, dando ênfase à morte da menina, ao exibir o vídeo em 3D realizado pelo Instituto de Criminalística de São Paulo. Partindo do ponto de vista de que ambas têm o mesmo conteúdo e que a matéria apresentada no dia 20 de julho seria a repetição da edição do dia 27 de abril, pretende-se verificar como as estratégias narrativas utilizadas contribuem para criar efeitos de espetacularização.

As reportagens selecionadas para essa pesquisa foram escolhidas por se entender que são representativas do tratamento jornalístico dado pelos veículos de comunicação ao caso Isabella Nardoni e demais acontecimentos de natureza semelhante, pretendendo-se, portanto, entender as estratégias discursivas utilizadas nas reportagens policiais e na construção do “furo” de reportagem.

Para o desenvolvimento do trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre: a construção do “furo” de reportagem; a dramatização; espetacularização; jornalismo policial; análise do discurso; e o padrão do jornalismo policial da Rede Globo de Televisão. Busca-se ainda investigar os recursos de dramatização utilizados nas reportagens, como forma de compreender a construção dos personagens, o uso das imagens, o texto e o som. Na construção do "furo", a análise concentra se nos aspectos textuais que ressaltam o ineditismo das reportagens. Já no campo da espetacularização, o foco é a repetição de imagens, textos e a contribuição da dramatização para o espetáculo.

O aporte metodológico deste trabalho é a análise do discurso, que contribui para as constatações acerca do objeto estudo, uma vez que o objetivo do estudo não é quantitativo, e busca compreender as estratégias discursivas utilizadas na obtenção de tais sentidos – técnico e dramático. As análises foram realizadas por três eixos, de modo que esclarecessem as pistas iniciais da pesquisa. Para as análises, optou-se por descrever as reportagens, mostrando as escolhas narrativas de cada repórter sobre o assunto. Observaram-se elementos narrativos como entonação de voz, imagens que complementam o discurso e o uso de trilha sonora. A análise de discurso é o método utilizado para a interpretação dos enunciados e das enunciações presentes nas reportagens.

O trabalho inicia com a caracterização do “furo” de reportagem, explicando o tempo jornalístico, a evolução do jornalismo e das tecnologias. Esse estudo mostra que as transformações conduziram o jornalismo à redução de intervalo do tempo entre o fato e a notícia entregue ao público, dando ao leitor a sensação de proximidade do instante do evento. Assim permite que hoje as notícias sejam instantâneas e simultâneas. Construindo a instantaneidade como um dos principais valores do produto jornalístico, a emissora cria estilos narrativos para conectar com o “furo”.

No capítulo seguinte, abordam-se os conceitos como espetacularização com foco no jornalismo policial, mais especificamente da Rede Globo de Televisão, e sobre os fait divers. Esses conceitos estão relacionados ao problema de pesquisa e à hipótese inicial deste trabalho – assim, contribuem para entender a construção narrativa das reportagens analisadas. Após, explica-se a dramatização, uma vez que é constatado que a reportagem de José Roberto Burnier utiliza-se desses recursos, com elementos narrativos, como imagens e som. Também é realizada a pesquisa sobre o melodrama, e a criação de personagens típicos da literatura. O trabalho também apresenta as pesquisas bibliográficas realizadas sobre a análise do discurso e como é aplicada no estudo sobre as reportagens. A partir das conceituações citadas, dá início ao estudo proposto.

A BUSCA PELO “FURO”

A discussão em torno do “furo” de notícia ajuda a esclarecer o ponto de partida da pesquisa, que entende que a reportagem veiculada no dia 20 de julho de 2008 não traz informações inéditas como sugere. Dessa forma o entendimento sobre a construção discursiva do “furo” dentro do jornalismo contribui para desvendar as estratégias narrativas usadas para a construção de notícias dadas como inéditas pelo jornalismo policial da Rede Globo de televisão.

2.1 A evolução das tecnologias, da produção jornalística e o sentido de tempo presente

A evolução tecnológica contribuiu para o ritmo e a velocidade da produção jornalística em diferentes épocas. A história conta como a evolução dos meios de comunicação ajudou no desenvolvimento das etapas de produção, regularidade da circulação e na busca por garantir o caráter recente das notícias, que repercutiu sobre o controle do tempo.

As revoluções científica e industrial dos séculos XVII a XIX são responsáveis por transformações nas sociedades ocidentais. As invenções tecnológicas como o relógio mecânico, telégrafo e sistemas de impressão, e posteriormente a transmissão de informações por rádio, foram as principais inovações que auxiliaram a ampliação da transmissão de informações. A revolução no transporte também permitiu a redução do tempo de circulação, por conta do aprimoramento e desempenho dos veículos de transporte.

Giovannini (1987) diz que o telégrafo abriu uma nova e florescente oportunidade para o mundo das comunicações. “A notícia, transformada em mercadoria interessante para jornais e leitores, tinha encontrado os canais de transmissão e de difusão adequados a um sistema de mídia que se encaminhava para a idade madura” (id, p. 161). Segundo o autor os jornais que antes eram apenas destinatários de notícias, passaram a mobilizar-se para pedir informações, sugerir iniciativas, estimular aprofundamentos sobre os assuntos que os interessava.

Segundo os estudos de Franciscato (2005), a partir das transformações citadas, podem-se observar três aspectos: os efeitos da tecnologia sobre a transmissão de conteúdos jornalísticos, os modos de produção da notícia e os efeitos diretos sobre as capacidades e habilidades do jornalista em manejar esta tecnologia no seu cotidiano. Franciscato (id) cita a pesquisa de Wolf, o qual analisa as mudanças na dimensão temporal a partir da revolução da imprensa e seus efeitos sobre a notícia na Europa dos séculos XVII e XVIII. Wolf (2001) explicita a dimensão temporal da revolução da imprensa e seus efeitos sobre as notícias, abordando o papel desta na construção do sentido tempo presente.

A impressão mecânica não aumentou a velocidade de circulação da notícia, mas regularizou o fluxo das transmissões e o intervalo entre elas, expandiu o número de pessoas simultaneamente lendo ou discutindo versões variadas da mesma notícia e, também, possibilitou a apresentação de versões (e às vezes conflitantes) do mesmo evento (WOLF, 2001, p. 83 apud FRANCISCATO, 2005, p. 40).

Já Brow entende que a transmissão de informações está diretamente relacionada à:

Técnica e superação de distâncias, seja na captação e envio de informações que serão transformadas em notícias na fase da produção jornalística, seja na efetiva transmissão da notícia até o seu público. Isto significa que a expansão da imprensa dependeu do crescimento econômico dos países e de sua capacidade em desenvolver novas rotas e sistemas de transportes. Portanto, a história de países como Inglaterra, França e Estados Unidos fornecem úteis exemplos para compreendermos a imprensa (BROWN, 1985, p. 7 apud FRANCISCATO, 2005, p. 41).

Moretzsohn (2002) entende que a velocidade está apenas ao alcance de um número de pessoas, e as distâncias têm efeitos diversos e o uso de um mesmo relógio não permite a mesma economia de tempo. As novas tecnologias resultaram em mudanças que contribuíram para velocidade em que as informações chegavam até as redações, na aceleração da produção, na rapidez da distribuição para os leitores e na frequência da circulação do jornal. Segundo Franciscato (2005), isto estaria ligado ao fator temporal que por sua vez está diretamente relacionado à concorrência[1]. Deste modo, os jornais influenciados pelo tempo e pelo mercado acabaram por mudar a periodicidade dos informativos passando de semanal para diário e podendo realizar edições extras, na tentativa de dar a notícia em primeira mão.

A partir dessa discussão, Franciscato (2005) aponta como um marco a redefinição da experiência social do tempo e a apresenta como cultura do tempo presente, que busca a novidade. Também acredita que o jornalismo se consolida, desta forma, contribuindo para alimentar e potencializar o desejo pelo novo e pelo presente da vida cotidiana. Durante a contextualização histórica das evoluções tecnológicas foi possível visualizar fenômenos temporais imbricados na atividade jornalística e as categorias estabelecidas para atender os gostos dos leitores. Nessa perspectiva os principais critérios para a construção da notícia segundo Franciscato (2005) são: instantaneidade a novidade, a periodicidade e a simultaneidade.

A busca pelo novo, que mudou a periodicidade dos informativos daquela época, pode também ser visualizada nos dias de hoje. Os jornais televisivos, por exemplo, têm geralmente de três a quatro edições durante o dia. Quando surge uma informação inesperada considerada importante, são realizados os chamados plantões que antes eram vistos como edições extras. Além dos plantões, temos também na TV os chamados boletins, que geralmente passam durante os comerciais da programação dos canais e costumam ter aproximadamente cinco minutos.

Para Franciscato (id) o sentido predominante de instantaneidade no jornalismo refere-se a uma desejada ausência de tempo entre a ocorrência do fato e a sua transmissão e recepção por um público. Ele a classifica como categoria eficaz para mostrar como as práticas jornalísticas se modificaram em função de uma meta de comunicação.

O sentido de instantaneidade surge social e culturalmente quando os jornais, mesmo sem terem a tecnologia capaz de oferecer um relato instantâneo dos eventos para seus leitores, criaram um conjunto de relações sociais e de sentido em torno da possibilidade de que as interações sociais (particularmente entre o leitor e os eventos noticiosos, mas também entre leitores com base nos eventos relatados) ocorressem sem intervalos significativos de tempo (FRANCISCATO, 2005, p. 122).

Moretzsohn (2002) define o tempo a partir de novas inovações tecnológicas, como a televisão e a informática e assim constrói a discussão sobre o tempo real. A autora concorda com a redefinição do termo jornalista apresentado por Ramonet, o qual diz: “a instantaneidade tornou-se o ritmo normal da informação. Portanto, um jornalista deveria chamar-se um ‘instantaneísta’ ou um ‘imediatista’” (RAMONET, 1999, p. 14 apud MORETZSOHN, 2002, p. 169).

As transformações conduziram o jornalismo à redução de intervalo do tempo entre o fato e a notícia entregue ao público, dando ao leitor a sensação de proximidade do instante do evento. Se a discussão está em torno do tempo presente ou real, a novidade é também outro aspecto importante no contexto jornalístico. Franciscato define a novidade como um dos principais componentes da noticiabilidade. Ainda a coloca como uma das qualidades dos eventos noticiosos que se tornam viáveis para a comercialização.

A novidade, enquanto um atributo quase fundamental à notícia, opera, então, nesta tensão entre a emergência do ‘novo’ e a continuidade que dá o sentido tanto para o ‘novo’ como uma face especifica do objeto quanto nos orienta para entendermos e constituirmos modos e definir o que seria algo aceito coletivamente como ‘novo’ e para podermos expressar socialmente esta novidade utilizando formas discursivas como as notícias (FRANCISCATO, 2005, p. 155).

O fato novo e tempo presente ou real estão na mesma dimensão temporal, onde a novidade o alimenta. Outro fator envolvido na produção jornalística é a periodicidade. Esta compõe o sentido de atualidade e contribui para a redefinição do período. Ela é o intervalo de tempo que indica a variedade dos eventos como potencialmente noticiáveis. Para Franciscato (2005), a periodicidade e simultaneidade são duas relações temporais complementares produzidas ou operadas pelo jornalismo. A simultaneidade pode ser interpretada como sentido da vivência cotidiana do leitor, incluída num mesmo tempo em que acontecem as coisas do mundo. Franciscato (id) acredita que assim ela pode estar nos modos particulares vincula temporalmente o tempo e o evento relatado.

Moretzsohn (2002) ressalta que o próprio discurso da imprensa permite perceber o tempo alucinante de trabalho das redações e cita a chamada do canal Globonews. “O mundo mudou e você precisa acompanhar a velocidade dos acontecimentos. Globonews, cinco anos. A vida em tempo real” (MORETZSOHN, 2002, p. 157). Para ela, o fato de o canal estar no ar com jornalismo 24 horas não significa que ele está de acordo com a promessa, pois muitas vezes repetem exaustivamente as mesmas notícias ao longo do dia, em meio a uma ou outra novidade.

As revoluções e as categorias estabelecidas para a construção da notícia, durante século XVII a XVIII, possibilitam o entendimento do jornalismo atual. Nos dias de hoje com mais avanços tecnológicos como TV e internet, a busca pelo tempo presente e o uso das categorias citadas acima se tornam mais visíveis e, como defende Moretzsohn (2002), o jornalismo passa a operar o tempo real. Assim como a concorrência se tornou mais acirrada, pois vende o jornal mais atrativo com mais novidades. Então assim se caracteriza a chamada busca pelo “furo” de reportagem[2], a qual será estudada nas reportagens veiculadas pelo Fantástico sobre o caso Isabella Nardoni.

2.2 “Furo” de reportagem e o caso Nardoni

A discussão sobre o “furo” de reportagem está relacionada ao fato da revista eletrônica Fantástico apresentar as reportagens sobre o caso Isabella Nardoni como conteúdo exclusivo e inédito. Ou seja, o discurso circundante às reportagens indica que são os primeiros a noticiar os resultados dos laudos dos peritos e o vídeo em 3D. Essa é a postura assumida no início das matérias nas chamadas realizadas pelo apresentador Zeca Camargo e pelo repórter José Roberto Burnier. O jornalismo na era do tempo real é como uma atividade industrial, em que a velocidade é essencial para que a notícia seja dada em primeira mão. “Tudo deve ser feito para que se “ganhe tempo”. A precisão na comunicação e a velocidade com que a informação deve ser transportada são fundamentais para a dinâmica do novo modelo, comandado pelas grandes corporações-redes” (TAVARES, 1996, p. 10 apud MORETZSOHN, 2002, p.12).

