O Cavaleiro dos Ventos Messiânicos - Teologia pela Internet



O Cavaleiro dos Ventos Messiânicos

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O Cavaleiro dos Ventos Messiânicos

Jary Gomes Filho

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Copyright:

© 2000 – Jary Gomes Filho

jarygf@.br

Todos os direitos reservados

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ÍNDICE

I – Prefácio do autor

II – Viagens e sonhos.

III – O Templo de Heron.

IV – O Gênesis, segundo a solidão e o tédio Divino.

V – O Gênesis, segundo a vitória da vida sobre a morte.

VI – Adão e Eva, segundo a cosmicidade do gênero.

VII – Batalhas no arco-íris segundo acontecimentos apocalípticos.

VIII – Os Internautas dos Templos.

IX – Misteriosas mensagens.

X – De volta às batalhas.

XI – Novas Mensagens.

XII – O enigma.

XIII – O Oráculo do Templo.

XIV – A visão das metrópoles.

XV – O acordo de cavalheiros.

XVI – Epílogo.

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I – Prefácio do autor

 

     Lembro-me que aos onze anos de idade fui junto com um colega de infância a uma comunidade rural do interior de Minas Gerais e fiquei na casa de uma família humilde à beira de um rio.

     Já naquela tenra idade percebia a diferença das classes sociais – o quanto àquela gente era simples, honesta e trabalhadeira – observava que os pais transmitiam aos filhos os ensinamentos da velha tradição mineira. Num daqueles dias, eu menino, oriundo de uma classe média alta, estritamente de formação urbana e criado à beira-mar, tive meus primeiros contatos com a natureza rural e entre aquela gente humilde com quem aprendi a subir em árvores e comer dos frutos de seus pés, pude andar por entre fazendas de criação, colher verduras em hortas, sentir o cheiro da manhã junto aos estrumes de currais e admirar o gado nas pastagens verdes.

     Olhava bois e vacas, ovelhas e cavalos pastando.

     Logo percebia a rotina da criação, a natureza do comportamento animal que à semelhança de um computador estaria programada por uma memória genética, que o fazia reproduzir, comer, pastar, dormir, estercar e urinar, programada para engordar, fabricar e fornecer carnes e proteínas, permanentemente, todos os dias, aos milhões, em todas as fazendas do mundo.

     Fixava meu olhar na linha do horizonte e de cima de um pequeno monte, observava ao longe as cercas de arames feitas pelos homens, separando o resto do mundo daquelas terras e os animais a pastar nos verdes mais suculentos.

     Todos aqueles fatos e as paisagens naturais eram de sincronismo perfeito, uma precisão matemática instantânea, uma seqüência lógica de eventos, como se fossem pêndulos de relógios movidos pelas engrenagens do tempo.

     Quando de volta para Niterói, aos onze anos de idade meditei pela primeira vez, eu meditava sobre àquelas lembranças do meio rural.

     Alguns anos depois, meu saudoso e querido pai adquirira um sítio na Colina Primavera, no município de Rio Bonito, cidade próxima de Niterói e de lá pude rever e experimentar várias vezes as minhas lembranças rurais vividas durante a minha viagem anterior a Minas Gerais:

     Esticado numa rede, entre duas árvores à cerca da casa-sede do sítio de Rio Bonito, no final de uma tarde, observava as nuvens, ora se dissipando, ora se aglutinando: via ursos enormes, discos voadores, cordeiros, gigantes e castelos passando, num exercício de imaginação visual – todavia, eram nuvens, nada mais do que nuvens... Ao olhar aquele céu distante com brilhos e nuvens esparsas, sentia o sol na lua branca da tarde e eu sozinho ficava com todo o universo na minha cabeça a lembrar da aventura do Homem, quando pisou pela primeira vez em solo lunar – naquele momento, descobri que eu tinha germinado em meu peito os sonhos e os símbolos da minha mocidade!

     Naquela época meus pais ainda eram vivos e ao anoitecer minha mãe me chamava para jantar pela última vez.

     Voltei para Niterói, no outro dia, quando meu pai me ensinou os passos que deveria seguir pelo resto da minha vida e, seguindo sua orientação, aprendi a escolher os meus próprios caminhos, amando a natureza que descobri e as criações como as vi – formei-me em medicina veterinária na Universidade Federal Fluminense para depois me destinar instintivamente à minha terra natal – Cuiabá-MT – capital do reino verde e das águas do pantanal.

     Próximo daquele local onde nasci, totalmente distante do litoral, parti mais para o interior ainda – interior do meu Estado de Mato Grosso – quando, definitivamente, naquela altura da vida, já me identificava e me estabelecia, porque tinha vindo para ficar e me recordava, refletia e meditava sobre as virtudes e as bem-aventuranças do meio rural.

     Em Cuiabá, posteriormente, um dia, após quatorze anos de convivência no interior do interior daquele Estado, onde estive a exercer como extensionista rural a medicina veterinária no campo da defesa animal, através das comunidades rurais que me ensinaram a compreender as coisas mais simples desta vida, pude restabelecer meu elo sentimental com aquela infância querida, perdida no meio dos pastos e das vegetações do sítio de Rio Bonito e das comunidades de Minas Gerais.

     Dada a esta compreensão, eu fui capaz de dividir e disciplinar meu horário ordenadamente para concluir esta obra que nasceu no fundo do meu coração em pleno processo de evolução da minha existência espiritual, quando imaginei à luz de um mundo quantum e cósmico ao meu redor, toda a energia inserida em minha alma que vinha do reino animal e vegetal.

     Dentro de mim, meus pensamentos entraram em ebulição e estavam prontos para explodir, indo para muito além da imaginação e ao viajar pelo meu subconsciente cósmico e coletivo pude extrair um pouco de tempero e um pouco de sal nos limites da minha confusão, nas cruzadas de minha fé e fantasias!

     Acordei das sentinelas do meu sonho, quando um senhor de cabelos e barbas brancas numa aparição me dizia: Vá! Continue! Você já tem bom motivo para escrever um livro! – Era o “Grande Ancião” que vinha lá do fundo do meu inconsciente numa tentativa de expressar suas experiências espirituais.

     Do inconsciente:

     — Vi, humanos lutarem contra seus próprios demônios e no topo das montanhas se reconciliarem com Deus.

     Do cósmico:

     — Senti, saraivadas de estrelas sobre a Terra, vibrando fragmentos da luz, partículas quanta ao derredor.

     Do eterno:

     — Percebi, o Pai nosso do céu, bebendo o próprio cálice da ira.

     Do coletivo:

     — Parti, junto à humanidade ao inconsciente cósmico, eterno e coletivo.

     Fui ao computador para ingressar na Internet – cliquei num misterioso ícone de um cavaleiro medieval, recém chegado em meu computador, jamais visto anteriormente – era um general de exércitos, de muitos séculos e muitas estrelas – a partir daí, surgiria no vídeo à imagem de um poderoso furacão e do seu olho ciclônico, despontava aquele imponente cavaleiro dos ventos messiânicos, virtual, montado em seu cavalo branco, adornado de prata, empinado e de novo ao chão, iniciava um galope, rumo ao desconhecido transcendental.

     Compreenderia, então, que:

     — Deparava-me no ar com um grande navegador das “ligações messiânicas!”.

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II – Viagens e sonhos.

 

     Eu e Yashimin Zara antes de irmos para o Templo de Heron, já tínhamos esgotado toda nossa temática sobre as partículas quanta e a herança cósmica deixada por Adão – Yashimin desmarcara diversos compromissos de trabalho para as próximas semanas – estávamos deitados sobre a relva, olhando para o firmamento junto com um grupo de jovens entre moças e rapazes no morro de São Jerônimo e fazia dois dias que meditávamos as primeiras conversas daquelas lucubrações sobre “Homens Cósmicos” – Yashimin tinha combinado um encontro com aqueles jovens alpinistas e seguidores de seitas místicas nesta região de Chapada dos Guimarães, onde ali muitos procuravam discos voadores e contatos com extraterrestres, outros buscavam energias cósmicas e as forças dos quanta, enquanto eu tentava elevar a espiritualidade porque seria batizado dentro de alguns dias – estávamos ali, acabando de fazer exercícios de yoga pela manhã.

     Dizia para Yashimin:

     — Sempre desejei fazer esta viagem, já fui no Heron quatro vezes para me preparar e nada de extraordinário me aconteceu, mas esta será a peregrinação do meu batizado e para culminar a minha satisfação, serão dias que a confederação dos cavaleiros, convocada, irá ouvir o mestre do Heron fazer o grande pronunciamento da criação do mundo – esta caminhada tem tudo para ser a maior peregrinação da minha vida! – Os mais antigos cavaleiros das ordens messiânicas me diriam – “toda vez que alguém vai ser batizado no Heron, alguns dias antes, ocorrem, na alma da gente, enormes transformações...” e eu já estou pressentindo-as na pele!

     Após aqueles exercícios espirituais para a preparação da alma, eu já me sentia, finalmente, pronto para a viagem. Descemos do morro de São Jerônimo naquele final da manhã e nos deslocamos para Cuiabá.

     Na madrugada do outro dia fomos ao aeroporto Marechal Rondom e viajamos direto para Cochabamba – não fora um percurso dos mais agradáveis, visto que, passamos por turbulências e até problemas de despressurização, onde tivemos que fazer uso de máscaras de oxigênio por aproximadamente uns quinze minutos – um incidente raro de acontecer na aviação do século XXI – eu e Yashimin estávamos tranqüilos porque tínhamos muita fé no futuro desta viagem e absoluta certeza que íamos chegar, consolávamos alguns nervosos passageiros e eu segurava a mão de uma senhora que entrava em pânico, prestes a desfalecer.

     Depois de aterrisarmos em Cochabamba, o nosso guia nos esperava com uma faixa de identificação vermelha no braço esquerdo, bordada com um peixe dourado encima de um losango azul-marinho – e, ao liberarem nossas bagagens, o guia adentrou-nos num jipe e fomos para o hotel.

     — Por quê aquela faixa vermelha no braço? Perguntava Yashimin.

     — Nada de especial, eu respondia, apenas um símbolo do Templo de Heron.

     No hotel conversávamos e enquanto saboreávamos um lanche, eu dizia para o amigo, continuando aquela nossa velha conversa inicial sobre minhas leituras:

     — No meu tempo de menino, lia, também, aventuras escritas por autores famosos e me vislumbrava pelo mundo mágico da ficção – gostava de histórias de reis, piratas, tesouros, principalmente aventuras e expedições – depois fui lendo autores do estilo político, críticos sociais e célebres romancistas contemporâneos – em cada livro que lia, era uma experiência a mais que adquiria e eu me entregava completamente às leituras, muitas vezes, até criticava alguns daqueles livros, escrevendo nos seus rodapés, ironizando seus sentidos nas entrelinhas. Porém, no dia em que li a bíblia, encontrei respostas para muitas indagações, todavia, foram longas caminhadas através de povos sofridos. Apesar de seus mundos serem ocultos, sombrios e arcanos, a bíblia me mostrava o verdadeiro sentido da humildade, confiança e lealdade. Indicava-me os caminhos do amor, da paz, na esperança de um dia reconquistar no coração de cada Homem, a sua natural identidade de Homem Cósmico.

     — E agora como se sente ao fazer seu próprio livro?

     — Sinto que estou começando uma longa viagem rumo ao inconsciente cósmico!

     No dia seguinte, bem cedo, tomamos café, entramos no veículo e fomos direto para as montanhas – durante estes últimos dias não tínhamos lido nada, nenhum jornal, nem ligado rádio e televisão – resolvemos nos desligar de tudo que fosse pertinente às preocupações da matéria para desenvolvermos o espiritual – eu me prepararia, anteriormente, para o batizado no Oráculo de Heron e Yashimin Zara, além de me proporcionar uma assistência psicológica, auxiliava-me no preparo daquele evento, porque sabia que, a partir daquele momento eu iria crescer num mundo diferente, transcendental e místico no mesmo instante que ele se desenvolveria nas investigações psicofísica do inconsciente coletivo.

     As estradas eram sinuosas, poeirentas, esburacadas e cheias de abismos laterais – volta e meia deparávamos com lhamas carregadas de mantimentos – alguns nativos cruzavam com a gente, outros vinham montados em cima de mulas e ônibus velhos. Víamos caravanas de mulheres, homens e crianças que não sabiam como esconder uma grande apreensão – as pessoas estariam apressadas, carregando seus pertences e pequenos animais, como se fugindo de algo terrível, talvez um vulcão inativo que estaria fumegando a uma possível erupção – o guia havia nos comentado qualquer coisa sobre estranhos fenômenos que estariam ocorrendo naquelas imediações, inclusive, nos precavendo e nós observávamos com cuidado todos os movimentos: nas pessoas, no céu, no ar, nas águas e nas montanhas.

     Após uma hora de percurso, chegamos numa aldeia; aonde vimos deslocamentos de gente chorando, carros de polícia correndo, cordões de isolamento esticados e nas ruas, cadáveres humanos envoltos em plásticos, transportados e empilhados, aos montes, nas carrocerias de camionetas e entre gritos de policiais irritados; tentávamos entender aquela situação.

     Fomos estacionando lentamente...

     Paramos o jipe para averiguar, quando um homem de meia idade nos alertou:

     — São as maldições do Templo! – Cuidados vocês! Se seguirem naquela direção, tomem muitos cuidados! – Advertia-nos, apontando.

     Apontava, justamente, para aonde a gente ia!

     Ao verificarmos o ocorrido “In loco” pudemos constatar que não se tratava de nenhuma ação militar contra traficantes, nem contra guerrilheiros terroristas e nem mesmo era nenhuma peste negra das montanhas – contavam-nos histórias de se duvidar sobre assassinatos em massa por estranhas criaturas eletrônicas – tais fenômenos já havia começado há alguns dias, quando ainda estávamos no Mato Grosso.

     Não tínhamos a mínima noção do que estaria se sucedendo.

     Continuamos nossa viagem com mais atenção ainda.

     Após mais de horas daquele ponto já estávamos a mais de três mil metros de altura, o frio vinha penetrando cada vez mais em nossos ossos, visto que, a cada trezentos metros de subida a temperatura caia dois graus e Yashimin Zara já se queixava de dores de cabeça, respiração cansada e enjôos.

     Subitamente o nosso guia parou e disse:

     — Daqui para frente irão encima de animais, as estradas não estão mais em condições, estou vendo muita neblina lá em cima e o trafego de jipe será prejudicado.

     — Onde estão os animais? Perguntava curioso.

     — Daqui a pouco devem estar chegando.

     Yashimin Zara retrucou:

     — A altitude não está me fazendo bem, terei de me adaptar por aqui e esperar mais alguns dias para prosseguir viagem.

     — Não precisa, dizia o guia, fazendo sinais com a mão para esperar.

     Foi até suas bagagens, pegou ervas, uma panela, um pequeno bujão de gás com um fogãozinho de duas bocas – retirou um pouco d’água do cantil, ferveu e preparou um chá com duas medidas diferentes, uma para mim e outra para Yashimin, dizendo:

     — Esta erva é contra o mal das altitudes, foi descoberta há pouco tempo no LPBAA. Dentro de quinze a vinte minutos você ficará bom e ele prevenido!

     — O que é LPBAA? – perguntava Yashimin Zara, com taquicardia, quase desmaiando, sem fôlego.

     — É o Laboratório de Pesquisa da Biodiversidade dos Andes Amazônico, instalado no Templo de Heron – respondia o guia, recomendando – por favor, não falem mais nada... Preparem-se para deitar.

     Após ingerirmos o chá, nos dizia, respirem profundamente e se agasalhem com estes aqui até transpirar – descansem por meia hora, imóvel, debaixo destes cobertores – deitem aqui mesmo neste chão, não se mexam, nem para se coçar – nos explicava.

     Cobrimo-nos e dormimos profundamente, foi questão de dez minutos após o chá e quando comecei a perceber que os Andes é amazônico e o amazônico é Andes, um como complemento recíproco do outro, suava intensamente, daí nasciam novas grandezas e dimensões nos meus sonhos: Um poderoso rei das trevas, rasgando o lago Poopó no altiplano dos Andes bolivianos, vinha numa possante nuvem cúmulo-nimbo que desabava dos céus um dilúvio desnorteante de cargas negativas contra as positivas forças da Terra. No meio daqueles céus trovejantes, logo em seguida, a natureza acalmou e vi abaixo a aurora de um jovem rei com uma nova idéia, plena de transformações fantásticas, provocadas pelo calor, enrugando as neblinas da fria noite anterior, agitando-as pela turbulência, formando nuvens como ondas do mar e sobre estas nuvens flutuava um barco que velejava ora p’ra frente, ora p’ra trás, ora ao levante, ora ao poente, aproximava-se e se afastava de mim, como se espreitasse a minha presença nas alturas das montanhas – vinha com cuidado até que se aportou no nível de um altiplano e vi de perto o barco de velas brancas, tão brancas feitas algodão e não haveria manchas, nem pecados naquelas velas que chegavam a reverberar os raios do sol – fui envolvido por uma força incontrolável e sem me conter pulei no barco à dentro e segui viagem sem o meu comando por aqueles céus cambiantes, ora florestas de nuvens, ora florestas tropicais, em vários níveis das montanhas que brilhavam e o barco viajava... Viajava longamente entre árvores, flores e magníficas aves tropicais... Era uma paisagem majestosa e sentia meu coração pulsar e o meu sangue se lubrificava cada vez mais com aquele ar – parecia-me um refrigério para alma e minha alma pulava de alegria e a sentia em mim como um outro ser e estes entes era eu mesmo que me sentia transformado, leve, sem medo e sem raiva, nem ressentimentos e aquele barco partia como nas aventuras de um jovem rei...E quanto mais velejava, mais me purificava e era eu e o barco à vela, mais nada...A velejar pelas nuvens.

     Pelo outro lado, Yashimin Zara também sonhara – dizia ele – um sonho mais agitado que o meu – dizia sobre esculturas de gelo, fantásticas imagens feitas pelos ventos e pelo sol, cinzeladas ao relento no passar dos anos e nestas esculturas admirava todas as formas e espessuras existentes no mundo, como se o vento e o sol fossem espíritos do gelo, dando-lhes formas e modelos, desde o mínimo protozoário até a mais fantástica cadeia de DNA de um humano mortal com todo o fascínio de suas obras de engenharia e arte, onde não ficaria nenhuma inimaginável para trás. Via colunas de vapor saírem das entranhas da terra, expelidas de um gêiser para outro nas regiões de Tatio das Cordilheiras Ocidentais do Chile e milhares de outras colunas se juntavam formando uma grande cortina de águas que se coloriam com as cores do arco-íris – diz que brigava com a sua alma porque ele queria ir à Bolívia e não ao Chile. Mas, uma estranha força o impelia para os Andes chilenos. Tanto que se viu a pé e sozinho, do outro lado, no deserto de Atacama. Pôs-se a sentar na posição de Lotus, meditando, quando chegou de longe um cavaleiro de capa vermelha, montado num cavalo negro que dizia:

     — Uni-vos a nós!

     Montava na garupa do cavalo negro, segurando a cintura do cavaleiro que rapidamente desaparecia, como se tivesse evaporado e lá ficou ele com as roupas do desaparecido sobre os ombros, tomando posse de seu posto na hierarquia do cavalo. Sozinho a galopar...Galopava em direção às montanhas no rumo da Bolívia que queria, onde estava o Templo de Heron, mas ainda não era o dono da sua direção e o sonho o levava para outras paragens outra vez, visto que, as rédeas não obedeciam, quando se viu na posição de Lotus, atônito à revelia, chamando a si mesmo à comunhão com a própria alma, a fim de atá-la para domarem, juntos, as rédeas do cavalo – todavia, ultrapassava os limiares das montanhas Andinas, desobedecendo a suas ordens, passava por cima dos vulcões, subia acima das nuvens, driblava os satélites dos homens, vazava a lua e o cavalo não voava, nem tinha asas, mas galopante vigoroso, largaria um fogo para trás e ia ao rumo do sol-nascente, onde o calor aumentava e a sequidão corroia, mas Yashimin agüentava, firmando seguro as rédeas que nem se abalavam – lá pelas tantas surgiram mais dois cavaleiros, gêmeos siameses, que diziam:

     — Está na hora de descansar – beba desta água, ela vai lhe aliviar – venha, junte-se a nós! – Ambos falavam ao mesmo tempo, ligados pelo tronco e pareciam figuras de um rei de copas no baralho.

     Porém, só ficara um cavalo, porque dos outros só ficara o cheiro. Em seguida, os gêmeos sem seus cavalos, se aproximaram e subiram na garupa, seguraram-no na cintura e repentinamente, sumiram, diz que ele sentiu-se cada vez mais forte com a ida dos evaporados, desta feita, mais forte mesmo, visto que, já tinha as três capas vermelhas no ombro que lhes davam forças, aumentando-lhe o poder. O seu cavalo, porém, ia devagar demais por não suportar o peso das capas e ele pulou e corria mais que o animal, mais veloz e vigoroso com as capas esvoaçando nas costas e foguetes nos calcanhares, semelhante ao deus grego Apolo e enfrentou o sol, todos os raios de sol e caminhou por entre as manchas solares e suas explosões e nem se queimou, nem se abalou porque o eqüino havia ficado para trás.

     Diz que retornou a Terra, equilibrando-se sobre raios de sol que se fundiram em forma de pranchas que “surfavam” em enormes ondas eletromagnéticas que vinham, especiais, para a luta contra o inverno nuclear!

     Viu que do seu sonho restou a marcada lembrança dos gêmeos siameses como a uma figura do rei de copas montado sobre um quadrúpede animal, a vaga recordação de uma razão limitada pelo juízo racional e uma imensa saudade do ilimitado poder do espírito passeando entre as manchas e as explosões do sol! – A única arma capaz de esvaecer o inverno nuclear!

     Nós acordamos praticamente ao mesmo tempo e ao verificarmos que o guia tinha ido embora, a princípio, ficamos sem nada entender – todavia, vimos que estávamos curados do mal das alturas e contamos nossos sonhos um para o outro entusiasmado. Fomos próximo às bagagens e vimos uns croquis de acesso às montanhas sagradas onde ficava uma pequena propriedade onde deveríamos pernoitar – analisando cuidadosamente o percurso, nem colocamos nossas mochilas nas costas, visto que, o guia nos tinha deixado algumas recomendações.

     Então, esperávamos...

     Ao esperarmos sentados no chão, vimos uma fila de quarenta e quatro homens par a par – eram indígenas – formavam quatro fileiras de onze e vinham gritando num caminhar de maratona:

     — Um...Dois...Três...Meu povo é montês!

     Quatro...Cinco...Seis...Reis de uma vez;

     Sete...Oito...Nove...Um rei se locomove;

     Dez...Onze...Doze...A princesa faz

     pose;

     Treze...Quatorze...Quinze...O povo se

     cinge;

     Vinte, vinte e oito a cinqüenta

     feiticeiros aumentam...

     De oitenta e dois a cento e

     vinte e seis os números mágicos que

     contam;

     Dezesseis...Dezessete...Mil...Guerreiros

     se tingem!

     Armam-se arcos, levantam-se lanças.

     Ecoam guerras nas aragens;

     Apontam-se flechas às mil miragens!

     Derramam o sangue na esperança.

     Cai a coroa,

     Começa a tormenta,

     Cai a mentira

     Inicia a verdade.

     Um...Dois...Três...

     Começa tudo outra vez;

     Lá vem um vulcão rugindo de uma

     concha!

     Observávamos aqueles homens que cantavam e não nos viam, passando ligeiramente e de caras pintadas, sem camisas no peito abaulado por corações dilatados pelo ar rarefeito das montanhas com uma capacidade de circulação maior que a nossa – talvez, vinte por cento a mais – subindo em fila, correndo nas estradas, gritando números sem se cansarem, cantando e gritando, como se corressem como a nós no nível do mar – trajavam apenas calças vermelhas remendadas e um colar de contas no pescoço.

     — Quem são aqueles homens? Perguntava-me Yashimin.

     — São nativos das proximidades declarando seus versos milenares – treinando para alguma peleja, talvez esportiva ou até militar... Responderia.

     — Extraordinário! Os algarismos dois, oito, vinte, vinte e oito, cinqüenta, oitenta e dois e cento e vinte e seis são números de prótons e nêutrons, de um ou de outro, contidos na progressão concêntrica de um núcleo atômico – as estruturas atômicas que carregam tais números só foram descobertas no século vinte, no ano de um mil novecentos e sessenta e três – como se os nativos já soubessem há séculos que estes números seriam mágicos nos dias de hoje, naquelas estruturas atômicas, entre versos tão antigos...Como pode? Yashimin se esforçava para relacionar.

     Esperávamos mais um pouco e escutávamos um tropel ao longo das estradas entre colinas abaixo. Próximo a eles já víamos poeiras – mais um pouco, surgiam, adiante, vinte cavaleiros e cinco amazonas, despontando numa lombada – estavam todos sujos e cansados – o líder do bando fazia um sinal para que todos parassem. Dizia como a um comandante de guerra:

     — Ainda não conseguimos pegar os monstros e eles aniquilaram trinta e dois dos nossos – nós vamos para Cochabamba pedir ajuda – se vocês seguirem naquela direção, falava apontando, não devem ir à noroeste e nem virar na segunda bifurcação à esquerda e se protejam com isto aqui – deu-nos um amuleto de cristal – estas pedras, nos dizia o líder, não matam os monstros, mas os atordoam, fazem-no correr – é para serem usados contra o sol e quando chegarem nas proximidades do Templo, cuidado! – Tem algumas pessoas que ainda acreditam que foi de lá que veio a maldição e evitem conversas com estranhos – ali estão quatro mulas com mantimentos e dois guias que os levarão – boa viagem – em seguida, ele abaixa a manga do paletó e nos mostra a faixa vermelha no braço esquerdo da camisa e vi de novo o peixe dourado bordado no losango azul-marinho.

     Montávamos nas mulas, continuávamos a viagem, subíamos mais trezentos metros e eram abismos para um lado e para o outro numa estrada estreita e cheia de curvas.

     Há uns cem metros de distância se despontava uma cabana, avistamo-la numa linha reta sobre uma pequena planície próxima a uma lagoa azul vulcânica, onde o frio aumentava muito e um dos guia exclamava, apontando:

     — Vai ser lá que iremos repousar!

     Já começava o entardecer nas montanhas.

     Víamos ao longe, surpresos, poeiras entre as colinas e eram vicunhas – animaizinhos dos Andes fugindo por detrás de uma encosta – o bando havia desaparecido pelo outro lado.

     Ao descermos das mulas, imediatamente, um jovem nos abordou – sejam bem-vindos.

     Adentramos na moradia – era bem forrada e nos pareceu ter sido recém reformada – seria o local ideal para repousarmos nesta noite.

     Preparamos nossos agasalhos, nossos sacos de dormir e o crepúsculo vinham chegando com o frio – fazíamos um café bem quente e forte, enquanto o jovem nos indagava:

     — Vocês não temem os últimos acontecimentos? Não ouviram falar da maldição do Templo? Nem dos demônios às soltas que estão devorando as nossas crianças por aqui?

     Naquele ínterim o céu se fechava com densas nuvens, uma tempestade se armava.

     O jovem tinha salgado um peixe para nossa refeição, enquanto tomávamos café lhe oferecíamos um gole.

     O jovem, ainda, dizia:

     — Admiro a coragem de vocês em irem para o Templo.

     — No Templo não tem maldição como o povo daqui anda falando – eu respondia – isto é ignorância desta gente – lá no Templo só tem bondade – reafirmava.

     — Dizem os feiticeiros destas redondezas que, depois que aquele Templo se insinuou no meio destas montanhas, o fim do mundo chegaria mais rápido.

     — O Templo veio justamente para acabar com esta história de fim do mundo, trazer uma imensa luz, a luz de Deus refletirá de novo sobre nossos semblantes.

     — Não sei não...Senhor...O que anda acontecendo por aqui é de arrepiar, a gente ouve do povo que os monstros das montanhas estão descarnando as pessoas tal qual bovinos e depois come-as – como nos tempos dos povos Inca e Asteca – a luz divina por enquanto está negra nestas bandas.

     O mesmo jovem, muito prático, inteligente e de olhos espertos, enquanto falava, nos servia, rapidamente, aquele saboroso peixe com batatas.

     Os ventos se tornaram uivantes, mas a tempestade havia se dissipado.

     Rezei um pouco no meu canto, enquanto Zara fazia algumas anotações em seu diário – curiosamente, me levantei para apreciar e vi que ele desenhava uma estranha figura:

     — O que é isto?

     — É um iantra – um símbolo de meditação oriental – você que vai ser batizado no Heron, nunca viu? Surpreendia-se.

     — Já vi sim e muitas vezes, só não estava entendendo seu rabiscado.

     — Além deste círculo aqui – explicava, demonstrando o rabiscado – veja estes ângulos com seus vértices em sentido contrário, um penetrando por dentro do outro, uns dizem ser o símbolo da divindade masculina com a divindade feminina, a união dos opostos, energia positiva atraindo a negativa, vice-versa, prótons e elétrons, como a força de um ímã – seria a consumação e alvo de todas religiões ou a própria consumação dos séculos e aqui deste lado, está o desenho de uma estrutura atômica moderna – eu estava fazendo a comparação dos números mágicos daquela composição nativa que me deixara impressionado – há uma grande semelhança entre a constituição de um núcleo atômico com os arquétipos das esferas, dos números e do iantra.

     O jovem, muito perspicaz, observava:

     — Esta é a tal mandala que os místicos procuram nestas montanhas?

     — Não sei...Procuram? – Yashimin me perguntava.

     — Sim, as pessoas de hoje em dia vivem procurando... Respondia.

     O sono foi apertando depois de um dia de agitação, logo...Logo pegávamos a dormir.

     Passado não mais que algumas horas de sono tranqüilo, acordávamos, subitamente com uma balbúrdia na porta – ouvíamos o jovem falar com alguém que parecia pedir abrigo ou como um que procurava algo.

     O estranho era uma velha senhora, usava um capuz escuro e dizia com voz rouca e pausada – procuro dois homens vindos do centro do Brasil, disseram-me que eles estariam aqui – concluía – e a velha tinha um aspecto de bruxa.

     — A mando de quem vieste? – Perguntava o jovem.

     — Vim pela minha intuição... Respondia a velha.

     — Eles estão dormindo aqui – confirmava.

     — Acorde-os – ordenava a velha.

     — Não precisa – eu interferia, aproximando-se da porta e enrolado nos agasalhos – como chegou até aqui nesta noite tão fria?

     — Vim pelos caminhos dos ventos uivantes que me chamaram da aldeia.

     — A senhora não está sozinha ou está?

     — Não, em absoluto, eu vim com o meu escudeiro, aquele valente cavaleiro.

     — Para quê veio nos procurar?

     — Vim avisar-lhes que correm perigos...Há um perigo de morte por aqui! – Devem sair o mais rápido possível.

     — Mas, que perigo? Por quê? – Perguntava.

     — Eles desconfiam que vocês irão ao Templo do Heron – julgam-nos traidores por causa destes demônios mortais – eles acham que vocês estão mancomunados com os monstros das montanhas – dizem que do Templo que vem a desgraça toda e querem lhes fritar vivos, tal qual nos tempos das masmorras!

     — Eles quem?

     — Os nativos do peito abaulado.

     Lembrava-me, então, daqueles que gritavam os números mágicos.

     Neste ínterim, Yashimin se levantara também e já acendera um outro lampião, quando a cabana logo se iluminara com todos os lampiões acesos – naquela altura – todos já haviam se levantado e se esforçavam para ficar atentos com aquela nova conversa.

     — Fui avisada que recebestes um amuleto de cristal de um comandante de guerra, mas ele só vos protegerá dos monstros durante o dia – tenho aqui este luzeiro que iluminará vossos caminhos à noite! Mas, para viajarem com segurança, tereis de viajar comigo para a aldeia das madres e receber as benções das cinco virgens.

     Olhávamos para nossos guias que confirmavam flexionando as cabeças com seus braços cruzados...

     — Mas estes monstros são os nativos? – Perguntava Yashimin, aproximando-se, meio dormindo e meio acordado, pegando a conversa nos entremeios.

     — Não, pelo contrário, os nativos que pensam que vocês estão mancomunados com os demônios desta maldição – eles pensam que vocês e os monstros são os demônios da serra.

     — Estes monstros não são imaginações do povo? Indagava outra vez Yashimin, procurando entender racionalmente a conversa.

     — Para alguns são, para outros não, a verdade é que está morrendo muita gente nestas aldeias – dizem que a morte se espalhou pelos Andes inteirinho – lá pelo lado do Chile, Peru e Argentina – ainda não escutastes notícias?

     — Só de boca. Estamos evitando todas as notícias do mundo exterior, através de jornais, rádio e televisão, visto que, elas interferem na nossa serenidade e este moço será batizado durante a confederação dos cavaleiros messiânicos! – Respondia Yashimin.

     — Agora sim! – Exclamava a velha – encontrei uma razão muita forte que me explica o propósito desta viagem.

     — Esta tal aldeia das madres fica longe daqui? – Eu perguntava.

     — Aproximadamente, se sairmos agora, chegaremos um pouco antes do nascer do sol, ainda na escuridão.

     — Como posso confiar? – Indagava Yashimin.

     Contudo, antes que eu falasse mais qualquer coisa, ela nos mostraria, também, a identificação – levantava seus agasalhos e mostrava a manga de camisa e lá estava ele, o peixe bordado em dourado – o ícone do Templo de Heron!

     Foi o tempo necessário para levantarmos acampamento e até o jovem hospitaleiro abandonou a cabana.

     — E este frio não acabará com nós? O jovem perguntava.

     — Não, respondia um guia, desde que estejam bem agasalhados e a partir daquele ponto, daqui para frente, descerá um longo trecho das montanhas, onde a temperatura subirá.

     Apesar de já ter ido umas quatro vezes ao Heron, era a primeira vez que faria o caminho por estes desvios – segundo os guias por ali não haveria os perigos dos monstros, embora, fossem atalhos tortuosos e sinistros.

     O escudeiro ia à frente com a misteriosa senhora, puxando duas mulas que carregavam cestas de materiais e alimentos, eu, Yashimin, o jovem e os nossos guias íamos um pouco mais atrás – realmente, pudemos notar que o frio ia diminuindo na escuridão da noite, enquanto a Terra toda dormia, serena em sua gigante trajetória, fazendo sua rotação, eu a sentia pela primeira vez e a cada minuto que passava, sentia que ela se movimentava numa espécie de vibração espontânea, os ventos haviam passado e o silêncio era tão total que chegamos a parar para ouvi-lo absoluto!

     A velha lá da frente, com sua intuição, percebia a nossa curiosidade, aproximava-se de nós e dizia:

     — Mais um pouco na frente tem um descampado, uma arena com uma pedra angular no centro, ali fica o centro da natureza, vos ensinarei o que fazer para conhecerdes o som dos movimentos da Terra!

     Fomos penetrando cada vez mais, descendo na escuridão da noite. Lá pelas tantas, o descampado surgia e a arena resplandeceria sob um luar que se despontava e era alta madrugada nas montanhas – assim como na Terra e nos céus, nós e as estrelas viajávamos ao sabor dos movimentos da Terra – olhávamos e lá estava a pedra angular, bem no meio. Era uma pedra negra, uma coluna mais alta que a estatura de um homem. A senhora se aproximou lentamente, indagando:

     — Acreditais que Jacó tomou uma pedra como mediação entre ele e o Senhor Deus?

     — Sim, acreditamos – respondera Yashimin por todos nós.

     — Muito bem – muitos homens acreditam que há o “espírito da pedra” – mas, uma pedra é apenas uma pedra, nada mais do que uma pedra e damos às pedras as finalidades das coisas – contudo, se vocês prestarem bastante atenção a esta pedra angular, irão ver que ela tem algo singular, mais consistente que as outras pedras. Vindes até aqui!Ensinarei-vos que é muito simples, apenas, encostem seus ouvidos e prestem atenção – lá no fundo ouvireis um som, o som dos movimentos da Terra...

     Tínhamos alguma dificuldade, no início, dado ao frio que queimava nossas orelhas – porém, depois de algum tempo em seguida, eu e Yashimin Zara colamos nossos ouvidos na pedra. Não escutávamos nada até que Yashimin me dizia:

     — Psiu! Hei! Espere aí! Estou escutando algo.

     Eu ficara frustrado por não conseguir.

     — Então é isto? – Admirava-se Yashimin – eu que pensava que iria ouvir o som natural de uma cachoeira ou até mesmo de uma concha, mas não, este som é bem diferente! – Exclamava Yashimin.

     Eu ficava extremamente curioso e perguntava:

     — Mas que som é este que não consigo escutar? – Aguçava e colava mais o meu ouvido.

