INTRODUÇÃO



INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, muito tem se discutido acerca do papel da educação, em especial neste caso, da Educação Física na vida dos alunos, uma vez que a ela já foi e continua sendo uma forma de propagar uma ideologia, um modelo social e político ao qual está inserido.

Desta forma, com o avanço da ciência e com o surgimento de legislações que garantem a Educação Física na escola como área de conhecimento, surge a necessidade de entender a Educação Física para a construção da cidadania e valorização o sujeito como sendo parte integrante da sociedade em que vive.

A partir desse olhar, surgem abordagens críticas de educação, que têm em comum o intuito de formar o sujeito para uma cidadania plena, ativa e reflexiva. A Cidadania é discutida por diferentes autores concordam que a ela está intimamente ligada aos direitos e deveres. No entanto, somente nas sociedades contemporâneas as crianças são vistas como cidadãos de direito, embora não tenham maturidade suficiente para assumir determinadas responsabilidades.

Entendendo que a Educação Física não deve se limitar a proporcionar a vivência de atividades com um fim nelas mesmas, mas cumprir o papel de formar cidadãos críticos, autônomos e éticos, começamos a pensar como a Educação Física contribui para a formação do Cidadão. A escolha do Jogo como caminho para alcançar o objetivo desse estudo deu-se ao fato de termos um contato muito próximo com o Jogo, em especial ao nos envolvermos em diferentes projetos na Universidade Estadual de Londrina, dentre eles, destacam-se: Projeto Perobal e Formação Inicial e Desenvolvimento Profissional Contínuos de Professores de Educação Física: Integrando possibilidades de Pesquisa, Ensino e Extensão. Esse contato nos fez pensar sobre a seguinte questão: Qual a contribuição da Educação Física, a partir do conteúdo jogo, para a formação da Cidadania?

Visto isso, o objetivo desse estudo foi analisar a contribuição da Educação Física para a formação da Cidadania, por meio da análise dos jogos ensinados nas aulas de Educação Física e a aplicação dos mesmos no momento de lazer das crianças.

Para tanto, realizamos nossa pesquisa por meio de um estudo de caso, tendo como instrumento de pesquisa um questionário estruturado aplicado a sessenta crianças das duas 4ª séries do Ensino Fundamental de uma escola estadual de Londrina, no período matutino e outra no período vespertino.

Neste trabalho, não utilizamos uma estrutura em capítulos, mas em forma de um referencial teórico que aborda os seguintes aspectos: entendimento sobre Cidadania, relação da Cidadania com a Educação Física, entendimento sobre Jogo, seu papel no Lazer e sua utilização nas aulas de Educação Física. Por fim, fechamos nossa fundamentação com a análise e discussão dos resultados.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

Nosso referencial teórico aponta para a formação da Cidadania a partir das aulas de Educação Física e do conteúdo Jogo. Desta forma, iniciamos nossa discussão com o entendimento sobre Cidadania e sua relação com a Educação Física, fazemos uma rápida discussão acerca do entendimento sobre o Jogo e o seu papel no Lazer, e fechamos nossa fundamentação com o Jogo nas aulas de Educação Física.

1. Entendimento sobre Cidadania

Nos últimos anos muito se tem debatido em torno da cidadania, em especial, sobre sua construção e formação. No entanto, podemos perceber que não há um consenso quando se refere ao significado e exercício da cidadania.

Diante disso, começam a aparecer diversos questionamentos sobre o significado do termo cidadania e sobre o que vem a ser cidadão. Dessa forma, nosso objetivo nesse momento é refletir sobre a cidadania, o que se entende sobre ela e o que vem a ser cidadão.

De acordo com Gallo “a cidadania não é um conceito unívoco; sua conceituação é histórica e depende estritamente da percepção do momento histórico em que ela é forjada” (2004, p.136). Dessa forma, a cidadania assumiu diferentes significados ao longo da história, seja por estar submetida a situações diversas, seja por determinantes econômicos, sociais, culturais, político, entre outros (SILVA, 2006).

Assim, podemos observar quatro significados distintos acerca da cidadania: (1) antiga; (2) medieval; (3) moderna ou liberal; e (4) contemporânea (SILVA, 2006).

A cidadania na sociedade antiga era vista como um status alcançado por alguns membros da comunidade. Somente poderiam se considerar cidadãos os homens adultos, livres, proprietários, nascidos na cidade e dedicado aos assuntos coletivos, quem não se enquadrava nessa classificação era excluído dessa categoria.

De fato, podemos verificar que para Aristóteles (LIVRO III, CAP. I), a cidadania:

[...] não resulta do fato de alguém ter o domicílio em certo lugar, pois os estrangeiros residentes e os escravos também são domiciliados naquele lugar, nem são cidadãos todos aqueles que participam de um mesmo sistema judiciário, assecuratório do direito de defender-se em uma ação e de levar alguém aos tribunais (...); estes são cidadãos somente no sentido em que aplicamos o termo a crianças ainda muito novas para serem arroladas como cidadãos e aos anciãos já isentos dos deveres cívicos, pois não os chamamos cidadãos de maneira absoluta (...).

Observamos também que as crianças não eram consideradas como cidadãos plenos. De acordo com Aristóteles (LIVRO III, CAP. III), as crianças assumiam, dentro da comunidade, uma condição de “cidadãos presuntivos”, conforme se explicita na citação a seguir:

[...] é verdade que nem todas as pessoas indispensáveis à existência de uma cidade devem ser contadas entre os cidadãos, porquanto os próprios filhos dos cidadãos não são cidadãos no mesmo sentido que os adultos: estes são cidadãos de maneira absoluta, enquanto aqueles são cidadãos presuntivos (são cidadãos, mas incompletos).

A cidadania na sociedade antiga é resumida por Guarinello (2003, p.45), que entende que esta passou por um longo caminho e culmina com o Império Romano, esse processo é explicado pelo autor como:

[...] de pertencimento a uma pequena comunidade agrícola, a cidadania tornou-se, com o correr dos tempos, fonte de reivindicações e de conflitos, na medida em que diferentes concepções do que fossem as obrigações e os direitos dos cidadãos no seio da comunidade se entrechocaram. Participação no poder, igualdade jurídica, mas também igualdade econômica foram os termos em que se puseram, repetidamente, esses conflitos, até que um poder superior se estabeleceu sobre o conjunto das cidades-estado e suprimiu da cidadania comunitária, progressivamente, sua capacidade de ser fonte potencial de reivindicações.

A concepção de Cidadania na Idade Média mantém os da concepção Grega, mas acrescenta um “elemento novo relativo à vinculação com o sobrenatural” (QUIRINO e MONTES, 1987, p.17). Com isso o caráter político é retirado dessa nova forma de entender o significado de ser Cidadão.

A igualdade nessa época era entendida do ponto vista religioso, ou seja, todos os homens são iguais perante Deus, e não se refere a um Estado que considera todos iguais em direitos e deveres. Cavalcanti (1989, p.28-29) explica que:

[...] a sociedade medieval tornou-se, no decorrer dos séculos XI e XII, grandemente estratificada. Data desta época a formulação das três ordens, constituídas pelos que guerreavam (nobreza), oravam (clero) e trabalhavam (súditos). O poder político concentrou-se nas mãos do clero e da nobreza, cabendo, aos súditos, apenas obedecer à autoridade dos grandes senhores diretamente relacionados com o soberano.

Nessa perspectiva, o homem medieval não se aproxima do cidadão grego, pois a cidadania traduz para tal, a consciência de ser parte de uma organização da vida social, guardião e defensor de uma civilização ao mesmo tempo em que se torna produto dela (QUIRINO e MONTES 1987, p.19).

