PEDAGOGIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS - Resumo



Pedagogia e as Novas Tecnologias

Iolanda B. C. Cortelazzo

iolanda.cortelazzo@utp.br

Programa de Mestrado em Educação FCHLA

Universidade Tuiuti do Paraná

A sociedade deste início do século XXI, conhecida, agora, como Sociedade do Conhecimento, não pode dispensar a educação formal que se sistematiza na instituição escola, ainda que homens e mulheres, crianças, adolescentes e jovens, sejam bombardeados por informações pelos mais diferentes meios de comunicação, na rua, nas igrejas, nos bancos, nos estádios de futebol e, mesmo em casa. Porém, essas informações que se deslocam, envelhecendo e morrendo com velocidade cada vez maior (Gadotti, 2002, p.32) pelo avanço das novas tecnologias, precisam ser selecionadas, avaliadas, compiladas e processadas para que se transformem em conhecimento válido, relevante e necessário para o crescimento do homem como ser humano em um mundo sustentável.

Visto que a presença das tecnologias nos mais diversos setores da sociedade contemporânea, é irreversível, orientar os professores para uso das novas tecnologias de informação e de comunicação como tecnologias interativas em projetos pedagógicos tanto no seu desenvolvimento contínuo quanto na sua prática pedagógica se faz urgente. A urgência se deve não apenas no sentido de preparar os indivíduos para usá-las, mas principalmente, para prepará-los como leitores críticos e escritores conscientes das mídias que servem de suporte a essas tecnologias. Não basta ao cidadão, hoje, aprender a ler e escrever textos na linguagem verbal. É necessário que ele aprenda a ler outros meios como o rádio, a TV, o videogame, o programa de multimídia, o programa de computador, as páginas da WWW. Ao usar as tecnologias, é fundamental que ele não se deixe usar. É essencial que os professores se apropriem, portanto, das diferentes tecnologias de informação e de comunicação, aprendendo a ler e a escrever as diferentes linguagens, representações usadas nas diversas tecnologias.

Este artigo pretende apresentar algumas indicações e reflexões que possam orientar a otimização dessa apropriação por estudantes de Pedagogia.

Os cursos de Pedagogia não devem abrir mão dessa responsabilidade que vem sendo assumida por técnicos e professores de informática, comunicadores, engenheiros, que acabam por enfocar apenas os aspectos operacionais das tecnologias de informação e de comunicação e não se referem a uma complexidade de relações de poder, de manipulação, de formação e, mesmo, de filosofia que estão subjacentes à sua introdução na escola. É momento de se organizarem equipes multidisciplinares com esses profissionais e compartilhar seus saberes de modo que haja aprendizagem significativa tanto por parte dsos professores em relação à tecnologia quanto desses profissionais técnicos em relação à prática pedagógica. Assim a atuação com os alunos não será só operacional, nem só pedagógica e conceitual.

É fundamental que se tenham claros os conceitos e termos com os quais vou trabalhar neste texto e na preparação dos docentes para o uso das Tecnologias de Informação de Comunicação para melhor compreensão do texto.

Significados

Entendendo por tecnologia a aplicação de um conhecimento científico ou técnico, de um “saber como fazer”, de métodos e materiais para a solução de um dado problema, este texto tratará das Tecnologias de Informação e das Tecnologias de Comunicação como mediadoras do processo de ensino e aprendizagem e como tecnologias colaborativas.

Tecnologia de Informação designa toda forma de gerar, armazenar, processar e reproduzir a informação. Exemplos de suportes de armazenamento de informações são o: papel, os arquivos, os fichários, as fitas magnéticas, os discos óticos. Dispositivos que permitem o seu processamento são os computadores e os robôs, e exemplos de aparelhos que possibilitam a sua reprodução são a máquina de fotocopiar, o retroprojetor, o projetor de slides.

Tecnologia de Comunicação designa toda forma de veicular informação. Tem-se como meios de veiculação, incluindo as mídias mais tradicionais, os pergaminhos, os tambores na selva, os livros, o fax, o telefone, o jornal, do correio, o telex, as revistas, o rádio, a TV, o vídeo, as redes de computadores, até a Internet.

Na atualidade, os diferentes usos dessas mídias se confundem e passam a ser característicos das Tecnologias de Informação e de Comunicação, que mudam os padrões de trabalho, o tempo, o lazer, a educação, a saúde e a indústria e criam uma nova sociedade, novos ambientes de trabalho, novos ambientes de aprendizagem um novo tipo de aluno que precisa de um novo tipo de professor.

