A escolarização como campo específico de estudo, torna-se ...



FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR EM SOROCABA

Jorge Luís Cammarano González

Wilson Sandano

Universidade de Sorocaba (UNISO)

O projeto

Esta pesquisa refere-se ao levantamento e à sistematização do acervo documental da educação escolar em Sorocaba, no período de 1830 a 1920.

O estudo da escolarização tem se tornado o espaço da produção da política e da valorização do trabalho como elemento que funda a prática social; dos processos históricos de constituição das relações e da racionalidade escolar; das formas privilegiadas de ensino-aprendizagem e sua articulação com as demandas sociais de conhecimento e, finalmente, de um conjunto de fatores que atuam sobre o cotidiano escolar, sobredeterminando e ressignificando as ações específicas de escolarização. Acrescente-se que a educação escolar indica a apreensão de um fenômeno específico de produção e circulação do conhecimento e de valores que se atualiza em instituições objetivas e materiais, as quais, inclusive, lhe oferecem contornos históricos mais precisos.

Com base nessas considerações formulamos uma questão inicial e norteadora desta pesquisa: como ocorreu, historicamente, a formação e a institucionalização do processo de educação escolar em Sorocaba e região?

A possível resposta a essa indagação requer um esforço no sentido de pensarmos as instituições escolares como expressão da formação, organização, gestão e objetivação do processo de escolarização, aspectos que incidem no desenvolvimento deste projeto na linha de Pesquisa “Instituição escolar: políticas e práticas”, vinculada à área de concentração “Educação Escolar”, do Programa de Mestrado em Educação da Universidade de Sorocaba (Uniso).

A área de concentração Educação Escolar remete para um espaço teórico produzido na articulação da Educação com a História e as Ciências Sociais. Um espaço, portanto, que reconhece a historicidade do fenômeno educativo e de sua institucionalização e que busca apreender os nexos processuais de formação, implantação, normalização, gestão, organização, conflitos e contradições da educação escolar no âmbito da formação social brasileira. Em outros termos, trata-se de investigar a instituição escolar em todos os níveis como expressão de seus sujeitos e dos processos sociais, políticos, culturais e econômicos historicamente produzidos no contexto da sociedade brasileira.

A história das instituições educacionais integra uma tendência recente da historiografia, que confere relevância epistemológica e temática ao exame das singularidades sociais em detrimento das precipitadas análises de conjunto, que, sobretudo na área educacional, faziam-se presentes (GATTI JÚNIOR, 2002, p. 4).

Assim, a partir desse referente investiga-se o contexto do espaço escolar de Sorocaba, que historicamente expressa as múltiplas dimensões da práxis educacional, revelando no processo de sua formação, sua inserção local e regional, as mutações de seu lócus político-administrativo e as experiências vivenciadas pelos sujeitos da ação educativa - aqui focados por meio do estudo das fontes da história da educação escolar em Sorocaba. Em relação às mediações entre o regional e o nacional, consideramos relevante a seguinte afirmação.

(...) os termos regional e nacional são expressões em escala diferente, do singular. O universal corresponde ao movimento dado pela lei da totalidade, isto é, da sociedade capitalista, e o singular cinge-se ao lócus em que esse movimento se realiza: uma região, uma instituição educacional, a obra teórica e/ou prática de um educador, etc. Portanto, universal e singular são indissociáveis e os objetos de pesquisa só são suficientemente captados quando revelam essa indissociabilidade. Nesse sentido, as expressões nacional e regional não se opõem ao universal. São, isto sim, formas por meio das quais o universal se realiza. Como são formas sempre peculiares, em decorrência dos condicionamentos econômicos e culturais de cada região ou nação, são, por isso, expressões singulares de realização do universal. Sob esse aspecto, ao pesquisador das temáticas regionais cabe desvelar como a forma singular, que se expressa no seu objeto, realiza o movimento pertinente ao universal e como, para cada objeto investigado, se dá a mediação do nacional (ALVES, 2001, p.164).

Assinalamos que a apropriação do tema-objeto proposto representa a conjugação de dois interesses básicos. Um incide sobre a necessidade de superar o caráter lacunar da história da educação escolar no Brasil e, em particular, de Sorocaba e região. O outro interesse aqui alimentado traduz a preocupação com a prática em pesquisa compreendida como esforço coletivo na direção da produção de conhecimento científico elaborado com base na interlocução de referenciais e procedimentos teórico-metodológicos representativos da complexa tarefa imposta pela especificidade do fenômeno educativo.

O projeto em tela é produzido com base em três expressões da materialidade histórica: (1) as fontes documentais examinadas e sistematizadas; (2) a história da educação escolar em Sorocaba e região, - investigada, analisada e interpretada com base na produção historiográfica existente, articulada às fontes incorporadas a esta pesquisa -; e (3) os procedimentos de análise, potencializados, por meio da produção historiográfica sobre a história da educação no Brasil, no período de 1830 a 1920, que referenciam – como posteriormente explicitaremos, no âmbito da produção historiográfica correspondente à história de Sorocaba e região -, a decadência do tropeirismo e o processo de industrialização.

A dinâmica deste processo de investigação requer os estudos das fontes existentes e sua interlocução com os documentos incorporados, num esforço que busca a apropriação das histórias anteriores, das memórias registradas na produção dessas histórias, e das fontes e referenciais teórico-metodológicos que subsidiaram esse processo.

Pode-se afirmar, com segurança, que o campo da pesquisa histórica passou, desde meados dos anos de 1950, por um intenso processo de renovação teórica e metodológica, impulsionado pelo esforço de superação de uma historiografia que, em uma de suas formas, produzia uma descrição dos fatos eminentemente políticos, construída sob os auspícios da tradição positivista; e, em outra de suas modalidades, fomentava uma narrativa carregada de análises que privilegiavam os aspectos econômicos da vida social em detrimento de outras esferas da produção do social (GATTI JÚNIOR, 2002, p. 6).

O campo de pesquisa histórica de Sorocaba e região representa um processo de investigação, análise e interpretação com desdobramentos nos procedimentos teóricos e metodológicos, cujo registro – embora minimamente delineado – traduz e reafirma conforme observa GATTI JÚNIOR (2002), a riqueza e a complexidade do tema – objeto em tela: o estudo de fontes para a história da educação escolar em Sorocaba.

