Coletânea de músicas para trabalho



Coletânea de músicas para trabalho

Português como Língua Estrangeira

Lista

• A banda 2

• Almanaque 3

• Apesar de você 4

• Carolina 5

• Ciranda da bailarina 6

• Estação derradeira 7

• Eu te amo 8

• João e Maria 9

• Meu caro amigo 10

• O que será 11

• Olê, Olá 12

• Passaredo 13

• Pedaço de mim 14

• Piruetas 15

• Quem te viu, quem te vê 16

• Retrato em branco e preto 17

• Samba do grande amor 18

• Sobre todas as coisas 19

• Todo o sentimento 20

• Vai passar 21

• Trem das cores 22

• Rancho fundo 23

• CASA NO CAMPO 24

• Você não entende nada 25

• Eu sonhei que tu estavas tão linda 26

• Quem de nós dois 27

• Por Enquanto 28

• Garganta 29

• Três apitos 30

A banda

Chico Buarque

1966

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou

O faroleiro que contava vantagem parou

A namorada que contava as estrelas parou

Pra ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu

A rosa triste que vivia fechada se abriu

E a meninada toda se assanhou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu

A lua cheia que vivia escondida surgiu

Minha cidade toda se enfeitou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto

O que era doce acabou

Tudo tomou seu lugar

Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto

Em cada canto uma dor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

Almanaque

Chico Buarque

1980

Ô menina vai ver nesse almanaque como é que isso tudo começou

Diz quem é que marcava o tique-taque e a ampulheta do tempo disparou

Se mamava de sabe lá que teta o primeiro bezerro que berrou

Me responde, por favor

Pra onde vai o meu amor

Quando o amor acabar

Quem penava no sol a vida inteira, como é que a moleira não rachou

Me diz, me diz

Quem tapava esse sol com a peneira e quem foi que a peneira esfuracou

Quem pintou a bandeira brasileira que tinha tanto lápis de cor

Me responde por favor

Pra onde vai o meu amor

Quando o amor acaba

Diz quem foi que fez o primeiro teto que o projeto não desmoronou

Quem foi esse pedreiro, esse arquiteto, e o valente primeiro morador

Diz quem foi que inventou o analfabeto e ensinou o alfabeto ao professor

Me responde por favor

Pra onde vai o meu amor

Quando o amor acabar

Quem é que sabe o signo do capeta, o ascendente de Deus Nosso Senhor

Quem não fez a patente da espoleta explodir na gaveta do inventor

Quem tava no volante do planeta que o meu continente capotou

Me responde por favor

Pra onde vai o meu amor

Quando o amor acabar

Vê se tem no almanaque, essa menina, como é que termina um grande amor

Se adianta tomar uma aspirina ou se bate na quina aquela dor

Se é chover o ano inteiro chuva fina ou se é como cair o elevador

Me responde por favor

Pra que tudo começou

Quando tudo acabar

Apesar de você

Chico Buarque

1970

Hoje você é quem manda

Falou, tá falado

Não tem discussão

A minha gente hoje anda

Falando de lado

E olhando pro chão, viu

Você que inventou de inventar

Toda a escuridão

Você que inventou o pecado

Esqueceu-se de inventar

O perdão

Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Eu pergunto a você

Onde vai se esconder

Da enorme euforia

Como vai proibir

Quando o galo insistir

Em cantar

Água nova brotando

E a gente se amando

Sem parar

Quando chegar o momento

Esse meu sofrimento

Vou cobrar com ljuros, juro

Todo esse amor reprimido

Esse grito contido

Este samba no escuro

Você que inventou a tristeza

Ora, tenha fineza

De desinventar

Você vai pagar e é dobrado

Cada lágrima rolada

Nesse meu penar

Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Inda pago pra ver

O jardim florescer

Qual você não queria

Você vai se amargar

Vendo o dia raiar

Sem lhe pedir licença

E eu vou morrer de rir

Que esse dia há de vir

Antes do que você pensa

Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Você vai ter que ver

A manhã renascer

E esbanjar poesia

Como vai se explicar

Vendo o céu clarear

De repente, impunemente

Como vai abafar

Nosso coro a cantar

Na sua frente

Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia

Você vai se dar mal

Etc. e tal

Carolina

Chico Buarque

1967

Carolina

Nos seus olhos fundos

Guarda tanta dor

A dor de todo esse mundo

Eu já lhe expliquei que não vai dar

Seu pranto não vai nada mudar

Eu já convidei para dançar

É hora, já sei, de aproveitar

Lá fora, amor

Uma rosa nasceu

Todo mundo sambou

Uma estrela caiu

Eu bem que mostrei sorrindo

Pela janela, ói que lindo

Mas Carolina não viu

Carolina

Nos seus olhos tristes

Guarda tanto amor

O amor que já não existe

Eu bem que avisei, vai acabar

De tudo lhe dei para aceitar

Mil versos cantei pra lhe agradar

Agora não sei como explicar

Lá fora, amor

Uma rosa morreu

