Marco Aurélio .br

Marco Aur?lio

Pierre Grimal

Marco Aur?lio

O imperador fil?sofo

Tradu??o: Vera Ribeiro

T?tulo original: Marc Aur?le

Tradu??o autorizada da edi??o francesa, publicada em 1991 por Fayard, de Paris, Fran?a

Copyright ? Librairie Arth?me Fayard, 1991

Copyright da edi??o brasileira ? 2018: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Marqu?s de S. Vicente 99 ? 1o|22451-041Rio de Janeiro, rj tel (21) 2529-4750|fax(21) 2529-4787 editora@.br|.br

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Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortogr?fico da L?ngua Portuguesa

Prepara??o: Ge?sa Pimentel Duque Estrada | Revis?o: Tamara Sender, Eduardo Monteiro | Indexa??o: Gabriella Russano | Capa: S?rgio Campante Imagem da capa: ? Araldo De Luca/Getty Images

cip-Brasil. Cataloga??o na publica??o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj

Grimal, Pierre G873m Marco Aur?lio: o imperador fil?sofo/Pierre Grimal; tradu??o Vera Ribeiro. ?

1.ed. ? Rio de Janeiro: Zahar, 2018. il.

Tradu??o de: Marc Aur?le Inclui bibliografia e ?ndice Inclui cronologia isbn 978-85-378-1751-3

1. Roma ? Hist?ria. 2. Roma ? Pol?tica e governo. 3. Pol?tica e cultura ? Roma. 4. Intelectuais ? Roma ? Atividades pol?ticas. i. Ribeiro, Vera. ii. T?tulo.

18-47200

cdd: 937 cdu: 94(37)

Introdu??o

Ao nome de Marco Aur?lio (Marcus Aurelius Antoninus Augustus) est? indissociavelmente ligado o ep?teto de "fil?sofo", e isto desde a Antiguidade. A biografia que lhe ? consagrada na colet?nea da Hist?ria Augusta e que, como veremos, provavelmente foi escrita no fim do s?culo IV da nossa era, no reinado de Teod?sio, prontamente confere a ele esse t?tulo. Desde a primeira linha, lemos: "Marco Antonino, que, durante toda a sua vida, praticou a filosofia e, pela pureza de sua conduta, elevou-se acima de todos os pr?ncipes, teve por pai ?nio Vero..."?

Trata-se do imperador fil?sofo por excel?ncia. ? essa a imagem que nos resta dele. Mas o que devemos entender por isso? Na verdade, esse pertencimento de Marco Aur?lio ao mundo dos fil?sofos s? foi de fato estabelecido por um livro estranho, que os modernos mais comumente chamam de Medita??es, mas que traz nos manuscritos o t?tulo "A (ou `Para') mim mesmo", e que consiste numa s?rie de reflex?es, de anota??es diversas, distribu?das em doze livros, sem que se possa discernir qualquer ordem entre elas. ? prov?vel que o livro n?o tenha sido publicado durante a vida do autor. Nele, Marco Aur?lio fala como estoico, refere-se ? doutrina do P?rtico e prova estar impregnado dela. Entretanto, como j? se fez observar muitas vezes, o que podemos saber da a??o exercida por Marco Aur?lio, das medidas que ele foi levado a tomar como imperador, n?o parece ter-lhe sido sugerido pelo estoicismo;? e sim, de uma maneira muito geral e em raz?o da atitude interna que resultou disso para ele, pelo pr?prio conte?do de sua pol?tica ? sem refletir a ideologia do P?rtico, por?m se mantendo conforme ?s tradi??es romanas e dando continuidade ? de seus predecessores. De modo que podemos nos perguntar em que medida a opini?o p?blica em torno dele realmente se conscientizou do fato de que o pr?ncipe era fil?sofo. Dif?cil saber. Aur?lio Victor, no Livro dos C?sares, diz apenas que ele "se distinguia por sua dedica??o ? filosofia e ?

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eloqu?ncia".? Uma passagem da Vida de Av?dio C?ssio, na Hist?ria Augusta, afirma que, por ocasi?o da guerra contra os marcomanos, pediram-lhe que desse conhecimento dos princ?pios de sua filosofia, pelo temor de que lhe sucedesse um infort?nio, e, durante tr?s dias, ele teria feito uma exposi??o p?blica de seu sistema.?bis Isso ? pouco cr?vel, mas atesta a impress?o deixada por Marco Aur?lio, muito tempo depois de sua morte.

Seu c?rculo n?o podia ignorar sua atra??o pelo estoicismo. Isso n?o era segredo para seu mestre Front?o nem para os senadores, que eram seus conselheiros, mas tamb?m ? certo que o pr?ncipe tomava grande cuidado para n?o se mostrar dogm?tico e obstinado em suas decis?es, defeitos que eram tradicionalmente censurados nos estoicos. Ele era acess?vel ?s opini?es que pudessem lhe dar: "Para duas coisas", escreveu nas Medita??es, "deves estar sempre pronto: primeiro, fazer apenas o que sugere a raz?o, na ordem da realeza e da institui??o das leis, em prol da humanidade; segundo, mudar de opini?o, se houver perto de ti algu?m que te corrija e te dissuada do que possas ter pensado. Mas essa mudan?a de opini?o deve sempre resultar de uma verossimilhan?a de justi?a ou utilidade, e os argumentos que a ela te convidam devem ser t?o somente dessa natureza, e n?o o prazer ou a gl?ria aparentes."

Uma inscri??o descoberta perto de Sevilha, reproduzindo o texto de um sen?tus-consulto aprovado entre 177 e 180, traz um exemplo dessa atitude do imperador, de sua facilidade em n?o se obstinar num conservadorismo sistem?tico. Tratava-se de limitar as despesas assumidas pelos magistrados com jogos de gladiadores nas cidades provinciais, despesas estas bancadas pelas elites locais com dificuldade cada vez maior. O texto da inscri??o reproduz, como ditava o costume, um discurso feito no senado romano por um membro da assembleia, em resposta ao discurso ou carta do pr?ncipe que propunha eliminar a reten??o do fisco, habitual at? aquele momento, sobre os lucros dos "lanistas", os empres?rios que forneciam os gladiadores. Esse senador desconhecido enaltece o imperador precisamente por ele n?o considerar como regra conservar, sistematicamente, as boas ou m?s institui??es, e diz: "Isto n?o seria conforme a seus princ?pios" (sectae suae). Tomemos cuidado para n?o crer que por essas palavras devamos entender o estoicismo! A express?o ? bem mais geral, designando, j? em C?cero, qualquer norma de vida, e seria muito irreverente declarar em p?blico, dessa maneira, que o imperador e

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