Textos para - UERJ

Grupo de Estudos Multidisciplinares da A??o Afirmativa

textos para discuss?o

10/

Televis?o em Cores? Ra?a e sexo nas telenovelas

"Globais" (1984-2014)

Luiz Augusto Campos Professor IESP-UERJ Jo?o Feres J?nior Professor IESP-UERJ

Expediente

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ Instituto de Estudos Sociais e Pol?ticos ? IESP

Grupo de Estudos Multidisciplinares da A??o Afirmativa

gemaa@iesp.uerj.br

Coordenadores

Jo?o Feres J?nior Luiz Augusto Campos

Pesquisadores Associados

Marcia Rangel Candido Veronica Toste Daflon

Assistentes de pesquisa

Gabriella Moratelli Leandro Guedes Luna Sassara Poema Eur?stines

Capa, layout e diagrama??o

Luiz Augusto Campos

textos para discuss?o do gemaa / ano 2015 / n. 10 / p. 2

10/ textos para discuss?o gemaa

Televis?o em Cores? Ra?a e sexo nas telenovelas "Globais" (1984-2014)

Luiz Augusto Campos Professor IESP-UERJ

Jo?o Feres J?nior Professor IESP-UERJ

Desde sua populariza??o, as novelas da Rede Globo de Televis?o tomaram para si a tarefa de representar o Brasil de m?ltiplas maneiras. Apesar disso, a participa??o das personagens pretas e pardas nos elencos desses programas sempre esteve aqu?m do seu peso demogr?fico no pa?s. Este texto apresenta os dados gerais de um levantamento que buscou medir a representa??o de atrizes e atores pretos ou pardos na teledramaturgia da emissora. Embora os dados detectem uma t?mida tend?ncia ? diversifica??o dos elencos, eles demonstram que os elencos das novelas brasileiras ainda s?o hegemonicamente brancos.

Desde a sua populariza??o na d?cada 1960, a telenovela brasileira se caracterizou por nutrir uma rela??o estreita com os projetos nacionalistas das elites dirigentes. ? verdade que a produ??o das primeiras novelas de alcance nacional, sobretudo pela Rede Globo de Televis?o, dependeu de uma complexa articula??o entre grupos art?sticos, econ?micos e pol?ticos bastante heterog?neos do ponto de vista ideol?gico. Como ? de amplo conhecimento, o suporte dado ? emissora pelo Estado ditatorial instaurado em 1964 n?o impediu que uma parte consider?vel dos escritores, diretores e atores, quem efetivamente produzia esses programas, tivesse v?nculos com movimentos pol?ticos de esquerda, cr?ticos ao regime. Mas apesar desses antagonismos ideol?gicos, entidades estatais, empres?rios e artistas convergiam ao menos no car?ter nacionalista de seus projetos pol?ticos, o que se refletiu na concep??o de teledramaturgia que se tornou hegem?nica no pa?s.

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Diferentemente do enfoque quase que exclusivo na vida privada dos personagens e em suas tramas afetivas e familiares, que caracteriza as soap operas norteamericanas e as telenovelas de pa?ses latino-americanos, como M?xico e Col?mbia, a telenovela brasileira tornou-se tamb?m um instrumento de difus?o (e forma??o) de uma compreens?o de identidade nacional, de suas supostas caracter?sticas essenciais, dilemas e desafios.

Um dos elementos centrais na representa??o de qualquer na??o ? a representa??o de seu povo, de suas caracter?sticas f?sicas, morais e culturais, vide, entre outros exemplos, as feiras mundiais que se tornaram populares nos Estados Unidos e Europa a partir do final do s?culo XIX (Salvatore, 2006). A despeito de pretender oferecer uma representa??o apol?tica do povo brasileiro; uma em que ele pudesse se reconhecer ? inten??o esta sintetizada por slogans como "A Globo ? mais Brasil", "Globo, um caso de amor com o Brasil" ou "Globo, a gente se v? por aqui"1 ? tal representa??o s? pode ser feita por meio de escolhas, filtragens, supress?es etc. Durante a Ditadura Militar, o contexto de alta repress?o pol?tica e ideol?gica n?o permitia que tais escolhas de representa??o da na??o por meio do seu povo fossem contestadas, mas a partir do processo de democratiza??o e da reativa??o dos movimentos sociais, tais pr?ticas come?aram a sofrer forte escrut?nio cr?tico.

