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Confira neste arquivo:
BREVE RETROSPECTO MACROECONÔMICO DO AGRONEGÓCIO EM 2020 01
AÇÚCAR: Mesmo com maior produção, Indicador atinge recorde nominal em 2020 03
ALGODÃO: Setor brasileiro registra recordes em 2020 05
ARROZ: Apesar de ano desafiador, setor tem bom desempenho em 2020 06
BOI: Recordes de 2019 são renovados em 2020 08
CAFÉ: Mesmo com produção elevada, cafés seguem valorizados ao longo de 2020 10
CITROS: Estiagem prejudica produção de 2020/21; quebra de safra é a maior da história 11
ETANOL: Covid-19 limita demanda em 2020, e preço cai mesmo com menor produção 13
FRANGO: Competitividade da carne de frango é recorde em 2020 15
LEITE: 2020, ano de preços recordes no campo 16
MANDIOCA: Em 2020, oferta fica praticamente estável; demanda recua 17
MILHO: Paridade de exportação sustenta patamares recordes de preços em 2020 19
OVINOS: Menor oferta sustenta preços de ovinos em 2020 20
OVOS: Preço atinge recorde real, mas custo elevado reduz poder de compra do avicultor 21
SOJA: Vendas se antecipam e preços atingem recordes em 2020 23
SUÍNOS: Em meio à pandemia, setor é marcado por preço, abate e embarque recordes 24
TRIGO: Preços do trigo e dos derivados oscilam em 2020, mas se mantêm elevados 26
HORTIFRÚTI: Pandemia afeta mercado de HF em 2020 28
BREVE RETROSPECTO MACROECONÔMICO DO AGRONEGÓCIO EM 2020
Por Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros e Nicole Rennó Castro.
Cepea, 8/1/2021 – O ano de 2020 foi excepcional praticamente em todos os aspectos. A pandemia de covid-19 ditou o comportamento da sociedade global como um todo. A economia mundial, quase sem exceção, evidentemente, teve sua evolução fortemente determinada por esse ataque arrasador ora vindo do lado da oferta, ora da demanda, ora dos dois lados, tudo conforme eram determinados acirramentos ou relaxamentos das medidas de controle, auxílios e subsídios eram repassados à população (estimulando a demanda) ou às empresas (recuperando a oferta). Tais medidas eram implementadas e interrompidas abruptamente causando grande instabilidade. Cadeias produtivas, em geral interdependentes, viam seus elos afetados e obstruídos, seja por falta de insumos, seja por problemas logísticos, tudo diante de uma demanda oscilante e cuja estrutura mudava com os cambiantes hábitos dos consumidores. Uma montanha russa, com grande viés de baixa, marcou a economia mundial.
O FMI estima que, na média, a economia mundial tenha se retraído 4,4% em 2020. Para 2021, trabalha com a taxa positiva de 5,2%. O Ipea calcula que a economia brasileira tenha encolhido 4,3% em 2020; uma taxa de 4% é projetada para 2021. Nos dois casos, apostas otimistas diante das amplas incertezas que 2021 representa. Mesmo assim, dois anos que, sendo otimistas, somados não terão visto praticamente as economias mundial, em geral, e a brasileira, em particular, saírem do lugar.
O ano de 2020 foi tão problemático que, entre as economias minimamente relevantes, apenas a China cresceu: tão somente, para seus padrões, 1,9%. Este miúdo crescimento chinês, entretanto, permitiu manutenção da renda, com o que o país foi um dos principais responsáveis pelo crescimento de 12% no volume exportado pelo agronegócio brasileiro e de 4,8% no correspondente faturamento a despeito de uma queda 6,6% nos preços internacionais em dólares do setor. Estes preços, entretanto, quando internalizados com uma taxa de câmbio que, no decorrer do ano, chegou a desvalorizar em torno de 40% em relação ao ano anterior, acabaram por promover uma aceleração da alta de preços domésticos, os quais – importante enfatizar – já vinham em alta desde 2019. Com isso, o aumento médio foi de 34% nos preços agropecuários entre 2019 e 2020 (46% para grãos e 31% para produtos da pecuária) em termos nominais ou 19% reais.
No mercado interno, a demanda foi em boa parte recuperada graças à injeção de mais de R$ 500 bilhões (7% do PIB) na economia na forma, principalmente, de auxílio emergencial e apoio a estados e municípios. O auxilio, que chegou a 42% dos domicílios brasileiros no período de maior valor, praticamente manteve a renda média das famílias (possível queda de 5%) e preparou a recuperação parcial que viria a se verificar no total do ano (com as estimativas de crescimento da economia brasileira passando de -7,5% para -4,3%).
A produção agropecuária apresentou crescimento satisfatório entre 2019 e 2020. A produção de grãos aumentou 4,5%, segundo a Conab. Essa taxa é praticamente a observada para a soja e o algodão. O milho ficou em 2,5%, feijão e arroz, próximos a 7%. O café chegou a 25% e o trigo alcançou 32%. Não são, de forma alguma, números ruins. Foi, na verdade um recorde de produção. Pelas estimativas preliminares do Cepea, pela ótica do valor adicionado, o volume da produção agrícola expandiu 5%. Porém, o da pecuária encolheu 2,2% - com queda de produção de 6,2% para o boi e estagnação na produção de frango e 2% para o leite; a produção de suínos, do lado positivo, cresceu mais de 9%. O peso do custo das rações pode ter sido importante para esse resultado. Fechando as contas, tem-se que o volume da agropecuária em geral cresceu 2,2%.
No balanço de preços e quantidades, o Mapa estima preliminarmente que o Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária pode ter crescido 15% em termos reais, com 19% para as lavouras e 7% para a pecuária. Os destaques foram a soja (27%), milho (11%), cana (8%) e algodão (6%) entre as lavouras. Na pecuária, sobressaíram-se bovinos (14%) e frango (9%). Dados do Cepea apontam crescimentos mais fortes para a pecuária: 31% para o boi, 8% para aves e 47% para suínos. De qualquer forma, essas cifras expressivas relativas ao VBP – com forte contribuição dos preços – precisam ser consideradas num contexto temporal mais amplo. Em 2019, o Termo de Troca (Preço do Produto/Preço do Insumo) estava 35% abaixo do seu valor em 2000; em 2020, ainda continua 10% inferior a 2000. Considerando o IGP-DI da FGV, os preços reais agropecuários ainda estão 18% inferiores a 2000. Dito de outra forma, o crescimento de 170% no VBP real ao longo dos últimos 20 anos se deu a despeito do encarecimento relativo dos custos de produção e é explicado, portanto, pelo crescimento do volume produzido – estimado pelo Cepea em cerca de 140% - possibilitado pelo contínuo avanço da produtividade da agropecuária nacional diante de custos crescentes.
Já a agroindústria teve um desempenho bem menos satisfatório, com queda estimada preliminarmente de volume produzido em torno de 5%, de acordo com estimativas preliminares do Cepea. Esse segmento – tanto do lado agrícola como pecuário - teria sido bastante afetado no contexto da pandemia. Na agroindústria de base agrícola, crescimento foi observado para a indústria do açúcar, produtos amiláceos e óleos vegetais. Do lado negativo ficaram as indústrias ligadas a vestuário/têxtil, frutas e legumes e etanol. Na agroindústria de base pecuária, a queda foi mais expressiva no abate bovino; aves e, especialmente, suínos cresceram. Ademais, sendo o Brasil um exportador de produtos não processados ou pouco processados, o segmento agroindustrial se beneficiou menos dos estímulos vindos do setor externo (preços e câmbio). Esse resultado negativo caracterizou o desempenho da indústria de transformação brasileira em geral (em que a agroindústria se insere), que no segundo trimestre teve uma queda de 21% no seu PIB – no primeiro e terceiro também ocorreram pequenas quedas (frente aos mesmos trimestres de 2019). No acumulado do ano a queda da indústria foi de 5,2%, segundo o IBGE, cifra bastante próxima da estimada pelo Cepea para a agroindústria especificamente.
Análises setoriais:
AÇÚCAR
Mesmo com maior produção, Indicador atinge recorde nominal em 2020
Cepea, Piracicaba – Mesmo diante da maior produção de açúcar na safra 2020/21, o Indicador CEPEA/ESALQ do cristal, cor Icumsa de 130 a 180, mercado paulista, atingiu recorde nominal no início de novembro/20, quando passou a operar acima de R$ 100/saca de 50 kg. Nos dias seguintes, as máximas foram renovadas, alcançando R$ 111,96/sc no dia 10 de dezembro de 2020. Segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o impulso veio especialmente das exportações aquecidas ao longo de todo o ano, que limitou a oferta no mercado doméstico.
No balanço da parcial do ciclo 2020/21 (de abril/20 a dezembro/20), a média do Indicador CEPEA/ESALQ foi de R$ 94,65/saca de 50 kg, alta de 16,60% frente ao mesmo período da temporada passada (R$ 81,18/sc de 50 kg). Ao longo da safra, as médias mensais do Indicador estiveram acima das observadas em 2019/20, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI de novembro/20).
Em março, quando a pandemia do coronavírus começou a avançar no Brasil, as usinas do estado de São Paulo estavam iniciando a moagem da cana-de-açúcar da safra 2020/21. Com as medidas de isolamento social impostas entre meados e final daquele mês, formou-se uma expectativa de queda nas vendas do etanol. Além disso, as incertezas quanto aos impactos na economia elevaram o dólar para acima de R$ 5,00. Isso fez com que usinas paulistas direcionassem maior quantidade da cana para a produção do açúcar, já que as exportações se tornaram mais atraentes – aqui ressalta-se que, nas duas temporadas anteriores, em São Paulo, o mix de produção foi maior para o etanol.
Ainda na segunda quinzena de março/20, as vendas diretas do açúcar cristal e do refinado pelas usinas paulistas ao varejo estiveram bem aquecidas, uma vez que consumidores aumentaram as aquisições de alimentos nos supermercados, devido à incerteza de abastecimento por conta da pandemia. Já no ramo industrial, em abril/20, boa parte das indústrias alimentícias interrompeu a produção, em decorrência das medidas de isolamento. Em maio/20, muitas indústrias retomaram a produção e a liquidez foi se recuperando nos meses seguintes, atingindo picos em outubro/20 e novembro/20.
No acumulado da safra, houve restrição de oferta, principalmente do cristal tipo Icumsa 150, devido ao aumento das exportações. As vendas totais de açúcar (contrato, spot e varejo) das usinas do estado de São Paulo, de abril/20 a novembro/20, segundo levantamento do Cepea, registraram alta de 1,42% se comparadas às do mesmo período de 2019.
Segundo a Unica (União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo), de abril/20 até primeira quinzena de dezembro/20, as usinas de São Paulo produziram 26,271 milhões de toneladas de açúcar, forte avanço de 43,14% em relação ao mesmo período de 2019. Ainda segundo a União, 53,05% do total da cana moída (354,736 milhões de toneladas) foi direcionado para a produção do açúcar e 46,95%, para o etanol.
Quanto às exportações brasileiras do açúcar, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), de janeiro/20 a dezembro/20, somaram 30,96 milhões de toneladas, volume 73% superior ao total embarcado em 2019 (17,889 milhões de toneladas) e um recorde.