As tecnologias de informação e de comunicação, usadas na comunicação social, estão cada vez mais interativas,. pois permitem a interação dos seus usuários (que não são mais só receptores) com recursos que lhes permitem escolhas e caminhos diferentes, como o vídeo interativo , a TV a Cabo, os programas de multimídia, e a Internet. São tecnologia que permitem a elaboração e manipulação conjunta de conteúdos específicos por parte do emissor (professor/aluno) e do receptor (aluno/professor), codificando-os, decodificando-os, recodificando-os conforme as suas realidades , as suas histórias de vida e a cultura em que vivem; permitindo uma comunicação mais dinâmica, alternando os papéis de emissor (professor/aluno) e receptor (aluno/ professor), de ensinante e aprendente, como co-protagonistas e colaboradores da ação educativa.

Incorporar de forma inteligente as tecnologias interativas significa: adotar uma postura positiva e interdisciplinar em relação à tecnologia; manter as características identificadoras da cultura popular e nacional; trabalhar com as tecnologias de informação e de comunicação como elementos emancipatórios na prática pedagógica.

Tecnologia colaborativas são as tecnologias que permitem a otimização do trabalho em equipe colaborativo. Esclarecendo, as tecnologias de informação e de comunicação podem ser usadas para se atingir objetivos individuais isoladamente. Assim, quando um professor pesquisa em bases de dados da Internet e, ao descobrir textos interessante, guarda-os para seu uso particular em sua biblioteca virtual individual (em disquete, CD-ROM ou no disco rígido de seu computador), os seus objetivos individuais estão sendo contemplados. Se, por outro lado, comunica a existência desses textos a outros professores que estão trabalhando com ele(a) em um projeto comum, propondo uma leitura e discussão conjunta através dos serviços da própria Internet (e-mail, fórum de discussão ou teleconferência), essa tecnologia se reveste de uma característica que otimiza a colaboração, daí ser então denominada de tecnologia colaborativa. O computador ou a rede de computadores não são os únicos meios que servem a tecnologia colaborativa. Outros suportes tradicionais como o livro, o audiocassete, e mesmo o videocassete podem ser caracterizados como suportes de uma tecnologia colaborativa se forem usados como apoio para o compartilhamento de um trabalho de equipe que tem objetivos comuns. Assim quando gravo minhas impressões sobre um texto em uma fita de áudio e recebo de volta essa fita (ou uma cópia dela que também foi distribuída para todos os elementos da equipe) com as impressões de meus outros colegas, utilizo-me de uma tecnologia tradicional como tecnologia colaborativa.

Aprender para ensinar

Ao se trabalhar, adequadamente, com essas tecnologias, constata-se que a aprendizagem pode se dar com o envolvimento integral do indivíduo, isto é, do emocional, do racional, do seu imaginário, do intuitivo, do sensorial em interação, a partir de desafios, da exploração de possibilidades, do assumir de responsabilidades, do criar e do refletir juntos (Kenski,1996, p.146).

Trabalhar com as tecnologias de forma interativa nas aulas de cursos escolares requer: a intencionalidade de aperfeiçoar as compreensões de alunos sobre o mundo natural e cultural em que vivem. Faz-se, necessário o desenvolvimento contínuo de interações cumulativas desses alunos com dados e informações sobre o mundo e a história de sua natureza, de sua cultura, posicionando-se e expressando-se, de modo significativo, com os elementos observados, elaborados que serão melhor conhecidos, melhor sabidos.

O lay-out das salas de aula deverão mudar, como já mudaram em algumas instituições de ensino no Brasil e estão mudando em muitas regiões do mundo. Esta é a parte visível da introdução de novas tecnologias na educação. Mas, hoje, como no final do século XIX quando se introduziu o quadro negro na sala de aula, ou na década de 20 do século XX, quando se tentou introduzir o cinema na Educação, a implantação se inicia e continua com a criação de uma certa infra-estrutura tecnológica e um programa de utilização sem que os professores sejam treinados operacionalmente, capacitados metodologicamente e filosoficamente para a utilização dessas novas tecnologias na sua prática pedagógica.