Consideramos relevante reafirmar a riqueza e a complexidade do tema-objeto proposto com base na caracterização do tratamento teórico metodológico dedicado ao processo de formação de Sorocaba e dos processos de escolarização correspondentes. Este propósito nos auxilia em dois sentidos. Por um lado, procuramos informações que contextualizam o período correspondente às fontes documentais: 1830 - 1920; concentrando nossa atenção, por exemplo, na formação do espaço histórico de Sorocaba; nas práticas produtivas correspondentes a esse período; nas relações entre Estado, política educacional e sistema escolar. Por outro lado, a produção historiográfica preliminarmente consultada, possibilita apreender o debate teórico–metodológico que referencia essa produção pertinente ao contexto de Sorocaba e região. Nessa direção, uma primeira observação registra que:

A História do Estado de São Paulo é muito pouco conhecida. Não é objeto de estudo nos cursos universitários de História paulista, uma exceção no país. Além disso, o conhecimento corrente é escasso, lacunar e pontual. Os itens mais conhecidos são Bandeiras, Expansão cafeeira e Industrialização, como se todas as regiões tivessem sido ocupadas e exploradas simultaneamente, com as mesmas atividades econômicas, o mesmo tipo de população, as mesmas características.

Quando a historiografia paulista é analisada mais detidamente, verifica-se que tem sido confundida com a historiografia paulistana, como se a trajetória do processo histórico da cidade de São Paulo explicasse a do Estado como um todo; como se tudo tivesse, simultaneamente, tido início com a chegada de Martim Afonso de Souza ao porto de São Vicente (GLEZER, p.9).

Império e República representam a politização de um processo histórico pontuado, particularmente em Sorocaba e região, pela formação de capital comercial com base na pecuária; pelo tropeirismo; pela expansão de políticas de investimentos públicos vinculados à urbanização; pela chegada da estrada de ferro; pela economia de algodão; por um sistema de muar vinculado à produção de açúcar e café; pelas feiras; dentre os múltiplos processos constitutivos da formação econômico-social de Sorocaba e região (BADDINI, 2002; SILVA, 2000). Esse contexto anuncia o desafio circunscrito ao campo investigativo aqui proposto, acentuado, como observaremos posteriormente pelo embate subjacente à formação desse campo de investigação da formação histórica de Sorocaba e região. Mas antes de abordarmos esse aspecto, nossa proposta incide na caracterização de alguns elementos vinculados às relações entre Estado; política educacional e sistema escolar.

A observação da produção historiográfica que contempla o estudo das instituições escolares e educacionais no que toca à trajetória de colégios, internatos, escolas normais e grupos escolares, propicia o discernimento das relações entre a política e a educação brasileira nos processos vinculados ao Império e à República. Assim, para AMARAL E SILVA (2001):

A Historiografia da Educação brasileira tem apresentado ultimamente uma produção historiográfica que tem contemplado o estudo de instituições escolares e educacionais, trazendo novos elementos para a compreensão da educação brasileira, em especial a que se praticava no Império e na República, reconstruindo a trajetória de colégios, internatos, escolas normais, grupos escolares. Esse empenho é necessário e renovador, pois tem permitido um alargamento do conhecimento das práticas educativas e escolares desses períodos, através de instituições públicas, particulares, laicas e religiosas, trazendo novas luzes e derrubando certos paradigmas já cristalizados, especialmente em relação à educação das mulheres. A idéia difundida pelos estudos históricos tradicionais, com abordagens totalizadoras e generalistas, distantes das concepções da história cultural e da história das instituições escolares, a respeito da educação de mulheres, nesse período, é de que as mulheres não tinham acesso à educação, apenas as da elite, e estas recebiam uma educação que privilegiava o preparo necessário para o casamento; de que nos colégios religiosos a educação era ministrada pelo método tradicional; de que a relação entre mestras e alunas era de distância e medo, internato seria clausura, por exemplo. Os trabalhos produzidos ultimamente, sobre história das instituições escolares, se confirmam alguns desses aspectos, têm permitido uma revisão nessa abordagem unificadora e linear da história da educação das mulheres no Brasil, revelando práticas que nos indicam novas faces dessa educação (AMARAL E SILVA, 2001, p. 24-25).

E acrescenta em relação ao advento da República:

Com o advento da República, fazia-se necessário criar uma estrutura de ensino capaz de atender às agitações do regime republicano, possibilitando a construção de um Estado democrático. A crença no papel da educação como instrumento de reforma política e de construção da nação levou o poder público do Estado de São Paulo a propor a criação de escolas de todos os níveis e graus (AMARAL E SILVA, 2001.p. 90).

Outra contribuição que nos auxilia a caracterizar, minimamente, o contexto histórico do projeto em tela, se encontra no estudo de MANOEL (1996) sobre as articulações entre a Igreja e a educação feminina, no período de 1859 a 1919. Em sua pesquisa o referido autor explicita a presença de dois projetos educacionais presentes nesse período:

Tratava-se (...) de dois projetos educacionais que, tomados no rigor de suas propostas, eram incompatíveis entre si. Um, o liberal, laico, preocupado com a convivência a mais harmoniosa possível dos cidadãos sob a égide da Constituição, tinha por objetivo, além do ensino das ciências e letras, a formação cívica e moral conforme os pressupostos da liberal-democracia representativa. O outro, o católico, com os olhos postos na eternidade, visava a formação de bons católicos que, por isso mesmo, seriam bons cidadãos, e também rejeitava a moral contratual proposta pela sociedade burguesa (MANOEL, 1996, p.19).

As mediações entre o Estado e o sistema escolar revelam a adoção de uma política que:

(...) se constitui na criação, mais ou menos aleatória, de escolas isoladas nas diversas cidades da Província e na nomeação de um professor ou professora para cada uma delas, mediante um simulacro de exame ‘...de baixo nível’ feito às pressas ‘... com a preocupação de prover cadeiras vagas ...’ conforme nos ensina Leda Rodrigues, em seu livro A instrução feminina em São Paulo (MANOEL, 1996, p.24).

A partir de 1850, os ideais do liberalismo ganharam espaço dentro do próprio sistema administrativo do Estado, seja no governo imperial, seja no provincial. No que diz respeito à educação, o princípio liberal defendido pelas autoridades públicas era o da completa liberalização do sistema escolar, retirando do Estado as responsabilidades pela educação, transferindo-as para a iniciativa privada (MANOEL, 1996).

A seguir, consideramos relevante aos propósitos deste projeto, destacar o aporte de RIBEIRO (1986) em sua análise da organização do sistema escolar, exame este que possibilita sumariar alguns aspectos relativos ao período correspondente a 1850 – 1920.

Para RIBEIRO (1986) o período de 1850 a 1920 caracteriza-se por uma dinâmica de consolidação, crise e permanência do modelo agrário, comercial, exportador, dependente. Observa a referida Autora, que no período de crise desse modelo (1870 – 1894) desponta um processo de “incentivo à industrialização”.