Uma festa acabou

Nosso barco partiu

Eu bem que mostrei a ela

O tempo passou na janela

Só Carolina não viu

Ciranda da bailarina

Edu Lobo - Chico Buarque

1982

Procurando bem

Todo mundo tem pereba

Marca de bexiga ou vacina

E tem piriri, tem lombriga, tem ameba

Só a bailarina que não tem

E não tem coceira

Berruga nem frieira

Nem falta de maneira

Ela não tem

Futucando bem

Todo mundo tem piolho

Ou tem cheiro de creolina

Todo mundo tem um irmão meio zarolho

Só a bailarina que não tem

Nem unha encardida

Nem dente com comida

Nem casca de ferida

Ela não tem

Não livra ninguém

Todo mundo tem remela

Quando acorda às seis da matina

Teve escarlatina

Ou tem febre amarela

Só a bailarina que não tem

Medo de subir, gente

Medo de cair, gente

Medo de vertigem

Quem não tem

Confessando bem

Todo mundo faz pecado

Logo assim que a missa termina

Todo mundo tem um primeiro namorado

Só a bailarina que não tem

Sujo atrás da orelha

Bigode de groselha

Calcinha um pouco velha

Ela não tem

O padre também

Pode até ficar vermelho

Se o vento levanta a batina

Reparando bem, todo mundo tem pentelho

Só a bailarina que não tem

Sala sem mobília

Goteira na vasilha

Problema na família

Quem não tem

Procurando bem

Todo mundo tem...

Estação derradeira

Chico Buarque

1987

Rio de ladeiras

Civilização encruzilhada

Cada ribanceira é uma nação

À sua maneira

Com ladrão

Lavadeiras, honra, tradição

Fronteiras, munição pesada

São Sebastião crivado

Nublai minha visão

Na noite da grande

Fogueira desvairada

Quero ver a Mangueira

Derradeira estação

Quero ouvir sua batucada, ai, ai

Rio do lado sem beira

Cidadãos

Inteiramente loucos

Com carradas de razão

À sua maneira

De calção

Com bandeiras sem explicação

Carreiras de paixão anada

São Sebastião crivado

Nublai minha visão

Na noite da grande

Fogueira desvairada

Quero ver a Mangueira

Derradeira estação

Quero ouvir sua batucada, ai, ai

Eu te amo

Tom Jobim - Chico Buarque

1980

Ah, se já perdemos a noção da hora

Se juntos já jogamos tudo fora

Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios

Rompi com o mundo, queimei meus navios

Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas

Já confundimos tanto as nossas pernas

Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão

Se na bagunça do teu coração

Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido

Meu paletó enlaça o teu vestido

E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos

Teus seios inda estão nas minhas mãos

Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta

Te dei meus olhos pra tomares conta

Agora conta como hei de partir

João e Maria

Sivuca - Chico Buarque

1977

Agora eu era o herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cowboy

Era você

Além das outras três

Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e seus canhões

Guardava o meu bodoque

E ensaiava o rock

Para as matinês

Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigada a ser feliz

E você era a princesa

Que eu fiz coroar

E era tão linda de se admirar

Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não

Finja que agora eu era o seu brinquedo

Eu era o seu pião

O seu bicho preferido

Sim , me dê a mão

A gente agora já não tinha medo

No tempo da maldade

Acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal

Que o faz-de-conta terminasse assim

Pra lá desse quintal

Era uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo

Sem me avisar

E agora eu era um louco a perguntar

O que é que a vida vai fazer de mim

Meu caro amigo

Francis Hime - Chico Buarque

1976

Meu caro amigo me perdoe, por favor

Se eu não lhe faço uma visita

Mas como agora apareceu um portador

Mando notícias nessa fita

Aqui na terra 'tão jogando futebol

Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll

Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação

Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça

E a gente vai tomando que, também, sem cachaça

Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar

Nem atiçar suas saudades

Mas acontece que não posso me furtar

A lhe contar as novidades

Aqui na terra 'tão jogando futebol

Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll

Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

É pirueta pra cavar o ganha-pão

Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro

E a gente vai fumando que, também, sem cigarro

Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar

Mas a tarifa não tem graça

Eu ando aflito pra fazer você ficar

A par de tudo que se passa

Aqui na terra 'tão jogando futebol

Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll

Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita careta pra engolir a transação