Moretzsohn (id) trabalha com a hipótese da velocidade no jornalismo como fetiche[3], “segundo o qual o produto do trabalho, tão logo assume a forma de mercadoria, passa a ter ‘vida própria’, a valer por si, escondendo a relação social que lhe deu origem” (id, p. 12). No caso das matérias analisadas, vistas como produto à venda, o furo passa a ser o principal valor notícia, pois a construção da notícia passa por escolhas narrativas para apresentar a reportagem como conteúdo inédito, ou seja, dizer que o programa Fantástico era o primeiro a noticiar.

A reportagem de Burnier parece ressaltar a notícia como mercadoria, que busca altos níveis de audiência com o tipo de matéria que usa os recursos da dramatização e apresenta a notícia como uma espécie de teatro da vida real. Entende-se que toda mercadoria assume uma estratégia de venda, seja investimentos para tornar a marca conceituada, o preço, a propaganda, a qualidade e a durabilidade do produto que está sendo oferecido. Nas matérias de Tralli e Burnier, a tática usada para conquistar a audiência desejada é a notícia apresentada como “furo”. Entende-se, portanto, que essa seja a principal estratégia para a venda (a atração do espectador) seguida pelos recursos da dramatização que não apenas relatam o fato, mas o apresentam como uma reconstituição da história real.

Em casos semelhantes ao da menina Isabella Nardoni, como os casos Eloá Pimentel[4] e Elisa Samudio[5], a atratividade de grande parte das matérias apresentadas está relacionada a novas pistas sobre como o caso, como por exemplo, um simples olhar ou uma reação dos acusados. Entende-se que o jornal vende a notícia inédita, sendo assim, as características básicas dessa estratégia estão relacionadas à periodicidade e busca para manter o assunto em pauta, ainda que não haja exatamente novas informações. Para alimentar esse jornalismo em tempo real qualquer movimento ou gesto pode virar informação para atualizar o caso.

Moretzsohn (2002) faz observações sobre as condições de trabalhos e as formas de fabricar a notícia em tempo real. Para a autora, o repórter age e pensa de modo automático, assim economiza tempo para cumprir suas tarefas no prazo. Ressalta também que em todas as editorias há exemplos diários de notícias que são fabricadas para ganhar destaque. “Ainda com muitos malabarismos verbais e/ou visuais, coerentes com nossa ‘sociedade do espetáculo’” (id, p. 74). Para explicar essa forma de fabricar notícia para ganhar destaque, a autora cita o caso ocorrido na campanha eleitoral de 1994, em que a Folha de São Paulo trocou o repórter que acompanhava Lula, o candidato a presidente. O novo responsável assumiu a tarefa de obter um fato relevante e este cumpre a missão. No dia seguinte, transformou em notícia um comentário informal do candidato chamando o presidente Itamar Franco de filho da puta. Notícias como essas são chamadas de evento de mídia, que tem como objetivo a audiência. No caso citado pela autora, o repórter pegou uma brincadeira e noticiou como um possível desentendimento, que gerou o destaque a repercussão esperada pelo jornal Folha de São Paulo. Obviamente ecoou e acarretou em consequências de praxe, como pedidos de retratação, ameaças de processo judicial e muitas outras notícias desmentindo o ocorrido.

Entende-se que as reportagens tenham se tornado espetáculo não somente pela superexploração do caso, mas também pelas escolhas de destaques dadas às matérias. Escolhas ligadas aos critérios de noticiabilidade nesse caso, a busca pela instantaneidade, ditada pela competição entre os veículos. “A busca do instantâneo é a regra da atratividade jornalística empresarial, pela própria lógica do sistema. E não apenas um ‘valor cultural’ construído no contexto de uma determinada sociedade” (MORETZSOHN, 2002, p. 148).

Moretzsohn (id) faz uma ressalva ao falar da velocidade no jornalismo. Para a autora essa rapidez pode resultar em erros.

A competição às vezes nos obriga a divulgar as coisas apressadamente, obrigando-nos a desmenti-las posteriormente. Ela pode encorajar o erro em um lead, não justificado pelo resto da matéria, resultando em puro sensacionalismo (NEUMAN, 1986 apud MORETZSOHN, 2002, p. 143).

Como exemplo desse fenômeno, pode-se observar a cobertura midiática do acontecimento ocorrido no dia 7 de abril de 2011, no qual o jornalismo brasileiro noticiou em tempo real o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro. O caso ocorreu por volta das 8 horas, quando o atirador Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, ex-aluno, entra na escola e se identifica para uma professora como palestrante. Oliveira vai até uma sala de aula, saca dois revólveres, um de calibre 32 e outro 38, e começa a atirar. Wellington fez os disparos em duas salas do primeiro andar e só não continuou, porque foi interrompido por um policial que atirou em sua perna. Ao cair na escada, Wellington se mata. No total, foram 12 mortos e, segundo o balanço divulgado pela polícia na noite do ocorrido, pelo menos 12 adolescentes ficaram feridos.

O massacre ilustra os erros que Moretzsohn (ibid) aponta resultar da busca pela velocidade do jornalismo em tempo real. As emissoras de rádio e TV e os veículos de comunicação online a cada minuto traziam novas informações relacionadas ao número de mortos, feridos e sobre a identificação do assassino. Essas informações se contradiziam. A Globo News chegou a dizer que estava “tudo confuso” e que as informações se desencontravam e estavam buscando novas notícias. Sobre o atirador, as primeiras notícias diziam que seria um pai de aluno, para só depois afirmarem que foi reconhecido como ex-aluno. Na televisão o primeiro relato dado pela Rede Globo ocorreu no programa “Mais Você”, que não é entendido, em sua essência, como produto jornalístico, mas no qual se prevê a inserção de plantões em momentos de ocorrência de fatos extraordinários. A primeira informação trazida pela repórter no local observava que o assassino era pai de um aluno, dado que logo foi desmentido. A Band News chegou a noticiar 15 mortes e 22 feridos, próximo do meio dia corrigiu baixando para 11 mortos, mais o atirador e 17 feridos. As notícias foram marcadas pela corrida dos veículos de comunicação, que buscavam alimentar seus noticiários a todo tempo. Muitas das informações dadas eram imprecisas e no fim foram desmentidas. Essas notícias foram afetadas pelo tempo de produção que não permitia que fossem checadas corretamente. Portanto, observa-se a opção de se noticiar uma informação, ainda que imprecisa, do que deixar de noticiar e assim ser “furado” pelos concorrentes.

O erro citado por Moretzsohn (2002) não parece ser o caso das matérias analisadas, visto que as reportagens trazem dados dos laudos da perícia. As reportagens fazem uma leitura dos laudos e até mostram trechos do mesmo, como se fosse uma prova do que estão afirmando. A edição do dia 20 de julho parece comprovar a veracidade da matéria com leitura dos documentos e com fonte oficial sobre o assunto, o promotor de justiça Francisco Cembranelli. Entende-se que a busca pelo jornalismo instantâneo pode induzir ao erro por falta de apuração devido à velocidade que envolve o “furo”. Moretzsohn (id) esclarece que na corrida contra o tempo na disputa por quem dá a notícia antes é essencial combinar a qualidade com a rapidez. É preciso apurar os fatos antes de noticiar.

O furo das matérias talvez seja relacionado com o conceito de espetacularização e sensacionalismo por tratar a notícia como mercadoria como um produto à venda que busca a audiência, enquadrando-se no conceito de Debord (2007). Na análise realizada para o presente trabalho não foi constatado nenhum tipo de informação errônea que foi preciso retificar depois.

3. A ESPETACULARIZAÇÃO DA NOTÍCIA

A espetacularização das notícias é conceituada no presente trabalho para explicar porque as reportagens apresentadas na revista eletrônica Fantástico, sobre caso Isabella Nardoni podem ser relacionadas a esse conceito. Entende-se que tanto a matéria do repórter Cezar Tralli, quanto à de José Roberto Burnier, em um intervalo de aproximadamente três meses, apresentam o mesmo conteúdo a leitura dos laudos. A única diferença seria as imagens em 3D apresentadas com exclusividade na matéria de Burnier.

A repetição cotidiana de imagens e a dramatização vêm sendo utilizadas como estratégias constantes da mídia televisiva na narrativa dos casos policiais. Tais características apresentadas nas notícias se assemelham ao conceito de espetacularização, estudado na década de 70 por Guy Debord (1997). O teórico chamou a atenção para o estudo do fenômeno da “sociedade de consumo”, em função do rápido desenvolvimento tecnológico e da consequente expansão dos meios de comunicação de massa, que deu origem à “sociedade do espetáculo”. Para Guy Debord,

O conceito de espetáculo nada mais seria que o exagero da mídia, cuja natureza, indiscutivelmente boa, visto que serve para comunicar, pode às vezes chegar a excessos. Frequentemente, os donos da sociedade declaram-se mal servidos por seus empregados midiáticos; mais ainda, censuram a plebe de espectadores pela tendência de entregar-se sem reservas, e quase bestialmente, aos prazeres da mídia. (id, p. 171).

Segundo Canavilhas (2011), os programas televisivos tendem a optar pela informação-espetáculo por influência do fator econômico. Para o autor melhorar a programação requer investimentos, que por sua vez exige receitas publicitárias e estas são consequências do aumento da audiência. Assim, Canavilhas (id) afirma que para almejar o público necessário é preciso tornar a notícia mais apelativa e o caminho mais fácil é a espetacularização. Canavilhas (ibid) aponta a seleção de dramas humanos, a reportagem/directo[6], a dramatização e os efeitos visuais como os principais elementos que caracterizam esse tipo de notícia.

Canavilhas (ibid) explica que a seleção de dramas humanos procura explorar os sentimentos mais básicos da pessoa, destacando a insatisfação em relação às necessidades denominadas como fisiológicas e de segurança. Elucida que a reportagem/directo toma partido da emoção oferecida pelo repórter e o coloca como testemunha ocular do acontecimento. A dramatização é definida pelo autor como uso dos gestos e da expressão verbal, o volume, o tom e o ritmo da voz, aplicados com a intenção de emocionar o espectador. Já os efeitos visuais referem-se ao esforço da montagem e pós-produção que permitem manipular no fato selecionando as imagens mais dramáticas.

A reportagem da edição do dia 20 de julho da revista eletrônica Fantástico explora os recursos citados acima, que contribuem para a espetacularização da informação. Segundo os estudos apresentados por Canavilhas (2011), o telespectador só assimila cerca de 30% a 35% da informação difundida e ao dizer palavras de forte impacto no início da informação, desperta-se a atenção do telespectador e torna-se a notícia mais espetacular. Novamente a reportagem analisada se enquadra nos modos de tornar espetacular o fato, pois a notícia utiliza também palavras como “exclusivo”, que reforçam a importância para o público. Essa palavra foi utilizada apenas uma vez no começo da matéria de José Roberto Burnier para evidenciar que era a primeira reportagem que mostrava o vídeo em 3D da perícia. Já a do repórter Cezar Tralli utiliza a palavra “inédito” para ressaltar no início da notícia a leitura dos laudos dos peritos em primeira mão, reforçando a novidade. O discurso do telejornalismo ao explorar os elementos citados por Canavilhas (id) torna a reportagem espetacular.

Na crítica de Debord (1997) sobre a “sociedade de consumo” que deu origem à “sociedade do espetáculo” o autor apresenta a atividade jornalística transformada em mercadoria. Debord (id) parte do conceito marxista do fetichismo da mercadoria e relaciona os noticiários e o lucro na sociedade capitalista. Então passa a discutir o jornal ou a notícia como mercadoria. Marques (apud COELHO; CASTRO, 2006) comenta sobre a transformação dos veículos de comunicação.

Os jornais diários e as revistas semanais fazem um jornalismo cada vez mais preocupado com o sucesso do mercado, regulados por parâmetros e metas mercadológicas. Alguns desses veículos sofreram grandes estruturações e passaram a adotar sistemas de controle de produtividade e produziram manuais de redação para orientar seus profissionais a seguirem um padrão de trabalho (id, p. 35).

Segundo Marques (Ibid), a produção da notícia passa por uma série de transformações essenciais da sociedade capitalista, que a determina como mercadoria. Para o autor essas mudanças estão relacionadas à padronização das redações como, por exemplo, a padronização do discurso jornalístico, a adoção dos manuais, a centralização das notícias pelas agencias nacionais e internacionais e a reestruturação dos projetos editoriais.

As notícias como mercadoria podem concorrer em dois mercados diferentes: s dos leitores e o dos anunciantes. Para os anunciantes, o jornal interessante é o que tem um grande número de leitores em contrapartida. Para os leitores, um bom noticiário é aquele que oferece a programação com mais qualidade, seja essa na aproximação do fato com o público ou na quantidade de notícias veiculadas. Sendo assim, o público, seja ele leitor, telespectador ou ouvinte pode ser visto como mercadoria, a ser vendida para os anunciantes. Debord (1997) discute a mercadoria em forma de espetáculo e coloca o preço sendo o principal fator do produto. A lógica do crítico pode ser relacionada à audiência no telejornalismo que é basicamente como um medidor do lucro das redes de televisão.