INTERNACIONAL – As previsões iniciais eram de déficit de açúcar em torno de 6,11 milhões de toneladas para a safra mundial 2019/20, segundo a OIA (Organização Internacional do Açúcar). Porém, de acordo com a última previsão divulgada em novembro/20 pela mesma instituição, a temporada 2019/20, encerrada em setembro/20, totalizou superávit de 1,9 milhão de toneladas, o que se deve à maior produção de açúcar pelo Brasil.
Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), as cotações do primeiro vencimento iniciaram o ano em torno de 10 centavos de dólar por libra-peso e encerraram na casa dos 14 centavos/lp, mas, em novembro/20, atingiram 15 centavos de dólar/lp. Esse avanço nos preços do demerara esteve atrelado, em parte, à aquecida demanda da China no ano – de janeiro/20 a outubro/20, as importações chinesas aumentaram 28,4%, segundo a alfândega do país asiático – e a projeções indicando queda da produção de 2020/21 na União Europeia e Tailândia.
NORDESTE – Os preços do açúcar no mercado spot estiveram em alta em quase todos os meses de 2020, influenciados principalmente pelas altas do dólar e dos valores internacionais da commodity. Nos quatro primeiros meses do ano, a sustentação também veio da oferta restrita, tendo em vista que várias usinas estavam com os estoques finalizados. Já em maio e junho (em entressafra) e também em julho, as negociações estiveram lentas e os preços, firmes. No geral, a demanda esteve enfraquecida, com alguns compradores adquirindo o adoçante do Centro-Sul do País. A oferta de açúcar esteve concentrada em poucas unidades produtoras, sendo que algumas priorizaram as exportações, favorecidas pelo dólar elevado.
Em agosto, foi iniciada a safra nordestina 2020/21, mas a oferta de cristal seguiu restrita, já que a produção estava focada no açúcar VHP e no etanol. Apesar do ritmo lento das negociações, os preços seguiram firmes. A partir do encerramento de outubro, os preços passaram a subir com força, sendo que algumas usinas suspenderam suas vendas internas, priorizando as exportações. No início de novembro, com a demanda aquecida, os preços da saca ultrapassaram a casa dos R$ 100,00. Nas semanas seguintes, a alta dos preços foi mais forte, mas o ritmo dos negócios, lento. Já em dezembro, parte das usinas cedeu e os preços se enfraqueceram no spot nordestino.
De acordo com o Sistema de Acompanhamento da Produção Canavieira (Sapcana), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de 1º de abril a 30 de novembro de 2020, o Nordeste do País produziu 24,76 milhões de cana-de-açúcar (4% menos que no mesmo período do ano anterior) e 1,46 milhão de toneladas de açúcar (alta de 6%).
Equipe: Dra. Heloisa Lee Burnquist, Bel. Maria Cristina Afonso, Bel. Silvia C. Michelin, Bel. Augusto Barbosa Maielli e Bel. Vanessa Vizioli.
ALGODÃO
Setor brasileiro registra recordes em 2020
Cepea, Piracicaba – A produção e a exportação brasileiras de algodão em pluma foram recordes em 2020. De acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, preços atrativos em anos anteriores deram sustentação à produção doméstica, com agentes focados nas vendas externas. No primeiro semestre, as exportações até foram limitadas pela paralisação das indústrias por conta da pandemia, mas a retomada de todo o setor no segundo semestre no Brasil e no mundo voltou a aquecer as vendas externas e deu o tom altista aos preços internos, que chegaram nos maiores patamares nominais da série histórica do Cepea.
Com produção crescente em 2019 e excedente superior a 3,1 milhões de toneladas, o setor já se atentava à importante necessidade de o Brasil exportar volumes maiores da pluma em 2020. Até o primeiro trimestre do ano, os embarques até estavam firmes, tendo alcançado recorde mensal em janeiro. Entretanto, com a pandemia de coronavírus, as atividades de exportação e o consumo interno foram praticamente paralisados.
Como medidas de contenção do vírus, shoppings, comércio e lojas de bens não essenciais foram fechados no final de março, o que fez com que indústrias também interrompessem e/ou reduzissem a produção. Nesse cenário, novas compras e embarques da pluma foram adiados, e muitos agentes solicitaram aumento no prazo de pagamento e até cancelamento dos pedidos. A demanda externa também se enfraqueceu diante da diminuição das atividades comerciais e também nos portos de destino.
Assim, em abril, os preços da pluma despencaram nos mercados interno e externo, e o cenário se manteve lento em maio. As indústrias que produzem itens hospitalares a partir da pluma eram as que mais movimentavam o spot nacional; porém, estas representam apenas uma pequena parcela do mercado. Pontualmente, agentes de indústrias chegaram a fazer mudanças em parte das linhas de produção para atender à demanda específica durante a pandemia, como fabricação de máscaras de tecidos.
Neste período, atipicamente, a paridade de exportação passou a operar acima das cotações internas, o que indicava a atratividade das vendas internacionais em detrimento das domésticas. E isso estava atrelado ao elevado patamar do dólar – no dia 13 de maio, a moeda norte-americana atingiu R$ 5,915, o maior valor nominal desde a criação do plano Real, em 1994. Também no dia 13 de maio, o Indicador da pluma registrou o menor valor do ano e esteve 23% inferior à paridade de exportação (a maior diferença negativa desde 16 de julho de 2001).
A partir de junho, a safra recorde de algodão começou a ser colhida em maior intensidade no Brasil. Entretanto, o beneficiamento foi sendo efetuado de forma mais lenta, pois ainda havia um excedente expressivo no mercado interno. Segundo a Conab, a produção brasileira 2019/20 somou 3 milhões de toneladas, alta de 8% frente à anterior e a quarta temporada consecutiva de avanço. O recorde na produção foi resultado dos aumentos de 3% na área (1,67 milhão de hectares) e de 4,9% na produtividade (1.802 kg/ha) frente à safra 2018/19.
Porém, a pandemia reduziu a demanda. A Conab estima que o consumo, até então previsto em 700 mil toneladas, caiu para 580 mil toneladas na safra 2019/20. Os excedentes domésticos se elevaram para 3,9 milhões de toneladas. A partir do início do segundo semestre, as exportações foram retomadas com intensidade, chegando a volumes mensais recordes em dezembro. A Conab, porém, estima exportação de dois milhões de toneladas de toneladas em 2020, que seria 24% superior à de 2018/19. Com isso, os estoques de passagens em dezembro/20 devem ser de cerca de 1,9 milhão de toneladas.
De janeiro a dezembro, o Brasil exportou 2,13 milhões de toneladas de pluma, 32% acima do volume de 2019 e um recorde, segundo dados da Secex. Os preços de exportação em 2020 estiveram, em média, 15% acima dos praticados no spot nacional – em maio, especificamente, chegaram a ficar 45% superiores. Em dólar, porém, ainda de acordo com a Secex, o preço médio na parcial do ano foi de US$ 0,6825/lp, 9% menor que o registrado em 2019.
No mercado físico, depois de cair 15,4% em 2019, por conta do maior excedente, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, subiu 41,7% em 2020, fechando em R$ 3,8092/lp no dia 30 de dezembro. No primeiro semestre, o aumento foi de apenas 0,8%; já no segundo, a elevação foi de expressivos 40,5%.
A média mensal de novembro, especificamente, foi de R$ 3,9032/lp, ficando abaixo apenas da de março/11 (R$ 3,9756/lp), em termos nominais. Ao se considerar a inflação (IGP-DI, base em out/20), o preço médio de novembro/20 foi o maior em 26 meses. Aqui ressalta-se que, entre setembro/18 e outubro/20, o índice de inflação acumulou alta de 26,44%, e de março/11 para out/20, de 96,5%.
Entre 30 de dezembro de 2019 e 30 de dezembro de 2020, a paridade de exportação acumulou elevação de 38%, impulsionada pela valorização de 29% do dólar frente ao Real. O Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) aumentou 6,7% no mesmo período.
USDA – A produção mundial da temporada 2019/20 foi estimada em 26,6 milhões de toneladas, 3% acima da anterior (2018/19), e o consumo global, em 22,3 milhões de toneladas, queda de 15% e o menor em 16 safras, devido ao fechamento de fábricas e, em um primeiro momento, a baixas vendas no varejo. Com oferta superior à demanda, o estoque mundial teve aumento de 24% frente à safra 2018/19, para 21,6 milhões de toneladas. Quanto à comercialização mundial, as importações foram estimadas em 8,75 milhões de toneladas (queda de 5% frente à temporada anterior) e as exportações, em 8,9 milhões de toneladas (recuo de 1,6%).
CAROÇO DE ALGODÃO – Os preços do caroço de algodão também atingiram recordes, impulsionados pela demanda aquecida, sobretudo por parte de pecuaristas (tendo em vista o clima seco em boa parte do ano e os altos custos do farelo de soja e do milho) e da indústria de esmagamento (o biodiesel apresentou demanda aquecida pelo óleo bruto).
Equipe: Prof. Dr. Joaquim Bento S. Ferreira Filho, Prof. Dr. Lucilio Alves, Ana Luisa Corrêa e Jéssica Caroline Pereira.
ARROZ
Apesar de ano desafiador, setor tem bom desempenho em 2020
Cepea, Piracicaba – O ano de 2020 foi desafiador ao setor arrozeiro brasileiro, mas, no agregado, a cadeia apresentou bom desempenho. De acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a demanda esteve mais ativa em boa parte do ano, e a busca pelo abastecimento acirrou a disputa pelo produto, contexto que resultou em forte elevação nos preços, especialmente no segundo e terceiro trimestres. Já nos últimos três meses do ano, os valores internos do arroz estiveram enfraquecidos, diante da possibilidade de importação de arroz de fora do Mercosul com isenções de impostos.
No primeiro trimestre deste ano, os valores médios do arroz em casca oscilaram, acompanhando as alterações na oferta, tendo em vista o período de colheita e a baixa intenção de produtores de negociar. Aliado a isso, os estoques de passagem para a safra 2019/20 chegaram, em março/20, a um dos menores volumes da história, não deixando muito espaço para quedas bruscas nos preços internos.
A partir de março – quando a pandemia de coronavírus começou a avançar no Brasil e medidas de restrições sociais foram impostas por governos municipais e estaduais –, consumidores do beneficiado passaram a adquirir volumes maiores, forçando o varejo a se abastecer do atacado e, por sua vez, dos engenhos beneficiadores. Então, o atacado e o varejo passaram a formar estoques maiores.
Nesse cenário, no segundo trimestre, os preços de arroz em casca iniciaram um consistente movimento de alta – que foi verificado até outubro –, fazendo com que os recordes nominais fossem renovados. Nem mesmo a proximidade da finalização da colheita (entre abril e maio) foi suficiente para segurar as reações positivas de preços.
No segundo semestre, o avanço nos valores do arroz em casca foi intensificado, tendo em vista que, além da demanda interna aquecida, as exportações do produto também cresceram, estimuladas pelo dólar elevado. Assim, de fevereiro a julho/20, o beneficiamento e as vendas de produtos de arroz foram aumentando, alcançando recorde histórico neste último mês.
Na primeira dezena de agosto, os preços internos atingiram recordes reais da série histórica do Cepea, iniciada em 2005, e que foram sendo renovados nos meses seguintes. Em setembro, o Indicador ESALQ/SENAR-RS passou a operar acima dos R$ 100/saca de 50 kg, registrando o pico, de R$ 106,34/sc, no dia 13 de outubro de 2020.
