Chimoio as 37 anos de cidade : Munícipes desiludidos com ...



Chimoio as 37 anos de cidade : Munícipes desiludidos com desempenho das autoridades

A CIDADE de Chimoio, capital da província de Manica, completou na passada segunda-feira, o seu 37o aniversário desde que a então Vila Pery ascendeu ao estatuto de cidade. Apesar do "puxão de orelhas" que os munícipes têm vindo a dar no sentido de despertar as autoridades sobre a gravidade dos problemas que afectam aquela urbe, a qualidade de vida dos seus habitantes ainda deixa muito a desejar, numa cidade em que os aspectos negativos suplantam os positivos.

Maputo, Quarta-Feira, 19 de Julho de 2006:: Notícias

 

Pode-se afirmar sem exagero que a fama de Chimoio como a cidade mais limpa do país terminou quando esta passou à gestão municipal em 1998, com a realização das primeiras eleições autárquicas na história do país. Daquele ano a esta parte, Chimoio decai degrau a degrau. Os seus habitantes continuam a reclamar por uma autoridade municipal actuante, interventiva, esclarecida e dinâmica, capaz de compreender, dirigir e acompanhar a evolução urbanística e o desenvolvimento humano que se regista. Entre os problemas que a cidade enfrenta, destacam-se o lixo, os buracos e a erosão nas vias públicas, com maior incidência nos bairros suburbanos. Regista-se também muita desordem urbanística, a insuficiência de sanitários públicos, a falta de iluminação pública nos bairros periféricos, falta de água potável e de arruamentos nos novos bairros. Este quadro já de si desolador, é também agravado pelos índices de criminalidade que tendem a crescer, a marginalidade e a indiferença dos responsáveis municipais face às múltiplas preocupações dos citadinos e ao comportamento inadequado de alguns munícipes. Ainda entre os problemas mais prementes que Chimoio enfrenta figuram a falta de colaboração dos próprios munícipes sobretudo no que se refere à limpeza, havendo citadinos que jogam o lixo nas vias públicas, com todos os perigos que tal prática representa para a saúde das pessoas. É normal assistir-se a cenas de moradores que varrem os seus quintais e espalham os resíduos sólidos nas ruas, acumulando montes de lixo que para além de exalarem um cheiro nauseabundo, propiciam o surgimento de mosquitos e moscas. Muitas ruas estão intransitáveis devido à acumulação de resíduos sólidos, numa cidade onde não existe fiscalização municipal que possa repor a ordem e estancar a anarquia que impera por todos os cantos da urbe.

O CLAMOR DOS CIDADÃOS

A nossa Reportagem ouviu vários munícipes a propósito da actual situação da cidade de Chimoio, os quais apresentam duas correntes de opinião diferentes. Alguns defendem que o cenário resulta do vazio do poder por parte do Conselho Municipal que perdeu o controlo da situação e não tem uma agenda concreta capaz de alterar para melhor a qualidade de vida dos cidadãos. Outros, porém, são de opinião que todo o presidente do Conselho Municipal deve demitir o seu elenco e apostar em quadros capazes e comprometidos com o desenvolvimento da autarquia. Sérgio Silva, coordenador-geral da GESOM, uma instituição multidisciplinar e que é proprietária de uma rádio comunitária e de um centro cultural em Chimoio, é de opinião de que o presidente do Conselho Municipal precisa de estar rodeado de uma equipa competente e à altura dos actuais desafios de uma cidade com enormes potencialidades como é a capital provincial de Manica. "Os vereadores não são activos. Parecem sim estarem suspensos, parados no tempo e no espaço. Como se isso não bastasse, parece não existir uma ligação entre eles e o presidente", disse Sérgio Silva. Sugere que o presidente da autarquia indique uma equipa de vereadores comprometidos com a causa da cidade, eliminando o "velho hábito" de escolher pessoas apenas com base em afinidades políticas, tribais e familiares. "Não podemos manter indivíduos inoperantes como vereadores apenas para satisfazer as nossas relações políticas, tribais ou familiares. O termo confiança tem de ser interpretado no sentido construtivo e não deve ser usado para dar lugar a situações como estas, em que um grupo de impotentes rodeiam um presidente que acaba sendo vitima de tudo", defendeu.