O trabalho escravo e a grande propriedade constituem a base material da lavoura cafeeira, no período de consolidação do modelo agrário, comercial, exportador, dependente; produção essa orientada sob a lógica da expansão e internacionalização do capital com desdobramentos nas condições de trabalho – transição e conversão da força de trabalho escrava para o trabalho assalariado -; na criação, organização e gestão do espaço urbano, transformado paulatinamente em pólo de novas categorias sociais e de diversificação das atividades econômicas.

Em relação à educação RIBEIRO assinala que:

Com relação à educação, a década de 1850 é apontada como uma época de férteis realizações, no entanto restritas em sua maioria ao município da corte, por força da lei em vigor.

As realizações a que se refere são: criação da Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária da Corte, destinada a fiscalizar e orientar o ensino público e particular (1854); estabelecimento das normas para o exercício da liberdade de ensino e de um sistema de preparação do professor primário (1854); reformulação dos estatutos do Colégio de Preparatórios, tomando-se por base programas e livros adotados nas escolas oficiais (1854); reformulação dos estatutos da Academia de Belas Artes (1855); reorganização do Conservatório de Música e reformulação dos estatutos da Aula de Comércio da Corte (RIBEIRO, 1986, p. 56).

E em relação à política educacional, afirma.

Faltou uma política educacional integrada entre centro e províncias.

Não se instituiu um plano nacional de fiscalização das escolas primárias e secundárias, com vistas a um aprimoramento de objetivos, conteúdos e métodos e, conseqüentemente, uma melhora de aproveitamento por parte dos alunos.

A instrução primária continuou constituindo-se em aulas de leitura e escrita e cálculo. Pressupõe-se que cerca de um décimo da população a ser atendida o era realmente. Não se tem certeza já que não existiam estatísticas educacionais.

A instrução secundária se caracterizou por ser predominantemente para alunos do sexo masculino, pela falta de organicidade (reunião espacial de antigas aulas régias), pelo predomínio literário, pela aplicação de métodos tradicionais e pela atuação da iniciativa privada.

(...) mesmo neste período onde a regra foi o superávit econômico, a educação não contou com verbas suficientes que possibilitassem, ao final do século XIX, um atendimento pelo menos elementar da população em idade escolar.

Isto demonstra que para a monarquia brasileira, ao contrário das monarquias européias a que ela procurava moldar-se, nem a instrução primária tornou-se necessária a toda a população (RIBEIRO, 1986, p.57-58).

Não podemos omitir, apesar da citação relativa à caracterização do sistema escolar nesse período de consolidação do referido modelo, o que segue. E isto considerando que nessa argumentação reside uma tese cuja problematização será norteadora desta pesquisa. Assim, argumenta RIBEIRO:

Tendo-se em mente o contexto anteriormente analisado, é relativamente fácil compreender a razão do ocorrido; no Brasil acontecia a passagem de uma sociedade exportadora-rural-agrícola, para uma exportadora-urbano-industrial avançada. E é determinada pela estrutura social resultante do capitalismo industrial que surge e se desenvolve a escolarização, mesmo que elementar, de um contingente maior da população (RIBEIRO, 1986, p.59, Grifos nossos).

O período de crise do denominado modelo agrário tem com a extinção do tráfico de escravos, conforme Ribeiro, a disponibilidade de capitais internos e externos vinculados a uma “tentativa de incentivo à industrialização” (RIBEIRO, 1986);

O período em tela é marcado pela presença dos programas de ação de liberais e positivistas, por iniciativas particulares de implantação de projetos educacionais e pela reforma Leôncio de Carvalho (1879). Os referidos processos são registrados por RIBEIRO, como segue.

Liberais e cientificistas (positivistas) estabelecem pontos comuns em seus programas de ação; abolição dos privilégios aristocráticos, separação da Igreja do Estado, instituição do casamento e registro civil, secularização dos cemitérios, abolição da escravidão, libertação da mulher para através da instrução desempenhar seu papel de esposa e mãe e a crença na educação enquanto chave dos problemas fundamentais do país (RIBEIRO, 1986, p.65).

Em relação à Reforma Leôncio de Carvalho (1879), RIBEIRO comenta que:

As poucas conseqüências práticas dizem respeito à decretação da liberdade de credo religioso dos alunos e à abertura ou organização de colégios onde outras tendências pedagógicas, como a positivista, tentavam ser aplicadas.

E acrescenta:

Data deste final de século o aparecimento do ensino feminino em nível secundário como resultado da iniciativa particular.

Em termos de iniciativas particulares, protestantes norte-americanos (Escola Americana – 1870 -, Colégio Piracicabano), positivistas (Escola Neutralidade – 1844), criam escolas primárias modelo (RIBEIRO, 1986, p.67).

Na compreensão de Ribeiro (1986) o processo de descentralização articulado pelo Estado e que favoreceria a concentração de renda dos grupos vinculados à produção de café e aos setores liberais da camada média, também se instala na política de organização escolar e se instrumentaliza com base em dois processos jurídico-normativos a Reforma Benjamin Constant (1890) e o texto da Constituição de 1891.

Os primeiros resultados

Esta etapa da pesquisa refere-se à sistematização de documentos disponibilizados em fotocópia pelo Arquivo Historio do Estado de São Paulo à Universidade de Sorocaba. São ofícios do Inspetor Geral da Instrução Pública da Província de São Paulo, de Inspetores do Distrito Escolar de Sorocaba, de Professores, atas de exames e mapas com dados de alunos, referentes à educação escolar de Sorocaba no período de 1830 a 1899.

De 1830 a 1846 são apenas mapas com dados de alunos. Os ofícios e atas aparecem a partir de 1846, com um maior número no período de 1852 a 1894. Já foram catalogados os documentos referentes ao período de 1830 a 1862, no total de 352 documentos, dos quais foram 165, em razão de seu conteúdo, foram transcritos para arquivo magnético.

A Lei de 15 de outubro de 1827 determinou a criação de escolas de primeiras letras.

(...) A Lei estabelecia, ainda, que nessas escolas os professores ensinariam “a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática da língua nacional, os princípios de moral cristã e de doutrina da religião católica e apostólica romana proporcionadas à compreensão dos meninos” (SAVIANI, p. 275).

Em 1834, o Ato Adicional à Constituição do Império transferiu a responsabilidade pelas escolas primárias e secundárias para as Províncias.