Naquele período, agentes pareciam não identificar com clareza fatores que justificassem alterações bruscas nos preços. A liquidez se enfraqueceu, devido à diminuição do desempenho de vendas do fardo por parte de indústrias beneficiadoras, verificado sobretudo a partir de agosto, mas com volumes significativamente menores entre setembro e novembro.
No acumulado do ano (de 30/12/2019 até 30/12/2020), o Indicador ESALQ/SENAR-RS subiu expressivos 95,5%, fechando a R$ 93,91/sc de 50 kg no dia 30. A média anual, de R$ 73,38/sc de 50 kg, registrou alta de 68,7% frente à de 2019 (R$ 43,50/sc de 50 kg), em termos nominais – é a maior média anual de toda a série histórica do Cepea. Em termos reais (considerando-se os efeitos da inflação), a média em 2020 foi de R$ 65,70/sc, 51% superior à de 2019 (de R$ 43,50/sc).
Os elevados valores internos do arroz em casca estimularam ações importantes na cadeia produtiva, como a liberação da importação de 400 mil toneladas de fora do Mercosul com isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), divulgada em setembro pelo Governo Federal. Esta medida teve relevância no mercado, mas se mostrou insuficiente para causar mudanças significativas de preços no curto prazo, devido à paridade de importação elevada por conta do dólar alto e à disponibilidade restrita do arroz em casca no Brasil.
EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO – De janeiro a novembro, as exportações cresceram 47,8% em relação às do mesmo período de 2019, somando 1,77 milhão de toneladas em equivalente casca, segundo dados da Secex. Já as importações somam 1,05 milhão de toneladas em equivalente arroz em casca nos 11 primeiros meses do ano, 12,7% acima do mesmo período de 2019. Assim, as vendas ao mercado externo superaram as importações, em 718,65 mil toneladas. Em valores, o superávit é de US$ 186,78 milhões.
PRODUÇÃO – A produção da temporada 2019/20 foi estimada em 11,18 milhões de toneladas, 6,7% maior que a anterior, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Somando aos estoques iniciais (em fevereiro/20), de 554,1 mil toneladas, e as importações, de um milhão de toneladas (entre março/19 e fevereiro/20), a disponibilidade interna ficaria em 12,89 milhões de toneladas. Desse total, a previsão é que 10,7 milhões fossem consumidos internamente e 1,75 milhão de toneladas, exportados. Assim, o estoque final está estimado em 437,5 mil toneladas em fevereiro/21, o menor desde a safra 2016/17.
De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção global na temporada 2019/20 foi estimada em 496,1 milhões de toneladas de arroz beneficiado, estável frente à anterior (-0,2%). Foram projetados crescimentos nas colheitas da Índia, Bangladesh, Filipinas, Brasil, Coreia do Sul e Egito, mas recuos em outros 10 importantes países. O consumo mundial ficou abaixo da produção, mesmo com elevação de 2% frente à safra passada. O estoque global chegou a 178,22 milhões de toneladas, 0,8% maior que o de 2018/19.
Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Isabela Rossi e Victória Sarah Bernardineli Gaspar.
BOI
Recordes de 2019 são renovados em 2020
Cepea, Piracicaba – Os recordes observados no setor pecuário nacional em 2019 foram renovados em 2020. Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, as intensas exportações brasileiras de carne bovina, especialmente à China, atreladas à oferta restrita de boi gordo no pasto, evidenciada por dados oficiais indicando menor número de animais abatidos em boa parte do ano, mantiveram os preços de todo o setor em alta no mercado nacional na maior parte de 2020.
Em novembro, os preços do bezerro, do boi magro, da arroba do boi gordo e da carne atingiram recordes reais das respectivas séries do Cepea. No caso da arroba bovina, chegou a ser negociada próxima de R$ 300,00 no mês.
A valorização da arroba, no entanto, não indica que o pecuarista conseguiu margem maior em 2020. Isso porque os animais de reposição (bezerro e boi magro) também operaram em patamares recordes reais das respectivas séries do Cepea em praticamente o ano todo. Além da reposição – que representa mais da metade dos custos de produção de pecuaristas recriadores –, a forte valorização do dólar em 2020 elevou os preços de importantes insumos pecuários que são importados. Ainda, insumos de alimentação do setor pecuário, como milho e farelo de soja, também subiram com força ao longo de 2020.
No caso da indústria, enquanto as exportações aquecidas e o dólar elevado ajudaram na receita em Reais, as unidades que têm como foco apenas o mercado doméstico se depararam com matéria-prima em preço recorde e demanda por carne bovina um pouco enfraquecida. Ressalta-se que, em boa parte do ano, a população brasileira esteve com o poder de compra enfraquecido, diante da crise econômica gerada pela pandemia de covid-19. Com isso, muitos consumidores migraram para proteínas mais baratas, como suínos, frango e ovos.
Num contexto mais macro, as exportações aquecidas movimentaram a indústria nacional em 2020 e favoreceram o desempenho de todo o ramo pecuário do Brasil. Cálculos do Cepea realizados em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) mostram que, de janeiro a agosto de 2020, o PIB do ramo pecuário cresceu expressivos 13,79%, ao passo que o agrícola avançou 6,12%. Diante disso, o PIB do agronegócio nacional aumentou 8,48% nos oito primeiros meses de 2020.
BOI – O Indicador do boi gordo CEPEA/B3 iniciou 2020 com média de R$ 235,34, atingindo, em novembro, R$ 285,33, recorde real da série histórica mensal do Cepea, iniciada em 1994 (as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI). Em dezembro, contudo, os valores se enfraqueceram, pressionados pelo afastamento de compradores. No campo, houve ligeiro crescimento na oferta de animais para abate, devido à saída de gado do segundo giro de confinamento.
CARNE – A carcaça casada do boi gordo negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo atingiu média recorde real de R$ 18,92/kg em novembro. Já no último mês do ano, os valores da carne caíram.
BEZERRO – Como resultado do aumento do abate de fêmeas nos últimos dois anos e do crescimento no abate de novilhas, os preços médios mensais do bezerro renovaram os recordes reais ao longo de 2020. Esse cenário sustentou a rentabilidade do criador, que também se deparou com preços de insumos importados e da alimentação elevados. Em novembro, o bezerro nelore (de 8 a 12 meses) foi comercializado no estado de São Paulo a R$ 2.503,41, recorde real da série deste produto, iniciada em 1994. Em dezembro, o animal foi negociado na casa dos R$ 2.400,00.
BOI MAGRO – Os valores do boi magro também atingiram sucessivos recordes reais em 2020. Em novembro, o valor médio deste animal negociado no estado de São Paulo foi de quase R$ 3.800,00, conforme levantamento do Cepea. No último mês do ano, o boi magro foi negociado entre R$ 3.500,00 e R$ 3.700,00.
EXPORTAÇÕES – Em 2020, as exportações brasileiras de carne bovina in natura mantiveram o ritmo observado no ano anterior, com os volumes mensais acima de 100 mil toneladas. Em novembro, especificamente, a quantidade embarcada pelo Brasil se aproximou de 170 mil toneladas, segundo dados da Secex.
De janeiro a dezembro, as exportações brasileiras de carne bovina in natura somavam 1,725 milhão de toneladas, 12,55% a mais que em 2019 e um recorde. A receita, por sua vez, somou R$ 38,79 bilhões, sendo 53% a mais que em todo 2019 e um recorde.
Equipe: M.a Gabriela Ribeiro, Dr. Thiago Bernardino de Carvalho, M.a Shirley Menezes, Cristiane Mariano Spadoto, Tayane Gobbi Olivotto, Ariane Sbravatti, Isabela Zavatti e Letícia Bianchi Mantovan.
Colaboração: Alessandra da Paz
CAFÉ
Mesmo com produção elevada, cafés seguem valorizados ao longo de 2020
Cepea, Piracicaba – O ano de 2020 foi marcado por preços elevados dos cafés arábica e robusta. De acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, no primeiro semestre de 2020, as cotações foram sustentadas por incertezas quanto à oferta de café. Naquele período, além da menor produção de arábica de 2019/20, a pandemia de coronavírus trazia preocupações relacionadas à logística mundial, e países, como a Colômbia, tiveram problemas de mão de obra para colheita. Do lado da demanda, o cenário de incerteza também impulsionou as compras para “estocagem” de produtos, favorecendo especialmente as vendas de robusta.
Já no segundo semestre, apesar da pressão inicial da colheita de uma safra 2020/21 elevada no Brasil – de 61,6 milhões de sacas, segundo a Conab (dados de setembro/20), ou de 67,9 milhões de sacas, de acordo com o USDA (dezembro/20) – e das preocupações quanto ao consumo (fechamento de bares, restaurantes e cafeterias) –, os preços no Brasil foram sustentados pela elevação do dólar frente ao Real e pela demanda ainda firme. O clima desfavorável (seca e calor) até meados de outubro no Brasil e seus possíveis impactos sobre a próxima temporada (2021/22) reforçaram as altas nos preços (tanto em Reais como em dólares), sobretudo do arábica.
Além do cenário interno, problemas em outras origens também influenciaram a valorização doméstica dos cafés. Na América Central, furacões atingiram importantes produtores, como Honduras, causando perda de milhares de sacas de café e comprometendo a logística da cadeia. Para o robusta, no Vietnã, o clima seco durante o enchimento dos grãos reduziu o rendimento da safra de 2020/21 e chuvas no segundo semestre atrasaram a colheita dos cafés.
Quanto aos negócios, a valorização dos cafés arábica e robusta durante boa parte de 2020 favoreceu a liquidez interna, notadamente nas semanas de forte alta das cotações. Agentes negociaram no físico e para entrega futura (principalmente para o arábica), até mesmo para safras seguintes.
ARÁBICA – A forte estiagem e as altas temperaturas que atingiram os cafezais brasileiros ao longo de boa parte do ano, em especial entre setembro e outubro, devem resultar em quebra de produção em 2021/22, que, vale lembrar, já seria menor, por conta da bienalidade negativa. Esse cenário e o fato de boa parte da safra de 2020/21 já ter sido negociada anteriormente afastaram agentes do mercado em alguns períodos.
Em boa parte de 2020, os preços do arábica operaram acima de R$ 500/sc de 60 kg, com picos em agosto, novembro e dezembro. No dia 31 de agosto, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 bebida dura para melhor, posto em São Paulo, atingiu R$ 610,57/sc, o maior patamar nominal de toda a série histórica do Cepea. Aqui ressalta-se que, em termos reais, o maior preço diário já registrado pelo Cepea foi em 28 de maio de 1997, quando o Indicador esteve acima de R$ 1.900/sc (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI).
Na parcial da safra 2020/21 (de julho/20 a 30 de dezembro/20), a média do Indicador do arábica foi de R$ 557,64/saca, alta de 13,8% (ou de 67,80 Reais por saca) em relação ao mesmo período de 2019/20. A maior média mensal do Indicador CEPEA/ESALQ do arábica foi verificada em dezembro, de R$ 594,33/saca de 60 kg.