3.1 A espetacularização do telejornalismo policial

O telejornalismo policial tende a apresentar as reportagens com certos recursos utilizados para deixar a notícia mais espetacular. A informação espetaculosa, que visa à audiência, parece fugir dos padrões estabelecidos pela imprensa. Sendo assim, além do discurso da objetividade na construção do real, o telejornal se preocupa com a sua atratividade perante o público. Ao optar pelos mecanismos que se direcionam ao fascínio, o telejornalismo relata os acontecimentos muitas vezes reconstituindo o fato. A reconstrução do acontecimento ou encenação deixa a reportagem parecida com programas ficcionais de suspense ou terror. Segundo Barbero (2001), a narrativa do jornalismo popular teve como base a literatura de cordel[7] e os folhetins, que relatavam os acontecimentos, especialmente os crimes. Assim as notícias passam a apresentar uma narrativa melodramática[8], típica da literatura que a deixa mais próxima da ficção. Este parece ser o caso de uma das matérias analisadas em que o vídeo em 3D feito pela polícia ilustra a leitura dos laudos da perícia. O repórter, neste caso, seria o narrador das imagens do crime em que o pai é o principal suspeito de ter jogado a filha pela janela, dando à reportagem o tom tétrico típico dos filmes de terror.

(...) não importa tanto afirmar que boa parte do público, talvez sua maioria, utiliza o telejornal como uma forma de espetáculo cotidiano do mundo, como uma distração e divertimento e que muito se decide e se toma partido [...] isto é óbvio. Importa mais dizer ou compreender como o telejornal se constitui e se constrói como forma de realizar de maneira eficaz tal dimensão do espetáculo. (CALABRESE; VOLLI, 2001, p. 86 apud COUTINHO, 2003, p.63).

Os telejornais policiais populares, na busca por novos fatos considerados como produtos à venda, podem contribuir para a repetição exaustiva de imagens, que ajudem a estabelecer o espetáculo. Esse gênero geralmente valoriza a narrativa como estratégia de mercado procurando deixar as matérias mais apelativas e espetaculosas. O jornalismo policial geralmente é chamado de sensacionalista por exibir esse estilo de narrativa que usa a excessiva dramatização na sua construção. Amaral (2005) aponta o sensacionalismo como um conceito errante pelas generalizações do termo e ressalta que já não tem servido para definir o segmento popular, pois para ela:

É preciso considerar que um jornal ou telejornal destinado ao público popular não se utiliza dos mesmos recursos do um jornal tradicional. Afinal, a construção do discurso informativo parte de mapas culturais (HALL et al, 1999, p. 226). Cada tipo de publicação se legitima por intermédio do uso maior ou menor dos recursos narrativos, desenhados culturalmente (ALBUQUERQUE, 2000). O discurso informativo pode se inspirar em determinadas formas narrativas e, no segmento popular, formas narrativas com características melodramáticas, grotescas e folhetinescas são mais comuns. (AMARAL, 2005, p. 2).

Na busca pela audiência esse gênero tende a explorar o extraordinário, o anormal, utilizando-se da linguagem espetacular e das imagens chocantes que despertam a atenção do público. Sandalo (apud COELHO; CASTRO, 2006, p. 63) acredita que a distinção entre a mídia julgada como séria e popular não passa de uma ilusão entre os produtos da indústria cultural e acrescenta a visão de Adorno sobre o modo de produção das notícias. “Não são fundadas na realidade, quando, antes, servem para classificar e organizar os consumidores a fim de padronizá-los” (ADORNO, 2002, p. 12 apud COELHO; CASTRO, 2006, p. 63). Para Angrimani (1995) sensacionalismo é:

tornar sensacional um fato jornalístico que, em outras circunstâncias editoriais, não mereceria esse tratamento. Como o adjetivo indica, trata-se de sensacionalizar aquilo que não é necessariamente sensacional, utilizando-se para isso de tom escandaloso, espalhafatoso. Sensacionalismo é a produção do noticiário que extrapola o real. (ANGRIMANI, 1995, p.16).

Entende-se que o jornalismo visto como sensacionalista ressalta toda a carga emotiva e apelativa, assim evidencia o fato e a notícia passa a se vender por si mesma cumprindo o papel da mercadoria. Patias (apud COELHO; CASTRO, 2006, p. 86) esclarece que o espetáculo não deve ser confundido ou entendido como sinônimo de sensacionalismo, pois para ele uma notícia pode ser espetacular sem necessariamente ser sensacionalista. Angrimani explica, ao analisar o massacre na escola de Realengo, a diferença entre os conceitos:

Podemos discutir a espetacularização da notícia, que é o fato o tempo todo se repetindo nos veículos. O sensacionalismo é diferente, é hiperdimensionar um caso que não é tão grave. Mas este caso por si só já é sensacional, as pessoas só falam disso nas ruas, a mídia tinha que falar, eu não vi sensacionalismo (ANGRIMANI apud VASCONCELOS, ANO, S/P).

A existência de um gosto por noticiários policiais por parte dos telespectadores pode ser um dos motivos da exibição de matérias como a do caso Isabella Nardoni estudada no presente trabalho. Esse gosto também pode contribuir para a repetição das informações nas reportagens. A matéria parece requentar o assunto trazendo pela segunda vez a leitura dos laudos da perícia acompanhada pelo vídeo em 3D produzido pela perícia, ressaltando o caráter inédito e exclusivo do mesmo.

3.2 Telejornalismo da Rede Globo de televisão

O telejornalismo da Rede Globo de Televisão tem um padrão visto como sério pela população e pela crítica. Para entender as estratégias e o seu público alvo, conceitua-se cada um deles, a partir de observação da pesquisa de Temer (2002). Também será analisada a Revista Eletrônica Fantástico, a qual apresentou as reportagens que são o objeto de estudo do presente trabalho.

O telejornal Bom Dia Brasil é o primeiro a ser veiculado em rede nacional e coincide com o café da manhã dos empresários, principal público. O noticiário também é o de maior duração, com aproximadamente uma hora incluindo os intervalos comerciais. As reportagens apresentam conteúdos relacionados à economia, principalmente no setor de investimentos, e tem um número expressivo de matérias opinativas.

O Jornal Hoje é apresentado em pouco tempo e tem um número de matérias reduzido. O telejornal é apresentado após o horário de almoço e atinge em grande parte o público feminino, as donas de casa no período de descanso. As matérias são relacionadas à alimentação, bem estar social, educação, assistência ao menor e interesse humano. “Esse pretende ser o telejornal do ‘tempo presente’, enfocando os fatos enquanto estão acontecendo. Tal chavão é passado ao telespectador de forma sutil, como nas vinhetas ‘o tempo agora’” (TEMER, 2002, S/P).

O Jornal Nacional é o principal da emissora e está no horário tido como nobre da televisão brasileira, o que tem maior audiência pelo fato das famílias estarem em casa. É apresentado pelo casal William Bonner e Fátima Bernardes. O noticiário visa mostrar dados concretos sobre os fatos ao invés de apenas opinar. A escolha do modo adotado na produção das reportagens tem como objetivo ressaltar a seriedade do produto e o distanciá-lo dos taxados como sensacionalista.

O Jornal da Globo é o último na ordem diária e o de menor audiência por causa do horário de veiculação, que é próximo da meia noite. Tem matérias informativas, opinativas com comentários e crônicas. Por causa do horário, é comum esse telejornal apresentar os resultados de partidas de futebol realizadas pouco antes. Esse tem um direcionamento para o público masculino.

Segundo a pesquisa de Temer (id) as matérias de serviço têm predominância nos telejornais da Rede Globo. Outro critério de noticiabilidade muito explorado, segundo a pesquisadora é o cotidiano. Temer (ibid) concorda com a visão de Rubim que diz que:

O telejornalismo da Rede Globo vê no saber científico a conquista de um mundo melhor. No que diz respeito à divulgação desses novos saberes, ele reveste a informação de uma idéia de descoberta, de ineditismo. Na maior parte das vezes a “novidade” é colocada na tela antes do público ter acesso ao consumo. O tempo do material jornalístico sobre ciência é o tempo futuro e ‘[...] tem como álibi a promessa de um futuro melhor, conformado em uma cura ou um conforto pelo qual vale a pena esperar’ (RUBIM, 2000, p.62 apud TEMER, 2011, S/P).

É nessa busca pelo inédito e pelo fato novo que se encaixa a espetacularização das matérias analisadas. A repetição da leitura dos laudos e do tema parece ter ganhado apenas um novo enfoque a reconstituição do caso a partir do vídeo em 3D. Para melhor entender a construção da narrativa das reportagens analisadas, é preciso conceituar também o estilo de jornalismo adotado pela Revista Eletrônica Fantástico, que alia jornalismo e entretenimento. O programa apresenta os conteúdos em formatos de reportagens, entrevistas e quadros fixos que são orientados por diferentes critérios de noticiabilidade.

Os quadros fixos do programa geralmente trazem assuntos relacionados ao cotidiano. A estratégia de apresentação parece ser a espetacularização dos assuntos rotineiros, ou das situações do dia a dia como caso de vizinhos que brigam por incômodo de som alto, pais e filhos que não se entendem. O Fantástico tem como característica a locução de Cid Moreira nas chamadas impactantes dos blocos. A entonação da voz parece ressaltar o sensacionalismo com a intenção de despertar no telespectador a curiosidade. Outro fator é o aprofundamento sobre o ocorrido, nesse caso o programa traz uma ampla abordagem, variabilidade de imagens e fontes ouvidas, infográficos explicativos, humanização do relato e passagem do repórter no local do acontecimento na tentativa de destacar a checagem sobre o fato.

Dentre os temas mais apresentados estão os personagens do cotidiano tratado, nos quadros fixos e os fantásticos. A revista aborda histórias particulares de pessoas desconhecidas, destacando o personagem fantástico com narrativas dramáticas, descritivas sobre os fatos. Esse estilo de abordagem parece ser representativo dos fait-divers[9].

A narrativa dramática - que explora esses fatos isolados, não necessariamente importantes, despertando grande curiosidade, é também observada no caso Isabella Nardoni. O fato virou manchete por muito tempo nos jornais trazendo todos os dias algo novo sobre o ocorrido. Essa novidade foi apresentada como capítulos de um folhetim, gerando expectativa dos próximos episódios. As reportagens pareciam com programas de suspense, que a cada edição desvendava o mistério da morte da menina Isabella, despertando grande curiosidade nos telespectadores. Esse formato parecia ser a principal forma de atrair o telespectador, que comovido com a morte da criança, cujo próprio pai era principal suspeito da autoria. As notícias sobre o caso apresentavam um ‘requentamento’ do assunto, trazendo um novo enfoque para servir ou satisfazer o público.

O jornalismo da Globo parece utilizar de recursos sensacionais e dramáticos algumas vezes, mas esse não é o padrão das narrativas. A emissora não apresenta um programa jornalístico apenas de cunho policial, mas veicula matérias do gênero nos programas citados. Ao analisar o espaço que a emissora destina ao gênero policial, é possível observar as características adotadas no padrão jornalístico da emissora. Campello (2011) apresenta as principais diferenças dos telejornais policiais e o Jornal Nacional quanto à estrutura, o ritmo, a performance dos apresentadores, as entrevistas e os depoimentos. A pesquisadora aponta a estabilidade, o tempo de duração, de divisão dos blocos e tempo de intervalo comercial, do Jornal Nacional como diferença de estrutura em relação aos programas policiais de outras emissoras. Quanto ao ritmo, ela diz:

É constante nos telejornais de referência, onde os apresentadores mantêm uma mesma velocidade e inflexão ao texto lido diretamente do teleprompter, como fazem William Bonner e Fátima Bernardes, no Jornal Nacional. Por outro lado, nos telejornais policiais o ritmo é acelerado, como que acompanhando a velocidade dos fatos narrados ao vivo, em tempo real. No Brasil Urgente, José Luís Datena impõe um ritmo frenético à sua narração, alterando inclusive o tom da voz nos momentos de indignação. (CAMPELLO, id, S/P).

Para Campello, o Jornal Nacional passa a ideia de performance controlada, gestos contidos e expressões dos âncoras e apresentadores de acordo com o texto lido. Já no Brasil Urgente, Datena faz sua apresentação de modo espalhafatoso, exagera nos gestos, no tom das críticas e fala solto, “simulando” uma espontaneidade, como se estivesse rompendo um script típico de telejornalismo. No campo das entrevistas, os jornais geralmente as trazem editadas, em formato de enquetes, nos policiais é constante a presença do público, do cidadão comum, ao vivo, narrando os seus dramas, traumas e dificuldades. A Rede Globo de televisão já exibiu um programa policial o chamado Linha Direta[10], que segundo o site da emissora foi inspirado em programas de sucesso nos Estados Unidos, como Yesterday, today and tomorrow e The insolved misteries. O programa reconstituía crimes não-solucionados, com o objetivo de incentivar os telespectadores a fornecer pistas que ajudassem as autoridades a reabrir investigações e a solucionar os casos. A emissora o apresentava dentro dos padrões de qualidade estabelecidos. Martins (2005) analisa as narrativas do programa e conclui que elas misturam elementos da estruturação típica das culturas orais com configurações típicas do jornalismo, faz uma espécie de uso do elemento lead, que coloca o momento principal da historia como necessariamente o primeiro instante do relato.

O fato de que Linha Direta constrói sua narrativa através de representações semelhantes às das novelas, tipo de discurso explicitamente ficcional, não compromete a sua relação com a verdade factual; o discurso do programa, na verdade, torna-se objetivo ao se submeter às normas e rotinas da área às quais sua história pertence, ou seja, ao discurso policial, de registro criminal e judicial. (MARTINS, id, p. 89)

Assim pode se entender porque o jornalismo da Rede Globo de Televisão é visto como de qualidade e referência, por distanciar se dos jornais tidos como popular. Embora o jornalismo da emissora ressalte a postura de sério e diferencie dos sensacionalistas e espetaculosos por vezes pode se tornar ou exibir matérias espetaculares relacionadas à violência e aos fait divers.