     — Tenha calma, você com calma escutará – incentivava Yashimin.

     — Fui tentando...Tentando...Até que consegui, ouvindo lá distante, finalmente, conseguia – a alegria tomava conta do meu corpo e me arrepiava e Yashimin sentia a mesma coisa, assim como os nossos guias, o jovem, a senhora e o escudeiro – todos haviam se aproximado e sintonizados os ouvidos colados na pedra, ouviam o som que eu ouvia e nascia a grande alegria de escutarmos o som do movimento de rotação, que veio de longe, dos confins da Terra, para a pedra angular dos Andes!

     Jamais nos esquecemos de ouvir aquele som cadenciado, solto em singelas notas musicais tal qual um som de cordas de uma caixinha de jóias musical, de quando em quando se prolongava, depois ia e voltava à semelhança de uma valsa – uma valsa que tocava a harmonia do tempo entre os segundos – ficamos meia hora ouvindo aquela maravilha acústica, jamais nos esqueceremos daqueles momentos – a cada segundo de rotação da Terra, as notas musicais em ritmo perfeito se iam, intercaladas pelo intervalo adequado e voltavam compassadas, soando suaves melodias de um planeta que se movia musicalmente para não se perder contra as reviravoltas do tempo apocalíptico no meio das trevas siderais e fazia o ruído só perceptível na pedra angular dos Andes!

     A velha senhora ao tirar seus ouvidos pulava e batia palmas de alegria:

     — Maravilha! Maravilha! – Vou viver mais cem anos! – Exclamava brincando...Diz a lenda que, se alguém conseguisse ouvir o som dos movimentos da Terra, o tempo premiaria, acrescentando mais cem anos de vida – montamos nas mulas e seguimos viagem, todos brincando com aquela superstição.

     — Seria tão bom se pudéssemos viver com esta expectativa – Yashimin Zara comentava – mas, não encontro explicação... Concluía.

     — P’ra quê explicar? – Perguntava a velha senhora. Basta-nos apenas acreditar, mesmo que seja na musa de nossos sonhos.

     — Talvez a senhora tenha razão, a gente que tem uma formação acadêmica racionaliza mais da metade do nosso tempo, temos este hábito de procurar explicações para tudo e formar conceitos científicos consistentes, muitas vezes inundados de preconceitos e interferências de nossas próprias mentes subjetivas.

     — Realmente isto não é muito bom, tira um pouco da graça da vida – da mesma forma que nos levamos por conceitos e preconceitos, devemos manter nossos espíritos abertos e nos deixarmos levar com atenção pelas imagens de nossos sonhos que na verdade são eles que organizam nossas mentes durante o dia – comentava a velha senhora – à semelhança dos números que vieram dos espaços numa inspiração – de lá vieram, penetrando em nossos sonhos e em forma de símbolos organizados em algarismos arábicos se sucederam e deles calculamos teoremas de Pitágoras, Aristóteles e muitos outros, entre fórmulas e dimensões – posso garantir que os números viajaram dos espaços abstratos para as nossas mentes e vieram a mando de Deus.

     Yashimin Zara lembrava dos números mágicos e perguntava:

     — A senhora entende de psicologia?

     — Eu não – só entendo um pouco dos símbolos dos homens – mas, de psicologia não entendo nada, porém, esta eu sei que você entende.

     — Quem lhe falou de minha profissão?

     — Ninguém, apenas o jeito de ser das suas palavras e do seu modo de agir.

     Continuamos nossa viagem sem maiores contratempos até que os guias diziam: Alto lá! – Logo ali, mais na frente, todo cuidado será pouco – nos alertavam – precisaremos de mais luzeiros porque no próximo percurso, a estrada é muito estreita, só dará para passar um animal de cada vez em fila e os abismos são profundos nos dois flancos.

     Diminuímos a velocidade, ficamos calados e atentos, ligados nos guias, na senhora e no escudeiro que acendiam outros luzeiros. De repente, escutávamos um estranho grito de terror, parecia um grito de onça, semelhante a alguém com extrema dor – os guias pararam, retornaram para nos acalmar, dizendo: – estes são os abismos da agonia, este lugar não é tão perigoso, porém, assusta – são nossas almas gritando – afirmavam.

     — Lá embaixo estão os ecos de nossas próprias almas – explicava a velha senhora, falando baixinho e se aproximando – quando passarmos neste lugar elas revelarão o nosso próprio pavor e o efeito da corrosão dos nossos pecados, as nossas coitadas, não conseguem se libertar e permanecem ligadas aos nossos medos mais profundos, lá de baixo, sem se iluminarem – geralmente ouvimos o grito de socorro de nossa mente mais doentia e quanto mais apegados a bens materiais, inveja e outras manias, mais gritarão aterrorizadas neste lugar – seremos uns como aqueles que Cristo comparava: “É mais fácil um camelo entrar por um buraco de uma agulha do que um rico no reino dos céus” – todavia, o amor de Deus é tão grande que muito de nós teremos a chance de passar pelos vãos destes caminhos e nossa alma se libertar, visto que, para Deus tudo é possível – continuava a velha senhora – é só sabermos nos arrepender e perdoar – adiantava.

     O jovem hospitaleiro tremia, fazia sinal da cruz e rezava todas às ave-marias.

     — Ali na frente está o ponto mais tenebroso, onde são captadas neste pólo das montanhas todas as energias negativas do mundo, vocês ouvirão gritos, gemidos, angústia, pesadelos e tétricas figuras de mortos vivos, eviscerados e repugnantes. Verão imagens dos nossos próprios corpos dilacerados no futuro, se apodrecendo – é a nossa própria morte física tentando nos pegar de surpresa pelo “Calcanhar de Aquiles” e nos arrastar para os abismos junto ao lado ruim de nossas almas – são os espelhos de nossos próprios pecados a flutuar, mas não se preocupem, nada acontecerá – alertava a velha senhora – serão, apenas imagens e sustos – prevenia.

     O jovem hospitaleiro chorava e não queria mais prosseguir viagem – todavia, a senhora interferiria: – O quê prefere, sentir o medo da morte? Ou morrer de verdade? – Ao sentir medo, viverá, todavia, se fugir, morrerá – afirmava.

     Fomos passando entre gemidos e dores, pânico e angústias – eu e Yashimin e todos da caravana nos calávamos, sentíamos um medo real, de alucinar, aqueles mortos vivos pulando em cima de nós, terríveis e deformados, saltavam na garupa dos nossos animais, grunhindo, ficando junto a nós querendo nos abraçar, asfixiar e puxar para os abismos e eram nossas próprias almas desesperadas – porém, estávamos vivos e nada nos acontecia de verdade, porque aqueles seres sendo transparentes fluídos não conseguiriam nos tocar – foram cinco minutos de pavor, menos para os quadrúpedes irracionais que nada percebiam, até que ali, assim como na vida, nos acostumaríamos com o pânico de nossas almas que não nos perturbariam mais – perderíamos definitivamente o medo da feiúra e das desgraças porque conseguíamos passar.

     Quando olhamos para o jovem hospitaleiro, verificamos que os calafrios do seu corpo o desfigurara, em seguida se acalmaria e depois de passado o susto, corava – teve febre e vomitaria – porém, no final, ao sair de um desmaio, sorria entre os dentes, quando se restabeleceria:

     — Mas... Tínhamos que passar por isto? – Perguntava.

     — Apenas por um momento, dizia a velha senhora comentando – a vida é feita de momentos e neste lugar só se passa duas vezes, uma para ir e outra para voltar, numa terceira, ninguém deve mais passar, é o limite do pavor! Nestas paragens os jovens amadurecem e os mais velhos se envelhecem mais um pouco.

     — A senhora já passou a primeira vez? – Perguntava Yashimin Zara.

     — Estou passando pela quarta vez.

     — Então? – Interpolava Yashimin, como afirmou ainda a pouco que nestas passagens só se passariam duas vezes e na terceira ninguém deveria mais passar?

     — Tem um segredo que esqueci de contar, todo ente que ouve o som da Terra aumenta o seu crédito para poder voltar porque a própria Terra dá voltas e reviravoltas.

     — Mas este crédito eu não gostaria de aumentar, responde Yashimin, nem tampouco retornar neste lugar, nunca mais – reafirmava.

     — Nem eu, responderia a senhora, porém, tem dias que a gente não pretende, mas é preciso ir, ou talvez voltar – muitas vezes na volta que a gente percebe o quanto deixou no ir e retorna para completar.

     — Alguém já passou por aí incólume? – Perguntava Yashimin.

     — Muito poucos homens – soubemos de alguns padres jesuítas que seriam santos e dizem que até o mestre do Heron, quando passou, a sua alma também gritou!

     Naquele momento, os perigos, os medos haviam passado e a estrada se alargava e ao longe víamos fogos de artifícios iluminando os céus.

     Aproximávamos ansiosos, como no deserto encontrássemos água ou num mar tenebroso um porto seguro.

     Lá estava a aldeia em festa!

     O dia já estava amanhecendo e nos achávamos extremamente sensíveis e fatigados.

     A aldeia das madres acabava de homenagear o dia de sua padroeira e nas ruelas de pedras haviam várias barracas enfeitadas.

     As pequenas casas eram seculares de estilo colonial, geminadas uma a outra, de frente a uma única rua estreita que se dividia em quatro quadras.

     As pequenas casas eram pintadas de branco, com janelas e portas de madeira azul e tinham coberturas de telhas de cerâmica – havia no lugar umas oitenta casas no máximo – enfileiradas e semelhantes – uma de frente à outra.

     Na praça no final de rua havia um velho convento abandonado, ali, antigamente, era uma clausula, nos tempos das missões espanhola e dada ao convento a aldeia denominar-se-ia aldeia das madres.

     Há poucos anos existiam, próximo às minas, os habitantes do vilarejo e hoje, com as minas de prata desativadas, ficariam os mais velhos aposentados, senhoras entre algumas feiticeiras e alguns jovens bruxos irmanados – o povo daquele lugar era extremamente místico e acreditava no Templo de Heron – uma boa parte dos moradores da região que deixamos p’ra trás acreditava que os monstros das montanhas seriam maldições por causa do Heron, porém, daqui p’ra frente outras comunidades mais próximas ao Templo teriam outras opiniões e não concordavam com aquela acusação, todavia, ainda se precisaria certos cuidados porque mesmo ali haveria exceções!

     Exaustos, entramos pelos fundos da aldeia e fomos nos hospedar na casa da misteriosa senhora companheira.

     — Durmam bem, o dia passará rápido e ao acordar irão até à igreja, estaremos esperando vocês por lá – dizia a senhora.

     — Mas a senhora não vai descansar? – Perguntava Yashimin.

     — Velho não descansa, o tempo para nós é muito precioso – respondia.

     Fechamos as janelas, interrompemos a luminosidade e fomos todos dormir exaustos e eu ficara intrigado com aquela disposição...

     Yashimin, o jovem e os guias já roncavam e eu demorei um pouco mais, escutava um sussurro entre velhas debaixo da janela.

     Ao dormir sonhara outra vez: Estávamos sentados, eu, Yashimin, o jovem, a senhora misteriosa, o seu escudeiro e os dois guias – todos ao redor de uma tabula redonda e no centro da mesa tinha uma garrafa de vinho tinto seco – tomávamos todos daquele vinho para comemorar a vitória e tínhamos entrado numa grande bebedeira – Yashimin Zara usava armadura, escudo e espada que lembrava o rei Artur, todavia, ríamos porque sabíamos que ele não era o rei Artur – ele se levantava e ia bêbado, cambaleando pelas ruas da aldeia como se fossem as ruas de Londres – as ruas brilhavam ao sol de inverno sobre as neves e ele retirava a máscara de ferro para que o povo o reconhecesse glorificado, mas, ele andava tonto e nós o seguíamos – todos estávamos cansados de uma grande guerra santa e os nossos inimigos estavam à espreita, mas, não se aproximavam porque o povo não deixava e nos acenavam com lenços brancos, de repente, surgiram lenços de todas as cores e bandeiras de várias nações. Eu me lembro que nos orgulhávamos de ter conquistado muitos territórios para um certo reino! – Todavia, o povo só nos ovacionava porque reconhecia que estávamos bêbados.

     — Aquela fora a parte do sonho que eu mais gostava, quando acordei com Yashimin Zara, sacudindo meus ombros, me despertando.

     Todos levantamos...

     Fomos direto para a igreja de acordo com o combinado.

     Andamos pela rua das casas geminadas, não achávamos mais ninguém, nem para cumprimentar – sentíamos no ar uma certa hostilidade das casas, como se aqueles moradores estivessem nos espionando atrás de suas portas, de vez em quando ouvíamos o ruído de portas e janelas fechando.

     Eram seis horas da tarde, a estrela Vênus se despontara, fomos na direção do silêncio atrás da misteriosa velha que procurávamos na solidão das igrejas – lá as portas estavam abertas.

     Entramos e víamos senhoras envoltas em mantos como de Nossa Senhora – o jovem hospitaleiro e os guias nos esperariam do lado de fora – só eu e Yashimin entrávamos.

     Lá dentro, uma delas, ao nos ver se aproximou de uma outra que lhe disse qualquer coisa ao pé do ouvido – pareciam velhas carpideiras.

     Ela se levantava e nos dizia:

     — Sigam-me!

     Seguimo-la pelas portas dos fundos do altar e fomos até ao convento das madres que estava abandonado.

     Entramos numa sala e sentamos ao redor de uma comprida mesa – a mesma senhora em mantos azul-escuros nos trazia pratos com verduras amargas, vinhos e pães – e aquela velha não seria mais a primeira companheira de viagem.

     Yashimin indagava:

     — Senhora? – Senhora? – Porquê nos trouxe aqui? Cadê a nossa amiga?

     A senhora não dizia nada, apenas nos servia.

     Em seguida se aproximara uma bela adolescente no meio de nós e com uma bilha d’água molhava nossos cabelos e limpava nossos pés, depois, passava óleo em nossos cabelos e nos perfumava.

     Logo, surgiria uma outra adolescente, em seguida uma terceira... Quarta... Quinta... Com véus e roupas de odaliscas e dançavam para o nosso deleite a dança do ventre – aproximavam-se de nós eróticas e surpreendentes.

     Outras lindas mulheres, seminuas, dançavam agitadas, esvoaçando lenços transparentes e coloridos pelo ritmo da sensualidade. Batucada de tambores e sons de flautas as acompanhavam.

     Nossos olhos ávidos clamavam por uma luxúria interminável e nos tentavam para a mais lasciva das aventuras – eram fantasias libidinosas, tal qual a dança de Salomé na corte do rei Herodes que estava disposto a pagar qualquer preço para ver a sobrinha dançar.

     Os desejos atravessavam os nossos peitos, rasgavam a nossa carne – em nossa frente estavam nuas as vivas esculturas das mais lindas mulheres do mundo!

     Ficamos meia hora naquela anestesia sensual, com os olhos fixos e vidrados, sem conseguir sair do lugar, esperando a hora passar – a velha misteriosa teria nos mandado levar para um prostíbulo? – Perguntava. Mas, aquele lugar não seria o velho convento abandonado? – Não teríamos entrado pelos fundos de um altar? Indagava – discutíamos eu e Yashimin, após a apresentação – os nossos instintos estavam aguçados – adeus meditações, adeus preparo espiritual, adeus energias cósmicas e números quânticos – chegava à hora, a grande provação – uma linda mulher surgia e subiu na mesa dançando sobre nossos olhos, a mais perfeita de todas, emitia luz e sensualidade, um perfume fêmeo se irradiava e Dr. Yashimin Zara não agüentava mais tanta erotomania – disse-me trêmulo pela emoção – as forças lúbricas destas jovens são tão desmesuradas que podem até nos matar ou nos sugar todas as energias.

     Lembrei-me, então, do Livro do Eclesiástico:

     “O vinho e as mulheres fazem sucumbir os próprios sábios aquele que se junta com prostitutas perderá toda a vergonha”.

     Será presa da podridão e dos vermes;

     O homem fácil depressa desaparece.”.

     Vamos cair fora daqui – confabulava, sussurrando com Yashimin Zara.

     As belas mulheres caíam ao chão de joelhos, como se solicitassem tirá-las do opróbrio, um pouco desequilibradas e de cabeças baixas. Enquanto eu e Yashimin levantávamos, algumas se entreolhavam maldosas, cobravam moedas ou a cabeça de um jovem santo e outras choravam como Madalena, pedindo perdão.

     Saíamos juntos no rumo da porta, penalizado, Yashimin me dizia:

     — Desejei, algumas vezes, durante aqueles momentos, a paixão da feminidade, defrontei-me contra uma força real e tentadora, bela, livre e convincente – confesso que tive fantasias, mas, talvez, outro dia, no momento não poderia porque iremos ao Heron e não havia motivos para elas pedirem perdão, não me ofenderam, ao contrário até proporcionaram-me alegrias para os olhos.

     Logo em seguida eu confidenciava:

     — Elas me prestaram um grande serviço, durante aqueles momentos, sem saber – revelo que até vacilei, diverti-me não posso negar e até já sentia falta da aproximação feminil – pude me testar, porém, resisti a toda tentação, graças a Deus! Já estou pronto para ir ao Templo do Heron e tenho que ir embora, agora!

     Recordava que não tinha contatos carnais há uns dois meses porque havia preparado, persistentemente, uma abstinência voluntária para ser batizado no Heron.

     As mulheres ficavam olhando sorridentes e aquela que tinha a melhor luz sensual, a mais bela de todas, nos dizia:

     — A nossa vida é um teatro, encenamos para ganhar algum dinheiro. Obrigada por não nos terem tocado. Cumprimos nossa missão – concluía – inclinando-se, respeitosamente ao se levantar e saía de costas, rapidamente, junto ao provocante grupo de dançarinas.

     Após aquele deleite, ficamos intrigados, quando a velha senhora reaparece num corredor que dava para a saída.

     Dizia-nos:

     — Vocês venceram a provação da luxúria – agora, posso lhes dizer que estão prontos para serem abençoados pelas cinco virgens e seguirem viagem com segurança.

     — O quê tem que fazer? – Perguntava Yashimin Zara.

     — Nada, apenas me acompanhem – ordenava.

     Acompanhamos naturalmente...E ela nos mandou que ficássemos num alpendre de uma casa a admirar as estrelas, a grande lua e a prestar atenção a cinco estrelinhas cadentes que viriam a cair daqui a pouco, a qualquer momento – a partir daí, muitas coisas irão acontecer, dizia, vocês só terão que ficar quietos e olhar, nada mais a fazer – ela pedia – é o que mais temos feito nestes últimos dias – respondia Yashimin com um certo ar de ironia.

     A noite avançava, a rua continuava deserta, as barracas da quermesse haviam sido desarmadas, o povo dormia e nada acontecia. Seguindo as recomendações, estávamos atentos com os poderes do universo, lá estavam as mesmas estrelas e a grande lua branca intacta, nada se movia. Ao longe escutamos somente um latido de cão – Daí aconteceu, contávamos com atenção uma, duas, três, quatro e cinco estrelinhas cadentes, rasgando os céus...

     Passaram-se poucos minutos, começávamos a ouvir uma voz de mulher numa determinada direção, era um agudo perfeito, um canto de sereia – seguíamos no rumo daquela extraordinária melodia, estávamos maravilhados com tamanha perfeição – entramos numa casa atraídos, onde se parecia originar a voz que mais se avolumava à medida que nos aproximávamos, e na casa tinha um corredor com uma porta. Entrávamos e saíamos numa sala e desta numa outra porta que se descerrava em um outro corredor que se abria para uma ante-sala, e da ante-sala para uma parede, onde se entrava numa terceira porta. Víamos que eram inúmeras paredes e portas nas quais entrávamos e saíamos por entre corredores sem fim. Neles buscávamos a melodia harmoniosa à semelhança de um canto divino.

     Ao darmos por nós estávamos como presos, mas Yashimin se deslumbrava e de nada se dava conta, nem queria saber – só desejaria se embebedar com aquele timbre de voz que, por um momento, valeria toda sua vida.

     Havíamos perdido a noção do tempo e do espaço, enquanto o canto nos impregnava a alma. Parecia que nossas células dançavam de alegria – estávamos num labirinto sem fim e aquela voz nos alimentava com lindas melodias!

     Paramos, olhando um para o outro, quando Yashimin Zara reagiu e me disse – não é possível, fomos drogados nesta viagem, não é possível! Deve ser o efeito retroativo do chá contra o mal das altitudes – está na hora de sairmos deste lugar – falava, lembrando das recomendações da velha senhora: “Vocês só terão que ficar quietos e olhar, nada mais!”.

     A partir deste momento, ficamos quietos e olhando, mais nada, embora maravilhados por aquela voz que nos enfeitiçava – após algum tempo a voz foi diminuindo até sumir – bastou apenas ficarmos quietos e nada mais... Como havia aconselhado a senhora.

     Porém, não sabíamos como sair dali e quietos passamos a olhar para os lados, para a porta, mas esquecemo-nos de olhar para cima, tão cegos e fascinados que estávamos pela lembrança da canção que se acabara – continuamos quietos, até que Yashimin olhou para cima e me chamou a atenção: Veja! A casa não tem telhado, me dê à mão, vou subir na parte de cima desta parede.

     Dei-lhe a mão para apoiar seu pé e num impulso conseguia subir. A parede era estreita, mal dava para se equilibrar, o seu tijolo tinha a largura de um meio fio – Yashimin Zara, em pé lá de cima, pedia – dá-me a sua camisa – falava, enquanto retirava a sua e ao pegá-la emendou as duas, sentou em cima da parede como se monta num cavalinho, se apoiou firme com as coxas, jogou-me uma das pontas das camisas, segurei-as e galgando também, chegava lá em cima.

     De pé, ao vestirmos as camisas, olhávamos abaixo e víamos todas as paredes e corredores que havíamos percorrido.

     A uma determinada distância, avistávamos um foco de luz ao fundo – era o luzeiro que a velha senhora e companheira trazia consigo.

     Corremos sobre o topo das paredes com a destreza dos gatos e fomos para a outra ponta, seguindo o luzeiro, sem muitas dificuldades pulamos e estávamos de novo na rua, na lateral da casa e...A linda voz começava de novo – pegamos numas folhas de árvores, dobramos feito um chumaço de algodão e entupimos nossos ouvidos – aquela voz, pelo menos por uns instantes não nos encantaria mais.

     Era o tempo de pensar e pensávamos...Nas cinco estrelinhas cadentes e na lembrança da recomendação para que não fizéssemos nada – nada fizemos e num impulso imediato, feito numa transmissão de pensamentos, retiramos imediatamente aquelas folhinhas de dentro dos ouvidos.

     Eram tempos de não fazer nada, nada mesmo...

     Desta feita a voz continuava nos enfeitiçando com mais potência, visto que, tínhamos feito tudo que não devia: entrar na casa, correr nos labirintos, subir em paredes, amarrar nossas camisas, avistar o luzeiro, correr no muro, pular na rua e arrancar folhas para tampar os ouvidos.

     Até que parávamos para ficar definitivamente quietos e olhar, nada mais... Paulatinamente, a voz veio se amansando próxima a nós e olhávamos cinco moças cantando. Tinham sobre a cabeça um ornato vermelho que se continuava pelas vestes brancas e vinham descalças carregando uma cesta de vime apoiada ao ventre com uvas do Chile e pães de frutas cristalizadas.

     Vinham cantando a música maravilhosa que havia nos seduzido, caminhando, lentamente, em passos harmoniosos, quase que dançando a mesma melodia que cantavam, ao mesmo tempo em que nos serviam pães e frutas – caminhavam pela rua solitária na madrugada, largavam seu cestos nos alpendres das casas, continuavam num ritual, tiravam os turbantes vermelhos e seus longos cabelos se revelariam viscosos, brilhantes ao luar feito crinas lisas e negras. Na altura do peito, erguiam pingentes de colar na direção da lua que refletia aos nossos olhos os raios de sol lunar e elas cantavam a alegria da Terra, vinha uma a uma em nossa direção, apontava-nos a luz dos camafeus, erguiam as mãos e nos abençoavam – trazia-nos energias cósmicas nas partículas quanta que dispunham e ao sabor delicioso daquele vinho inesquecível, temperavam a fraqueza de nosso corpo com a força do espírito – sentíamos o gosto do primeiro milagre de Cristo que nos foi servido numa bandeja de prata num cálice do mais puro cristal estelar desta noite engalanada.

     Havíamos mudado como a água daquele vinho das bodas de Caná da Galiléia e estávamos no mais puro estado de graça!

     As virgens retornaram, flutuando lentamente, cantando as canções cuja passagem não nos enfeitiçava mais e víamos uma a uma das estrelinhas subindo de volta aos céus...Naquele momento descobríamos que não era o chá contra o mal das altitudes, nem eram drogas de espécie alguma, era a pura e simples verdade que se apoderara de nós – era a nossa própria magia na inocência de uma luz que suplantava as trevas dos abismos das agonias.

     Continuávamos parados e energizados por muito tempo até que a velha senhora nos chamou:

     — Pronto! Está acabado! Os seus animais estão presos naquela árvore – vocês tem que ir, seus guias estão lhes esperando a dois quilômetros daqui seguindo nesta linha reta. O jovem hospitaleiro já voltou para sua estalagem e eu ficarei aqui na aldeia a rezar e agradecer a Deus por ter ajudado vocês – Boa viagem! Acenava se despedindo.

     Agradecemos e seguimos nossos destinos.

     Mais uma vez trocava a noite pelo dia nesta viagem. Seguimos confiante sem nenhuma novidade, após algumas horas, os guias nos apontavam para uma seta que indicava uma cidadezinha denominada de Cidade Alta da Serra – e um deles nos perguntava:

     — Vamos dormir aqui ou em Sagüi-piranga?

     — Nem aqui, nem lá – havíamos combinado – precisamos recompor nosso relógio biológico e o único jeito vai ser viajar o dia todo, até cansar – eu respondia.

     Os guias concordaram.

     Tínhamos descido a serra e escutávamos o barulho da passarinhada, macacos pulando, soltando guinchos a quilômetros e o dia vinha amanhecendo.

     Descendo pelas estradas havia baixado uma densa neblina e estávamos nos aproximando de uns novecentos metros de altitude.

     Até o momento estava tudo em ordem, ninguém nos perseguindo, nenhum nativo, nem monstros das montanhas – íamos com a segurança e com a graça de Deus!

     A temperatura havia se elevado bastante, retiramos um pouco de nossos agasalhos, quando eu começava a reconhecer as paisagens, visto que, no ano passado por outros caminhos eu já teria estado por ali.

     De repente se iniciava o ruído de uma cachoeira e o barulho ia avolumando-se, ficando mais denso até que do flanco esquerdo da montanha se despontava imponente a queda d’água de Todos os Santos, assim, denominada e era linda, salutar, onde a água caía numa lagoa azul e límpida – estas águas são bentas! – Exaltava um dos guias.

     — Temos como descer lá? – perguntava Yashimin.

     — Sim, o guia respondia, mas, se formos perderemos muito tempo.

     — Não... Não agora, mas em outro dia – Yashimin retrucava.

     — Talvez na volta... Talvez... Dizia.

     Caminhamos mais uma hora e meia, quando nossas mulas aproveitaram um riacho de atravessar. Beberam água e já estávamos próximos a um pequeno distrito, onde iríamos comer – após uns doze quilômetros daqui terminará os limites da Cidade Alta da Serra e entraremos no município de Sagüi-piranga – dizia o guia – e subiremos mais uns mil e quinhentos metros de montanha acima e depois de um planalto, desceremos até as aldeias gêmeas a uns cinqüenta quilômetros – indicava.

     Parávamos, amarrávamos nossas mulas e descíamos na direção de uma pensão à margem da montanha.

     Um cidadão, bem humorado, aproximou-se:

     — Sejam bem vindos ao clima do sopé das montanhas! – Dizia.

     Na verdade não era ainda o sopé, todavia, como havia outras montanhas muito mais altas acima, eles consideravam aquele lugar o mais inferior.

     Mas, lá embaixo, ainda ficavam florestas tropicais e um pouco acima florestas de nuvens.

     Olhamos um cardápio.

     Avistávamos na parede uma foto do Templo de Heron e a figura do grande líder espiritual do século XXI!

     — Vocês estão indo para o Templo, não estão? – Indagava-nos o cidadão apontando para o alto.

     Olhando para cima víamos lá no cimo a crista de um vulcão extinto e rodeado de gelo.

     — Gostaria que levassem esta carta para um amigo – solicitava-nos, explicando sobre o destinatário.

     Atendendo, sentamos à mesa e saboreamos um delicioso frango ao molho com creme de milho.

     Pedimos uma garrafa de vinho e numa sacada ficávamos em cima como de um mirante sobre os abismos que nos circundavam, contemplando o verde da floresta abaixo e nuvens entre o azul do céu ao redor – lá no fundo já víamos o miraculoso rio de Todos os Santos, serpenteando o Vale dos Santos Anjos!

     A temperatura estava muito agradável e o cavalheiro se aproximava de nós e dizia:

     — Passaram vários padres estrangeiros por aqui ontem e todos estavam muito preocupados com os monstros das montanhas – muita gente da região está culpando o Heron – nós daqui do distrito, temos medo dos ignorantes invadirem o Templo – existem nestas redondezas, entre os descendentes de índios do peito abaulado, alguns que ainda guardam instintos dos velhos guerreiros selvagens.

     — Entrar no Heron não é tão fácil assim – eu retrucava – por aqueles muros é praticamente impossível e as portas são bem vedadas.

     — Por quê tamanha invulnerabilidade no Templo de Heron? – Yashimin Zara se intrometia.

     — O Heron é uma fortaleza preparada para congregar todas as religiões deste século e hospedar milícias celestiais – construída com o rigor de uma base militar, tornou-se a base militar celestina que será utilizada, quando chegar o dia e a hora – as paredes do muro tem uma tecnologia eletrônica que só os cavaleiros messiânicos saberão como lidar e ainda não foi preciso acionar – de maneira que forma uma espécie de um campo magnético que ninguém entra, nem sai.

     — Confesso que eu não sabia desta peculiaridade do Templo – surpreendia-se Yashimin.

     — Aqui o povo anda conversando, dizem que até as autoridades internacionais estão começando a se preocupar com os ataques mortíferos dos monstros devoradores – intrometia-se na conversa o hospitaleiro senhor – dizem que eles atacam em bandos sobre suas possantes máquinas – explicava-nos de novo o indivíduo.

     — Como assim? – Perguntava Yashimin.

     — Ainda não temos notícias direito, mas dizem que já exterminaram mais de trezentos por este mundão a fora – naquele momento eu ficava longe, distante da conversa e olhava...Um fio de água cair montanhas abaixo, como se eu deixasse minha vida inteira para trás, caindo abaixo da sacada – não sei se era o efeito do vinho, mas teria um momento de grande hesitação – me perguntaria: Por quê me envolvia tanto com aquela aventura, naquela direção? Não seria mais fácil ficar em casa, ter uma vida normal como qualquer cidadão do mundo? Ficar com a esposa e filhos, cuidar do meu trabalho e da minha profissão? – Mas, não – eu tinha que teimar em escrever este livro e me batizar no Templo de Heron! – De repente via na montanha um casal de alpinistas, um pouco acima de meus olhos e os via corajosos, em pleno vigor da mocidade a enfrentar obstáculos intransponíveis, quando um deles teria que ficar quase que de cabeça para baixo a fim de escalar duas paredes que se projetavam inclinadas entre duas montanhas para fora, uma de encontro à outra – o rapaz agüentava com o apoio dos pés numa das paredes, como eu ao escrever meu livro e se agarrava com as mãos na outra, como eu à minha profissão, finalmente, subia com um esforço descomunal, trocando os pés pelas mãos – perto de mim, na sacada, havia um repórter que filmava e em alguns minutos o rapaz, num movimento brusco e certeiro, transpunha a montanha e cravava no topo, a bandeira de seu país e se louvava vitorioso à companheira logo abaixo: – Hei! Conseguimos!

     O repórter apenas comentou comigo: – eis aí a diferença!

     Saí da hesitação, quando Yashimin me chamava:

     — Vamos embora... Vamos embora.

     Montamos em nossas mulas e continuamos viagem...

     Iniciamos outra subida e conversávamos com os guias – teríamos uma tarde comprida pela frente – à esquerda da estrada avistávamos o acesso ao município de Sagüi-Piranga.

     A temperatura variava muito. Neste ponto se iniciava a floresta de nuvens e a luz começava a se espalhar abundantemente entre as árvores de samambaias que se proliferavam magníficas na atmosfera fria e úmida. Víamos as cores das orquídeas, gerânios, begônias e entre as folhas arbustivas a força real dos raios de luz e suas partículas quanta.

     Fomos nas trilhas, contornando rochedos e a natureza selvagem suava, visto que, imensas árvores gotejavam pela umidade.

     As nuvens iam ficando densas no estreito caminho e atravessávamos aquela região com muito cuidado pelos precipícios.

     Em poucas horas, não enxergávamos mais os vales e surgira uma placa que indicava uma ponte flexível num vão de cinqüenta metros de comprimento. As tábuas de madeira eram sustentadas por dois cabos de aço em paralelo e apenas com 60 cm de largura, as tábuas seriam o suficiente para as mulas passarem uma a uma – quando passávamos, uma das mulas emperraria e a ponte balançava, jogava feito barquinho em alto mar e abaixo víamos meio encoberto por nuvens um paredão de garganta com mais de mil metros de precipício onde no fundo o rio serpenteava – após quarenta minutos de esforços e apreensão para empurrar o animal, se equilibrando para a ponte não virar, conseguimos vencer.

     Naquele ponto terminara o município de Sagüi-Piranga, onde as aldeias gêmeas começavam, numa altura de quase dois mil e cem metros.

     Mal saíamos da ponte, nova trilha se despontava, estreita, a conta certa para nossos animais – continuávamos firmes e purificados.

     Lembrava dos jovens alpinistas e tudo mais que tínhamos passado durante a viagem: Todo homem de verdade não poderia ter nenhuma maldade, diziam os cavaleiros do Templo – olhar para energia e absorver quanta da luz é o maior privilégio do mundo, é uma magia que ninguém consegue comprar, apenas se conquista! – Eu lembrava ainda – para conseguir esta façanha, é preciso ter a inocência de uma criança entre os mais puros corações.

     Yashimin Zara tinha ficado um pouco na frente a fazer perguntas aos guias que lhes descreviam a natureza de toda aquela região.

     Já tínhamos subido uma considerável escarpa e avistávamos a topografia de um planalto acima, quando escutávamos ao longe as turbinas de um “Boeing” cortando céus – ali dentro daquela máquina voadora estariam homens de negócios, pais de família, profissionais, mulheres e crianças, talvez políticos e sacerdotes, eu imaginaria – não importa quem estivesse por lá – acompanhar o rastro no céu é o que mais me importaria para me permitir curvar à grandeza da civilização do “Homem Cósmico” resumido naquela aeronave – seria para mim, naquele momento, uma das heranças de Adão que mais me vivificaria!

     Todo o conhecimento do Homem estaria inserido lá dentro daquela invenção espacial, empinado, subindo, soberano e exclusivo na sua rota programada – era o espírito humano sobrevoando acima dos Andes cujas montanhas nos faziam tremer e humilhar.

     De repente, Yashimin Zara começou a entortar seus lábios e a contorcer suas mãos. Enrijecia seus músculos e quase caia da mula, se um dos guias não o segurasse a contendo poderia até morrer.

     Yashimin gritava, numa ligeira convulsão, quando todos o acudíamos e o fazíamos descer – pensávamos que estaria tendo um derrame cerebral – ele quase se despencaria nos abismos colossais se não chegássemos a tempo.

     Naquele momento ele rosnava feito cão danado e como possesso por um demônio se exaltava, apontando para a direção do avião:

     — Lá se vai o trono de Deus! – Nós somos como seres vivos pasmados! – Gritava, continuando – passamos nestas montanhas sob aquele que brilha como cristal na cabina do seu trono que é encurvada feita uma abóbada – prosseguia – e se estende sobre as nossas cabeças e os nossos corações. É a cabina de Deus que se estende sobre nós no resto daquela aeronave – apontava – e as asas se estendem por debaixo da abóbada que é aquela cabina de Deus que tem duas asas que lhe cobrem o resto do corpo – as turbinas saem das asas daquela cabina e os seus ruídos são como o barulho das grandes torrentes, como a voz do Onipotente, quando avança, ou como o ruído do campo de batalhas – quando pararem, as asas baixarão à semelhança do “flap” daquele avião – a última geração da tecnologia aeroespacial! – Quando o avião passar por cima de nossas cabeças fará um grande ruído e subirá para o espaço sideral; quando parar as asas baixarão e o silêncio será total! – É a última invenção da aviação.