ROBUSTA – Apesar de o clima no Brasil também ter preocupado produtores de robusta, os impactos foram sentidos especialmente em Rondônia. No Espírito Santo, maior estado produtor, colaboradores apontam que as chuvas em 2020 foram suficientes para o bom desenvolvimento das lavouras, sendo esperada maior produção em 2021/22. A safra colhida em 2020 (2020/21), no entanto, apresentou problemas, tendo produção menor que o esperado pelos produtores.
Na parcial da safra 2020/21 (de julho/20 a 23 de dezembro/20), a média do Indicador do robusta foi de R$ 391,80/sc, elevação de 26,5% (ou de 82,04 Reais por saca) frente ao mesmo período da temporada passada. A maior média mensal do Indicador CEPEA/ESALQ do robusta de R$ 409,99/sc, foi verificada em novembro.
EXPORTAÇÕES – Segundo o Cecafé (Conselho de Exportadores de Café), na parcial desta safra (de julho/20 a novembro/20), os embarques totais somam 19,8 milhões de sacas, e os de cafés verdes, 18,2 milhões, respectivos avanços de 15,2% e de 17,2% frente ao mesmo período de 2019/20. A receita totalizou U$S 2,1 bilhões na parcial da temporada, aumento de 12,8% frente ao mesmo período de 2019/20, favorecida pelo volume e câmbio elevado.
Considerando-se apenas arábica, os embarques na parcial desta temporada somam 15,7 milhões de sacas, 16,5% a mais que no mesmo período da safra anterior. Para o robusta, foram 2,4 milhões sacas exportadas de julho a novembro de 2020, elevação de 21,8%.
Equipe: Dra. Margarete Boteon, Laleska Moda, Caroline Ribeiro, Fernanda Geraldini e Renato Garcia Ribeiro.
CITROS
Estiagem prejudica produção de 2020/21; quebra de safra é a maior da história
Cepea, Piracicaba – De maneira geral, a citricultura paulista registrou preços elevados em 2020, segundo mostram pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Com a menor produção de laranjas no cinturão citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro) na safra 2020/21 devido ao clima adverso, a necessidade de matéria-prima por parte da indústria continuou alta ao longo do ano, fator que sustentou os valores da fruta.
Primeiro, após as floradas ocorridas no segundo semestre de 2019, as altas temperaturas e o clima seco, principalmente em setembro e outubro, limitaram o pegamento dos frutos. Assim, houve perda significativa na florada principal e maior participação das frutas de segunda florada. Depois, durante o período de enchimento, no segundo semestre de 2020, novamente a seca e as altas temperaturas atingiram as regiões citrícolas paulistas, o que prejudicou tanto o tamanho das laranjas quanto a taxa de queda de frutas.
Segundo o relatório de 10 de dezembro do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), o cinturão de São Paulo e do Triângulo Mineiro deve ter a maior quebra de safra (em termos percentuais) desde 1988/89, quando se inicia a série histórica. No total, a produção de laranja deve cair 30% na temporada 2020/21, totalizando 269,36 milhões de caixas de 40,8 kg.
Ressalta-se que as safras mais recentes do cinturão têm sido marcadas por elevada oscilação na produção. Desde o início do Projeto PES (Pesquisa de Estimativa de Safra), do Fundecitrus (na temporada 2015/16), observa-se elevada variabilidade entre o volume produzido entre uma safra e outra, caracterizando uma bienalidade de produção, muito mais influenciada por questões climáticas do que propriamente fisiologia da planta.
PREÇOS INDUSTRIAIS – Ainda que as processadoras tenham iniciado a temporada 2020/21 com bons volumes de suco em estoque – 471 mil toneladas de suco em equivalente concentrado, de acordo com a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) –, o cenário de baixa oferta de matéria-prima manteve a necessidade industrial por frutas elevada, o que se reflete nos preços oferecidos.
As primeiras propostas (em abril) estiveram entre R$ 20 e R$ 22/cx de 40,8 kg, colhida e posta na fábrica, mas, assim que a primeira estimativa do Fundecitrus foi divulgada, em maio, os valores já subiram para até R$ 25/cx. Em dezembro, a única grande indústria estava comprando no segmento spot a R$ 27/cx – vale lembrar, contudo, que a maioria dos produtores comprometeu suas frutas antecipadamente, reduzindo significativamente a participação do mercado spot.
MERCADO DE MESA – A maior demanda industrial diminuiu a disponibilidade de frutas no mercado de mesa, visto que houve casos de produtores tipicamente do segmento que preferiram direcionar suas frutas à indústria, diante das incertezas da pandemia e dos preços atrativos no processamento. Este cenário somado às adversidades climáticas (que acentuaram a baixa disponibilidade de frutas com padrão para a mesa) e à demanda aquecida impulsionaram as cotações das laranjas de mesa em praticamente todos os meses de 2020.
A laranja pera rio atingiu o maior patamar de 2020 em novembro, quando média foi de R$ 43,35/cx de 40,8 kg, na árvore, 54,6% acima da observada no mesmo mês de 2019, em termos nominais. Mesmo em julho, período em que normalmente os preços registram o menor valor do ano, a fruta foi negociada na média de R$ 26,83/cx de 40,8 kg, na árvore, alta de 48,6% em relação à do mesmo mês de 2019.
TAHITI – A oferta de lima ácida tahiti foi bastante elevada de janeiro a abril, período de pico de safra. Ainda que as exportações tenham sido aquecidas nestes meses, os preços foram pressionados pela alta disponibilidade. A elevada carga das plantas naquele período, por sua vez, resultou em queda nas produções seguintes, elevando os preços, especialmente a partir de julho, quando passaram a operar em patamares recordes nominais da série histórica do Cepea (iniciada em 1996). A maior média do ano, de R$ 85,15/cx de 27 kg, foi observada em agosto, com avanço de 183% frente à do mesmo mês de 2019. A baixa produção do segundo semestre, em alguns períodos, foi agravada pela estiagem. Quanto às exportações da fruta, atingiram recorde em 2020.
FLÓRIDA – Relatório divulgado em dezembro pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima a safra 2020/21 de laranja da Flórida em 56 milhões de caixas de laranja de 40,8 kg, queda de 17% frente à temporada anterior. Assim, como na safra brasileira, o desenvolvimento das frutas da Flórida foi prejudicado pelo clima – temperaturas muito elevadas antes do período de floração e volumes insuficientes de chuva no desenvolvimento, que limitaram a produtividade.
EXPORTAÇÕES – A temporada 2019/20 (de julho/19 a junho/20) de exportações de suco de laranja registrou desempenho positivo por mais um ano. O bom resultado se deve à maior produção paulista e à possível necessidade de abastecimento dos estoques das engarrafadoras europeias. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil enviou a todos os destinos 1,11 milhão de toneladas de suco em equivalente concentrado, alta de 14% em relação a 2018/19.
Equipe: Dra. Margarete Boteon, Fernanda Geraldini, Caroline Ribeiro e Isabela Gonçalves.
ETANOL
Covid-19 limita demanda em 2020, e preço cai mesmo com menor produção
Cepea, Piracicaba – Agentes do setor sucroenergético consultados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciaram o ano otimistas, esperando um cenário promissor para o consumo de etanol na temporada 2020/21 e animados com o Renovabio. No entanto, a safra 2020/21 foi marcada por muitas incertezas, devido à pandemia de covid-19, que acabou limitando a demanda por etanol e resultando em queda de preços na maior parte do ano, mesmo diante da menor produção do biocombustível.
Tomando-se como base os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais do etanol hidratado, a média da safra 2020/21 (de abril/20 a dezembro/20) foi de R$ 1,9147/litro, contra R$ 2,2321/litro em igual período da temporada anterior, baixa real de 14,2% (valores deflacionados pelo IGP-M de dezembro/20). O etanol anidro teve média de R$ 2,10,29/litro, recuo de 14% na mesma comparação, em termos reais.
Já a produção de etanol, segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) somou 28,9 bilhões de litros na parcial da safra 2020/21 (até o final de novembro), queda de 9% frente ao mesmo período da temporada anterior.
Já em março, o avanço da pandemia no Brasil e no mundo fez com que os preços internacionais do petróleo caíssem de forma expressiva, visto que o consumo de gasolina em países da Europa e nos Estados Unidos diminuiu, devido à menor mobilidade da população como estratégia para conter a disseminação do coronavírus. Conflitos políticos entre Arábia Saudita e Rússia também influenciaram a desvalorização global do petróleo.
No Brasil, as restrições de mobilidade foram impostas no final de março por governos estaduais e municipais, e o setor sucroenergético precisou se ajustar. O mix de produção das usinas, previamente definido, foi alterado, e uma maior quantidade de cana-de-açúcar foi direcionada à fabricação de açúcar em detrimento do biocombustível.
Em abril e maio, a demanda por etanol para produção de álcool em gel e outros produtos de higiene aumentou expressivamente, o que amenizou o acúmulo de estoques nas usinas. Além disso, com o dólar favorável às exportações e a firme demanda internacional por etanol outros fins, unidades produtoras exportaram volume elevado em 2020 – inclusive, usinas que há algumas safras não fechavam negócios internacionais retornaram a esse mercado.
No acumulado parcial da safra 2020/21 (de abril/20 a novembro/20), o volume total de etanol embarcado pelo Brasil foi de 2,22 bilhões de litros, alta de 50,24% em relação ao mesmo período da temporada anterior (1,48 bilhão de litros), de acordo com dados da Secex. A receita somou US$ 943,98 milhões, 25,85% superior à do mesmo período de 2019/20 (US$ 750,1 milhões). Os principais destinos do etanol brasileiro foram os Estados Unidos e a Coreia do Sul.
O ano também foi marcado pela estiagem, que resultou em poucas interrupções de moagem nas unidades produtoras. Parte das usinas, inclusive, antecipou o fim da safra, e, em alguns momentos específicos, verificou-se aumento significativo da oferta de etanol, devido à necessidade de liberar espaço nos tanques, especialmente do hidratado.
Dados do Cepea mostram que, mesmo com a retomada gradual da demanda por etanol hidratado, o volume vendido no estado de São Paulo entre abril e novembro foi 29,62% inferior ao de igual período da temporada anterior. Já de etanol anidro, o volume comercializado na modalidade spot teve crescimento de 27,37%, refletindo a diminuição do percentual de contratos exigido pela ANP (Agência Nacional de Petróleo).
Na parcial da temporada (de abril/20 a novembro/20), as vendas totais de hidratado (para os mercados interno e externo) das usinas do Centro-Sul somaram 13,78 bilhões de litros, volume 17,79% inferior ao do mesmo período de 2019 (de 16,23 bilhões de litros), segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
NORDESTE – A safra 2020/21 na região Nordeste, como já vem ocorrendo há algumas temporadas, se iniciou a partir da segunda quinzena de julho na Paraíba, enquanto que em Pernambuco e Alagoas, o ritmo de produção e comercialização de etanol foi um pouco mais lento, uma vez que algumas usinas, principalmente alagoanas, realizaram vendas antecipadas em setembro (com retiradas estendidas) para levantar recursos no início da safra nova.