A concepção de Cidadania na Antigüidade foi substituída, na Idade Média, pela relação entre o senhor e o vassalo, ou de outra forma, entre o soberano e o súdito. Esse fato contribui para uma lenta transformação do cidadão em súdito (DAL RI JÚNIOR, 2002).

Entretanto, cidades como Florença, Salamanca e Veneza, foram contrárias à pressão da Igreja em afastar do conceito de cidadania a participação política e os comerciantes formaram seu próprio poder político, formando estratos sociais urbanos, relacionando-se com liberdade com as autoridades feudais (CAVALCANTI, 1989, p. 29). Nesse sentido, Castilho (2005, p.2), nos diz que:

[...] a autonomia das cidades medievais – derivada das franquias -, na Baixa Idade Média (sécs. XII e XV), transformou-as num lugar privilegiado para o exercício da liberdade. Liberdade entendida aqui como libertação da servidão. O servo da gleba fugia então dos feudos e penetrava nos muros da cidade, onde se considerava ao mesmo tempo protegido e livre do senhor feudal e da sujeição que devia a ele (vassalagem).

A liberdade, aqui, “era tida como a fonte radical dos direitos do homem; a ‘posse de uma família’ e a ‘posse de uma cidade’ (a cidadania) requeriam, para cumprir a finalidade de outorgar direitos ao homem, a existência prévia de liberdade” (ZERON, 2003, p.97).

Desta forma, tanto na sociedade antiga quanto na medieval a cidadania está baseada na desigualdade entre os homens (relações entre senhores e escravos, senhores e servos).

Todavia, nas sociedades modernas, “a igualdade, juntamente com a liberdade, passam progressivamente a ser concebidas e logo reivindicadas como ‘direitos naturais’ de todos os homens, base de seus direitos enquanto cidadãos” (QUIRINO; MONTES, 1987, p.22). Nesse sentido, a cidadania é entendida como uma forma de formalizar a igualdade entre os homens.

Para Hobbes (1998, p.63), “todo homem deve ser estimado naturalmente igual a outrem”. Desta forma, a igualdade deverá levar em consideração, também os direitos.

Nesse contexto, “o cidadão é um indivíduo, igual aos demais”, e “a relação direta entre soberano e cidadão reveste-se de um caráter impessoal, transformando-se em uma relação abstrata que valoriza a dimensão individual” (DAL RI JÚNIOR, 2002, p.52-53).

Portanto, nessa perspectiva a cidadania não valoriza a participação política dos cidadãos, mas principalmente a relação de obediência ao poder soberano. De acordo com Nogueira e Silva (2001, p.22),

[...] a criação da sociedade política era o produto de um contrato social original, primário e primitivo entre indivíduos concebido para assegurar a autoprotecção. Por transferência dos direitos naturais para o poder soberano, de forma a assegurar a autopreservação e a zelar pelos contratos originais, os homens escolhem livremente constituir-se a si mesmos como sujeitos desse poder soberano. [...]

Para John Locke (1994, p.139):

[...] a única maneira pela qual alguém se despoja de sua liberdade natural e se coloca dentro das limitações da sociedade civil é através de acordo com outros homens para se associarem e se unirem em uma comunidade para uma vida confortável, segura pacífica uns com os outros, desfrutando com segurança de suas propriedades e melhor protegido contra aqueles que não são daquela comunidade.

Nesse sentido, Locke (1994) refuta a doutrina do direito divino e poder absoluto do monarca, ao mesmo tempo, enfatiza que o trabalho é a base de justificação da propriedade, e que o contrato e o consentimento são as bases do governo.

Nessa perspectiva, a cidadania é definida em função da relação com a propriedade, esta entendida sempre como “aquela que o homem tem sobre sua pessoa, e não somente sobre seus bens” (LOCKE, 1994, p.189), mas também em função da liberdade, que é uma propriedade do indivíduo.

Portanto, o autor considera como sendo cidadãos os homens livres. Também para Locke (1994) além dos escravos, as mulheres, as crianças e os doentes mentais, não podem ser considerados cidadãos, uma vez que eles não possuem condições de gerir suas próprias vidas.

Nessa perspectiva, é interessante observar a posição das crianças. De acordo com Locke (1994, p.114), elas não são cidadãos porque ainda não são livres, “embora tenham nascido para isso”. Como também, porque não gozam de maturidade suficiente (gozo pleno da razão), estando por isso submetida, inicialmente, ao poder dos seus pais.

Nesse sentido, para Locke (1994), o cidadão é também aquele que é suficientemente capaz de compreender, aceitar e se submeter às leis da sociedade civil da qual faz parte.

Logo, a criança para Locke (1994) só será cidadão numa sociedade política quando atingir uma certa idade, um certo grau de discernimento e maturidade, que lhes permita agir com liberdade e compreender o alcance e a pertinência de uma dada lei.

Outro pensador que influenciou as concepções de Cidadania na sociedade moderna foi Jean Jacques Rousseau, que em sua teoria elimina a possibilidade de dominação de homem sobre homem.

De acordo com Rousseau (1995) o cidadão é o homem dotado de razão e liberdade, apto a participar politicamente da sociedade em favor do bem comum. É também aquele que renuncia aos seus direitos naturais em favor dos direitos políticos, deixando, dessa maneira, de ser indivíduo para se tornar cidadão.

É importante ressaltar a questão de que, no pensamento de Rousseau (1995), a razão é uma faculdade a ser desenvolvida no ser humano e condição essencial ao exercício da cidadania. Desta forma, a criança na tenra idade, até por volta dos onze anos, não apresenta condições necessárias ao exercício da cidadania, isso somente será possível aproximadamente aos doze anos, quando a criança apresenta condições físicas e mentais para enfrentar situações presentes no meio em que vive (NASCIMENTO, 2001, p.79-80).

Chegamos, pois, nas sociedades contemporâneas, que pressupõem ser a cidadania apenas a titularidade de direitos e deveres, mas a condição de “gozo efetivo dos direitos individuais, coletivos, sociais e políticos (ou de participação na vida política)” (CASTILHO, 2005, p.1) por parte de todos os cidadãos. De acordo com Mazzuoli (2002, p. 107) a cidadania consiste em:

[...] consciência de participação dos indivíduos na vida da sociedade e nos negócios que envolvem o âmbito de seu Estado, alcançados, em igualdade de direitos e dignidade, através da construção da convivência coletiva, com base num sentimento ético comum, capaz de torná-los partícipes do processo do poder e garantir-lhes o acesso ao espaço público [...].

Com isso, podemos observar que essa conceituação de cidadania integra, de acordo com Mazzuoli, três fatores: “o status legal (representado pelo conjunto de direitos assegurados aos indivíduos); o status moral (pertinentes às responsabilidades por eles contraídas); e a identidade própria (pertencente a toda a comunidade)” (MAZZUOLI, 2002, p.109).

Desta forma, dois aspectos essenciais para compreender a construção e a formação do cidadão ganham espaço. O primeiro aspecto a ser destacado corresponde ao elemento da participação ativa dos cidadãos. Essa participação adquiriu um caráter fundamental no conceito, sendo reivindicada em alguns momentos, negligenciada em outros, mas permanente enquanto preocupação na conceituação da cidadania. Ela refere-se exclusivamente aos adultos, àqueles que já atingiram certo grau de discernimento e de maturidade.

O segundo aspecto está relacionado à vinculação da cidadania a direitos e deveres, que correspondem, de acordo com Marshall (1967), a elementos indissociáveis, pois ao se evocar os direitos de cidadania os deveres a eles associados não podem ser negligenciados. Esses dois aspectos correspondem, ao que parece, à essência do conceito, sem os quais não é possível falar em cidadania.

Desta forma, ser cidadão é gozar de direitos e deveres e participar ativamente nas decisões que afetam a vida na sociedade. O exercício da cidadania precisa que o cidadão esteja pronto para ter responsabilidades, agir com autonomia e maturidade.