3.3 A espetacularização dos fait divers

Os estudos sobre o sensacionalismo realizados por Angrimani (1995) mostram que, desde o século XIX, a concorrência entre as gazetas populares buscou tornar seu produto mais atrativo, e como consequência, elas passaram a relatar as tragédias e os fait divers. Na idade média esses fatos que fascinam eram cantados pelos trovadores geralmente trazendo histórias de assassinatos, adultérios e incestos. Segundo Alencar (2011) no século XVII as gazetas já apresentavam as nouvelle derivadas do francês  (o mesmo termo, em português, “notícia” e “novela”) que se encontravam ao lado de informações de utilidade pública e destacavam o insólito e divertido, num formato que se aproxima dos fait divers.

Na busca pela audiência Angrimani, (1995) compreende que “a fórmula dá resultado e é imitada pelos jornais que passaram a editar semanalmente cadernos ilustrados de fait divers (...). Essa luta pelo mercado faz surgir os primeiros jornais especializados em ‘sangue à la une’ (sangue na primeira pagina)” (id, p.27). Os fait divers são apresentados pelo autor como signos de uma separação das normas que regem as relações fundamentais dos homens entre elas e a natureza. Assim como no século XIX os fait divers deram resultados com as narrativas dramáticas dos fatos que são os elementos fundamentais da notícia-mercadoria para garantir uma boa atratividade.

Como a novela e o conto, o fait divers tem as qualidades das formas breves da literatura: fragmentação, rapidez, intensidade, concisão. A própria leitura de sua crônica mostra que há todo um modo de dizer, para além do sentido referencial, que captura a atenção do leitor. Este é seduzido pelo princípio de uma desorganização generalizada, como se algo viesse dizer que a vida é assim mesmo, irrisória, vertiginosa, confusa. Os outros tipos de notícia se aproximam do romance, expressão da totalidade e da longa duração, que supõe uma serialidade que o fait divers desconhece. (ALENCAR, 2011, S/P).

O caso Isabella Nardoni pode ser caracterizado como um fait diver, pois o acontecimento é um caso singular, particular, incomum, em que o pai é o principal suspeito de ter jogado a filha da janela do sexto andar do edifício London. Segundo os estudos sobre os fait divers, a natureza desse fato sugere que ele não tenha grande interesse público, pois não traz forte repercussão à vida da população, é um caso isolado em si próprio, sem grande historicidade, visto que não fala especificamente de algo que atinge o bem público. O caso Isabella parece causar interesse pelas características internas do fato, mas, em si, não tem grande interesse público. As reportagens buscavam criar a sensação de interesse público como principal valor notícia, como estratégia que talvez foi adotada para dar maior repercussão ao caso. As reportagens na realidade são de interesse do público. É necessário distinguir a diferença desses valores notícia, interesse público, é o fato que interessa a sociedade, que pode alterar algo na vida de uma sociedade; interesse do público é o fato que interessa para uma pessoa em particular, mas que não afeta a sociedade.

A construção das narrativas resultou na busca por trazer novas informações sobre o ocorrido o tempo todo, que caracterizou a busca pelo “furo” nas reportagens analisadas. As noticias sobre a morte da menina foram veiculadas de forma que as tornaram parecidas com os romances policiais e com as telenovelas, em que cada reportagem traria um novo episódio da série “quem matou Isabella?”. As narrativas foram marcadas por recursos da dramatização focando no mistério, na morte, no conflito e no drama.

O estudo sobre os fait divers contribui para o entendimento das estratégias narrativas jornalísticas de alguns casos policiais, bem como para a discussão sobre o problema de pesquisa do presente trabalho. A pesquisa busca por meio da análise do discurso qualificar as estratégias narrativas e discursivas para a construção do “furo” de reportagem. A pesquisa traz também o conceito de dramatização e melodrama, uma vez que foram identificadas algumas pistas de que uma das reportagens apresenta recursos típicos desse gênero.

4. O RECURSO DA DRAMATIZAÇÃO NOS CASOS POLICIAIS

A dramatização no telejornalismo enfatiza como as pessoas ou atores sociais aparecem ou são narrados em função do texto. Curado (2002) entende que a encenação dos fatos em noticiários sensacionalistas, passa a fazer parte da realidade, narrando independentemente da linearidade temporal, não respeitando a construção lógica do entrevistado. Olga Curado classifica a seleção de imagens espetaculares como clipe jornalístico:

Quando o fio condutor de uma reportagem é a seleção de imagens espetaculares, o material que resulta daí é o clipe jornalístico. Narrar histórias a partir de uma sequência de efeitos visuais é uma leitura inconsistente e juvenil da realidade, (...). Se uma falsa estética da edição prevalece para a construção da narrativa noticiosa, a informação passa para segundo plano. (CURADO, 2002, p. 171)

A dramatização nos casos policiais tem como características narrativas parecidas com a literatura, assim tendem a noticiar sempre as mesmas histórias ou pelo menos semelhantes, com vítimas e heróis positivos e negativos, que são típicos do melodrama. Conceituado por Barbero (2001) como um espetáculo popular que é muito menos e muito mais que teatro, “porque o que aí chega a toma a forma-teatro, mais que com uma tradição estritamente teatral, tem haver com as formas e modos dos espetáculos de feira e com os temas das narrativas que vem da literatura oral” (BARBERO, id, p. 169). A reportagem analisada para o presente trabalho, edição do dia 20 de julho de 2008, sobre a morte da menina Isabella Nardoni utiliza os recursos da dramatização. A narrativa parece construir os personagens de acordo com melodrama, assim caracterizando a vítima, os heróis e o bandido como na literatura. Cristina Ponte (2005) explica a estética do melodrama.

A estética do melodrama apresenta o mundo como se fosse governado por valores e forças morais e emocionais. Pessoas e eventos tendem a ser apresentados como representações ou exemplos de um universo mítico, indiscutível e eterno. Se o mundo parece incompreensivelmente caótico, é-o só na superfície. Por baixo, é sempre a mesma história. (GRIPSRUD apud, PONTE, 2005, p. 64).

As narrativas jornalísticas melodramáticas estruturam seus personagens como na literatura:

o Traidor¸ o personagem do terrível, que produz o sentimento básico do medo ao molestar a vítima; o Justiceiro, que representa o entusiasmo e garante um encerramento positivo à história; a Vítima, posicionada com a heroína, a encarnação da inocência e da virtude; e o Bobo, alheio à tríade dos personagens protagonistas, mas extravasa a tensão da história pelo cômico. (MARTINS; AZEVEDO, 2009, p.6)

Martins e Azevedo (2009) classificam os personagens do caso estudado. Para as autoras no papel do Traidor encaixa-se a madrasta de Isabella, como no conto da Cinderela e da Branca de Neve. A Vítima incontestável é a menina Isabella, visto se tratar de uma criança, consensualmente inocente, incapaz de atos nocivos. O papel de Justiceiro é assumido pelos próprios veículos de comunicação, que prontamente tomam para si a responsabilidade de noticiar o acontecimento assumindo a função de garantir punição e a explicitação da verdade, através das vias midiáticas. Assim como as reportagens analisadas que parecem indiretamente ressaltar a culpa do pai e da madrasta com a leitura dos laudos. O único personagem que ficou fora desse contexto é o bobo que parece não se encaixar na história.

As matérias do caso Isabella Nardoni trazem pistas de que uma pode se caracterizar como espetacularização da outra partindo da constatação de que ambas têm o mesmo conteúdo. A reportagem da revista eletrônica Fantástico, da Rede Globo de Televisão, edição do dia 27 de abril de 2008, traz as informações dos laudos realizados pelos peritos. Nessa reportagem há uma perda do trágico, além de não trazer um grande número de mortes também não há um apelo sentimental. Martins e Azevedo (2007) verificam que em uma situação trágica em que não há o dito número de mortes, “o jornalismo constrói narrativas trágicas com outro tipo de apelo – o apelo sentimental ou sensacional; o apelo em que se dá voz maior às vítimas; apelo que gera uma comoção ou uma espécie de sensibilização coletiva” (id, p. 13). Na reportagem do dia 27 o repórter enfatiza o resultado das análises traçando uma narrativa voltada aos dados técnicos como o tamanho da tesoura, da faca que foram usadas para fazer o corte na tela, entre outras informações a respeito do assunto.

Já a matéria do dia 20 de julho de 2008 apresenta os resultados da perícia no formato de animação em 3D. Essa matéria valoriza a tragédia com narrativas com características melodramáticas, dando ênfase na morte da menina Isabella. Segundo a constatação de Martins e Azevedo (ibid), dessa forma, a reportagem parece ressaltar o valor tragédia, realçando a morte da menina, abordando uma narrativa com características melodramáticas, imagens que chocam, como a do pai jogando a filha, e som que juntos tendem a sensibilizar o público.

O entendimento, a constatação e conclusão das estratégias narrativas das reportagens serão concretizadas com base na análise do discurso, que explica a teoria da enunciação do texto e das imagens.

ANÁLISE DO DISCURSO: APORTE METODOLÓGICO

A expressão “análise do discurso” é proveniente de um artigo do norte-americano Harris. Além de Harris, outro trabalho importante foi o do autor europeu E. Benveniste, entre as décadas de 50 e 60, a respeito da enunciação (BRANDÃO, 2004 apud LUAN). A diferença entre esses estudiosos está dividida em duas correntes: a francesa e a anglo-americana com uma abordagem psicossociológica. A linha francesa (AD)[11] teve início a partir de pesquisas de Michel Foucault e Michel Pêcheux. Pinto (2002) define a corrente francesa como

Práticas sociais determinadas pelo contexto sócio-histórico, mas que também são partes constitutivas daquele contexto (...) e tem privilegiado em suas análises principalmente textos impressos ou transcrições de textos orais, quase sempre tratados isoladamente, de modo independente de outros sistemas semióticos presentes, e cujas implicações político-ideológicas procuravam desvelar, de um ponto de vista crítico (PINTO, 2002, p. 21).

Sobre o conceito de discurso empregado pela corrente anglo-americana, Pinto (id) comenta:

Suas análises de discursos combinam a descrição da estrutura e do funcionamento interno dos textos, com uma tentativa de contextualização um pouco limitada e utópica. O processo de comunicação é entendido atomisticamente como uma interação cooperativa entre indivíduos que detêm controle total e consciente das regras a serem utilizadas e que são capazes de contribuir em pé de igualdade para o desenvolvimento do processo (id, 2002, p. 21).

Adotando a linha teórica francesa, é possível entender o discurso jornalístico como construção social a partir de um contexto sociocultural. Maingueneau (2002, p. 52) vê o discurso como “sintoma de uma modificação em nossa maneira de conceber a linguagem”.

Conforme Maingueneau (1997, p. 29), “a linguagem é considerada uma forma de ação; cada ato de fala é inseparável de uma instituição, aquela que este ato pressupõe pelo simples fato de ser realizado”. A reportagem analisada no presente trabalho exibida pelo programa de TV Fantástico no dia 20 de julho de 2008, veiculado pela Rede Globo, utiliza-se de práticas tais como o teatro atribuído por Maingueneau (id). Esse teatro nada mais seria que a encenação da vida real. Considerando esse conceito o vídeo em 3D construído pela perícia então é a encenação da morte de Isabella, o texto do repórter José Roberto Burnier são os atos de fala que dão voz e ritmo às imagens.

Reatualiza-se, assim, mas em um quadro totalmente diferente, a velha metáfora estóica, segundo a qual a sociedade seria um vasto teatro onde um papel seria atribuído a cada um. Há uma tendência para ampliar este ponto de vista, integrando os papéis em um complexo mais rico: uma ‘encenação’ ou uma ‘cenografia’, (Maingueneau, 1997, p. 31).

O conceito de Maingueneau (id) sobre o discurso como encenação dos atos da sociedade se aproxima do conceito de espetacularização e dramatização dos fatos de uma notícia definidos neste trabalho. Maingueneau entende que o locutor tem uma coleção de papéis em que pode escolher para si ou para impor ao destinatário. Assim como a dramatização da notícia que pode ressaltar um posicionamento ou impor para o telespectador sua visão de forma sutil.

Para Pinto (2002, p.27), a análise de discursos não se interessa somente pelo que o texto diz ou mostra, pois não é uma interpretação semântica, mas sim em como e por que o diz e mostra. Assim pode-se compreender que não interessa para o analista apenas o texto em si mesmo, mas também o enunciado, o contexto do discurso de um determinado texto. É preciso entender a enunciação francesa para a proposta análise do presente trabalho. Barros (2005, p. 53) entende que o discurso nada mais é “que a narrativa ‘enriquecida’ por todas as opções do sujeito da enunciação, que marcam os diferentes modos pelos quais a enunciação se relaciona com o discurso que enuncia”. O mesmo busca compreender o discurso de duas matérias com o mesmo conteúdo, exibida por um mesmo programa, mas narrada de forma diferente.

5.1 A enunciação e as imagens

A análise do discurso francesa desenvolve o conceito de enunciado e enunciação. “O mundo corresponde à ‘história contada’, ao que é dito, ao longo a enunciação correspondente à maneira de contar a história, à forma de dizer” (RINGOOT, 2006, p.133). Bakhtin foi um dos precursores da teoria da enunciação que ganhou um impulso na França com a obra do linguista Benveniste, que propôs estudar a subjetividade na língua: o aparelho formal da enunciação.

