UEL - Universidade Estadual de Londrina



ISBN 978-85-7846-455-4

A INTENCIONALIDADE DO BRINCAR NO ESPAÇO DA BRINQUEDOTECA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Karoline da Cruz Cassins Freire

Loren Machado Caruzzo dos Santos Silva

Anilde Tombolato Tavares da Silva

Universidade Estadual de Londrina

karolinedacruzcassins@

loren.weslei@

anildetombolato@

Eixo 1: Formação e Ação Docente.

Resumo: Este trabalho visa apresentar um relato das experiências desenvolvidas no projeto PIBID/UEL-Pedagogia, focando na intencionalidade do professor durante as atividades do projeto Brinquedoteca em um Centro Municipal de Educação Infantil da cidade de Londrina – PR em duas turmas com crianças de 2 e 4 anos de idade, usando como suporte teórico a Teoria Histórico Cultural. Nesta perspectiva, o professor atua de maneira intencional na atividade do brincar, compreendendo as significações que a brincadeira traz para a criança. Neste sentido, levantamos o seguinte questionamento: Como o professor pode contribuir para promover o desenvolvimento nos momentos de brincadeira? Para responder tal questionamento observou-se como o professor da brinquedoteca organiza suas ações e evidencia suas intervenções para promover o desenvolvimentos das crianças nos momentos da brincadeira. Os resultados parciais deste relato, videnciaram que a intencionalidade do professor na brincadeira potencializa sua forma de compreender o mundo ao seu redor, assim como seu comportamento e aprendizagem.

Palavras-chave: Brincar, intencionalidade, brinquedoteca.

Introdução

A educação infantil é uma etapa crucial para o desenvolvimento integral da criança. Todos os momentos desde a acolhida devem ser direcionados para propiciar aprendizagem e conhecimento. A brincadeira na educação infantil se destaca como uma atividade prática cuja intencionalidade é gerar ludicidade e permitir que a criança crie e recrie experiências que quando vivenciada, produz uma ação significativa em seu desenvolvimento. De fato a ludicidade deve ser trabalhada de forma a proporcionar a integração da criança com o mundo social e a conhecer a si mesma, se identificar no espaço a qual vive, seja no meio familiar ou na escola com os amigos.

As brincadeiras na educação infantil necessitam ser orientadas para promover as práticas pedagógicas cuja intencionalidade do professor possa estar atrelada às necessidades educacionais, emocionais, psíquicas e sociais da criança. É inadequado que o professor visualize o brincar interligado a uma atividade vaga sem objetivos, onde a criança apenas brinca sem que isso propicie mudança em seu comportamento e na sua visão de mundo. Para Vygotsky (1998) a aprendizagem e o desenvolvimento estão interligados. Na brincadeira a criança aprende e se desenvolve. A criança enquanto brinca está reconhecendo seu papel social e suas funções, demonstrando para quem está observando qual é a sua interpretação de realidade. Brincando com outras crianças ela se relaciona e estabelece relações sociais. Segundo Pasqualini (2013, p. 76) “o elemento decisivo para explicar o desenvolvimento psíquico da criança é a relação criança-sociedade”. Os aspectos ambientais do qual ela vive, as suas propriedades culturais também influenciam na sua formação como indivíduo, o qual irá acarretar suas significações enquanto adulto.

Este trabalho, busca fazer um relato de experiência vivenciada durante o projeto Brinquedoteca em um CMEI de Londrina, através do PIBID/UEL-Pedagogia durante o período de fevereiro a agosto de 2017, enfatizando a intencionalidade do professor durante o desenvolvimento das atividades de brincar em duas turmas com crianças de 2 e 4 anos de idade.

A INTENCIONALIDADE

A infância se destaca como um período importante para o desenvolvimento humano. A criança necessita de um ambiente estimulante, precisa ser cuidada, guiada, incentivada, para que possa potencializar seus conhecimentos e aprendizagens. É importante que a criança tenha acesso a recursos, pois quanto mais possibilidades ela tiver maior o desenvolvimento. A intencionalidade da escola é oferecer à criança todos os recursos necessários para que ela possa aprender. Na escola ela tem acesso a outro mundo, outros conhecimentos. Toda a estrutura deve ser pensada de maneira a propiciar um ambiente rico em potencialidades. Nesse contexto ela entra em contato com a figura do professor, o qual irá mediar todo seu processo de aprendizagem. A intencionalidade deve estar presente em todas as ações do professor. Segundo Fernandez (1991, p. 47 e 52) “para aprender necessita-se de quem ensina e quem aprende, não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar”. O professor precisa ampliar os contatos dessa criança e inseri-la no mundo social e garantir a ela acesso à cultura, a humanidade, a infância.

