A AMÉRICA EM CONJUNTO



A AMÉRICA EM CONJUNTO

Divisões do continente americano

O continente americano possui pouco mais de 42 milhões de km², estendendo-se por cerca de 17 mil km na direção norte-sul, do oceano Ártico até as proximidades da Antártida. Segundo continente em extensão territorial, perde apenas para a Ásia (44,4 milhões de km²).

Costuma-se dividir o continente americano de duas formas: de acordo com o ponto de vista físico, ou geológico, e de acordo com o ponto de vista histórico-social.

Considerando os aspectos físicos, ou geológicos, bem como o formato e a localização de cada área, o continente americano pode ser classificado em três partes:

• América do Norte → Seus 23,5 milhões de km², abrange três países: Canadá, Estados Unidos e México.

• América Central → Com apenas 742 mil km², abriga vinte países, como Panamá, Guatemala, Cuba, Haiti, Nicarágua, etc.

• América do Sul → Com 17,7 milhões de km², compreende doze países, como Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Paraguai, etc.

Do ponto de vista histórico-social, a divisão desse continente é feita em duas partes:

• América Anglo-Saxônica → Abrange os Estados Unidos e o Canadá, países onde o idioma oficial é o inglês, língua de origem anglo-saxônica.

• América Latina → inclui todos os países do continente que falam o espanhol ou o português, línguas de origem latina.

À primeira vista a diferenciação entre essas duas Américas estaria no idioma: nos Estados Unidos e no Canadá, a língua inglesa; no restante do continente, os idiomas espanhol e português (somente no Brasil). Mas a situação é um pouco mais complicada: existe, por exemplo, uma importante região do Canadá (Quebec) onde a maioria da população utiliza o francês (língua de origem latina), em vez do inglês (a língua oficial do país). Aliás, embora a maioria da população canadense fale o inglês, o Canadá é uma nação bilíngüe, com duas línguas oficiais (inglês e francês). Além disso, há minorias que fazem uso do italiano, do ucraniano e do alemão.

Da mesma forma, nos Estados Unidos a presença do espanhol é cada vez maior em certas áreas, apesar de o inglês ser a única língua oficial do país. Mas, em determinados locais, como alguns bairros de Nova York ou de Los Angeles, e em certas regiões ao sul desse país, quase só se fala o espanhol, mesmo nas escolas.

Com isso, podemos dizer que a chamada América Anglo-Saxônica não é exclusivamente anglo-saxônica do ponto de vista da língua falada pelo povo, e sim predominantemente anglo-saxônica.

O mesmo ocorre na América Latina. Aqui predominam os idiomas espanhol e português, mas são faladas também outras línguas que não tem origem latina. Para começar, temos uma infinidade de idiomas indígenas:

• Maia → Atualmente empregado por cerca de 1 milhão de pessoas no México.

• Guarani → Idioma de muitos grupos de índios da América do Sul, particularmente no Paraguai, onde é a língua mais popular.

• Quíchua ou quéchua → Idioma dos antigos incas, é falado por milhões de camponeses na Bolívia, Equador, Colômbia e Peru.

• Aimara → Falado por centenas de milhares de pessoas no Peru e Bolívia.

Muitas outras línguas de origem pré-colombiana também são faladas por pequenos grupos em vários países da América Latina.

Cabe ressaltar ainda que a colonização da América Latina não foi feita somente por espanhóis e portugueses. Para cá vieram também holandeses, ingleses e franceses, além de grande número de africanos, trazidos como escravos. Por isso podemos observar, nos países latino-americanos, a presença marcante dos idiomas desses ex-colonizadores e sua mesclagem com línguas africanas ou indígenas. Assim, na Guiana e em vários países da América Central o inglês é o idioma oficial. Já no Suriname o holandês e o espanhol são os idiomas oficiais do país. E o francês é o idioma oficial no Haiti e na Guiana Francesa.

Por todos esses exemplos, podemos perceber que a denominada América Latina não é exclusivamente latina. Na verdade ela constitui uma multiplicidade de nações ou países com a presença de inúmeras línguas. A variedade de línguas, às vezes, ocorre dentro de um mesmo país. Porém, no conjunto, pode-se dizer que predominam os idiomas espanhol e português.