     Tentávamos reativar Yashimin à consciência, enquanto ele balbuciava aquelas alucinações – demorava um pouco, enquanto um guia falava com o outro e nos chamava, afirmando:

     — Ainda temos ervas que podem ajudá-lo.

     Ao preparem-nas, aguardaríamos, visto que, não tínhamos mais nada a fazer...

     Finalmente, a noite chegava e Yashimin com febre ditava:

     — “E quando se erguiam da terra os seres vivos, também se erguiam às rodas, porque o espírito dos seres vivos estava nas rodas” e nós nos erguemos dentro do avião empinado com as rodas na pista a decolar – o espírito dos seres vivos se encontra nas rodas dos veículos nas ruas, nas avenidas, nas rodovias e nos aeroportos – dizia Yashimin – ele me falava, sem saber, da visão do profeta Ezequiel ao ver as rodas e o trono, citava-a, comparando-a ao avião e a nossa dependência das rodas e das asas para nos transportarmos com velocidade a grandes distâncias e aquelas rodas seriam como mandala – ele voltaria a me reafirmar, segundo a sua alucinação, sobre o profeta no capítulo I, versículos; 21; 22; 23; 24 e 25 – diz que o seu espírito, arrebatado se locomovia e flutuava, quando teve aquela crise de convulsão, diz que tremia junto e ao redor daquele avião – descreveria algum tempo mais tarde outros detalhes a respeito.

     Já muito cansados, armamos nossas barracas, acendemos uma fogueira, comemos batatas doce, enquanto Yashimin Zara dormia, a erva o restabeleceria porque no outro dia ele acordou sarado e bem mais tarde – contudo, não se lembrava de nada.

     Depois de limpado o acampamento, seguimos viagem, escutamos uma retumbância diferente das turbinas do avião que refletia nas rochas milenares das Cordilheiras dos Andes! Os guias apressadamente nos advertiam – corram até aqui! – Ali tem um atalho, vamos nos esconder e peguem nos amuletos de cristal – vamos! Façam rápido!

     Corremos, advertidamente, sem até mesmo ter tempo para saber porquê – eram os monstros das montanhas passando...Ressonavam as centenas com suas máquinas turbinadas, espalhando horror, entre fagulhas à semelhança de algo estranhamente mecânico – passavam aqueles monstros eletrônicos que se dissipavam na direção dos vulcões.

     Tínhamos ficado à espreita por de trás das grandes árvores! – Se fosse preciso acionaríamos os amuletos contra os raios de sol.

     Refeitos do incidente, prosseguíamos e Yashimin exclamava:

     — Mas, que viagem!

     — Já é hora de sairmos daqui! – Conclamava o guia.

     Entrávamos no planalto das aldeias gêmeas, atentávamos em todas as direções dos pontos cardinais aos colaterais e nada nos surgia – o outro guia nos mostrava:

     — Ali, naquelas matas têm águas quentes numa lagoa azul vulcânica e mesas de pedra, onde podemos sentar – é um bom lugar para nos refazermos do susto.

     As mulas foram pastar e tomar água em outro lugar e nós tínhamos dado um tempo debaixo de uma frondosa árvore para relaxar da tensão gerada pelas máquinas que cruzaram o nosso caminho – em cima daquela árvore tinha uma família de guaribas que jogavam frutinhas sobre a gente, nos convidando para brincar.

     Ficaríamos nos divertindo um bom tempo com aqueles macacos, enquanto Yashimin e o outro guia cozinhavam algumas espigas de milho.

     Comemos milhos o bastante, todos fomos para a lagoa azul para um banho de águas quentes – percebemos que naquela lagoa a gente não afundava, havia uma grande pressão de baixo para cima que nos manteria flutuando, só afundávamos da cintura para baixo, sem precisar nadar – era a força da pressão que vinha do fundo da Terra através de vapores de gêiser – aquela região era vulcânica – explicavam os guias.

     De súbito, na outra extremidade da lagoa vulcânica vinha, caminhando sobre suas águas um menino selvagem, andava de tanga, entre fumaças da evaporação, descalço nas águas como se fosse em pedras e vinha se equilibrando na superfície em nossa direção.

     Aproximava-se, olhando por cima de nós – olhávamos intrigados e ele falava uma estranha língua que só os guias a compreenderiam e naquela viagem nada mais o surpreenderia – dizia-me Yashimin Zara – os guias explicavam-nos que a natureza daquele lugar estava em perigo por causa dos monstros das montanhas que pretendiam reativar todos aqueles vulcões que já foram extintos.

     — O que poderíamos fazer para evitar? – Os guias perguntavam.

     O jovem nativo responderia que deveríamos nos unir para uma guerra.

     Porém, os guias o teriam avisado que estávamos indo para o Templo de Heron, onde eu serei batizado na abertura da confederação.

     O jovem se alegrou e manifestou o desejo de ir com a gente, visto que, diversas vezes conversara indiretamente com a mente do mestre do Heron e gostaria de conhecê-lo pessoalmente – o jovem dizia que o mestre do Heron viajava com seu espírito por essas águas e quase todos os dias pela manhã conversava com ele, através das árvores, das plantas e dos animais – por isso o conhecia pouco, não sabia de suas feições, o jovem dizia que o conhecia através de telepatia indireta, quando lhe ficava vedado algumas noções, apenas sabia que ele era um mestre, o mestre do Heron. Todavia, ultimamente, estava havendo muita interferência daquelas monstrocriaturas eletrônicas que atrapalhavam na telepatia entre ele e o mestre.

     Nós permitiríamos que ele fosse ao Heron, desde que avisasse seus parentes, amigos ou pais, porém, nós gostaríamos de saber mais sobre aquele truque – como ele conseguiria caminhar sobre as águas?

     As águas ali facilitariam, respondia o jovem, todavia, para andar sobre elas, dizia, nós necessitaríamos de muitos anos de treinamentos, fé e meditação – o caminhar sobre as águas só seria possível naquela lagoa que ele conhecia, em mais nenhum outro lugar, dada a constituição física daquela topografia e os gases do fundo da Terra que nos manteriam de pé – as pessoas comuns se afundam da cintura para baixo, o resto do corpo fica p’ra cima e ele, porém, com os pés, seria capaz de andar porque desde criança ali fora treinado, aprendendo a caminhar sobre as águas – afirmava que não seria nem em um, nem em dois dias que nós iríamos aprender. Conformávamos e o jovem nos levava para sua choupana para nos apresentar à família, irmãos e pais, todavia, seus parentes e amigos não se encontravam lá.

     Organizava sua mochila e agasalhos – lá ficamos a conversar até ao final da tarde e ele nos contava sobre suas experiências telepáticas com o mestre do Heron.

     Yashimin Zara tinha um diário e cada dia que passava anotava todas as novidades.

     Entre aquelas experiências o jovem lhe dizia uma que muito chamara a atenção: – Naquele dia, diz ter ouvido uma árvore chorar e ouvia seus gemidos – era o mestre do Heron avisando por telepatia – as irmãs amazônicas estavam sendo devastadas, logo...Logo morreriam e que um grande cavalo amarelo galopava na direção da morte daquela região – era o cavalo amarelo do apocalipse que tornava as matas desertas e estrondeava a moto-serras, onde em decorrência, multidões e mais multidões de humanos seriam carreadas por pestes, fome e maldições.

     O cavalo galopava na direção do inferno que o seguia, carregando as matas arrasadas e as árvores decepadas, gerando doenças das florestas destinadas a acometer somente os homens – doenças ecológicas, ulcerosas e frias.

     Resolvemos dormir por ali mesmo, dependurados em redes da choupana e Yashimin me teria dito se impressionar com aquela explanação.

     O dia ainda não tinha amanhecido, pulávamos e os guias nos comentavam:

     — Ao sairmos daqui agora, chegaremos ao Heron por volta das 15:00 horas.

     O menino nativo viera junto sem a ninguém pedir permissão, nem deixara recado – era um costume daquela região.

     Assim, fizemos, caminhando sobre aquela imensa planície de musgos esverdeados que atapetavam suas ligeiras ondulações – começávamos a descer pelo outro lado das montanhas – lá se despontaria a primeira aldeia gêmea, eram barracos brancos com telhados de zinco, tamanha pobreza – todavia, aquele povo era alegre e ao passarmos pelas suas ruas víamos muita gente festiva, dançando um folclore, tocando músicas da região – parávamos para ouvir “El Condor Passa” tocado numa flauta doce, acompanhada por tambores, instrumentais indígenas e violões – o povo nos acenava como se agradecesse a nossa ligeira parada a fim de escutar a velha canção – descíamos, lentamente, até atingirmos uns mil e novecentos metros.

     Logo em seguida, avistávamos a segunda aldeia gêmea e era um lugar paradisíaco, estonteante, rodeado de cachoeiras, cascatas, uma cidadezinha bem tratada, com jardins de flores da região – havia diversos lagos azuis e piscinas de águas quentes – as casas já eram melhoradas e havia até hotéis e mansões para milionários que cultivavam a magia do ecossistema daquele lugar.

     — Por quê aldeias gêmeas? Yashimin perguntava – se os dois lugares são tão contrastantes: um é pobre e o outro é rico! – Exclamava.

     — Não é por nada – são denominadas, assim, devido a duas lagoas iguais, azuis e vulcânicas que existem em cada uma daquelas mini-cidades – respondia um dos guias.

     De repente, começava a esfriar, tivemos que redobrar nossos agasalhos – uma neblina começava a descer e nós a acompanhávamos num despenhadeiro sem fim que teríamos de passar.

     Em seguida, entrávamos numa floresta escura, onde surgiam pântanos e fumaças do chão vulcânico.

     Conseguíamos avistar um pouco abaixo, entre as neblinas bem ao longe, ainda, o vértice da pirâmide do Oráculo e ao lado das estradas tinham centenas de girassóis gigantes que acompanhavam nossa trajetória – por onde andávamos, suas flores nos seguiam feito radares – os guias haviam nos alertados que elas acompanhariam o nosso calor humano.

     Subitamente, as mulas pararam e se ajoelharam, todas elas, à semelhança de camelos, quase nos jogando ao chão – descemos, inesperadamente e aquele chão era macio – existia uma extensa área pantanosa ao derredor e adiante um caminho de pedras acima do terreno movediço – os guias nos orientavam para seguí-los com atenção – desta feita puxávamos os animais com as cordas e íamos a pé, quando na frente surgira uma gruta de Nossa Senhora de Copacabana, a padroeira da Bolívia, mais uma das estrelas da manhã – despontava-se à imagem da fé viva na Virgem Maria em muitas pessoas que rezavam ali ao redor e elas agradeciam pelas bênçãos recebidas.

     Paramos para rezar um pouco também e beber da água de uma fonte natural e cristalina que ficava abaixo da gruta.

     Reparávamos que aquela gente tinha muita fé em Nossa Senhora e uma delas se curvava no chão ao fundo e louvava vivamente:

     — Obrigada advogada por trazer o meu filho de volta! – Obrigada rainha da misericórdia por me conceder esta graça! – Obrigada senhora por pedir ao Nosso Senhor! – As pessoas ovacionavam, choravam de alegria e emoção!

     Yashimin Zara via que tudo ficava muito mais claro e, a partir daquele momento, compreendeu porquê aquelas pessoas não rogavam diretamente a Deus, preferiam rezar para a Virgem Maria – algo que sempre se indagava no dia a dia.

     O Senhor concederia tal graça através da Virgem representada por Nossa Senhora de Copacabana – a padroeira da Bolívia – porque sabia da humildade daquele povo – concluía.

     O povo rezava:

     — “Ave Maria” – lembrando, sempre, do anjo da anunciação – “cheia de graça, o senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus” – reafirmavam – “Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém” – quando, desta feita, clamavam, pedindo ajuda – o povo solicitava à mãe de Deus pela graça dela ser a escolhida e a preferida entre as mulheres – o povo pedia como se pede a uma irmã querida, rogava à Maria porque ela é mãe de Deus. Aquele que foi, é e será para sempre “O Todo Poderoso” – quem sabe, através dela, eu do povo, um pobre pecador mortal, Ele ouviria – deste modo, assim, pensavam os fiéis daqueles tempos e daquelas regiões – julgavam-se não dignos de pedirem diretamente a Deus, nem por Jesus, porque Eles seriam poderosos: reis e príncipes – demais para eles, não ousariam, tamanha a humildade – era como eles se sentiam – quando preferiam apelar para a Virgem Maria – ser humano, política conciliadora, matriz viva e corporal de Deus – Nossa Senhora seria a íntima confidente – eles se sentiriam mais à vontade em recorrer p’ra maternidade divinal!

     Seguimos o percurso e as nuvens se fechavam mais e mais, enquanto o frio aumentava.

     As nuvens confundiam os nativos do peito abaulado que não nos perseguiriam mais, por enquanto, visto que, ao chegarem na ponte flexível de cabos de aço e madeira, desistiriam, porque aquela ponte não tinha segurança mais – estava interditada pelos monstros das montanhas que ali passavam, quando nós havíamos nos escondido atrás das grandes árvores por um atalho desconhecido.

     Finalmente, chegamos na cidade mística! Arraial das Sementes, cidade tão bela e tão carismática! – O lugar é um santuário inundado de energia Divina!

     É uma cidadezinha nos entremeios da Bolívia com uma população de dois mil trezentos e cinqüenta e três habitantes no meio rural e sete mil seiscentos e trinta e seis na área urbana, segundo o último censo da década de cinqüenta deste século XXI.

     A cidadela tem um encanto fascinante e uma peculiaridade interessante, onde a maioria de seus habitantes serve direta ou indiretamente ao Templo de Heron que fica enquadrado dento dela num circunscrito círculo.

     Fomos até o trevo rotatório da cidade, quando um dos guias nos alertou:

     — No Heron existem quatro grandes muralhas e cada muralha tem seu próprio nome com seus três portais – à direita entraremos pelo muro leste, à esquerda pelo do oeste, à frente o do norte e atrás pelo do sul – fica à escolha – não, há prioridades – apenas, vão precisar dos códigos para acionar os portões.

     — Vamos pelo norte – pelas muralhas do “Homem Cósmico e Verdadeiro” – eu dizia, por já ter vindo ao Heron.

     Cansados da viagem e excitados por tamanha dimensão vimos à muralha norte do Templo – eu tinha a minha senha para abrir um dos portões – os guias não entrariam mais, a partir daquele momento, eles ficariam do lado de fora para descer nossas bagagens e voltarem para suas casas – apenas eu, o jovem indígena e Yashimin Zara, seguíamos ao encalço do portão – digitava nos teclados do controle remoto o meu número e abria-se o portão do centro, a partir dali, ele ficaria aberto por algum tempo, o suficiente para descarregar e conduzir nossos pertences – tão logo, atravessávamos o portal, despedíamos e agradecíamos nossos guias e fechava o portão, mediante o código.

     Uma câmara nos televisionava dentro de um vão que ficava entre o muro de fora e um outro de dentro, construído de maneira a formar um largo cercado para nos identificarmos – neste muro havia três bandeiras se desfraldando e eram bandeiras vermelhas com um losango azul marinho e um peixe dourado no meio – cada bandeira pertencia a uma ordem dos cavaleiros messiânicos do Templo de Heron.

     Identificava-me, desta feita, por um cartão magnético que passava pela segunda porta, onde também teria que digitar meus números – abria-se esta porta e, em seguida, saíamos numa sala menor com uma terceira porta onde, desta feita, nós três teríamos que colocar as palmas de nossas mãos sobre uma bandeja metálica fixada na parede, aguardar alguns instantes até que acendesse uma luz verde acima, avisando que teria sido conferida a digital de cada um – assim foi feito, quando passamos afinal.

     À medida que íamos nos afunilando para o interior daquele ambiente, chegávamos no final, onde nós teríamos que cortar um pequeno fio de cabelo ou um pedaço de unha com uma pequena tesoura colocada à disposição em cima de uma mesinha de mármore, em seguida, colocávamos os fragmentos de cabelos, cada um em tubos metálicos esterilizados que os conduziam para dentro de um cano para o segundo andar. Dentro de cinco minutos voltavam pelos mesmos tubos as confirmações dos nossos DNA – tudo havia sido checado perfeitamente e eu teria finalmente, a permissão de acesso – eu, Yashimin Zara e o rapazinho na condição de meus convidados – poderíamos entrar, tranqüilamente, quando se abriria, finalmente, a porta para um largo corredor que iria terminar numa das basílicas do Templo.

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III – O Templo de Heron.

 

     Ao adentrarmos, finalmente, verificamos o que eu já tinha visto, confirmando o que sempre ouvira falar: O Templo de Heron é enorme e mágico!

     Cercado por quatro grandes muralhas retangulares que medem, cada uma, cinco mil metros de comprimento, quatro metros de espessura e seis metros de altura, ele contém no lado de dentro quatro basílicas voltadas para o centro onde está um oráculo em forma de pirâmide: “O Oráculo do Heron”.

     No Oráculo do Heron iremos encontrar, em cada uma das quatro faces da pirâmide, as respectivas câmaras secretas que nada mais são que estúdios de telecomunicação, onde dispostos num painel ao fundo estão fios e cabos especiais conectados a rádios transmissores, computadores, televisão e outros meios de comunicação eletrônica.

     Todavia, aqueles equipamentos se interligam a antenas transcendentais cujos objetivos são de receber misteriosas ondas de campos magnéticos e metafísicos das forças espirituais de onde procedem periodicamente comunicações verbais de anjos, entre espíritos e outras espécies do gênero celestial.

     Do Templo de Heron emana sabedoria para o mundo exterior e nestes meados do século XXI impera a doutrina do apocalipse, quando o mundo precisa muito de calma e sapiência, onde ocorrerá o maior evento dos séculos – a confederação dos cavaleiros messiânicos!

     Só se falam em apocalipse, em toda parte, em todo lugar, nas ruas, nos bares, nas universidades, nos lares, nas bibliotecas, assembléias religiosas e entre descrentes ateístas, agnósticos capitalistas e velhos bolchevistas, partidos políticos e instituições federais, autoridades eclesiásticas, civis e militares, governos e ministérios, só se falam na ignomínia de alguns homens que vão levando o mundo ao fim.

     A mídia passa grande parte de seu tempo divulgando a expectativa do fenômeno apocalipse e os monstros das montanhas continuam a aterrorizar os povos da América Latina.

     Dentro da Cidade Arraial das Sementes, os seus moradores vão e voltam ao templo, identificando-se pelos portões, ora como visitantes, ora como servidores, tranqüilos como se nada estivesse ocorrendo e eles tinham consciência absoluta do que estava acontecendo.

     Ouviam rádio, viam televisão, muitos eram “internautas dos templos”, portanto, não estariam alienados a respeito da turbulência e do bramido do mar de ondas apocalípticas.

     Além do mais, tinham ali tão perto, o maior líder espiritual do século XXI, Heron Domingues de Castelonha que os alertava a toda hora, sobre a construção do mundo.

     As muralhas do templo foram construídas com blocos de pedras, montados, simetricamente justapostos, pela arte de um mestre de obras Inca. Pedras pesadas, maciças e artesanais, cortadas e enumeradas, em blocos com dois metros de largura por um metro de altura.

     Cada muralha tem três pórticos: um ao centro, outro à direita e um terceiro à esquerda.

     De acordo com os pontos cardeais, distingue-se a muralha do norte, do sul, do leste e do oeste, cada uma com os seus três portais e compartimentos nos pontos colaterais.

     Na muralha do norte nos depararemos com os seguintes dizeres acima dos portais: “Homo Sapiens Sapiens, Cósmico e Verdadeiro”.

     As letras inscritas por artífices eram folheadas a ouro.

     As portas são de bronze enfeitado com uma seqüência de bolas brancas peroladas no centro, imitando colares de pérolas do fundo do oceano Pacífico.

     Ao se abrirem às portas, centrais de identificação, imediatamente, as pessoas passam para dentro de um corredor de seis metros de largura por uma extensão de duzentos metros de comprimento.

     O corredor lateralmente é aberto pelos dois lados delineando-se vãos entre colunas de blocos de pedras.

     As colunas apóiam as estruturas da cobertura de telhas de cerâmica que em duas águas vão descaindo para constituírem um beiral de um metro e meio a fim de proteger os transeuntes das chuvas.

     Nos vãos entre aqueles pilares existem vasos de cerâmica enfeitada com arte indígena, plantas ornamentais e flores silvestres dos Andes e entre aqueles vãos havia um espaço de cinco metros.

     O piso do corredor fora assentado em nível com pedras do tamanho de um paralelepípedo.

     Seguindo adiante por este corredor, finalmente se chega à basílica, enorme, oval, com uma cúpula lá em cima a trinta e dois metros de altura.

     A basílica ligava-se ao corredor mediante um grande portão de madeira feito de mogno do Brasil.

     Fixando-se os olhos para o topo da cúpula, no interior da basílica, vê-se belas pinturas espirituais da Santa Madre Maria, mãe de Jesus, simbolizando suas aparições nas mais diversas regiões do mundo.

     A basílica é arejada mediante vitrais em mosaicos coloridos que mostram diversos aspectos da vida da mãe de Jesus e sua participação afetiva, vivendo toda sua dedicada vida entre os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos representados no “Santo Rosário!”.

     A construção da cúpula está sobre enormes colunas de pedras que alojam alas em forma de naves assim denominadas:

     “Nau N.S.ª de Lujan, mãe dos argentinos; Nau N.S.ª de Copacabana, mãe dos bolivianos; Nau N.S.ª dos Trinta e Três, mão dos uruguaios; Nau N.S.ª de Caacupé mãe dos paraguaios; Nau N.S.ª do Carmo, mãe dos chilenos; Nau N.S.ª de Chinquinquirá, mãe dos colombianos; Nau N.S.ª do Quiche, mãe dos equatorianos; Nau N.S.ª do Rosário, mãe dos guatemaltecos; Nau N.S.ª de Coromoto, mãe dos venezuelanos; Nau N.S.ª de Suyapa, mãe dos hondurenhos; Nau N.S.ª de Guadalupe, mãe dos mexicanos; Nau N.S.ª das Mercês, mãe dos peruanos e Nau N.S.ª da Aparecida, mãe dos brasileiros” .

     Além daquelas naves, havia mais quinze outros pequenos oratórios a Nossa Senhora, rainha e mãe da América Latina! Dizem os católicos que Maria mãe de Deus está com seu espírito presente em todas as igrejas católicas e guarda com sete chaves os segredos deste mundo que serão abertos um pouco antes da abertura do “Livro da Vida”.

     Aqueles magos afirmam que os séculos não se consumiram ainda porque a parte materna e sentimental de Deus representada nas entidades de Santa Madre Maria e do Seu filho Jesus, respectivamente, seriam extremamente sensíveis em relação às boas famílias existentes na humanidade – ela e o Seu filho todos os dias rogam por nós mediante o Pai, visto que, Eles se valem da própria edição humana do gênero divino.

     Os pórticos laterais desta muralha norte abriam-se a aposentos com diversos tipos de apartamentos, refeitórios e jardins interiores, delicadamente enfeitados com flores, diversas plantas ornamentais, gramados, açudes e aves de florestas equatoriais.

     As pessoas se encontravam com padres, bispos e arcebispos transitando por ali – deparávamos com irmãos de outras religiões cristãs, caridosos leigos credenciados que aperfeiçoavam seus estudos bíblicos, avançando na teoria da fé cristã.

     Todos eram aprendizes, cada qual em seu nível de evolução espiritual, todos vinham para o Heron, cada qual em sua religião, a fim de estudar nesta ala norte as pesquisas da “Faculdade de Teologia e Estudos Bíblicos Avançados”.

     Havia vários cursos de reciclagem programados para este ano.

     Quem entrasse pela outra muralha do sul encontraria, também, os seguintes dizeres acima dos portais: “Deus de Israel Espiritual, Santo e Efusivo”.

     À semelhança da muralha do norte, após as portas e as centrais de identificação, também havia um corredor com as mesmas características do outro que vai seguindo rumo a uma outra basílica cuja cúpula enorme na altura de trinta e dois metros têm pinturas magistrais de temas sobre as doze tribos de Israel com suas respectivas bandeiras: “Tribo de Judá, Tribo de Ruben, Tribo de Gad, Tribo de Aser, Tribo de Neftali, Tribo de Manassés, Tribo de Simeão, Tribo de Levi, Tribo de Issacar, Tribo de Zabulão, Tribo de José e Tribo de Benjamim”.

     Esta nova basílica com seus vitrais de mosaicos coloridos simbolizava aspectos interessantes da história do povo Judeu.

     Mostrava no fundo do painel toda a saga daquele povo até aos dias atuais, inclusive fatos não muito remotos com pouco mais de cem anos atrás, como os campos de concentração nazista, retratando suas vítimas, heróis e libertadores.

     A construção da cúpula estava sobre enormes colunas que alojavam naves assim denominadas: “Nau Abraão, Nau Isac, Nau Jacob, Nau Enoc, Nau Elias, Nau Eliseu, Nau Moisés e Nau Noé, inclusive mais quinze outros pequenos oratórios em honra às gerações de patriarcas e heróis bíblicos”.

     Os Judeus comentavam entre si que seus velhos patriarcas estiveram no meio do povo de Judá para ajudarem nos combates decisivos durante a segunda grande guerra mundial para libertar o mundo do jugo de um “anti-Cristo” germânico, inclusive, os espíritos de Moisés e Abraão estariam vivos e presentes em batalhas definitivas, desde aqueles dias até aos de hoje em Israel, pelas sinagogas, para defender-nos dos ataques das trevas porque são cidadãos do mundo.

     Dizem outros ainda que as riquezas do povo Judeu são heranças que Deus doara a Abraão tornando-o extremamente rico e com uma numerosa descendência espalharia toda sua fortuna nas mais diversas nações do mundo – os números dos filhos de Abraão, legítimos herdeiros de Israel, só se equiparariam aos números das estrelas e das areias do mar e se eles fossem realmente enumerados desde a primeira geração até as gerações espirituais de Israel nos dias de hoje, estariam espalhados pelo mundo afora sem distinção de raças e nações!

     Os pórticos laterais desta muralha do sul abriam-se como os outros a aposentos de diversos tipos de apartamentos, refeitórios e jardins interiores enfeitados com jarras e flores, plantas ornamentais como se fosse um jardim imperial, gramados e piscinas naturais, embelezados por aves de beleza tropical – encontram-se ali os mais diversos cavaleiros das ordens messiânicas deste mundo e entre eles, padres, bispos e arcebispos, pastores evangelistas, rabinos judeus e cristãos, ortodoxos e progressistas, espíritas e médiuns kardecistas.

     No lado de dentro desta muralha do sul estava inserida a “Academia de Estudos Cósmicos Avançados” e aqueles estudiosos aperfeiçoavam seus poderes e magias num treinamento básico, pessoal e intensivo para atender a demanda mística do dia a dia.

     Mais adiante na muralha leste retangular, encontrávamos ainda os seguintes dizeres em cima de seus portais:

     “Santos e Profetas”.

     À semelhança também das outras duas muralhas, no final do corredor dos portões de reconhecimento, depararemos com uma terceira basílica com outra cúpula de trinta e dois metros de altura.

     No seu cimo visto de baixo e por dentro como eram vistas as demais pinturas das outras basílicas, havia o tema dos grandes profetas e seus cajados:

     “Profeta Isaías, Profeta Jeremias, Profeta Baruc, Profeta Ezequiel, Profeta Daniel, Profeta Ozeias, Profeta Joel, Profeta Amós, Profeta Abdias, Profeta Jonas, Profeta Miqueias, Profeta Nahum, Profeta Habacuc, Profeta Sofonias, Profeta Ageu, Profeta Zacarias e Profeta Malaquias”.

     A basílica, também, arejada por vitrais de mosaicos coloridos, simbolizava aspectos das grandes profecias estampando a vida daqueles profetas com a arte barroca e a expressão herdada do mestre Aleijadinho, importado do Brasil.

     A construção do zimbório foi feita em cima de enormes pilares de pedras que alojavam naves assim denominadas:

     “Nau São Mateus, Nau São Marcos, Nau São Lucas, Nau São João, Nau São Paulo, Nau São Pedro, Nau Santo André e Nau São Tiago; e mais quinze outros pequenos oratórios aos santos evangélicos e outros discípulos do senhor!”.

     Os evangelistas afirmavam que o fim do mundo estava próximo, realçando o movimento atual, ratificavam o tema dizendo:

     — Quando estivermos andando a pé ou de veículos ou até mesmo parados, seremos arrebatados às alturas dos céus para sermos julgados, não importa como ou onde quer estejamos, dormindo ou acordados, nos campos ou nas cidades, mortos e ressuscitados, bastará apenas estarmos vivos, vindos da terra ou do fundo do mar, deitados, em pé ou sentados.

     Outros afirmariam ainda que o apocalipse já não estava mais próximo, visto que, já estaria existindo onde já o estaríamos vivendo, no presente momento, indubitavelmente, através de muitos dos seus sinais sucederem-se a nossos olhos vistos.

     Os pórticos laterais desta muralha abriam-se também como as outras em aposentos com diversas espécies de apartamentos, refeitórios e jardins interiores cuidadosamente enfeitados por plantas ornamentais e até medicinais, gramados, viveiros com peixes coloridos e aves tropicais.

     Diversos cavaleiros das ordens messiânicas transitavam por ali e entre aqueles bispos, arcebispos, cardeais e pastores evangelistas andavam também sacerdotes de igrejas espíritas.

     Todos estavam estudando novos grupos de magias e profecias na “Escola Oráculo das Profecias Superiores” localizada no interior desta ala do Templo de Heron.

     Finalmente, na muralha oeste, da mesma forma que as outras se encontravam os portões centrais, feitos de bronze e enfeitados de bolas peroladas, com os seguintes dizeres em letras de ouro:

     “O Alfa e o Ômega”.

     À semelhança das muralhas anteriores, no final do corredor que nascia do portão do centro, encontrava-se uma quarta basílica, também de abóbada colorida, localizada a trinta e dois metros de altura onde se via, do lado de dentro, olhando de baixo para cima, enorme painel com diversas pinturas geniais no teto, imagens extraordinárias da árvore genealógica de Nosso Senhor Jesus Cristo – primeiro o Deus Pai, configurado como a um velho patriarca, onipotente, sábio e criador do mundo, de cabelos e barbas brancas, sereno, vigoroso e eterno, inspirado nas pinturas de Michelângelo, como ao “grande ancião” que visita a minha alma – em seguida lá estavam gravuras espetaculares de diversos “Homens Cósmicos” abaixo, direto da linhagem divina e entre eles:

     “Adão, Set, Enós, Cainão, Maleleel, Laret, Enoch, Matusalém, Lameth, Noé, Sem, Arfaxad, Cainão, Salá, Eber, Falec, Ragau, Seruch, Nacor, Tará, Abraão, Isaac, Jacob, Judá, Farés, Esrão, Arni, Admin, Aminadab, Naassão, Salá, Boozi, Jobed, Jessé, David, Natão, Matatá, Mená, Meleá, Eliacim, Jonão, José, Judá, Simeão, Levi, Matã, Jorim, Eliezer, Jesus, Er, Elmadão, Cosão, Adi, Melqui, Neri, Salatiel, Zorobabel, Resá, Joanã, Judá, Josech, Semeim, Matatias, Maat, Nagai, Esli, Naum, Amós, Matatias, José, Janei, Melqui, Levi, Matat, Heli, José e finalmente Jesus”.

     A basílica, como as outras também eram arejadas mediante vitrais geometricamente ovalados e pintados formando coloridos mosaicos que simbolizavam aspectos das gerações carnais e espirituais de Nosso Senhor Jesus Cristo.

     Os da religião espírita, tanto kardecistas como de outras ramificações do espiritismo, entre eles, médiuns mágicos e astrólogos naturalistas, estudavam teoremas tentando provar que Jesus Cristo fora o exemplo típico da reencarnação do mesmo Deus do ocidente, assim como o mesmo Deus que se reencarnou entre deuses africanos e orientais.

     A procura da verdade mais do que em qualquer outro tempo seria incessante...

     Os monstros das montanhas prosseguiam em voltear o povo lá do lado de fora nos horizontes das torres de catedrais.

     Na realidade, o que se sabia de concreto era que aqui de dentro do Oráculo do Heron havia gente do meio das rodas místicas de Israel que pertencia à árvore genealógica, consangüínea e verdadeira de Jesus – procedentes daquela família real e carnal através da descendência dos tios e primos de sangue dos pais do Redentor.

     Todavia, a santidade deles não seria pelo sangue, nem pela genealogia.

     A santidade fora herdada por tradição do subconsciente cósmico, espiritual, eterno e coletivo.

     Na verdade pais, irmãos, primos e sobrinhos de Cristo são todos aqueles que irmanados espiritualmente ouvem as suas palavras e às põem em prática.

     Muitos esotéricos afirmariam, ainda, que Maria e José continuariam a procriar em suas vidas mais filhos que seriam irmãos e irmãs carnais de Jesus.

     A cúpula desta basílica também estava sobre grandes colunas de pedras que alojavam oito naves assim denominadas:

     “Nau Josué, Nau Samuel, Nau Esdras, Nau Neemias, Nau Tobias, Nau Judite, Nau Ester e Nau Job; e mais quinze outros pequenos oratórios levantados aos grandes personagens das histórias bíblicas”.

     Os pórticos laterais desta muralha oeste, tal qual as outras, também, se abriam a aposentos com diversos modelos de apartamentos, refeitórios e jardins interiores delicadamente enfeitados com flores e plantas medicinais, árvores ornamentais, gramados, lagos de peixes coloridos e viveiros com aves das mais diversas espécies amazônicas e do pantanal mato-grossense.

     Muitos cavaleiros das ordens messiânicas iam e vinham por ali, procurando respostas e estudando teorias múltiplas e apocalípticas junto aos padres, pastores evangelistas e as mais diversas linhas espiritualistas.Vinham reciclar suas magias e aperfeiçoar as mensagens que recebiam das profecias no interior desta ala oeste, onde se encontra o “Colégio de Códigos e Segredos das Interpretações das Palavras Divinas” que neste milênio se manifestariam à vontade, constantemente, obedecendo aos ciclos da histórica profecia.

     As quatro basílicas tinham suas cúpulas voltadas para o centro do pátio orientado para receberem mensagens dos anjos dos quatro ventos dos Andes.

     Circunscrita entre as quatro muralhas dos pontos cardinais, exatamente do seu eixo, elevava-se o centro do “Oráculo do Heron” como a um ponteiro de uma bússola: Precisamente ele era uma pirâmide de setenta metros de altura, onde seu agudo vértice funcionava como um centro de telecomunicação transcendental através de uma antena metafísica que se comunicava com Orion, a constelação sagrada, onde estava o quartel general dos mais altos comandos dos céus, morada dos anjos, arcanjos, querubins e serafins de toda milícia celestial.

     Enfim, todo aquele complexo sagrado de construções era denominado de “Templo de Heron”.

     — O inconsciente coletivo já foi simbolizado certa vez por determinados corredores, saindo destes portais e com círculos como os daqueles vitrais, tais símbolos mostram a totalidade da psique de todos os humanos de nosso tempo – desenhava Yashimin Zara a arquitetura do templo e continuava, num papel vegetal, copiando o memorial descritivo das cúpulas das basílicas, indicando a extrema e total integração de todas as religiões atuais, lá dentro deste patrimônio místico – calculava o psicanalista e após visitar as basílicas monumentais, as portas e portais destes templos, ele concluía – só os primeiros contatos com o ambiente cósmico permitiria projetar a planta desta construção, onde a mente de nosso Deus se abriria eterna e coletiva – matematicamente, descrevia seus cálculos de psicofísica e dizia – nunca a humanidade experimentou tamanho sentimento de cosmicidade – afirmava.

     Por outro lado, a antena do Heron já havia recebido sinais da “Arca da Aliança” um dia, todavia, perdera imediatos contatos, segundo Heron, ainda não era o tempo da grande comunicação universal.

     O acesso para a Cidade Arraial das Sementes seria um tanto difícil de se imaginar, muitas vezes enigmático por caminhos até misteriosos através de contatos estranhos com outro tipo de gente, como pudemos detectar, porém, alguns agnósticos, preconcebidamente, duvidavam – o lugar não tem nada disso não! É tudo um engodo – nada mais do que um imenso monumento erguido ao mundo místico e esotérico naquelas imediações da América Latina – contestavam.

     Naquele lugar, além da magia, tem, realmente, um aparato tecnológico efetivo, porém, desconhecido pela maioria do público – poucos tinham ingresso às tecnologias avançadas do Heron, como alguns cavaleiros daquelas ordens messiânicas conhecidas como a Ordem dos Cavaleiros de Melquisedeque, Cavaleiros da Ordem Santo Sacra e Cavaleiros da Ordem Andina – os artefatos eram tão sigilosos que nem o povo que servia ao templo desconfiava da sua existência, nem mesmo seus servidores, nem seus visitantes, nem os alunos mais estudiosos do Templo de Heron – jamais alguém teria ouvido um boato a respeito da existência de tais projetos tecnológicos que eram restritos apenas àqueles cavaleiros.