Bakhtin em seus estudos entende que a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação ou das enunciações: “a interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da língua”, (BAKHTIN apud VIZEU, 1992, p. 123)

O enunciado está ligado à enunciação e vice-versa, ou seja, não existe enunciado sem enunciação. Entende-se que há uma relação mútua entre ambos. “A enunciação é também definida como ato de enunciar, ato que se instala um enunciador ‘aquele que fala’ e um enunciatário ‘aquele pra quem a fala é endereçada’” (Ringoot, 2006 p. 134). Para Maingueneau (2002) o enunciado se opõe à enunciação da mesma forma que o produto se opõe ao ato de produzir.

O enunciado é definido por Maingueneau (2002) como uma sequência de signos ou como uma sequência verbal. As explicações sobre enunciação abordam também as imagens, o presente trabalho analisará os textos e as imagens de duas reportagens televisivas, ou seja, que misturam texto verbal e imagens. Segundo Pinto (1999) as imagens, mesmo isoladas, devem ser consideradas como discurso.

Compreender um enunciado não é somente referir-se a uma gramática e a um dicionário, é mobilizar saberes muito diversos, fazer hipóteses, raciocinar, construindo um contexto que não é um dado preestabelecido e estável. A própria idéia de um enunciado que possua um sentido fixo fora de contexto torna-se insustentável (Maingueneau, 2002, p. 20).

Portanto, a presente pesquisa busca compreender os enunciados e as enunciações das reportagens de acordo com o método da AD sobre os estudos do sentido. Esse estudo entende que o sentido vem representar o que poderia ser dito, pois as palavras podem ser trocadas por imagens ou até mesmo pelo silêncio que em certos contextos podem expressar mais do que palavras. Os enunciados das reportagens de acordo com esse aporte metodológico permitem interpretar os sentidos da construção das narrativas e assim classificá-las, ou seja, entender como são construídas que recursos são utilizados.

Entende-se que o texto telejornalístico é um enunciado que mescla a narrativa verbal e imagética, que pode ser composto por recursos gráficos, fotos entre outros que, junto com as trilhas sonoras e os sons do ambiente, aumentam e sublinham o efeito emocional e compõem os sentidos da notícia. A reportagem de José Roberto Burnier faz uso dos recursos mencionados. Além de seu texto falado, são exibidas as imagens do vídeo em 3D, acompanhado por uma trilha de suspense que juntos parecem afetar o telespectador emocionalmente.

Pinto (2002) faz observações sobre o estudo desenvolvido por Michael Halliday sobre a enunciação em outros sistemas semióticos como as imagens e as paisagens sonoras. Para o autor, a linguagem verbal e as outras semióticas com que se constroem os textos são partes integrantes do contexto sócio-histórico e não alguma coisa de caráter puramente instrumental.

As fotos, o vídeo em 3D e todas as outras imagens, assim como as trilhas sonoras das reportagens selecionadas para este trabalho, serão analisados como escolhas enunciativas que carregam em si uma intertextualidade. A AD das reportagens analisará como as imagens, as trilhas sonoras e a entonação da voz do locutor completa e dá sentido ao texto falado. Nesse caso, a análise das imagens proposta ajudará a compreender se sua junção com a trilha sonora, com ar de suspense e o tom de voz grave do Cid Moreira, nas chamadas, são apresentados de forma espetacular.

A análise da enunciação tem como características principais informar sobre pessoa, tempo e espaço. Para essa pesquisa os textos analisados serão os televisivos. Para Ringoot (2006), a análise de discurso trabalha sobre a relação entre enunciado e enunciação, e sobre a construção das figuras do discurso, os sujeitos do enunciado e os sujeitos da enunciação. No caso do discurso jornalístico, trata-se de analisar aquilo que conta o jornal e também como são posicionados os que recebem a informação e de que forma ela está disponível.

As formas da enunciação jornalística são marcadas por processos de raciocínio ou cadeias de razões, que visam a determinados efeitos de reconhecimento (apreensão, pela audiência) e podem restringir-se ao anúncio, à descrição, à argumentação, à demonstração e à persuasão (VIZEU, 2004, p.153).

O enunciado da reportagem exibida pelo Fantástico no dia 20 de julho, segundo a hipótese apresentada neste trabalho, talvez seja considerado espetaculoso, não apenas por apresentar o mesmo conteúdo da edição do dia 27 de abril de 2008, mas pelo uso excessivo dos efeitos citados. A teoria da enunciação será aplicada na análise das reportagens. Tal teoria engloba também o sujeito da enunciação. Entende-se que nas reportagens selecionadas o enunciador é a emissora.

5.2 Os sujeitos da enunciação

Entende-se que toda enunciação tem um sujeito ou enunciador, seja ele em textos verbais e orais. O enunciador pode expressar em seu discurso vários posicionamentos, ou seja, várias maneiras de construir a prática social. Vizeu (2004, p. 143), ao citar Bakhtin (1992), concorda que o conceito da língua como interação social desempenhou um papel importante nos estudos que, hoje, se desenvolvem sobre a interação verbal, como a teoria da enunciação e a análise do discurso. A AD tem como princípio ressaltar a linguagem como ação e não um mero instrumento de comunicação.

Segundo Pinto (2002), o emissor põe em cena uma ou mais posições discursivas que são representações copresentes no enunciado. O sujeito da enunciação inclui tanto a imagem de si mesmo quanto faz do mundo, retratando o seu olhar sobre o fato. Em uma das reportagens analisadas o promotor Francisco Cembranelli, enquanto enunciador, indiretamente, deixa marcas de seu posicionamento, em questão à resolução do caso.

A última declaração do promotor, na matéria de Burnier, parece ressaltar a emoção dos telespectadores, ao falar que a sociedade possa julgá-los. “Há um processo em curso, todos os direitos à disposição dos acusados estão sendo rigorosamente respeitados. Isso tudo faz parte do andamento processual brasileiro, que visa proporcionar condições para que a sociedade exatamente como manda a constituição possa julgá-los”. A fala do promotor dentro do contexto do caso dá a impressão de que o casal será condenado, pois a população estava chocada com o acontecimento, pedindo que houvesse punição aos responsáveis pelo crime e a televisão mostrava várias manifestações em que todos acreditavam na culpa do casal Nardoni. Outra parte do texto que permite a conclusão de que eles são culpados, quando o repórter lê os laudos da perícia que apontam Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá como culpados, uma vez que é constatado que será impossível a ação de uma terceira pessoa.

“As palavras, expressões, proposições, etc., mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, o que quer dizer que elas adquirem seu sentido em referências a essas posições” (PÊCHEUX, 1997, p. 160). Sendo assim, o discurso carrega marcas do sujeito, que determina o que será o texto. A análise proposta aqui estudará da interdiscursividade e a relação com os sujeitos, que está relacionada ao método da AD sobre os estudos dos sentidos. Para Lago e Benetti (2010) o discurso não existe por si só, mas em um espaço entre os sujeitos.

As reportagens carregam mais do que posicionamentos, elas trazem as escolhas por apresentar certo material na produção do assunto. A reportagem de Burnier foi veiculada no dia 20 de julho quase três meses após a do repórter Cezar Tralli e traz o mesmo conteúdo. Entende-se que a escolha por apresentar o mesmo conteúdo foi por buscar do “furo” de reportagem. Esse “furo” estaria relacionado ao vídeo em 3D da perícia e não na leitura dos documentos, então o “furo” seria pelas imagens.

6. ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO NARRATIVA DAS REPORTAGENS

As duas reportagens em estudo trazem a leitura dos laudos do Instituto de Criminalística de São Paulo sobre caso Isabella Nardoni. Como já mencionado, as matérias têm um intervalo de aproximadamente três meses e parecem apresentar o mesmo conteúdo, mas com estratégias narrativas diferentes. Foi constatado que ambas apresentam as notícias como inéditas. A primeira apresenta a informação por uma ótica mais técnica em relação ao coso e a segunda uma versão mais dramática. A partir das constatações a análise é realizada por três eixos: construção do "furo" de reportagem; dramatização e espetacularização.

A análise na linha da dramatização das reportagens no presente trabalho busca compreender a construção dos personagens, o uso das imagens, o texto e o som aplicado em uma das reportagens. A construção do "furo" analisa os textos, ou seja, basicamente as frases usadas nas chamadas e no início das matérias que ressaltam o ineditismo das reportagens. Já no campo da espetacularização será analisada a repetição de imagens, textos e a contribuição da dramatização para o espetáculo.

6.1 Caso Isabella na Reportagem de 27 de abril de 2008: jornalismo policial narrado por uma ótica técnica

A primeira matéria analisada sobre o caso Isabella Nardoni foi veiculada pela Revista Eletrônica Fantástico da rede Globo de televisão, no dia 27 de abril de 2008. A edição apresenta os laudos dos peritos sobre a morte da menina Isabella, de cinco anos, que foi jogada do sexto andar do Edifício London, no distrito da Vila Guilherme, em São Paulo, na noite do dia 29 de março. A representação do caso preenche cinco minutos e 24 segundos do programa.

O apresentador Cid Moreira, com sua voz forte e grave, com entonação lúgubre, que nos leva a lembrar dos filmes de suspense, faz uma chamada que antecede a reportagem. “Caso Isabella: o repórter Cezar Tralli, obteve na íntegra os laudos dos peritos que revelam os principais pontos de uma reportagem que você vai ver já, já”. Durante a fala de Cid Moreira, são exibidas as imagens da análise feita pelos peritos, com uma boneca sendo jogada pela janela e a do repórter Cezar Tralli com os laudos da perícia nas mãos. As imagens, junto com a entonação de voz dada pelo locutor, revelam a intenção de aguçar a curiosidade do telespectador sobre a continuidade da história, visto que o caso foi apresentado como folhetins, que a cada dia desvendava novas informações. A entonação de voz junto com as imagens reforçam a ideia de um ato tétrico, ou seja, de terror em uma história de suspense.

Após o intervalo, os apresentadores Zeca Camargo e Patrícia Poeta anunciam a reportagem. Zeca e Patrícia estão em pé no estúdio e a imagem de fundo é uma foto do rosto de Isabella. A representação da face da menina parece desfocada por causa do tom avermelhado em que se encontra (fig. 1). A fala dos apresentadores é uma síntese da notícia. A imagem com tom avermelhado pode estar relacionada à ideia de sangue, de dor, da violência sofrida pela menina, além de ser a cor tipicamente usada pelos jornais populares e dos programas policiais.

Fig. 1 – Chamada realizada por Zeca e Patrícia com a foto de Isabella no fundo

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O repórter inicia com um off, narrando sobre os objetos que foram recolhidos do apartamento da família Nardoni e levados para o núcleo de física do Instituto de Criminalística de São Paulo. Nesse momento as imagens são da fachada do prédio da polícia. A partir dessa contextualização, a reportagem passa a apresentar dados técnicos dos objetos recolhidos. Os dados estão relacionados ao tamanho dos objetos, quais foram usados. As imagens também apresentam características técnicas, como formato das extremidades dos fios cortados. Logo são exibidas as fotografias, tiradas para a análise da perícia. Cezar Tralli relata:

Entre os objetos recolhidos na cena do crime está a rede da janela por onde a menina Isabella Nardoni foi jogada. O corte na tela tem 47,5 cm. O buraco aberto forma uma espécie de círculo com 38 cm de diâmetro (fig. 2). Nas bordas foi encontrado sangue da criança morta. A foto demonstra que não houve perda de material, ou seja, juntando as pontas, a rede volta a ter aspecto parecido com o que tinha antes do corte.

Fig. 2 – Imagem da tela de proteção do apartamento

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Após as explicações sobre a tela, o repórter fala como foram realizadas as análises. Conta que, para que fosse possível realizar tal procedimento, os peritos trabalharam com uma lente especial acoplada a uma máquina fotográfica conectada a um computador. Nesse momento é mostrada a foto do aparelho.

Cezar Tralli volta a falar sobre a rede de proteção do apartamento. Nesse trecho ele explica como a rede foi cortada pelo assassino. A reportagem continua a mostrar fotos dos objetos e apresenta informações sobre os mesmos. Também esclarece que as análises e testes feitos com a tesoura e a faca chegaram ao resultado de que as extremidades cortadas têm aspecto semelhante. Em seguida, expõe o documento com a conclusão dos testes realizados. Nesse momento o jornalista lê o documento.

Esse teste de corte permitiu apenas concluir que: o assassino usou a força das mãos e um instrumento cortante para fazer o buraco na rede. Em outro teste, os peritos chegaram a um resultado melhor, do ponto de vista da investigação. Na faca, não foram encontrados vestígios da rede da janela, mas na tesoura sim (fig. 3). Os peritos acharam fragmentos de fio da rede, ele estava preso na parte central da tesoura, logo abaixo do mecanismo de articulação, a conclusão foi que: a tesoura esteve em contato com a rede de proteção da janela.

Fig. 3 – Imagem da tesoura com fragmentos da rede de proteção

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As imagens mostradas enquanto o repórter lê a conclusão que os peritos chegaram, em relação aos testes realizados no apartamento, expõem fotos dos objetos, bem como trechos em destaque dos laudos. Tanto na fala, quanto nas imagens, os dados apresentados são técnicos, ou seja, o foco são os laudos da perícia a investigação sobre o caso. A reportagem parece por vezes não se tratar da morte de uma criança. Nota-se que o repórter não utiliza os recursos melodramáticos, como à criação de personagens, o uso de trilha sonora e imagens que chocam. No processo de construção dessa reportagem, há uma perda do sentido trágico, por ressaltar os aparatos tecnológicos da perícia, no desfecho do caso. A reportagem não coloca em evidência a morte da criança, como fato sensibilizador, mas dá ênfase nos laudos produzidos pelos peritos. É como Martins e Azevedo (2009) observam sobre o caso do voo AF 447 da companhia Air France. “O espaço dado à abordagem técnica (...), levando-se em conta que essa linha pericial fez de elementos humanos ‘pistas’ para um quebra-cabeça, pode-se inferir que a essência do trágico foi estremecida” (id, p. 8).