As ações do professor devem produzir conhecimentos significativos para a criança, pautando-se na necessidade de desenvolvimento progressivo e efetivo. Para que sejam alcançados os objetivos almejados, deve-se obter um planejamento de todas atividades e brincadeiras a serem realizadas, até mesmo as de rotina. O professor necessita obter a clareza do que a criança vai fazer na escola. Os objetivos que permeiam a atividade na educação infantil precisa estar articulada a construção social e aprendizagem, sendo que estas estão atreladas ao cuidar e ao cuidar.

Tendo em vista a teoria histórico cultural, compreende-se que o indivíduo é produto de momento histórico. Pautado nessa definição, a intencionalidade do professor deve estar direcionada à produção de experiências significativas e que impulsionam o desenvolvimento através da interação com o meio e a diversidade cultural do mesmo. O professor precisa estar atento aos conhecimentos prévios da criança, levando em consideração a especificidade de cada um. Vygostky aborda essas situações através da zona de desenvolvimento real para a proximal, ou seja, a potencialização do que a criança já sabe a fim de propiciar a ela um novo conhecimento.

A criança precisa da orientação de um adulto desde seus primeiros momentos de vida e desenvolve a necessidade da presença do mesmo como também a participação em seu processo de crescimento. Na escola é necessário que a relação professor e criança seja embasada na intencionalidade da humanização e socialização, pois o adulto sempre será a referência para a criança. Por isso o professor deve estar atento quanto às suas condutas e ao tratamento com as crianças, pois este se torna a referência para ela. A relação estabelecida irá influenciar em todas as percepções da criança sobre ela, sobre o mundo.

A intencionalidade no brincar precisa estar estruturada na ludicidade. O professor necessita entender que no ato de brincar a criança aprende. Muitos professores não têm a clareza do quanto a criança se desenvolve brincando, e que através da brincadeira ela vivencia novas descobertas. Conforme Fortuna (2004, p.8) “educador infantil que realiza seu trabalho pedagógico na perspectiva lúdica observa as crianças brincando e faz disso ocasião para reelaborar suas hipóteses e de definir novas propostas de trabalho”.

No período até aos dois anos as crianças exploram os espaços, brinquedos e as brincadeiras. Sendo assim precisam estar adequadas de acordo com a sua limitação de atenção e coordenação. Destacamos a intencionalidade do professor nessa fase de maneira a criar momentos de descoberta, mediando a ação da brincadeira e a criança, como cita Leontiev 1978 (Apud Pasqualini 2013, p. 86) “a atividade humana objetivada não se apresenta de forma imediata para a apropriação da criança, mas exige a mediação de adulto”. Quando pequenos, a ação de muitos professores se dá na disponibilização dos objetos. Coloca-se uma caixa cheia de brinquedos que por muitas vezes são sempre os mesmos, não traz novidade para a criança. E assim elas brincam sem que o professor interfira e aponte a função, como se brinca. De acordo com Fortuna (2004, p. 9):

[...] não fica só na observação e na oferta de brinquedos: intervém no brincar, não para apartar brigas ou para decidir que fica com quem, ou quem começa ou quando termina, e sim para estimular a atividade mental, social e psicomotora dos alunos com questionamentos e sugestões de encaminhamentos. Identificar situações potencialmente lúdicas, fomentando-as, de modo a fazer a criança avançar do ponto em que está na sua aprendizagem e no seu desenvolvimento.

A brincadeira torna-se significativa para a criança e para o professor. A criança se sente importante e motivada a brincar e descobrir novas brincadeiras através da participação do professor, cujos objetivos serão alcançados. Porém se não houver uma ação intencional e objetiva, o professor não conseguirá resultados positivos e internalizar conhecimentos novos na criança. Esta, estará brincando em cada canto de forma livre, irá aprender, porém com a intervenção do professor a aprendizagem será potencializada.

Conforme a criança vai crescendo os brinquedos deixam de ser objetos exploratórios e passam a ter significados sociais, para Pasqualini (2013, p. 87) “nesse momento o papel do professor surge como mediador da brincadeira de papéis”. A criança passa a demonstrar interesse no que o adulto faz, e passa a imitá-lo. O faz de conta surge para que a criança crie e signifique ações dos adultos. Como Pasqualini (2013, p. 88) afirma “a brincadeira não é fruto da imaginação, pelo contrário, na brincadeira a criança incita a imaginação”. Nesse contexto o papel do professor deve potencializar a criança, enriquecendo a atividade lúdica.

PROJETO BRINQUEDOTECA E A INTENCIONALIDADE DO PROFESSOR.