Na parcial da temporada 2020/21 (de agosto/20 a dezembro/20), o preço do hidratado em Pernambuco ficou 4,87% inferior ao do mesmo período da safra anterior, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-M de dezembro/2020). Para o anidro, verifica-se alta de 1,43% na mesma comparação. Em Alagoas, a média do hidratado caiu 6,81%, enquanto a do anidro subiu 2,03%. Na Paraíba, o valor do etanol hidratado caiu 7,41% e para o anidro os preços mantiveram-se estáveis (+0,05%), na mesma comparação.
Com o enfraquecimento da demanda por combustível em todo o Brasil a partir de março, em função da pandemia de covid-19, algumas usinas do Nordeste alteraram o mix, aumentando a produção de açúcar VHP, visando maior remuneração com a exportação do adoçante.
Em 31 de agosto, a medida governamental que permitia a importação de etanol sem taxas (de 750 milhões de litros no período de um ano) terminou. No início de setembro, o governo renovou, pelos três meses seguintes, a isenção de taxas para importação de até 187,5 milhões litros. Com essa limitação, a demanda pelo produto nacional com origem no Nordeste e/ou nos estados do Centro-Sul aumentou, especialmente por etanol anidro.
Assim, as importações de etanol na safra 2020/21 (de abril a novembro de 2020) somavam 307,13 milhões de litros, forte queda de 64,95% frente às do mesmo período da temporada anterior (876,39 milhões de litros), sendo os Estados Unidos e o Paraguai os principais fornecedores. Do volume importado, 53,79% foram recebidos nos portos do Norte e do Nordeste e 47,03%, nos do Centro-Sul, ainda segundo a Secex.
Equipe: Dra. Mirian R. Piedade Bacchi, Msc. Ivelise Rasera Bragato, Carla Luciane dos Santos, Talita Negri e Ricardo Fleury Sunhiga Filho.
FRANGO
Competitividade da carne de frango é recorde em 2020
Cepea, Piracicaba – Em 2020, a redução do poder de compra da população, devido aos impactos econômicos da pandemia de covid-19, favoreceu as vendas da carne de frango em detrimento das principais substitutas, a bovina e a suína. Além disso, agentes do setor da avicultura de corte indicam que o auxílio emergencial do governo federal também contribuiu para impulsionar as vendas de carne avícola. Com isso, as diferenças entre os preços do frango inteiro e os das carcaças bovina e suína atingiram recordes em 2020, segundo apontam dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
A maior diferença entre as carnes já registrada na série mensal do Cepea, iniciada em 2004, foi observada em novembro, quando o frango inteiro resfriado negociado no atacado da Grande São Paulo esteve 12,73 Reais/kg abaixo da carcaça casada bovina e 7,53 Reais/kg inferior à carcaça especial suína. Na média do ano (de 2 de janeiro a 30 de dezembro), enquanto as carnes bovina e suína se valorizaram expressivos 35,7% e 32,5% frente a 2019, respectivamente, a proteína de frango avançou menos, 8,8%.
As cotações da carne de frango iniciaram o ano em queda, como tradicionalmente ocorre em janeiro, devido às despesas extras da população naquele mês. Além disso, o mercado também buscava um equilíbrio, após as fortes altas registradas no final de 2019. Nos meses seguintes, a procura por produtos de origem avícola seguiu enfraquecida e, com o início da pandemia, o movimento de baixa se intensificou.
A dificuldade de escoar a produção no mercado nacional – principalmente por conta da diminuição e/ou suspensão da demanda de escolas e serviços de alimentação, como hotéis e restaurantes – pressionou os valores de todo o setor. Com a produção, tanto de aves quanto de carne, acima da demanda, os ajustes negativos nos preços de comercialização ocorreram com a finalidade de aumentar a liquidez interna.
Assim, em maio, a maioria dos produtos avícolas acompanhados pelo Cepea registrou preços muito baixos. Naquele mês, o frango inteiro resfriado negociado no atacado da Grande São Paulo teve média de R$ 3,96/kg, o menor valor desde agosto/2018, quando esteve a R$ 3,60/kg, em termos nominais. O frango vivo foi negociado em maio no atacado do estado de São Paulo a R$ 2,91/kg, o patamar mais baixo desde fevereiro/2019.
Além da menor procura, a oferta de carne também aumentou. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção brasileira de frango nos nove primeiros meses do ano cresceu 2,5% frente ao mesmo período de 2019, o que reforçou a pressão sobre as cotações do setor.
Por outro lado, as exportações cresceram, ajudando a enxugar a sobreoferta da carne no mercado doméstico. Apesar de os embarques de carne de frango não terem alcançado um protagonismo tão grande quanto os de carne bovina e suína, que atingiram recordes, as exportações da proteína avícola in natura aumentaram 1,1% entre janeiro e dezembro de 2020 frente ao ano anterior, segundo dados da Secex.
Com o passar dos meses e a retomada das atividades econômicas, além do auxílio emergencial, que estimulou o consumo, os preços da carne de frango reagiram no mercado interno. O produto, porém, se valorizou menos do que as principais carnes concorrentes, bovina e suína, resultando em aumento de competitividade. Segundo colaboradores do Cepea, o menor poder de compra da população brasileira diante da crise gerada pela pandemia de covid-19 levou demandantes a migrarem para proteínas mais baratas, como o frango.
PODER DE COMPRA – O produtor amargou fortes prejuízos em 2020. Isso porque tanto o farelo de soja quanto o milho, importantes insumos da alimentação do setor avícola, registraram intensa escalada nos preços. Os valores do frango vivo, por sua vez, também avançaram, mas com menor intensidade. Esse contexto pressionou o poder de compra da avicultura de corte em 2020.
Na média de 2020, considerando-se o frango vivo comercializado no estado de São Paulo e o milho no mercado de lotes da região do Indicador de Campinas (SP), foi possível ao avicultor a compra de 3,76 quilos do cereal com a venda de um quilo de animal, 24,9% abaixo da quantidade observada no mesmo período de 2019. Trata-se, também, do ano mais desfavorável ao avicultor desde 2011. Frente ao farelo de soja negociado na região de Campinas, foi possível ao avicultor a aquisição de apenas 1,95 quilo do derivado com a venda de um quilo de frango, recuo de 25,5% frente ao observado em 2019 – esta foi a quantidade mais baixa já registrada na série histórica do Cepea.
Equipe: Dr. Sergio De Zen (licenciado), Thiago Bernardino de Carvalho, Juliana Ferraz, Luiz Gustavo Susumu Tutui, Ferdynanda Moreira Silva, Luccas Bavaresco, Matheus do Valle Liasch, Luiz Henrique Melo, Gabriel Brambila Secches, Ernesto Vaughn Ramello e Marcia Verweij.
LEITE
2020, ano de preços recordes no campo
Cepea, Piracicaba – O ano de 2020 foi marcado por adversidades. Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, do lado da demanda, a pandemia de coronavírus resultou em mudanças bruscas no comportamento do consumidor. Do lado da oferta, o clima prejudicou a atividade, devido às irregularidades das chuvas e às secas extremas, especialmente no Sul do País. Esses dois fatores, combinados, proporcionaram um ano de desequilíbrios entre a oferta e a demanda e de elevação substancial dos preços no campo.
De acordo com pesquisas do Cepea, de janeiro a dezembro, o preço do leite (“Média Brasil” líquida) acumulou forte alta de 52,3%, influenciado principalmente pelas consecutivas elevações entre junho e outubro. O preço de outubro atingiu o recorde real da série histórica do Cepea, de R$ 2,1586/litro. Na média de 2020, o preço foi de R$ 1,7604/litro, 19,2% acima da registrada em 2019, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA).
O isolamento social por conta da covid-19 iniciado no encerramento de março acabou interrompendo parte dos serviços de alimentação, importante canal de distribuição de lácteos, gerando grandes incertezas no setor. Como consequência, as indústrias diminuíram a compra de leite e orientaram produtores a “segurarem” a produção em abril. Os preços do leite captado naquele mês registraram queda pontual e isso teve efeitos sobre a produção, que permaneceu enxuta nos meses posteriores – também influenciada negativamente pelo clima.
No entanto, o consumo foi sustentado pelo auxílio emergencial. As vendas de lácteos passaram a registrar desempenhos positivos a partir de maio e os estoques de lácteos como o leite UHT, muçarela e leite em pó permaneceram em volumes baixos. Isso manteve os preços dos lácteos em constante elevação, atingindo recordes subsequentes, até o maior patamar verificado, em setembro.
Com isso, as cotações no campo se mantiveram valorizadas e estimularam o aumento da produção, mas isso aconteceu de forma lenta. Assim, a competição entre indústrias para a compra de leite no campo continuou acirrada, contexto que resultou em aumento das importações depois de julho. As importações significaram um aumento na disponibilidade de lácteos, sobretudo de leite em pó, o principal produto da pauta, e possibilitaram menor pressão na concorrência entre as indústrias de laticínios para compra de matéria-prima. Contudo, as exportações também se elevaram em 2020, impulsionadas pelo dólar valorizado.
Até agosto, as indústrias de laticínios não tiveram grandes dificuldades em repassar a alta da matéria-prima ao consumidor devido à demanda firme e aos estoques limitados de lácteos. Entretanto, isso foi se tornando mais difícil depois de setembro, à medida que os preços dos lácteos atingiram patamares recordes. A diminuição do auxílio emergencial, o aumento do desemprego e os elevados preços na prateleira para o consumidor – não só de lácteos, mas também de outros produtos – enfraqueceram a demanda por derivados. A pressão dos canais de distribuição por preços mais baixos foi mais intensa, o que motivou a queda nos preços ao produtor em novembro (que se refere à captação de outubro).
No entanto, esse movimento de desvalorização do leite no campo se deu ao mesmo tempo em que se intensificou a alta nas cotações de grãos. Além disso, a irregularidade de chuvas no final do ano, atribuída a La Niña, afetou tanto a produção dos grãos quanto a disponibilidade de pastagens e deve segurar a oferta de leite neste final de ano. Vale lembrar, também, que a valorização da arroba em 2020 estimula produtores a descartar matrizes leiteiras. Por um lado, esse fato proporciona uma maior especialização do rebanho e contenção de custos ao produtor. Por outro, configura uma perda de ativos produtivos que, somada a falta de investimento na atividade, torna-se um elemento que diminui a capacidade de retomada da produção, principalmente em bacias leiteiras menos tecnificadas.
Equipe: M.a Natália Salaro Grigol, Juliana Cristina dos Santos, Munira Nasrrallah, Beatriz Pina Batista e Débora Zanatta Pereira Monteiro.
MANDIOCA
Em 2020, oferta fica praticamente estável; demanda recua
Cepea, Piracicaba – Ao longo de 2020, os efeitos da covid-19 sobre a colheita de raiz de mandioca – e, consequentemente, sobre a oferta do produto – foram relativamente pequenos, com exceção do início da pandemia, quando houve dificuldades no transporte de trabalhadores rurais. Por outro lado, a demanda por produtos industriais, incluindo os que utilizam a fécula de mandioca como insumo, foi menor, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
De acordo com dados do Cepea, no primeiro semestre, a quantidade de mandioca processada pelas fecularias totalizou 1,04 milhão de toneladas, 0,5% abaixo da registrada em igual período de 2019. Já na segunda metade de 2020, a moagem foi de 911,3 mil toneladas, avanço de 4,4% frente ao observado no mesmo período do ano anterior. No ano, o volume de moagem somou 1,95 milhão de toneladas, com ligeiro aumento de 1,7% na comparação com o de 2019.