Com isso, percebemos que durante toda a história que envolve a conceituação de Cidadania, alguns segmentos da sociedade sempre foram deixados de lado, excluídos, nesses segmentos se destacam as crianças, que por não possuírem responsabilidades e maturidade, entende-se que não podem exercer sua cidadania.

Nas sociedades contemporâneas, as crianças são vistas como:

[...] atores sociais, participando da construção e determinando suas próprias vidas, mas também a vida daqueles que as cercam e das sociedades em que vivem, contribuindo para a aprendizagem como agentes que constroem sobre o conhecimento experimental. Em resumo elas têm atividade e função; (SIROTA, 2001; DAHLBERG et al., 2003, p.71)

Neste sentido, Dahlberg et al (2003, p. 72). explicam que “a criança pequena é entendida e reconhecida como sendo parte da sociedade, um membro da sociedade. Ela não existe apenas no lar da família, mas também no mundo mais amplo”.

Isto significa que a criança possui status de cidadão, com os direitos de cidadão e, quando ela tiver maturidade suficiente para assumi-los, responsabilidades de cidadão.

Com isso, a escola ganha um importante status nas sociedades atuais, com o objetivo de possibilitar a compreensão do exercício da cidadania nas crianças, auxiliando na formação do cidadão crítico, autônomo e emancipado.

Entendemos que a Educação Física deve ir ao encontro do que se espera da educação institucionalizada, que atenda aos objetivos da escola na formação do sujeito. Visto isso, procuraremos a seguir relacionar os conhecimentos da Educação Física à formação do sujeito para a cidadania.

2. Relação entre Educação Física e Cidadania

Quando falamos sobre a possibilidade de entender as relações da Educação Física com a construção do sujeito cidadão, precisamos antes entender como essa construção vem se fundamentando por toda a história da Educação Física.

A Educação Física na formação do cidadão sempre esteve ligada às questões políticas, “sendo usada como instrumento ideológico e de manipulação” (GUIMARÃES; ET AL, 2001), com o objetivo de formar um cidadão pacífico, no sentido de alienado, que simplesmente aceita o que está estabelecido. Também já esteve intimamente ligada às questões médicas e militares, visando a formação de cidadãos saudáveis e fortes.

Ghiraldelli (1987) nos ajuda a compreender isso, ao dizer que a Educação Física já sofrera com tendências higienistas, militaristas, pedagogicistas e competitivistas. Dentre essas, a Educação Física Pedagogicista é a única que vai buscar a formação de um cidadão preocupado com a realidade em que vive, pois considera que a sociedade precisa “encarar a Educação Física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de disciplinar a juventude, mas de encarar a Educação Física como uma prática eminentemente educativa” (GHIRALDELLI, 1991, p.19).

No entanto, com a instalação da ditadura militar no Brasil, a Educação Física ganha status de desempenho físico e técnico. “Seu objetivo fundamental é a caracterização da competição e da superação (...) a Educação Física é sinônimo de desporto e este, sinônimo de verificação de performance” (GHIRALDELLI, 1991, p.20).

No final da década de 70, surgem novas visões para a formação do cidadão dentro da Educação Física, como a psicomotricidade que visa levar o sujeito a se conhecer melhor e dominar o próprio corpo, mas deixam de lado a realidade e o contexto (ARAGÃO, 2004). Vale ressaltar que esta tendência ainda se faz valer em alguns momentos da aprendizagem. Outra tendência para a Educação Física é a Abordagem Desenvolvimentista, dirigida principalmente à educação infantil e fundamental, cuja proposta é o desenvolvimento motor do indivíduo (ARAGÃO, 2004). Esta abordagem busca

[...] caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento motor e da aprendizagem motora em relação a faixa etária e, em função dessas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes à estruturação de um programa de Educação Física na escola (BRASIL, 1998, p.24).

Com isso, a formação do cidadão consciente e participativo fica em segundo plano, dando ênfase apenas ao movimento, que se torna meio e fim da Educação Física, que passa a explorar a prática de habilidades motoras. Vale lembrar que, muitas vezes, os alunos fazem os movimentos, mas não compreendem o porquê e nem vêem sentido no que fazem.

Visto isso, surge a necessidade de se olhar a Educação Física para a construção da cidadania e que valorize o sujeito como sendo parte integrante da sociedade em que vive. Desta forma, concordamos com Barbosa (1997), quando afirma que a Educação Física é um componente curricular obrigatório e tem como principal objetivo a formação de cidadãos críticos, autônomos e conscientes de seus atos, procurando transformar sua realidade.

Com esse pensamento, surgem então as abordagens críticas que procuram enfatizar a educação para indivíduos pensantes e ativos no mundo em que vivem. Essas abordagens buscam possibilitar ao sujeito a compreensão e reflexão sobre a realidade (ARAGÃO, 2004). Têm em comum também, conscientizar o aluno e libertá-lo de falsas ilusões e valorizar o sujeito autônomo, comunicando com o mundo pelos seus movimentos (BRACHT, 1999).

Nessas abordagens podemos identificar a preocupação em fazer com que o aluno possa compreender a si mesmo e a cultura em que se insere. Com o objetivo de favorecer na formação do aluno consciente e ativo na sociedade em que vive (SANTOS, 2004).

Percebemos que o caminho percorrido pela Educação Física até chegar a valorização do cidadão como sujeito atuante na sociedade, esteve sempre ligada às evoluções históricas, no entanto não podemos deixar de lado as questões legais, que sempre fizeram com que a Educação Física estivesse amparada dentro da Escola, possibilitando as influências políticas. Como podemos ver na visão da LDBEN 5692/71, que tinha a Educação Física como:

[...] Área de atividade que por seus meios, processos e técnicas, desperta, desenvolve, aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando, constituindo um dos fatores básicos para a conquista das finalidades da educação nacional.

Nesta perspectiva vemos que a preocupação era que a Educação Física fosse apenas um momento para os alunos se divertirem ou descarregarem as energias, sem deixar de levar em consideração o fato de que nesse período o sujeito pensante e atuante não era de interesse do governo militar, ou seja, a Educação Física sendo usada como citamos anteriormente.

Com os avanços nos estudos, em especial a partir da década de 80, com as abordagens críticas, tornou-se necessário a criação de uma legislação que viesse ao encontro do que se esperava. Isso foi conquistado após a promulgação da nova LDBEN 9394/96, em que considera:

A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (BRASIL, 1996).

Após esse documento percebemos que a Educação Física conquista um novo status, além de obrigatória no âmbito escolar, podemos ver que a disciplina se torna um importante meio para a construção da cidadania, pois ganha a possibilidade de participar ativamente da formação do indivíduo.

Com isso, espera-se que os professores, por meio de sua prática docente, entenda que a Educação Física tem o papel de possibilitar a compreensão do aluno por meio dos conteúdos que permeiam a disciplina que, de acordo com Paraná (2008, p.17) que traz como objeto de estudo e de ensino, a cultura corporal do movimento e aponta a ginástica, esporte, a dança, a luta, os jogos, brinquedos e brincadeiras como conteúdos estruturantes, que devem ser abordados com os alunos de forma contextualizada na sua dimensão histórica, cultural e social.

Desta forma, o conteúdo que escolhemos para atingir o objetivo deste estudo foi o jogo. Para tanto, necessitamos entender sobre o jogo, nas suas concepções e na sua utilização nas aulas de Educação Física, além de compreender o papel do jogo no cotidiano das crianças.

3. Entendimento sobre Jogo

A Educação Física de acordo com Soares et al (1992), tem como conteúdo a manifestação cultural do movimento – jogos, esporte, lutas, ginástica e dança – e dessa forma há que se ter uma metodologia crítica na aplicação destes, para que assim o aluno possa exercer seu papel de cidadão de forma consciente, transformando o seu cotidiano.