A brinquedoteca é um espaço a qual intencionalidade é propiciar a crianças e adultos momentos de brincadeira. A brinquedoteca segundo Cunha (2007, p. 15) é um lugar que “proporciona aprendizagens, aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, de forma natural e agradável”.

A brinquedoteca na educação infantil tem se mostrado como um ambiente que propicia para a criança a interação, alegria e brincadeira. Em uma sociedade onde a adultização da infância se firma, obter um espaço para a infância na escola é fundamental para garantir o direito de ser criança, de brincar. O brinquedista deve organizar um espaço lúdico e estimulador, onde a intencionalidade é potencializar os conhecimentos e habilidades da criança.

As atividades planejadas na brinquedoteca precisam consistir em realizar brincadeiras que estimulem a atenção, assim como “a coordenação, a interação, a criatividade, a valorização do brinquedo, o desenvolvimento da inteligência” (CUNHA, 2007. p. 15). Incitar a criança a conhecer brincadeiras que os avós e os pais brincavam, a criar novas brincadeiras.

Construir uma espaço para as crianças brincarem no ambiente escolar possibilita outros recursos para o professor. As crianças são felizes quando brincam, é importante que elas encontrem esse momento de brincar na escola.

O projeto brinquedoteca no qual participamos no CMEI surgiu da necessidade de organizar um espaço direcionado para as crianças brincarem e interagirem em um ambiente externo a sala. O PPP da instituição, indica as interações e brincadeiras como eixo norteadores a fim de promover o conhecimento e imersão da criança em diferentes linguagens.

O referido projeto coloca como proposta, criar intervenções de brincadeiras e possibilitar às crianças novos conhecimentos e interação. As atividades são planejadas e executadas de acordo com a intencionalidade e objetivos para promover um salto qualitativo em seu desenvolvimento. As crianças são recebidas uma vez por semana, e permanecem no espaço por 60 minutos, elas exploram a brinquedoteca assim como também o espaço externo. A hora da brinquedoteca é um momento em que as crianças brincam livremente porém contam com a presença do professor o qual intervém nas brincadeiras indicando a elas novas possibilidades de brincar e imaginar.

A proposta defende a promoção da infância, da liberdade do brincar dentro da instituição escolar, buscando superar o momento que atualmente vivemos, numa sociedade em que brincar se tornou uma atividade inteiramente ligada a tecnologia. A tecnologia é necessária porém as crianças precisam sentir que estão vivendo uma infância feliz, que possam brincar e imaginar um mundo diferente na brincadeira. E neste sentido, a valorização da intencionalidade desde o momento de se planejar o brincar até a mediação para promover o desenvolvimento das crianças.

As intervenções das bolsistas estão embasadas na intencionalidade do brincar que promove aprendizagem e desenvolvimento. As brincadeiras idealizadas buscam despertar nas crianças o interesse pelo brincar e na busca por descobertas que instiguem a querer aprender mais sobre o mundo e suas características. As brincadeiras são realizadas no espaço interno e externo a brinquedoteca, pois assim elas exploram espaços diferentes dentro do CMEI e conhecem os seus espaços e utilidades. O Projeto brinquedoteca visa além de envolver as crianças procura trazer a família para conhecer o espaço e brincar com as crianças.

Embasado em nossas experiências relataremos três intervenções realizadas pelas bolsistas do PIBID, desde o planejamento até o momento do brincar. As brincadeiras propostas envolveram crianças de 2 e 4 anos de idade. As propostas planejadas e as intervenções, aconteceram dentro do projeto Brinquedoteca.

A primeira proposta foi realizada com crianças do P4 (crianças de 4 anos) e consistia em propiciar às crianças um momento de brincadeira compartilhada, vivenciando novos conhecimentos partilhando uns com os outros. Para Cunha (2007, p. 25) “a interação grupal é muito enriquecedora e ajuda crianças a se conhecerem melhor e fazer novas amizades.

A intervenção propunha às crianças conhecer a brincadeira “carrinho de rolimã”. A intenção era fazer com que as crianças brincassem em duplas, sendo que uma puxava o carrinho e a outra sentada levava na mão uma copo de água o qual teria de ser derrubado dentro de um balde. As duas crianças teriam que agir em prol de um mesmo resultado, aprendendo a cooperação e conhecendo seus limites. Houve grande interesse por parte das crianças, todas participaram juntas e demonstraram o quanto prezam pela brincadeira em conjunto. A brincadeira era nova, muitas não conheciam. É importante que além do brincar elas possam descobrir novas formas e novas brincadeiras.