Quanto aos preços da raiz, ficaram praticamente estáveis ao longo de praticamente todo o ano e, na maioria dos meses de 2020, as médias nominais superaram as de 2019. Em termos nominais, o preço médio no primeiro semestre foi de R$ 362,46/t e, na segunda metade do ano, de R$ 410,40/t. A média nominal de 2020 foi de R$ 388,05/t, acréscimo de 14,3% frente à do ano anterior. Já em termos reais, a média deste ano esteve apenas 1% acima da de 2019.
Embora o cenário tenha sido de preços mais elevados em 2020, houve queda na produtividade, e, com a rentabilidade negativa de safras anteriores e valores mais atrativos de outras culturas, parte dos agricultores diminuiu a área de mandioca.
FÉCULA – Ainda que em alguns momentos tenha apresentado aquecimento, a demanda pela fécula de mandioca caiu no agregado de 2020, como efeito principalmente das restrições por conta do coronavírus.
De acordo com cálculos do Cepea, entre janeiro e novembro, o consumo aparente médio de fécula no Brasil foi de 43 mil toneladas/mês, queda de 9,3% frente ao de 2019. Neste cenário, parte da indústria limitou a produção de fécula, que somava pouco mais de 500 mil toneladas até meados de dezembro (o equivalente a pouco mais de 41,6 mil toneladas/mês). Assim, com a produção de fécula acima do consumo aparente, o excedente foi o maior desde 2016.
Quanto aos preços da fécula (FOB fecularia), na média de 2020, foi de R$ 2.226,87/tonelada, 13,9% acima do ano anterior, em termos nominais. Já em valores reais, a média anual subiu apenas 1,2%.
Com excedente de produção doméstica e com o dólar valorizado frente ao Real, as exportações de fécula tiveram forte crescimento em 2020. De acordo com a Secex, foram 12,5 mil toneladas embarcadas entre janeiro e novembro, mais que o dobro frente ao mesmo período de 2019 e o maior volume desde 2016. As importações caíram 41% na parcial do ano, somando 527 toneladas. Em volume, a balança comercial da fécula de mandioca teve superávit de 12 mil toneladas entre janeiro e novembro, 148% maior que o do mesmo período de 2019. O saldo comercial acumulado de 2020 é de US$ 8,94 milhões, com crescimento de 112% na comparação com o resultado de 2019, e o melhor desde 2015.
FARINHA – O mercado de farinha esteve bastante lento em 2020, especialmente no Centro-Sul. Por mais um ano, a comercialização ocorreu entre agentes locais, apenas com embarques pontuais para outras regiões do Brasil. Entretanto, no início da pandemia, houve maior fluxo de venda do Centro-Sul para as regiões Norte e Nordeste, com destaque para a primeira região. Como resultado da lentidão no mercado de farinha e da menor disputa com as fecularias, o ritmo de moagem esteve desaquecido.
O preço médio nominal a prazo (FOB farinheira) da saca de 50 kg da farinha de mandioca branca fina/crua tipo 1 em 2020 foi de R$ 82,06, avanço de 14,2% frente ao ano anterior. A média anual para a farinha de mandioca grossa foi de R$ 62,62 por saca de 40 kg, acréscimo de 16,4% entre 2019 e 2020.
Equipe: Dr. Lucilio Rogerio Aparecido Alves, Ms. Fábio Isaias Felipe, Jéssica Caroline Pereira e Beatriz Cassiano Grellet.
MILHO
Paridade de exportação sustenta patamares recordes de preços em 2020
Cepea, Piracicaba – O mercado brasileiro de milho em 2020 foi marcado por produção e preços recordes, segundo indicam pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. A forte valorização do dólar, a alta nos preços internacionais e a demanda externa aquecida sustentaram a paridade de exportação e, consequentemente, os preços brasileiros, sobretudo no segundo semestre, quando atingiram máximas reais históricas. Em termos globais, a produção foi menor.
O ano de 2020 começou com preocupações relacionadas à oferta disponível para o primeiro trimestre. O bom ritmo das exportações e o consumo doméstico elevado em 2019 reduziram o estoque de passagem brasileiro para 10,2 milhões de toneladas em janeiro de 2020 – o menor desde 2016/17, segundo a Conab. No campo, condições climáticas adversas limitaram o potencial produtivo da primeira safra, que cresceu ligeiro 0,2% em relação à anterior, somando 25,68 milhões de toneladas, conforme dados da Conab. Assim, os menores estoques aliados à produção enxuta da primeira safra resultaram em movimento de alta nos preços nos dois primeiros meses de 2020.
Entre março e junho, as perspectivas de produção recorde na segunda safra e o avanço da pandemia de covid-19 no Brasil pressionaram as cotações domésticas do cereal. Com as medidas de controle da pandemia, agentes temiam redução na demanda de exportadores e consumidores nacionais, o que, de fato, ocorreu em abril, mas logo foi compensado pelo bom ritmo das exportações e pela retomada das compras no mercado interno nos meses seguintes.
Assim, no acumulado primeiro semestre, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas –SP) teve pequena queda de 0,2%. A média no primeiro semestre, de R$ 51,88/saca de 60 kg, foi 36% superior à do mesmo período de 2019, em termos nominais.
Para a segunda safra, o clima favoreceu o desenvolvimento das lavouras, e foram colhidas 75,05 milhões de toneladas de milho, quantidade 2,5% superior à temporada anterior e um recorde. Para terceira safra, a produção foi de 1,77 milhão de toneladas, forte aumento de 46% frente a 2018/19.
No agregado, a produção brasileira foi recorde, com as três safras totalizando 102,5 milhões de toneladas. Se somada a produção total com o estoque inicial, de 10,2 milhões de toneladas, e importação de 950 mil toneladas, a disponibilidade total da safra 2019/20 é estimada em 113,65 milhões de toneladas. O consumo interno ficou em 68,66 milhões de toneladas, gerando excedente de 45 milhões de toneladas – dados da Conab.
Mesmo com a produção recorde no segundo semestre, a forte alta do dólar, os avanços nos valores internacionais e a demanda externa aquecida sustentaram a paridade de exportação e, consequentemente, os preços no mercado interno a partir de julho, que, por sua vez, alcançaram patamares recordes em outubro. Em 28 de outubro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa atingiu R$ 82,67/saca de 60 kg, o maior valor real da série histórica desse produto, iniciada em 2004. Já em dezembro, o enfraquecimento do dólar pressionou os valores na região dos portos e, consequentemente, no interior do País.
No balanço do segundo semestre de 2020, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa teve média de R$ 65,34/saca de 60 kg, 26% acima do semestre anterior e 60% superior ao de julho a dezembro de 2019. A média do dólar foi de R$ 5,38 no segundo semestre de 2020, valor 33% acima do mesmo período de 2019.
No acumulado do ano, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa subiu 61,8%, a R$ 78,65/sc no dia 30. Na média das regiões acompanhas pelo Cepea, o aumento nas cotações foi de expressivos 81,6% no mercado balcão e de 70,1% no de lotes. Nos portos, os avanços foram de 93,7% em Paranaguá (PR) e de 98,2% em Santos (SP), também no acumulado de 2020.
Caso as estimativas da Conab se concretizem, as exportações brasileiras na temporada 2019/20 (fevereiro/20 a janeiro/21) devem somar 34,5 milhões de toneladas. Por enquanto, a atual safra acumula (fevereiro/20 e dezembro/20) 33,5 milhões de toneladas exportadas. Os estoques finais da safra 2019/20 (final de janeiro/21) podem atingir 10,5 milhões de toneladas, 23% abaixo da média das últimas três safras. Com isso, a temporada 2019/20 deve terminar com a disponibilidade inferior à das últimas safras.
Em termos mundiais, a produção na safra 2019/20 é estimada em 1,116 bilhão de toneladas, quantidade 0,64% abaixo da anterior, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Entre os três maiores produtores, Estados Unidos, China e Brasil, houve forte redução na produção apenas para o primeiro País, de 5%. Já para China e Brasil, os aumentos foram de 1,4% e 1%, com respectivas produções de 260 milhões de toneladas e de 102 milhões de toneladas.
O consumo da temporada foi estimado pelo USDA em 1,32 bilhão de toneladas, redução de 1% em relação à anterior. Com a queda na produção mundial e o consumo se mantendo estável, os estoques finais caíram 5%, estimados em 303 milhões de toneladas. As transações internacionais são estimadas em 175,1 milhões de toneladas, aumento de 1,4% em relação à temporada anterior. Os Estados Unidos seguem como principal exportador mundial do cereal, seguidos pela Argentina, Brasil e Ucrânia.
Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Kaline Lacerda, Natália Guimarães, Natália Correr Ré e Thaís Bragion Bertoloti.
OVINOS
Menor oferta sustenta preços de ovinos em 2020
Cepea, Piracicaba – As expectativas de estabilidade de preço e de volume negociado para o mercado de ovinos em 2020 não foram confirmadas, devido ao cenário atípico gerado pela pandemia de covid-19. Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, indicam que a retração econômica, as reduções das importações e das exportações desta proteína e as medidas de isolamento social para contenção do avanço do novo coronavírus influenciaram os resultados do setor.
Ainda assim, no balanço de 2020 (entre dezembro/19 e dezembro/20), foram verificadas valorizações do animal vivo em todas as regiões acompanhadas pelo Cepea. Nos estados do Ceará, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, as altas nos valores do animal vivo no ano foram de respectivos 20%, 9,51%, 4,92%, 45,71%, 19,35% e 33,06%. Para os animais abatidos em São Paulo, no Rio Grande do Sul, no Paraná e na Bahia, os preços pagos subiram respectivos 10,92%, 22,12%, 17,16% e 41,18% no mesmo período.
Essas altas nos preços de ovinos em 2020 estiveram atreladas à menor oferta de animais, que, por sua vez, refletiu os elevados custos de produção, tendo em vista os aumentos nos preços de insumos da alimentação, como farelo de soja e milho. Aqui ressalta-se que os valores desses grãos atingiram recordes reais em 2020, considerando-se os Indicadores ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá (PR) da soja e ESALQ/BM&FBovespa (Campinas, SP) do milho.
Além disso, a demora na recuperação dos pastos, por conta de adversidades climáticas, não permitiu a terminação adequada dos animais, reduzindo a oferta tanto em termos de quantidade quanto de qualidade.
Outro ponto a se destacar em relação à oferta é a redução das importações da carne ovina brasileira. De acordo com dados da Secex, os embarques dessa proteína recuaram 13% em 2020 frente ao total de 2019, cenário que limitou ainda mais a disponibilidade interna deste produto, já que a proteína importada é parte representativa do mercado doméstico.
Do lado da demanda, por esta proteína ser de alto valor agregado e registrar acentuada sazonalidade de consumo, a comercialização de carne ovina foi menos afetada pelas medidas de isolamento social e fechamento de estabelecimentos comerciais durante a pandemia, visto que aconteceram fora das principais datas de consumo de ovinos, que são as festividades de fim de ano.
Por outro lado, o recuo de 4,4% do PIB nacional, segundo o Boletim Focus do Banco Central divulgado no dia 24 de dezembro de 2020, e a perda do poder de consumo da população influenciam de certa forma o mercado de ovinos, já que a elasticidade da demanda relacionada à renda é elevada para essa proteína.
