Trabalho: 115: Criança e Música: 19 anos na UFMG



Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária

Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004

Criança e Música: 19 anos na UFMG

Área Temática de Educação

Resumo

O ensino de arte, em especial a música, encontra-se em situação lamentável no Brasil. Em sua trajetória histórica, a arte perdeu seu lugar como fator de importância na formação do ser humano alcançando espaço somente no âmbito da classe economicamente privilegiada. Sensível a esta realidade a Escola de Música da UFMG vem desenvolvendo projetos de extensão voltados para a infância e adolescência, que conciliam música, e educação. São eles: o Centro de Musicalização Infantil (comunidade em geral), e Projeto Cariúnas (população de baixa renda). Objetivos: suprir a carência de ensino artístico; oferecer prática pedagógica aos alunos de graduação e pós; capacitar professores da rede regular de ensino;desenvolver material didático. Metodologia: Utilização dos princípios da Educação Integral como filosofia geral do trabalho e, referências de métodos ativos (Orff, Willems, Schafer), e Teoria de Swanwick onde a Apreciação-Performance-Criação, são trabalhados de maneira integrada. Resultados: Acadêmico: produção de artigos, monografias,cursos, material didático. Artístico: audições, musicais e concertos;Fonográfico: gravação de CDs. Conclusão: O CMI e Cariúnas constituem a trajetória de 19 anos da extensão da EMUFMG atendendo a infância e a adolescência. Hoje, a Escola avança em projetos voltados para a área social, e rede regular de ensino.

Autoras

Profª Tânia Mara Lopes Cançado, Doutora em Educação Musical/Universidade de Shenandoah, USA; coord. do Cariúnas

Profª Jussara Rodrigues Fernandino: Especialista em Educação Musical, coord.do CMI

Instituição

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

Palavras-chave: música; educação; cidadania

Introdução e objetivo

Imagine...Bairro Primeiro de Maio, periferia norte de Belo Horizonte, MG. Foguetes iluminam os céus comemorando, por uma semana, a vitória inédita de um de seus moradores: um jovem que conquista uma vaga no curso de música da Universidade Federal de Minas Gerais... Imagine agora uma jovem, aos 12 anos, aluna de piano do curso de extensão da EMUFMG, aos 17 ingressa na graduação desta mesma escola, e como aluna, participa da construção de um projeto de extensão voltado para a musicalização infantil. Imagine outro jovem, graduando em flauta, que como professor estagiário da extensão, desenvolve estudos específicos para a iniciação à flauta transversal... E agora uma menina, do curso infantil, não tornou-se musicista...

O jovem do Bairro Primeiro de Maio é Reginaldo José da Costa. Aluno do curso de Licenciatura em Música da EMUFMG. Ex-aluno do Projeto Cariúnas, o primeiro projeto de extensão extra-muros da EMUFMG, no atendimento a crianças e adolescentes de baixa renda. Em processo de capacitação, para tornar-se um multiplicador, Reginaldo atua hoje como professor do Projeto Cariúnas. A jovem é Gislene Marino, ex-aluna da EMUFMG que pertenceu à primeira turma de estágio do Centro de Musicalização Infantil da UFMG. Anos mais tarde, atuou no Projeto Cariúnas como professora e, assimilando a experiência adquirida nos dois projetos, cria o Curso de Musicalização Infantil da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), da qual é docente atualmente. O “CMI” da UEMG foi criado juntamente com outros docentes, todos ex-alunos e estagiários da EMUFMG. Gislene é hoje aluna do Mestrado em Educação da Faculdade de Educação da UFMG. O jovem flautista é Alberto Sampaio. Atualmente, professor da Fundação de Educação Artística, conceituada escola de música de Belo Horizonte, cursa o mestrado em Performance Musical na EMUFMG, onde aprofunda sua pesquisa iniciada no CMI, gerando um material inédito de jogos e estratégias para o ensino da flauta transversal. A menina é Mariana Pôncio Almeida. Ex-aluna do CMI, não tornou-se musicista, mas psicóloga. Atualmente coordena o “Centro de Acolhida Casa Novella”, instituição que recebe crianças em situação de risco social, na região norte de BH. Mariana, em atitude multiplicadora, está viabilizando um projeto, no qual a música será um mecanismo de formação e resgate. “A importância que a música teve em minha infância” é a declaração de Mariana para demonstrar sua crença na força da arte como instrumento de construção de cidadania. Força esta, cuja capacidade e importância, atualmente, é desconhecida ou sub utilizada nos meios educacionais.