Figura 1: “Brincado com carrinho de rolimã”

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FONTE: arquivo pessoal

A segunda proposta mostra às crianças brincando no espaço da brinquedoteca. Às crianças do C2 (crianças de 2 anos) brincaram explorando o ambiente, os brinquedos e objetos. As crianças desta faixa etária aprendem na brincadeira por meio do explorar ambientes e suas propriedades pois quando pequenas “as crianças pequenas manipulam os objetos para conhecer “(CUNHA, 2007, p. 21) e explorar o mundo ao seu redor. Nesta intervenção disponibilizamos brinquedos de escritório, fantasias e brinquedos de cozinha. A intencionalidade das brincadeiras se constatam na intervenção da bolsista, mostrando para as crianças a função de cada objeto como por exemplo, vivenciar situações cotidianas do trabalho no escritório, como funciona o trabalho na cozinha etc. As crianças se divertiram e aprenderam sobre profissões.

Figura 2: “Brincando na brinquedoteca”.

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FONTE: arquivo pessoal

A terceira proposta propunha às crianças do P4 brincarem no pátio criando formas com giz, brincando com diversos brinquedos como carrinhos e bambolês. Às crianças puderam explorar o espaço, imaginar outros espaços como pista de corridas. O “faz de conta” está presente nesta faixa etária como mecanismo para significar a vida real. Conforme Cunha (2007, p. 23) “quanto maior a imaginação da criança, maiores serão as suas chances de ajustamento ao mundo ao seu redor”. Observamos na foto o momento em que as crianças brincavam em uma pista desenhada no chão a partir do interesse delas. Conforme indicávamos caminhos a elas, analisamos que as mesmas obtinham ideias diferentes e as recriavam de acordo com a sua própria interpretação. Intervimos propondo a elas que andassem com os carros na pista respeitando a velocidade, a cidade assim como também a natureza.

Figura 3: “Explorando espaços”. [pic]

FONTE: arquivo pessoal

NOSSAS CONSIDERAÇÕES

Compreendemos a importância do brincar dentro da educação infantil de maneira a conduzi-la em prol do desenvolvimento da criança. Criando mecanismos que enriquecem a atividade, o professor pode fazer da brincadeira uma atividade potencial, produzindo na criança o interesse pelo brincar, pela ludicidade.

A partir das nossas experiências reconhecemos a importância do projeto brinquedoteca para nossa compreensão da intencionalidade no brincar e as significações que nos proporcionaram. Em cada intervenção proposta identificamos o interesse das crianças e qual a percepção delas e como demonstram suas inquietações através da brincadeira.

Entendemos que o professor deve ter o conhecimento sobre o período de desenvolvimento da criança para criar necessidade na brincadeira e assim promover um salto qualitativo em seu desenvolvimento. Fica claro que quando não existe a compreensão da intencionalidade no brincar o professor não consegue potencializar os resultados do seu planejamento, empobrecendo a brincadeira assim como também perdendo a oportunidade de envolver a criança no processo de desenvolvimento integral por meio das brincadeiras.

É necessário que haja um engajamento por parte dos professores no entendimento da atividade lúdica e de seus resultados. Potencializar a ação pedagógica por meio de um planejamento embasado nas necessidades educacionais. É necessário que a intencionalidade esteja atrelada a todas as atividades e em todas as etapas educacionais assim como no brincar para que possam ser alcançados os direitos do brincar proporcionando a aprendizagem, desenvolvimento e promovendo a infância.

Os resultados evidenciaram que quando o professor possui um planejamento da atividade do brincar embasado nas teorias que orientam a sua prática de forma a provocar mudanças significativas no processo de desenvolvimento da crianças, ele alcança os objetivos propostos, tornando o brincar um momento rico, repleto de descobertas, prazeroso. Observamos que quando o professor participa de forma ativa na brincadeira faz com que a criança se sinta importante, ela brinca mais e dá importância aos jogos. Conforme Cunha (2007, p. 76) a participação do adulto na brincadeira estimula a criatividade. A intencionalidade presente nas intervenções nos indicaram a indispensabilidade de uma ação intencional do professor, por meio de planejamento, participação e acompanhamento.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar.4.ed. São Paulo. Aquariana. 2007

FORTUNA, Tânia Ramos. O Brincar na educação infantil. In: Pátio Educação Infantil. Ano 1, n°3, dez. 2003/mar. 2004.

FERNANDÉZ, A. (1991) A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas.

PASQUALINI, Juliana C. Periodização do desenvolvimento psíquico à luz da escola de Vigotski: a teoria histórico-cultural do desenvolvimento infantil e suas implicações pedagógicas. Infância e pedagogia histórico-crítica, p. 71-97, 2013.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,1998. Disponível em: Acesso: 20. Agosto. 2017

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