E a gente tá engolindo cada sapo no caminho

E a gente vai se amando que, também, sem um carinho

Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever

Mas o correio andou arisco

Se permitem, vou tentar lhe remeter

Notícias frescas nesse disco

Aqui na terra 'tão jogando futebol

Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll

Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

A Marieta manda um beijo para os seus

Um beijo na família, na Cecília e nas crianças

O Francis aproveita pra também mandar lembranças

A todo o pessoal

Adeus

O que será

(À flor da terra)

Chico Buarque

1976

O que será que será

Que andam suspirando pelas alcovas

Que andam sussurando em versos e trovas

Que andam combinando no breu das tocas

Que anda nas cabeças, anda nas bocas

Que andam acendendo velas nos becos

Que estão falando alto pelos botecos

Que gritam nos mercados, que com certeza

Está na natureza, será que será

O que não tem certeza, nem nunca terá

O que não tem conserto, nem nunca terá

O que não tem tamanho

O que será que será

Que vive nas idéias desses amantes

Que cantam os poetas mais delirantes

Que juram os profetas embriagados

Que está na romaria dos mutilados

Que está na fantasia dos infelizes

Que está no dia-a-dia das meretrizes

No plano dos bandidos, dos desvalidos

Em todos os sentidos, será que será

O que não tem decência, nem nunca terá

O que não tem censura, nem nunca terá

O que não faz sentido

O que será que será

Que todos os avisos não vão evitar

Porque todos os risos vão desafiar

Porque todos os sinos irão repicar

Porque todos os hinos irão consagrar

E todos os meninos vão desembestar

E todos os destinos irão se encontrar

E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá

Olhando aquele inferno, vai abençoar

O que não tem governo, nem nunca terá

O que não tem vergonha nem nunca terá

O que não tem juízo

Olê, Olá

Chico Buarque

1965

Não chore ainda não

Que eu tenho um violão

E nós vamos cantar

Felicidade aqui

Pode passar e ouvir

E se ela for de samba

Há de querer ficar

Seu padre toca o sino

Que é pra todo mundo saber

Que a noite é criança

Que o samba é menino

Que a dor é tão velha

Que pode morrer

Olê olê olê olá

Tem samba de sobra

Quem sabe sambar

Que entre na roda

Que mostre o gingado

Mas muito cuidado

Não vale chorar

Não chore ainda não

Que eu tenho uma razão

Pra você não chorar

Amiga me perdoa

Se eu insisto à toa

Mas a vida é boa

Para quem cantar

Meu pinho, toca forte,

Que é pra todo mundo acordar

Não fale da vida

Nem fale da morte

Tem dó da menina

Não deixa chorar

Olê olê olê olá

Tem samba de sobra

Quem sabe sambar

Que entre na roda

Que mostre o gingado

Mas muito cuidado

Não vale chorar

Não chore ainda não

Que eu tenho a impressão

Que o samba vem aí

E um samba tão imenso

Que eu às vezes penso

Que o próprio tempo

Vai parar pra ouvir

Luar, espere um pouco

Que é pro meu samba poder chegar

Eu sei que o violão

Está fraco, está rouco

Mas a minha voz

Não cansou de chamar

Olê olê olê olá

Tem samba de sobra

Ninguém quer sambar

Não há mais quem cante

Nem há lugar mais lugar

O sol chegou antes

Do samba chegar

Quem passa nem liga

Já vai trabalhar