(...) o Estado, desde Pedro I, vinha eximindo-se da responsabilidade de manutenção do sistema escolar, e desde a Lei n. 16, de 12 de agosto de 1834, o problema da educação primária e secundária foi deixado a cargo dos governos provinciais (MANOEL, 1996, p.24).

SAVIANI complementa:

(...) Conforme o testemunho de José Ricardo Pires de Almeida, as Assembléias Provinciais procuraram logo fazer uso das novas prerrogativas votando “uma multidão de leis incoerentes” (...) sobre instrução pública afastando-se, portanto, da idéia de sistema (SAVIANI, p. 275).

Em Sorocaba, como de resto na Província de São Paulo, a instrução pública era gerida por uma Comissão Inspetora, que encaminhava as solicitações dos Professores à Presidência da Província e, também, realizava os exame das disciplinas acima indicadas.

Como exemplo desta afirmação podemos citar o ofício que o Professor Jacinto Heliodoro de Vasconcellos, professor da 1ª Aula de Primeiras Letras de Sorocaba, encaminhou, em 30 de novembro de 1846, à Comissão Inspetora:

Na conformidade do art. 3º do Regulamento de 25 de 7bro do corre anno cumpre me participar a VSS que prezentemente não tenho Alumnos promptos nesta Aula de 1ª Letras para serem examinados em todas as materias do ensino, e somente alguns que se achão promptos em ler, escrever – as 4 operaçoens principe d’arithmetica, proporçoens tb porem alguns concluindo a Grãmmatica, outros em meio della; e sobre a Geometria so sabem quanto a linolura da 1ª sessão, e estes andão em numero de 4 a 5.

Será bem difficil, Illmos Srs, haver semelhantes exames, pelo motivo de que, os Pais dos Alumnos tirão os logo que elles sabem ler, escrever, e fazer as quatro operações d’Arithmetica; emuitas vezes perto do menino concluir a Grammatica, perdendo o tempo em q se empregou nella, e o mestre as explicações que lhe deu.

Quando VSS determinem haver o dito exame, Se dignarão marcar o dia, e hora para dar as providencias necessarias[1].

Em seu relatório à Assembléia Legislativa Provincial, de 1º de maio de 1852, o Dr. José Thomaz Nabuco D’Araujo, Presidente da Província, assim se referiu à instrução pública, em particular à inspeção:

Ainda não eram passados dous mezes depois que tomei conta da administração, e já eu reconhecia a sabedoria e providencia que dictarão a lei Provincial n. 24 de 2 de junho de 150 art. 4.º, que autorisa ao governo a dar regulamentos ao ensino primario e secundario da Provincia, podendo alterar a legislação em vigor somente na parte relativa á inspeção do mesmo ensino. Assim um dos primeiros actos de minha administração foi a confecção do Regulamento de 8 de novembro de 1851, o qual submetto á vossa consideração.

A inspecção do ensino primario e secundario competia pela legislação, que então vigorava, ás comissões inspectoras e camaras muncipaes: a experiencia faz sentir que as pessoas moraes não são as mais proprias para administrar, falta-lhes a unidade de pensamento na deliberação, a actividade, e prontidão na acção: sobre-leva que a organisação dessas commissões inspectoras era essencialmente vicioza, por que o Governo não podia inspirar-lhes o seu pensamento, visto como só um dos seus membros era da nomeação delle: de origem diversa, independentes, erão as mais das vezes riváes: dahi a hostilidade, ou inercia que embargavão a fiscalisação: não era possivel que continuassem essas commisões, que, pela maior parte, não se reunião, e nada fazião. Parece-me que traduzi com a fidelidade possivel o espirito da lei, encarregando a inspecção do ensino primario e secundario a pessoas fisicas, da confiança do Governo, susceptiveis do mesmo pensamento administrativo, e capazes d’executal-o: fôra contra senso suppôr o Governo suspeito á instrucção publica, fôra absurdo tornal-o estranho á essa uma das primeiras necessidades moraes do paiz.

Quanto á fiscalisação as ideias do Regulamento, para cujo desenvolvimento fora de mister um grosso volume, tem por si a autoridade da legislação dos paizes mais cultos da Europa, o exemplo de outras provincias importantes, e são conformes e consentaneas ao espirito da novisima lei geral n. 630 de 17 de setembro de 1851 (SÃO PAULO [PROVINCIA] 1852, p. 10-11).

Assim, em 1852, já encontramos ofícios de Professores de Sorocaba ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província e, também ofícios do Inspetor do Distrito de Sorocaba ao mesmo Inspetor Geral da Instrução Pública.

Em relação aos inspetores, registramos que eram pessoas de confiança do governo, como está registrado na última citação, sem maiores ligações com a instrução pública, exercendo uma função não remunerada.

Para exemplificar, transcrevemos o ofício que, em 3 de fevereiro de 1855, o Inspetor do Distrito de Sorocaba encaminhou ao Inspetor da Instrução Pública da Província, solicitando sua demissão das funções de Inspetor:

Illmo. Sr. Dor. Diogo de Mendonça Pinto

Sorª. 3 de Fevº. de 1855

Estimarei que V Sª. com percurso (?) do anno novo continue a prosperar como opreterito. Incluso remetto a V Sª. o offº. que junto achará pª. me fazer ofavor de implorar ao Exmo. Governo mª. demissão do Emprego de Inspector de Distrº. visto que me axo cansado de trabalhar no mundo politico onde debalde tenho prodigalizado meos cuidados: Sr (?) porem hoje cançado, ja velho só me restão os incomodos. Portanto este pequeno espaço detempo que me resta da vida desejo dedicar aos encantos dehu’a vida privada ecuidar de ajuntar pão pª. minha numerosa famª., que mefoi confiada pela Providencia. Aproveito esta mma. Occazião deagradecer a V Sª. adelicadeza comque sempre tratoume pela sua nimia bondade e igualme. offerecerlhe omeo limitado prestimo nesta Cide.; nacerteza deque posso ser

Amº

Joaquim Joze Lourº. d’Almda[2].

A resposta foi a seguinte:

Illmo. Snr. Joaqm. Joze Louro. d’Almda. (?)

Tendo a honra de ser nomeado pa. assumir interinament. (?) o lugar de Inspor. Geral da Instrcão. (?) Publica, achei hua Carta de V. S. ao Sr. Dor. Diogo em que pede instantement. a Demissão do Emprego de Inspor. desse Distro. As razoens q. V. S. allega são mto. attendiveis, mas o servo. publico merece tambem mta. fe na atividade e bond. (??); e se p. ventura (?) tenho alguém (???) per. (?) V. S. empenho-o (??) toda (?) p. q. V. S. continue no mmo. Emprego, e serão sempre considerados por mim como relevantes os serviços q. V. S. continua a prestar.