Cezar faz uma passagem com o relato dos laudos e revela que em nenhum momento durante as inspeções foram encontrados marcas de alguém estranho no apartamento. No off a seguir, com imagens do quarto e da janela, por onde a menina foi jogada, o repórter conta: “Só foi achado um tipo de pegada na cama, onde, segundo a polícia, o assassino subiu em direção a janela (fig. 4). A marca deixada no lençol, foi comparada com o solado do chinelo que Alexandre Nardoni usava naquela noite. Os exames apontam, a pegada é de Alexandre, o pai de Isabella”.

Fig. 4 – Marcas do chinelo do pai da criança comparadas com as do lençol

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A reportagem prossegue com a leitura do depoimento de Alexandre, confirmando que pisou no lençol. No depoimento, Alexandre confirma ter pisado apenas para fechar a janela, depois de ter a deixado no quarto ao lado. Nesse momento as imagens são dos laudos. A matéria mostra também o avanço das investigações no laboratório onde simularam a posição do assassino quando jogou Isabella do sexto andar. As imagens são fotos da simulação e da camiseta com as marcas deixada pela rede.

Cezar diz na reportagem que, segundo a perícia, o assassino estava com os braços esticados para fora e o corpo pressionava firmemente a tela, a ponto de deixar as marcas impregnadas na camiseta. As marcas que ficaram na roupa dos peritos durante a simulação são do mesmo tipo das encontradas na camiseta do pai de Isabella. O que leva à conclusão que Alexandre ficou na mesma posição do assassino (fig. 5). Em off, Tralli lê o depoimento. Durante a leitura, as imagens são do documento digitalizado, com as palavras do trecho lido em destaque. No interrogatório, Alexandre disse que apenas chegou perto da rede e logo viu que a filha estava lá embaixo. Ao ser informado que sua camiseta estava com as marcas da tela, o pai de Isabella disse ainda, que não sabia esclarecer como elas teriam parado na camiseta.

Fig. 5 – Simulação da posição do assassino ao jogar a criança

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O repórter encerra contando o resultado final, apontado pela perícia sobre o crime. “Para a polícia, a camiseta é uma das provas mais fortes, que colocam o pai de Isabella na cena do crime (fig. 6). Todos esses laudos, preparados pelo instituto de criminalística, vão servir de base para o pedido de prisão preventiva do casal acusado de homicídio”.

Fig. 6 – Camiseta que Alexandre Nardoni usava na noite do crime

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Após a reportagem de Cezar Tralli, o apresentador Zeca Camargo, do estúdio, chama o repórter César Menezes, para contar sobre novas informações da perícia. Menezes apresenta um link ao vivo, com as informações da simulação feita pela perícia, que revela o tempo entre a chegada da família ao prédio e a queda de Isabella: 11 minutos. Ele ressalta que o tempo reforça a tese da acusação, de que uma terceira pessoa não teria tempo para agir. Assim termina a reportagem.

A reportagem dá ênfase aos dados e à capacidade da perícia, ressaltando a tecnologia usada para desvendar alguns crimes. Outro aspecto enfatizado na matéria e que pode dar um ar de espetacularização seria a fala do repórter, que de certa forma julga indiretamente Alexandre como assassino, na leitura dos laudos. Esse discurso leva a crer que esse seja o sentido adotado pela emissora e pode se entender que o casal já está condenado antes do julgamento. A reportagem só mostra a visão dos peritos, os resultados dos laudos e não mostram o outro lado, por exemplo, as explicações do advogado do casal. Nesse caso, o espetáculo não aconteceria por juntar os recursos de edição de imagens que chocam, trilha sonora e a criação de personagens melodramáticos, mas talvez pela frieza da reportagem que parece fazer do caso um romance policial de suspense que prende a atenção com a busca por desvendar o culpado pela morte da menina. Porém, a edição parece adotar um único papel, a do justiceiro, responsável por garantir a verdade, a punição e as explicações sobre o caso. A espetacularização dessa reportagem pode estar no enunciado, ou seja, na construção do texto, talvez na busca do “furo” de reportagem, por apresentar algo novo sobre o caso. O furo de reportagem justifica-se nesse caso quando Zeca e Patrícia anunciam a reportagem e ressaltam que ela reúne dados inéditos.

6.2 Caso Isabella na Reportagem de 20 de julho de 2008: jornalismo policial com características melodramáticas

A matéria é um especial sobre o caso Isabella Nardoni, veiculado pela revista eletrônica Fantástico, da rede Globo de televisão, no dia 20 de julho de 2008. A edição mostra com exclusividade a simulação dos laudos da perícia em 3D. Esse vídeo é a única informação nova, pois se entende que ambas as reportagens são uma leitura dos documentos. A reportagem abre com a chamada, realizada em estúdio, apresentada por Zeca Camargo e Renata Ceribelli. A mesma é realizada em estúdio. Nas imagens, os apresentadores estão em pé, e como pano de fundo, está a logo do programa e uma foto do rosto de Isabella (fig. 7). A foto é muito parecida com a exibida na primeira matéria analisada, que apresenta estar desfocada por causa do tom avermelhado em que se encontra.

A reportagem dessa edição busca o “furo” de reportagem, assim como a anterior. Esse “furo” estaria relacionado agora com a apresentação do vídeo construído a partir dos laudos dos peritos. O vídeo constitui o passo a passo, da morte da menina. A análise das reportagens permite a conclusão de que o conteúdo é o mesmo, ou seja, os laudos da perícia. A reportagem apresenta apenas o vídeo de novidade em relação ao caso. O que diferencia as reportagens é a forma e os recursos narrativos que constituem cada uma delas.

Zeca Camargo inicia a chamada dizendo que a matéria apresenta com exclusividade a animação feita em computador pela polícia, que revela as circunstâncias da morte da menina. Renata continua explicando que as imagens são uma simulação da versão da polícia, que acusa o pai da criança, Alexandre Nardoni e a madrasta Ana Carolina Jatobá. No final, ela ressalta a autoria da reportagem - José Roberto Burnier.

Fig. 7 – Apresentação de Zeca Camargo com a foto da menina ao fundo

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O repórter inicia com uma passagem no estúdio dizendo: “Depoimentos de testemunhas, conclusões de legistas e peritos vestígios encontrados no local do crime são todas essas informações oficiais da morte de Isabella Nardoni. Foram reunidas pela primeira vez nesse vídeo. Ele constitui o que para a polícia ocorreu naquela noite de 29 de março”. Ele explica que o vídeo é uma animação feita por uma empresa especializada, a pedido do Instituto de Criminalística de São Paulo. Além da simulação feita em computador, o material traz também fotos da menina e do local do crime. O repórter faz uma ressalva, dizendo: na edição foram retiradas as imagens mais chocantes e o vídeo original não tem som.

O vídeo original da polícia não tem som nenhum, ou seja, não há vozes, conversas e nem trilha sonora. Entende-se porque o repórter faz a ressalva, pois na matéria ele usa as imagens do vídeo casadas com a trilha sonora e o texto narrado por ele. A escolha por colocar a trilha de suspense deixa a reportagem mais emocionante, ou seja, parece uma cena de novela, em que a mocinha corre do bandido ou de um filme de suspense.

Após a passagem, o repórter faz uma leitura dos laudos e esclarece que alguns personagens foram omitidos, para uma melhor visualização das ações relevantes para o entendimento do caso. O repórter também deixa claro que os personagens presentes não possuem características idênticas aos envolvidos. A leitura termina e começa a exibição das imagens da simulação com o carro na garagem. Durante as imagens o repórter narra: “Garagem do Edifício London, 23 horas e 36 minutos. Alexandre Nardoni desliga o carro. Na frente, ele e Ana Carolina Jatobá, a madrasta, ela se vira e agride Isabella que estava sentada atrás do pai. Com uma chave ou anel ela fere a menina na testa”. As imagens mostram a madrasta ferindo a menina na testa. A junção das imagens está representada na (fig. 8).

Fig. 8 – Junção das imagens usadas durante o off

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O vídeo mostra os vestígios de sangue encontrados na lateral da cadeirinha, no encosto do banco do motorista e no chão do carro. Todas essas informações são apresentadas também na fala de Burnier. Ele explica que o sangue é revelado em azul pelo reagente. Novamente ele faz uma leitura dos laudos. “Segundo os peritos, o sangramento foi estancado por uma fralda entre o carro e o apartamento. A fralda foi encontrada dentro de um balde já em processo de lavagem”. Nesse momento é mostrada a foto do balde perto do tanque e da fralda com o reagente evidenciando os pontos azuis.

Burnier narra as imagens da animação. “Alexandre anda pelo apartamento com Isabella no colo. Logo no começo do corredor cai uma gota de sangue, mais alguns passos, e o sangue volta a pingar. Ao chegar à sala, Alexandre joga Isabella no chão com força. Os exames de raio-X mostram que a agressão provocou lesões na bacia, na vulva e no punho direito da menina”. Quando o repórter fala dos exames, são mostradas as imagens dos documentos. Burnier continua narrando e fala sobre o ferimento da testa de Isabella. “O sangue mancha a roupa de Isabella na altura da perna esquerda e da direita”. Em seguida narra e mostra as imagens de Ana Jatobá se aproximando da menina apertando o pescoço dela. Além das imagens em 3D, são mostradas as fotos tiradas pelos peritos das marcas da esganadura (fig. 9).

Fig. 9 – Representação das agressões sofridas por Isabella

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Na cena seguinte, Alexandre caminha até a cozinha, pega uma faca e uma tesoura multiuso, vai até o quarto dos outros dois filhos, ao lado do de Isabella, ajoelha-se na cama e tenta cortar a tela de proteção da janela, com a faca. Desiste e a corta com a tesoura. Alexandre pega a menina vai em direção ao quarto dos filhos. No caminho cai mais sangue no chão. A mancha é visível a olho nu. No quarto, ele sobe na cama com Isabella no colo e caminha com alguma dificuldade em direção à janela. No chão ao lado da cama, outra gota de sangue. No lençol, marcas do solado da sandália de Alexandre e da palma da mão de uma criança suja de sangue. Ainda sobre a cama os peritos encontram a sequência de passos e manchas de sangue. A representação desse parágrafo esta na (fig. 10).

O repórter continua narrando: de acordo com a polícia, o pai então joga a menina. No parapeito da janela, mais sangue. Na fachada do prédio o rastro deixado pelas mãos de Isabella. Na camiseta de Alexandre marcas da tela de proteção. O impacto da queda é ouvido pelo porteiro, que abre a janela, vê o corpo de Isabella no jardim e liga para o morador do primeiro andar, e chama o socorro. O repórter para de narrar vídeo e faz uma passagem em frente ao edifício no qual morava a família. A passagem do repórter foi gravada à noite. Ele faz sua apresentação gesticulando as mãos e aponta com o dedo em direção do apartamento da família. Nesse momento, ele diz que a sequência vista na reportagem aconteceu no edifício London e foi cronometrada pelos peritos. Revela que segundo a conclusão da polícia sobre a versão apresentada pelos acusados, Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, isso não era possível.

A partir da próxima cena os recursos melodramáticos passam a ser explorados nitidamente. A edição agora deixa o filme com mais emoção, dá um ar de suspense com a trilha sonora utilizada. Burnier retoma a narrativa dos acontecimentos mostrados. Para o cálculo de tempo, os peritos usaram as informações do GPS do carro. O sistema de rastreamento por satélite informou a hora exata que o veículo foi desligado. Tem-se o registro do primeiro telefonema no apartamento depois do crime. Na cronometragem oficial, se passaram 14 minutos e 21 segundos entre a chegada na garagem e o telefonema. O tempo da versão do casal Nardoni, também foi calculado e deu 16 minutos e 56 segundos.

Fig. 10 – Seleção de imagens que relatam os momentos que antecede a queda da menina

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A trilha sonora é trocada por uma com o ritmo mais acelerado, uma trilha típica dos filmes que misturam cenas de ação com suspense. Os peritos ainda descartaram a possibilidade de uma terceira pessoa ter cometido o crime. Essa é a ideia defendida pelo casal. Segundo o laudo, o suposto invasor teria apenas 1 minuto e 55 segundos para guardar a faca e a tesoura, limpar parcialmente as manchas de sangue lavar a fralda, apagar as luzes, fechar a porta e desaparecer sem deixar nem um vestígio.

Nesse momento da reportagem, Burnier entrevista o promotor de justiça Francisco Cembranelli, que dá um parecer sobre o caso. A convicção do promotor se baseia em provas. A pedido do Fantástico, ele analisou a animação. “É uma sequência dos fatos, baseado naquilo que foi obtido até o momento, é a dinâmica da morte de Isabella e dá uma visão bastante panorâmica de tudo o que aconteceu”. As imagens tornam-se repetitivas, pois no momento em que o promotor expõe sua visão sobre a animação, ela é exibida desde o começo novamente.

A reportagem anterior do repórter Cezar Tralli não traz nenhuma fonte, já a de Burnier traz uma fonte oficial, o promotor de justiça Francisco Cembranelli. A entrevista com o promotor passa a impressão de uma leitura mais segura sobre os documentos. Ainda parece ressaltar, de forma pouco objetivo na voz do entrevistado, a culpa do casal.