E você, minha amiga

Já pode chorar

Passaredo

Francis Hime - Chico Buarque

1975-1976

Ei, pintassilgo

Oi, pintaroxo

Melro, uirapuru

Ai, chega-e-vira

Engole-vento

Saíra, inhambu

Foge asa-branca

Vai, patativa

Tordo, tuju, tuim

Xô, tié-sangue

Xô, tié-fogo

Xô, rouxinol sem fim

Some, coleiro

Anda, trigueiro

Te esconde colibri

Voa, macuco

Voa, viúva

Utiariti

Bico calado

Toma cuidado

Que o homem vem aí

O homem vem aí

O homem vem aí

Ei, quero-quero

Oi, tico-tico

Anum, pardal, chapim

Xô, cotovia

Xô, pescador-martim

Some, rolinha

Anda, andorinha

Te esconde, bem-te-vi

Voa, bicudo

Voa, sanhaço

Vai, juriti

Bico calado

Muito cuidado

Que o homem vem aí

O homem vem aí

O homem vem aí

Pedaço de mim

Chico Buarque

1977-1978

Oh, pedaço de mim

Oh, metade afastada de mim

Leva o teu olhar

Que a saudade é o pior tormento

É pior do que o esquecimento

É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim

Oh, metade exilada de mim

Leva os teus sinais

Que a saudade dói como um barco

Que aos poucos descreve um arco

E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim

Oh, metade arrancada de mim

Leva o vulto teu

Que a saudade é o revés de um parto

A saudade é arrumar o quarto

Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim

Oh, metade amputada de mim

Leva o que há de ti

Que a saudade dói latejada

É assim como uma fisgada

No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim

Oh, metade adorada de mim

Leva os olhos meus

Que a saudade é o pior castigo

E eu não quero levar comigo

A mortalha do amor

Adeus

Piruetas

Enriquez - Bardotti - Chico Buarque

1981

Uma pirueta

Duas piruetas

Bravo, bravo

Superpiruetas

Ultrapiruetas

Bravo, bravo

Salta sobre

A arquibancada

E tomba de nariz

Que a moçada

Vai pedir bis

Que a moçada

Vai pedir bis

Quatro cambalhotas

Cinco cambalhotas

Bravo, bravo

Arquicambalhotas

Hipercambalhotas

Bravo, bravo

Rompe a lona

Beija as nuvens

Tomba de nariz

Que os jovens

Vão pedir bis

Que os jovens

Vão pedir bis

No intervalo

Tem cheirim de macarrão

E a barriga ronca

Mais do que um trovão

Quero um prato

Cê tá louco

Quero um pouco

Cê tá chato

Só um pedaço

Cê tá gordo

Eu te mordo

Seu palhaço

Olha o público

Cansado de esperar

O espetáculo não

Pode parar

Vinte piruetas

Trinta piruetas

Bravo, bravo

Polipiruetas

Maxipiruetas

Bravo, bravo

Sobe ao céu

Fura a calota

E tomba de bumbum

Que a patota

Grita mais um

Que a patota

Grita mais um

No intervalo

Tem cheirim de macarrão

E a barriga ronca

Mais do que um leão

Quero um prato

Cê tá louco

Quero um pouco

Cê tá chato

Só um pedaço

Cê tá gordo

Eu te mordo

Seu palhaço

Olha o público

Cansado de esperar

O espetáculo

Não pode parar

Dez mil cambalhotas

Cem mil cambalhotas

Bravo, bravo

Maxicambalhotas

Extracambalhotas

Bravo, bravo

Salta além

Da atmosfera

E cai onde cair

Que a galera

Morre de rir

Que a galera

Morre de rir

Ai, minhas costelas

Já tô vendo estrelas

Bravo, bravo

Ai, minha cachola

Não tô bom da bola

Bravo, bravo

Lona... nuvens

Tomba no hospital

Uma pirueta

Uma cabriola

Uma cambalhota

Não tô bom da bola

E o pessoal

Delira...

Maxipirulito...

Ultravioleta...

Bravo, bravo!