Ao escolhermos o Jogo como caminho para compreender a atuação da Educação Física na formação da cidadania das crianças, temos a necessidade de compreender o Jogo em algumas concepções.

Buscando compreender o significado da palavra Jogo, percebemos quão complexo é entendê-lo. Enquanto na Língua Portuguesa a palavra Jogo está intimamente ligada ao mundo infantil por seu caráter lúdico, nas línguas como alemão, inglês e francês, uma única palavra expressa diversas ações.

A presença de vocábulos variados relativos ao jogo [...] em várias línguas da cultura ocidental, constituem, assim, uma indicação da necessidade de melhor caracterização de seus atributos, de análise de sua oposição no decorrer da história ocidental, de uma visão mais real de seu papel na vida humana [...] (ROSAMILHA, 1979, p. 7).

O Jogo está sempre associado ao “não-sério” ou despreocupação, alegria, mas ao mesmo tempo, o termo não está sempre acompanhado de diversão e prazer.

Desta forma, vimos que o Jogo é algo mais complexo do que pensamos, pois cada cultura constrói uma esfera delimitada daquilo que numa determinada sociedade é designável como jogo (BROUGÈRE, 1998).

Mesmo com a dificuldade em apontar um conceito específico de Jogo, alguns autores demonstram que o Jogo é uma atividade que imita uma parte do real, mas não tem caráter insignificante. Para Huizinga (2000, p. 33), o Jogo é:

[...] uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida “quotidiana”.

Com isso, percebemos que embora o Jogo porte em si um caráter de liberdade, traz consigo também a necessidade de regras, em um misto de tensão e alegria.

O Jogo é tão antigo quanto o próprio homem, uma vez que este sempre manifestou uma tendência lúdica que o impulsiona a jogar. Alguns autores nos dizem que o ato de jogar não é apenas uma condição do ser humano, pois ao vermos um animal brincando percebemos a satisfação que este tem ao fazê-lo. No entanto, segundo Velasco (1996, p. 78), existe:

[...] uma grande diferença entre essa atividade nos animais e nos homens. Em ambos os casos há a liberação de energia vital, enquanto entre os animais o Jogo se destina a atingir um determinado fim, nos homens o Jogo é enriquecido pelos símbolos e a regra, característica importante de animais superiores.

Podemos perceber, então, que o Jogo realizado pelos animais, embora tenha a mesma liberação de energia, não é tão rico em símbolos, além de não ter regras, como vemos nos Jogos praticados pelo homem.

O Jogo faz parte da cultura em geral, e têm uma função vitalícia para o indivíduo, não só para o gasto energético, mas como forma principal da assimilação da realidade, além de ser útil culturalmente à sociedade como expressão de ideais comuns (Haydt & Rizzi, 1991). O Jogar é uma atividade do ser humano. Desta forma, quando a criança brinca/joga, o faz de maneira compenetrada, a ponto de colocar suas próprias emoções no jogo.

A criança revela seus sentimentos e emoções, caracterizando assim a seriedade que o brincar tem para si. É através do Jogo e do Brincar, que a criança reproduz e recria o meio onde vive.

Para Freire (1993) é através de símbolos que o ser humano consegue interiorizar e entender o mundo em que vive. Desta forma, a criança somente conseguirá reproduzir ou recriar o mundo em que se vive, se entendê-lo sob o processo de simbolizar, o que pode ser possibilitado pelo ato de jogar.

Entendemos que a Educação Física deve proporcionar às crianças a possibilidade de simbolizar e compreender sua realidade. Com isso, ao verificarmos nas definições acima que o Jogo, além de ser uma atividade eminentemente ligada à liberdade, é ainda rica em símbolos, o que permite que a criança interiorize os conhecimentos que permeiam o mundo e possa exercer sua cidadania.

Após esse entendimento, necessitamos agora, identificar o papel do jogo no lazer, uma vez que estamos relacionando as atividades cotidianas das crianças com momentos de lazer, em que estas realizam atividades espontâneas, tendo com fim único o próprio prazer e satisfação.

4. O Papel do Jogo no Lazer

A fim de compreendermos o papel do jogo no lazer, necessitamos, antes, definir e entender o significado do Lazer. Para tanto, buscamos na história autores que possam nos clarificar esse conceito e auxiliar em nosso referencial.

Nas últimas décadas, muito tem se discutido a respeito do significado do lazer, seja em órgãos públicos ou em conversas informais. Isso faz com que não tenhamos um consenso no que diz respeito a essa conceituação.

De acordo com Marcellino (2000b), não há consenso a respeito do que seja Lazer entre os teóricos e os técnicos da área ou mesmo no senso comum. Sendo que, muitas vezes, o lazer é associado simplesmente a atividades recreativas ou a eventos de massa.

O Lazer está intimamente ligado à duas concepções que priorizam os aspectos de atitude e de tempo. No Brasil encontramos teóricos que defendem esses dois aspectos, sendo que a maioria dos estudos nessa área tem como referência o conceito proposto por Dumazedier (1979, p.34):

[...] conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Sabemos que as obras de Dumazedier (1979) são de grande importância e relevância, no entanto, esse autor não considera o lazer historicamente situado, pois o entende como uma possibilidade de integrar o ser humano à sociedade.

De acordo com Requixa (1980, p.35) lazer pode ser definido como sendo uma “[...] ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive, e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social“.

Para Medeiros (1980, p.03), o lazer é “[...] o espaço de tempo não comprometido, do qual podemos dispor livremente, porque já cumprimos nossas obrigações de trabalho e de vida”.

Observamos a preocupação desses dois autores com o repouso, a diversão e o desenvolvimento pessoal do homem contemporâneo, pois o descanso repouso é entendido como principal função do lazer para enfrentar o desgaste das longas jornadas de trabalho e a diversão pressupõe prazer e bem-estar, uma ética dos tempos modernos, visto que libera tensões e necessidades reprimidas pelo controle imposto ao indivíduo durante seu trabalho e na maioria dos comportamentos de sua vida social.

Já Marcellino (2003a, p.31) propõe um conceito operacional do lazer historicamente situado, entendendo-o como um direito social. Para ele o lazer é:

[...] a cultura – compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no “tempo disponível”. O importante, como traço definidor, é o caráter “desinteressado” dessa vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A “disponibilidade de tempo” significa possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa.

O autor nos propõe uma conceituação do Lazer voltada para a vivência de certas atividades no tempo disponível do indivíduo, em que a máxima recompensa seja a própria satisfação.

Visto isso, o lazer para a criança se constitui no tempo que ela não está na escola, ou seja, no momento em que a criança é livre para se expressar e realizar atividades que possam lhe trazer a máxima satisfação.

Desta forma, o Jogo se constitui para a criança como uma rica possibilidade de expressão durante sua infância. Vimos anteriormente que a criança ao jogar o faz com tanta seriedade que expressa seus sentimentos e emoções no jogo. Essa seriedade faz com que as brincadeiras e os jogos cumpram um importante papel nas atividades cotidianas da criança, o de tornar possível a comunicação entre o universo infantil com a realidade, ou seja, essas atividades podem ser vistas como o momento em que as crianças podem expressar sua forma pensar e de estar no mundo.

Brougère (1998, p.138) nos diz que “... o mundo do tempo livre das crianças, especialmente de seus jogos é cheio de sentido e significações, e é simbólico”. Com isso, a criança, no jogo, transfere ou transforma suas ações (simbólicas) para sua realidade.

Logo, entendemos que a Educação Física deve possibilitar à criança a compreensão do conteúdo Jogo, pois este é o mesmo que ela já realiza no seu cotidiano, no entanto, é por meio das aulas de Educação Física que a criança necessita ver significado em suas práticas.