EDUCAR O MUNÍCIPE

Maputo, Quarta-Feira, 19 de Julho de 2006:: Notícias

 

Por seu turno, o influente músico Célio Figueiredo, condenou o hábito de culpar o presidente por tudo quanto ande errado na autarquia. Para ele, cada vereador deveria responder pelo seu pelouro e assumir as responsabilidades em caso de incumprimento das suas obrigações. "E não é isso que estamos a fazer. Imaginem como funciona o Governo central. Será que os erros cometidos pelo ministro das Obras Públicas, ou detectados numa obra de estrada, podem ser responsabilizados ao presidente da República? Então por que fazemos isso para o caso do município? Não é justo". Acrescentou que o presidente é o coordenador e não executor, pelo que afirmou não ser correcto que ele seja responsabilizado pelos erros cometidos ou pela inoperância de seus subordinados. Defendeu que ao presidente cabe a tarefa de controlar, mas reconheceu não ser fácil exercer este controlo para um elenco inoperante e que não colabora positivamente. Opinou para a necessidade dos vereadores trocarem experiências noutros municípios do país e dos países vizinhos, no sentido de melhorarem a sua visão sobre a gestão municipal, pois na sua óptica, "podemos ter vontade de trabalhar mas quando não conhecemos cabalmente a nossa missão, obviamente que caímos na confusão e na estagnação". Disse não se justificar como é possível que uma cidade pequena como Chimoio esteja repleta de problemas. "Há cidades grandes muito mais complexas, com mais de dois milhões de habitantes, que andam limpas e organizadas. Chimoio, com menos de 200 mil habitantes, pequena, não justifica esta desordem toda que anda aqui". Célio Figueiredo defendeu, por outro lado, uma educação cívica da população afirmando que a maioria dos problemas que a cidade enfrenta, decorrem de hábitos culturais nocivos à conduta e postura urbanas, agravados pela pobreza e analfabetismo generalizados. Condenou a actuação dos polícias municipais, que afirmou estarem a promover aquilo que designou de "espectáculo gratuito" contra os vendedores ambulantes, numa cidade em que o maior problema não são os vendedores mas sim o lixo, a urina a céu aberto por falta de sanitários públicos e a desordem urbanística. Acusou o Conselho Municipal de não saber definir prioridades. "Ao invés de reabilitar os passeios que neste momento estão degradados, a prioridade seria criar condições de fornecer água potável para os munícipes, edificação de sanitários públicos em locais de maior concentração, reparação daqueles que existem, bem como a reabilitação dos jardins e parques infantis".

RESOLVER OS PROBLEMAS

Maputo, Quarta-Feira, 19 de Julho de 2006:: Notícias

 

João Baptista Marto, delegado do PRD e membro da Assembleia Municipal pela bancada da Renamo-União Eleitoral, afirmou, por seu turno, estar contrariado com a desordem urbanística caracterizada por construções desordenadas, sem controlo, nem plantas e licenças, problemas estes que "urge ultrapassar". Mostrou-se ainda contra aquilo que classificou de uma "inoperância total" do Conselho Municipal, que afirmou ter perdido o controlo das obras até do próprio município. Nos lugares como mercados e nos bairros em geral, segundo a fonte, são erguidas obras de grande engenharia incluindo prédios, sem licença de construção, sem plantas, sem autorização e sem obediência às exigências da postura urbana. Devido a estes e outros problemas, Marto disse estar a viver-se um momento de completo descontentamento e decepção generalizada que vai desde os munícipes até as próprias autoridades municipais. Afirmou que o próprio presidente da edilidade está decepcionado por ter aceite o cargo e não ter podido dar conta do recado. Ajuntou não compreender como é que responsáveis que não correspondem as expectativas dos munícipes ainda se mantêm nos seus cargos, aludindo para a necessidade de convocação de eleições antecipadas para se alterar o actual estado em que se encontra aquela cidade. Enquanto isso, Alberto Joaquim, jornalista, criticou o que chamou de falta de entrega do elenco do Conselho Municipal, numa implícita referência aos vereadores e ao próprio presidente. Porém, reconheceu que a insuficiência de meios constitui a principal causa da proliferação de lixo na cidade, aludindo também para a necessidade dos munícipes assumirem uma postura mais positiva perante os problemas que a cidade enfrenta neste momento.

VICTOR MACHIRICA

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download