Quem te viu, quem te vê

Chico Buarque - 1966

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala

Você era a favorita onde eu era mestre-sala

Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua

Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você

Quem te viu, quem te vê

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer

Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante

E se a gente se cansava, você só seguia adiante

Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado

Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você

Quem te viu, quem te vê

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer

Quem jamais esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos

O meu sono se embalava no carinho dos seus braços

Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão

Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você

Quem te viu, quem te vê

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer

Quem jamais esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe

De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse

Eu não sei bem com certeza por que foi que um belo dia

Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você

Quem te viu, quem te vê

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer

Quem jamais esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria

Quero que você assista na mais fina companhia

Se você sentir saudade, por favor não dê na vista

Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você

Quem te viu, quem te vê

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer

Quem jamais esquece não pode reconhecer

Retrato em branco e preto

Tom Jobim - Chico Buarque

1968

Já conheço os passos dessa estrada

Sei que não vai dar em nada

Seus segredos sei de cor

Já conheço as pedras do caminho

E sei também que ali sozinho

Eu vou ficar, tanto pior

O que é que eu posso contra o encanto

Desse amor que eu nego tanto

Evito tanto

E que no entanto

Volta sempre a enfeitiçar

Com seus mesmos tristes velhos fatos

Que num álbum de retrato

Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo

Procurar o desconsolo

Que cansei de conhecer

Novos dias tristes, noites claras

Versos, cartas, minha cara

Ainda volto a lhe escrever

Pra dizer que isso é pecado

Eu trago o peito tão marcado

De lembranças do passado

E você sabe a razão

Vou colecionar mais um soneto

Outro retrato em branco e preto

A maltratar meu coração

Samba do grande amor

Chico Buarque

1983

Tinha cá pra mim

Que agora sim

Eu vivia enfim o grande amor

Mentira

Me atirei assim

De trampolim

Fui até o fim um amador

Passava um verão

A água e pão

Dava o meu quinhão pro grande amor

Mentira

Eu botava a mão

No fogo então

Com meu coração de fiador

Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito

Exijo respeito, não sou mais um sonhador

Chego a mudar de calçada

Quando aparece uma flor

E dou risada do grande amor

Mentira

Fui muito fiel

Comprei anel

Botei no papel o grande amor

Mentira

Reservei hotel

Sarapatel

E lua-de-mel em Salvador

Fui rezar na Sé

Pra São José

Que eu levava fé no grande amor

Mentira

Fiz promessa até

Pra Oxumaré

De subir a pé o Redentor

Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito

Exijo respeito, não sou mais um sonhador

Chego a mudar de calçada

Quando aparece uma flor

E dou risada do grande amor

Mentira

Sobre todas as coisas

Edu Lobo - Chico Buarque

1982

Pelo amor de Deus

Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem

Não vê que Deus fica até zangado vendo alguém

Abandonado pelo amor de Deus

Ao Nosso Senhor

Pergunte se Ele produziu nas trevas o esplendor

Se tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a flor

Criado para adorar o Criador

E se o Criador

Inventou a criatura por favor

Se do barro fez alguém com tanto amor

Para amar Nosso Senhor

Não, Nosso Senhor

Não há de ter lançado em movimento terra e céu

Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel

Pra circular em torno ao Criador

Ou será que Deus

Que criou nosso desejo é tão cruel

Mostra os vales onde jorra o leite e o mel

E esses vales são de Deus

Pelo amor de Deus

Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem

Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém

Abandonado pelo amor de Deus

Todo o sentimento

Cristóvão Bastos - Chico Buarque

1987

Preciso não dormir

Até se consumar

O tempo

Da gente

Preciso conduzir

Um tempo de te amar

Te mando devagar

E urgentemente

Pretendo descobrir

No último momento

Um tempo que refaz o que desfez

Que recolhe todo o sentimento

E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer

Até o amor cair

Doente

Doente

Prefiro então partir

A tempo de poder

A gente se desvencilhar da gente

Depois de te perder

Te encontro, com certeza

Talvez num tempo da delicadeza

Onde não diremos nada

Nada aconteceu

Apenas seguirei, como encantado

Ao lado teu

Vai passar

Francis Hime - Chico Buarque

1984

Vai passar

Nessa avenida um samba popular

Cada paralelepípedo

Da velha cidade

Essa noite vai

Se arrepiar

Ao lembrar

Que aqui passaram sambas imortais

Que aqui sangraram pelos nossos pés

Que aqui sambaram nossos ancestrais

Num tempo

Página infeliz da nossa história

Passagem desbotada na memória

Das nossas novas gerações

Dormia

A nossa pátria mãe tão distraída

Sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações

Seus filhos

Erravam cegos pelo continente

Levavam pedras feito penitentes

Erguendo estranhas catedrais

E um dia, afinal

Tinham direito a uma alegria fugaz

Uma ofegante epidemia

Que se chamava carnaval

O carnaval, o carnaval

(Vai passar)