Cabe-nos agora, identificar o Jogo nas aulas de Educação Física, a fim de compreender a contribuição das mesmas no cotidiano infantil, logo na formação e construção da cidadania da criança.

5. O Jogo nas Aulas de Educação Física

Como podemos ver, o Jogo se constitui em um importante caminho para a formação da cidadania da criança, uma vez que permite que esta possa dialogar com o mundo onde vive.

Desta forma, as aulas de Educação Física – única área de conhecimento que tem o Jogo como conteúdo – deve proporcionar ao aluno a significação dos jogos que pratica, ou seja, ao considerarmos o Jogo como uma prática inerente ao ser humano, concordamos que este por si só já joga. Logo, qual seria a contribuição da Educação Física ao ensinar o conteúdo Jogo?

Com isso, devemos considerar a possibilidade de fazer do Jogo, práticas metodológicas intencionais com o objetivo de ensinar, considerando-o como momento de criação e construção, valorizando a possibilidade de proporcionar prazer, alegria e facilitar o entendimento do jogo como ato social (ALVES, 2007).

Entendemos que é na Educação Física que o aluno vai aprofundar seus conhecimentos acerca deste conteúdo e, a partir disso, vai compreender a realidade em que vive. É necessário que os alunos entendam o contexto em que surgiram os jogos praticados em seu cotidiano, bem como as razões e ideais que os compõem.

O jogo nas aulas de Educação Física possui diferentes vertentes, enquanto pode ser visto como um fenômeno universal com diversidade de olhares, por possuir um caráter natural e espontâneo. Também pode ser entendido como recurso pedagógico nas aulas de Educação Física, por trazer consigo a possibilidade de explorar uma diversidade de conteúdos, superando a visão de simples elemento para o auxilio de certas habilidades.

A visão que vem ao encontro do que propomos é a que trata o Jogo como sendo uma fonte de conhecimento, possibilitando vivências corporais, além de fundamentos conceituais, os quais vão sistematizar e justificar o seu aprendizado. Traz como objetivo de ensino aprendizagem “os seus princípios, os seus fundamentos, as suas características próprias, aliados a possibilidade de uma formação crítica, participativa e autônoma” (SANTOS, 2004, p.263).

Logo, torna-se necessário que o professor de Educação Física possibilite que o jogo seja entendido e refletido pelos alunos, de forma que estes possam reconstruí-los e transformá-los. De acordo com Soares et al (1992) deve-se ver o jogo como constituinte do acervo cultural da humanidade, significando-o a partir de sua estruturação da ação pedagógica.

2. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS ENSINADOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA SOBRE A FORMAÇÃO DA CIDADANIA

1. Procedimentos Metodológicos

O presente estudo efetivou-se por meio de um estudo de caso, cujo objetivo foi verificar a contribuição da Educação Física na formação da cidadania da criança. Para tanto, aplicamos um questionário estruturado a sessenta crianças da 4ª série de um colégio da cidade de Londrina.

A opção pela referida escola, justifica-se por levarmos em consideração que este é um espaço de aplicação dos conhecimentos produzidos na Universidade. O Colégio possui duas turmas de 4ª séries, sendo uma no período matutino e outra no vespertino. A coleta dos dados deu-se no horário das aulas de Educação Física das turmas – quinta-feira de manhã e sexta-feira no período da tarde, sendo que cada turma tem duas aulas de 50 minutos durante a semana.

Para a realização da coleta de dados contamos com a iniciativa da orientadora deste estudo, que entrou em contato com a coordenação pedagógica e possibilitou ao acadêmico ser recebido pela direção do Colégio. Apresentando a carta pedindo autorização da escola para a aplicação da pesquisa, e portando o questionário a ser aplicado aos alunos, o acadêmico foi prontamente aceito e pode iniciar sua pesquisa.

Ao chegar nas salas, optamos em acompanhar os alunos, lendo e tirando dúvidas sobre o questionário, a fim de evitar possíveis interpretações equivocadas por parte dos alunos e ocupar o menor tempo possível de suas aulas. Cabe ressaltar, a grande aceitação dos alunos em contribuir com nossa pesquisa.

O questionário foi elaborado com sete questões, sendo as quatro primeiras com várias alternativas, em que os alunos poderiam assinalar quantas quisessem e as três últimas, questões abertas em que caberia aos alunos apontarem jogos, sendo um ou mais, referentes a preferência e jogos que aprenderam ou aprofundaram seus conhecimentos nas aulas de Educação Física. Ressaltamos que após o termino desse estudo apresentaremos, à escola que nos possibilitou coletar os dados, um relatório em forma de carta, com todos os resultados obtidos, a análise dos dados e a conclusão da pesquisa.

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2. Preferências de Jogos

A relação entre o que o aluno leva para sua vida cotidiana está intimamente ligada ao que ele mais gosta de fazer. Logo, o quadro a seguir refere-se à preferência dos alunos quanto aos jogos praticados por eles, seja no ambiente escolar, seja no não-escolar. Nessa questão os alunos tinham que responder qual era o jogo que mais gostava.

QUADRO 1: Preferência de Jogos

|JOGO PREFERIDO |PORCENTAGEM |

|Futebol |33,3% |

|Bola Queimada |31,7% |

|Bets |6,7% |

|Vídeo – Game |6,7% |

|Outros Jogos |21, 6% |

Fonte: Próprio pesquisador

Como podemos observar com esses dados, o Futebol aparece como jogo preferido para 33,3% dos alunos. Cabe ressaltar que não estamos entendendo o Futebol como Jogo, e sim como Esporte, uma vez que este tem regras institucionalizadas, que são respeitadas independentes do local onde o Futebol é praticado. Estamos tratando o Jogo, enquanto Jogo Popular, pois entendemos que este pode sofrer mudanças de regras, de nomenclaturas, com adaptações dependendo de quem está jogando, pois a criança é livre para modificá-lo.

Nesse sentido, percebemos que a Bola Queimada – representada por 31,7% das respostas – é bastante significante para os alunos e, como veremos mais adiante, conseguimos explicar isso ao verificarmos a influência que os alunos têm em suas aulas de Educação Física. Na mesma direção, aparece o Jogo de Bets, com 6,7% das respostas dos alunos.

Na contramão do que propomos, uma vez que estamos entendendo que o Jogo é um importante meio para que o aluno exerça seu papel de Cidadão interagindo com o mundo em que vive, percebendo e exercendo seus direitos e deveres, aparece o Jogo de Vídeo Game, nos remetendo ao fato de que para 6,7% da amostra, o Jogo quando praticado sozinho, mesmo podendo ser praticado por mais de uma pessoa, é mais prazeroso para ocupar o tempo livre do sujeito.

Outros Jogos ainda foram citados, dentre esses: pega – pega, pic esconde, amarelinha, ping pong, xadrez, bolinha de gude, dogibol e jogos de computador, representando um total de 21,6% das respostas dos alunos.

Visto isso, podemos dizer que as aulas de Educação Física têm proporcionado aos alunos grandes possibilidades de Jogos, no entanto, a ligação da Educação Física às questões esportivistas ainda é muito relevante. Observamos ainda que, embora tenham muitas praticas de jogos na escola, parte dos alunos preferem ficar sozinhos e jogar dentro de casa.

Desta forma, nos perguntamos qual está sendo a contribuição da Educação Física à interação do sujeito com o mundo? Será que a Educação Física tem procurado formar o aluno para a Cidadania?

A fim de responder essas questões, passamos agora para o entendimento sobre os jogos praticados dentro do espaço escolar no horário livre do aluno e nas aulas de Educação Física.