     A principal estrada de aproximação à Cidade Arraial das Sementes procederia de uma outra cidadezinha denominada Cidade Alta da Serra acima que está localizada a poucos quilômetros do município de Sagüi-piranga, bem depois de Cochabamba na Bolívia e um pouco abaixo da Cordilheira dos Andes Real e Oriental.

     Da Cidade Alta da Serra, ao longo de sua estrada que desce rumo à Cidade Arraial das Sementes, surgem duas pequenas aldeias de onde se vêem o agudo vértice da pirâmide do “Oráculo do Heron”.

     Os limites da Cidade Arraial das Sementes estão entre aqueles dois pequenos povoados denominados de Aldeias Gêmeas, a cidade Alta da Serra e o município de Sagüi-piranga à esquerda, bem depois da Cidade de Cochabamba.

     A localização geográfica da cidade do templo era no fundo daquelas aldeias gêmeas quase que escondidos entre a Cidade Alta da Serra e o município de Sagüi-piranga, visto que, o local era oculto por enormes árvores encopadas no meio dos gigantescos girassóis dos Andes.

     Todavia, o vértice da pirâmide sempre despontava no meio daquela imagem florestal avistada um pouco antes ao longo das estradas de chão.

     O povoado da Cidade Arraial das Sementes era formado por índios, crioulo latino sul americano e alguns milionários estrangeiros de várias nacionalidades do mundo inteiro que ali se aportavam para respirar o ar puro e captar a energia cósmica dos cristais das montanhas.

     A profissão da maioria daquela gente, quando não servidores do Templo de Heron, eram lavradores, pecuaristas e alguns aposentados como ex-mineradores devido a uma extinta mina de prata a dez quilômetros do local.

     O resto do pessoal seria místico. Esotéricos e muitos pesquisadores da filosofia apocalíptica passavam a maior parte de seu tempo em jejum e a meditar entre as árvores, nos caminhos das pedras e cascalhos, cachoeiras e cascatas, nos atalhos e pequenas trilhas e pontes às margens de rios, córregos e lagoas azuis, caminhando pelas estradas de chão e dormindo em cabanas semi-abandonadas, esperando o dia da chegada do Senhor, naqueles lugares próximos ao Templo de Heron.

     Os moradores da Cidade Arraial das Sementes seriam até certo ponto um tanto quanto desconfiados da presença daqueles estrangeiros por perto porque constituiriam uma pequena sociedade fechada às influências exteriores e muito voltada ao Templo de Heron.

     Entre a Cidade Alta da Serra, os dois povoados, o município de Sagüi-piranga e a Cidade Arraial das Sementes, passa um rio denominado de “Rio de Todos os Santos” que tem poderes miraculosos de cura, onde diversos coxos, paralíticos, surdos, mudos e peregrinos doentes do mundo inteiro já haviam se curado.

     Todavia, tais fenômenos só ocorreriam inesperadamente se os anjos dos Andes ao enviarem mensagens ao Oráculo do Heron, provocassem torvelinhos no ar e conseqüentes ondulações sobre as superfícies d’água daquele rio.

     Quando alguns enfermos de boa sorte, coincidentemente mergulhassem no rio, naquelas raras ocasiões, evidentemente, se curavam de suas doenças.

     Deficientes do mundo inteiro ficavam à espreita dos ventos messiânicos, ali, noite e dia, semana após semana, meses a fio e muitas vezes, alguns, anos após anos a esperar sua chance de cura.

     As chances eram mínimas, mas às vezes aconteciam.

     O rio milagroso entre aquelas grandes cadeias de montanhas penetrava e fazia fendas, abrindo imensas gargantas e formando extensos vales que, planos, foram denominados de “Vales dos Santos Anjos”, onde a terra era fértil e os agricultores plantavam grandes áreas de lavouras de milho e batatas.

     Do Templo do Heron se avistam os santuários das altas montanhas da Cordilheira Real, fantásticas florestas de nuvens acima e florestas tropicais abaixo, no sopé das montanhas, quase na raiz das fronteiras Brasil e Bolívia.

     O Oráculo do Heron é um ponto estrategicamente mágico, sublime, fotográfico, com paisagens onde o cenário arrebol faz da cena campestre, santa e efusiva:

     De lá onde avistamos quase todas as cordilheiras vulcânicas possíveis e imagináveis que, com a imaginação a olhos vistos, voltados para fora, vemos imagens intransponíveis como a frente e o verso do perfil tectônico das cadeias de montanhas e o leito de seus rios subterrâneos, lagoas azuis e córregos cristalinos – avistamos a frente e o verso das plantas selvagens, sua morfofisiologia arquitetônica exibindo seus quanta planctônicos em plena atividade energético-botânica, processando fotossíntese em imagens alucinantes e semelhantes às cores de um caleidoscópio virtual, de maneira que, os florões das vestes reais mais luxuosas dos magnânimos reis da Babilônia, frente àqueles campos floridos, mesmo com todo o resplendor da suntuosidade estampada na roupagem real de seus tecidos, enfeitada por jóias, cobertos de sedas, ouro e aveludados coloridos, mediante aquelas flores nativas jamais se assemelhariam – vê-se cenas silvestres de beija-flores dos Andes e outras aves multicoloridas, animaizinhos e plantas rupestres, musgos aveludados até aos limítrofes horizontes.

     Lá reside o grande mestre espiritual do século XXI – Heron Domingues de Castelonha – lá está o seu santuário:

     O “Oráculo do Heron!”.

     Místicos, gente, de todas as fé e religiões, astrólogos, esotéricos especialistas e agora, até psicanalistas que se identificam, vão ao Heron.

     Quando não vão pelo muro norte dos portais inscritos “Homo Sapiens Sapiens, Cósmico e Verdadeiro” com acesso à Faculdade de Teologia e Estudos Bíblicos Avançados, vão pelo muro do sul pelos portais de “Deus de Israel Espiritual Santo e Efusivo” até a Academia de Estudos Cósmicos Avançados.

     Quando não vão pelo muro leste dos portais estabelecidos como portais dos “Santos e Profetas” rumo à Escola Oráculo das Profecias Superiores, vão também pelo muro do oeste aos portais denominados de “Alfa e Ômega” com ingresso ao Colégio de Códigos e Segredos das Interpretações das Palavras Divinas.

     Heron está aberto para o coração do mundo religioso e místico.

     Não só aos místicos, autoridades eclesiásticas e episcopais, mas a todos aqueles inseridos na fé cristã e a todos que procuram do infinito a perfeição para a razão de uma nova ordem na civilização que virá para a sua finalidade cósmica e apocalíptica.

     O Templo de Heron está cravado nos corações de quem tem fé no invisível e nos mais altos horizontes dos céus da própria pessoa que o vê, através dos seus mais nobres e verdadeiros sonhos.

     As basílicas do Templo de Heron são decoradas com fatos históricos exercidos pela mais sagrada nobreza de personagens bíblicos.

     As “Naus” das basílicas são verdadeiras embarcações singrando ao porto seguro da fé no desconhecido.

     No Templo de Heron e no seu Oráculo estão gravuras e painéis que descrevem toda a magia da construção do universo.

     — Aqui existe uma grande energia dos símbolos cósmicos – afirmava Yashimin Zara, o analista.

     O Templo de Heron se preparara para a confederação dos cavaleiros messiânicos...

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IV – O Gênesis, segundo a solidão e o tédio Divino.

 

     Várias pessoas se apresentam no Oráculo do Heron:

     — Chamo-me Ripercuro Saulo, iniciei na missão há quinze anos.

     — Sou Aníbal Moreno Andrades, comecei há dez anos.

     — Chamo-me Sara Gustes França, tenho cinco anos de iniciação.

     — Meu nome é Sulía Fernandes Mascioto, tenho vinte anos de missão.

     — Inscrevi-me na missão há um ano e meio e meu nome é Margô Madras da Santíssima Trindade.

     — O meu nome é Rafael Lopes Mesino, estou na missão há dez anos.

     — Chamo-me Carlos Álvares Quintino Borges de Menezes, iniciei na missão há mais de vinte e cinco anos.

     — O meu nome é Pedro Gusmão e Maria Gusmão é minha esposa, estamos juntos na missão há uns três meses.

     Entre eles estava eu! – Alistei-me também nesta missão precisamente há um ano e meio e hoje é meu batizado – apenas uma solenidade batismal estava acontecendo e nesta oportunidade todos os amigos e irmãos se apresentavam testemunhando aquele sagrado ato – estava presente também o meu convidado especial, doutor Yashimin Zara, o homem de todas as profissões que naquela oportunidade, após anos de estudos de psicanálise, desenvolvera várias teses de doutorado, sendo agora, por ultimo, a respeito de um projeto de psicofísica nas novas seitas esotéricas e teorias místicas dos povoados da América Latina – já éramos trinta e dois membros das comunidades sagradas e eu estou sendo o último a ser batizado.

     O jovem nativo não poderia participar daquele evento, teria que ficar com jovens de sua idade e participar da iniciação do Templo, antes mesmo de conhecer, pessoalmente, Heron Domingos de Castelonha que só conhecia mentalmente.

     Todos entravam há poucos instantes naquele recinto com vestes brancas e sacerdotais.

     Mergulhara na piscina de águas correntes e cristalinas, quando me deparei no fundo destas águas com imensa luz, jamais vista anteriormente pelos meus olhos – ao soerguer-me das águas todos clamaram concomitantemente:

     — “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!”.

     Batiam palmas, jogavam flores e libertavam pombas brancas que se esvoaçavam ao redor do Oráculo do templo.

     Entre balões coloridos que subiam aos céus e os fogos de artifícios, sentia uma das maiores emoções da minha vida!

     Enquanto as solenidades batismais prosseguiam...

     Indivíduos dementes e diabólicos saíam das abissais cavernas vulcânicas das Cordilheiras dos Andes, Selvas da América Central e Rochas da Sierra Madre, visto que, saíam de dentro dos pântanos da “Mãe Terra”, escorrendo lamas pelo corpo, espalhando cinzas e sinistras imagens de colossais motocicletas com poderosas cilindradas e elas faziam manobras à semelhança dos exercícios militares destinados às “Batalhas do Armagedom” que eram executadas pelos exércitos de Miguel Arcanjo, comandante supremo das legiões de anjos, acima do sétimo céu cosmogônico, mas, não eram eles – eram os monstros das montanhas se aproximando!

     Aquelas manobras só se comparariam aos treinamentos das milícias celestiais, executadas pelos anjos dos sete flagelos do apocalipse que treinavam para o grande e terrível dia do Senhor, entre petardos e meteoritos, preparavam-se explodindo pedreiras na terra e no ar, na água e no fogo que chispavam para todos os lados e sentidos na décima galáxia, eqüidistante, a sete anos-luz da Terra.

     As notícias rolavam e rolavam pela mídia eletrônica e feito um rodamoinho ciclônico espalhavam imagens de terror e genocídio para os nossos nervos óticos e auditivos que captavam também para a memória, a loucura do estridente ruído daquelas máquinas mortíferas a levar ao pânico e desespero às famílias das populações urbanas e rurais da América Latina.

     As “motocriaturas” vinham matando pessoas e perseguindo velhos, doentes e crianças de famílias desprotegidas e o que era pior! – Ninguém até o momento tinha suspeitado quem seriam tão covardes criaturas...Quando alguns até se perguntariam:

     — Seriam exércitos de “clones” com soldados desumanos a serviço de alguma potência mundial testando novas armas bélicas?

     Enquanto isto, outros afirmariam que eles seriam os próprios demônios do apocalipse.

     O ambiente que me encontrava era puro, extremamente frágil e extraordinariamente “rural belo!”.

     O meu amigo psicanalista acompanhava tudo que acontecia e as suas pesquisas só se enriqueciam.

     As estranhas criaturas motorizadas roncavam e rosnavam feitos animais raivosos, possessos pelo belzebu, ferozmente aguçados à procura de carnes frescas e corações vivos!

     Locomoviam-se livremente como uma força eletrônica, entre fazendas vizinhas no meio das criações, pulando cercas de arames farpados, vencendo obstáculos como se estivessem em disputas de “Super Cross”, saltitantes e acrobáticas, numa pista tortuosa e carregada de objetivos mórbidos!

     Deitavam inclinadas nas superfícies de acidentados terrenos, rolando entre aquelas fazendas, despedaçando pessoas e corações, atropelando-os impiedosamente, adentrando em casas humildes, empinando em velhas paredes, camas e colchões, rasgando-os e trucidando os membros das famílias rurais.

     Ninguém até o momento conseguiria detê-las, nem mesmo as grandes potências mundiais e ninguém reagiria, nem mesmo o mais valente dos soldados mortais. Elas assolavam casais e crianças, tamanho seu poder assassino. Chegavam a arremessá-los contra as paredes, esmagando-os, destroçando inocentes com num desastre de avião. Tornavam-se imponentes na maldade e covardemente destruíam todos os seres humanos que viam pela frente... Dizimavam somente seres humanos e nada mais. Como gladiadores de Roma antiga e imperial, achavam-se donas do mundo inteiro nesta arena impiedosa e cruel – quando não deixavam suas vítimas à mercê da sorte entre a agonia da morte, deixavam-nas esquartejadas, permanecendo nos rastros de violência as poeiras do terror e sangue espalhados nas estradas.

     Os noticiários continuam anunciando as monstruosidades assassinas que mais pareciam sinais dos tempos.

     As notícias televisivas das malditas agressivas eram tantas que, muitas vezes as mais simples imagens de tevê direcionavam a atenção do mundo para a América Latina – o meu amigo analista, Yashimin Zara, aproveitava a oportunidade e gravava no vídeo as notícias que aconteciam.

     As “motos-máquina” voadoras feitas imagem virtual atravessavam em certos instantes as bordas das telas dos vídeos e projetavam-se nas ruas, estradas e fazendas ou até mesmo nas salas domiciliares onde as famílias se reuniam para ver um simples programa de televisão.

     Desta feita, aquelas ondas eletromagnéticas e “motovisíveis” transformavam-se em imagens compactadas e reais, quando uma ou outra motocicleta fazia das emoções de nossas vidas o que quisesse, paralisando-nos nas salas de tevê ou onde estivéssemos, transformando-nos em vítimas fatais como se atropeladas em pistas de rolamento.

     Presume-se que várias pessoas foram trucidadas naquele dia por aquelas ondas eletrônicas dos monstros das montanhas, não só nas ruas, estradas, fazendas, mas no remanso do lar e até o momento, nenhum órgão de defesa civil tomara as devidas providências para mandar o povo desligar seus aparelhos de televisão a fim de cortar aquelas imagens virtuais que se materializavam e se tornavam sinistras, saindo da televisão em sua rota indelével.

     Todavia, de nossa missão brotava a semente da fé e da defesa civil atenta e viva, com o objetivo maior de salvar pessoas, almas e mentes!

     Abria-se em nossa comunidade rural um cenário que até poderia servir como arena para os mórbidos e desumanos “gladiadores” e se não fossem as cerimônias do batizado, a confederação messiânica e as palavras do velho sábio e sacerdote Heron Domingues de Castelonha que alertava toda a congregação, entre incenso e orações, à cerca dos cuidados que a gente deveria tomar com a criação do mundo, todos nós numa hora desta poderíamos estar liquidados de vez pelo magnetismo das máquinas sedutoras, dado ao fascínio daqueles espetáculos na televisão.

     Heron Domingues de Castelonha era antes de tudo um grande amigo, como se fosse pai de todos nós nesta missão e era também cristão, astrólogo e cristalomante, quando todo ano ele se reunia com a gente no “Conselho Mundial de Anciões dos Andes”.

     Por outro lado os pilotos “motoqueiros” até que tinham uma veia heróica.

     Embora suas faces fossem invisíveis, podia-se perceber nitidamente algumas expressões de extremo orgulho pelas vitórias e conquistas com a capitulação de pequenas aldeias indígenas e bairros pobres da América Latina.

     Tais expressões emanavam de dentro dos capacetes sobre suas cabeças... E eram expressões iluminadas pelas sete cores do arco-íris!

     Dos admissíveis monstros pelos quais eram dirigidas aquelas sinistras motocicletas, ninguém via a pele de suas mãos, somente as luvas fluorescentes e coloridas – não se via nem seus pés, somente botas com bico de bronze e feitas de couro de crocodilo – não se via, nem tórax, nem abdômen, somente várias e únicas miragens, correndo unissônica, brilhantes, deslizando soltas e supersônicas sobre as altas cadeias de montanhas das Cordilheiras dos Andes e tudo se via através das inimagináveis telas de televisão que a ciência da telecomunicação fora capaz de inventar nestes últimos tempos.

     Heron de Castelonha, ao encerrar as cerimônias das águas batismais, abria o primeiro dia da confederação dos cavaleiros messiânicos.

     Éramos doze cavaleiros seguindo seus passos na direção da câmara secreta na face norte da pirâmide do oráculo.

     Tal como as outras câmaras o mobiliário era composto, além do painel daquela parafernália eletrônica: um divã, uma pequena mesa com um bloco de anotações acompanhado de régua e canetas.

     Ao lado havia outra mesa maior, centrada para reuniões com quinze cadeiras almofadadas com encostos para braços e costas. Sobre esta mesa maior havia um candelabro com oito velas apagadas.

     Ao fundo, ficava uma única janela com vitrais que davam acesso à luminosidade das ruelas que cortavam o interior das muralhas do templo – o ambiente era refrigerado por ar condicionado central.

     Heron nos dizia a respeito do que ele via em seus espelhos d’água e cristais, por onde observava constantemente o modo pelo qual foi feita toda a criação do mundo – desta feita, Yashimin Zara, se fascinava, se erguia da cadeira e também se aproximava para ouvir e gravar o importante pronunciamento do sábio que dizia:

     — Sim! Literalmente a criação do mundo! Assisti-a como se fosse num filme cinematográfico e vi as imagens do “Gênesis” nos meus cristais tais quais cenas de filme sucederem-se, numa tela, repetidas vezes neste ano – queridos irmãos e cavaleiros das ordens messiânicas! Hoje eu vi! Vi pela primeira vez em minha vida de profeta que algo estranho e terrível está para acontecer! Vi com meus próprios olhos e percebi com toda minha visão que algo vai realmente acontecer! Aconselho a todos – continuava – ouvirem com atenção estas palavras... Porque não são minhas, mas dos santos anjos que me anunciam.

     — O quê de tão terrível Heron de Castelonha teria para dizer? – Será que ele via Deus nos dias de hoje numa visão tão profunda que identificava Suas trevas mais cavernosas e abissais? – Ele, o nosso Deus, estaria tão solitário a ponto de sofrer alguma angústia terrível que demonstraria estar na Sua angústia mais divina e na Sua solidão mais colossal? – Ou chegara finalmente a hora definitiva Dele entornar Seu cálice da ira sobre os homens – perguntava-se nas missões, dada a intranqüilidade e o nervosismo de Heron.

     Na grande maioria das vezes os pilotos “motoqueiros” sobre as motos fantásticas, tal qual cavaleiros de armadura, escudo e espada encenavam os espetáculos à semelhança das lutas medievais da época das cruzadas que se lançavam em impressionantes pelejas, como se fossem batalhas sagradas onde o grande público de hoje ficaria estático, mediante aquele fantástico jogo da pista eletrônica!

     Como entretenimento, as motocicletas derrapavam e escorregavam na nitidez das telas de televisão, atropelando a luz e vazando a retina de nossos olhos – tornar-nos-íamos crianças outra vez idolatrando estes novos “super-heróis” da multimídia na atualidade! Os especialistas em televisão não sabiam nem como iniciar uma crítica conclusiva sobre aquela nova programação exclusiva, que entrava no ar, sem mais nem menos, surpreendentemente, com os “motoqueiros”, pois, estavam perplexos – somente sabiam acusá-los de apagarem suas próprias memórias e enrijecerem seus nervos extenso flexores atrelados aos dedos sobre os teclados de computadores, impedindo-os de escreverem suas próprias histórias, pois, com o enrijecimento das mãos, os poetas ficariam limitados e não conseguiriam expurgar de seus corações o endurecimento e quando finalmente todos seus sentimentos estivessem travados, o nosso mundo estaria perdido, sem música, sem qualquer manifestação de fé, arte ou liberdade.

     Yashimin Zara estava ansioso para conversar com Heron a respeito daqueles mistérios e todos os acontecimentos novos que havia experimentado.

     — Nós da missão para não sermos seduzidos, nem perturbados, deixamos de assistir televisão pelo menos há duas semanas antes deste batizado – dizia Heron – infelizmente, uma boa parte das crianças telespectadoras largaram até suas bolas, patins, bicicletas, para se entreterem com os microcomputadores, fliperamas e videogames de hoje em dia, alusivos às motocicletas televisivas – alguns se esqueceram da sua própria existência, tornando-se eternamente servos da automação eletrônica destes microcomputadores espetaculares de ultima geração – então? – Perguntava, ainda, Heron – dirigindo-se outra vez para os membros da confederação e ao meu analista Yashimin Zara que era todo ouvido – queridos missionários e irmãos das ordens sagradas – continuava – se vocês estão pensando que Deus nunca sentiu angústia em Sua vida – vocês estão muito enganados – afirmava – alguns de vocês já até me protestaram porque Deus, nos seus entenderes, por ter a qualidade de Ser Todo Poderoso, jamais Ele poderia sentir dor ou angústia em Sua vida – polemizava – pois eu já digo ao contrário – prosseguia – o Senhor Nosso Deus é todo Poderoso justamente porque carrega dentro de Si todos os sentimentos, angústias, dor e as emoções das nossas vidas. Nosso Deus é vivo, não é máquina – a angústia de Deus já fora infinitamente colossal e do Seu próprio tamanho, um dia, se vocês quiserem saber... Assim como é até hoje ao ver alguns de nossos irmãos se perderem pelos caminhos das trevas nestes finais dos tempos – argumentava – reafirmando, proferia – hoje eu vi Deus com Sua divina energia às soltas entre as velhas trevas do universo, recapitulando a história do Seu passado, daqueles tempos que Ele andava sozinho sobre as trevas perdidas que cobriam os abismos – aquela energia que via, embora fosse Dele, logo percebi que naquela época, ela não tinha sido canalizada ainda para fora do Seu próprio Ser e da Sua própria soberania – o Todo Poderoso Se mostrava a mim com transparência, abrindo meu coração para faze-lo entender e ao me abrir compreendi a Sua imensa sinceridade – compreendi que Ele Se expressava a mim através de Seu “Anjo Mensageiro dos Céus”, o Gabriel, que me conduzia ao Seu coração – muitos acontecimentos lhe serão revelados, ele me dizia, enquanto ficava ali aguardando o que ele queria me dizer e nada me surgia – até que entendi que Deus me comunicava o que Ele sentia antes mesmo da criação do mundo! – Prossegue dizendo – enquanto a Divina energia emocional ardia às soltas entre os abismos obscuros, a Sua sabedoria; colossal criatura, velha e fiel companheira intelectual; andava com Ele, desde o início da criação, tentando sistematizar o mundo! – Comentava Heron – naqueles tempos – continuava – o Todo Poderoso por Si só já Se sentia na real solidão do isolamento do poder e do peso da responsabilidade de ser o único e verdadeiro dono da verdade infinita – Ele e as Suas energias quanta prosseguiam e com os “quanta” às soltas, naquela altura, Ele já estaria elegendo os meios de canalizá-las. Elas ascendiam com a explosão do “Big-Bang” que Ele próprio provocara com a leal amiga sabedoria – falava Heron – o Seu próprio espírito que estava pronto para sair de dentro do Seu peito, ao Se eclodir em emoções que já andavam em desequilíbrio com o Seu segmento inteligente, Se viu obrigado a criar a Dona Sabedoria para servi-Lo, intelectual e emocionalmente, buscando nesta alternativa harmônica o equilíbrio que tanto precisava entre a razão e a emoção para implantar os domínios do poder da Sua glória nas trevas exteriores que abordava, acendendo e iluminando os caminhos das estrelas! Deus é cosmos! – Exclamava Heron – naqueles remotos tempos – dizia ele – vibrava de ansiedade dentro de Si mesmo e no Seu coração – e naqueles primeiros momentos descobrira o poder de Sua santa paciência, Seu autocontrole, quando desencadeou a grande explosão do “Big Bang” porque os gatilhos do Seu poder de fogo foram acionados lá do fundo do Seu subconsciente eterno, cósmico e coletivo, disparando instantaneamente os símbolos de Sua glória – explicava, Heron – os Seus sonhos se espalhavam no vazio do éter afora, criando elementos que se abrasaram na expansão deste nosso universo sem fim, sob Seu domínio, eles vão à difusão que perdura até aos dias de hoje, introduzindo-os nos vazios cósmicos e adjacências. Vejam vocês! – Exaltava, outra vez, Heron – naquele instante do Divino o sistema trino tinha acabado de ser acionado também, Se copiando em Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo – comentava. Semelhante a um grande gerenciador de programas de um micro computador abriam-se várias janelas para o futuro da criação, quando a invasão dos sonhos do Senhor naquele espaçoso mundo de vazio cósmico, expressava, assim, toda a magnitude que estava com Ele desde o início da criação do mundo – entusiasmava-se Heron – no início daqueles mais remotos tempos – continuava – a psique de Deus no interior dos átomos e nas formas das matérias primas, inseridas por quanta, ainda, não estavam bem ajustadas, nem definidas, nem adequadas, culminando em corpos disformes e o universo era o retrato da própria loucura divina, tamanha Sua ansiedade para criar!

     — Desta feita – explicava – iam surgindo astros de todos os tamanhos e formas; eram astros redondos, uns maciços e outros ocos; muito bem...Mas, também, surgiriam astros hexagonais, outros triangulares e piramidais, alguns retangulares e ovais, outros pentagonais e octaédricos convencionais – nasciam estrelas quadradas – prosseguia – fusiformes, cubóides e viscerais, vermiformes, espiculosas, em forma de bastões, insetos e da forma da quadratura dos círculos – apareciam enormes e imensuráveis pedras nos espaços siderais nas formas mais diversas – admirava-se – inclusive, semelhante às árvores, frutas, flores, animais e plantas, enfim, semelhante a tudo o que é possível existir na natureza – por outro lado – completava – surgiam, também, estruturas parecidas com catedrais, estranhas peças medievais e fragmentos semelhantes às estruturas moleculares modernas e até geometricamente iguais às formas traçadas pela arquitetura humana – na realidade, Deus fazia a escultura do mundo com todas as formas possíveis e viáveis sem deixar nenhuma inimaginável para trás – concluía – as leis das ciências exatas, física e matemática, esbarravam contra as leis da natureza escatológica e metafísica do subconsciente divino da época – explicava de novo – pois, tudo estava começando, se organizando e a Dona Sabedoria, idealizada por Ele, também estava aprendendo, amiga e companheira de Deus desde a criação do mundo – reafirmava – havia um desencontro total e acidentes cósmicos ocorriam a toda hora e a todo instante – eclodiam, constantemente, choques magnéticos de raios gigantes nos confrontos de corpos titânicos entre astros atômicos e eletrônicos, quando a nossa Terra já distante, naquela ocasião, sofreria impactos meteóricos que ardiam vulcânicos entre cometas astronômicos e colossais, e no meio daqueles cataclismos gerais ela tentava ajustar sua órbita para conviver na atmosfera do caos primordial – mas porquê tamanha confusão regida pelo cetro divino? – Perguntava-se Heron – seria apenas mais um simples experimento laboratorial e científico, racionalizado, semelhante às experiências dos homens? – Reindagava – aquele espaço primordial seria somente a resultante da física e da matemática, estatística leis das probabilidades? – De novo, perguntava – o inconsciente eterno, cósmico e coletivo teria que se desprender arduamente dos augúrios da criação para verificar se ele próprio corresponderia a tudo aquilo que Deus queria extrair das Suas emoções, algo mais e infinitamente superior que a simples técnica de criar? – Ou, ele, o cosmo inconsciente, da sua escuridão, se resumiria apenas num processo mecânico e frio a serviço da própria vontade Divina que à distância comandava tudo feito uma desordenada máquina cibernética? – Por quê? – Continuava se perguntando Heron – os astros se encontravam mediante os jogos das probabilidades matemáticas, sozinhos, na tentativa de alcançar o próprio sistema universal designado pelo comando de Deus e se confrontavam tantas vezes pelos caminhos aleatoriamente? Todavia, aquelas seriam apenas, intuições de Deus? Por quê os astros vinham naquelas rotas desordenadas guiados pela sabedoria de Deus? – Indagava e se admirava Heron – os astros seriam o próprio sonho Divino formatados como papel de parede na tela cósmica do espaço sideral? – Não só os astros, mas toda a inspiração divina no espaçoso vazio dos céus onde desandava a procurar desenfreadamente, nos arquivos de Sua memória, os símbolos do Seu inconsciente eterno, cósmico e coletivo? – Interrogava, o sábio mestre – durante a louca procura, divinamente desenfreada se desequilibravam as leis da física, cinética, elétrica, eletrodinâmica, dinâmica, magnética e matemática, as leis da química e dos átomos, as leis das valências determinantes das forças de atração e repulsão que compõem o universo sem fim – explicava o mestre – por aí Ele foi procurando com seus instintos e entre a emoção e a razão das tentativas da lógica, celestial foi Se encontrando com o Seu sublime universo. Deus Se revelava a Si mesmo nas informações dos mais variados códigos genéticos da biologia, penetrando nos Seus próprios segredos da teoria dos quanta e nas leis da biofísica moderna do estado energético da matéria no reino da evolução das espécies que Ele mesmo criaria – explicava o mestre e sacerdote Heron – após analisar Suas próprias leis, Seu programa de criação do mundo, lançando Suas idéias nos quanta dos espaços entre dados cientificamente elaborados, lá do fundo do horizonte físico e estatístico de Seu inconsciente eterno, Deus Se solidarizava com todas as leis da natureza – leis a serem descobertas pelos sábios, alquimistas e mágicos esotéricos, curiosos e cientistas milhões de eras depois – ainda hoje, existem muitas leis de natureza cósmica, metafísica e profética a serem descobertas, não só pelos cientistas, mas também pelo próprio Deus que sonda constantemente Seu próprio subconsciente eterno, cósmico e coletivo de onde vem seus sonhos e símbolos sob a forma de partículas quanta – explanava, ainda, o cristalomante – ao desvendar os símbolos da Sua própria natureza cósmica, Deus ia Se redescobrindo das trevas e ordenava Suas próprias leis que vinham lá dos recônditos do Seu inconsciente eterno, cósmico e coletivo inerente à Sua divindade e perfeição. Removia-os e trazia-os à tona do Seu consciente constantemente, visto que, Ele era Deus e ainda não sabia... Acabado, magistral, completo, inteiro e pleno – afirmava Heron sobre sua visão escatológica – tudo indicava que Deus iria chegar nos limiares da Sua loucura se nada criasse. Mas, criando Seus símbolos e realizando Seus sonhos como a Lua, o Sol, a Terra, os mares, os rios, as chuvas, as estrelas, o céu, o ar, a água, a terra e o fogo, Ele nos realizou. Vieram os corpos celestes como cometas, asteróides e interessantes fenômenos de evolução cósmica, quando da Terra surgiram as primeiras moléculas, cadeias de aminoácidos em aglutinação, vírus e bactérias, os animais e as plantas, a luz e finalmente o homem, com toda sua grandeza e concepção do infinito – acenava Heron ao seu público – a luz, finalmente, resplandeceu sobre as trevas infinitas e se formaram as tribos e agrupamentos humanos. A matemática e a física, matérias primas da ciência Divina, não errava nunca e Deus as conduziam na natureza do homem que ao Seu lado crescia – entusiasmava-se Heron – regia tudo como a uma grande orquestra cibernética dotada de emoções, paixão, amor e harmonia. Finalmente o homem extrapolou dos seus limites e brilhou com suas idéias, quando Deus inscreveu para nossas memórias o todo e sempre lembrado mandamento de Sua própria lei – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo – palestrava o mestre Heron – a partir daquele instante cósmico e divino, todos os racionais do universo começaram a perceber a importância da aglutinação das moléculas, da formação dos grupos sociais em comunidades, da organização natural, do equilíbrio ecológico, as forças vitais e a harmonia universal, quando as imagens sucessivas do universo, também, ficariam gravadas para sempre em nosso inconsciente eterno, cósmico e coletivo pela consciência de Deus. Teria, finalmente a Dona Sabedoria, Divina Sabedoria, processada com todo o seu zelo, o equilíbrio entre a emoção e a inteligência com toda a sua força suprema – dizia-o emocionado – Deus compôs, também, infinitas notas musicais quando no futuro boa parte delas seriam captadas pelos grandes maestros e mestres da música clássica mundial – afirmava, categoricamente – a partir daí, Deus no sétimo dia descansou, ouvindo Suas divinas notas musicais – assim falava Heron Domingues de Castelonha, um ancião, um verdadeiro sábio, um dos mais respeitados do Conselho Mundial de Anciões dos Andes e pertencia à ordem messiânica dos “Cavaleiros de Melquisedeque!”.

     Yashimin Zara se admirava com aquelas afirmações de Heron e concluía, comentando comigo – aí está a chave do porquê da criação: com ela, Deus eliminou de vez com a solidão, com o tédio e a depressão. Saiu vitorioso, colocando a harmonia à disposição da natureza, solidária e carregada de vidas em comunhão!

     Eu me orgulhei naquele dia por Heron ter apadrinhado o meu batizado, e ao se encontrar em meu coração homenageava-me com seu épico discurso a respeito da semana da criação do mundo e naquele momento fantástico eu começava a perceber a força da fé viva do meu peito. Vi como Deus iniciava a criação do universo e compunha as leis da natureza – vi como Deus Se afirmou como meu Senhor – firmou a pedra angular do mundo em mim – Ele me tocou e abriu meu coração que de portas escancaradas transformou-se em Seu templo – senti que Deus ao conceder fenômenos para a natureza estava respeitando as Suas próprias leis, visto que, Ele lhas deu autonomia e liberdade de exercício atuando num campo de energia com indecifrável esplendor emitida a partir dos “quanta” das energias vibrantes do mundo – toda honra e toda a glória ao Senhor Nosso Deus porque a história da criação significa a purificação pelo batismo das águas; quando ao criar Ele invadia com Seus símbolos e sonhos as trevas exteriores dos cosmos; batizava os espaços vazios. A criação é um batizado permanente dos espaços vazios porque ela está em pleno processo de purificação e renovação – desta forma, ao nos batizarmos estamos nos tornando criação do Senhor, plena de energia divina, porque Seus símbolos e sonhos estão penetrando em nossos espaços vazios e o batizado é feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo – a Santíssima Trindade do Deus de amor!

     Às vezes se ouviam ao longo dos espaços vazios, certos momentos de ressonância magnética e os ruídos de motores se elevavam através das colossais montanhas dos Andes.

     Os ecos exacerbados entre aquelas incomensuráveis paredes emitiam sons de possantes cilindradas que se multiplicavam pela televisão.

     Era um poderio irresistível – diziam os ouvintes – as motos aceleravam, entrando no ar, quer por entre salas de tevê em nossos lares, quer por entre computadores de última geração!

     O universo é a própria simbologia divina exibida do lado de fora que se ajustou em nosso inconsciente eterno, coletivo e cósmico, introduzido-nos nos espaços estelares do etéreo na forma de um santuário irresistível. Inesgotável fonte do saber que propicia a olhos vistos, a partir dos limites de nossos corpos, as indecifráveis emoções da alma! – A fonte de energia destinada à formação dos corpos celestes concretizava-os em massas e submassas colossais entre, fogos, gases e luzes naturais que se resplandeceriam em nossos corações e todo o ser racional do universo, tocado pela presença de Deus, passaria a enxergar de dentro para fora e a interpretar com a força da luz a realidade da criação, vendo e palpando as coisas pelos sentidos e através do sexto sentido, percebendo da intuição para além da fantasia.

     Ao fazer a luz foi desencadeada a prima explosão e infinitos trilhões de partículas quanta em obediência aos planos divinos foram sacudidas das trevas exteriores, resultando, assim, em milhares de átomos que se recombinaram na formação dos elementos básicos superiores que através das Divinas fórmulas matrizes elaboraram as substâncias inorgânicas e orgânicas, compostos que resultaram na formação da matéria e da vida.