O papel do professor tem que mudar também, e os cursos de Pedagogia precisam preparar os professores para não perderem o controle da tecnologia que são solicitados ou se dispõem a usar em suas salas de aulas. Os professores precisam aprender a manipular as tecnologias e ajudar os alunos a, eles também, aprenderem como manipulá-las e não se permitirem serem manipulados por elas. Mas para tanto, precisam usá-las para ensinar, saber de sua existência, aproximar-se das mesmas, familiarizar-se com elas, apropriar-se de suas potencialidades, controlar sua eficiência e seu uso e criar novos saberes e novos usos, para poderem estar, de fato, no controles das mesmas e poderem orientar seus alunos a “lerem” e “escreverem” com elas.

As tecnologias de informação e de comunicação tem estado à disposição do ser humano desde que os homens escreveram nas cavernas, pela primeira vez, usando carvão e substâncias para tingir em rituais religioso ou de caça. Ao longo da história do homem, o armazenamento e a comunicação da informação para se resolver determinadas situações foram se aperfeiçoando, mas continuam encontrando resistência por parte de professores na sua apropriação e na sua utilização. Os professores podem tirar o que há de melhor dessas tecnologias. Devem ter consciência, ao utilizá-las, que elas não são neutras, e que se deve questionar o que representam, revertendo o seu uso em proveito da sua prática pedagógica tanto quanto em proveito da aprendizagem de seus alunos.

Os alunos têm diferentes estilos de aprendizagem que se expressam em diferentes formas de representações. Uns são mais auditivos, outros são mais visuais; uns precisam de textos que completem as imagens; outros precisam de imagens que complementem os textos. Uns são mais lineares na aprendizagem, outros, precisam de uma certa hipertextualidade. Enfim, as diferentes formas de expressão podem ser otimizadas em um primeiro momento, aumentando a auto-estima do aluno, para depois, aproximá-lo das formas de expressão que lhe apresentam maiores dificuldades, orientando-os a desenvolverem novas habilidades.

Se os professores conhecerem, manipularem e controlarem essas tecnologias, cujos meios formam uma rede de mídias, poderão orientar seus alunos a trabalharem com elas, a desmistificarem seu uso, a decodificarem sua linguagem e tornarem-se leitores e escritores proficientes dessas mídias e quando necessitarem do apoio da tecnologia saberem fazer as escolhas apropriadas. Os professores não devem substituir as “velhas tecnologias” pelas novas, devem, antes, se apropriar das novas para aquilo que elas são únicas e resgatar os usos das velhas em rede com as novas, ou seja, usar cada uma naquilo que ela tem de específico e, portanto, melhor do que a outra.

O uso e controle das tecnologias devem servir ao professor não só em relação à sua atividade de ensino, mas também na sua atividade de pesquisa. E a pesquisa com as novas tecnologias tem características diferentes que estão diretamente ligadas à procura da informação.

Informática e educação

O computador, a linguagem digital e as redes de computadores, mais especificamente, a Internet, abrem infinitas possibilidades para os professores pesquisadores. As redes comunicacionais podem ajudar as pessoas se aproximarem e/ou acessarem bancos de dados e repositórios de informação, quebrando os limites e as barreiras de tempo e espaço. Mas não basta dar-lhes competência no acesso às informações. É fundamental que se lhes desenvolvam critérios para buscar, selecionar, tratar e divulgar as informações em forma de conhecimento reelaborado. Jarbas Novelino Barato, que trabalha há mais de 15 anos com as tecnologias em educação, chama a atenção para o fato de que só a existência de redes que permitem acesso a qualquer tipo de informação não significa melhorar a educação, “Para que haja educação”, diz Barato, “é preciso muito mais do que uma massa formidável de informações imediatamente acessíveis: é preciso que haja elaboração do saber, considerando o jogo da interatividade entre conhecimento, informação e ação humana”(2002, p. 109)

Ao se falar de novas tecnologias, pensa-se imediatamente, em computadores e redes de computadores e muitos confundem computadores e informática. Projetam informatizar as escolas e, novamente, preocupam-se apenas com a infra-estrutura, com a introdução de computadores nas escolas, sem se preocupar que sistemas informacionais estarão sendo introduzidos e trabalhados.