Palmas pra ala dos barões famintos

O bloco dos napoleões retintos

E os pigmeus do bulevar

Meu Deus, vem olhar

Vem ver de perto uma cidade a cantar

A evolução da liberdade

Até o dia clarear

Ai, que vida boa, olerê

Ai, que vida boa, olará

O estandarte do sanatório geral vai passar

Ai, que vida boa, olerê

Ai, que vida boa, olará

O estandarte do sanatório geral

Vai passar

Trem das cores

Caetano Veloso

A franja da encosta

Cor de laranja, capim rosa chá

O mel desses olhos luz

Mel de cor ímpar

O ouro ainda não bem verde da serra

A prata do trem

A lua e a estrela

Anel de turquesa

Os átomos todos dançam

Madruga, reluz neblina

Crianças cor de romã entram no vagão

O oliva da nuvem chumbo ficando

Pra trás da manhã

E a seda do azul do papel

Que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa

Que vão passando ao nos ver passar

Os dois lados da jane......la

E aquela num tom de azul

Quase inexistente azul que não há

Azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios

Ou, pra ser exato, lábios cor de açaí

e aqui trem das cores

Sábios projetos

Tocar na central

E o céu de um azul celeste

celestial

Rancho fundo

Ary Barroso e Lamartine Babo

|No rancho fundo | |

|Bem pra lá do fim do mundo | |

|Onde a dor e a saudade |No rancho fundo |

|Contam coisas da cidade |De olhar triste e profundo |

| |O moreno conta as mágoas |

| |Tendo os olhos rasos d´áqua |

|Pobre moreno | |

|Que de tarde no sereno | |

|Espera a lua no terreiro |Sem um aceno |

|Tendo o cigarro por companheiro |Ele pega da viola |

| |E a lua por esmola |

| |Vem pro quintal desse moreno |

|No rancho fundo | |

|Bem pra lá do fim do mundo | |

|Nunca mais houve alegria |Os arvoredos |

|Nem de noite, nem de dia |Já não contam mais segredos |

| |E a última palmeira |

| |Já morreu na cordilheira |

|Os passarinhos | |

|Internaram-se nos ninhos | |

|De tão triste essa tristeza |Tudo por quê? |

|enche de trevas a natureza |Só por causa do moreno |

| |Que era grande e hoje é pequeno |

| |Para uma casa de sapé |

|Se Deus soubesse | |

|da tristeza lá na serra | |

|Mandaria lá pra cima |Porque o moreno |

|todo o amor que há na terra |vive louco de saudade |

| |Só pro causa do veneno |

|Ele que era |Das morenas da cidade |

|O cantor da primavera | |

|E até fez do rancho fundo | |

|o céu maior que tem no mundo |O sol queimando |

| |Se uma flor lá desabrocha |

| |A montanha vai gelando |

| |Lembrando o aroma da cabrocha |

CASA NO CAMPO

Zé Rodrix

Eu quero uma casa no campo

Onde eu __________ cantar muitos “rocks-rurais”

E ____________ somente a certeza

Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo

Onde eu ____________ ficar

Do tamanho da paz

E ______________ somente a certeza

Dos limites do ____________

E nada mais.

Eu quero _____________ e ______________ pastando

Solenes no meu jardim

Eu quero o _______________ das línguas cansadas

Eu quero a ______________ de óculos

E o meu filho de cuca legal

Eu quero ___________ e _____________ com amor

A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo

Do _______________ ideal pau-a-pique, sapé

Onde eu ____________ guardar

Meus amigos e meus discos

Meus livros e nada mais.

Você não entende nada

Caetano Veloso

Quando eu chego em casa nada me consola

Você está sempre aflita

Lágrimas nos olhos de cortar cebola

Você está tão bonita

Você traz a Coca-Cola eu tomo

Você bota a mesa

Eu como, eu como, eu como, eu como

Você

Você não está entendendo nada do que digo.