Desigualdades econômicas

Mas, se os idiomas que predominam na América Anglo-Saxônica e na América Latina se distinguem apenas parcialmente, quais seriam então os outros elementos que diferenciam esses dois conjuntos?

Podemos dizer que a principal diferença é o nível de desenvolvimento econômico, ao passo que as economias latino-americanas em geral são subdesenvolvidas.

Além disso, nos Estados Unidos e no Canadá existem regimes políticos democráticos consolidados, com longa tradição de respeito aos direitos humanos, mas na América Latina dificilmente encontramos regimes políticos verdadeiramente democráticos.

Formação histórica: colônias de povoamento e colônias de exploração

Outra diferenciação entre os dois conjuntos é a sua formação histórica, ou seja, o tipo de colonização a que foram submetidos, a partir do séc. XVI, por potencias européias da época.

A colonização da América Latina foi diferente da que se deu na América Anglo-Saxônica. Nesses últimos países prevaleceu o que chamamos de colônias de povoamento, ao passo que na América Latina predominaram as colônias de exploração.

Nas colônias de exploração, que foi o tipo de colonização dominante do séc. XVI ao XVIII, a colônia deveria ser organizada para atender aos interesses econômicos da metrópole. As metrópoles colonizadoras utilizavam as suas colônias para aumentar a riqueza delas próprias, não importando a riqueza e o bem-estar dos povos colonizados. A função das colônias, portanto, era fornecer a baixos preços bens primários – produtos minerais ou bens agrícolas, como açúcar, ouro, prata, diamante, madeiras, etc. Para produzir esses bens a baixos custos o trabalhador deveria receber pouco e trabalhar muito. Por isso, escravizaram o indígena e o negro africano, que foram usados como mão-de-obra barata.

Nas colônias de povoamento, que eram bem inferiores em número às de exploração, o objetivo era outro. Nesse caso os colonizadores não vinham para as novas terras a fim de enriquecer e voltar para a metrópole, mas para buscar uma nova pátria, uma nova área para morar permanentemente. A colonização do Canadá e de grande parte dos Estados Unidos, por exemplo, não se deu com mão-de-obra escrava nem com o objetivo de produzir gêneros primários a baixo custo. Ela foi realizada por levas de europeus que saíram de seu continente por causa dos conflitos e das guerras religiosas da época e vieram para o norte da América com interesses não-mercantis. Eram cidadãos que queriam construir um “novo mundo”, uma “nova Europa”.

Houve uma colonização de exploração no sul dos Estados Unidos, onde existiram monoculturas algodoeiras e a mão-de-obra escrava. Mas, com a guerra civil de 1861-1865, o norte industrializado, onde ocorreu uma colonização de povoamento, prevaleceu sobre o sul agrário e escravocrata.

Ao contrario da colonização da América Anglo-Saxônica, a colonização de muitos países que hoje constituem estava voltada principalmente para atender aos interesses do mercado europeu. A derrubada de matas e a organização de atividades econômicas, tais como agricultura, pecuária e mineração, se deram não a partir dos interesses e das necessidades das pessoas que aqui residiam ou vieram residir, mas sim para atender as necessidades do comercio europeu, da metrópole, especialmente. E os europeus que vieram para cá não estavam preocupados em construir uma nova pátria. Pelo contrário, queriam antes de tudo enriquecer para um dia voltar para a Europa.

Esse tipo de exploração, mercantilista e exploradora, deixou profundas marcas nas sociedades latino americanas. Algumas dessas marcas permanecem até hoje. Por exemplo, podemos mencionar a utilização dos melhores solos para a produção de gêneros de exportação, ficando os piores para o cultivo de alimentos consumidos pelos próprios habitantes. Ou ainda a população predominantemente perto do litoral, dos portos que davam acesso às metrópoles e que hoje dão acesso aos mercados norte-americano, japonês e europeu. Outro exemplo é a pauta de exportação dos países latino-americanos. Esses países exportam basicamente produtos primários – como soja, café, minérios, etc. – e importam bens manufaturados e industrializados, que, além de serem mais caros, se valorizam mais com o passar do tempo.

