C. P. de Multimédia 10.º C - ESCV - 2008/2009 - PORTUGUÊS



Lê atentamente o texto que se segue. De seguida, responde às questões abaixo formuladas.

17-5-71 Ninda

Minha linda jóia

O avião voltou a não vir, donde resulta que há quase 15 dias não tenho notícias tuas. Ainda tive a esperança insensata que ele chegasse ontem, domingo, o que não sucedeu. É realmente horrível esta falta de notícias, que me deixa desamparado como se me faltasse uma perna.

Entretanto a vida aqui decorre na sua triste monotonia habitual. Só a lua desapareceu

de novo e as noites são escuras como breu. Como as lâmpadas que deviam iluminar o exterior estão todas fundidas, não se vê um palmo adiante do nariz. (...)

A história lá vai. A mim parece-me realmente boa: oxalá me não engane. O primeiro caderno, feito e refeito vezes sem conta, deve estar pronto no fim do mês. Se se puder mandar daqui ou do Chiúme encomendas registadas, envio-to logo. Se não esperarei até estar de novo em Gago Coutinho para o fazer. Têm-me dado um trabalho imenso, sobretudo esta última afinação, e chego à hora de jantar cheio de dores de cabeça por levar o dia a penar na prosa. O principal tem sido mondar isto de adjectivos supérfluos, sacudir a árvore para só ficar o essencial. Eu não sei. Mas palavra que é a última tentativa que faço, estou farto de perder tempo com porcarias. Se esta saída para o mar não ficar boa, adeus minhas encomendas, e os outros que digam o que eu sinto confusamente e não sei exprimir.

O nascimento aproxima-se a passos largos! Vais ver que é uma coisa de uma simplicidade imensa — a gente deita-se e eles nascem. Palavra. Nascem e começam logo a protestar por estar cá fora. São giríssimos — e já inteligentes...

O que me tem maçado esta história! Nem para o exame de Anatomia espremi tanto as meninges! De manhã à noite a lutar corpo a corpo com as minhas inferioridades, as minhas limitações, as minhas deficiências. Só muito tarde compreendi que se deve ser humilde diante do próprio orgulho e duvidar sempre. Cada vez tenho menos certezas e menos ilusões, avanço literalmente às apalpadelas, por tentativas. As 30 páginas prontas (cerca de 30, um pouco menos) custaram-me mais do que tudo o que fiz até agora junto. Às vezes horas à volta de uma palavra! E acabo, depois de me decidir, por não ter a certeza de que escolhi a melhor! Eu queria tanto que isto fosse a história do breve e triste país que é o nosso! E que me justificasse aos meus olhos sem nenhuma piedade por mim mesmo. Eu penso que ser-se português é uma fatalidade que se deve assumir com paciência....

(…)

Olha, eu gosto tudo de ti! Eu gostava que pusesses na casa aquela fotografia do nosso casamento que me agrada mais em que te estás a rir muito e eu de boca aberta, aparvalhado, como de costume de felicidade.

Muitos beijos do teu homem que te adora

António

E também para a Zézinha ou para o António

António Lobo Antunes, D´este viver aqui neste papel descripto - Cartas de Guerra, Maria José Lobo Antunes e Joana Lobo Antunes (org.), Publ. Dom Quixote, 2005 (texto adaptado e com supressões)

I

1. Releia o primeiro parágrafo do texto.

1.1. Transcreva as marcas do remetente e do destinatário desta carta.

1.2. Identifique o recurso estilístico utilizado para exprimir a dor provocada pela “falta de notícias”e transcreva a expressão que o ilustra.

2. Atente, agora, nos parágrafos três a cinco.

2.1. Indique os dois assuntos que aí ocupam o remetente.

2.2. Identifique o recurso estilístico presente em “ sacudir a árvore para só ficar o essencial.” (ll.14)

2.3. Explicite o seu sentido.

Seleccione duas passagens do texto que provem:

a. o sofrimento do remetente perante o acto de escrita.

b. a tentativa, por parte do remetente, de convencer o destinatário da facilidade do parto.

3. Transcreva a frase do texto onde, na sua opinião, a nota que se segue deveria ocorrer, assinalando com asterisco (*) o vocábulo em que colocaria a chamada para essa nota.

Nota: Arrancar (ervas nocivas) de junto de cereais; limpar. Em sentido figurado, significa expurgar de tudo o que é prejudicial.

4. Tendo presente as noções de tempo cronológico e tempo psicológico, transcreva do texto um exemplo para cada um deles.

II

Escolha uma das seguintes propostas de produção escrita (textos de 150-200 palavras)

1. Em finais de Junho de 1971, o remetente recebe, finalmente, a notícia tão esperada: tinha nascido o bebé. Imagine-se no seu lugar e redija a carta que ele poderia ter enviado à mulher, no dia 1 de Julho de 1971, de Chiúme, considerando que, para além da imensa felicidade aí expressa, o remetente tece considerações sobre:

- o nome a dar à menina;

- os sonhos que tinha tido sobre o seu nascimento e como imaginava que o bebé iria ser;

- as cartas que recebeu de toda a família a anunciar a boa nova e a dar os parabéns;

- as fotografias da menina que queria receber em breve.

O seu texto obedecer à estrutura formal da carta.