3. Jogos Praticados no Espaço Escolar

Neste momento optamos em fazer três tópicos, sendo o primeiro referente aos jogos praticados no horário livre da criança na escola, seja chegada, recreio ou saída da escola, o segundo, analisando os jogos praticados durante as aulas de Educação Física com a intervenção dos professores, e por fim, a relação entre os jogos que os alunos já conheciam e aprofundaram os conhecimentos nas aulas e os que aprenderam nas aulas e praticam em seu cotidiano.

2.3.1 Os jogos praticados no horário livre

O quadro abaixo refere-se aos jogos praticados pelos alunos no horário livre dentro do ambiente escolar, seja na chegada, recreio/intervalo ou saída do colégio. Vale ressaltar que os alunos tinham várias possibilidades para assinalar.

QUADRO 2: Jogos praticados no horário livre

|JOGOS PRATICADOS |PORCENTAGEM |

|Pega – Pega |56,7% |

|Polícia e ladrão |28,3% |

|Bola queimada |28,3% |

|Golzinho |28,3% |

|Amarelinha |21,7% |

|Pic – esconde |20% |

|Lutinha |20% |

|Pular corda |18,3% |

|Outros Jogos |73,3% |

Fonte: Próprio pesquisador

Podemos perceber que a maioria dos alunos – 56,7% – pratica o jogo de Pega-Pega e que o Golzinho, forma de jogo mais próxima do Futebol, ao lado de Bola Queimada e Polícia e Ladrão, aparece apenas para 28,3% das crianças.

Com números expressivos, ainda tivemos a amarelinha, pic esconde, lutinha e pular corda, com 21,7%, 20%, 20% e 18,3%, respectivamente.

Podemos verificar que, embora a preferência dos alunos nos remeta à prática do esporte, em especial, ao Futebol, no ambiente escolar a escolha das crianças é voltada para o Jogo Popular.

O que conseguimos concluir aqui é que, embora a preferência dos alunos seja o Futebol, eles não conseguem fazer o que mais gostam quando estão livres no ambiente escolar, da mesma forma, a bola queimada não aparece com tanta ênfase neste momento, ou seja, a escola não permite, seja por regimento, seja por espaço físico e falta de materiais, que os alunos façam aquilo que eles mais gostam quando estão em seu tempo livre. Logo percebemos que os alunos sentem-se privados de poder realizar atividades que mais se lhes dão prazer quando estão na escola, ainda que não estejam sendo monitorados e/ou sob intervenção do professor. Ainda apareceram, com números pouco expressíveis, jogos como: bafo, cinco marias, pic bandeira, mímica, jan Ken po e ping pong. A seguir apresentamos os Jogos praticados pelos alunos nas aulas de Educação Física.

2.3.2 Os jogos praticados nas aulas de Educação Física

Apresentamos, neste momento, o quadro referente aos jogos praticados nas aulas de Educação Física, novamente com os alunos podendo assinalar mais de uma alternativa e com os dados analisados a partir da porcentagem das respostas.

QUADRO 3: Jogos praticados nas aulas de Educação Física

|JOGOS PRATICADOS NAS AULAS |PORCENTAGEM |

|Bola Queimada |91,7% |

|Pega – pega |70% |

|Dama – Xadrez |60% |

|Pular corda |58,3% |

|Mímica |33,3% |

|Outros Jogos |96,7% |

Fonte: Próprio pesquisador

Neste quadro, podemos perceber que há certo consenso entre os alunos – 91,7% – ao elencar a Bola Queimada como sendo um jogo que praticam nas aulas de Educação Física. Tendo o Jogo de Pega – pega como o segundo mais praticado nas aulas para 70% dos alunos.

Os jogos de Dama/Xadrez e com Corda – 60% e 58,3% dos alunos, respectivamente, também são muito explorados pelos professores de Educação Física, assim como a Mímica. Cabe ressaltar que os alunos ainda se referiram a jogos como: pic bandeira, amarelinha, brincadeiras de roda, construção de brinquedos e pipa.

Com isso, podemos perceber que os professores proporcionam grande vivência de Jogos, mas pouco exploram esse conhecimento no sentido de levar os alunos a pensar, refletir, sobretudo na prática desses jogos na sua vida cotidiana.

Neste sentido, procuramos na sequência relacionar os jogos que os alunos já conheciam com os que aprenderam nas aulas de Educação Física, bem como a relevância dos mesmos na sua vida fora da escola.

2.3.3 Jogos que aprendeu nas aulas de Educação Física e leva para seu cotidiano nos momentos de lazer

No quadro 04, apresentamos os jogos que os alunos já conheciam e puderam aprender mais durante as aulas de Educação Física, por entendermos que a escola tem o papel de ressignificar os conhecimentos produzidos na sociedade, juntamente com os dados obtidos sobre os Jogos ensinados nas aulas de Educação Física e que os alunos praticam nos seus momentos de lazer.

QUADRO 04: Jogos que aprendeu nas aulas de Educação Física e leva para seu cotidiano nos momentos de lazer

| | | |

|JOGO |JÁ PRATICAVA EM SEUS MOMENTOS DE LAZER E |APRENDEU NA EDF E LEVA PARA SEUS MOMENTOS|

| |APRENDEU MAIS NA EDF |DE LAZER |

|Futebol |33,3% |35% |

|Bola Queimada |30% |83,3% |

|Pega – pega |23,3% |10% |

|Dama ou xadrez |16,7% |5% |

|Handebol |13,3% |10% |

|Pic Esconde |11,7% |6,7% |

|Bets |6,7% |10% |

|Outros Jogos |35% |35% |

Fonte: Próprio pesquisador

Novamente, os Jogos mais citados pelos alunos são Futebol e Bola Queimada, seguidos por Pega – Pega, Dama/Xadrez, Handebol e Pic Esconde.

Com isso, podemos perceber que grande parte dos alunos não tem um conceito formado sobre Jogo e Esporte que permita diferenciá-los e quando precisam elencar algum Jogo que conhece, a primeira opção que vem em mente é algo que está mais visível, como o Esporte que através da mídia possuem grande influência no cotidiano das crianças.

Logo podemos inferir que isso se deve ao fato de que nas aulas de Educação Física, os alunos não têm a possibilidade de estudar o Jogo Popular enquanto conteúdo, e que os professores proporcionam apenas vivências dessas atividades e, mesmo utilizando em demasia o Esporte, como podemos verificar na análise dos dados, não se preocupam em conceituar os dois conteúdos.

No entanto, verificamos que a Bola Queimada é quase que uma unanimidade ao observarmos os jogos que as crianças puderam aprofundar os conhecimentos nas aulas. Contudo, fica-nos a impressão de que o Jogo de Bola Queimada possa ser abordado como meio para aprendizagem de um Esporte ou ainda para desenvolver algumas habilidades.

Quando observamos os dados referentes aos jogos que aprendeu nas aulas de Educação Física e levam para seu momento de lazer, percebemos certa incoerência sobre o Jogo de Bola Queimada. Ao mesmo tempo em que para 83,3% dos alunos afirmam ter aprendido a Bola Queimada nas aulas de Educação Física, apenas 30% dizem que as aulas proporcionaram conhecimentos além dos que já possuíam.

Logo, podemos inferir que as aulas de Educação Física não têm proporcionado aos alunos aprofundar seus conhecimentos e que para as crianças o simples fato de jogar Bola Queimada significa que o professor está ensinando. Para o aluno, quando o professor muda a estratégia de um jogo, já significa o aprendizado de tal. No entanto, de acordo com Bracht (1999), em uma abordagem crítica, a Educação Física deve conscientizar o aluno e libertá-lo de falsas ilusões, valorizando o sujeito autônomo, que dialoga com o mundo por meio de seus movimentos, ou seja, deve proporcionar ao aluno, ressignificar seus conhecimentos e compreender sua realidade.