Este Emprego de Inspor. não he possivel q. se entregue a homem sem prestigio, e q. não se interessa pla. Instram. da mocidade. (???) q. tanto concorrem (?) na pessoa de V. S. Por outro lado o Emprego não he tão pezado q. prive ao Cidadão q. o ocupa de outros affazeres. Por isso servindo ao Publico, tem o devido tempo pa. o descanso de seus annos.

Espero merecer de V. S. este obsequio, e todo me offereço pa. o seu servo., na certeza de que sou com toda a consideração.

S. Plo. 17 de Fevro. de 55

De V. S.

Amo. (?) e mto. obro. (???)

H. H. Ferraz (?)[3]

É de se registrar que, trimestralmente, os professores deveriam dirigir-se ao Inspetor Geral da Instrução Pública, para informar sobre o andamento de suas aulas e sobre a existência de escolas particulares em Sorocaba (ANEXO I).

O mesmo deveriam fazer os Inspetores de Distrito em relação aos seus professores – o que era feito de modo burocrático. O relatório se repetia trimestralmente quase que integralmente (ANEXO II).

Em visita de inspeção às escolas de Sorocaba, no final de outubro e início de novembro de 1856, o Sr. Inspetor Geral de Instrução Pública da Província constatou a existência, na cidade, de duas escolas de primeiras letras para o sexo masculino, de duas para o feminino, sendo uma de instrução primária de segundo grau, ou superior[4], e de uma aula de latim e francês[5].

Estas escolas estavam instaladas nas casas dos professores, que pagavam por seu aluguel (ANEXO III). Os móveis e utensílios eram fornecidos, geralmente, pelo Estado, mas, algumas vezes, pelo próprio professor, como pode ser verificado do texto abaixo, relacionado com a escola feminina de instrução primária, de segundo grau:

Á eschola ainda não forão ministrados móveis e utensis.; os existentes em pequeno numero, em mao estado, desordenados, sem as devidas condições pertencem á Professora. O progresso no estudo deve forçadamente se resentir quer dessas privações e quer da incapacidade da sala; mal este irremediavel en quanto as rendas da provincia não permitirem o fornecimento de local apropriado[6].

O salário dos professores eram módicos, no dizer do Inspetor Geral da Instrução Pública, havendo uma gratificação para quem tivesse mais de 80 alunos:

Esta Profesora tem sido obrigada a se contentar com o modico ordenado que percebe. Nunca foi gratificada; para isso seria mister contar com 80 discipulas, o que nunca realisou-se. Entretanto a Cadeira está conceituada e ha sempre produsido bons resultados! Era uma injustiça procedente da desigualdade dos ordenados e gratificações, a que a Lei do orçamento vigente poz termo, revogando a disposição que concedia ás Cadeiras os vencimentos que lhes designarão as Leis de sua criação[7].

Registramos, nos documentos consultados, a existência de classes com mais de cem alunos – como pode ser exemplificado no ANEXO III e no seguinte relato do Professor Heliodoro de Vasconcellos:

Junto remetto a VS. o relatório do estado actual da minha Aula ocorrente anno, segundo determina a Portaria de 1º de Setembro proximo passado.

Aproveito a occazião de participar a VS. que me acho com a Aula muito sobrecarregada d’alumnos, resultando disto ter hum trabalho muito excessivo, que muito tem deteriorado aminha saude, principalmente pela mortificação que tenho continuadamēte, de conhecer que apezar do meu excessivo trabalho, e doutros sacrificios, que tenho feito, não posso dar aquelle adiantamento devido, e temo que isto rezulte em meu desabono para com os habitantes desta Cidade, que denada estão ao facto. Por Abril do anno passado ainda perdi parte daminha bancada, mandando fazer bancos mais cumpridos, e meza maior; edisto pouco melhoramento tenho levado, pelo acrescimo d’alumnos q. vai havendo.

Não posso fazer ponto (?) do numero de alumnos; por que não ha Lei, e nem Regulamento, que determine isso; econtinuadamente estão entrando, e eu ja sem lugar para os acommodar; de tudo isto ja fiz ver ao Senr. Inspector de Districto[8].

Sobre esta aula, assim se manifestou o próprio Inspetor Geral da Instrução Pública:

Há muito tempo que nutria ardente desejo de ver trabalhar uma eschola que contivesse em seo seio 100 ou meninos (?) presentes. D’entretantas que tenho visitado jamais encontrei uma em condição de poder dar satisfacção é esse desejo, comparecendo porem no dia 7 do corrente ás 9 horas da manhã na casa do Professor Vasconcellos achei na sala da escola 102 alunnos, informando-se-me que n’aquelle dia por diversas circunstancias elles estavão em numero inferior ao dos que ordinariamente frequentão, o que posteriormente verifiquei em 2ª. visita, na qual contei o crescido numero de 114. Este facto, a longa pratica do Professor funcções do magisterio, e o credito de que elle goza na opinião publica, revellão a bondade do methodo do ensino que emprega, e quanto convem estudal-o. N’esse intuito julguei preciso consagrar-lhe 3 dias, sendo um para conhecel-o pela theoria, outro para vel-o posto em pratica, e o 3º para avalial-o pelos seos resultados examinando o estado dos discipulos; infelismente porem tendo se agravado a enfermidade do Professor de modo a forçal-o de fechar a eschola não pude completar o estudo, faltando unicamente a parte theorica; mas como no referido dia 7 assiti á todo serviço, e dediquei o dia 9 ao exame dos alunnos acho-me de posse de longas notas que muito podem coadjuvar-me para o Regimen das escholas publicas da Provincia que espero organisar.

Não cançarei a attenção do Exmo. Governo mencionando as horas de exercicio, a distribuição por ellas do ensino, a divizão em classes tudo quanto respeita ao methodo, e aos diversos pontos que fazem o objecto da vizita de um Inspector, bastando ponderar que em geral n’aquella eschola como nas outras d’esta Cidade s’obtem os resultados compativeis com as nossas circunstancias, não sendo o ensino levado á perfeição recommendada pela Lei visto a reluctancia da parte dos paes de familia, mas não devo passar em silencio o systema de collocação dos alunnos que me pareceo digno de ser citado e adaptado em eschola muito concorrida, fazendo o Mestre sentarem-se (?) os mais moralisados e adiantados de mistura com os outros, o que da lugar a que estes sejão inspeccionadas e instruidos por aquelles sempre que lhe é mister recorrer a quem os ensine. Tambem notei que o Professor, á que me refiro, quanto á disciplina scholastica é digno de encomios; elle socorre-se ao uso de premios que consistem em um papel impresso que distribue aos discipulos quando mostrão algum progresso, ou quandoos factos patenteão que encarregados do ensino d’algum companheiro desempenharão satisfactoriamente esse encargo[9].