2. Imagine-se na “pele” do António e escolha (invente) um episódio da sua vida durante a guerra colonial em África, que seja digno de figurar nas suas memórias.

Elabore um texto, contando esse episódio, respeitando a tipologia textual proposta e procurando apresentar alguma riqueza conotativa e estilística.

Nota Bem : Na redacção deste texto deverá utilizar cinco dos conectores a seguir apresentados: consequentemente, na realidade, não posso deixar de referir, inversamente, em contrapartida, é fundamental perceber, em síntese, não só…mas também, embora, ainda assim, dado que.

In: Português – Ensino profissional, Porto Editora

3. Imagine e escreva uma carta oficial de um médico para a AMI (Assistência Médica Internacional), em que este apresente uma situação de catástrofe humanitária que se vive em Moçambique e peça a intervenção desta ONG (organização não governamental) ao nível humano e material.

4. Imagine que turma de Multimédia do 10.º ano recebeu uma carta de um médico pedindo o seu contributo numa campanha de solidariedade e a turma empenhada e determinada (como só eles sabem) resolve participar.

Imagine e redija um requerimento à Câmara Municipal de Castro Verde, solicitando a cedência de instalações e transportes. Este documento deverá ser devidamente estruturado e justificado.

O célebre caso da não-criação de porcos...

(...)

A economia (...) deixou de ter qualquer relação com a realidade para se passar por dentro da cabeça dos economistas que resolvem as grandes crises financeiras à mesa dos seus gabinetes. Julgo que não estou a exagerar se disser que a economia tende para ser urna realidade virtual. Como dizia o meu querido amigo Millôr Fernandes: "A economia compreende toda a actividade do mundo. Nenhuma actividade do mundo compreende a economia."

Já há para aí trinta anos que descobri uma carta que um senhor americano escreveu ao seu ministro da Agricultura, numa altura em que, perante uma superprodução de porcos, o governo resolveu limitar a sua produção, subsidiando os produtores que não os criassem. A carta é assim:

"Excelentíssimo Senhor Ministro,

O meu amigo Richard Hamilton recebeu este ano um cheque de 1000 dólares porque não criou porcos. Estimulado por este seu êxito decidimos iniciar na nossa propriedade o negócio da não-criação de porcos. O assunto parece-me cheio de interesse, diria mesmo apaixonante, além do muito que nos alegrará sabermos que deste modo estamos a contribuir para o bem-estar de várias pessoas que possamos utilizar nesta exploração e que por esta forma serão outros tantos empregados com ocupação, o que pode vir minorar um atroz problema social. Neste quadro de circunstâncias, pretendíamos, Senhor Ministro, que nos mandasse informar quais são as regiões mais apropriadas para a não-criação de porcos e qual a melhor raça de porcos para não criar. (...)

O que se nos afigura mais difícil nesta exploração é fazer o inventário dos porcos que não criaremos. O meu amigo Richard é muito optimista quanto ao futuro da nossa exploração. Segundo afirma, vem criando porcos há muitos anos, o que lhe permitia em média retirar um lucro anual de 350 dólares e houve mesmo um ano particularmente rentável em que ganhou 400 dólares, enquanto, neste último ano, por não criar porcos ganhou 1000 dólares. (…)

Se é possível receber 1000 dólares por não criar 500 porcos nós poderíamos receber o dobro por não criarmos 1000. Fazíamos tenção de começar modestamente pela não-criação de 2000 porcos que nos daria um lucro de 4000 dólares. Se os nossos planos forem cumpridos dentro das normas de uma sã administração e com urna produtividade sempre crescente esperamos muito brevemente atingir a não-criação de 40 000 porcos, o que nos daria um lucro de 80 000 dólares, podendo nessa altura considerar a empresa dimensionada de modo a constituir um factor de progresso e engrandecimento da nossa região. (...)

Ficar-vos-emos extraordinariamente reconhecidos se nos responder o mais rapidamente possível porquanto julgamos que esta época do ano será a melhor para a não-criação de porcos e, por isso, gostaríamos de começar quanto antes.

Queira V. Exa., Senhor Ministro, receber os protestos da minha maior consideração.

(...)

António Alçada Baptista, A Cor dos Dias - Memórias e Peregrinações, Ed. Presença, 2003 (texto adaptado e com supressões)

I

1. Relê o primeiro parágrafo do texto.

1.1. Segundo o autor, a economia "tende para ser uma realidade virtual. ", porque...

a) passou a ser tratada apenas através das novas tecnologias.

b) os economistas não têm contacto directo com a realidade.

c) os economistas só se interessam por grandes crises financeiras.

2. Lê, agora, mais uma vez, a carta reproduzida por Alçada Baptista.

2.1. Explica qual é a sua função relativamente ao assunto do texto.

2.2. Aponta duas razões que, segundo o emissor da carta, terão estado na origem da decisão de iniciar a actividade de não-criação de porcos.

2.3. Indica a meta que a exploração terá de atingir para poder "constituir um factor de progresso e engrandecimento" (1.32) da região.

2.4. Explica, sucintamente, em que reside o humor desta carta.

In: Português – Ensino profissional, Porto Editora

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Teste modelo A - Módulo 1

Teste modelo B - Módulo 1

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Ciclo de Estudos

2008/2011

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