Este Texto para Discuss?o apresenta os dados gerais de uma pesquisa sobre a representa??o dos grupos raciais brasileiros nas telenovelas da Rede Globo de Televis?o nos ?ltimos trinta anos (1984-2014). N?o obstante o imagin?rio nacional formado e divulgado pelas novelas ser limitado e excludente em muitas dimens?es (regionais, et?rios, socioecon?micos etc.), nosso texto avalia somente a intera??o entre g?nero e ra?a na representa??o das personagens. O estudo que informa a atual an?lise ainda est? em curso. Aqui s?o apresentados parte dos resultados obtidos at? o presente momento. A partir deles, ? poss?vel afirmar que as personagens pretas e pardas n?o apenas correspondem a uma propor??o diminuta dos elencos, como tamb?m se fazem mais presentes em novelas de tipos espec?ficos. Isso ajuda a entender que a sub-representa??o dos pretos e pardos nas telenovelas n?o ? apenas express?o de um limite flagrante da concep??o de Brasil

1 Uma lista completa dos slogans da emissora est? dispon?vel em .

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que informa este tipo de produ??o cultural, mas ? tamb?m a express?o de uma concep??o de na??o e de povo cujos contornos pol?ticos precisam ser explicitados e criticados.

Metodologia

Em compara??o ?s suas cong?neres no mundo, a telenovela brasileira se particulariza por duas caracter?sticas: (i) envolve um n?mero extenso de atores e atrizes e (ii) possui uma dura??o longa, ainda que finita. As telenovelas estadunidenses (soap operas), por exemplo, n?o costumam possuir um prazo determinado para acabar e muitas vezes se estendem por d?cadas. N?o obstante a dura??o das novelas brasileiras varie, em grande medida por influ?ncia de sua audi?ncia, elas costumam durar entre seis e doze meses. Mas ao contr?rio das soap operas estadunidenses, as novelas brasileiras em geral possuem uma trama complexa, dividida em in?meros n?cleos narrativos e, por isso, empregam elencos numerosos, aproximando-se, assim, da teledramaturgia mexicana.

A dura??o e a complexidade narrativa s?o dois fatores que dificultam a pesquisa com telenovelas. Os dois fatores criam obst?culos para que se possa acompanhar, do in?cio ao fim, o desenrolar de uma trama, quanto mais de v?rias novelas ao longo dos anos. Por conta disso, a presente pesquisa se serviu de uma base de dados criada pela pr?pria Rede Globo de Televis?o e disponibilizada no portal "Mem?ria Globo" (), que cont?m informa??es t?cnicas e resumos das tramas de novelas que a emissora levou ao ar. Os dados a seguir foram compilados a partir desse reposit?rio. Embora ele tenha limita??es patentes, relacionadas tanto ? qualidade desigual dos resumos oferecidos quanto ? dificuldade em se resumir narrativas que duram meses, o site compila com rigor ao menos os elementos centrais das narrativas principais dessas novelas.

Em geral, o site divide as narrativas que compuseram cada novela em "trama central" e "tramas paralelas". Baseada nessa divis?o, a pesquisa compilou em outro banco de dados os nomes das personagens e atores/atrizes em todas as tramas centrais. Em alguns casos, mormente nas novelas mais antigas, o n?mero de personagens citados nas tramas centrais era muito pequeno, o que nos levou a complement?-lo com personagens das tramas paralelas. Em m?dia, foram

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