Equipe: Rodolfo Jordão, Juliana Ferraz, Matheus do Vale Liasch, Luccas Bavaresco Paranhos do Valle e Luiz Gustavo Susumu Tutui.
OVOS
Preço atinge recorde real, mas custo elevado reduz poder de compra do avicultor
Cepea, Piracicaba – Em 2020, a pandemia de covid-19 influenciou fortemente a avicultura de postura nacional, gerando resultados que vão desde preços em patamares recordes até o menor poder de compra da história da atividade, segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Como geralmente ocorre, os preços dos ovos iniciaram 2020 em queda, reflexo da menor demanda no período devido às férias escolares e à necessidade de vendedores de reduzir estoques, visto que as vendas foram limitadas pelo recesso de fim de ano. Nos meses seguintes, porém, o movimento foi de recuperação, e as cotações atingiram recorde real em abril.
Além do período de Quaresma tradicionalmente elevar a procura por ovos, a preocupação da população com uma possível falta de alimentos, por conta da pandemia de covid-19, levou mercados atacadistas e varejistas a aumentar seus pedidos, principalmente em abril. Com isso, o número de pedidos superou a produção das granjas, e as cotações da proteína atingiram o maior patamar real da série história do Cepea, iniciada em 2013 – valores deflacionados pelo IPCA.
Em Bastos (SP), onde se concentra a maior parte da produção nacional, o ovo branco tipo extra registrou preço médio de R$ 114,24/caixa com 30 dúzias em abril. Para os ovos vermelhos, as valorizações foram ainda mais intensas no período. Com produção geralmente inferior à de ovos brancos, a cadeia é mais vulnerável a elevações de demanda. Na praça paulista, o produto vermelho foi cotado na média de R$ 134,32/cx em abril.
Com o fim do período religioso e o início da segunda quinzena de abril, a procura diminuiu, e os preços começaram a cair, deixando produtores apreensivos. Além da menor procura, a oferta de ovos também aumentou. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção brasileira de ovos para consumo somou 2,39 bilhões de dúzias nos nove primeiros meses de 2020, aumento de 3,5% em relação ao mesmo período de 2019, o que pressionou ainda mais as cotações da proteína.
O movimento de queda só foi interrompido em setembro. Levantamento do Cepea junto a colaboradores do setor de ovos mostra que a forte onda de calor entre o fim de setembro e o início de outubro resultou no aumento da mortalidade das poedeiras nas principais regiões produtoras. Esse cenário, ainda de acordo com colaboradores, limitou a produção. As altas temperaturas também reduziram a oferta dos ovos maiores, o que, somado ao incremento – ainda que tímido – da demanda para a fabricação de produtos natalinos, alavancou as vendas e, consequentemente, as cotações da proteína. Vale ressaltar que, apesar do recuo no acumulado do ano, o preço médio dos ovos em 2020 é recorde real.
No entanto, as altas não foram suficientes para limitar as perdas acumuladas ao longo do ano. Os custos de produção, que já estavam elevados em 2019, entraram em 2020 em uma espiral de alta sem precedentes, reduzindo o poder de compra dos avicultores, que atingiu, em novembro, o pior patamar já registrado em toda a série histórica do Cepea.
Considerando-se a caixa de 30 dúzias de ovos brancos tipo extra para retirada nas granjas (FOB) de Bastos e o milho negociado no mercado de lotes da região do Indicador de Campinas (SP), o avicultor pôde comprar em novembro 72,9 quilos do cereal com a venda de uma caixa de ovos, a menor quantidade registrada na série do Cepea. Frente ao farelo de soja comercializado na mesma região, o poder de compra do avicultor de postura também recuou, com a caixa de ovos valendo 36,6 quilos do derivado, também o menor patamar da história.
Além das dificuldades relacionadas à aquisição de insumos nutricionais, várias regiões acompanhadas pelo Cepea também tiveram problemas com a compra de embalagens. Segundo agentes do setor, a falta de caixas de papelão no mercado em diversos momentos do ano atrasou pedidos. Esses fatores vividos pelo setor ao longo dos meses tornaram a atividade bastante desafiadora em 2020.
Equipe: Dr. Sergio De Zen (licenciado), Thiago Bernardino de Carvalho, Juliana Ferraz, Luiz Gustavo Susumu Tutui, Ferdynanda Moreira Silva, Luccas Bavaresco, Matheus do Valle Liasch, Luiz Henrique Melo, Gabriel Brambila Secches, Ernesto Vaughn Ramello e Marcia Verweij.
SOJA
Vendas se antecipam e preços atingem recordes em 2020
Cepea, Piracicaba – Como boa parte da safra 2019/20 já havia sido negociada antecipadamente (ainda em 2019), sojicultores brasileiros consultados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciaram o ano de 2020 resistentes nas vendas envolvendo grandes lotes, voltados ao cumprimento de contratos. O atraso na colheita também trazia incertezas quanto ao volume a ser produzido, que, no fim das contas, foi recorde, de 124,8 milhões de toneladas, segundo a Conab.
A partir do segundo bimestre do ano, o dólar passou a operar acima dos R$ 5,00, o que acirrou a disputa entre compradores domésticos e externos de soja. Esse cenário reduziu a diferença entre os valores pagos no porto de Paranaguá (PR) e no estado do Paraná.
Do lado da demanda interna, indústrias brasileiras adquiriram maiores volumes, no intuito de suprir a aquecida procura por derivados. Além disso, naquele momento, as exportações de farelo e de óleo de soja foram favorecidas pela menor oferta na Argentina – como forma de impedir o avanço da covid-19, o governo argentino limitou o movimento nos portos, ao mesmo tempo em que a quebra de produção naquele país se concretizava.
No segundo trimestre, as exportações brasileiras foram se intensificando, à medida que a China demandava volumes recordes de soja. Já no último semestre, com o baixo excedente e preços recordes, a soja brasileira começou a ficar menos atrativa aos importadores. Assim, compradores internacionais se voltaram ao produto dos Estados Unidos, que passou a ser negociado acima dos US$ 12,00/bushel – cenário não que não era visto desde 2016.
Daí em diante, o pouco volume ofertado no Brasil foi disputado por indústrias locais, que ofereceram preços acima dos da paridade de exportação, algo atípico. Esse contexto fez com que os preços recordes fossem renovados mês a mês e estimulou agentes a negociar a produção das duas próximas safras – sendo a de 2022 ainda de forma incipiente.
Em 2020, os Indicadores da soja ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá e CEPEA/ESALQ Paraná registraram respectivas médias anuais de R$ 121,24/sc e de R$ 115,86/sc de 60 kg, com significativos aumentos de 47,5% e 50,9% frente às do ano anterior.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações de 2020 da oleaginosa subiram 45% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 49% no de lotes (negociações entre empresas). Quanto ao dólar, teve média de R$ 5,16 em 2020, 30,3% acima da registrada em 2019.
Diante dos elevados preços e da baixa disponibilidade, em outubro, o governo brasileiro isentou os impostos de importação de soja de países de fora do Mercosul. Com isso, algumas fábricas intensificaram a importação do grão para continuar abastecendo o mercado nacional de farelo e óleo de soja. Atento à firme demanda global por soja, o governo da Argentina reduziu a taxa de exportação, que passou de 33% para 30% no último trimestre do ano.
DERIVADOS – Mesmo com encarecimento nos preços da matéria-prima, as indústrias brasileiras conseguiram repassar o aumento no custo aos derivados, tendo em vista a firme demanda. Esse cenário favoreceu a margem de lucro das indústrias em praticamente todo o ano.
No caso do óleo, a procura para a produção de biodiesel limitou a oferta doméstica e fez com que o setor alimentício tivesse dificuldades na aquisição do derivado. Quanto ao farelo de soja, diante da maior competitividade com os consumidores externos, avicultores e suinocultores domésticos procuraram, em alguns momentos do ano, mudar a composição das rações, no intuito de reduzir o custo. Uma das opções foi o DDG (grãos secos por destilação, na sigla em inglês).
Com isso, o preço pago pelo óleo de soja bruto degomado na cidade de São Paulo foi de R$ 4.782,82/tonelada em 2020, significativos 60,6% superior ao de 2019. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores do farelo subiram 48,3%.
FRONT EXTERNO – No agregado do ano, o Brasil exportou 83,03 milhões de toneladas de soja em grão em 2020, 12,1% superior ao volume embarcado em 2019, segundo a Secex. O preço médio nominal, de janeiro a dezembro, foi de R$ 109,46/sc de 60 kg, 30,1% acima do registrado no ano anterior.
Os principais destinos da soja brasileira foram a China (com 73,2%) e Países Baixos (3,93%). Do volume exportado no ano, 25,53% foram escoados pelo porto de Santos (SP), 17,87%, por Paranaguá (PR) e 11,25%, por Rio Grande (RS). Vale observar que, em 2020, houve crescimento de 24,89% nas exportações de soja pelo porto de São Francisco (SC). Quanto às importações de soja em grão, em 2020, foram as mais elevadas desde 2013 – os principais fornecedores do Brasil foram o Paraguai (59%) e o Uruguai (40%).
Já as exportações de derivados foram menores em 2020, influenciadas pelo maior consumo doméstico. O Brasil embarcou 16,02 milhões de toneladas de farelo de soja (3,9% inferior ao escoado em 2019) e 915 mil toneladas de óleo de soja (queda de 3,4%). Os preços médios recebidos pelas vendas de farelo e óleo de soja subiram 28,6% e 29,2%, respectivamente, em 2020 – conforme dados da Secex.
Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Natália Correr Ré, Thaís Bragion Bertoloti, Kaline Lacerda, Natália Guimarães e Maria Clara de Faveri.
SUÍNOS
Em meio à pandemia, setor é marcado por preço, abate e embarque recordes
Cepea, Piracicaba – A pandemia de covid-19 trouxe para a suinocultura brasileira um cenário de incertezas e de muitos desafios em 2020. Depois de caírem com força entre março e abril, os valores tanto do suíno vivo quanto da carne iniciaram um movimento de recuperação em todas as praças acompanhadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP), atingindo recordes reais em setembro. As exportações e os abates também foram recordes.
Os preços do suíno vivo e da carne registraram quedas acentuadas entre meados de março e abril, período em que as recomendações de distanciamento social e decretos municipais e estaduais impactaram significativamente a demanda por produtos suinícolas. Enquanto o mercado de carne apresentou baixa liquidez, diante de restaurantes e de outros serviços de alimentação fechados e/ou trabalhando de forma parcial, a indústria acumulou estoques, e a demanda por novos lotes de animais para abate ficou menor.
Já em maio, o mercado nacional de suínos voltou a se aquecer, impulsionado pelas exportações brasileiras da proteína, que bateram recorde (101,1 mil toneladas, segundo a Secex) e pelo aumento da procura interna. Nos meses seguintes, os embarques seguiram registrando bom desempenho. A China seguiu sendo o maior destino da carne, o que vem sendo observado desde março/2019. De janeiro a novembro de 2020, o país foi destino de 50,4% dos embarques nacionais da proteína suína, o equivalente a 468,6 mil toneladas, aumento de expressivos 115% frente ao mesmo período de 2019, segundo dados da Secex.