A informática é potencializada pelos computadores, mas não pode se resumir à sua introdução nas escola. A Informática é a ciência do tratamento automático da informação que tem por objetivo a conservação dos conhecimentos e sua comunicação[1]. Nilson José Machado enfatiza que o que não se pode deixar de lado é, exatamente, a preocupação com a “natureza informacional dos conteúdos escolares ou as características de controle do sistema escolar, além de outros ingredientes de uma cultura informática em sentido amplo” (Machado, 1996, p.235-236). A sedução ou o repúdio que as tecnologias provocam nas pessoas não deve se sobrepor à necessidade de se entender e se trabalhar com as questões subjacentes ao emprego dessas tecnologias. As tecnologias devem ser introduzidas na escola a serviço do projeto pedagógico da instituição e de princípios e valores fundamentais para a realização de uma vida sustentável. Como diz Machado, a questão não é se introduzir novos conteúdos, mas reconhecer e articular conteúdos escolares já tratados com a Informática, é reavaliar a função da escola nestes novos tempos não perdendo de vista os “princípios norteadores das novas funções, como a capacidade de argumentação, a tolerância, a diversidade de opiniões, os valores democráticos e de constituição de uma cidadania consciente e crítica” (Machado, 1996, p. 252).

Pedagogia e a formação do professor

Os professores devem trabalhar com seus alunos não só para ajudá-los a desenvolverem habilidades, procedimentos, estratégias para coletar e selecionar informações, mas, sobretudo, para ajudá-los a desenvolverem conceitos. Conceitos que serão a base para a construção de seu conhecimento. Como diz Gadotti, o professor “deixará de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem (...) um mediador do conhecimento, um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador, e sobretudo, um organizador de aprendizagem” (2002, p. 32).

Para encerrar estas reflexões, não se pode deixar de enfatizar a importância de se repensar as práticas docente a partir da valorização do processo de interação, cooperação e colaboração que devem estar presentes tanto na educação presencial quanto na educação a distância, alternativa metodológica tão discutida nos dias atuais e que vem sendo praticada por profissionais das áreas mais variadas, com ênfase no uso das tecnologias, mas muito pouco por professores. É muito preocupante como os professores estão afastados dessas práticas alternativas, apresentando muita resistência. A Pedagogia precisa repensar seu currículo e preparar seus professores tanto para se apropriarem das tecnologias de informação e comunicação quanto para a prática da educação a distância que se vê viabilizada por essas tecnologias.

Os professores precisam ter competência para escolher se querem ou não usá-las, se querem ou não praticar educação a distância. O que não é mais aceitável é que se faça resistência a umas e/ou a outra por insegurança ou falta de proficiência.

Como dizem Pimenta e Anastasiou, “o desafio é educar as crianças e os jovens, propiciando-lhes um desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico de modo que adquiram condições para enfrentar as exigências do mundo contemporâneo” ( Pimenta e Anastasiou , 2002, p.12).

Assim, os professores precisam estar profissionalmente qualificados e, hoje, não se pode falar em qualificação sem apropriação das tecnologias. A Pedagogia como responsável pela formação de parte desses profissionais deve, pois, ter seu currículo preparado para prover essa formação, aliando a teoria à uma prática reflexiva.

Referências Bibliográficas

Barato, Jarbas Novelino. Aqui Agora: novas tecnologias, o local e o universal. IN Escritos sobre Tecnologia Educacional e Educação Profissional. São Paulo, SENAC, 2002.

Cortelazzo, Iolanda. B. C. Colaboração, Trabalho em Equipe e Novas Tecnologias de Comunicação: Relações de Proximidade em Cursos de Pós-Graduação. Tese de Doutorado, FE-USP, 2000.

__________. Computador para interação comunicativa. Comunicação e Educação. São Paulo, [16]: 19 a 25, set./dez., 1999.

Gadotti, Moacir A boniteza de um sonho: aprender e ensinar com sentido. abceducatio. ano III, n. 17, p. 30-33, 2002.

Kenski, Vani Moreira. O Ensino e os resursos didáticos em uma sociedade cheia de tecnologias. In VEIGA, Ilma P. Alencastro (org). Didática: o Ensino e suas relações. Campinas,SP, Papirus, 1996.

Machado, Nilson José. Epistemologia e Didática: As concepções de conhecimento e inteligência e a prática docente. São Paulo, Cortez, 1996.

Pimenta, Selma Garrido e Anastasiou , Lea das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. Sã Paulo, Cortez, 2002

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[1] Tradução da definição encontrada no Dictionaire du Français Contemporain (p. 631), que melhor corresponde ao que entendo por Informática..

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