Vimos, também, que as aulas de Educação Física têm evidenciado maiores vivências de jogos que os alunos já conhecem e os professores têm enfatizado pouco aprendizado de novos jogos em suas aulas. Podemos verificar isso nos jogos de Pega – Pega, Dama/Xadrez, Handebol e Pic Esconde, onde os alunos apontaram, em maior número, que já conheciam e, em uma porcentagem menor, que aprenderam e levam para seu cotidiano. Porém, acreditamos que a pouca prática desses jogos no cotidiano do aluno, em especial, Dama/Xadrez e Handebol, deva-se à falta de materiais e a pouca apropriação dos mesmos em nossa sociedade.

A fim de deixar mais claro a prática dos jogos no espaço não-escolar, abordamos a seguir, os jogos praticados dentro de casa ou no quintal e aqueles que as crianças praticam na rua ou na calçada de casa.

2.4 Jogos Praticados no Espaço não-escolar

Neste tópico, optamos em dividir em dois momentos referentes à prática dos jogos no ambiente não-escolar. No primeiro momento, nos referimos aos jogos realizados dentro de casa, com pais, irmãos ou amigos e no quintal. Por último, analisaremos a questão dos jogos praticados na rua ou calçada.

2.4.1 Jogos realizados dentro de casa ou no quintal

O quadro a seguir apresenta os jogos que as crianças praticam dentro de casa ou no quintal, seja com pais, irmãos ou até amigos. Neste momento, as crianças tinham a liberdade de assinalar quantas alternativas quisessem e, ainda, caso não tivesse presente algum Jogo, poderiam acrescentar na opção outros Jogos.

QUADRO 5: Jogos realizados dentro de casa ou no quintal

|JOGOS PRATICADOS DENTRO DE CASA |PORCENTAGEM |

|Computador |83,3% |

|Vídeo Game |61,7% |

|Pega – Pega |50% |

|Stop/Jogo da Velha |48,3% |

|Dama/Xadrez |41,7% |

|Carrinho/Boneca |40% |

|Quebra – Cabeça |31,7% |

|Pintar e Colorir |26,7% |

|Bets |25% |

|Pipa |23,3% |

|Imitar banda de música |23,3% |

|Outros Jogos |83,3% |

Fonte: Próprio pesquisador

Como podemos ver os Jogos de Computador são muito influentes na vida do aluno – 83,3% das respostas –, assim como o Vídeo Game com 61,7% da indicação dos alunos. Os Jogos Populares, propriamente ditos, aparecem atrás desses. Vemos com maior expressão o Jogo de Pega – Pega, 50% e Stop/Jogo da Velha com 48,3%.

Com bastante expressão, temos ainda os Jogos de Dama/Xadrez, Carrinho/Boneca, Quebra – Cabeça, Pintar e Colorir, Bets, Pipa e Imitar Banda de Música.

Outras possibilidades aparecem em 83,3% das respostas e se referem a Jogos como: rolemã, bolinha de gude, alerta, mímica, acertar o alvo, corrida do pô, golzinho, vôlei, basquete e beisebol.

Percebemos que os alunos tendem a realizar atividades de forma isolada, como Jogos de Computador e Vídeo Game. Isso nos remete pensar que os alunos travam poucas relações com a sociedade e permanece isolado em suas casas. Além de nos mostrar que os pais pouco brincam com os filhos.

No entanto, nos chama a atenção o fato de que a maior parte dos alunos dizem preferir o Futebol e a Bola Queimada, mas quando nos remetemos à prática de Jogos em casa ou no quintal, estes nem aparecem como mais votados. Desta forma, podemos perceber os espaços físicos das moradias dos alunos tendem a ser menores, muitas vezes moram em apartamentos, o que impede que esses possam praticar Jogos que exigem um maior espaço.

Outro fator que nos chama a atenção é de que os alunos dizem que aprendem diversos jogos nas aulas de Educação Física, mas não conseguimos identificá-los acontecendo na vida do aluno, ou seja, as aulas de Educação Física não têm proporcionado aos alunos a apreensão do conhecimento sobre o Jogo e que este é uma importante ferramenta para a criança expressar-se no mundo, isso tudo acaba fazendo com que o aluno não veja sentido na prática do Jogo fora da escola e prefira realizar atividades sozinhos, com poucos relações interpessoais. No próximo tópico, procuramos relacionar os Jogos realizados na rua ou na calçada com os Jogos aprendidos nas aulas de Educação Física.

2.4.2 Jogos realizados na rua ou na calçada

Neste tópico optamos em apresentar os jogos que os alunos mais praticam na rua ou na calçada de suas casas, a fim de relacioná-los com os Jogos aprendidos nas aulas de Educação Física.

QUADRO 6: Jogos realizados na rua ou na calçada

|JOGOS REALIZADOS NA RUA |PORCENTAGEM |

|Bets |65% |

|Bola Queimada |63,3% |

|Pega – Pega |61,7% |

|Golzinho |55% |

|Pular Corda |38,3% |

|Pipa |36,7% |

|Jan Ken Pó |26,7% |

|Bolinha de Gude |20% |

|Não Joga na Rua |1,67% |

|Outros Jogos |81,7% |

Fonte: Próprio pesquisador

Como podemos ver o jogo que as crianças mais praticam na rua ou na calçada de suas casas é o Bets com 65% das indicações dos alunos, seguida de Bola Queimada com 63,3% e Pega – Pega com 61,7%.

Percebemos aqui, quando nos referimos aos jogos que o aluno aprende nas aulas de Educação Física e pratica no seu momento de lazer, o Bets apareceu apenas para 10% das crianças. Com isso, verificarmos que as aulas de Educação Física não proporcionam o aprendizado do Jogo Bets e que os conhecimentos que os alunos têm do jogo são adquiridos na própria rua, seja com os pais ou com os amigos.

No entanto, não podemos negar a grande influência da Educação Física nos jogos praticados no lazer da criança, visto a porcentagem das crianças que praticam, em especial, a Bola Queimada. Pois, ao nos referir a momentos anteriores, percebemos que a Bola Queimada é uma realidade nas aulas de Educação Física e os professores das duas turmas, tendem a ensinar sobre esse Jogo, mesmo que tenhamos a sensação de que a Bola Queimada apareça como estratégia para outro conteúdo.

Encontramos, nesse momento, dados satisfatórios quanto à vivência dos jogos no lazer da criança, pois apresentam jogos que pensávamos estar sendo deixados de lado e por percebemos que as crianças têm perdido espaço para jogar na rua, seja por motivos de violência, seja pelo avanço industrial (trânsito, prédios, indústrias).

Vale ressaltar que apenas 1,67% dos alunos apontaram que não jogam na rua e o motivo é o impedimento dos pais, devido ao medo do trânsito e da violência.

Contudo, ao relacionarmos os jogos praticados na rua ou na calçada com os jogos aprendidos nas aulas de Educação Física, não há como dizer que as aulas têm contribuído para essa prática, uma vez que os dados ficaram tão distantes um do outro. Ao contrário, podemos perceber que os alunos têm utilizado muito mais os conhecimentos que já possuem ou que são aprendidos em seu cotidiano.

Entendemos que a Educação Física, além de aprofundar e ressignificar esses conhecimentos, tem o papel de proporcionar aos alunos novas possibilidades de interagir com o mundo em que vive, através de seus diferentes conteúdos – Ginástica, Esporte, Jogos, Lutas e Dança (SOARES et al, 1992).

2.5 Relação do Jogo do espaço escolar e não-escolar com a formação para a cidadania

As aulas de Educação Física, de modo geral, pouco tem contribuído para a formação da cidadania, uma vez que entendemos que a criança, embora alguns autores não a trate como cidadão pleno, exerce seu papel de cidadão de direito ao travar reflexões e interações com o mundo.