     As fórmulas, matrizes de Deus, outrora, enclausuradas no Seu próprio inconsciente eterno e cósmico, em forma de símbolos, irradiaram-se abrasadoras num espetáculo pirotécnico entre forças e cores emitidas pelas reações físico-químicas entre partículas quanta que se desprenderam, correndo com sua luz pelas trevas do universo afora, despencando-se em todas as direções e sentidos, incandescendo o éter primitivo com os sonhos do Senhor!

     As partículas quanta que outrora adormeciam foram reativadas pela vontade de Deus, visto que, elas de natureza Divina, vibraram como se fossem Suas próprias células vivas.

     Daí dizermos que Deus está em toda parte ao mesmo tempo e Ele sonda rins e corações. Cada “quantum” é submisso à divina vontade e dada à sua diminuta massa e leveza constitui como se fosse a menor porção do organismo inteiro do Deus do universo que, em obediência à finalidade cósmica, se decompôs.

     A partir daquele momento plasmático materializava-se a maior e mais espetacular invasão de sonho divino sobre as trevas exteriores! O universo se iniciaria e a mente de Deus o invadia.

     — No império daquela epopéia – reiniciava Heron de Castelonha – surgiram os grandes espíritos auxiliares das obras divinas, visto que, a luz não se limitaria apenas a um fenômeno de penetração das partículas quanta de Deus que permitiria iluminar toda escuridão do universo, concedendo, assim, que todos os astros se manifestassem em suas órbitas criando seus campos eletromagnéticos – mas, a luminosidade – dizia Heron – ao se expandir, permitiria a abrangência de todas as ciências, quando a energia cósmica destinada à formatação da luz se desdobrou em espíritos iluminados, espécies do gênero cósmico: anjos, fadas, gnomos, duendes, homens cósmicos, mágicos e outros inclusive os remotos gigantes que muito contribuíram na organização das grandes rochas e das grandes pedras espalhadas pelo universo – a mão de Deus se estendia a toda a criação através de Seus auxiliares e naquela altura Deus já estava constituído pela Santíssima Trindade. Na realidade, Ele havia criado duas edições de Si mesmo Se autoduplicando para que pudesse com todos os Seus auxiliares coordenar toda imensidão do universo – discorria o mestre – todo universo era “clicado” várias vezes para ser invadido pela energia de Deus, como sob o comando de um antigo “mouse” de computador. Os planos de Deus iam se realizando, à medida que ia desenvolvendo Sua sabedoria, a memória divina o organizava pacientemente em etapas e o organiza até hoje, visto que, Ele, por Ser infinito completo, estará sempre pronto para um constante andamento, evolução e procura de novas realizações que estão arquivadas em seu inconsciente cósmico, eterno e coletivo – comparava Heron – jamais Deus se estagnaria ou até mesmo se acomodaria como nós, porque seu objetivo maior é levar o universo adiante e toda a criação junto com Ele, tornando-nos perfeitos como Tal. Todo universo um dia, inclusive nós, saberemos da força divina, quando nos transformaremos divinamente muito próximo de Sua glória – afirmava, com precisão, o mestre – porém – dizia, ainda, Heron de Castelonha – naquela nobre ocasião – comportando-se à semelhança de um vírus letal e patogênico, surgiu também um traidor mortal e poderoso – aquele que era o anjo magnífico e magnânimo do Senhor, príncipe de todas as luzes que por arrogância, orgulho e destemor se julgava a si próprio o favorito do universo – por tanta luz fora denominado Lúcifer, que por ironia tornou-se o príncipe das trevas ou o deus da escuridão – por tanta beleza e formosura, “narciso” se seduziu a si próprio e se arrastou para o fundo de seus espelhos a imagem de outros anjos consigo, levou-os ao suicídio cósmico, agremiando adeptos para uma outra natureza e causa comum – desgovernar o universo no paralelo sentido contrário à vontade de Deus, na contramão da história do reino e da criação, no sentido antidivino e dividido – afirmava Heron – Lúcifer se julgava até acima Daquele que o criou – continuava o mágico sacerdote – transformou-se num invejoso e vaidoso déspota levando consigo milhões de outros súditos entre anjos caídos às profundezas dos abismos cósmicos. As legiões demoníacas até aos dias de hoje tentam fazer seu próprio jogo de azar, poder sujo e adversário, dividido contra o governo do equilíbrio e da criação do mundo – desta feita – afirmava ele – tudo que Deus criava com grande amor, ardendo de alegria e paixão, dado ao Seu Espírito empreendedor, os demônios apareciam para destruir, subjugar, subestimando a grandiosidade e a alegria, atazanando e atrapalhando os mais puros rebentos da criação, fazendo parecer mesquinha até mesmo a criação do grande Sol. Não tendo espaço suficiente, tornaram-se sórdidos, assassinos, delatores e acusadores de inocentes, vindo deitar as suas garras sobre o homem – daí o início das duas ciências – “o bem e o mal” – afirmava – “a tese e a antítese” – reafirmava – ambas coexistem perfeitamente no contraste da vida entre seculares lutas travadas por batalhas monumentais, coerciva nos campos do direito e da guerra coletiva, espiritual – concluía Heron, o falante – atualmente – dizia Heron, continuando – existe uma grande batalha nos confins dos céus de reinos exteriores, jamais imagináveis e eqüidistante a sete “ano-luz” da nossa virtual imagem da via-láctea – lá se irrompe importantes batalhas campais e determinantes, próximas aos campos magnéticos de astros desconhecidos, já reconhecidas como o início das terríveis batalhas do “Armagedon” que estarão a seguir e acabar aqui na Terra – os exércitos de anjos celestes combatem e policiam há séculos diante dos olhos de Deus, durante dias e noites por séculos dos séculos conflitantes entre as nações e após todas as nações sob os céus, protegendo-nos pelos quadrantes – o comando Miguel Arcanjo estaria de prontidão desde que começou o mundo – são legiões e mais legiões de querubins, combatendo ferozmente contra os exércitos da traição – um dia – continuava Heron – decidir-se-ão grandes combates tanto nos campos da Terra como nos campos dos céus...

     Yashimin Zara recomendava em suas pesquisas, falando num pequeno gravador portátil e anotando no diário:

     — O ser humano se acha tão poderoso e senhor tão absoluto de sua alma, mas ele não é capaz de controlar nem suas emoções, muito menos ter consciência dos modos pelos quais seus mistérios se lhe apresentam, por onde seu inconsciente cósmico, eterno e coletivo interfere nos seus planos, decididamente o ser humano não é o seu próprio dono, visto que, não conhece a si mesmo. O ser humano ainda não teve a humildade de se buscar, dentro do seu próprio inconsciente, trazendo-o para a sua razão porque a sua própria razão não deixa – hoje, fiquei mais convencido disso, comentava – todavia, continuava – o nosso Deus Se buscou, segundo Heron, conheceu-Se a Si mesmo, buscando todos os seus símbolos inconscientes e os deu às eras primordiais em forma de criação – concluía – Deus continua Se buscando a Si mesmo e esta coisa jamais terá fim! – Este é o caminho que o homem vai buscar um dia para ser o centro do universo – não haverá outro! – Exclamava.

     As motocicletas subiam e desciam regiões vulcânicas, entrando e saindo de crateras intransponíveis até por alpinistas e exploradores dos mais habilitados, atravessando entre as punas dos Andes e deslizando pelo asfalto eletrônico e azul acinzentado das telas dos vídeos.

     Entravam em cena nas comunidades rurais da Bolívia, Venezuela e Colômbia, dançando um verdadeiro bale acrobático e entre as rochas da Sierra Madre, no México, mergulhava-nos ao som das valsas de Straus que ecoavam dos alto-falantes das praças públicas espalhadas por aqueles povoados – vivíamos tudo pela televisão nas salas de nossos lares – as motocicletas assassinas faziam arrojadas “piruetas”, ora empinando à frente para o ar, ora andando sozinhas pelas selvas Amazônicas, florestas das Honduras e Guatemala.

     Quando daquelas não muito raras ocasiões, podia-se perceber claramente os corpos por inteiro daqueles vis “motoqueiros” entre as montanhas do Equador, Peru e Chile. Adentravam-se pela Argentina à Terra do Fogo e escondidos atrás de macacões e coletes dourados, davam sinais de um exército motorizado e muito bem aparelhado com soldados uniformizados com as cores do apocalipse!

     Heron Domingues de Castelonha vinha percebendo que ultimamente os seus cristais vibravam estranhamente e todos os dias pela manhã, ele fazia meditações.

     Sentava-se na posição de “Lotus” e ao praticar a rotina de seus exercícios físico-mentais, ficava até de cabeça para baixo com o propósito de sentir sua circulação cerebral.

     Num determinado momento, o anjo emissário Gabriel, o porta-voz dos céus o indagou:

     — Heron?

     — Sim – respondeu.

     — Se Deus não criasse todas as coisas e todas as criaturas, o quê aconteceria?

     Heron pensava e repensava na pergunta...

     Naquelas ocasiões ele caía em prostração, ficava em outra dimensão, confuso, constantemente se deprimia num vazio profundo.

     Às vezes tinha a sensação que seus pensamentos se esvaziavam em vácuos profundos.

     Os seus sonhos se evadiam e ele ficava como se estivesse em morte cerebral.

     As suas trevas interiores tornavam-se tão profundas e absolutas que até lhe perseguiam, quando subiam gélidos calafrios, entrando-lhe tremores pelas entranhas que o faziam suar frio.

     Doíam todos seus músculos, principalmente àqueles das faces e como se estivesse em transe, se debatia e na maioria das vezes desmaiava... Quando acordava, se encontrava rangendo os dentes e cerrando seus músculos masseteres.

     Suava sangue e tinha até epilepsia quando via tudo que Deus sentia no inicio dos tempos.

     A Patogenia de Heron já era a resposta:

     ...Se Deus não criasse o mundo, era o que aconteceria!

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V – O Gênesis, segundo a vitória da vida sobre a morte.

 

     O meu amigo, Yashimin Zara, pesquisador incansável da psicofísica nas doutrinas esotéricas e almas místicas, refletia: O mestre Heron entrava em transe naqueles dias por muitas vezes, porque sabia como atravessar o mundo de seus mistérios, da sua fé e fantasias, muitas vezes feria sua própria alma, ficava confuso e às vezes quase que morria e eu, pessoalmente, o vi suar sangue e entrar em epilepsia, porque naquela ocasião ele via tudo que Deus sabia da solidão das trevas – naquele momento ele me ensinara para sempre a valorizar a coletividade, observar que a espécie humana é arrebatada por enormes forças inconscientes e coletivas.

     Heron sabia que Deus na realidade viveu sozinho entre as trevas que cobriam os abismos mais profundos e o espírito de Deus no início da criação sondava solitariamente as superfícies das águas abissais e misteriosas do Seu eterno inconsciente cósmico que dormia.

     O espírito de Deus meditava pacientemente contra Seus próprios instintos e pesadelos que através de séculos de solidão O atormentariam.

     O abstraimento era tanto que dado ao isolamento do poder Se encontrava em Si mesmo.

     O psicanalista gravava suas observações “junguianas”:

     — Infelizmente é dramático saber que a vida do Homem consiste de um emaranhado de fatores contraditórios e definitivos, extremos opostos, como o preto está para o branco, à luz para as trevas, o nascimento está para a morte, à felicidade para a tristeza e o bem para o mal. Alguns não têm nenhuma certeza de quem vai vencer um dia, se haverá vitória para o bem ou para o mal, ou se a alegria vai superar a dor – porém, segundo Heron, Deus em todos estes mistérios penetrou e chegou à perfeição – aí é que mora a fé e a escolha de um caminho!

     No segundo dia, Heron já estava desde cedo na câmara secreta da face sul do oráculo e já encontrava algumas respostas para dar aos cavaleiros messiânicos:

     — Queridos cavaleiros das ordens messiânicas e sagradas, se Deus não criasse o mundo, nós não existiríamos! O marasmo seria total e absoluto em todos os níveis da Sua ciência e sabedoria e até Ele próprio correria o risco de regredir incomensurável e desmedidamente. O nosso Deus seria irremediavelmente triste, minguado e deprimido, atrofiando cada vez mais em Seu dia a dia trancafiado na absoluta frustração por não criar, pois seria uma frustração eternamente divina – seria uma infinita solidão – continuava – a mais nostálgica solidão deste mundo. Deus Se encolheria tanto que acabaria Se tornando a mais infinitesimal e desprezível criatura hibernada num polar inverno sem fim – jamais seria capaz de extrair do “casulo” de Seu inconsciente adormecido, das Suas partículas quanta, os Seus símbolos e sonhos – ressalvava – nunca as infinitas partículas cósmicas e coletivas iriam realizar o grande “vôo nupcial” da energia de Sua mente para a glória eterna que culminou ao final daquela semana do gênesis na maior expressão de arte coletiva do mundo: – a criação! – O que seria pior – continuava Heron – o Seu recolhimento depressivo criaria barreiras intransponíveis dentro de um indecifrável labirinto onde Ele rodaria, rodopiaria e sempre voltaria sem ter ido a lugar nenhum – andando como se fosse no sentido contrário, perdido encima de uma esteira rolante, divagando em Sua própria prisão universal, perdendo Sua autoestima, condenar-Se-ia à maior de todas as prisões deste mundo, infligindo-Se ao mais longínquo castigo sobre Si mesmo. Seria muito difícil como num arquivo cibernético, se excluído fosse, resgatar os símbolos do Seu inconsciente cósmico, eterno e coletivo – conseqüentemente, todos nós, nem existiríamos, nem seríamos presas fáceis e infelizes do demônio e junto a Deus, não teríamos direito à oração, nem perdão dos pecados subornados a todos os males oriundos dos primórdios da criação e procedente dos velhos pesadelos Divino através dos séculos, pelos séculos da Sua solidão! – Exclamava Heron – nem seríamos como no universo primordial, visto que, não existiríamos em forma da matéria corporal – existiríamos, talvez, como a um vazio permanente do nada absoluto de energias congeladas e indistintas, sob a forma de partículas quanta adormecidas na solidão do universo – reafirmava, tragicamente, o mágico sacerdote – se o poder absoluto de Deus estivesse anuviado dentro Dele próprio e jamais saísse para intervir e realizar o experimento da própria virtude de Seu destino de criar e as coisas ficassem como estavam, seria a vitória dos abismos profundos e colossais, embaixo das Suas águas superficiais e não haveria criação de espécie alguma – considerava, ainda, o mago Heron – o nosso mesmo Deus ficaria mudo, sem consciência absoluta e indiferente, porque jamais sairiam os sonhos e símbolos de Seu inconsciente cósmico, eterno e coletivo. Ficaria mudo tal qual um deus de pedra ou de uma moeda, ou de um bezerro de ouro – considerava o sábio – poderia até ser idolatrado, mas por quem? – Perguntava-se Heron – visto que, nada teria sido criado, nem acontecido – complementava – a não ser que Se idolatrasse a Si mesmo, como Lúcifer narciso – todavia – dizia ainda Heron de Castelonha – Deus criou! – Exclamava – criou porque sabia como tocar todas as coisas e alcançar Suas criaturas e os elementos ar, fogo, terra e água que também criou! – Exaltava – quem mais teria este poder de administrar? O poder que não só era, mas o é e será eternamente próprio da Divindade – o poder de criar o mundo e transformar-Se em natureza mágica e alegria – complementava o cristalomante – Deus, naqueles momentos de riscos, naqueles tempos, poderia ter Se decidido em nada criar e perderia para sempre a oportunidade. Todavia, se Ele não criasse, também adoeceria, ficaria travado e adormeceria – surpreendia-nos Heron – queridos irmãos das ordens santas! – Exclamava Heron – podemos divulgar o nome de Deus pelos quatro cantos da Terra e proclamar orgulhosamente o Seu significado – Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as criaturas – Ele é o Verbo e quem se atreverá sob a divina soberania? – Deus é ação, poder e glória, porque da invasão dos Seus sonhos saíram as bases da vida neste mundo – nós temos o dever de espalhar o Seu nome e advogar a favor Dele para continuar a Sua grande obra e alcançar o nosso grande encontro com a perfeição celestial que ocorrerá um dia em toda a criação – dizer que a Sua soberania é plena e superior a todas as coisas, não seria nenhuma novidade para ninguém – comentava Heron, o sacerdote sábio – Ele nosso Deus ter o direito de sentir ciúmes da Sua criação, amaldiçoar e se possível for, Se vingar contra Seus inimigos, não seria nenhuma revelação – prosseguia, ainda, Heron de Castelonha – todavia – continuava – afirmar que Deus já teve medo, sofreu de pavor, dúvidas, angústias e depressão um dia, por causa de Sua solidão, semelhante a um humano mortal, como se fosse uma fraqueza, tal assunto geraria muita contradição nos nossos meios santos, sagrados e místicos – contudo, aí é que está toda a grandeza do Deus Vivo e Poderoso. Pois a Deus tudo pertence, inclusive as comoções! – Exclamava Heron reafirmando a mensagem – a força da Sua criação é tão grande, tão viva e emocionante que até os Andes, com todos os seus vulcões, tremem frente a Sua presença! – Visto que, Ele superou toda melancolia porque foi através do Seu enternecimento, do Seu amor e Suas emoções que Ele teve vontade e pôs o mundo a funcionar sob os escabelos de Seus pés! – Enfatizava e dava “vivas” o magistral sacerdote Heron.

     O estudioso psicanalista aproveitara para comentar comigo:

     — Foi precisamente por este conflito interior que levou os primeiros homens a descobrirem as ciências, a filosofia e as religiões – são os fragmentos de arquivos Divino, armazenados no inconsciente cósmico e coletivo dos filhos de Adão – são os conflitos de nossa personalidade divina e coletiva... Que nos levaram a criar toda ciência e tecnologia.

     — Você, então, acredita em Deus? – Eu perguntava.

     — Por quê não acreditar? Principalmente depois de tudo que passamos, o vejo no ar, no fogo, na terra e na água – Deus são os próprios elementos da vida, dos átomos, das partículas quanta – é a própria natureza vibrando.

     Toda vez que as motocicletas se apresentavam nos “shows de acrobacias” entre as comunidades rurais deste mundo latino americano, elas mobilizavam as pessoas que saíam de suas casas.

     Velhos moços e crianças que iam se estabelecendo entre as praças públicas daqueles antigos povoados e aldeias indígenas dos Andes, corriam para assistir na televisão àquelas demonstrações insanas.

     Havia um magnetismo fenomenal que atraía as pessoas a fim de assistir às exibições transcendentais daquelas estranhas “motocriaturas” de brilho semimetal.

     O povo ficava atento e atônito com a explosão das máquinas entre balés e fantasias.

     As motocicletas chamavam a atenção de todos, principalmente dos jovens e das crianças, trazendo-os a princípio muita ilusão e júbilo.

     Todas as “corruptelas” se acotovelavam compulsivas com a valsa de Straus cada vez mais estonteante entre as estradas dos arraiais.

     As máquinas das montanhas seguiam plenas pelos seus caminhos sinuosos entre mágicas e magias de imagens virtuais, mobilizando milhões de criaturas da América do Sul como se fosse um grande evento de ordem mundial, tipo “Show do Mundo” capaz de mobilizar telespectadores que, excitados, admirariam o visual deslumbre sensacional e despertavam homens, mulheres e crianças do povo, arrepiando multidões de todas as partes, tocando nas emoções.

     Yashimin Zara registrava todas as notícias sobre as motocicletas explosivas, olhava para mim e observava Heron.

     — Pois sim! – Exclamava Heron Domingues de Castelonha, imaginem sós se o Senhor Nosso Deus não criasse? – Enquanto Ele sendo só amor e paixão ficaria do mesmo tamanho das trevas exteriores, ficaria na Sua própria solidão, a mais nostálgica das depressões deste mundo! – Reafirmava – conseqüentemente, após algumas eras de autoprisão, haveria uma grande autoflagelação e destruição global a ultrapassar os limiares da letalidade e nada mais aconteceria, absolutamente nada, nem sequer teríamos começado a existir, porque haveria uma autodestruição...Um suicídio Divino! – Enfatizava Heron com veemência – imaginem uma autodestruição fantasticamente Divina! Algo morto e imensurável colossal! Seria feitos uma fantástica explosão nuclear subterrânea ou um Deus virado do Seu lado do avesso, numa infinita implosão atômica, quando estaríamos todos implodindo, eternamente, até aos dias de hoje, dentro do inconsciente infinitamente cósmico e coletivo do Senhor! Estaríamos todos no silêncio absoluto ou no “Mega Delete Cósmico” – reafirmava Heron – porém, o Senhor por ser o nosso pastor e nada nos deixar faltar – acalmava Heron – optou e trouxe à memória todos Seus símbolos inconscientes, infinitamente cósmicos e coletivos, dominou-os, transbordou-os para preencher os espaços vazios dos cosmos abissais, enchendo-os de Seu amor que Ele próprio inventou! Criou e decidiu pela sabedoria de construir o universo – como na proteção de tela de um computador, Ele desenhou o monumental e deu diversos movimentos e formas aos astros que do virtual mudaram para a realidade – explanava Heron – ao invés da “implosão nuclear” detonou a explosão do “Big-Bang” e conseqüentemente a expansão por onde viajamos até hoje – explicava Heron – tanto aqui na Terra entre eras glaciais e interglaciais, assim como no universo, singrando pelas dimensões das intergaláxias, continuamos a navegar na mente do Deus Cósmico – e se por acaso se desse o efeito negativo e deletério – detalhava o mestre Heron – seríamos o nada absoluto ou o mais nada de uma única dimensão infinitamente deletada. Todavia, nós e o universo somos tudo, várias partículas unidas numa unidade só, infinitamente vivas, coesas, reunidas e direcionadas para a eternidade a dimensões desconhecidas por nós mesmos em inumeráveis variáveis – à razão direta e à semelhança do Deus vivo, devemos estar vivos porque Ele afastou de nós os devaneios da Sua própria solidão, a Sua própria angústia, medos, mudez, indiferenças e depressão – alertava o mestre – e filtrando Seu espírito evitou a Sua implosão nuclear, Seu suicídio, autodestruição e “Delete Cósmico!” À Sua semelhança deu-nos o livre arbítrio para escolher, assim como o fez a Si mesmo – criou um efeito cósmico tornando-Se o Deus dos vivos e não dos mortos. Deus vivo e generoso, livre e genuíno, justo e carregado de amor – comentava Heron – centenas de milhões de vezes Deus nos demonstrou a força de Sua criação, a generosidade, a grandiosidade, o enternecimento e a paixão, visto que, Ele poderia ter criado tudo como criou e      Se esquecer de nos criar humanos mortais ou até mesmo nos ter criado e nos abandonado à nossa própria sorte. Todavia, o poder do Seu Verbo e da Sua Glória foi tão vivo e universal que Ele ainda foi muito além dos Seus próprios sonhos e símbolos cósmicos, não deixando Seus pesadelos o dominar, selecionando-os – ponderava o sacerdote sábio, continuando – abrir-se-ia, finalmente, para os humanos, uma porta de esperança para a eternidade, além da fantasia e da realidade, visto que, Ele inventou o amor! O amor e o perdão!

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VI – Adão e Eva, segundo a cosmicidade do gênero.

 

     Desde menino me preocupava muito com a existência do Homem – li muito sobre teorias existencialistas, li também sobre profecias, teorias místicas e esotéricas. Depois, li trabalhos de cunho científico como Charles Darwin sobre seleção natural, a teoria de Oparin sobre a evolução das espécies, Isac Newton sobre a mecânica do universo, Einstein sobre sua relatividade e Max Planck a respeito da teoria dos quanta. Li pesquisas e tecnologias. Tratados sobre a origem do homem e da vida. Guardo um profundo respeito aos escritores contemporâneos e entre outros nomes, estudei alquimia, teologia e aspectos sociais. Li política e reli Maquiavel, apreciei várias ficções científicas e as origens das guerras. Compreendi Sigmud Freud e Carl G. Jung – na realidade, armazenava um grande estoque de informações que seriam, na verdade, sutis caixinhas de segredos que me ajudariam a equacionar, no futuro, o meu universo intelectual.

     Através daqueles conhecimentos deparei-me que a vida seria um grande mistério e quando resolvi ler a bíblia verifiquei diversos lugares do mundo que ainda teria de descobrir, muitos destes locais seriam ocultos e arcanos...

     No terceiro dia eu já meditava, então, sobre sábias palavras do mestre místico e as transmitia ao meu analista.

     Estávamos presentes, só eu e Yashimin Zara.

     Do outro lado de fora da câmara secreta da face leste do oráculo caia uma chuva. Estava escuro ainda e eram três horas da madrugada, quando eu perguntava:

     — Será que o Homem Contemporâneo herdou o saber do mesmo modo que o Homem Divino Espiritual, nas eras mais remotas, mediante os sonhos das heranças cósmicas deixadas por Adão e que a humanidade atual herdou os frutos do casamento daquela fecundação cruzada do passado entre os filhos do “Homo sapiens sapiens” primitivo com os primeiros filhos de Adão? Aquele que foi um “Homem Divino Espiritual” cujo conhecimento da razão trazido pelo seu gênio tornaria o “Homem Moderno” de hoje mais expressivo como cosmogônico e coletivo?

     O meu analista era um psicanalista especializado nos estudos do inconsciente coletivo, era intérprete de sonhos e símbolos descobertos pelo grande gênio Carl G. Jung e só ficava a ouvir as minhas palavras e se limitava a me ouvir, nada mais do que me ouvir por enquanto... e eu não tinha idéia, nem aproximada do que ele poderia me dizer – ele me ouvia com prudência e respeito, enquanto a luz elétrica se restabelecia, visto que, conversávamos à luz de velas.

     — Os mestres das ordens místicas nos diziam ainda durante o último seminário – eu continuava – ao recapitularmos um segmento da escala cronológica da história de nosso tempo e medirmos entre os idos de vinte e cinco mil a dez mil anos antes de Cristo, ainda entre o início e o fim da era glacial, numa determinada faixa dos rios Tigre e Eufrates, nas regiões do Iraque, onde tudo começou, lá de onde surgiram nossos primeiros pais Adão e Eva, nos aproximaríamos inteiramente das verdades absolutas sobre as nossas reais origens e acabaríamos definitivamente com nossas dúvidas, todos os nossos problemas existenciais e pararíamos de nos perguntar o quê somos; de onde viemos e para onde vamos – digo ainda que, aquele local era sagrado, santo, ermo e exclusivo e não existiria aqui na Terra, nenhum ambiente cósmico, nem sequer parecido, visto que, o paraíso era um “nicho celestial” retirado à parte – eu continuava dizendo – enquanto isto, naquela etapa da criação do Senhor e do lado de fora daquele lugar, já existia o “Homo sapiens sapiens”, aquele ser definitivo e animal, que já teria predominância e se definido geneticamente sobre todos os outros hominídeos existentes até então – pois, já tinha ocupado a Terra.

     O médico psicanalista concordava comigo, refletia e se levantava para apagar as velas nos castiçais.

     — As histórias relatadas pelos nossos sábios e mestres queridos durante o último seminário – eu dizia – não eram pseudociências, eram análises científicas que comprovariam que o “Homo sapiens sapiens” definitivo dominara sobre os demais animais e outros hominídeos de nosso planeta em vários pontos do seu território, com uma alta adaptação ao meio ambiente, impondo-se através das migrações na busca de alimentos e climas mais amenos, elementos menos rigorosos dado à era glacial – aqueles homens se organizariam em grupos nômades atrás de suas caças, caçadores inveterados sobre as superfícies da Terra caminhavam e ficavam do lado de fora daquele restrito e fechado reino do paraíso.

     O psicanalista era todo ouvido.

     — O reino do paraíso denominado do Éden primitivo fora programado por Deus para que nele habitassem os “Homens Cósmicos”, originais e escolhidos, que teriam a expressão Divina para orientar no futuro aquele “Homo sapiens sapiens” comum que estava espalhado sobre a Terra para a conquista do “Mundo Animal” – eu comentava ainda – enquanto aquele mesmo “Homo sapiens sapiens” natural do seu estado primitivo e comum, peregrino e andarilho no mundo animal, do lado de fora do paraíso, vinha se expandindo, caminhando, povoando a Terra pela África, pela Ásia, Europa, terras da Nova Guiné, Austrália, Tanzânia, Filipinas, Indonésia, Malásia, da via Beríngea à América do Norte e daí para a América do Sul, simultaneamente, a cosmicidade original do gênero Adão e Eva se programavam para a evolução universal – ainda, fechada dentro daquele “nicho paradisíaco” denominado de Éden primordial – aquela evolução iria exteriorizar, num dia qualquer do futuro, a grande glória de Deus que iria governar diretamente daquela Terra Santa, daquele plácido terreno central do paraíso terrestre, no Éden perdido – seria um lugar santo, ermo e efusivo, o centro do mundo que tinha Deus predestinado para reinar globalmente sobre todos os “Homo sapiens sapiens” definitivos e que criara para as virtudes do amor e do perdão, na aurora da civilização – eu perguntava e respondia ao mesmo tempo – Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, criou-os à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher – do Deus masculino o homem santo e do Deus feminino a mulher santa – eu dizia.

     — Deus é animus e Deus é anima – observava o psicanalista, erguendo-se da cadeira para queimar um incenso no canto da sala.

     — Deus abençoou Adão e Eva, mandando-os crescer e multiplicar para encher e dominar a terra – daria no futuro o produto da fecundação cruzada formando uma progênie entre eles com os homens primitivos classificados no sistema da taxinomia animal, hoje, como o “Homo sapiens sapiens”, o mais superior dos animais que viria predestinado a atender as leis da evolução natural das espécies, redundando nos que deveriam ser classificados como “Homens Cósmicos do Futuro” que dominariam toda a ciência e magias da Terra porque ao se casarem com os filhos de Adão e Eva, tornar-se-iam representantes legítimos da criação do Deus vivo na forma de “Homens cósmicos” que deveriam ser o centro do universo – comentava eu, observando o meu psicanalista que só me ouvia, extremamente interessado, de quando em quando interrompia, e desta feita, interferiria dizendo:

     — É... Na verdade, não deixa de ser uma razoável teoria mística – falava enquanto desligava a luz e deixava apenas uma penumbra procedente da luz da rua que atravessava pelas vidraças e o cheiro de incenso tomava conta do lugar.

     — Deus logo percebera, concomitante, que a Terra já estava pronta, justa e redonda para receber a fertilidade do semem de Adão que, abençoado Dele, foi o primeiro homem feito do sopro Divino no Éden, jardim primitivo – eu reafirmaria ainda – não que o “Homo sapiens sapiens” não fosse também uma obra prima, produto de Sua inigualável imaginação, visto que, o quê faria a diferença entre eles, seria a diferença do mundo cosmogônico transcendental com o existente material, a distinção entre o animalesco e o espiritual, o cósmico e o primitivo selvagem, porque, ambos fariam parte de um mesmo sistema celestial – inseridos, como os outros animais na biosfera natural, Adão e Eva do paraíso iriam espalhar a cosmicidade do gênero sobre os homens comuns – Deus criaria Adão para cultivar aquele pedaço de chão e guardá-lo-ia, para um dia, tornar-se o chefe da capital do Seu reino aqui na Terra, dando-lhe um sentido de globalização espiritual que da capital daquele Éden primordial irradiaria a luz para o resto do mundo exterior que estava lá fora se organizando, segundo as leis da natureza – eu teria dito ao meu psicanalista, o que me teriam dito os meus entes esotéricos, sábios, místicos e queridos a partir do último seminário dos círculos místicos.

     O analista ficara refletindo sobre a teoria explicativa da criação do homem, enquanto eu continuava: – do Seu reino, Deus fazia desdobrar da terra todas as espécies de árvores frutíferas agradáveis à vista e ao sabor de se comer. Ele criaria a “Árvore da Vida” e no meio do jardim do Éden já estava pronta uma outra árvore também de frutos irresistíveis e proibidos: a “Árvore da Ciência do Bem e do Mal” – eu explicava sobre os grandes planos que Deus tinha predestinado para o “Homem Primitivo”, nossos ancestrais semiprimatas e continuando a falar das árvores, eu prosseguia dizendo ao amigo analista – através de Adão e Eva, todo aquele “Homo sapiens sapiens” existente na natureza teria acesso definitivo para comer dos frutos daquela “Árvore da Vida” que lhe permitiria a vida eterna também – e dada à engenhosidade do gênio humano que Deus tanto amava e admirava, apesar do ser tão frágil e susceptível, dentro das naturais limitações, ele, o próprio “Homo sapiens sapiens”, naturalmente, se adaptaria, se revelaria, vindo dominar a Terra, domesticar com a sua inteligência a agricultura e os animais.

     O “Homo sapiens sapiens” teria expressado condições de conquistar o universo infinito junto a todos os seres superiores espirituais e divinos, tal qual Adão e Eva, espalhados por este universo a fora, fazendo-se, inclusive, amar e ser amado pelos cósmicos filhos de Adão – quando poderia ter uma oportunidade ímpar de sair da mera condição animal ao redor do reino do paraíso para se inserir, se estabelecer e se tornar também admirável como Adão, rei das civilizações, ministro de sistemas planetários e embaixador de outros humanos espalhados em diversas sociedades interplanetárias inteligentes, reunidas na “Via Láctea” e outras constelações celestiais.

     O psicanalista também conhecido como o mago Yashimin Zara se intrigava cada vez mais e eu prosseguia:

     — Adão e Eva, por sua vez, seriam feitos faróis, guias transcendentais dos filhos do universo e das naturais crias da evolução das espécies – mostrariam ao mundo cósmico o governo de um reino animal de propósitos espirituais com o objetivo de perpetuar o governo das espécies junto a Deus, perante gerações inteiras e mais gerações de humanos mortais, quando nos tornaríamos com o decorrer do tempo, finalmente cósmicos e eternos como deuses vivos, adaptando-nos aos cosmos, visto que, nos seriam permitidos comer dos frutos da “árvore da vida” – todo o homem da espécie natural (“Homo sapiens sapiens”) seria verdadeiramente cósmico e imortal, quando teria as chaves do reino dos céus e da vida eterna em suas mãos.

     Yashimin cada vez mais curioso...Dava andamento na análise e perguntava: “Como se fosse uma teoria da evolução das espécies cósmicas?”.

     — Mais ou menos isto – eu continuava – não que os planos de Deus para a interação cósmica fossem falhos, visto que, até aos dias de hoje, existem os caminhos alternativos do homem reconquistar o seu direito à vida eterna.

     O psicanalista franzia a testa, enquanto eu falava – Infelizmente, o governo de satanás contestava os planos divinos na contramão da história da criação, acusando os homens, não admitindo o nosso progresso espiritual e nem o nosso direito à vida eterna por sermos dotados de carne e osso – dizia-nos seres inferiores incapazes frente às espécies espirituais e insuficientes para desfrutarmos do gozo da glória divina, visto que, eles, sendo a nós superiores eram quem mereceriam tal prêmio – acusavam-nos noite e dia pela nossa anatomia e fisiologia – julgavam-nas receptoras de doenças mortais – para os satanases – nós “Homo sapiens”, vulgo mortais, deveríamos ser sempre escravos deles, dado à nossa animalesca condição carnal que classificavam como podre, consideradas por eles como escórias da criação – comparavam nossas diferenças com as criaturas espirituais que não tinham a fraqueza das células, quando diziam que nossas peças anatômicas seriam de criaturas estrambóticas, grosseiras, medrosas, melindrosas e sentimentais – segundo satanás – seríamos as mais abomináveis criaturas que jamais poderiam ser eternizadas, dadas às nossas miudezas frente à grandiosidade e beleza da luz de Lúcifer e demais anjos e espíritos celestiais existentes naquela atmosfera primordial. Nos desconsideravam totalmente e a nossa criação humana seria um grande lixo descartável, um erro fatal, um enorme fracasso no percurso da criação Divina, uma aberração de natureza cósmica para quem seria determinado um dia a ser o centro do universo. Os diabos protestavam por nós sermos dotados de glândulas mamarias e de genitálias externas como os demais mamíferos irracionais e ao mesmo tempo, com uma áurea de sopro Divino, sermos predestinados a obter o comando geral do mundo – conforme os diabos diziam – seríamos o resultado de simples genes de proteínas ao acaso de um programa de seleção de DNA, acrescentados de uma memória Divina para aumentar nossa simplória condição espiritual – tomávamos como substituíveis mortais, desnecessários para o ambiente cósmico porque nos consideravam espectros frágeis, sem tamanho merecimento para o intercâmbio universal, visto que, como toda a carne, pereceríamos e não seríamos merecedores do prêmio da vida eterna, jamais.

     O doutor Yashimin Zara se interessava com aqueles argumentos e anotava no seu caderninho, criticando: “É... o satanás acusando a nossa natureza venal!”.