Desde os tempos primórdios, a necessidade da manifestação artística se fez presente. Caçar, comer, dormir, reproduzir seria o bastante para o homem nas condições tão adversas da pré-história. Entretanto, a pintura rupestre, os instrumentos de osso e madeira, e as danças rituais demonstram que a necessidade material em si não era o bastante. A arte, condicionada ao contexto mágico da época, foi vital para a sobrevivência e para a edificação das futuras civilizações. A história da educação grega é o exemplo máximo da educação na antiguidade, buscando atender as necessidades básicas do indivíduo através de um aprendizado onde se integra corpo, mente e espírito. Esse sistema educacional amadurece e define suas características com Platão, que pregava que “só há duas formas de educar o homem: o corpo, através do movimento e o espírito através da música”. Entretanto, esta filosofia e sua prática tão bem assimilada e desenvolvida na antiguidade, se perde com o tempo. J. Miller(1996), citado por Yus(2002) afirma que desde a revolução industrial, “a humanidade estimulou a compartimentalização e a padronização, cujo resultado foi a fragmentação da vida”. Yus(2002) complementa este pensamento, afirmando que essa fragmentação passou a afetar todas as esferas da vida humana. Isso refletiu não só na vida econômica, mas social, pessoal, e principalmente nas áreas da cultura e da educação.

Frente a esse modelo de fragmentação a escola passa a ser cada vez mais compartimentada, hierarquizada, exigindo cada vez mais profissionais especializados, e os campos do conhecimento, por conseguinte, cada vez mais desconectados entre si. De acordo com Martínez (1997), os diferentes sistemas de ensino, de maneira geral, são concebidos visando a apropriação de conhecimentos e habilidades, “não para desenvolver integralmente a personalidade, nem para formar indivíduos criativos”. A autora propõe que uma ideal estruturação do ensino deve possuir “caráter produtivo (não reprodutivo), voltado não só para a apropriação de conhecimentos e estratégias de ação cognitiva, mas também para o desenvolvimento de recursos personológicos essenciais”. Com os avanços da pedagogia e da psicologia várias correntes pedagógicas surgiram no intuito de sanar esta deficiência do ensino. Na música não foi diferente. A partir do final do século XIX e no decorrer do século XX, os denominados métodos ativos (metodologias que priorizam a vivência musical anterior à aquisição de conceitos e técnicas instrumentais específicas) resgataram a filosofia de integração, da não fragmentação da experiência e da democratização do ensino musical. Nos países em que estes métodos se desenvolveram, a música faz parte do programa curricular da escola pública. No Brasil, entretanto, a “música para todos”, em função da oscilação das políticas educacionais, perde sua concepção original restringindo-se a escolas especializadas de música, acessíveis apenas à classe economicamente privilegiada. O ensino de música em nosso país teve um momento que alcançou a escola regular e pública, em âmbito nacional, com o canto orfeônico nas décadas de 40 e 50, liderado pelo compositor Heitor Villa-Lobos. Caiu em declínio pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961(LDB/61), que eliminou as atividades culturais, em especial, a música, do currículo das escolas.

Um novo movimento traz o conceito de arte-educação nos anos 70 e a nova LDB/71 instituiu a Educação Artística e o professor polivalente. Nesse contexto, o professor deveria promover conteúdos e atividades provenientes das várias manifestações artísticas (música, teatro, artes plásticas, dança). O que se passa a seguir é, contraditoriamente, um total esvaziamento da arte na escola, já que nenhum professor teria capacitação suficiente para suprir e sustentar as exigências da polivalência.