Os exames eram um caso à parte, pois eram realizados com pouca freqüência, por diversos motivos:

- evasão de alunos

Matricularão-se no correr d’este anno 62 alumnas das quaes 54 frequentarão com assiduidade e aproveitamento e 8 forão despedidas a exigencia de seus pais por diversas cauzas: isto é, uma por saberem já alguma couza, outras por deficiencia de meios, e outras enfim por morarem longe.

Não houverão exames no anno passado, como já participei, porque os pais de familia n’esta Cidade entendem que não devem completar a educação de suas filhas dizendo, que as não querem para professoras, e as retirão da aula logo que vêem que estão bem adiatadas; havendo alguns, que n’este estado, as mandão somente as horas em que ensino muzica. E mais prnedas e trabalhos de agulha e me vejo na necessidade de não fazer os exames; por não poderem ser em regra: ou de submeter a elles, meninas que não poderão fazer o papel que dezejo; o que não não julgo prudente; respeitando porem, o que me for ordenado[10].

- os alunos não estarem preparados:

Achão-se matriculadas 67 alumnas das quaes 2 tiverão falta de mezes e as mais tem tido boa frequencia.

Não houve exame o anno passado; pr. motivo de que nunca pode haver alumnas promptas em todas as materias, prq logo, qe sabem ler, escrever, e contar os pais tirão sem concluirem com (?) Gramatica Portugueza muitas vezes estão aprendendo analisar ja as tirão[11].

- doença do Inspetor:

Que não houve exames o anno passado porque o Inspector de Districto se achava doente de huma ophtalmia aguda, tendo lhe avisado para marcar o dia para o exame de dois alumnos que ficarão promptos[12].

Não houve exames no anno anterior, por que na tarde em que eu esperava com os meus alumnos o 1º Inspector de Districto para os ditos exames, elle mandou-me dizer que despachasse os alumnos porque se achava incommodado[13].

O estado do ensino em Sorocaba, na época, entendemos que pode ser resumido nas palavras do Inspetor Geral da Instrução Pública:

Vindo á esta Cidade, como me cumpria, cuidei de proceder á inspecção e fiscalisação de todas as instituições de ensino. Nella não encontrei nenhua particular, somente existem as publicas constantes de uma aula de Latim e Francez, de duas escholas de 1as. Letras para o sexo masculino, e de duas para o feminino, sendo uma d’estas de instrucção primaria do 2º. grao ou superior infelizmente porém em ruim occasião coube-me o dever de visital-as; e no presente é unicamente a eschola regida por Vicentina Adelaide de Vasconcellos que verdadeiramente posso diser que está funccionando. O Professor da Cadeira de Latim e Francez Francisco Xavier de Paula Toledo, e a Professora da 2ª. Cadeira de 1as. Letras Maria Flora de Souza se achão por enfermos com licença; o Professor Jacintho Heliodoro de Vasconcellos está tambem enfermo e tão gravemente que diz-me o Medico assistente não ter esperanças de salval-o, e o Professor Francisco Luiz d’Abreu Medeiros tem uma filha menor da mesma sorte mortalmente enferma; continua todavia a ter a eschola aberta; mas facil é imaginar de que modo agora a rege e que exigencias podia eu apresentar-lhe á vista da triste preocupação de seo espirito. N’esta situação, que profundamente lamento, não me foi possiível tirar todo o proveito de minha estada n’este Districto.

(...)

No dia 10 apresentei-me em casa da Professora da 2ª. Cadeira apesar de estar, como ja disse, com licença, para inquiril-a sobre a marcha do ensino, e estado da sua eschola, examinar a sala e os móveis e utensis. para cuja compra lhe havia ha tempos fornecido a quantia precisa, com as escriptas das alunnas. Estão matriculadas 45 das quaes são frequentes 41 segundo referio-me a Professora. Tambem informou-me que aprendem as quatros operações da Arithmetica 7, a Grammatica Portugueza 3, a Musica 1; a Historia e Geographia memhuma, por que os paes não consentem, e as prendas domesticas todas; - excepto 11. Ignoro como com 5 horas de exercicio diario é possivel dar vencimento ao ensino de tão variadas materias! A Caza não é propria, é alugada mediante o pagamento mensal de 14$000 rs. alem do ônus de ter a inquilina consigo que sustentar a uma filha do proprietario. Esta despesa é grande desfalque nos vencimentos ja tão redusidos da Professora. A Sala da eschola é excellente, tem 40 palmos de comprimento e 20 de largura. Seo unico defeito é nao ser assoalhada[14].

Referências

AMARAL E SILVA, Maria Aparecida Felix do. Educação de mulheres no Vale do Paraíba. O Colégio do Carmo: 1892-1910. São Paulo: s.n., 2001.

BADDINI, Cássia Maria. Sorocaba no Império. Comércio de animais e desenvolvimento urbano. São Paulo: Annalume-Fapesp, 2002.

GATTI JÚNIOR, Décio. A história das instituições educacionais: inovações paradigmáticas e temáticas. In: SOUZA, José Carlos & GATTI JÚNIOR, Décio (Org.). Novos temas em história da educação brasileira. Instituições escolares e educação na imprensa. Campinas, SP: Autores Associados; Uberlândia, MG: Edufu, 2002. (Coleção Memória da Educação).

GLEZER, Raquel Apresentação. In: BADDINI, Cássia Maria. Sorocaba no Império. Comércio de animais e desenvolvimento urbano. São Paulo: Annalume-Fapesp, 2002, p.9.

MANOEL, Ivan Aparecido. Igreja e educação feminina (1859-1919). Uma face do conservadorismo. São Paulo: UNESP, 1996.

RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira. A organização escolar. 6ª ed. São Paulo: Moraes, 1986.

SÃO PAULO (PROVÍNCIA), Presidente (Nabuco d’Araujo). Discurso com que o Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Dr. José Thomaz Nabuco d’Araujo, Presidente da Provincia de S. Paulo abrio A Assembléa Legislativa Provincial no dia 1º de maio de 1852. São Paulo: Typographia do Governo arrendada por Antonio Louzada Antunes, 1852. Disponível na World Wide Web: .

SAVIANI, Dermeval. Percorrendo caminhos na educação. Educação & Sociedade, Campinas (SP), dez. 2002, vol. 23, n. 81, p. 273-290. ISSN 0101-7330.