Considerando-se o total dos embarques, foram exportadas 901,1 mil toneladas de carne suína in natura na soma de 2020, um recorde. E o setor exportador também foi favorecido pelo câmbio. A receita com as vendas somou R$ 11,02 bilhões de janeiro a dezembro, 90,5% acima da obtida em 2019 e também recorde.
No mercado interno, o auxílio emergencial do governo federal e a gradativa retomada das atividades econômicas, assim como a alta nos preços da carne bovina, impulsionaram as vendas da proteína suína e, consequentemente, as do animal vivo.
Nesse contexto, os preços internos do vivo e da carne disparam, atingindo, em setembro, recordes reais em todas as praças acompanhadas pelo Cepea e renovando as máximas nos meses seguintes. No Oeste Catarinense, o animal chegou a ser negociado a R$ 9,70/kg em novembro, o valor mais alto dentre as regiões.
Apesar da menor oferta de animais para abate em determinados momentos, especialmente em setembro, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia) indicam produção recorde de suínos de janeiro a setembro de 2020, totalizando 36,8 milhões de animais abatidos.
Mesmo com o bom desempenho das exportações e com os preços recordes registrados em parte do ano, o poder de compra do suinocultor frente aos insumos da alimentação recuou frente a 2019. Isso porque os valores do milho e do farelo subiram ainda com mais força em 2020, prejudicando as margens do produtor, especialmente no encerramento do ano.
Considerando-se o milho comercializado no mercado de lotes da região do Indicador de Campinas (SP) e o suíno negociado na praça de SP-5 (Bragança Paulista, Campinas, Piracicaba, São Paulo e Sorocaba), foi possível ao suinocultor adquirir 6,62 quilos do cereal com a venda de um quilo de animal na média de 2020. A quantidade é 9,9% menor que a média de 2019.
Frente ao farelo de soja comercializado em Campinas, foi possível ao suinocultor a compra de 3,45 quilos do derivado com a venda de um quilo de animal vivo na média de 2020, queda de 10,7% na comparação com 2019.
Equipe: Dr. Sergio De Zen (licenciado), Thiago Bernardino de Carvalho, Juliana Ferraz, Luiz Gustavo Susumu Tutui, Ferdynanda Moreira Silva, Luccas Bavaresco, Matheus do Valle Liasch, Luiz Henrique Melo, Gabriel Brambila Secches, Ernesto Vaughn Ramello e Marcia Verweij.
TRIGO
Preços do trigo e dos derivados oscilam em 2020, mas se mantêm elevados
Cepea, Piracicaba – Os preços do trigo e dos derivados oscilaram com maior intensidade ao longo de 2020, mas, no geral, se mantiveram elevados frente a anos anteriores, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. No caso da matéria-prima, os valores iniciaram o ano em alta, movimento que teve início em outubro de 2019, e foi influenciado pelo dólar valorizado, por dificuldades na importação e, mais recentemente, pela firme demanda interna. Já no final do ano, a intensificação dos trabalhos de campo e a finalização da colheita pressionaram as cotações do cereal no mercado interno.
Em fevereiro de 2020, a oferta de trigo foi baixa no mercado doméstico, reduzindo a liquidez ao longo do mês. Mesmo assim, os preços médios em Santa Catarina operaram nos maiores patamares nominais desde julho/18. Em março, abril, maio e julho, a firme demanda pelo cereal e a valorização do dólar encareceram as importações. Apesar disso, o ritmo das compras externas esteve firme, já que indústrias processadoras precisavam repor estoques.
Nesse período, demandantes de trigo pressionaram o governo brasileiro para que este facilitasse a entrada de cereal no País, especialmente o da Argentina. Para aliviar os custos, o governo liberou a importação de 450 mil toneladas de fora do Mercosul com isenção da Tarifa Externa Comum (TEC). No balanço da safra 2019/20 (de agosto/19 a julho/20), o volume importado somou 6,67 milhões de toneladas, recuo de 1,2% frente ao da temporada anterior (de agosto/18 a julho/19), segundo dados da Secex. As exportações, por sua vez, caíram 37,5% na mesma comparação, reflexo do volume restrito do cereal no Brasil.
No segundo semestre, as cotações do cereal estiveram firmes, sustentadas pelo clima desfavorável. A forte queda nas temperaturas em agosto no Sul do Brasil e geadas e chuvas volumosas em algumas regiões deixaram produtores em alerta quanto a possíveis danos desse cenário sobre a oferta da nova safra. Com isso, as negociações de trigo no mercado interno estiveram pontuais.
Em setembro, especificamente, os valores no Paraná caíram, influenciados pela colheita da nova safra. No Rio Grande do Sul, os preços também recuaram, mas de forma menos intensa – vale lembrar que as atividades de campo neste estado se iniciam apenas entre outubro e novembro. Diante disso, as cotações médias do cereal no estado paranaense estiveram inferiores às registradas no sul-rio-grandense. Esse cenário é atípico, tendo em vista que, historicamente, os preços no Paraná superam os do Rio Grande do Sul.
Já nos meses de outubro e novembro, as cotações domésticas do trigo reagiram, sustentadas pela retração de vendedores, pela postura mais ativa de compradores e pelo dólar elevado, que encarece as importações. Quanto à indústria moageira, agentes seguiram adquirindo lotes pontuais de trigo e muito mostraram dificuldades em repassar os custos elevados do cereal aos derivados (farinhas e farelos).
Em dezembro, os valores voltaram a cair, pressionados pela retração compradora. Esses demandantes – atentos à finalização da colheita nos estados do Sul e à espera de novas desvalorizações do cereal – adquiriram apenas pequenos lotes ao longo do mês. Apesar do enfraquecimento, as cotações médias ainda operaram em patamares elevados.
Na média do ano, as cotações domésticas estiveram acima das verificadas em 2019, em termos nominais. Os preços do trigo no mercado de lotes (negociação entre empresas) subiram 40,5% no Rio Grande do Sul, 36,4% em Santa Catarina, 35,4% no Paraná e 32,7% em São Paulo.
OFERTA E DEMANDA – Para a colheita em 2020, a estimativa inicial da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), divulgada em abril/19, indicava manutenção de área. A Companhia reajustou a estimativa de importação para 7 milhões de toneladas e reduziu as exportações para 300 mil toneladas, devido à baixa oferta doméstica. Esse cenário modificou também o suprimento interno (12,9 milhões de toneladas) e o estoque final (850,6 mil toneladas).
Já no relatório de dezembro, as operações de colheita foram praticamente finalizadas, e a área com trigo no País somou 2,34 milhões de hectares, crescimento de 14,6% frente à temporada passada. A produtividade também deve ser superior à da temporada anterior, em 4,7%. Com isso, a produção nacional deve ser de 6,18 milhões de toneladas, 19,9% maior que em 2019, mas 2,7% abaixo do que se previa até novembro.
A Conab estima importação de 6,8 milhões de toneladas entre agosto/20 e julho/21, o que deve gerar disponibilidade interna de 13,2 milhões de toneladas, acima das 13 milhões de toneladas da temporada passada. Esse volume deve atender a uma demanda doméstica de 11,8 milhões de toneladas, contra 12,5 milhões de toneladas entre agosto/19 e julho/20. As exportações estão estimadas pela Conab em 700 mil toneladas. Com isso, os estoques em julho/21 devem ser de 711,7 mil toneladas, contra 227,4 mil toneladas em julho/20.
Mundialmente, a produção somou 764,49 milhões de toneladas de trigo na safra 2019/20, 4,6% a mais que a de 2018/19. O consumo foi de 747,98 milhões de toneladas, com estoque final de 300,62 milhões de toneladas. A relação estoque/consumo foi de 40,2%, contra 38,7% na safra anterior, segundo dados do USDA divulgados em dezembro/20.
DERIVADOS – Os reflexos da pandemia de coronavírus atingiram, principalmente, os derivados de trigo. Apesar do temor, o abastecimento das farinhas e farelos permaneceu estável, e a demanda, aquecida. Destaca-se que as massas destinadas a macarrão estiveram entre os itens mais procurados pelos consumidores finais durante a pandemia.
Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Dr. André Sanches, Natália Correr Ré, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Thaís Bertoloti, Natália Guimarães e Kaline Lacerda.
HORTIFRÚTI
Pandemia afeta mercado de HF em 2020
Cepea, Piracicaba – Mesmo com a essencialidade da cadeia de alimentação e sem grandes interrupções na produção, o setor de frutas e hortaliças foi afetado pela pandemia da covid-19 em 2020, principalmente por conta da queda da atividade econômica, da restrição parcial da comercialização e de mudanças dos hábitos de consumo. Segundo pesquisadores da equipe da HF Brasil, esses fatores tiveram maior ou menor impacto em diferentes momentos no decorrer de 2020.
Em termos de restrição da comercialização doméstica, foi mais evidente no período de maior isolamento social (entre o final de março e maio), quando os atacados trabalharam de forma limitada, algumas feiras livres foram suspensas, e parte dos restaurantes, fechados. A menor mobilidade da população também restringiu o fluxo de comercialização de produtos mais perecíveis, como as folhosas e algumas frutas (de menor tempo de prateleira). No final de 2020, o setor ainda sente os efeitos de interrupções na comercialização para importantes clientes, como hotéis, escolas e parte dos restaurantes.
Já no caso de cadeias voltadas à exportação, as vendas de frutas frescas brasileiras apresentaram bom desempenho ao longo da pandemia, favorecidas pelo dólar elevado, pela demanda externa aquecida e pelo fato de concorrentes do Brasil apresentarem menor disponibilidade de frutas. No geral, o produto mais prejudicado foi o mamão, principalmente no início da quarentena, devido à menor disponibilidade de transporte aéreo.
Em termos de hábitos de consumo, a demanda por frutas e hortaliças frescas esteve mais aquecida no início da pandemia (final de março e abril), visto que muitos consumidores buscaram fortalecer a imunidade diante do vírus. Passados alguns meses, produtos indulgentes e ultraprocessados novamente tomaram espaço. Um comportamento positivo ao longo da pandemia foi que, com a recomendação de isolamento domiciliar, mais pessoas passaram a preparar suas próprias refeições, resultando em demanda firme por alimentos in natura e semiprocessados.
Equipe: Dra. Margarete Boteon, Daiana Braga, João Paulo Bernardes Deleo, M.a Fernanda Geraldini Palmieri, Marina Marangon Moreira, Marcela Guastalli Barbieri,Ana Clara Buzzetto de Oliveira, Ana Raquel Mendes, André Camarotti,Bárbara Rovina Castilha, Carolina Olivieri Travaglini, Caroline Ribeiro, Daniel Júdice Gonçalves, Deborah Kubo, Felipe Souza Wohnrath, Felipe Spessotto, Isabela Camargo Gonçalves, João Pedro Motta de Paiva, João Victor Silva Pereira, João Victor Vicentin Diogo, Juliana Acácio Toledo Parede, Laleska Rossi Moda, Leonardo Caires de Oliveira, Luana Chiminasso, Luana Maria Martins Guerreiro, Lucas de Mora Bezerra, Maria Giulia Barbosa Marchesi, Maria Julia da Silva Ramos, Mariana Coutinho Silva, Raquel Moreira Sabelli, Victória Ceni e Wharlhey de Cássia Nunes.
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