Nem a LDB/96, que extingue a polivalência e coloca a arte como conteúdo curricular obrigatório, consegue superar o estado de esfacelamento em que se encontra a música na escola regular. Salvo exceções, é vista apenas como recreação ou como facilitadora de disciplina (cantos para formar a fila, lavar as mãos, guardar o material, etc) (FUCS/1991), sendo que, na maioria das escolas, simplesmente inexiste. Sendo assim, o desenvolvimento da sensibilidade cultural e artística ainda não tem o espaço devido no processo educacional básico. Na verdade, apesar de reconhecermos sua importância para a condição humana, constatamos que a arte não é, de fato, valorizada e considerada como um dos campos do conhecimento humano, por conseguinte, encontra-se fora da formação do cidadão. Em função disso, o quadro cultural que vivenciamos no país é significativo. É notável a musicalidade do brasileiro, sendo que, nos vários estilos musicais, há artistas de primeira linha. Entretanto, o desconhecimento, o despreparo e a falta de opção da maioria da população é campo fértil para os desmandos da mídia.

A Escola de Música da UFMG, através de seus cursos de extensão voltados para a infância e adolescência – Centro de Musicalização Infantil (comunidade em geral), Projeto Cariúnas (curso gratuito para comunidade de baixa renda) e seus sub-projetos na escola regular, procura minorar esta realidade, na qual o alcance da educação musical é restrito a poucos. O Centro de Musicalização Infantil da UFMG (CMI), criado em 1985, tem como objetivos específicos: atender a comunidade em geral, oferecendo cursos de musicalização e ensino instrumental para crianças de 03 a 12 anos; proporcionar prática pedagógica aos alunos da Escola de Música (graduação e pós-graduação) através de orientações e estágios; oferecer espaço para o desenvolvimento de projetos de pesquisa do corpo docente e discente; promover oficinas, palestras e cursos para atualização e capacitação de coordenadores e estagiários (professores e alunos da Escola de Música, respectivamente), bem como para professores da rede regular de ensino em projetos específicos; promover a cultura musical através de audições e concertos no âmbito da comunidade universitária e comunidade em geral. O CMI conta hoje com 100 alunos e 17 estagiários. O Projeto CARIÚNAS foi criado em 1997 em parceria com a Sociedade Artística Mirim de Belo Horizonte e Fundação CDL (Clube de Diretores Lojistas de BH), para atender a comunidade de baixa renda da periferia da cidade. O CARIÚNAS oferece cursos integrados de música e dança para crianças e adolescentes de 06 a 17 anos. Os objetivos específicos do Projeto são: desenvolver as habilidades individuais nas áreas da música e da dança; oferecer meios para futura profissionalização dos alunos; formar agentes multiplicadores da cultura através da preparação pedagógica, via treinamentos e estágios em creches, centros culturais, e outros centros comunitários; proporcionar espaço a alunos de graduação e pós-graduação para estágios curriculares de diversas instituições de ensino. Hoje, o programa CARIÚNAS atende 190 crianças e adolescentes.

Metodologia

Ambos os projetos tem como pressuposto a educação integral, onde a concepção de ensino está calcada na convicção de que a personalidade global da criança deve ser valorizada. Conforme Yus(2002), a educação integral considera “todas as facetas da experiência humana, não só o intelecto racional e as responsabilidades de vocação e cidadania, mas também, os aspectos físicos, emocionais, sociais, estéticos, criativos, intuitivos e espirituais inatos da natureza do ser humano”. Do ponto de vista musical, em específico, são utilizados como referenciais teóricos alguns representantes dos métodos ativos, principalmente, Carl Orff, Edgar Willems, e Murray Schafer.