SILVA, Paulo Celso da. De novelo de linha a Manchester Paulista. Fábrica têxtil e cotidiano no início do século XX em Sorocaba. Sorocaba: Projeto LINC, 2000.

Documentos

Os documentos abaixo relacionados, que foram citados e/ou transcritos neste texto, estão entre os aqueles que foram disponibilizados, em fotocópia, para a Universidade de Sorocaba, pelo Arquivo Histórico do Estado de São Paulo:

Ofício encaminhado à Comissão Inspetora, por Jacinto Heliodoro de Vasconcellos, Professor Público, em 30 de novembro de 1846.

Ofício encaminhado ao Inspetor de Distrito pelo Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, em 17 de fevereiro de 1855.

Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Francisco Luiz de Abreu Medeiros, Professor da Segunda Cadeira de Primeiras Letras, em 17 de outubro de 1855.

Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Maria Flora de Souza, Professora da Segunda Cadeira, em 01 de outubro de 1855.

Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Vicentina Adelaide de Vasconcellos, Professora da Primeira Cadeira, em 15 de outubro de 1855.

Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Francisco de Paula Xavier de Toledo, Professor da Aula de Latim e Francês, em 17 de outubro de 1855.

Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Jacinto Heliodoro de Vasconcellos, Professor da Primeira Cadeira de Sorocaba, em 4 de outubro de 1855.

Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública, Por Francisco Luiz d’Abreu Medeiros, Professor da 2ª aula de 1ª letras, em 27 de outubro de 1854.

Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública, por Joaquim José Loureiro d’Almeida, Inspetor de Distrito, em 03 de fevereiro de 1855.

Ofício encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856.

Relatório do trimestre findo a 30 de setembro de 1853, na conformidade das Instruções de 6 de outubro de 1853, apresentado do Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Joaquim Joze Loureiro d’Almeida, Inspetor do Distrito de Sorocaba.

Relatório encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856.

Relatório sobre as atividades da primeira aula de primeiras letras de Sorocaba, apresentado pelo Professor Jacinto Heliodoro de Vasconcellos, em 11 de outubro de 1855.

ANEXO I

RELATÓRIO SOBRE AS ATIVIDADES DA PRIMEIRA AULA DE PRIMEIRAS LETRAS DE SOROCABA, APRESENTADO PELO PROFESSOR JACINTO HELIODORO DE VASCONCELLOS, EM 11/10/1855.

Relatorio do estado da 1ª. Aula publica de 1ª. Letras da Cidade de Sorocaba, do corrente anno, na conformidade da Portaria do Illmo. Sr. Dor. Inspector Geral da Instrução Publica desta Provincia, de 1º de Setembro proximo passado.

Achao-se matriculados cento e sessenta e oito alumnos, dos quaes, quatro estão concluindo a Grammatica da lingoa Nacional e promptos nas outras materias, e os mais em differentes estados deinstrução conforme o tempo de suas matriculas, e actividade de suas memorias.

Deste numero vinte equatro apresentao sempre interrupçoens nao pequenas na frequencia, apezar de nao me ter descuidado de entender-me com os pais a esse respeito fazendo-lhes ver, que o resultado dessas faltas hera sempre em prejuizo dos mesmos e delles pais.

- Sobre o estado de Caligraphia -

Quatorze escrevem cursivo maior, emenor; desenove bastardinho, e trinta bastardo grande, e dos mais huns escrevem os alfabetos minusculo, emaisculos, outros nas lousas, e a ultima parte ainda nada.

- D’Arithmetica -

Os da 1ª. ordem, isto he os mais adiantados, fazem as quatro operaçoens, elaguns proporçoens e outras contas; os da 2ª ordem fazem the a 3ª operação; e os da 3ª ordem fazem aprimeira operação da soma, e o restante de nomes the os alfabetos ainda nenhuma.

- Do exame -

No 1º de Dezembro do anno proximo passado houve exame nesta Aula de cinco alunnos pelo Snr. Inspector de Districto, de cujo exame tomou elle notta, edos nomes dos examinados, para remetter ao Illmo. Snr. Dor. Inspector Geral, segundo determina o § 12 do art. 12 do Regulamento de oito de Novembro de 1851.

Sobre Estabellecimentos do ensino privado, hum que havia de 1as. Letras, de Joaquim Xavier acha-se ja feixado, consta que o motivo disso fora o pouco numero d’alumnos que concorria.

Cumpre-me informar que a pouco tempo veio estabellecerse nesta Cidade hum sugeito de nome Joaquim Romão para Mestre de musica do Corpo da Guarda Nacional, que dizem (vagamente) ensinar alguns alumnos de 1as. Letras; mas tão bem dizem que so insina musisca, e por isso nada sei de certo.

Sorocaba, 11 de Outubro de 1855

Jacinto Heliodoro de Vaslos.

Professor da 1ª Cadeira.

ANEXO II

RELATORIO DO TRIMESTRE FINDO A 30 DE SETEMBRO DE 1853, NA CONFORMIDADE DAS INSTRUÇÕES DE 6 DE OUTUBRO DE 1853.

1º Os Professores ensinão as materias a que são obrigados em suas Aulas, ou ao menos não me consta que deixem de ensinar.

2º Cumprem seus deveres.

3º O tempo de ensino é o mesmo marcado pela Lei, e a distribuição do ensino os Professores a tem feito conforme os trabalhos da Aula, sobre livros, compendios, traslados, nenhum tem requisitado.

4º Não me consta que cometecem qualquer falta, e nem infrações de Leis, Regulamentos, (?).

5º São bem publicos, e notorios seus bons comportamentos, não só em actos publicos, como particulares.

6º Nenhum facto occorreo no trimestre.

7º Nenhuma das Aulas tem soffrido grande diminuição dos alumnos, e somente a Escolla privada de Zeferina do Coração de Jesus, que por occasião de haver uma segunda Aula do sexo feminino, diminuio muito o numero das alumnas.

8º Finalmente a melhor providencia que me parece util para promover a instrucção primaria, é de haver uma Lei positiva que isente do recrutamento os alumnos matriculados, e que frequentão as Aulas Publicas, e que esta Lei fosse publicada até pelos Bairros os mais remotos.

Sorocaba, 6 de 8brº de 1853.

Joaquim Joze Loureiro d’Almeida

Inspector de Districto

ANEXO III

OFÍCIO ENCAMINHADO AO INSPETOR GERAL DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, POR FRANCISCO LUIZ D’ABREU MEDEIROS, PROFESSOR DA 2ª AULA DE 1ª LETRAS, EM 27 DE OUTUBRO DE 1854.