Eu quero ir embora

Eu quero dar o fora

E quero que você venha comigo

Todo dia, todo dia

E quero que você venha comigo

Eu me sento, eu fumo, e como

Eu não agüento

Você está tão curtida

Eu quero é botar fogo nesse apartamento

Você não acredita

Traz meu café com suita, eu tomo

Traz a sobremesa, eu como

Eu como, eu como, eu como, eu como

Você

Tem que saber o que eu quero é correr mundo

Correr perigo

Eu quero é ir embora

Eu quero dar o fora

E quero que você venha comigo

Todo dia, todo dia

E quero que você venha comigo

Traga a Coca-Cola que eu tomo, que eu tomo

Bota a sobremesa, eu como

Eu sonhei que tu estavas tão linda

Lamartine Babo e Francisco Mattoso

Eu sonhei que tu estavas tão linda

Numa festa de raro esplendor

Teu vestido de baile, lembro ainda

Era branco, todo branco, meu amor

A orquestra tocou uma valsa dolente

Tomei-te aos braços fomos dançando

Ambos silentes

E os pares que rodeavam entre nós

Trocavam juras, diziam coisas à meia voz

Violinos enchiam o ar de emoções

E de ternura uma centena de corações

Prá despertar teu ciúme, tentei flertar alguém

Mas tu não flertaste ninguém

Olhavas só para mim

Vitórias de amor cantei

Mas foi tudo um sonho

Acordei

Quem de nós dois

Ana Carolina

Eu e você

Não é assim tão complicado

Não é difícil perceber

Quem de nós dois

Vai dizer que é impossível

O amor acontecer

Se eu disser que já nem sinto nada

Que a estrada sem você é mais segura

Eu sei você vai rir da minha cara

Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar

Teu sorriso é só disfarce

E eu já nem preciso

Sinto dizer

Que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar

Entre nós dois

Não cabe mais nenhum segredo

Além do que já combinamos

No vão das coisas que a gente disse

Não cabe mais sermos somente amigos

E quando eu falo que eu já nem quero

A frase fica pelo avesso

Meio na contra-mão

E quando finjo que esqueço

Eu não esqueci nada

E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais

E te perder de vista assim é ruim demais

E é por isso que atravesso o teu futuro

E faço das lembranças um lugar seguro

Não é que eu queira reviver nenhum passado

Nem revirar um sentimento revirado

Mas toda vez que eu procuro uma saída

Acabo entrando sem querer na tua vida

Eu procurei qualquer desculpa pra não te encarar

Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa

Falar só por falar

Que eu já não tô nem aí pra essa conversa

Que a história de nós dois não me interessa

Se eu tento esconder meias verdades

Você conhece o meu sorriso

Leu no meu olhar

Meu sorriso é só disfarce

Por que eu já nem preciso

Por Enquanto

Legião Urbana

Mudaram as estações e nada mudou

Mas eu sei que alguma coisa aconteceu

Está tudo assim tão diferente

Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar

Que tudo era prá sempre

Sem saber

Que o prá sempre

Sempre acaba?

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou

Quando penso em alguém

Só penso em você

E aí então estamos bem

Mesmo com tantos motivos prá deixar tudo como está

E nem desistir, nem tentar

Agora tanto faz

Estamos indo de volta prá casa

Garganta

Ana Carolina

Minha garganta estranha quando não te vejo

Me vem um desejo doido de gritar

Minha garganta arranha a tinta e os azulejos

Do teu quarto, da cozinnha, da sala de estar

Venho madrugada perturbar teu sono

Como um cão sem dono me ponho a ladrar

Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso

Tua cabeça enlouqueço faço ela rodar

Sei que não sou santa, vezes vou na cara dura,

Vezes hajo com candura pra te conquistar

Mas não sou beata, me criei na rua

E não mudo minha postura só pra te agradar

Vim parar nessa cidade por força da circunstância

Sou assim desde criança, me criei meio sem lar

Aprendi a me virar sozinha

E se eu tô te dando linha

É pra depois te abandonar

Aprendi a me virar sozinha

E se eu tô te dando linha

É pra depois te abandonar

Três apitos

Noel Rosa

Quando o apito da .............................................

Vem ferir os meus ouvidos, eu me lembro de você

Mas você anda, sem dúvida, bem ..........................

Pois está interessada em fingir que não me vê

Você que atende ao apito de uma chaminé de barro

Por que não atende ao grito tão ...................... da buzina do meu carro

Você no inverno sem meias vai pro trabalho

Não faz fé em ................................

Nem no frio você crê

Mas você é mesmo artigo que não se imita

Quando a ...................... apita

faz reclame de você.

Nos meus olhos você lê

Como eu sofro cruelmente

Com ........................... do gerente que dá ordens a você

Sou do sereno, poeta muito soturno

Vou virar ..........................................

E você sabe porquê.

Você só não sabe

Que enquanto você faz pano

Faço junto do piano

Esses versos prá você, esses versos prá você

................
................

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