Destaca-se, ainda, a Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical, de Keith Swanwick. A teoria sintetiza conhecimentos advindos da Pedagogia, Psicologia e Psicologia da Música, levando em consideração as características e necessidades de cada fase do desenvolvimento humano em relação aos processos musicais. Dentro da linha de pensamento de Swanwick, o processo de desenvolvimento musical consolida-se somente com a integração de três atividades principais, que se retroalimentam: Performance (execução musical: tocar, cantar, dançar), Audição (ouvir, apreciar, interagir) e Composição (improvisação, criação musical). Neste sentido, a educação da musicalidade atua em vários mecanismos do fazer musical (cognitivos, técnico-corporais, emocionais e estéticos) indo de encontro, assim, à filosofia primeira: a educação integral. É importante ressaltar, que esses processos desencadeiam o que chamamos de educação “para” e educação “pela” música, onde os indivíduos, em contato com as atividades artísticas (coral, musicalização, instrumentos musicais, dança) desenvolvem demais atributos como comunicação, sociabilidade, concentração, sensibilidade, senso crítico-criativo, auto-estima, ao mesmo tempo em que adquire uma habilidade artística.

Resultados e discussão

Centro de Musicalização Infantil:

Produção Acadêmica: Difusão do conhecimento produzido através da participação em projetos da UFMG como Jornada Cultural, NAICA, PRONAICA, UFMG Jovem, Fórum de Educação Infantil. . Em 1999 foi selecionado pela PROEX a participar do II Congresso de Extensão das Universidades Públicas da Região Sudeste, no Rio de Janeiro, com apresentação de painel e participação em grupos de trabalho. Também realiza assessorias e parcerias como o CMI-Betim, juntamente com a Fundação de Arte de Betim (FUNARBE/1993), o projeto “Sensibilização Musical”, realizado com os educadores do Centro de Desenvolvimento da Criança (CDC-UFMG/1994) e a participação no Projeto Educação, Cultura e Juventude (Programa Observatório da Juventude), coordenado pelo Prof. Juarez Dayrell, Faculdade de Educação/UFMG, atuando junto aos professores da Escola Municipal Cônego Sequeira (2003). Produção de trabalhos acadêmicos resultantes de bolsas de Iniciação Científica, monografias do Curso de Especialização em Educação Musical e artigos de docentes em periódicos da área. Produção de material didático para utilização própria e como suporte às disciplinas pedagógicas do curso de Licenciatura e Especialização em Educação Musical da EMUFMG. O CMI contribui ainda com a produção de clientela para a graduação da Escola de Música e com a capacitação de futuros professores. Vários ex-estagiários do CMI são hoje docentes nas seguintes instituições de ensino superior: UFMG, UEMG; UFOP, UFSM, UFPel. Sem contar as demais instituições de ensino especializado em música, inclusive duas escolas de musicalização infantil criadas por ex-estagiários (Opus e Alegretto, ambas em Belo Horizonte).

Produção Artística: Criação da primeira orquestra infantil de Belo Horizonte, em 1988. I, II e III “Festival de Criação Musical Infantil” (1995 a 1997), evento inédito, cujo objetivo foi a valorização e a implementação da criação infantil nos processos de ensino-aprendizagem. Diversas apresentações públicas, de audições curriculares a participação em eventos de âmbito nacional e internacional, destacando o concerto de abertura do “V Festival Internacional de Coros” (BH/1988), “IX Festa Nacional do Milho”, Patos de Minas, MG, 1989, a participação na ópera “Carmina Burana”, de Carl Orff (2002), Concerto Didático na IV Reunião da UFMG Jovem (2003), concerto de abertura do 6o. Encontro da Canção Infantil Latino-americana e Caribenha (BH/2003), abertura da exposição “Fabrincantes de brinquedos: inventário do brinquedo em BH” (Reitoria da UFMG/2003), lançamento do CD “Villa-Lobos e os brinquedos de roda” (Palácio das Artes e Programa “Domingo no Campus/ Reitoria da UFMG/2004).