Além desses exemplos podemos ainda mencionar a enorme concentração de terras rurais nas mãos de poucos proprietários. Essas imensas propriedades agrárias (latifúndios), são muitas vezes mal utilizadas e, por isso, produzem pouco. Esse talvez seja um dos maiores problemas nos países da América Latina, pois ao mesmo tempo em que faltam gêneros alimentícios para a população, milhares de famílias camponesas não têm terras para cultivar.

Dependência econômica e desigualdades sociais na América Latina

O tipo de colonização dos países latino-americanos deu origem à situação de dependência e de subdesenvolvimento.

A dependência é quase uma continuação da economia global. Após a independência política das colônias – fato ocorrido principalmente na primeira metade do séc. XIX –, o tipo de economia que já existia pouco mudou. Os novos países continuaram subordinados aos interesses das grandes potencias.

A mão-de-obra em geral, mesmo deixando de ser escrava, continuou e continua ainda, em sua grande maioria, mal remunerada. Apesar de se trabalhar muito mais nos países pobres, as condições de consumo e a qualidade de vida das pessoas são inferiores às das que vivem em países desenvolvidos.

Na América Latina, as desigualdades sociais, ou seja, as diferenças entre ricos e pobres, são bem maiores que na América Anglo-Saxônica. Nos Estados Unidos e no Canadá, assim como nos demais países desenvolvidos, os 10% mais ricos da população ficam com cerca de 20 a 28% da renda nacional, ao passo que aos 60% mais pobres cabem 35 a 39% desse total. Mas nos pises latino-americanos, bem como no terceiro mundo em geral, essas diferenças sociais são bem mais acentuadas. Na Venezuela, um dos países da América Latina onde essas desigualdades são menores, os 10% mais ricos ficam com 35% da renda nacional, e os 60% mais pobres, com 23,2%. Já no Brasil, onde as desigualdades estão entre as maiores do mundo, os 10% mais ricos ficam com mais da metade da renda nacional e os 60% mais pobres ficam com apenas 16% desse total.

Essas porcentagens se tornam mais gritantes quando examinamos as condições em que vive a população. Os índices relativos à qualidade de vida das pessoas – tais como as taxas de anafalbetismo, consumo diário de calorias, esperança de vida, etc. – apontam a América Latina como uma imensa região repleta de problemas.

As taxas de anafalbetismo, por exemplo, chegam a atingir 47% da população com mais de sete anos de idade em alguns países, como é o caso do Haiti, enquanto nos Estados Unidos e no Canadá não atingem sequer 1% dessa população. A expectativa de vida, isto é, a quantidade de anos que a pessoa pode esperar viver em relação às condições de saúde, alimentação, higiene, etc., é de apenas 49 ou 50 anos em países como Bolívia, Haiti e Belize. Já nos Estados Unidos essa expectativa chega aos 74 anos.

A situação de carência dos povos latino-americanos não se limita apenas às taxas de anafalbetismo e expectativa de vida. Ela se estende a outros indicadores da qualidade de vida dos habitantes, como moradia, consumo diário de alimentos, etc.

O mais grave é que essas taxas, apesar de baixas, correspondem à média dos indicadores que estão sendo medidos na população. Ou seja, na hora de elaborar esses índices, o pesquisador leva em conta tanto o que ocorre nas classes privilegiadas, com altíssimos padrões de vida, como o que as dá nas classes mais pobres. E, como sabemos, a grande maioria da população é que sofre os problemas de escolarização deficiente, subnutrição, habitações precárias, etc.

ATIVIDADES

I- Mencione as duas principais formas de dividir ou regionalizar o continente americano e explique os critérios utilizados para isso.

II- Quais são as diferenças entre a América Anglo-Saxônica e a América Latina?

III- Por que a América Anglo-Saxônica é desenvolvida e a América Latina é subdesenvolvida?

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