O repórter aborda agora a questão dos exames de DNA, das amostras de sangue encontradas no carro, que não foram conclusivas, apenas indicavam que podia ser de alguém da família. Mas pela sequência de fatos do crime, a polícia e o promotor afirmam que o sangue era de Isabella. O promotor explica que “apresentou ser muito compatível com o sangue de Isabella e isto está sendo desenvolvido. Vai ser no momento oportuno para que fique fácil de compreender”.

Quanto ao sangue encontrado no apartamento, não há dúvidas. “Todo esse sangue é de Isabella, aí sim foi possível fazer com bastante precisão o DNA. Não há dúvidas de que se trata de sangue da menina”, ressaltou o promotor na entrevista.

Um efeito sonoro com tom de suspense antecede as explicações do promotor sobre o ponto polêmico das fraturas provocadas pela força com que o pai teria arremessado a filha, ainda dentro do apartamento. O efeito e as imagens do pai jogando a filha no chão ressaltam a violência de Alexandre com a filha Isabella. O repórter questiona se as fraturas poderiam ser causadas pela queda. Cembranelli responde: “os legistas dizem que não e explicam o porquê: não tem compatibilidade com a queda e isso está no laudo”.

Na animação, logo depois, Burnier faz uma pergunta sobre as marcas da esganadura: “Ana Jatobá teria asfixiado Isabella. A perícia constatou que essas marcas são compatíveis com uma mão...?” Cembranelli explica que não é preciso essa compatibilidade de mãos e sim outras provas que levam a acusar Ana Carolina Jatobá.

O repórter faz um off falando que as provas segundo o promotor serão apresentadas no julgamento, indaga o fato da defesa fazer um laudo paralelo, no qual os peritos contratados chegaram a negar que tivesse havido esganadura. O promotor esclarece que na verdade não existe laudo paralelo e sim um parecer feito por uma pessoa contratada, para que dissesse exatamente o que interessava aquela parte. O profissional contratado em nenhum momento, quando tudo aconteceu, teve contato com os objetos, com o local e com a própria Isabella. É um direito que a defesa tem, mas que certamente será avaliado pela sociedade e terá oportunidade de escolher ao lado de quem está a verdade. Na fala do promotor ele deixa a entender que o casal é culpado e recorre à comoção social.

Burnier discute, ainda, a questão da marca palmar no lençol. “Aparece uma marca palmar e de quem poderia ser a mão?”. O promotor argumenta que isso será melhor desenvolvido para há ocasião do julgamento. O promotor diz esperar que o casal seja levado a júri popular até o final do ano em que foi exibida a reportagem (2008). “Há um processo em curso, todos os direitos à disposição dos acusados estão sendo rigorosamente respeitados. Isso tudo faz parte do andamento processual brasileiro, que visa proporcionar condições para que a sociedade exatamente como manda a constituição possa julgá-los”. A reportagem acaba com essa frase do promotor e durante os últimos segundos a matéria são mostradas as imagens da (fig. 11).

A última declaração do promotor parece ressaltar a emoção dos telespectadores, ao falar que a sociedade possa julgá-los. Fica a impressão que o casal já está certamente condenado pelo povo. Essa conclusão é possível porque os laudos da perícia apontam Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá como culpados, uma vez que é constatado que será impossível a ação de uma terceira pessoa.

Fig. 11 – Imagens que representam o off do promotor

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6.3 A construção do “furo” de reportagem, a espetacularização e a dramatização no caso Isabella

A revista eletrônica Fantástico apresentou uma série de reportagens sobre o caso Isabella Nardoni, assim como outros programas da mesma ou de outras emissoras. Nas reportagens analisadas, verificam-se que ambas são trazidas como inéditas ou na linguagem jornalísticas como “furo”, ou seja, elas ressaltam que apresentam a informação em primeira mão, antes dos concorrentes[12]. A construção dessa estratégia noticiosa é percebida logo no início com o uso das palavras: inédito e exclusivo.

A chamada de bloco, realizada pelo apresentador Cid Moreira, antecede a reportagem de Cezar Tralli, é uma estratégia utilizada para lembrar o telespectador sobre o que será apresentado, chamando a atenção para o assunto. Essa tática parece ser útil nesse caso em que a reportagem se tratava de um “furo”, visto que nela Cid Moreira ressalta o conteúdo apresentado com a frase: “o repórter Cezar Tralli obteve na íntegra os laudos dos peritos, que revelam os principais pontos de uma reportagem que você vai ver já, já”. Quando o locutor ressalta “obteve na integra”, sugere um reforço da ideia o “furo”, ou seja, deixa a impressão de que apenas a Globo teve acesso a todas as informações dos laudos da perícia, sugere também uma investigação por parte do repórter para conseguir as informações e que o telespectador interessado no caso deve continuar assistindo.

Após essa ressalva sobre o assunto, Patrícia Poeta e Zeca Camargo fazem uma nova exposição do que será transmitido, dando evidencia de que a notícia é dada em primeira mão. O discurso intercala as frases dos apresentadores com a informação a seguir: “você vai ver agora uma reportagem especial sobre o caso Isabella”. O repórter Cezar Tralli teve acesso a documentos inéditos. São provas reunidas pelo Instituto de Criminalística de São Paulo, laudos feitos depois de testes feitos em laboratórios. Segundo a polícia esse material foi decisivo para esclarecer quem matou Isabella”. Assim é realizada a construção do “furo” de reportagem dessa edição. “O repórter Cezar Tralli teve acesso” novamente dá a ideia de investigação, ou seja, não parece sugerir que ele tenha simplesmente recebido esses dados de alguém. O texto ainda promete um caso concluído, com a revelação dos condenados, ainda que, à época da reportagem, não tivesse ainda ocorrido o julgamento.

Já a reportagem de José Roberto Burnier não usa a chamada de bloco para reforçar o conteúdo da notícia. A marca que elucida que a matéria traz informações em primeira mão está na fala do apresentador Zeca Camargo. “Exclusivo: uma animação feita em computador reproduz minuto a minuto as circunstâncias da morte da menina Isabella Nardoni”. É nesta frase em que constata a construção do “furo”. Burnier ressalta “furo” com a frase “o que você vai ver com exclusividade é uma animação em 3D”. A expressão minuto a minuto também lembra os estudos de Moretzsohn (2002), sobre o jornalismo e a velocidade, em que as notícias são transmitidas em tempo real e a instantaneidade aparece como um valor alto no jornalismo. Nesse caso, a chamada ressaltando o “minuto a minuto” promete uma narrativa em tempo real e consequentemente uma dramatização da história, na qual o espectador se sentirá como se estivesse na casa com os Nardoni no momento da ocorrência do fato. Há, portanto, um “convite” para participar em tempo real desse acontecimento. Moretzsohn (id) considera a construção do “furo” como uma estratégia que torna a concorrência mais acirrada, pois vende o jornal mais atrativo com mais novidades. O jornalismo em tempo real está relacionado às inovações tecnológicas que possibilitam o jornalismo simultâneo e instantâneo, ou seja, 24 horas no ar com a internet, a TV e o rádio. A frase citada por Zeca Camargo sugere a velocidade das informações sobre o caso Isabella Nardoni.

A seguir apresenta-se o quadro com as principais constatações de acordo com

os três eixos da análise.

Quadro 1 – Observações feitas a partir dos eixos da análise

|Eixo da análise |Elementos observados|Reportagem exibida no dia 27 de abril |Reportagem exibida no dia 20 de julho |

| |na análise | | |

| | |“O repórter Cezar Tralli, obteve na íntegra|“Exclusivo, uma animação em computador |

| | |os laudos dos peritos que revelam os |reproduz minuto a minuto a circunstancias da |

| | |principais pontos de uma reportagem que |morte da menina Isabella”. (Chamada Zeca |

| | |você vai ver já, já”. (Chamada de bloco Cid|Camargo). |

|Construção do furo de |Texto verbal/escrito|Moreira). | |

|reportagem |que ressalte o | | |

| |inédito | | |

| | | | |

| | |“Acesso a documentos inéditos”. (Chamada de|“O que você vai ver com exclusividade é uma |

| | |Zeca Camargo). |animação em 3D”.(Passagem de José Roberto |

| | | |Burnier). |

| | | |“Os peritos ainda descartaram a possibilidade|

| | |“Não foram encontradas as marcas de uma |de uma terceira pessoa ter cometido o crime”.|

| | |possível terceira pessoa”. | |

| | | | |

| | | | |

| | | | |

| |Repetição de texto e| | |

| |de informações | | |

| | | | |

| | | | |

| | | | |

|Espetacularização | | | |

| | |“A polícia científica afirmou que a |“Toda essa sequência que você acabou de ver |

| | |reconstituição feita hoje revelou quanto |foi cronometrada. No relógio a polícia chegou|

| | |tempo se passou entre a chegada da família |à conclusão que a versão apresentada pelos |

| | |ao prédio e a queda. Foram 11 minutos. O |acusados Alexandre e Ana Jatobá não era |

| | |que reforça a tese da acusação de que uma |possível”. |

| | |terceira pessoa não teria tido tempo para | |

| | |agir”. | |

| | |Camiseta (marcas da tela de proteção). |Camiseta (marcas da tela de proteção). |

| | | | |

| | | | |

| | | | |

| |Repetição de imagens| | |

| | |Pegadas (marcas do solado do chinelo |Pegadas (marcas do solado do chinelo, |

| | |comparadas com a do Alexandre Nardoni). |deixadas no lençol da cama). |

| | |Simulação feita com uma boneca, que |Simulação feita com uma boneca, que |

| | |representa o momento em que a menina está |representa o momento em que a menina está |

| | |sendo jogada |sendo jogada |

| |Construção de |Não está em evidência, não parece ser o |Os envolvidos no caso Nardoni são |

| |personagens |foco dessa narrativa. |apresentados na simulação como personagens |

| |melodramáticos | |típicos da literatura, nos papeis da |

| | | |madrasta, pai e menina (vitima). |

| | | | |

| | | | |

| | | | |

| | | | |

| | | | |

|Dramatização | | | |

| | | | |

| | |Parecem montar um quebra cabeça que busca |Da menina morta (pescoço) e da simulação pai |

| | |desvendar quem matou Isabella. As imagens |jogando a filha. |

| | |ressaltam a ótica técnica adotada na | |

| | |reportagem e mostra fotos do aparelho usado| |

| | |pela perícia, o tamanho da faca e da | |

| | |tesoura, entre outras. A imagem mais | |

| |Imagens |dramática é a foto da menina avermelhada na| |

| | |abertura da reportagem. | |

| | | |Madrasta esganando |

| | | |Imagem avermelhada na abertura |

| |Som |Não tem |Trilha de animação, suspense e terror |

O repórter deixa outra marca além da palavra exclusivo, que pode ser percebida no trecho a seguir. “Depoimentos de testemunhas, conclusões de legistas e peritos, vestígios encontrados no local do crime. Todas essas informações oficiais da morte de Isabella Nardoni foram reunidas pela primeira vez nesse vídeo. Ele constitui o que para a polícia ocorreu naquela noite de 29 de março”. Burnier dá ênfase no material que constitui o vídeo e diz que, além da simulação da morte da menina, serão apresentadas as fotos de Isabella e do local do crime. A maneira com que ele lembra esse detalhe evidencia que isso também é mostrado em primeira mão, ou seja, ele dá uma entonação de voz que parece ressaltar o ineditismo dessas fotos.

Portanto, observa-se que o mesmo conteúdo é apresentado duas vezes como “furo”. Isso pode ser comprovado, já que ambas as reportagens fazem a leitura dos laudos dos peritos, mas com foco diferente. Mesmo assim, é preciso uma verificação mais detalhada acerca das informações que as reportagens contêm. Uma narra os laudos a partir do aparato tecnológico na intenção de desvendar quem matou a criança e a outra na criação de personagens e na simulação dos últimos minutos de vida da menina – com constatações mostradas na edição anterior.

Conforme já conceituado, a espetacularização contribui para a repetição das mesmas imagens nos veículos midiáticos e a repetição de fatos e dramas vivenciados pela sociedade. No caso estudado, a espetacularização da notícia pode ser vista por vários aspectos: a repetição da reprodução dos laudos da perícia; o excesso dos recursos narrativos, técnico e dramático, na construção narrativa das matérias analisadas, e; as imagens muito parecidas que foram exploradas.

No caso da leitura dos laudos, a espetacularização parece ser reforçada porque o programa apresenta o mesmo conteúdo, com aproximadamente três meses de diferença na busca por manter o caso em pauta, uma vez que esse despertava a curiosidade do público, que procurava se informar a todo tempo para saber quem seria o assassino da menina.

Ambas as reportagens apresentaram um uso excessivo dos recursos narrativos, escolhidos tanto na ótica técnica, quanto na dramatizada. Canavilhas (2011) explica que a espetacularização da notícia é consequência do domínio da observação e a TV prende o telespectador, dando prioridade ao insólito, ao excepcional e ao chocante, recorrendo aos elementos como seleção de dramas, reportagem/directo, dramatização e efeitos visuais. Como já esclarecido, esses recursos tendem a deixar as matérias mais espetaculares.