Produção Fonográfica: O CMI divulgou sua produção musical em duas gravações públicas: “Musicando a vida” (1988) e “Cantos e Encantos” (1995), além das gravações de cunho interno, realizadas no estúdio da Escola de Música, como registro do trabalho realizado (2002/2003).

Projeto CARIÚNAS:

Produção Acadêmica: monografias e outros trabalhos acadêmicos enfocando a filosofia e metodologia do projeto, elaborados por estagiários de música, psicologia, enfermagem,e pedagogia oriundos das seguintes instituições (UFMG, UEMG, Faculdade Newton Paiva e Pontifícia Universidade Católica de MG); divulgação do trabalho, através de publicação de artigos e palestras em encontros e congressos enfocando a inserção da arte no setor social, destacando: IX Encontro Mineiro de Musicoterapia/2002/BH; Fórum Arte e Ensino no Brasil/34º Festival de Inverno da UFMG/2002; I Encontro Nacional da ABET (Associação Brasileira de Etnomusicologia)/2002/Recife; 9o.Encontro Nacional de Associações de Apoio à Adoção/2004/BH.

Produção Artística: Auto de Natal “O Presépio”/2000/2001 (Teatro Nansen Araújo/BH) e Musical “Mistura Brasil”/2003 (Teatro Nansen Araújo e Palácio do Itamaraty/Brasília); espetáculos cênico-musicais integrando a dança, a música e o teatro, compostos exclusivamente para os alunos do Cariúnas; diversas apresentações do coral e grupos de dança em Belo Horizonte e interior de Minas Gerais; Orquestra de Sopros infanto-juvenil (2004) cuja regência e arranjos são desenvolvidos por professores e alunos da EMUFMG.

Premiações: Prêmio Mercocidades de Cultura (publicação do projeto na revista “Cultura, Ação Social”, Edições Funalfa/2002); semifinalista do prêmio Itaú-UNICEF/2003; alunos premiados no “X Concurso da Academia Toute Forme” (concurso de dança), 1° e 3° lugares.

Produção Fonográfica: Gravação do CD “Sementes do Amanhã”/2002/Gravado no estúdio da EMUFMG com a participação de instrumentistas, professores, regentes da mesma escola. Produção patrocinada pelo SERVAS-BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Este CD resultou em Musical homônimo.

A discussão referente aos presentes projetos situa-se em torno da multiplicação, sendo esta entendida em duas vertentes: a multiplicação do conhecimento e o agente multiplicador. O CMI, como integrante do Fórum UFMG de Educação Infantil e em consequência dessa participação, inaugurou em 2004 a parceria CMI-CDC (Centro de Desenvolvimento da Criança/UFMG). O CDC trabalha com crianças de 0 a 06 anos e a Educação Infantil (antiga pré-escola), de maneira geral, apresenta uma crescente demanda quanto ao ensino da arte, paralela à falta de preparo dos professores frente a esta realidade. A parceria surgiu, então, como via de conciliar a necessidade deste setor à necessidade de expansão dos conhecimentos produzidos no CMI, fora do âmbito da escola especializada. Porém, o simples repasse de conhecimento não é suficiente nessa situação. Faz-se necessário conhecer de maneira aprofundada a realidade da escola regular, adaptar e produzir novas técnicas de ensino para que, futuramente, produzido e sistematizado, este processo possa vir a atender demais escolas e creches. A discussão, neste sentido, está centrada na democratização do ensino musical, com a qual esperamos contribuir atingindo, num futuro próximo, um número cada vez maior de crianças, difundindo e canalizando os resultados alcançados à escola regular, principalmente a escola pública e gratuita. Para alcançar este objetivo de forma efetiva, a preparação do educador é condição fundamental, o que ambos projetos têm investido.