Ao contrário disso, percebemos que os conhecimentos produzidos pela sociedade e ressignificados na escola, não tem proporcionado que os alunos se apropriem de maneira crítica do conhecimento.

Verificamos isso, ao entendermos que o Jogo é um conteúdo da Educação Física, muito próximo a realidade da criança e como vimos anteriormente, se caracteriza como uma possibilidade de interação do universo infantil com a sociedade. O jogo quando ensinado nas aulas de Educação Física, deveria criar condições aos alunos de compreender a sociedade em que vive e se comunicar com o mundo por meio de seus movimentos realizados no jogo. No entanto, ao analisar os dados, vimos que a criança tem aprendido mais sobre esse conteúdo na rua e que a escola, pouco tem favorecido aos alunos em termos de apropriação crítica desse conhecimento.

Não temos a pretensão de supor que o aluno não aprende em seu cotidiano, em seu momento de lazer, no entanto, o nível de reflexões proporcionadas na Educação Física deveria acontecer, de tal modo que a reprodução do conteúdo no cotidiano do aluno viesse ao encontro do que propõem as abordagens críticas de educação, ou seja, que portassem em si a possibilidade do aluno compreender sua realidade.

Como vimos nos dados analisados os alunos não tem clara a diferenciação do que seja Jogo e Esporte, o que nos remete a acreditar que o conteúdo Jogo tenha sido pouco explorado e que apareça apenas na forma de recurso ou simples prática de jogos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir por meio deste estudo, que o conteúdo jogo enquanto conteúdo curricular, no sentido de ampliar o conhecimento dos alunos, tem sido pouco explorados. No entanto, os professores oferecem muitas vivências de Jogos diferenciados.

Neste sentido, as aulas de Educação Física têm priorizado o Jogo apenas como prática e pouco têm aprofundado ou ressignificado os conhecimentos que os alunos já possuem. Desta forma, percebemos que os alunos praticam muitos jogos em seu momento de lazer, mas por terem aprendido no próprio cotidiano.

Identificamos que os jogos são ensinados ou proporcionados nas aulas de Educação Física, porém, os conhecimentos são superficiais e não vão além dos que a criança já traz de sua realidade. Com isso, ficamos com a impressão de que os Jogos são abordados nas aulas de Educação Física como recurso para o aprendizado de Esporte ou para desenvolver algumas habilidades. O Jogo como conteúdo fica empobrecido e a criança pouco consegue fazer relações com seu cotidiano, escolhendo, por exemplo, Jogos que impedem um maior diálogo com mundo. Quando o Jogo deveria aparecer como forma de apropriação de um conhecimento sistematizado, os alunos preferem jogar Vídeo – Game e Jogos de Computador, a manter uma relação mais próxima com outras crianças e com a sociedade.

Percebemos que os jogos mais praticados pelos alunos e com maior ênfase nas aulas de Educação Física são a Bola Queimada, Bets, Futebol e Pega-Pega, sendo que podemos verificar que o jogo de Bets é o mais praticado pelos alunos na rua. Contudo, o Jogo de Bets é pouco ensinado nas aulas de Educação Física e que o Futebol, embora não estamos considerando como Jogo, é o conteúdo mais citado quando nos referimos ao aprendizado que os alunos levam para seu momento de lazer.

Para realizar o estudo, encontramos muitas dificuldades na coleta de dados, pois em um primeiro momento, tínhamos definido uma escola, que por motivos administrativos não nos autorizou a aplicar nosso instrumento. Isso atrasou bastante o nosso processo, visto que tivemos que escolher outra escola.

O fato de ter ficado muito tempo sem computador e o período de suspensão de aulas por conta da Gripe H1N1, nos atrapalhou bastante, pois não tínhamos como digitalizar o estudo, a orientação ficou prejudicada e a coleta de dados não havia possibilidade de realizar.

Ao desenvolver este estudo, ficamos com a sensação de que Educação Física tem avançado muito nos últimos anos, em especial com o surgimento das abordagens críticas de educação. No entanto, os professores ainda precisam ter consciência de que é necessário continuar pesquisando e ressignificando a sua prática. Somente quando os professores modificarem a sua atuação é que a Educação Física ira cumprir seu papel de formar para a Cidadania.

Sendo assim, a partir do presente estudo, podem surgir novas pesquisas, como por exemplo: observar as aulas de Educação Física e os jogos acontecendo no cotidiano do aluno. E analisar a visão dos professores quanto a contribuição das aulas de Educação Física na formação da Cidadania.

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SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

ZERON, Carlos. A cidadania em Florença e Salamanca. In: PINSKY, Jaime;

PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). História da Cidadania. São Paulo: Contexto,

2003. p. 97-113.

APENDICE

Apendice A – Modelo da Carta de apresentação de resultados para a Escola

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À Coordenação Pedagógica

Colégio de Aplicação Campus-UEL

Inicialmente gostaríamos de agradecer vossa colaboração para o desenvolvimento de nossa pesquisa intitulada: Educação Física, Jogos e Formação da Cidadania. Nesse documento trazemos alguns dos pontos importantes que foram discutidos e analisados em nosso estudo.

Nas perspectivas atuais a Educação Física deve vir ao encontro do objetivo da educação, da escola e auxiliar na formação da Cidadania. Desta forma, entendemos que a Educação Física deve possibilitar ao aluno compreender a si mesmo e a cultura em que está inserido, interagindo com a realidade em que vive e exercendo seu papel de Cidadão emancipado. Visto isso, o objetivo do nosso estudo foi analisar a contribuição da Educação Física na formação da Cidadania, principalmente no que se remete o ensino dos jogos e a aplicação dos mesmos nos momentos de lazer dos alunos.

Ser cidadão está intimamente ligado aos direitos e deveres, mas também a posses e responsabilidades. Dessa forma, a Educação Física por meio de seus conteúdos, em especial nesse estudo o Jogo, deve proporcionar ao aluno, compreender-si enquanto sujeito de suas ações e apropriar-se de maneira crítica dos conhecimentos produzidos pela sociedade através dos movimentar-se.

Analisando os dados, podemos verificar que 33,3% das crianças têm o Futebol como Jogo de sua preferência e a Bola Queimada aparece com 31,7% das respostas. Quando nos referimos aos jogos praticados no horário livre dos alunos na escola (recreio/intervalo, chegada e saída do colégio), o jogo que mais aparece é o Pega-Pega, com 56,7% das respostas dos alunos. Dentro e fora do espaço escolar o jogo mais praticado pelos alunos é a Bola Queimada, assim como é o Jogo mais apontado pelas crianças como aprendidos nas aulas de Educação Física. Nos jogos praticados dentro de casa ou no quintal, verificamos que a maioria dos alunos pratica jogos de Computador e Vídeo-Game. Na rua o jogo de Bets é mais praticado pelos alunos, embora pouco ensinado nas aulas de Educação Física, o que nos permite inferir que as crianças aprendem mais sobre jogo em seu cotidiano que na escola.

Ao relacionarmos os dados com a formação da Cidadania, percebemos que a Educação Física necessita contribuir mais com a formação da cidadania, não apenas com o número e freqüência de realização de jogos, mas, principalmente, com as possibilidades de levar o aluno à reflexão. Os alunos precisam se apropriar dos conhecimentos, que os levem a pensar sobre os jogos, para que superem o nível do senso comum que os mesmos possuem sobre os jogos que realizam. Nesse sentido, a Educação Física precisa proporcionar a compreensão acerca dos saberes sobre jogos, levando-os a entender sua realidade, interpretar a sociedade e poder interagir de forma crítica e reflexiva no meio em que vive.

Londrina, 11 de dezembro de 2009.

EDERSON RODRIGUES MACHADO

Pesquisador do TCC

GISELE FRANCO DE LIMA SANTOS

Orientadora do TCC

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