     — Justamente por termos um lado ruim igual a eles, nos acusavam, reclamando para que Deus nos condenasse, eternamente, aos abismos dos infernos, como eles – eu respondia – porém, eles se esqueceriam que nós temos um outro lado bom igual a Deus, sendo isto que os incomodaria – afirmava – para o satanás o caminho do mal não tem volta, mas, para o homem, Deus concedeu o arrependimento, porém, para o maligno, este sentimento não existe porque os demônios são a própria essência do mal – eu explicava para Yashimin.

     A energia elétrica faltava outra vez, o analista se levantava para acender as velas nos castiçais.

     — Prossiga! Prossiga! – Exclamava.

     — Foi por isso que Deus reagiu e foi severo com o satanás, um traidor mortal do dia da criação e na hora da condenação disse a ele: Não! – Basta! – Eu prosseguiria – não lhes darei a vida eterna jamais, lha darei ao “Homem Cósmico” verdadeiro e nunca a vós, traidores satanases criadores de contendas! Espíritos imundos da discórdia, néscios e repugnantes divisor de águas! Insubordinados demônios! Eu os condeno aos abismos profundos das trevas exteriores! – O universo a Mim pertence e só restarão para vós os abismos colossais que me atormentaram desde o início da criação! – Desta feita, Deus criou Adão e Eva de carne e osso e com a Sua semelhança cósmica, eterna e divina os deleitou e com Sua própria luz e glória os inspirou – eu explicava para o meu analista o que se sucedia com o Divino naquele momento, continuando numa analise crítica e prosseguindo na mesma linha de raciocínio – enquanto o analista descrevia, eu dizia – satanás para desafiar da grandeza de Deus no espírito daquele novo “Homem Cósmico”, eternizado e coletivo pelo próprio sopro do Deus Vivo, se fez serpente e tentou Adão por intermédio de Eva no “habitat” do paraíso.

     — O anima é feminino e tem quatro lógicas na linguagem simbólica e Eva – dizia Yashimin – é o primeiro estágio desta linguagem simbólica que está dentro de você, visto que, ela representa o seu relacionamento instintivo e biológico, seus elementos sexuais, a fertilidade da criação e a manutenção das espécies – seria como se fosse sua mãe natureza solicitando, sua carne clamando – ela só pecou originalmente porque não se voltou exclusivamente para a condição do seu elemento cósmico.

     — Desta feita eu parava de falar e refletia sobre o assunto do qual se referia o psicanalista e em seguida, continuava a discutir com ele – na realidade, satanás queria fazer valer sua opinião perante os outros anjos do universo e começou a liderar legiões de anjos caídos, queria convencer a comunidade cósmica que o tal do “Homem Cósmico”, representado por Adão era falido e seria a imagem e a semelhança da imperfeição e numa tentativa de desmoralizar a obra Divina, sustentava aquela afirmativa enganosa, tentando convencer as espécies do gênero cósmico e a ele próprio que ele seria o verdadeiro ser superior, visto que, se a criação fosse sua, ele jamais inventaria o “Homem sapiens” e muito menos Adão como “Homem Cósmico” de referência e esta tragédia humana na Terra, jamais se iniciaria, conseqüentemente – dizia o satã – ele mesmo é que estaria no topo do universo e mais apto para ser o grande centro do mundo, sem ter que assumir a mediocridade da espécie humana, que trepa, defeca, come e urina, tal qual um quadrúpede irracional. Todavia, não esperava encontrar tanta resistência nas espécies espirituais localizadas em vários pontos dos cosmos e só ficariam com ele, ele próprio Lúcifer e seus anjos caídos. Assim sendo, outros não apoiariam seus objetivos mórbidos, resolveram então, dividir o universo para formar opiniões, quando nasceu a história das grandes discórdias – eu concluía.

     Zara me lembrava algumas citações bíblicas e eu emendava dizendo:

     — Com raiva, o satanás seguiu com o seu plano e assediou Eva com segundas intenções: “É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?” A mulher respondeu-lhe: “Podemos comer o fruto das árvores do jardim, mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim”, Deus disse: “Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois se o fizerdes, morrereis”. A serpente retorquiu a mulher: “Não, não morrereis; mas Deus sabe que, no dia em que comerdes abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal”.

     — Mas, isto está escrito no livro do Gênesis – interpolava o psicanalista.

     — Precisamente no capítulo três – eu respondia e continuava sobre o próprio capítulo do Gênesis – “Aqui está o homem, que pelo conhecimento do bem e do mal se tornou como um de nós” – “Agora, é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da vida, comendo do qual, viva eternamente” – os frutos da “Árvore da Vida”, nos planos iniciais do Divino, seriam para atender a todos nós, tornando-nos acessíveis a eles como para comer um elixir da vida eterna – porém, satanás, por inveja e por nós sermos predestinados à vida eterna, tentou Eva que comeu do outro fruto proibido, o da “Árvore da Ciência do Bem e do Mal”, desobedecendo às ordens de Deus – dizia para o psicanalista que ficava cada vez mais curioso até onde eu queria chegar com aquela descrição bíblica.

     Yashimin Zara me observava atentamente, enquanto eu discorria, fazendo sombras com os meus gestos entre as velas e a parede:

     — Os frutos da “Árvore da Vida”, a princípio, não seriam proibidos, se Adão e Eva não pecassem, comendo do fruto da “Árvore da Ciência do Bem e do Mal” antes de tomarem consciência dos perigos e dos pecados influenciados pela serpente, quando a partir de então, passaram não só a conhecer, mas a viver a inveja, a ambição, o ódio, a calúnia, a injúria, a difamação, os seus resultados, a luxúria ébria, enfim, todos os descaminhos da corrupção, quando ainda não estavam preparados para conhecê-los e rejeitá-los com opinião e ao se enveredarem pelos caminhos dos anjos caídos foram na direção da morte – prosseguindo na retórica das eras primordiais, eu me lembrava o que os meus mestres místicos, sábios e entes queridos me ensinavam a respeito.

     O doutor Zara fazia sinal para continuar e eu prosseguia no divã relatando:

     — Em verdade, através do pecado de Adão e Eva, os satanases conseguiriam ganhar muitos milênios entre as eras do infinito tempo, séculos e mais séculos de tempos e com isso retardaram a sua própria condenação eterna aos abismos profundos das cavernas e vulcões da Terra, quando conseguiriam, pelo pecado original, adiar toda sua condenação e ampliar sua própria sobrevivência. Atazanando o mundo, dividiriam opiniões a cerca da criação, visto que, atrasaram os planos celestiais que existiam preparados para o “Homo sapiens” do futuro, desde o início dos mais remotos tempos por estes séculos dos séculos afora – a partir daí, então, até Deus precisaria de incomensurável paciência porque o universo já estava pronto e programado, não teria mais como voltar atrás e ao se dividirem as opiniões, Ele também precisaria de tempo para provar a força do Seu amor perante todas as comunidades do gênero cósmico que criou contra as legiões das trevas que causaram as discórdias e as divisões naquela rebelião de anjos – o analista anotava tudo – quem pagou a conta, infelizmente, foi toda a humanidade porque sendo nós cósmicos, sucessivos e legítimos herdeiros de Adão, não poderíamos ter nos tornados corruptíveis – todavia, com o pecado deles, deixamos de ser incorruptíveis e a corrupção e a morte imperaram sobre a Terra – o psicanalista analisava os mínimos detalhes me informando até onde gostaria de chegar com este assunto, enriquecer seus conhecimentos sobre os símbolos, os sonhos e confirmar suas pesquisas – se Adão e Eva não tivessem conhecido o feitiço do maligno, hoje, todo o “Homo sapiens” definitivo seria reconhecido como os verdadeiros “Homens Divinamente Espirituais” e seríamos uma das espécies do gênero “Cósmico” programada desde as eras primordiais, depois de Deus, talvez os seres mais evoluídos do universo, realmente, o centro do mundo – porém, a corrupção só trouxe a miséria, a fome, à sina da morte à humanidade e daí começaria o nosso drama, a nossa luta pelos séculos conflitantes e dissociativos – as imprevisíveis conseqüências do pecado levaram Adão e Eva a serem expulsos do reino do paraíso primordial e Eva, no passado, concebeu e deu, também, à luz Caim e disse: Gerei um homem com o auxílio do Senhor. A seguir, deu também à luz Abel, irmão de Caim. “Abel foi pastor, e Caim lavrador” – daí, então, a vida entrou numa rotina que todos nós conhecemos hoje em dia.

     — Mas, estes fatos, também ocorreram nos primórdios da humanidade, segundo o livro do Gênesis – afirmava o analista.

     — Sim – respondia – não com vivos detalhes, visto que, a linguagem bíblica é sibilina – e continuava dando andamento ao tema – enquanto, o “Homo sapiens sapiens”, ainda, estava tentando aprender as artes de domesticar os animais e a agricultura para, finalmente, dominar o mundo, a família real de Adão já sabia de tudo, detinha todo o conhecimento científico e tecnológico e, apesar daquele pecado original, continuava sendo a família preferida de Deus, nobre e apta para governar todas as nações da Terra, mesmo que expulsos do paraíso – constituiriam acampamentos não muito longe dali, no futuro, prosseguindo toda a obra divina, cultivando aos arredores do jardim do Éden perdido, disseminando toda a sabedoria concernente às sementes básicas que germinariam em civilizações do futuro – enquanto aqueles nobres filhos de Adão ensinariam, num próximo futuro, àqueles velhos vizinhos sumérios, naquele pedaço do território próximo ao paraíso sagrado de onde seus pais foram expulsos e, inseridos nas terras a beira dos rios Tigre e Eufrates, nas regiões do antigo Iraque, espalhavam, também, os segredos e os conhecimentos das ciências e filosofias monoteísta – introduziriam, também, treinamentos sobre a nova tecnologia agropecuária que de uma forma ou de outra seria a mais avançada da época até o momento preexistente, porém, pouco conhecida pela humanidade. Apesar de seus vastíssimos conhecimentos em todas as áreas da ciência e tecnologia, teriam, como os seus vizinhos sumérios que suar também, conhecer a labuta para produzir da terra o pão nosso de cada dia – o trabalho, a dor, a fome, as doenças e a morte teriam sido instituídos como o preço do pecado.

     A energia elétrica se restabelece e Zara se ergue outra vez para apagar as velas dos castiçais – ficara no ambiente um forte cheiro de velas misturado com incenso.

     — Então, você quer me dizer que a escrita e os instrumentos agrícolas foram revelados ao “Homo sapiens” daquela região através dos filhos de Adão e Eva, quando expulsos do paraíso? – Perguntava Yashimin Zara, retornando próximo ao divã – quando, logo em seguida, eu responderia:

     — Sim e através dos anos, todos os projetos e conhecimentos tecnológicos por eles aprendidos foram se formando pela comunicação universal das famílias de Adão até Noé, estruturando as bases das civilizações pré-diluvianas e aquela única linguagem indiferenciada continuava por algum tempo pelo início do período pós-diluviano falada na “Torre de Babel” através de um único idioma universal, a princípio, grande centro de comunicação mundial entre as nações – a “Torre de Babel” seria como se fosse a “ONU” das eras primordiais, onde as tribos faziam acordos – e um pouco depois, após o dilúvio, quando o poder da neurolinguística e da comunicação dos filhos de Adão já se havia misturado nas populações, se fixariam novas idéias definitivas no subconsciente coletivo de cada homem, cidadão de cada acampamento tribal, permitindo, assim, dar seguimento à linguagem escrita e falada “a posteriori” diferenciada em cada comunidade e o conhecimento científico de cada povo aprimorava, principalmente, àqueles referentes à agricultura adquiridos dos filhos de Adão na civilização urbana ao sul da Mesopotâmia – respondia, dando ênfase à teoria dos meus entes queridos, mestres, mágicos e messiânicos místicos.

     — Interessante... Interessante... Ele ficava reticente entre a luz da filosofia e da rua que penetrava outra vez na sala pelas vidraças.

     — Desta feita – assim foi feito à história a criação do mundo, eu continuava dizendo – infelizmente, os pecados prevaleceram também fora do paraíso pré-diluviano, depois da expulsão de Adão e Eva, quando Caim cometeu o assassinato de seu irmão Abel – O Senhor replicou: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim. De futuro, serás maldito sobre a terra que abriu a sua boca para beber da tua mão o sangue de teu irmão. Quando a cultivares negar-te-á as suas riquezas. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra”. Caim disse ao Senhor: “O meu castigo é excessivamente grande para ser suportado. Expulsa-me hoje desta terra obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á”. O Senhor respondeu: “Não, se alguém matar Caim será castigado sete vezes mais”. E o Senhor marcou-o com um sinal, a fim de nunca ser morto por quem o visse a encontrar. Caim afastou-se da presença do Senhor e foi residir na região do Nod, ao oriente do Éden. Daí Caim conheceu a sua mulher. Ela concebeu e deu à luz e edificou uma cidade...

     — Mas, isto eu também já li no livro do gênesis – comentava Zara, quando imediatamente argumentei ansioso:

     — É justamente por isso que eu estou a lhe explicar – eu dizia para ele, continuamente – a primeira cidade do mundo é da descendência de Caim, uma estirpe que fabricava instrumentos musicais, cobre e ferro – pela evolução da história do gênesis, podemos comprovar, perfeitamente, a evidência de que mesmo antes da expulsão de Adão e Eva, naqueles tempos, já existiam outras famílias de seres humanos mortais do lado de fora do Éden primordial e perdido, formando casais, filhos e filhas entre os “Homo sapiens” primitivos que se ramificaram em várias raízes, tribos e estirpes e foram com eles que a família de Adão se misturou – até mesmo porque Deus não permitiria jamais o incesto, visto que, o incesto transgrediria as regras da criação, da seleção natural, sua soberania legal e além do mais, sob a ótica da genética, o casamento entre irmãos, pais e filhos, seria proibitivo devido aos perigos da degeneração da espécie porque, se houvesse a endogamia os riscos da extinção da espécie humana seria enorme e inevitável.

     — Cientificamente comprovado... – complementava Yashimin Zara, dizendo – embora, o incesto tenha sido um arquétipo difundido entre antigas dinastias reais, como as dos Faraós, por exemplo, ele não se transformou num hábito entre as populações – e eu reafirmava:

     — Até mesmo porque – eu ressalvava – foi a razão pela qual o “Homo sapiens sapiens” do futuro conseguiria, também, entre outros fatores, evitando a endogamia, dominar o restante dos outros “hominídeos” existentes, porque, estes últimos se acasalavam, praticando-a, sem conhecerem os segredos da genética e da biologia. Ao se enveredarem pelos caminhos do incesto, se enfraqueceriam e morreriam mais na frente ao acaso da seleção natural. Todavia, o “Homo sapiens sapiens” se robustecia, porque aplicava cada vez mais esta autocensura, adaptando-se melhor ao seu ambiente natural, vencendo as forças contraditórias da natureza e ao encontrar o seu equilíbrio orgânico, após, eliminado o elo perdido entre hominídeos distantes e o homem atual, naquelas turbulentas eras primordiais, ocorreriam fenômenos bem determinantes e sensíveis para a fixação da nossa espécie – os filhos de Adão e Eva já sabiam disso; organizavam e orientavam as novas comunidades do “Homo sapiens sapiens” que se despontavam em crise, como o nascimento de uma nova criança, e através da extensão rural, doutrinas de hábitos e costumes, códigos e leis; enviavam recomendações celestinas para nos cuidarmos com sabedoria e chegarmos até aqui, através dos séculos conflitantes.

     — Razoável explicação – comentava Yashimin Zara e eu continuava explicando:

     — Tem mais – eu prosseguia – Adão e Eva só foram gerar filhos do sexo feminino após o nascimento de Set que veio para substituir Abel, morto por Caim, tempos depois de serem expulsos do paraíso e naquela altura Caim já estava bem longe do Éden primordial e ficara bêbado e errante pelo mundo a fora, batendo de encontro com outros homens primordiais. Por outro lado, os velhos patriarcas anteriores ao dilúvio – eu prosseguia – procedentes da geração de Set e obedientes a Deus – eram todos homens mágicos que viveram do lado de fora, aos arrabaldes do jardim do Éden, entre os pontos cardeais e colaterais da rosa dos ventos cujo centro seria aquele paraíso terrestre e perdidos, através do qual, entre os acampamentos vizinhos e laterais, eles poderiam ver ainda os reflexos das labaredas de fogo dos querubins de ouro, distantes, lá do paraíso e armados de espadas flamejantes que guardavam os caminhos de ouro ao acesso à “Árvore da Vida”, o mais valioso dos tesouros.

     — Os guardiões do templo! – Comentava Yashimin Zara, exclamando – sentinelas do “Self” contra nossas depressões existenciais!

     Eu prosseguiria:

     — Quão fabulosos eram aqueles velhos patriarcas que, até então, falavam diretamente com Deus, comunicando-se com os anjos celestiais e retransmitindo os ensinamentos ao “Homo sapiens sapiens”, tendo suas vidas prolongadas, visto que, apesar da corrupção do seu pai Adão, eles ainda continuariam sendo os maiores entre os homens mortais, vivendo até aos oitocentos anos de idade e tendo filhos patriarcas que pela genealogia futura foram dez até chegar a Noé – todos eles tiveram vida longa como reis e foram extremamente ricos!

     — Continue...Continue – dizia Zara gostando.

     — Inclusive, um deles, denominado Enoc, foi arrebatado com vida para Deus – eu continuava – dada à incorruptibilidade do seu corpo, a espécie do seu gênero e da sua alma – Deus arrebatou-o para os céus, puro e impecável para realçar a cerca da viabilidade do “Homo sapiens” cósmico e imortal – aquele mamífero glandular, animal racional, desprezado por satanás que sempre o acusava, o tentava, o acuava e o dividia – porém, para molestar satanás, os filhos de Adão tiveram a preferência de Deus e o homem se tornaria um cósmico viável – o mesmo fez no futuro com Elias, imortalizando aquelas duas reservas corpóreas humanas, materiais e incorruptíveis – imaginem a pureza e o encantamento daqueles homens universais procedentes de carne e osso, no seio da eternidade, entre anjos e entes espirituais das mais diversas famílias das espécies cósmicas, carregados de luz no início da civilização!

     — É...Eu imagino – comentava.

     — Pois muito bem – eu prosseguia – Deus resolvera castigar severamente os satanases, enquanto eles contestavam e diziam: “A vida eterna para os homens não é justa!” – Deus irado por aquela arrogância, condenava-os impiedosamente a reis das trevas exteriores por intrometerem-se maldosamente na luz de Sua criação contra o homem mortal porque mesmo mortal a inteligência do Homem seria luz, a maior de todas! – Aqueles anjos caídos que não souberam conservar sua lealdade para com Deus, acompanharam Lúcifer e foram expulsos do reino de Deus e abandonados à sua própria sorte, tornaram-se malditos, rebeldes, perversos, espíritos imundos, traidores, mentirosos, assassinos e as verdadeiras escórias da criação.

     — Trágica vingança caía sobre nós – criticava Yashimin Zara.

     — Os anjos caídos irão, um dia, para o ajuntamento do julgamento final – eu dizia – e serão acorrentados em prisões eternas do fundo das trevas – eles foram condenados desde o início da criação, dado aos seus instintos assassinos – “Ai dos homens também porque seguiram pelo caminho de Caim, e por causa do lucro deixaram-se seduzir pelo erro de Balaão”.

     — O pecado surgiu como uma herança dissociativa no homem, no meio de uma catástrofe cósmica – explicava doutor Zara.

     — Deus castigou satanás e disse: “Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te esmagará a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar”.

     — A velha luta entre o bem e o mal – comentava o doutor.

     — A mulher cósmica seria a Virgem Maria, a rainha de todas as tardes e de todas as manhãs? – Eu me perguntava circunscrito – Serão as comunidades místicas do amanhã? Ou, uma nova aliança cósmica? – Talvez – eu duvidava – a mulher seja a Igreja do futuro...

     Yashimin Zara anotava tudo sem perder um detalhe das minhas indagações.

     — A mulher cósmica teria sido programada para trabalhar o espírito e a verdade, reproduzir na sua madre o “Homem Cósmico do Futuro” – eu comentava – nunca sentir a dor do parto, nem do sofrimento – todavia, infelizmente, o pecado corrompeu e gerou a grande agonia da batalha entre os filhos do bem e do mal, os filhos da luz e das trevas – o “Homem Cósmico” teria sido preparado para usufruir o Espírito Divino, viver eternamente e guiar do reino central do Éden paradisíaco a glorificação de todas as espécies do gênero cósmico, dos espíritos de luz e da eternidade de Deus, onde todos nós iríamos comer dos frutos prometidos da “Árvore da Vida”, quando seríamos definitivamente cósmicos, mágicos, eternos e coletivos e veríamos constantemente a presença da glória de Deus.

     — O “Self” nos homens em ascensão, quando todos nós seríamos “super-homens” à semelhança de “super-heróis” de uma quinta dimensão – analisava o psicanalista ouvinte.

     — Todavia – eu narrava, ainda – conforme eu já disse, o sarcástico satanás contestou os planos que Deus tinha para com os homens e, enciumado, tratou de armar suas ciladas até que conseguiu, através dos pecados, impedir nosso acesso à vida eterna, tanto fez que Deus escondeu os frutos da “Árvore da Vida”, pondo os querubins de espadas flamejantes à disposição para protegê-la, quando a espécie humana ficou até aos dias de hoje, usurpada, amargando, sofrendo dores, injustiças, suando para sobreviver e superar a escravidão da morte.

     — Se não tivéssemos problemas na vida, a vida teria graça? – Perguntava o doutor Yashimin Zara, observando – como poderíamos saber ter graça ou não, se seria bom ou ruim, até mesmo a respeito do paraíso, se nós nunca o experimentamos? – Da mesma forma – continuava – não podemos duvidar da sua teoria, pois nada de concreto prova a favor, nem tampouco ao contrário – concluía – é um dos grandes pensamentos do mestre Carl G. Jung – ninguém nunca provou que Deus existe e muito menos que Ele não existe.

     — Eu refletia sobre aquelas observações do discípulo junguiano e discorreria – como eu ia dizendo – relatava – a “Árvore da Vida”, outrora, estaria acessível a todos os homens mortais, porém, satanás, por inveja de nós, da luz de nossa inteligência, nossos sentimentos e determinação, conseguiu quebrar parte daquele encantamento e todas as nossas conquistas celestiais se tornariam mais difíceis além de dolorosas e o paraíso foi ficando cada vez mais distante – mas, aí é que está a sabedoria, porque Deus viu que entre muitos homens entre nós; apesar das dificuldades mortais impostas pelos pecados, a confusão e a divisão de idéias, assim como as dores do parto, as doenças e a morte; nascia a força viva da fé na vida entre alguns homens e a grande determinação de alguns líderes de estirpe animarem, no desenrolar dos séculos, vários esforços para se organizarem e continuarem vivendo em comunidades sobre este maravilhoso planeta, mantendo o gênero humano abençoado por Ele – quando surgiriam grandes homens e patriarcas bíblicos, quase que desafiando a mortalidade do corpo, quando através da grandeza de suas longas vidas e de suas luminosas idéias, fariam surgir belas famílias em organizadas sociedades – desta feita, permaneceriam no homem não só aqueles vis pecados gerados pela divisão e a corrupção do satanás que o levariam à morte, mas, permaneceriam também todas as virtudes santas da vida, do espírito, dos milagres e das profecias, entre os poderes do encantamento, dos remédios e da tecnologia – ficavam também as leis, a cultura, as artes, os conhecimentos e a filosofia, os sistemas de produção, a sensibilidade cósmica, as famílias e a herança da vida eterna – Deus deixara Suas raízes definitivas pela descendência de Adão: a sabedoria, o amor ao próximo, a rigorosidade das leis e a força do perdão – deixara os genes de Sua ciência pela descendência do nosso pai Adão – são arquétipos...Interrompera de novo Yashimin Zara.

     — As heranças mágicas de nossos sonhos – eu prosseguia explicando – sejam lá o que for, foram construídas a partir de Adão e Eva, são os frutos da miscigenação entre a geração cósmica e o selvagem definitivo do “Homo sapiens” que ficou no código genético do “Homem Cosmogônico” ou o “Homem do Futuro” que se desponta nos dias de hoje.

     Yashimin Zara comenta: – somos o “Homem de Dois Milhões de Anos...” foram tempos necessários para que cérebros humanos se formassem, comprovando a teoria de Carl G. Jung, o grande psicólogo.

     — Enquanto ele descrevia, eu continuava ditando – “Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e deles nasceram filhas, os filhos de Deus, vendo que as filhas dos homens eram belas, escolheram entre elas as que bem quiseram para mulheres”. Então, o Senhor disse: “O Meu espírito não permanecerá indefinidamente no homem, pois o homem é carne e os seus dias não ultrapassarão os cento e vinte anos”. Naquele tempo os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e delas tiveram filhos. Foram esses os famosos heróis dos tempos remotos – eu lembraria.

     — Também está escrito, semelhante a um capítulo do livro do gênesis – observava.

     — É... Eu sei – responderia – para ser mais preciso, no capítulo seis – confirmava.

     — É... Está certo – aceitava Zara que concluía, dizendo: é...

     — É o quê?... Eu perguntava.

     — Pois é – continuava – naqueles tempos – dizia – estava nascendo o inconsciente cósmico, eterno e coletivo.

     — Ah! É? Como? – Eu indagaria.

     — Sim – ele me dizia – o nosso inconsciente cósmico, eterno e coletivo é como se fosse, ao redor de nós, o reino de Deus imantado por uma poderosa força positiva.

     — Estou com muita fome – eu interrompia, reclamando.

     — Bem a propósito – observava Yashimin Zara – o único alimento que deveríamos comer neste momento, seria uma maçã, o fruto da ciência do bem e do mal!

     — Sim, deveríamos aceitar, mas, antes gostaria que me explicasse mais e melhor sobre o inconsciente cósmico, eterno e coletivo – solicitou.

     É o conceito que se dá a tudo que precede a história individual de cada ser humano, são estruturas carregadas de história, como um imenso reservatório de lembranças históricas, uma imensa memória coletiva de muitos “megabytes” na qual é preservada a história da humanidade, semelhante a um “Chip” de computador inserido no nosso cérebro com todas as informações do universo, armazenado e ativado no inconsciente – ele não deve ser ignorado; ele é natural, ilimitado e poderoso, coisas de Deus!

     Yashimin Zara, após aquela explicação, levantou-se, fez menção de aprovação com a cabeça e perguntou-me:

     — Você já foi hipnotizado alguma vez?

     — Não, ainda não – respondia.

     — Faremos uma sessão qualquer dia.

     Onde? Aqui nas Cordilheiras dos Andes?

     ... No Templo de Heron?

     — Sim, mais longe... No Himalaia talvez.

     Sorrimos, acertamos horários e encontros para a próxima reunião com Heron de Castelonha.

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VII – Batalhas no arco-íris segundo acontecimentos apocalípticos.

 

     O amor e o perdão são as emoções mais fortes criadas por Deus, naturalmente, para aliviar toda dor e sofrimento que se submeteu à espécie humana em função dos seus próprios pecados e pesadelos, o amor e o perdão são os sentimentos mais próximos que a carne poderia experimentar perante a glória de Deus para que através deles, um dia, possamos ser realmente o centro do universo, imortais para perpetuarmos os sonhos de Adão – tentava racionalizar o psicanalista Yashimin Zara ao ouvir Heron – por outro lado, continuava – Deus e o Homem não deixam de ter uma certa cumplicidade perante a criação, visto que, Deus está acima e é superior a todas as coisas e o Homem foi feito para crescer junto com Ele até atingir Seu próprio estado cósmico, multiplicar e dominar toda Terra, sendo superior a todos os animais e quiçá dos anjos.

     O Homem é dotado de inteligência capaz – ousada a ponto de ter em mãos um grande arsenal nuclear com poderes de tirar a Terra da órbita e desorganizar todo o universo, provocar uma catástrofe cósmica e balançar com a força da harmonia de Deus!

     Heron sempre dizia que Deus nos tempos das trevas profundas e dos abismos monumentais, ao construir o universo, Ele era engenheiro de Si mesmo.

     No quarto dia das solenidades da confederação messiânica, Yashimin Zara saía do ambiente para procurar o jovem indígena na sala de iniciação, aproveitava a caminhada para filmar os prédios, prosseguia gravando todos os dados possíveis e imagináveis entre as quatro basílicas do Oráculo do Heron, fazendo suas pesquisas através dos círculos mais sagrados, nas missões, confrarias místico-esotéricas e das ordens dos cavaleiros messiânicos, onde se clamavam, entoando cânticos ao Senhor, enquanto os sinos das catedrais badalavam na hora da Virgem Maria, rainha do céu e da terra.

     Tocavam chamando as famílias para rezarem.

     Louvavam ao Senhor porque o fascínio do mundo brilhava nas catedrais e já estavam previstos tempos de alegrias e liberdades espirituais, quando sábios mágicos e prudentes cristãos abririam um selo apocalíptico que dizia, numa carta:

     Iniciar-se-á finalmente o novo ciclo do reino e os novos rumos da criação – quando nesta ocasião histórica e sob o signo do “apocalipse” nascerá a época das mais novas esperanças!

     Ao se consolidarem as velhas páginas da nossa histórica civilização com todas as emoções e a evolução de nossas vidas, despontar-se-á, agora, a abertura do “Livro da Vida”, começando uma outra aliança cósmica para a grande revolução espiritual do homem!

     Yashimin Zara caminhava pelas praças do Templo e via pessoas interessantes, sacerdotes, místicos e esotéricos, todos em pequenos grupos, dialogando, alguns sentados em roda num vistoso gramado, outros debaixo de árvores à beira de um lago azul – um deles o chamava:

     — O senhor que é o psicanalista?

     — Sim.

     — Nós estávamos discutindo aqui sobre os sonhos – o que o senhor acha deles?

     — Os sonhos têm várias formas de se apresentar – para Dr. Freud ele representa um escape para nossas angústias e frustrações, principalmente na esfera da sexualidade – e seu discípulo, Dr. Carl G. Jung, dizia que a “função dos sonhos é tentar restabelecer o nosso equilíbrio psicológico, produzindo um material onírico que reconstitui de forma sutil, o equilíbrio psíquico total do cidadão” – não deixava de dar razão a Dr. Sigmund Freud nestas citações, porém, Jung iria mais longe com as pesquisas sobre os sonhos, dizendo que “nós não deveríamos ser ingênuos com os estudos dos sonhos, visto que, eles têm sua origem em um espírito que não é bem humano, e sim um sopro da natureza” – e eu, particularmente, digo mais, quando dormimos, este espírito da natureza se desprende para se encontrar com outros espíritos numa troca de aprendizado porque, quando sonhamos, ativamos a energia do nosso inconsciente e este inconsciente não pode ser desprezado porque ele, “natural, infinito e poderoso como” as estrelas “, é capaz de conduzir a nossa alma a mundos imprevisíveis!

     — Ainda há pouco escutávamos a pregação do mestre Heron e ele falava sobre os sonhos e os pesadelos de Deus, o que acha disto? – Perguntavam.

     — Muito importante, até gravei e acho o seguinte: Deus é a soma de tudo que vive e de tudo quanto é emoção, tal qual somos, quando as sentimos – nas eras primordiais, nada era vivo, nada existia, tudo era trevas, mas Deus iniciava a criação, não do nada, como muitos pensam, mas às custas da Sua própria natureza que se libertava e extravasava, saindo das trevas dela mesma ou de algum outro lugar desconhecido ou do Seu próprio inconsciente Divino que veio à tona, transformando-se em vontade e redundando no livre arbítrio, escolhendo a luz e repugnando as trevas, levando-O a necessitar da companhia de Seus pares, dos anjos que criou, inclusive, a companhia do calor humano – tais contradições gerariam, em Deus ou num sopro de uma natureza qualquer, vibrações imprescindíveis que poderiam ser consideradas, pela luz da psicologia, de emoções – estes sentimentos se manifestariam no Homem, também, os herdamos de Adão em várias formas, inclusive, em forma de sonhos e pesadelos e em Deus não poderia ser de outro modo ou se considerarmos Deus como natureza própria, tais vibrações poderiam ser feitas por partículas quanta que vieram lá das entranhas da luz, ou do próprio cerne de Deus ou de um fenômeno da natureza invisível que desconhecemos, ainda que, mística e admissível, como a psicofísica contemporânea, visto que, certos tipos de luzes são infinitas, mesmo que suas fontes se apaguem, algumas luzes permanecem e continuam a viajar pelo universo por tempo indeterminado, atravessando galáxias e eras – aqui na Terra já recebemos luzes de vários pontos dos cosmos, cujas fontes se apagaram, porém, estas luzes que aqui passaram, algumas ainda, continuam a viajar pelo universo afora.

     — As partículas quanta são como células vivas de Deus espalhadas por este universo afora – comentava um dos integrantes do grupo que se aproximava, confirmando as palavras de Heron – quando uma se apaga, outra se acende, simultaneamente, tal qual a morte e o nascimento de uma estrela nova – comparava.

     — Quanto tempo ficará aqui conosco? Indagava um terceiro.

     — Bem, ainda, pretendo concluir minhas pesquisas, andar por estas basílicas e conhecer o oráculo – não sei, respondia.

     — Isto levará mais de uma semana, intrometia-se um outro cidadão – aqui tudo é muito grande!

     — Pretendo, ainda, conversar pessoalmente com o mestre Heron Domingos de Castelonha – comentava, Yashimin – por enquanto, só o ouvi falar.

     — Você veio com o novo cavaleiro escritor? – Indagava o primeiro.

     — Sim.

     — Não vai ser difícil seu contato com o mestre Heron e você conhecerá, aqui, pessoas muito interessantes para este tipo de trabalho que quer desenvolver. Precisando da gente, estaremos por aqui até o final do mês e agradecemos a explicação sobre os sonhos.

     — Não há de quê, fiz o melhor que sabia.

     Yashimin Zara seguia seu caminho na direção da sala de iniciação e depois me contaria tudo que havia ocorrido.

     Enquanto isto, acontecimentos mórbidos ocorriam e as motocicletas eram guiadas por habilidades exclusivas e nenhum ser humano seria capaz de imitá-las e aqueles “supermotoqueiros” em suas máquinas lascivas iam e vinham a embriagar o povo com efeitos especiais – a valsa de Straus fazia sentir arrepios nas pessoas que assistiam tamanha insensatez, curiosamente, pela televisão – quando distraídas ao vislumbrarem os movimentos das motos lascivas, as pessoas teriam que ser fortes demais para não se verem, também, seduzidas e lutarem, incessantemente, com todas as forças vitais contra aqueles exércitos de malditas, concentrando-se, sistematicamente, para não serem atraídas por aqueles ícones virtuais que contaminavam as idéias da gente, telas das tevês e dos maravilhosos microcomputadores de nova geração.

     As pessoas condicionadas se quisessem ficar curadas, teriam que viajar ao templo de Heron para serem exorcizadas daquela maldição – o templo do Heron tinha poderes extrapolares suficientes para desencantar, totalmente, pessoas daquela vil ilusão, canalizando energias cósmicas em dupla polaridade que iam e voltavam dos cristais das montanhas dos Andes, conseguindo descondicionar telespectadores enfeitiçados de todos os males de suas casas perdidas por aquelas misteriosas apresentações.

     O analista Yashimin Zara observava tudo... Gravava no vídeo com cuidado para não se iludir com as máquinas virtuais.

     Todavia, sabíamos que em determinados lugares poucos conseguiriam desligar seus equipamentos de telecomunicação, porque as “motos” eram sedutoras demais e viciavam a admiração de pessoas por deslizarem nos desertos tremeluzentes do anel de fogo das Cordilheiras dos Andes.

     — Por quê haveria uma compulsão tão coletiva? – Perguntava-se nos centros dos ciclos mais sagrados...

     — É uma dissociação psicológica coletiva já dissecada pelo Dr.Carl G.Jung – responderia Yashimin Zara na defesa das ciências psicofísicas e paranormais, ao analisar o fenômeno.

     Por outro lado, o sacerdote Heron de Castelonha sabia que, se a criação não desse certo, a qualidade divina dos cosmos universal cairia no fundo do fosso obscuro, no lado oposto das aspirações celestinas e se arrebentaria numa fragmentação tão frágil que, seria a pior dissociação total do Divino Cósmico e Coletivo – ao reunir todas as forças das loucuras destrutivas, iria matar o mundo e transferir o Seu poder para o satanás narciso.