A reportagem de Cezar Tralli foca nos resultados da perícia e por vezes parece até mesmo esquecer que se trata da morte de uma criança de cinco anos. A notícia nessa edição é a conclusão dos peritos depois de testes em laboratório, ou seja, a capacidade tecnológica, que permite desvendar pistas para chegar ao culpado pela morte de Isabella. A reportagem lembra jogos como quebra-cabeça (a peça que falta é assassino) e também e de detetive. A semelhança da narrativa apresentada por Tralli com os jogos de detetive são comparadas por terem objetivos semelhantes: desvendar um enigma e para isso é preciso usar a lógica e os aparatos tecnológicos que auxiliam para desvendar o mistério - a morte de Isabella, cujo pai é o principal suspeito.

A preocupação em completar o quebra-cabeça e achar a peça que está faltando - o assassino da menina - é apresentada nos subtítulos da reportagem que acaba por tornar a matéria espetacular. O tom adotado na reportagem é semelhante ao usado pela revista Veja à ocasião da tragédia do AF 447, estudado por Martins e Azevedo (2009), em que se verifica que o discurso da reportagem é quase celebrativo aos avanços tecnológicos, sugerindo que a referida tragédia sirva para esclarecer questões científicas e auxiliar o desvendamento de outros casos.

A edição do dia 20 de abril sobre o caso Isabella apresenta uma perda do trágico, assim como Martins e Azevedo (id) constataram sobre o voo AF 447: “nota-se que há pouco aproveitamento de recursos narrativos típicos do tratamento da tragédia jornalística – como, por exemplo, o apelo humano ou a remissão aos papéis típicos do melodrama” (ibid, p. 7).

Ao mostrar os laudos da perícia, a reportagem sugere como conclusão da investigação que o casal Nardoni é culpado, mesmo antes do julgamento. Essa ideia é visível com verossimilhança das informações que são apresentadas, a partir de provas legais. As principais provas apontadas, que colocam o casal na cena do crime são: as pegadas do chinelo de Alexandre no lençol, as marcas da rede na camiseta de Alexandre e o cálculo de tempo da versão do casal.

No momento em que Tralli revela que em nenhum momento durante as inspeções foram encontrados marcas de alguém estranho no apartamento, ele está condenando o casal. As entrelinhas do enunciado dizem que, segundo a polícia, Alexandre e Ana Jatobá são os culpados pela morte da menina. Outro trecho da reportagem que deixa entender esse julgamento dá a seguinte conclusão dos laudos que explicam: “Só foi achado um tipo de pegada na cama (...). A marca deixada no lençol foi comparada com o solado do chinelo que Alexandre Nardoni usava naquela noite. Os exames apontam: a pegada é de Alexandre, o pai de Isabella”. Novamente a reportagem diz de forma velada que o pai é o assassino da criança.

A segunda edição analisada trabalha a morte da menina. A reportagem contribui para a espetacularização com as imagens casadas com o texto o que deixou a reportagem mais parecida com programas de ficção como CSI[13], cuja narrativa é essencialmente técnica.

As fotos de Isabella na abertura das reportagens são muito parecidas, assim como a maior parte das imagens apresentadas. As representações são dos objetos da cena do crime analisados pela perícia, como a faca, tesoura, camiseta, marcas no lençol e o buraco da tela de proteção. A matéria de Burnier mostra a animação em 3D duas vezes durante a reportagem: a primeira, quando é apresenta a leitura dos laudos; a segunda, durante a fala do promotor Francisco Cembranelli. As reportagens trazem a todo tempo a logomarca do Instituto de Criminalística que ressalta a autoria das fotos e do vídeo. Esse recurso pode ser utilizado também para a emissora ressaltar que não é ela quem diz e mostra e sim a perícia. Entende-se que a partir do momento que ela compra a leitura dos laudos trazendo apenas essa versão, independente de quem chegou ao resultado, essa pode ser entendida como: a voz da emissora.

Esse recurso foi utilizado apenas na reportagem de José Roberto Burnier, que faz a leitura dos laudos criando personagens típicos do melodrama, como já mencionado, a madrasta, o pai e a vítima Isabella. A reportagem ressalta o drama com a teatralização do caso mostrando a dinâmica dos últimos momentos de vida da menina - o vídeo em 3D realizado pela polícia. Além de encaixar os personagens nos papéis do melodrama, típicos da literatura, são acrescentadas trilhas sonoras de suspense, ação e terror, que reforçam a dramatização junto com imagens que chocam. Isso ocorre, por exemplo, no momento em que a madrasta fere a menina na testa e o momento em que o pai joga a menina no chão da sala e quando Ana Jatobá esgana Isabella.

O fim da reportagem de Burnier sugere que o casal seja culpado não só pela declaração do promotor, mas também com as imagens do casal sendo levados para a penitenciária no camburão da polícia. Pode-se perceber como sentido concretizado com a escolha dessas imagens para o encerramento da reportagem a ideia de que a justiça está sendo feita. O sentido é reforçado também com a imagem da senhora segurando um cartaz pedindo justiça e logo após o casal sendo levado para a prisão. Essa sensação ocorre mesmo antes do julgamento, devido ao recorte dado pelo repórter, que ressalta a culpa do pai e da madrasta.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises realizadas foi possível identificar as estratégias narrativas das reportagens da edição do dia 27 de abril e 20 de julho da Revista Eletrônica Fantástico na construção do “furo” em duas óticas, no jornalismo policial convencional, que tende a dramatizar os fatos, e na ótica técnica - tendência que vem sendo explorada pela Rede Globo. Tal formato pode ser associado ao padrão de qualidade da emissora no segmento policial, - ainda que acabe gerando espetacularização, por tornar a tragédia ‘desumana’ - visto que é considerada como referência, por distanciar-se dos jornais tidos como popular.

O estudo proposto revelou que ambas as reportagens apresentam elementos da espetacularização. Essa constatação também apontou que ambas se tornaram espetaculares não apenas por apresentar o mesmo conteúdo, como sugeria as pistas iniciais a cerca do problema, que apontavam uma sendo a repetição do conteúdo da outra. A pesquisa observou outros recursos que compõem as matérias e contribuem para a espetacularização, como por exemplo: excesso dos recursos melodramáticos; a busca por apresentar uma visão técnica sobre o caso; o posicionamento da emissora ao comprar a versão da perícia, e; a construção do “furo” de reportagem.

No caso da dramatização, as imagens casadas com textos verbais e as trilhas deixaram as reportagens mais parecidas com programas de ficção e também por apresentar a reportagem como contos da literatura infantil, o que ressaltou o trágico a partir da visão da madrasta perversa como observou Martins e Azevedo (2007).

Para buscar o sentido do trágico ao retratar o caso da morte singular da menina Isabella Nardoni, o recurso utilizado por boa parte dos veículos jornalísticos foi a remissão a elementos universais, recorrentes da literatura e facilmente reconhecíveis na instância da recepção, como o recurso dramático clássico da ‘madrasta perversa’; assim como força um interesse público, para que a história de uma única menina passe a significar algo sobre todas as crianças, um sentimento de insegurança compartilhado socialmente – o que tornaria o caso, indiscutivelmente, em tema de evidente interesse jornalístico. (id, p.9).

Essa estratégia narrativa, assim como o furo de reportagem, também foi utilizada para que o assunto continuasse em pauta – visto que era de grande interesse do público. Como todo veículo jornalístico visa à audiência, esse recurso é utilizado também para aumentar ou manter os níveis da emissora.

A visão técnica do caso na reportagem de Cezar Tralli também tem como objetivo deixar a morte da menina em pauta, mas ressaltando outro ponto de vista, que revela a capacidade tecnológica usada pela perícia para solucionar o caso. Assim como já mencionado nas análises por vezes, a reportagem nem parece tratar da morte de uma criança. A matéria é construída como já mencionado nas análises como quebra-cabeça, cujo objetivo é encontrar a peça que está faltando: o assassino da menina. Essa finalidade é visível nos subtítulos da reportagem.

A abordagem dada pela emissora às matérias analisadas também contribui, de certa forma, para a espetacularização, trazendo o casal como culpado antes do julgamento. Em ambas não é apresentado uma possível resposta do casal, uma fala ou explicação. Sobre a versão do casal, é apresentada a conclusão da perícia em relação ao tempo, o que prova que não seria possível a ação de uma terceira pessoa. Outro fator é o laudo feito a pedido do casal, que para Cembranelli foi realizado apenas para dizer o que interessava aos Nardoni. As provas ressaltadas nas matérias condenam o casal Nardoni antes do julgamento e a Globo compra essa versão. As imagens no fim da reportagem de Burnier também mostram esse posicionamento, deixando a sensação de que a justiça está sendo feita, além de destacar o seu personagem melodramático, que assume para si o papel do justiceiro, que admite a responsabilidade de garantir a punição e a explicitação da verdade, por meio das vias midiáticas.

As reportagens construídas a partir do “furo” também contribuíram para o espetáculo, como sugeria a hipótese já que a reportagem de Burnier é veiculada ressaltando a novidade, o ineditismo do conteúdo, que já havia sido explorado. O inédito refere-se apenas à simulação. Assim, a estratégia do “furo” de reportagem adotada em ambas as narrativas pode ser vista como uma tendência de revistas eletrônicas como Fantástico e Domingo Espetacular, visto que são programas televisivos com periodicidade semanal e que as notícias apresentadas já foram exploradas pelos noticiários diários. O “furo”, portanto, seria usado como forma de chamar a atenção do público mostrando o fato como novo mesmo sem ter novas perspectivas sobre o caso.

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9. ANEXOS

Cd com os arquivos das reportagens analisadas.

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[1] A concorrência foi pautada pela velocidade da produção jornalística que, com as tecnologias, passa a ter condições de apresentar as notícias no tempo presente. Ela nada mais é do que a briga por levar a informação em primeira mão, ou seja, antes dos outros jornais da época. Atendendo, assim, o público alvo, que busca a novidade.

[2] Dar o “furo” no jornalismo significa apresentar o fato primeiro que outros veículos de comunicação, ou seja, noticiar com exclusividade um evento.

[3] Moretzsohn (2002) concorda com o conceito de fetichismo da mercadoria adotado por Marx, que o definiu como: “processo através do qual os bens produzidos pelo homem, uma vez postos no mercado, parecem existir por si, como se ganhassem vida própria” (MARX, 1977 apud MORETZSOHN, id, p. 119).

[4] O caso Eloá Pimentel refere-se ao sequestro de duas adolescentes: Eloá Cristina Pimentel de 15 anos e a amiga Nayara Silva, no dia 13 de outubro de 2008. As meninas foram sequestradas pelo ex-namorado de Eloá, Lindemberg Alves, de 22 anos. Tomado pelo ciúme e inconformado com o término do namoro, Lindemberg manteve a ex-namorada em cárcere privado durante 100 horas, no apartamento da jovem no bairro conjunto Santo André, no ABC. O caso teve um desfecho trágico: a polícia, após horas de negociação, arrombou a porta e entrou no apartamento. Lindemberg atirou nas duas reféns que foram levadas para o hospital, mas Eloá não resistiu e teve morte cerebral.

[5] Esse é caso o da modelo e atriz Eliza Samudio, de 25 anos, que foi sequestrada e morta em junho de 2010, supostamente a mando do ex-amante e pai de seu filho, hoje ex-goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes. O caso obteve repercussão nacional e internacional. Durante as investigações, descobriram que a moça teria sido morta por estrangulamento. Em seguida, o cadáver teria sido esquartejado e enterrado sob uma camada de concreto.

[6] A reportagem/directo é o recurso utilizado para no enquadramento do fato no local em que ocorreu, se possível na hora do acontecimento.

[7] De acordo com Barbero (id), esse gênero era formado por poemas e poesias populares, surgiu na oralidade e depois ganhou espaço no impresso com os folhetins que eram expostos pendurados em cordas ou cordéis, fator que deu origem ao nome. Esse tipo de literatura marcou as culturas francesa, portuguesa e espanhola. Em sua fase oral era apresentado por artistas populares que compunham, cantavam e tocavam viola – os chamados trovadores.

[8] O melodrama será conceituado no próximo capítulo.

[9] “Em seu sentido mais comum, um fait divers é a seção de um jornal na qual estão reunidos os incidentes do dia, geralmente as mortes, os acidentes, os suicídios ou qualquer outro acontecimento marcante do dia. O emprego do termo fait divers remonta à criação da grande imprensa, ou seja, no final do século XIX. Seu sentido primeiro é de ordem profissional já que designa uma categoria de notícias. Entretanto, um fait divers significa igualmente uma notícia de pouca importância, um fato insignificante oposto à notícia significativa e a ao acontecimento histórico. Pode-se dizer, querendo minimizar a importância de um acontecimento: ‘é apenas um fait divers!’, ou querendo valorizar uma notícia: ‘não é um simples fait divers!’” (Sylvie Dion, 2007, publicado em ).

[10] O idealizador do projeto, o jornalista Hélio Costa, pretendia adaptar o conceito dos programas norte-americanos a um formato brasileiro, com doses de suspense e mistério. O Linha direta imprimia um forte tom realista às reconstituições de crimes praticados por bandidos foragidos da Justiça, mas havia espaço para histórias que misturavam jornalismo e ficção, como no episódio A máscara de chumbo, sobre um suposto caso de abdução alienígena. O programa tinha periodicidade semanal e foi exibido em duas temporadas – de 29 de março de 1990 a 24 de junho de 1990 e de 27 de maio de 1999 a 6 de dezembro de 2007. ()

[11] Abreviação do termo análise do discurso.

[12] Ver no quadro 1 página 52, quais foram os elementos analisados e as constatações da pesquisa.

[13] Investigação na Cena do Crime, seriado sobre investigações criminais. As histórias da série são centradas na investigação de crimes e mortes que aconteceram em circunstâncias misteriosas.

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