No Projeto Cariúnas os adolescentes que completam 15 anos de idade, passam a participar, além das atividades do programa, de aulas de didática da educação musical, da dança e da iniciação à flauta doce. Desta forma, durante um ano, este aluno começa a aprender a ensinar, observando seus professores e recebendo orientações teóricas para, no ano seguinte, iniciar sua primeira experiência prática como monitor, no próprio projeto ou em outro espaço cultural. Nessa nova experiência, o monitor Cariúnas ganha uma pequena bolsa de estágio, que é paga pela Sociedade Artística Mirim ou pela instituição que solicita os serviços. Hoje as seguintes instituições estão sendo atendidas pelos agentes do Projeto Cariúnas: Centro de Solidariedade BETTINA, Creche Casa do Sol, Escola Madre Gertrudes, e Escola Municipal Nossa Senhora do Amparo.

Conclusões

A extensão da Escola de Música, em sua face voltada para a atenção à criança e ao adolescente, vem adquirindo amadurecimento ao longo desses 19 anos de existência. Apesar da trajetória de quase duas décadas, sendo, inclusive, referência para criação de novos cursos e escolas, consideramos que o trabalho ainda não se encontra concluído. Há a constante necessidade de adequação e sensibilidade às mudanças da realidade que envolve esta faixa etária.

Atualmente, os resultados internos já alcançados passam por um momento de reprocessamento, visando a multiplicação e o alcance de novos espaços. O que surgiu como uma escola especializada de musicalização (CMI), que vem contribuindo, ao longo desses anos, com a formação cultural e humana de centenas de crianças, gerou afluentes: projetos isolados em creches e escolas da rede regular. Estes, por sua vez, possibilitaram a visão de um novo universo de necessidades e a aquisição de experiência suficiente para a construção de empreendimentos de alcance mais profundo: o Projeto CARIÚNAS e a Parceria CMI-CDC. Contribuir com a sociedade a partir da inserção social e a partir da escola regular constitui a renovação de esforços em prol de valorizar a especificidade da arte e o papel da cultura no fortalecimento da cidadania: seres humanos mais sensíveis, mais criativos, com personalidade mais coesa, certamente terão mentalidade mais crítica, ativa, participativa. Em nossa percepção, não é mais possível alijar as artes do contexto da formação do cidadão.

Não é mais possível vivermos num mundo que nos horroriza, que nos angustia com a sensação de falta de saída, e permanecermos em atitude passiva. Certamente, não será a música de forma isolada, mas um conjunto de ações efetivamente educativas, que contribuirá para possíveis mudanças. Encontramos apoio nas afirmações de Maslow (1982), que identifica e reconhece a propriedade da arte em atingir a plenitude do ser humano: “Se os objetivos estabelecidos abertamente para a educação dos seres humanos, são os mesmos que estou pensando, se o que esperamos de nossos filhos é que sejam seres humanos plenos e que avancem rumo à realização de suas potencialidades, então o único tipo de educação existente hoje em dia com alguns indícios de tais objetivos é, se não me engano, a educação artística”. E ainda: “outra conclusão da qual acredito estar me aproximando... é que a educação artística criativa, ou melhor, a educação por meio da arte, pode ser importante de uma forma especial, não tanto porque produza artistas ou produtos artísticos, mas porque pode produzir pessoas melhores”.

E somente pessoas melhores construirão um mundo melhor.

Referências bibliográficas

FUCS, Rosa. O Discurso do Silêncio. Enelivros: 1991

MAORROU, Henri-Irênêe. História da Educação na Antiguidade. Editora Pedagógica e Universitária Ltda MEC: 1975.

MARTÍNEZ, Albertina M. Criatividade, Personalidade e Educação. Papirus Editora: 1997. 158 p.

MASLOW, A. La amplitud potencial de la naturaleza humana. Trillas: 1982

SWANWICK, Keith. Music, Mind and Education. Routledge: 1988

YUS, Rafael. Educação Integral, uma educação holística para o século XXI. ARTMED Ed. SA: 2002.

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