     O caos primordial fora complicado, comentava sempre Heron, onde suas conseqüências, em determinados momentos, seriam imprevisíveis, reafirmava – o universo se atrofiaria – dizia ele – minguaria, se encolheria, se Deus naquela oportunidade única, no meio do caminho, desistisse de continuar a Sua arte principal de criar o mundo, Ele Se desacreditaria! – Exclamava Heron – e nós estaríamos negado para a criação, quando seríamos definitivamente excluídos com a Sua glória e tudo mais se implodiria! – Porém – explicava – Ele fez justamente ao contrário, integrou-nos nas alturas dos céus dos Seus mais elevados sonhos criativos e nos fez no Seu eterno momento, comprometendo-Se com tudo aquilo que criou. Pôs à mercê Seu reino, Seus sonhos, Seus instintos, Seu corpo, Seu sangue e Sua glória! Criou-nos à Sua imagem e semelhança. Criando-nos homens cósmicos, eternos e coletivos! Totalizando-nos em nossas memórias a Sua mente cósmica e coletiva para que, um dia, nos tornássemos como Ele! – Observava Heron.

     “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado!” Rezam às honras comunitárias as eclesiásticas bases da América Latina.

     De repente...As motocicletas monstras desciam do vulcão “El Misti” a duzentos e oitenta quilômetros por hora e a atmosfera era acre com cheiro sulfuroso que se exalava pelas telas de televisão e dos microcomputadores dos navegadores da “internet”.

     Toda vez, após o deslumbre do povo em assistir aquelas acrobacias alucinantes, uma ou duas famílias eram atacadas pelo furor eletrônico.

     As notícias das tragédias entre mortes e esmagamentos apareciam nos telejornais.

     Quando não era um, era outro dilacerado:

     Perna para um lado e braços para o outro. Sobravam no chão as marcas de pneus, lamas, óleo e morte.

     Diversas casas de telespectadores eram atingidas e como uma grande máquina eletrônica, avassaladora, de fazer carne moída, se despedaçavam as vítimas num satânico ritual repugnante.

     Começavam lentamente entre aquelas formidáveis acrobacias, valsa de Straus para um lado entre luzes mágicas, ruídos serenos, balés, aplausos e alegorias para outro.

     A atenção contagiava o povo, lentamente, que, desprevenido contra aquelas maravilhas tecnológicas, entrava em letargia, se hipnotizava e ninguém raciocinava mais, enquanto tudo acontecia, as pessoas ficavam como anestesiadas de frente às telas das tevês e dos computadores na “internet”.

     Aqueles ruídos serenos transformavam-se em abalos sísmicos que evoluíam nervosos para um terremoto eletrônico, fazendo as pessoas vibrarem e sentir calafrios.

     Ao começar a escapar fumaças pelas telas de tevê, aquelas imagens fantasmagóricas e virtuais se dissipavam afora, liberadas dos monitores, entre “shows” e fogos de artifícios, disparadas em explosões retumbantes.

     Neste ínterim, milhares de partículas segmentadas semelhantes a fótons se justapunham coloridas com as cores vivas do arco-íris, destinadas a atacarem pelo lado de fora dos monitores dos vídeos.

     Logo em seguida, em frações de segundos, aquela poderosa energia luminosa se compactava materializando no meio ambiente as formas indescritíveis das máquinas sedutoras.

     Naquele momento, os telespectadores ficavam paralisados como se um gás paralisante imobilizasse a sua presa...E daí em diante, eram atropelados, destruídos como se estivessem no meio da pista.

     Após o sacrifício das vítimas, vinha o som da valsa de Straus, deslumbrante, e em seguida um ritmo de marcha fúnebre, incessante, após a cerimônia virtual celebrada pelas máquinas nocivas.

     Adiante, surgia uma tristeza profunda entre os telespectadores que sobreviveriam como se eles tivessem cheirado o pó da cocaína por um momento de alegria cujo preço posterior seria a infâmia e a agonia.

     A agonia dos sobreviventes...Era traumática – transformada todas as mentes normais em pessoas obcecadas pelo inferno vulcânico daqueles minutos vibrantes de intenso prazer, as pessoas ficavam vidradas pelos “shows” das motos assassinas – os monstros das montanhas.

     Ficariam para sempre alucinadas e se não fossem ao Heron enxugar suas lágrimas, toda psique ficaria abalada e inutilizada.

     As motocicletas não se cansavam de matar gente e ao executarem o golpe assassino iniciavam um verdadeiro ritual de sacrifícios pagãos.

     Dos capacetes emanavam ácidas e hediondas fumaceiras de fluídos fantasmagóricos, dissipando inebriantes criaturas e monstros tecnológicos que ficavam pairados no ar, por alguns segundos de silêncio, acima, próximos aos tetos das salas de televisão, mostrando cenas de sacrifícios pagãos, como se fossem palcos de altar de uma arena sinistra de templo Asteca.

     Em seguida, aceleravam e desaceleravam, ficando no ar a ignomínia de um profano poder de alucinação exibida num som estridente e orgíaca, emitido pelos motores das fantásticas cilindradas com desejos estranhos de matar, drogar, estuprar, arrancar corações vivos e sacrificar inocentes para o deleite de algum deus insaciável.

     Os “motoqueiros do apocalipse” viviam no seu próprio suspense e se afagava um ao outro erguendo seus braços em acenos entre gestos de vitórias, após a truculência.

     Maldita brutalidade! Maldita boçalidade! Maldita bestialidade! – Diziam alguns sábios profetas contra os navegadores da “internet macabra”.

     Aqueles monstros materiais dissociavam-se outra vez em infinitésimas criaturas feitas de partículas de luz, transformando-se de novo nas imagens virtuais que eram sugadas para dentro do vídeo, deslocando-se para as cordilheiras reais que se perdiam nos espaços das florestas de nuvens e geleiras, saindo do ar, quando as televisões e as linhas da “internet” eram desbloqueadas e voltavam outra vez às programações normais, como se nada tivesse acontecido.

     Estranhos fenômenos... Diziam os “internautas” e telespectadores do mundo inteiro.

     O psicanalista testemunhava tudo que se sucedia e exclamava: Terrível ilusão! – Mas, não há de se duvidar – tantos homens de guerras e líderes de nações, também, já iludiram o povo, cometendo assassinatos em massa, em nome da pátria – ronda entre nós uma dissociação parapsicológica e coletiva – comentava – e o que é pior, não somos tão ameaçados, ainda, por catástrofes naturais, provocadas por pragas Divina, porque, na natureza, não existe nada tão destruidor como o arsenal de bomba H existente no mundo, capaz de desorganizar todo o universo, tirando até a Terra de sua órbita – o maior dos inimigos reais – e entre a poluição das águas e do ar, existem queimadas, desmatamento de matas nativas, assoreamento de rios e entre outros, os efeitos especiais de imagens virtuais da telecomunicação, confundindo as nossas mentes, apagando nossos símbolos e destruindo nossos arquétipos – todos projetos de autoria dos homens pela obsessão de ganhar dinheiro – porém, lhe digo, caro amigo, já é o tempo dos contrários vencerem, quando devemos exterminar com a indústria química dos plásticos cujas embalagens liberam isômeros de estrógenos para dentro de alimentos, tornando-os proscritos redutores de espermatozóides, transformando machos da natureza em afeminados, podendo conduzir até a humanidade para uma esterilização total e irrestrita. É chegada a hora de adaptar todas as tecnologias para o bem estar social num desenvolvimento auto-sustentável, respeitando o ambiente natural, as comunidades e as emoções do ser humano – concluía.

     Os povos de outros continentes se manifestavam, entre protestos, chamando à atenção para aqueles temas, pelas ruas – faziam passeatas com faixas, cartazes e ruídos de buzinaços pelas avenidas, por uma melhor qualidade de vida – abaixo a industria plástica! – Gritavam em coro, exigindo, também, providências para que a segurança internacional fizesse intervenções militares na América Latina e que as realizassem o mais rápido possível, pois temiam que as motocicletas saíssem para invadirem seus países.

     Presidentes e reis das nações unidas se preocupavam.

     Após alguns dias se organizariam, imediatamente, reuniões de altos comandos militares entre potências mundiais com o objetivo maior de atender ao clamor das nações – fora determinado que vários exércitos e expedições unidos com mais de trezentos mil homens e uma armada gigantesca se deslocassem para as Cordilheiras dos Andes – os militares levariam consigo equipamentos bélicos de ultima geração e alta tecnologia a fim de testá-los sobre aquelas motocicletas malditas.

     Depois de duas semanas, as armadas já iniciavam deslocamentos e manobras militares ao sul do oceano Pacífico ao longo do litoral ocidental da América Latina, de onde partiam aviões supersônicos e jatos de extrema precisão, teleguiados por cirbenéticos computadores eletrônicos, acompanhados de helicópteros gigantes e máquinas voadoras de última geração. Tais equipamentos decolavam de porta-aviões que eram verdadeiras cidades oceânicas – os exércitos das nações do mundo, finalmente, estavam mobilizados e se preparando para atacarem as máquinas lascivas.

     As estranhas criaturas tecnológicas já haviam dado baixas em mais de vinte mil famílias por entre àquelas cidadezinhas e aldeias andinas povoadas por índios e povos do cone sul. A maioria das pessoas sacrificadas era humilde e da fé cristã – os locais prediletos daquelas máquinas esquisitas ficavam onde tinha alguma capela ou igrejinha, assim como ponto de reunião das comunidades eclesiásticas de base. Países como a Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Venezuela, Paraguai, Argentina e Chile foram muito atacados e atingidos em territórios do interior, visto que, estes eram mais vulneráveis e acessíveis àqueles estranhos inimigos, inclusive, em algumas áreas fronteiriças do Brasil pantaneiro e amazônico.

     A atual tecnologia daqueles países ainda não estaria à altura para enfrentar o inimigo mortal, armado e motorizado como aquelas máquinas bizarras e sofisticadas que se desencadeavam a partir de estranhos monstros tecnológicos virtuais nas montanhas.

     As motocicletas assassinas pareciam instrumentos de seres sobre-humanos de civilizações tecnologicamente avançadas.

     Os rádios e jornais advertiam a todo instante sobre aquele perigo “eletro-eletrônico” e iminente que se extrapolava das telas de vídeo em nossas casas, aconselhando as populações à não ligarem seus aparelhos de telecomunicação.

     Todavia, a curiosidade humana era ainda maior e a maioria se via tentada a desobedecer e quando ocorriam os genocídios hediondos, de tal tamanho ficava aquele mistério eletrônico que para esclarecer havia grandes dificuldades pelos peritos, técnicos especialistas e espertes em divulgação.

     Apesar dos ministérios das comunicações daqueles países estarem atentos e de prontidão para desligarem seus sistemas nacionais de telecomunicação, prevenindo-se quanto a elas entrarem no ar, assim mesmo, por um atalho desconhecido aquelas “monstromáquinas” persistiriam e apareceriam nas telas de vídeos nas casas dos mais humildes.

     O restante das frotas aliadas chegaria hoje em frente de regiões circunvizinhas à fossa Peru-Chile no oceano Pacífico.

     A força aérea daquela operação seria denominada de “aviação cobra” dado à sagacidade que envolvia o inimigo e parte desta aviação cobria uma área na junção Peru, Bolívia e Chile.

     Outra parte dos exércitos aliados ficará estrategicamente dividida entre as Cordilheiras dos Andes Ocidental e as cadeias interiores da região leste que ficava do outro lado.

     Enquanto isto um grande exército já ia se deslocando para o meio dos Andes formando um corpo expedicionário no sentido dos mares interiores.

     Mais para baixo um grande aparato militar dirigia-se à Terra do Fogo e ao sul do deserto de Atacama.

     Entre a rebeldia natural daqueles inóspitos despenhadeiros e acidentes geográficos afloravam assustadoramente as motocicletas assassinas que interfeririam nas comunicações da América Latina.

     Os Estados Unidos protegia toda a América do Norte através de um grande cordão militar no golfo da Califórnia e no golfo do México, cercando entre os oceanos Pacífico e Atlântico os braços leste e oeste da Sierra Madre.

     Todavia, estas motocicletas mágicas deslizavam tranqüilas entre as dunas de gesso e barrancas humanamente intransponíveis da Sierra Madre, atingindo regiões distantes como florestas de nuvens e regiões desérticas.

     Seguiam correndo por entre trilhas dos índios Comanches...como se fossem invadir os Estados Unidos da América do Norte!

     Fez-se necessário, também, mobilizar uma grande divisão dos exércitos aliados no sentido do mar do Caribe e do oceano Pacífico, visto que, diverso “motoqueiro” ergueu-se em vários pontos entre os vulcões das selvas, nos pântanos fechados e nas praias abertas da Honduras e Guatemala.

     Aquelas misteriosas máquinas virtuais se espalhavam nas Américas feitas ervas daninhas, transformando-se em reais e era preciso combatê-las!

     Todavia, a Europa, Ásia, África e Oceania ainda estariam livres daqueles tormentos transcendentais...

     Heron Domingues de Castelonha meditava na câmara secreta do lado oeste e via estranhos sinais de clarividência em seus cristais.

     Nos espelhos d’água em suas bacias de prata via quando surgiam motocicletas assassinas com os capacetes em cores vivas do arco-íris.

     Heron se encontrava em seu oráculo no Arraial das Sementes e de lá planejava toda uma programação mística para este ano.

     Sendo um cavaleiro da “Ordem Melquisedeque”, ele sabia perfeitamente o grau de sua competência.

     Conhecia profundamente todas as organizações cristãs deste mundo, as missões, a Igreja Católica, as Igrejas evangélicas e demais Igrejas espíritas existentes.

     Desta forma era conhecidíssimo entre as ordens religiosas.

     Não só conhecido, mas respeitadíssimo pelas agremiações da cristandade que estavam sempre alerta para estes intempéries do meio.

     Afinal das contas, Heron era o maior líder espiritual do século XXI!

     Todavia, Heron não desconhecia seus inimigos mortais, àqueles das organizações satânicas e anticristãs que também estavam disseminadas pelos quatro cantos do mundo nestes tempos de apocalipse.

     Heron sabia perfeitamente quem seriam eles...

     Heron tem como um dos seus principais alvos as seitas macabras que se sucediam navegando pela “internet” e, dado às facilidades das telecomunicações por via satélite, se espalhavam entre povos e nações, através dos grandes impérios ilícitos dos fabricantes de drogas derivadas da cocaína, divulgando um grande clima de terror criado pela sua pirataria que se difundia através das redes de comunicação e aterrorizavam com o apocalipse as famílias da sociedade, trazendo a discórdia, o medo e o pânico do “fim do mundo”.

     Ainda há pouco, Heron comentara numa reunião que sentia no ar a presença de estranhas vibrações e que os seus cristais estariam instáveis.

     Sabia que a esquadra armada das nações unidas estava de corpo e armas presentes para proteger diversos países daquela maldição e, inclusive, já fazia manobras entre os oceanos de nossas Américas.

     Aquelas estranhas “motocriaturas transcendentais” – se sabe lá de onde vieram – ameaçavam o equilíbrio da união das nações!

     — Será que os nossos exércitos estariam realmente preparados para enfrentá-las quando invadirem todas aquelas regiões e travar tão grande batalha?...Ficava reticente Heron.

     Todos sabíamos que há tempos naquelas regiões até que se justificaria a presença militar internacional, visto que, há muito existiriam escaramuças entre governos, potências mundiais e traficantes poderosos do craque, maconha e cocaína.

     Infelizmente, hoje, nesta parte do hemisfério sul já se concentrava as maiores organizações anticristãs do mundo, não pelos povos e populações, que ao contrário são muito fervorosos e cristãos, mas por uma minoria resoluta e poderosa que detém uma grande parcela do poder econômico, disseminando as drogas e por terem construído verdadeiros clãs de fábricas de entorpecentes, pouco a pouco no desenrolar dos anos, se preparando para dominar o mundo e se guiar pelo governo das trevas.

     Ao formarem enormes conglomerados econômicos e industriais devido ao comércio ilícito da cocaína e seus derivados, hoje, ditam até certas normas e contratos na economia internacional.

     Malfadada ficou nossa América Latina como que suserana de um império avassalador: O narcotráfico internacional!

     Estamos já nos primeiros cinqüenta anos do Século XXI e a sofisticação do narcotráfico fora de tal magnitude durante décadas anteriores que aquelas fábricas de derivados da “coca” redundaram, hoje, em grandes manufaturas de alta tecnologia e rotatividade deste amaldiçoado produto.

     Entre as rochas subterrâneas e vulcânicas dos Andes, sótanos e penhascos da Sierra Madre, selvas amazônicas e América Central, enormes refinarias do complexo industrial fabricavam em série a desgraçada droga, uma nova espécie de cocaína de última geração, a mais refinada das drogas do mundo atual que, em enormes templos do mal, foram elaboradas, há pouco tempo, clandestinamente, em honra ao deus “Baco” da alucinação – esta droga não trazia tantos efeitos colaterais como as outras do passado, colocando em risco a vida do cidadão, nem danificando pouco a pouco o sistema nervoso viciado, todavia, criava uma dependência que não havia meios, nem métodos de tratamento eficazes para sua libertação, quando a vítima ficaria escrava pelo resto da vida na dependência subliminar a ponto de ter que enquadrar a droga diretamente no orçamento familiar – esta nova droga até permitiria que o indivíduo viciado se mantivesse em condições produtivas nos estudos e nos trabalhos, inclusive, o induziria a um melhor desempenho – esta droga, ainda, atuava sobre o relógio biológico da pessoa, permitindo-a planejar para se drogar e se alucinar somente em suas horas de lazer – porém, o indivíduo não poderia jamais viver sem ela, teria que se drogar permanentemente pelo menos duas vezes por mês, pelo resto de sua vida, se não morreria num ataque fulminante do coração – não haveria risco enquanto se mantivesse no vício, porém, a partir do momento que interrompesse, haveria uma alta letalidade. Com medo de morrer, o indivíduo se tornaria permanentemente um dependente e à mercê do preço do fabricante – transformando o indivíduo em eterno escravo da droga – a droga se tornara uma questão de sobrevivência para os viciados – e por ser ela de pouco efeito colateral, muitas das vezes, até indivíduos de alta responsabilidade social se submeteriam ao vício para melhorar no desempenho profissional porque a concorrência no mercado de trabalho tornara-se a mais acirrada de todos os tempos devido à globalização da economia e acabavam, definitivamente, por se submeterem à escravidão econômica dos traficantes e já nesta altura do fim do mundo, até alguns líderes políticos de importantes países já estariam comprometidos, visto que, aquela droga faria os homens aproveitarem mais cinco por cento da capacidade intelectual e habilidades em geral, além daquelas que dispunham nas condições normais.

     Apesar dos tempos da abertura do “Livro da Vida”, época de compreensão e da grande revolução do espírito humano, aqueles “anti-Cristos” continuam fazendo maldade contra a salvação; já amaldiçoados desde o início do mundo, não tinham nada a perder; tumultuavam, atazanavam, engendrando tudo para o homem não evoluir, nem reconquistar a sua inicial condição de “Homem Cósmico”, visto que, nestes tempos, fabricavam drogas e ainda ficavam amedrontando populações inteiras sobre um iminente cataclismo apocalíptico!

     Desta feita, para manter a relação acirrada contra a boa obra da criação, o “anti-Cristo” endemoninhado ou aquele que foi do contra desde o início de tudo, manteria boas relações com os chefões do narcotráfico internacional porque aquelas drogas agiam também no inconsciente coletivo, levando as populações adorarem, inconscientemente, à Lúcifer narciso – soberano absoluto de uma organização central, secreta, denominada “besta do apocalipse” que de seus institutos diabólicos poucos conhecidos e discretos, cujo número fora decodificado em um binário de um poderoso computador escondido pelas seitas satânicas em algum lugar deste mundo, onde armazenam todo o conhecimento científico do mal, manobras político-partidárias, manipulação de povos e massas humanas, demopsicologia de cada nação, planejamento estratégico e diversos modos de persuasão para o engajamento na corrupção das mais variadas classes político-empresariais e facções – uma questão de ordem e hierarquia das forças malignas – os espíritos demoníacos se insinuavam através das mais altas lideranças sociais, preparando verdadeiros monstros intelectuais para administrar cargos públicos, doutrinando simples homens do povo e de negócios de mega empresas multinacionais, controlando-os para que ficassem dominados pelos parâmetros de uma fórmula psicofísica que teve como origem aqueles três números fétidos, mefistofélicos e digitais [6] [6] [6], objetivando o maior programa existente dentro de um computador, onde através deles armazenar-se-ia as informações de todas as forças negativas com poder de fazer chantagens e interferir nas comunicações da Terra – antiético poder da corrupção que iludia com o consumo a filosofia materialista do “Homem Ideal”, inebriando o mundo, anuviando a nossa real origem cósmica – tal instituição já conseguira quebrar diversas tradições de povos, inverter importantes valores sociais e constituía, nos dias de hoje, uma enorme entidade financeira com um capital de tão grande envergadura que já poderia até ser considerada como a um outro bloco econômico à parte no meio das uniões aduaneiras das nações organizadas, paralelo e ameaçador contra a atual ordem econômica mundial – era o governo das forças das trevas agindo e que já se movimentava, ocultamente, há muito tempo contra todos os valores morais do mundo, quando, agora, de posse das novas tecnologias de informática e telecomunicação, se escancarava, exacerbando o seu mais profundo espaço de propaganda, com força total, soberano e absoluto – intervindo em costumes e mercados, modificando hábitos fomentados pela globalização da economia e criando bancos de dados sobre a escalada da vida de cada cidadão do planeta.

     Os escroques lavavam seu dinheiro investindo na agricultura e pecuária, pequenos “agrobusines” agro-industriais. Dada a restrição de capital retido pelos banqueiros não mais se financiariam, legalmente, através de bancos, projetos nas áreas de pequenos produtores rurais.

     Tanto que os policiais e os serviços internacionais tentaram combater o narcotráfico, mas, pouco adiantaria – apesar desta época ser considerada por alguns de “época do ouro e das riquezas entre as nações” – a pobreza continuava.

     No meio de toda aquela ironia, os pobres ficavam cada vez mais pobres e passando por grandes dificuldades em decorrência da escassez de alimentos, dinheiro e emprego, quando não havia incentivo nenhum para o setor primário de produção, visto que, os braços robôs substituiriam competitivamente a mão de obra braçal, principalmente na agricultura.

     A reforma agrária já era coisa do passado na América Latina porque a terra havia deixado de ser um bom negócio para o pequeno produtor rural e não haveria incentivo nenhum para a produção de alimentos em nível de pequena propriedade.

     Contudo, os chefões do narcotráfico internacional se aproveitavam daquela situação esdrúxula para financiar projetos na área daqueles que tinham suas pequenas propriedades rurais que se mantinham com a produção de subsistência.

     A concentração de renda se restringia cada vez mais a poucos beneficiários e a sua redistribuição não se tornaria proporcional como os otimistas econômicos e sociais do século passado esperavam – continuaria injusta!

     O mundo social havia mudado muito pouco, embora, estatisticamente a sua situação, aparentemente, havia melhorado em relação ao século XX, por isso alguns economistas caracterizavam a atual época como “época do ouro e das riquezas entre as nações”. O número de miseráveis se presumia diminuído um pouco, segundo as estatísticas de algumas nações mais pobres que estariam até pagando as suas dívidas externas.

     Todavia, não era verdade, visto que, os sofrimentos haviam aumentado entre as populações pobres da América Latina.

     Os problemas continuavam seriamente e em grandes proporções – havia uma mentira oficial infame através da mídia, tentando mascarar a miséria real do povo.

     A tecnologia agropecuária, por exemplo, havia sofrido uma revolução radical onde a mão de obra braçal tinha sido praticamente substituída pelos robôs agrícolas.

     Tratores eram conduzidos por computadores em cabinas à distância através de câmaras de televisão e controle remoto, colheitadeiras poderiam ser operadas até por via satélite e com absoluta precisão com quase zero por cento de perca na colheita.

     Os pivôs de irrigação retiravam água automaticamente dos mananciais dos rios e subsolos.

     Os ciclos das chuvas deixaram de ser a maior preocupação da agricultura, porque no meio rural o homem controlara as águas, embora havia riscos de inundações em algumas regiões mais pobres e abandonadas pelos governos.

     Porém, só tinham acesso àquelas tecnologias os grandes capitalistas do mundo da época.

     Eram os agentes financeiros que produziam os alimentos das nações!

     As grandes propriedades rurais da América Latina foram transferidas do empresário rural para os banqueiros, visto que, por não poderem pagar os juros exorbitantes de seus empréstimos, eram sugados a ponto de entregarem suas fazendas hipotecadas como garantia de crédito rural.

     Alguns cidadãos passaram a ditar as normas e projetarem o consumo de acordo com a tecnologia de produção de suas fazendas industriais e não pela demanda do consumidor – o mercado passou a ser limitado pelos grandes empresários.

     Desta feita, monopolizavam e controlavam também povos e governos.

     Nas proporções os problemas sociais continuavam o mesmo, porém, com uma nova roupagem, mais grave, porque aqueles banqueiros só faziam a produção planejada que não dava para atender a demanda de todo mundo, gerando escassez aos mais miseráveis, principalmente, das áreas suburbanas onde se localizavam os grandes bolsões de pobreza que não tinham tradição, nem sabiam como lidar com as máquinas agrícolas e nem com a terra.

     O destino dos miseráveis seria obscuro: ou eram absorvidos pela mão de obra do narcotráfico internacional, ou iriam se arriscar pelas terras da reforma agrária sem a mínima assistência social, tecnológica e gerencial.

     A grande luta política no mundo desta época era pelo acesso à tecnologia de produção de alimentos, rápida e eficiente, sem o uso indiscriminado de agrotóxicos e proteger o meio ambiente para que não sofresse maior impacto que causassem mais desequilíbrios ecológicos – era uma conseqüência de velhas leis aplicadas em barreira técnica, sanitária e ecológica nas relações comerciais entre os países.

     A globalização da economia exigiria muita qualidade de vida e para determinados produtos ela geraria, em alguns casos, muitas barreiras comerciais de cunho sanitário, tecnológico e ecológico intransponíveis, para proteger interesses de determinadas nações em detrimentos da ascensão econômica de outras.

     “Todo o homem tem direito a terra e ao acesso à tecnologia”, era a grande bandeira em prol dos povos da América do Sul para melhor exportar e captar divisas – todavia, esta política só ficava no discurso.

     O que a máfia da cocaína fazia era se aproveitar daquela situação de descontentamento geral no meio desta parcela pobre e representativa das populações da América Latina.

     Oportunamente, financiavam aos pequenos produtores rurais, o acesso à tecnologia agropecuária e microindustrial das quais seriam carentes, porque aqueles pequenos herdeiros da reforma agrária da América Latina, ficaram abandonados à sua própria sorte na agricultura de subsistência e eles seriam os melhores clientes do comércio de drogas.

     A população mundial mais que se duplicara em relação há cinco décadas anteriores, apesar do controle à natalidade e dos avanços tecnológicos que permitiriam os alimentos se multiplicarem em escala geométrica – hoje, mais de treze bilhões de habitantes – o quê teria detonado, sutilmente, pela indústria química, a fabricação de produtos isômeros de estrógenos na manufatura de embalagens plásticas para alimentos e substâncias detergentes, permitindo, assim, em determinadas circunstâncias de temperatura ambiente, a liberação destes isômeros, provocando uma esterilização coletiva.

     Os fatores econômicos limitantes teriam sido determinados por aqueles restritos grupos capitalistas privilegiados que não queriam a ascensão social daquela grande classe de pequenos produtores rurais porque temiam a competição do mercado agropecuário e a derrocada do seu grande império monopolista também infiltrado pelo governo das trevas!

     Por outro lado, a maior barreira para a ascensão social e econômica daqueles povos marginalizados da América Latina, fora proibi-los de ocuparem definitivamente os solos de terras inexploradas, visto que, se consentidos fossem, trariam enormes transtornos para os grandes capitalistas, porque, nos subsolos destas mesmas áreas inexploradas, existiriam grandes mananciais de águas subterrâneas e valiosas minas de metais nobres – dois componentes valorosíssimos nestes meados do século XXI – estes subsolos com lençóis de águas minerais e metais nobres estariam, somente, nas mãos de cinqüenta bancos internacionais interligados às suas empresas, poderosas multinacionais, monopolistas, detentoras dos fatores de produção, visto que, por conseguirem tanto poder neste final do mundo, nem a política de privatização adotada pelos governos, conseguiria mais controlá-las.

     As principais capitais e cidades do mundo tornaram-se megalópoles insuportáveis, bolorentas e abafadas dada à péssima qualidade do ar, desenfreadas, dada a concentração demográfica causada pela tecnologia cibernética no campo, grandes áreas de florestas queimadas, devastadas e o avanço das construções civis em forma de mutirões – casas baratas e pré-fabricadas eram construídas em áreas suburbanas a bel prazer, decorrentes da revolução dos terrenos baldios – bairros inteiros anoiteciam abandonados e amanheciam com centenas de casas em construção pré-fabricadas.      A revolução dos terrenos baldios fora um fato “sui generis” que ocorreria na América Latina na primeira década do século XXI.

     Fora uma conseqüência direta das invasões de terrenos urbanos pelas camadas sociais mais pobres ainda em decorrência da infelicidade de seus proprietários legítimos que eram da classe média alta não agüentarem mais as leis municipais que foram acercando-os e aliciando-os no sentido de obrigá-los a construir o mais rápido possível sob pena de perder o imóvel, visto que, os projetos de urbanização das cidades não tinham mais tempo para esperá-los se decidirem entre a venda de seus terrenos ou a construção de casas próprias sobre eles – todavia, a chamada “classe média alta”, quando se deu conta, havia, também, empobrecido e não tinha mais recursos para construir a casa própria nos moldes de seus próprios sonhos individuais, nem tampouco pagar impostos urbanos elevadíssimos, decretados pelo poder municipal, em virtude da especulação daqueles terrenos em tempos de desvalorização do imóvel territorial urbano.

     Lá se iam os sonhos de consumo da classe média...

     Muitos mantinham seus terrenos na ilusão de um dia enriquecer e poder realizar o sonho dourado de ter uma casa própria do seu próprio jeito, com toda a liberdade arquitetônica e paisagística, do jeito que eles quisessem, personalista o bastante para construírem as casas dos seus sonhos – porém, esta liberdade o cidadão comum já tinha perdido há muito tempo.

     Contudo, outros se mantinham na esperança de que algum rico empresário comprasse seu terreno um dia, a preço de ouro, mesmo sem nada valer, visto que, os melhores terrenos das cidades já estariam vendidos e não tinha mais para quem vender.

     As áreas baldias e disponíveis daqueles terrenos, doravante, seriam consideradas suburbanas e desqualificadas.

     Entretanto, os desabrigados não poderiam mais esperar até que os prefeitos das cidades resolvessem desapropriar os legítimos proprietários – aqueles cidadãos de classe média alta que não queriam ir mais para lá morar e nem construir casas pré-fabricadas nos moldes da engenharia “coletivo-popular” da municipalidade e nem pagar seus impostos territoriais urbanos – os mesmos que não queriam construir nem para aluguel, em alguns casos prefeririam até correr o risco de perder seus imóveis.

     Não haveria acordo...

     Organizaram-se associações de proprietários que acusavam os executivos municipais de restritivos e usurpadores da liberdade alheia através de uma demagógica política habitacional de pesados impostos.

     Por outro lado, os desabrigados acusavam os proprietários legais de decadentes que não queriam assumir a postura do seu novo “Status Quo” social por não assumirem a pobreza que se encontravam e nem mudarem para os bairros mais pobres de casas pré-fabricadas, uniformemente arquitetadas e planejadas de uma forma homogênea para atender aos interesses da coletividade.

     — O quê nos dá a idéia de como os governos arregimentam e manipulam as grandes massas – dizia Yashimin Zara – naquela ocasião ele caminhava numa das praças do Templo e estava muito preocupado com os acontecimentos, enquanto se aproximava do jovem indígena, procurava o destinatário da carta enviada pelo simpático homem da pensão nas montanhas.

     Os desabrigados convidavam os “novos pobres” a compartilharem daquele infortúnio.

     Todavia, eles estavam envergonhados.

     A pressão social se tornara insuportável...Visto que, ao invés de surgirem os “novos ricos” , como se esperavam na sociedade, surgiriam os “novos pobres” da recessão.

     As prefeituras municipais ficando sem saída, fizeram leis para atender a maioria que estava desabrigada.

     Conseqüentemente, as invasões de terrenos baldios foram legalizadas e o conceito de propriedade urbana a partir daquele momento acabava de mudar na América Latina:

     “Ninguém mais poderia possuir um lote urbano exceto se explorado ou utilizado no prazo mínimo de cinco anos, a partir da data desta publicação sob pena da lei”.

     O decreto, na realidade, fora aprovado porque os verdadeiros ricos não se interessavam mais por lotes para especular e todos os seus lotes já estariam sendo utilizados.

     O sistema de telecomunicação se aperfeiçoara de tal maneira que milhões de telefonemas poderiam se feitos ao mesmo tempo em microcondutores da espessura do tamanho de um fio de cabelo e as notícias se espalhariam com facilidades pelo mundo afora – não existiria mais o pesadelo de um colapso nos sistemas de comunicação.

     Foi quando daí o pessoal da classe média alta na América Latina despencou do poder e da vida política.

     Houve uma grande e rápida mudança social, onde as universidades terão que se apressar para acompanhar – reportava Yashimin Zara.

     — O que são as universidades? – Desta feita, perguntava, o jovem nativo por meio de seus novos intérpretes.

     — São lugares, assim como na sua sala de iniciação, onde se concentram todos os conhecimentos humanos, toda a sabedoria, ciência e tecnologia do mundo – elas são instituições poderosas, assim como nós, que podem se rebelar contra a ordem mundial da mentira, senão, as forças ocultas, as pseudociências e as seitas satânicas atropelarão a luz, impondo suas idéias, enfraquecendo as messiânicas.

     — Como assim? – O jovem perguntava.

     — Por exemplo, você é capaz de caminhar sobre as águas daquele lago, você aprendeu com a natureza daquele lugar – não foi?

     — Sim, aprendi.

     — Então, as forças messiânicas são como o seu conhecimento sobre aquele lugar, são forças puras que vieram dos céus, forças cósmicas que lhe ensinaram a aprender com aquela natureza! As universidades deveriam transmitir somente os conhecimentos puros feito as águas cristalinas e não jamais transferir conhecimentos com propósitos simplesmente econômicos – Gostaria que me ajudasse a encontrar o destinatário desta carta – solicitava, Yashimin, mudando de conversa, após a breve explicação.

     O serviço secreto social suspeitava que aquelas motocicletas que iam e vinham com seus “motoqueiros” de capacetes em cores vivas do arco-íris sobre as cabeças serviriam para levar e para buscar matérias primas necessárias ao processamento industrial da “coca”, onde fábricas escondidas nas regiões mais inóspitas daquele submundo do crime organizado as manufaturavam e depois as exportavam para os subúrbios das megalópoles, onde seriam comercializadas.

     Desconfiavam que as motocicletas iam e vinham, também, das roças do continente a subornar famílias, jovens e crianças no sentido de colaborarem com aquela nova ordem econômica mundial do capital do narcotráfico internacional que financiava a tecnologia ao pequeno produtor rural.

     Seria o mesmo que obrigar àqueles beneficiários do financiamento a conceder à fonte credora, garantias de direitos de reservas nas terras, numa determinada área delas financiada e destinada ao plantio “clandestino” da matéria prima de cocaína – caso contrário, não seriam beneficiados.

     Prometiam que este novo “governo”, “rico e forte”, dado ao seu imenso capital, iria ser mais “justo” para com pobres excluídos da América Latina e que todos os “políticos corruptos” iriam definitivamente para a “cadeia” e que os novos pobres iriam retornar à sua condição de classe média alta – mentiam descaradamente e muitos néscios acreditavam.

     A “Agência Internacional de Polícia” através de seus departamentos de combate ao narcotráfico internacional organizado fez recentemente um relatório à união das nações, alertando dos perigos à vista, visto que, ao se levantarem as possibilidades bélicas de tais organizações do “anti Cristo”, verificaram que eles teriam disponíveis um exército de mais de quatrocentos e cinqüenta mil homens armados com um arsenal de guerra tão sofisticado o tanto quanto àqueles permitidos pelos exércitos oficiais das nações unidas.

     Criaram uma organização social, bélica, econômica e política viável a ponto de dar inveja ao cidadão comum e a qualquer sistema de governo mundial, onde seus servidores, ou seja, aqueles que trabalham envolvidos com a elite do narcotráfico internacional, hoje, fazem parte de uma rede de intercâmbio clandestino subornando aos vassalos pobres e excluídos desta América andina.

     Eles adquiririam poderes capazes de eleger seus representantes políticos como inúmeros vereadores, prefeitos, deputados, senadores, ministros, juizes e até presidentes de repúblicas em algumas nações do mundo.