Illmo. Senro.

Cumprindo com o que me ordenou V. S. em dacta de 5 do mez pp. tenho em primeiro lugar de responder – que minha aula via marchando regularmente. O principal e único acontecimento que n’ella tem apparecido – é a diminuição de alguns alumnos pela escassez da casa em que resido e dou aula; pois que, para se obter presentemente uma caza soffrivel n’esta cidade – é preciso despender-se 12, e 16$000 por mez, e no tempo da feira – 30, e 40$000 sem exageração, - e o empregado publico que percebe, como eu, o ordenado de 500$000, sem poder entregar-se á outra qualquer occupação ou negocio – não é possivel pagar semelhante aluguel, isto mesmo communiquei ao Senr. Inspector de Districto. Na caza que deixei pelo facto de ter o proprietario elevado a mensalidade á 12$000 – cheguei á ensinar muito mais de 100 alumnos, tanto que no relatorio que um dos ex presidentes apresentou á Assembléa Provincial – minha aula era a mais frequentada da Provincia, - porem agora apenas conta matriculados – 92, dos quaes frequentão 80, digo – 70, 80 até 86.

Pensando-me que nem todos os professores d’aquellas povoações que gozão da cathegoria de – cidade – devem ter direito á um bom ordenado ou á algum quantitativo destinado para alugueis de caza commoda; - porem somente os de uma cidade como Sorocaba, Campinas, Santos tb. Em Ytu, por exemplo que é uma cidade – aluga-se uma bôa caza por 4 e 5$000, como V. S. se poderá informar de alguns habitantes d’aquelle lugar. – Queira V. S. desculpar a minha digressão.

No anno anterior não houver exame, e nem se tratou d’isso por que o Senr. Inspector esteve doente, e demais – os meninos, ou por si só ou por seus pais – furtão-se á ser examinados – não comparecendo á aula dias antes de começarem as ferias.

Como já fiz vêr á V. S., o meu ordenado é de 500$000, e tenho 80$000 annuais de gratificação, - mas sempre com muito trabalho – com extraordinaria demora.

A minha aula foi aberta no dia 26 de Janeiro de 1843, - há 12 annos incompletos que exerço este emprego, tendo-me utilizado pela primeira vez de 15 dias de licença sem ordenado, - e pela segunda – 30, deixando substituto pago por mim – e approvado pela então Commissão Inspectora.

Quanto ás necessidades que cumpre attender – minha fraca opinião é – que o Governo sempre deveria ministrar todos os utensilio para as aulas e todos os necessarios para os alumnos pobres / como há muitos / que não possuem vintem para a compra de uma folha de papel; estes utensilios poderião ser entregues aos Inspectores de Districto para serem repartidos por entre os que d’elles necessitassem. As cazas pa. as aulas deverião ser alugadas e examinadas pelos mesmos Inspectores, e os alugueis pagos pelo Governo.

Finalmente, quanto ás reformas á adoptar – parece-me que se tiraria maior vantagem si as materias que a lei actual exige que se ensina nas aulas de 1ªs letras – fossem restringidas, isto é – que se ensinasse á ler, escrever e contar – até proporções simplices; principios de grammatica da lingoa Nacional, e toda a doutrina Christã da cartilha do Abbade Mesquita Pimentel. Com esta medida não tenho em vista deixar os professores em santo ócio, - mas sim – o aproveitamento dos alumnos, e mesmo porque a Provincia teria muitos pais-de-familia honestos e probos – aos quaes fallecem meios de subsistencia – que poderião ser excellentes professores, - porem que não se dedicão á isso porque a lei de 1845 exige um exame rigorozo de varias materias; do contrario, em uma aula de mais de 30 alumnos – tudo será confuzão, e os professores pela maior parte serão rapazolas – que jamais se compenetrarão da ardua e elevada tarefa de dirigir os primeiros passos vacillantes da mocidade, - da qual infelizmente se achão alguns revestidos, – querer-se tudo de uma vez em uma sala de 80 e 100 alumnos – como exige a lei mencionada – é muito querer.

Hoje na Provincia do Rio de Janeiro, como V. S. melhor que eu há de saber – a sorte dos professores e dos alumnos pobres acha-se melhorada:- a instrucção primaria caminha com progresso. Mas eu não descoroçôo; tambem espero que a instrucção primaria da nossa Provincia, continuando á testa d’ella V. S. que não tem poupado esforços para eleval-a á mais alto gráo de perfeição, e que é Membro da Commissão encarregada de confeccionar um verdadeiro regulamento, - Commissão só composta de homens talentosos que fazem honra ao nosso paiz, a instrucção primaria da nossa Provincia, digo – hade prosperar indubitavelmente.

Eis o que tenho á dizer á V. S., pedindo-lhe novamente desculpa – si fui extenso e enfadonho.

Deos Ge. á V. S.

Sorocaba, 27 de Outubro de 1854

Illmmo. Senr. Dr. Diogo de Mendonça Pinto

D. Inspector Geral da Instrucção Publica da Provª.

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[1] Ofício encaminhado à Comissão Inspetora, por Jacinto Heliodoro de Vasconcellos, Professor Público, em 30 de novembro de 1846.

[2] Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública, por Joaquim José Loureiro d’Almeida, Inspetor de Distrito, em 03 de fevereiro de 1855.

[3] Ofício encaminhado ao Inspetor de Distrito pelo Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, em 17 de fevereiro de 1855.

[4] Na Província somente existiam duas instituições de instrução primária e superior: esta em Sorocaba, para o sexo feminino, e outra em Taubaté, para o sexo masculino (Relatório encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856).

[5] Relatório encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856.

[6] Relatório encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856.

[7] Relatório encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856.

[8] Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Jacinto Heliodoro de Vasconcellos, Professor da Primeira Cadeira de Sorocaba, em 4 de outubro de 1855.

[9] Relatório encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856.

[10] Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Maria Flora de Souza, Professora da Segunda Cadeira, em 01 de outubro de 1855.

[11] Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Vicentina Adelaide de Vasconcellos, Professora da Primeira Cadeira, em 15 de outubro de 1855.

[12] Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Francisco de Paula Xavier de Toledo, Professor da Aula de Latim e Francês, em 17 de outubro de 1855.

[13] Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução Pública da Província, por Francisco Luiz de Abreu Medeiros, Professor da Segunda Cadeira de Primeiras Letras, em 17 de outubro de 1855.

[14] Ofício encaminhado ao Presidente da Província, por Diogo de Mendonça Pinto, em 24 de novembro de 1856.

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