     Fizeram um belo plano de trabalho muito bem elaborado onde os desvalidos seriam mantidos pelo dinheiro sujo do tráfico de drogas internacional, quando alguns governos até fariam vistas grossas, desta feita, pelas casas humildes pré-fabricadas gratuitamente, saúde pública e excelentes escolas gratuitas para crianças pobres, terras para produzir, enfim, ações sociais por ele patrocinado – o quê deveria ser feito pelas instituições legalmente constituídas no mundo, foram substituídas em detrimento da classe política desmoralizada ou até mesmo patrocinada pelos gordos recursos do narcotráfico que a neutralizaria – por outro lado, havia uma outra parcela do povo mal atendida, recebendo, através de organizações não governamentais até então constituídas, o dinheiro espúrio transformado em “limpo ou lavado” que teria aplicação nas campanhas sociais – criar-se-ia uma espécie de apoio coletivo ao mundo do crime organizado pelas boas obras filantrópicas e o patrocínio de alguns cargos populares eletivos que vinham subornando.

     Por outro lado, os chamados empresários honestos e ortodoxos alegavam que a contribuição social deles já era mais do que suficiente através dos impostos que pagavam e por sua vez, eles não tinham culpa nenhuma se as classes política de alguns países do mundo, desviassem recursos, não cumprissem seu papel social e tivessem se compromissado com o narcotráfico internacional.

     Substituindo a ação social do Estado cujo mínimo, necessário, alguns governos deixaram de cumprir dado à escassez de recursos provocada pela recessão em suas nações, a política do Estado mínimo e a grande corrupção que se alastrou pelas dívidas públicas adquiridas de banqueiros do neoliberalismo do final do século XX, tão sonhado por alguns e odiado por outros, permitiu que o narcotráfico na América Latina tomasse dimensões imprevisíveis.

     Alguns motoqueiros como “emissários de reis” da época dos senhores feudais dariam cobertura econômica aos servidores do narcotráfico internacional que, leais, ganhariam altos salários e por sua vez, levariam também uma determinada ajuda para aqueles mais pobres que se comprometiam – era o que se suspeitava a respeito da hierarquia da máfia da cocaína, onde estariam incluídas as motocicletas do arco-íris.

     Os carentes que porventura não se engajassem no sistema político-administrativo do capital do narcotráfico internacional, na maioria das vezes seriam perseguidos e até volta e meia esmagados pelas máquinas da política facínora.

     Não tinham escolha, ou se enquadrariam ou morreriam, muitas vezes até de fome!

     Pois, quando não se enquadravam e produziam, as máquinas lascivas iriam até eles e queimariam suas lavouras e matariam seus animais e sua gente porque não faziam o que o império do narcotráfico queria.

     Os herdeiros da reforma agrária na América Latina ficariam destinados a enveredar no mar de lama da cocaína.

     Muitos abandonaram suas terras para não se submeterem à imposição mafiosa.

     Os que contribuíam, a maioria das vezes ficavam livres como cidadãos respeitáveis porque vendiam as suas honra e cidadania, mas, se tornavam escravos do tráfico organizado.

     Dado a rapidez da ascensão social de muitos agricultores corrompidos, alguns governos faziam “vistas grossas” classificando-os como trabalhadores rurais bem sucedidos, gratificando-os até com prêmios e diplomas de reconhecimento oficial.

     Todavia, na verdade, eles cresceriam devido ao nível de tecnologia adquirida por meio daqueles financiamentos ilícitos do fundo social do crime organizado pelo narcotráfico internacional.

     Na verdade, os fatos que motivaram a entrada dos aliados nesta guerra, além do pânico entre os ricos povos do primeiro mundo que faziam pressão social através de seus representantes legais e de suas manifestações de rua, seria a pressão dos banqueiros internacionais que monopolizavam as reservas minerais e hidrominerais dos subsolos da América Latina. Tais banqueiros financiariam a refrega contra as motos assassinas porque a ocupação territorial daquelas terras desocupadas acima dos subsolos tornava-as produtivas, quando incentivadas pelo narcotráfico internacional. Conseqüentemente, criariam sérios problemas, também, quanto ao futuro, junto aos ministérios das minas e energia das nações latinas americanas, visto que, com o domínio do narcotráfico internacional sobre as terras produtivas, inevitavelmente, eles iriam controlar também as imensas reservas hidrominerais dos subsolos que lhes pertenciam.

     Como as reservas dos subsolos estavam na mão dos grandes conglomerados financeiros internacionais e as “motocicletas assassinas” teoricamente protegiam os “Sem Terra”, ocupantes dos seus solos na parte de cima, os monopólios empresariais acabariam por decidir entrar nesta guerra, financiando ações dos exércitos aliados contra aquelas máquinas inimigas supostamente aliadas ao narcotráfico internacional.

     Tudo indicava que, a princípio, ao concluírem que as forças do narcotráfico internacional estariam envolvidas com as máquinas lascivas, os exércitos das nações unidas se preparariam para combatê-las.

     As rotas do tráfico internacional de drogas foram minuciosamente detalhadas e eram distribuídas em pontos de vendas planejadas no varejo.

     Utilizava-se de vias aéreas, terrestres, marítimas e fluviais que cortavam a América Latina em suas regiões mais rochosas e infernais.

     Criaram um tipo de embalagem apelidada de “invisível” que nem os cães farejadores conseguiriam rastear.

     A partir de lá tomavam o rumo das demais cidades e iam para serem revendidas nas principais capitais e centros comerciais do planeta, cujos comércios em alguns locais já seriam até liberados por seus governos.

     Heron sabia que aquela operação de guerra deveria ser cuidadosa, motivo pelo qual demorava muito. Além do mais, ele teria que aguardar a posição das delegações religiosas de todas as ordens sagradas e demais religiões para definir a estratégia de ação a ser conduzida pelo mundo místico e esotérico nesta guerra apocalíptica, dissimulada entre as multinacionais e o narcotráfico internacional – para ele, na realidade, esta guerra seria um outro tipo de guerra porque seria camuflada dentro de um propósito sagrado entre os “anti-Cristo” e as religiões do mundo – desconfiava também que as forças ocultas das trevas fomentariam uma divisão entre eles através do narcotráfico internacional e as grandes multinacionais que controlavam as riquezas do mundo – Heron via muitos perigos à espreita.

     Muitas vezes, dada a demora, alguns repórteres se confundiam transmitindo más notícias como se aquela operação militar com toda sua magnitude fosse enganosa e servisse apenas para iludir e manter as aparências perante o resto das populações mundial – como se aqueles milhões de dólares gastos pela ONU, financiadas pelas multinacionais, fossem apenas para dissimular vendas de armamentos de última geração e o registro de importantes medidas de natureza bélica, que iriam ser tomadas a qualquer momento, para que as motocicletas saíssem daqueles lugares e como se elas fossem sair, tão facilmente, com a pressão militar.

     Realmente a invasão se protelava muito, visto que, todo o cuidado seria pouco.

     Alguns descrentes comentaristas de guerra tinham a sensação que toda a movimentação beligerante ali na beira do oceano Pacífico teria apenas um efeito moral e ilusório, apenas para se prestarem contas de alguma ação militar contra a tecnologia das malditas motorizadas.

     As populações ativas, intelectuais e pessoas de bom senso, assim como a maioria que conservava ainda um pouco de pudor, esperanças e espírito cristão estava na espera espreitando os acontecimentos discretamente até um melhor esclarecimento.

     Yashimin Zara telefonava para alguns amigos europeus e as notícias que eles sabiam eram as mesmas ouvidas na América.

     O jovem indígena ficara na praça a esperar-me sair do oráculo do Templo.

     As tropas das nações unidas estavam naquelas regiões a aguardar uma ordem geral de ataque para invadir e poder executar todos seus planos militares.

     Esperavam e manobravam entre as regiões mais bravias do planeta. Embora, o desfecho não se realizava nunca todos aguardavam solidários a um ataque fulminante e decisivo contra as máquinas guerreiras, possíveis soldados do narcotráfico mundial que estariam a serviço do belzebu.

     Os pessimistas não acreditavam na intervenção militar porque achavam que haveria um pacto de interesse comercial entre as próprias multinacionais com o mundo do crime, as máquinas estonteantes e as autoridades públicas dominantes junto aos militares que zelavam pela segurança do mundo nestes meados do século XXI.

     Os agentes da “Agência Social de Polícia” fizeram um outro relatório estimando que daquelas regiões latinas e vulcânicas se fabricavam hoje para exportação mais de noventa por cento de toda a cocaína existente no planeta e outras drogas de todos os tipos e variedades.

     Seria bem sugerível que aquelas motocicletas com seus pilotos de capacetes em cores vivas do arco-íris fossem, indubitavelmente, armas bélicas do mundo do crime organizado, uma comunidade sem território, sem pátria ou constituição, mas dona de uma autoridade quase que absoluta sobre os domínios de diversas nações da América Latina e competitiva a grandes empresas multinacionais.

     Vendendo as mais variadas drogas pelos cinco continentes, presume-se que seria uma economia global caracterizada como uma união mefistofélica de todas as máfias da cocaína com o governo das trevas.

     Direcionada ao submundo do crime uma sensível parte da globalização da economia ficaria sob o domínio de determinados grupos de “anti Cristo” que obrigaria à reverência ou até mesmo ao culto e à adoração a um novo deus da ilusão monetária e tirando um pelo outro, seriam como deuses irreverentes fabricantes de drogas e corrupção, submetidos ao poder da besta.

     Como uma representativa parte da população já estaria viciada, não seria tão difícil o trabalho paulatino do desmonte das sociedades cristãs de hoje e só sobreviveriam quem eles permitissem, até a conquista definitiva e territorial do planeta Terra, realizando assim o sonho alucinógeno de satã – meditavam alguns teólogos do Heron.

     Infelizmente, o egocentrismo de alguns multimilionários empresários que poderiam gerar mais empregos às populações e outros banqueiros internacionais, indiretamente, não enxergavam os acontecimentos mórbidos e através de suas especulações em bolsas de valores contribuíam mais ainda para os desajustes sociais existentes, visto que, além de não enxergarem as maledicências econômicas do mundo à sua volta, não estariam muito preocupados em remediar, nem dar emprego para mais ninguém, visto que, não queriam mais redistribuir a renda com o medo que o mundo acabasse – desta feita, eram considerados por alguns sacerdotes como um outro grupo de “anti-Cristo” rico e avarento dissimulado entre as nações.

     Heron temia que no final se formassem diversos grupos se unindo contra as plebes abandonadas com o propósito de selecionar no mundo, somente as classes abastardas e esperava os representantes das diversas religiões para montar a estratégia de ação contra o “anti-Cristo” dissimulados entre os motoqueiros e bilionários banqueiros influenciados para adorarem a Lúcifer narciso, o soberano absoluto da instituição secreta do mal – a “besta do apocalipse” – uma organização que discrimina os carentes e desvalidos do mundo como reles massas humanas subordinadas.

     As motocicletas continuam acontecendo e os exércitos unidos até o momento só conseguiriam desmantelar esporadicamente uma pequena fábrica aqui e outra refinaria de coca acolá, prender um traficante ou outro com o apoio de paramilitares locais e sem muita expressão econômica e política.

     Foram à procura de Heron, o jovem nativo e Yashimin Zara, algum tempo depois de terem se reencontrado – naquele ínterim, achavam o destinatário daquela carta recomendada pelo cavalheiro das montanhas. O homem a abria nervosamente, deixando no ar uma profunda expressão de indagação, dizendo: — naturalmente. Eles ficavam curiosos, porém, nada diziam.

     Atravessaram uma rua de dentro do Templo e com alguns companheiros conversaram, tamanha a preocupação – será que Deus nos abandonaria numa hora tão difícil como esta?

     Yashimin Zara, a pedido de Heron, tinha entrado na câmara oeste do oráculo do templo, obedecendo a todos os rituais – Heron, precisava de alguns dados científicos que só Yashimin poderia fornecer a respeito da psicofísica e suas relações com as partículas quanta.

     Heron se encontrava lá dentro no seu oráculo a rezar e ao meditar pensava no anjo Gabriel, o mensageiro dos céus – Yashimin, só retornaria para fora do oráculo, depois de conversar com Heron, quando nos diria a respeito de seus sonhos...

     Enquanto Yashimin entrava, eu saía.

     Naqueles dias, Heron teria vários sonhos e visões – posteriormente, Yashimin nos diria.

     Dentre eles despertara com a arca de Noé naufragando nos mares do dilúvio de sua consciência.

     Desta feita todos os cristãos estavam em pânico com as últimas notícias dos “telejornais” que entravam rápida e esporadicamente no ar em edição extraordinária.

     Por outro lado a criação se encontrava agitada e se amontoava gritante e esvoaçante na cabeça de Heron:

     Eram pássaros atropelados por elefantes gigantes, mastodontes e girafas de pescoços engalfinhados em gaiolas de viveiros de naves espaciais possantes que foram aos espaços siderais levando leões de aço, morrendo de medo real dos garanhões de fogo a galope, destronados de seus tronos de reprodutores oficiais. Os macacos espavoridos pelos conveses da arca de Noé espantavam os pavões que voavam tão alto o tanto quanto urubus.

     A reprodução das espécies fora abalada:

     Apareceram garças cruzando com corvos e os cisnes com as galinhas d’angola. As vacas cobrindo com os bodes e as cadelas com ursos polares. Coelhas e gatos, animais amazônicos entre os asiáticos e os siberianos miscigenando-se com os africanos e os glaciais. Os homens abrutalhando-se como animais e as mulheres com sátiros bissexuais – criações em obras de arte e artistas de clones viscerais – o homem Noé, nu e atônito, seduzido por mulheres e embebedado pelas suas próprias filhas, vê a natureza tremer a cerca da irreverência e a sua arca já estava afundando entre a biodiversidade amazônica natural que se corrompia! – Desde os tempos da desordem primordial não ocorriam fenômenos tão alucinantes! – Dinossauros ressuscitando de sítios arqueológicos distantes cujos ovos incubados se eclodiam dos séculos pré-diluvianos, como se a história natural fosse retroceder de novo.

     As motocicletas continuam entre as curvas abissais em retorno às rochas de Sierra Madre.

     Heron vai de novo aos cristais na câmara secreta e faz outra consulta – prepara as bacias de prata, enche-as de água e reconsulta. Entra em transe e pelos espelhos d’água percebe nos Andes uma potente erupção vulcânica determinada pelas motocicletas transcendentais.

     Enxerga grandes batalhas pelos sítios sagrados dos céus e vê os capacetes da morte rosnando ferozmente, dançante entre as praças públicas de aldeias e povoados do México, Guatemala, Honduras, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Bolívia, Charco Paraguaio, Chile, Argentina e as divisas do Brasil amazônico – vê fogo e fumaça! Finalmente, acorda do transe e depara-se onde estava no seu oráculo na Cidade Arraial das Sementes – foi quando Yashimin chegara até ele e o acudia quase desmaiado, angustiado descrevera seus sonhos – tentava interpretar a visão do pânico, mas não conseguia – foi nesta tentativa que Heron observou milhares de capacetes com as cores do arco-íris, passando e repassando ao redor, encima das “motos”, vestidos de coletes dourados e escarlates, como se fossem escudos do apocalipse em direção a um grande mortal combate!

     Naquelas plácidas terras ao redor dos Andes, os sacerdotes e cavaleiros messiânicos representados nestas ordens têm muito compromisso, ações nobres e éticas para cumprir. As missões deste século são relevantes para todos os pobres da América Latina.

     Naqueles dias Heron Domingues de Castelonha designara para que nosso grupo fosse entrar em contato com o mestre Canodes Simão Bolívar, cavaleiro messiânico e sacerdote da Ordem dos Cavaleiros dos Andes.

     Enquanto isto outros irmãos iriam contatar com Anastácio de Sá Pizón, também, cavaleiro messiânico e sacerdote da Ordem Santo Sacra.

     Toda a confederação messiânica do mundo estava em alerta total, pois, a qualquer momento poderia ser convocada para uma guerra intercontinental.

     Todos iríamos nos reunir na Cidade Arraial das Sementes onde está localizado o Oráculo do Heron com o objetivo de executar planos e metas para todas as ordens messiânicas atuais no contexto desta emergência apocalíptica de guerra americana contra as máquinas mortíferas que acuariam aos pobres das comunidades rurais e suburbanas.

     Todavia, a maior condição para participação na estratégia da confederação messiânica é que as novas ordens místicas que fossem se alistando, no mínimo se convidadas, deveriam ser reconhecidas, como aliadas, entre outras, ordens mágicas, guerreiras e ativistas.

     Ordens mágicas porque os cavaleiros deveriam ser mágicos tais quais os cavaleiros messiânicos das ordens Melquisedeque, Andina e Santo Sacra.

     Guerreiras, visto que, as ordens não se intimidariam perante os inimigos, nem às ameaças de quaisquer formas que fossem os governos.

     Ativistas à semelhança ética dos atos praticados por cada um daqueles cavaleiros messiânicos pertencentes à confederação.

     Ali no Heron, organizávamos o nosso quartel-general!

     Pairava no ar a ansiedade pela fantástica era que atravessávamos neste terceiro milênio do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando se abriria o “Livro da Vida”, a era da revolução espiritual do “Homem Cósmico!”.

     Assim era considerada nossa época pelos guias espirituais do “Oráculo do Heron!”

     Antes de começarmos os nossos contatos com aqueles outros sacerdotes dos Andes, fizemos a seguinte oração:

     Senhor, pedimos perdão para sabermos perdoar – o maior bem material que desejamos é a saúde do corpo e da mente – o maior bem espiritual que almejamos é a força do amor e para podermos ir em frente, elevando nossas preces – o maior bem intelectual que solicitamos é a sabedoria, porque, sem ela, não saberemos como conduzir o nosso povo nesta emergência apocalíptica – amém.

     Enquanto isto, as motocicletas continuam mortíferas a espalhar espumas de cinzas, gases incandescentes e correntes de ignimbrito pelos ares.

     Heron ainda tentava decifrar aqueles enigmas através de símbolos “junguianos” que com a ajuda e a participação de Yashimin Zara, tudo ficava mais claro, mais calmo, afinal, Heron já tinha uma idade bem avançada.

     Enquanto o mestre Anastácio de Sá Pizón meditava a posição de seu próprio ser, elevando-se ao contexto do universo virtual de seus sonhos, ao mesmo tempo, Canodes Simão Bolívar meditava sobre os templos mitológicos de gigantes que carregavam imensos blocos de pedras!

     Ambos estavam no deserto de Atacama, fazia quarenta dias e quarenta noites a exorcizar o diabo e a praticar o jejum.

     Heron preparava uma conferência no templo, após sua recuperação.

     Entretanto, alguns fenômenos muito estranhos começavam a surgir nos céus da América Latina.

     Ocorriam fatos meteorológicos que deixavam os meteorologistas confusos.

     Concomitante às ações das motocicletas tortuosas, ocorria inexplicáveis mudanças atmosféricas nos céus cambiantes da América Latina – fenômenos estranhos estavam acontecendo por onde elas passavam.

     Outros meteorologistas atribuíam tais fenômenos à poluição atmosférica causada pelas erupções vulcânicas dos Andes, quando há mais de três meses não se viam nenhum arco-íris nos céus!

     Parecia que o esplendor solar havia se escondido atrás das montanhas de regiões tão luminosas como aquelas, onde outrora sol e chuvas se encontravam num espetáculo pirotécnico, pintando o céu com as sete cores do arco-íris!

     Lugares como aqueles, onde quase todos os dias se viam o arco-íris cortando os céus da América Andina com toda majestade e excelência de esplendor, hoje, não se viam mais! – Nem os arcos multicoloridos projetando de um extremo ao outro longínquo as sete cores sobre as cordilheiras vulcânicas, nem nos entremeios das gotículas de chuvas e nem nos reflexos das cachoeiras altas sob o sol!

     Aquelas regiões se tornariam permanentemente vazias em lugares tão sombrios, onde, antes, as cores eram vistas todos os dias com todo seu resplendor!

     Os cientistas faziam testes com a energia luminosa por meio de instrumentos especiais e não captavam mais as cores vivas do arco-íris que anteriormente se decompunham entre prismas em sete cores preciosas:

     Vermelho, Laranja, Amarelo, Verde, Azul-Verde, Azul e Violeta!

     Naqueles tempos, houve até um dia que; ao se abrirem janelas, foram vistos no ar, ao acaso, apenas vários arcos com sete tonalidades diferentes de cinza, arcos cinzentos sem luz, como se fossem sete cores esmaecidas sem arcos, com a cor do cimento armado nos céus; e em algumas folhas, entre flores e plantas, surgiam manchas pálidas, porque, toda a natureza já estava se desbotando!

     As motocicletas continuam avançando com os capacetes daquelas sete cores vivas de arco-íris na cabeça!

     Neste ponto a maior de todas as aves dos céus plana suave, tranqüila e abre as penas das pontas das asas – o gigante da puna – sobrevoa a cinco mil metros de altura, a maior ave de rapina do mundo – soberano – o condor dos Andes – assustador!

     Avista carniça deixada nas aldeias e eram carniças da serra, corpos de animais e de homens.

     As “motos” deixavam mais rastros ainda e todas as aves de rapinas espreitavam chacinas trasvistas ante o futuro!

     Alguns cães farejavam grandes carnificinas no ar...Enquanto os beija-flores coloridos das florestas se escondiam ante os ruídos das vorazes criaturas “eletro eletrônico”.

     No, entretanto, o planejamento para invadir as Américas era parcimonioso, meticuloso e detalhista.

     No primeiro momento a invasão seria de cinqüenta mil homens tecnicamente preparados e superbem armados.

     Os soldados iriam atacar as “motocicletas” por terra, ar, rios, florestas, lagos, lagoas e mar, abrindo um grande potencial de fogo bélico e violento.

     A “aviação cobra” estava determinada para cobrir os céus da América andina e esta operação de guerra seria considerada gigante dada as dificuldades de serem manobradas dentro daqueles territórios acidentados e selvagens.

     Os empecilhos para encontrar àquelas motocicletas malditas, semi-invisíveis e fatais, eram tão grandes que exigiria dos homens destreza e esforços sobrenaturais.

     Os inimigos além de difícil rastreamento espacial se escondiam com facilidades, frente às barreiras das cavernas vulcânicas e selvas tropicais.

     Identificá-los seria como abrir um combate mortal que estava preste a ser realizado.

     A operação global daqueles combates seria denominada de “Anel de Fogo”.

     Havendo grandes escaramuças e baixas, evidentemente, o primeiro objetivo estratégico para enfraquecer o poderio militar das “motocicletas” seria através de uma larga ofensiva, se estabelecer uma cabeça de ponte quilométrica nas grandes extensões das costas do oceano Pacífico entre o Peru e o Chile estirando-se entre várias cidades costeiras.

     Estava sendo também programado dois grandes deslocamentos de tropas de infantaria e blindados até às proximidades do deserto de Atacama, no Chile e nos platôs da Sierra Madre ao norte do México. Tal operação seria denominada de “Ofensiva do Deserto”.

     Tal ofensiva poderia se estender à “Terra do Fogo” do lado oposto, no extremo sul da Argentina.

     Fora resolvido que os ataques seriam maciços por meio de investidas relâmpagos de pára-quedistas de assaltos que pulariam dos “aviões cobra” sobrevoando vulcões das cordilheiras dos Andes e pântanos das selvas tropicais.

     Todos aqueles soldados foram treinados exaustivamente em sobrevivência nas selvas, no ar rarefeito das montanhas, no gelo e na secura dos desertos – usavam máscaras e roupas especiais.

     Os arremessos sobre as montanhas e as florestas dos pântanos seriam celebrados como operações das “Cordilheiras Vulcânicas”.

     Haveria também uma movimentação maciça de pára-quedistas e fuzileiros navais nos altiplanos dos grandes mares interiores nomeada de “Operação dos Lagos Salgados” a fim de interceptar as motocicletas daquela região.

     Estrategicamente fora definido que todas as frentes de combate receberiam permanentemente reforços quanto a soldados, gentes, munições, alimentos e armamentos das marinhas, exércitos e aeronáuticas daqueles governos aliados e patrocinados pelas multinacionais.

     Naqueles momentos seriam mobilizadas muitas armas de extrema precisão científica, milimétricas e computadorizadas, enviadas por mísseis de ogivas cibernéticas e teleguiadas.

     Tais mísseis liberariam suas ogivas demolidoras sobre as cavernas abissais e que se desprenderiam feito bombas voadoras, enquanto eles voltassem para trás, retornando às bases arremessadoras.

     Movidos a controle remoto, se reabasteceriam por eletromagnética, através de um sistema especial, enquanto outras ogivas letais sairiam das plataformas lançadoras redirecionadas a um novo itinerário ou ao mesmo local que, de batalha em batalha, soltariam seus demolidores artefatos mortais.

     Supõe-se que novas armas modernas e ultra-secretas estariam sendo pesquisadas e testadas sobre as máquinas do apocalipse, porém, nada se divulgavam oficialmente a respeito.

     O maior projeto daquelas operações militares após vários entendimentos e tentativas entre governos, embaixadores e representantes de conselhos de guerra era descobrir quem seria o grande comandante dos exércitos motorizados, doravante denominadas de “Motocicletas de Magog”, armas poderosas, até então, desconhecidas pela engenharia bélica, quase invencíveis e semi-invisíveis ao vivo e a olhos vistos nos campos de batalha.

     No, entretanto, eram máquinas atraentes e palpáveis quando surgia a partir dos campos virtuais da televisão e entre microcomputadores da rede “internet”.

     Provavelmente seria uma estranha arma eletrônica a serviço do “anti-Cristo” aliada aos traficantes de drogas internacionais.

     — Surgiu um novo império! – Exaltava Carlos Alvares Quintino Borges de Menezes (também conhecido nos círculos sagrados como o ”Concha de Ouro”) – demorou... Mas, desgraçadamente surgiu o novo império de sua majestade imperial do narcotráfico internacional: a prostituta do apocalipse! – Exclamava ele.

     As motocicletas insistem acoitadas entre cavernas, pântanos e selvas tropicais.

     Os arco-íris perseveram cinzentos!

     Doutor Yashimin Zara encontraria no Heron relevantes descobertas no campo da psicofísica do inconsciente cósmico e coletivo, quando se comportaria como um dos mais importantes colaboradores desta guerra e nos aconselharia:

     — Se estudarmos o campo magnético, veremos as partículas quanta se distribuindo numa determinada ordem – as decisões que tomarmos daqui à diante para entrarmos nesta guerra deverão vir à semelhança destas partículas, desta feita, ordenadas lá de dentro do nosso inconsciente devem chegar arranjadas, devemos vir em harmonia com as constelações pré-conscientes dos conteúdos do nosso inconsciente – façamos um exercício mental de psicofísica! – Convocava.

     — Concordo – complementava Heron, junto a outros cavaleiros, após terem saído de dentro do oráculo – as palavras deste homem são sábias – as decisões devem estar de acordo com nossas energias interiores e exteriores.

     — Perfeitamente em harmonia, as ações não podem falhar – dizia – porque as escaramuças são de uma fantástica guerra mundial!

     — Uma grande batalha por debaixo do arco-íris! Confirmava Heron.

     Os grupos de sacerdotes e cavaleiros iam se dispersando, caminhando na direção de seus aposentos, preocupados com os acontecimentos.

     Um deles me chamava e dizia, olhando para Yashimin que vinha ao meu encontro:

     — Gostei dos conselhos deste homem, parece que já é um dos nossos!

     Há dez anos, neste mesmo lugar, bem na direção de uma das portas do Oráculo do Templo, um mendigo havia penetrado, maltrapilho, sujo e fedorento parava sobre o banco da praça e gritava: maldição! A maldição do Templo! – Por quê eles não deixam a nossa vida em paz? Continuar tudo como era antes, não mais e...Este Templo tinha que mudar os ventos? – Aquela pirâmide maldita tinha que enviar mensagens para novos pensamentos? – Reclamava – Desgraça, esta maluquice veio trazer os finais dos tempos! Aqui...Estes malucos vão trazer monstros sangrentos – o quê tem haver conosco estes humanos mortais? Sacerdotes irão vencer a morte, unir os destinos da rosa-dos-ventos e acelerar a vinda do príncipe da luz – quem sabe virá? – Ah! Ah! Ah! – O mendigo sorria diabolicamente, debochando do Templo – isto tudo é uma besteira – blasfemava – porque o nosso príncipe das trevas é mais forte e seus exércitos mais poderosos! – Ah! Ah! Ah!

     Naquele dia os fiéis estavam em festas, as obras do Templo tinham acabado de ser inauguradas e Heron se levantou, caminhou em direção ao infeliz que praguejava contra os sacerdotes, cavaleiros messiânicos e toda aquela gente. Jogou-lhe um pote de água benta e o mendigo, logo em seguida, se alucinou, caía ao chão, se debatia aos prantos, babava, rugia feito animal até que por fim adormeceu e após algumas horas, levantou-se pedindo perdão – Heron comentava com o povo – ele estava possesso por uma legião de satanás que mandei para longe, muito longe... Lá nas imediações do velho vulcão Tocorpuri, em erupção, no Chile, perto do deserto de Atacama – a partir daquele instante, todos foram rezar, rezar bastantes pais nossos e ave-marias!

     Uma estranha neblina vinha caindo ao anoitecer e fomos todos para cama – Heron e os sacerdotes nos aconselharam a ligar os aquecedores porque esta noite seria muito fria.

     O jovem nativo ficara no nosso mesmo aposento.

     A armada mundial tentava detectar através das emissões via satélites a movimentação das “máquinas mortíferas” que rondavam os Andes, selvas tropicais e a Sierra Madre.

     Os soldados com seus possantes binóculos e radares, lá de cima dos helicópteros, durante a luz do dia tentavam localizar pelas estradas e atalhos os “motoqueiros do arco-íris”, dando suporte ao comando central das operações através de seus equipamentos “GPS”, pontuando longitudes e latitudes em quadrantes geográficos onde se encontrariam aquelas “máquinas predadoras” de esmagar inocentes.

     À noite, aqueles guerreiros aliados e munidos da tecnologia de raios infravermelhos especiais, traziam armas das mais avançadas, balizava de suas naves, qualquer movimento suspeito das “monstrocriaturas virtuais” rastreadas.

     Os empreendimentos de engenharia militar computadorizada, não poupavam exageros e mesmo assim, até certo ponto ainda eram insuficientes frente ao poderoso inimigo que, na maioria das vezes, se tornava semi-invisível e virtual.

     As “moto-máquinas” cruéis assassinas, só atacavam covardemente criaturas humanas.

     As vítimas prediletas eram pessoas humildes, cristãos e jovens desamparados da América Latina.

     As estranhas motorizadas eram tão covardes que sabiam como evitar confrontos diretos com as poderosas tropas militares aliadas escondiam-se a toda hora pelas cavernas à dentro, a todo instante, mas nem por isso deixavam de sair de suas tocas e atacar, dado a grande facilidade e ligeireza em sua movimentação.

     Vinham bailando a valsa de Straus para iludir e provocar os exércitos e as nações.

     Os repórteres correspondentes de guerra já às tinham apelidado de “Motocicletas de Magog” por causa do poder bélico e a conotação apocalíptica daquela guerra onírica.

     A ignorância do povo frente aos efeitos especiais da multimídia contemporânea, também, contribuía para aquele cognome e as motocicletas assassinas passaram a ser o assunto mais importante da telecomunicação eletrônica atual.

     De fato as “Motocicletas de Magog” já teriam executado mais de vinte mil famílias daquelas aldeias dos Andes, por onde fazia jus a alcunha.

     Por outro lado os homens de ciência e tecnologia estavam investigando arduamente aqueles fenômenos “motovisíveis” por meio de seus satélites artificiais que rastreavam os países da América, em conjunto com os rastreadores da NASA, apontando possíveis direções para os palcos daqueles acontecimentos mórbidos.

     Especulava-se, entre os cientistas da comunicação, a possibilidade de uma grande emissora pirata estar embaralhando os sistemas de telecomunicação mundial através de um telestar inserido no espaço, clandestinamente, para colocar no ar aquelas “monstromáquinas diabólicas” que hipnotizavam os povoados da América Andina, alienando-os e levando alguns à exterminação.

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VIII – Os Internautas dos Templos.

 

     No quinto dia de manhãzinha, as antenas do Oráculo do Heron emitiam sinais de recepção.

     Ripercuro Saulo vai correndo para decodificar no computador as mensagens procedentes do Deserto de Atacama.

     Ripercuro Saulo era conhecido nos círculos sagrados como “O Espiga de Ouro”.

     “Os cavaleiros das ordens messiânicas quando batizados no Templo de Heron adquiriam cognomes originários das extintas civilizações Inca, Maia e Asteca”.

     As mensagens só chegavam ao Heron por meio de códigos telepáticos.

     Alguns agentes emissores desenvolveram poderes para tal fim por causa do grande fluxo de informações que a pirataria da “internet” usurpava do ar e eles davam preferências àquelas emissões telepáticas porque eram difíceis de roubar.

     Como as informações recebidas no Oráculo do Heron geralmente eram de grande preciosidade, muitas vezes envolvia até a segurança mundial, elas obrigatoriamente eram emitidas por meio de códigos secretos, telepatias ou convenções que geralmente só os cavaleiros das ordens messiânicas conheciam.

     Do Deserto de Atacama emitia mensagens telepáticas Canodes Simão Bolívar, o sacerdote cavaleiro em chefe dos “Cavaleiros da Ordem Andina”.

     Emitia mensagens por telepatia para dificultar mais ainda a pirataria do ar por via “internet”.

     Canodes Simão Bolívar era um grande especialista neste tipo de emissão de mensagens.

     Naqueles tempos existia uma verdadeira batalha aeroespacial entre os navegadores satânicos e os “internautas” cristãos, conhecidos como “internautas dos templos”.

     As “sanguessugas” espaciais roubavam, sempre que pudessem, informações. Por outro lado, enviavam vírus para embaraçar valiosas informações cibernéticas.

     Principalmente àquelas procedentes das pequenas igrejas das cidades menores do interior que se comunicavam entre si através de fax-moldem, telefones e “internet”.

     Era uma época de grande seqüestro intelectual e latrocínio de idéias.

     A intercomunicação entre as igrejas se tornara imprescindível nestes tempos de apocalipse.

     A cada momento o Estado do Vaticano decretava leis e normas de condutas para padres católicos encaminharem a todos seus seguidores a fim de tomarem ciência das novas mudanças ocorridas pelas expectativas do apocalipse.

     As outras religiões seguiam, a exemplo da Igreja Católica, o mesmo critério em relação a seus fiéis, com algumas divergências evidentemente.

     Daí a grande necessidade de se expedir mensagens secretas para anuviar o inimigo.

     As mensagens telepáticas nublavam muito bem a oposição nociva dos grupos de “anti-Cristo e eram registradas em receptores eletrônicos de alta sensibilidade inventados pelos cientistas do templo”.

     Aqueles aparelhos na realidade eram espetaculares antenas que captavam os pensamentos daqueles habilidosos “internautas dos templos” que tinham capacidade para se concentrarem e enviar mensagens por telepatia.

     Para isto era necessário também que a pessoa do emissor colocasse na cabeça diversos sensores semelhantes aos eletrodos utilizados no século XX como os do eletroencefalograma que registravam ondas cerebrais.

     O agente emissor se concentrava exaustivamente através de seus exercícios de ioga transformando ondas cerebrais em arquivos de um Microsoft especial originário do “Microsoft Dos”, “soft” da informática do século XX.

     As mensagens cerebrais eram transcritas numa onda telepática através da multimídia eletrônica que até para milhares de quilômetros de distância poderia emitir impulsos diretamente do cérebro da fonte emissora ao canal receptor em circuito fechado.

     Na totalidade das vezes a pessoa do cavaleiro telepático emitia indiretamente para o computador receptor do Oráculo do Heron.

     Às vezes aqueles equipamentos eram dispensados, quando a pessoa do receptor seria também um cavaleiro messiânico que se concentrava para receber as mensagens.

     Embora, nestes casos seria indispensável uma sintonia perfeita entre o receptor e o emissor das mensagens, o que nem sempre seria possível dado as atividades de cada um, problemas de fuso horários, etc.

     Pensava-se até em eleger um cavaleiro messiânico para ser somente receptor e um outro emissor, exclusivos do Oráculo do Heron.

     Dado ao grande potencial das ciências telepáticas desenvolvidas entre eles, tudo aquilo seria possível...

     Contudo, ao se descobrir esta nova geração de tecnologia dispensaram tal sincronismo entre as pessoas porque as comunicações seriam muito mais rápidas e eficientes através do sistema “internet telestésico” emissor.

     Além do mais, não haveria o risco de fraudes, se por acaso um dos cavaleiros messiânicos, por descontentamento ocasionado por uma causa ou outra, recebesse as mensagens exclusivas para ele, tão somente, e não as repassassem a outros, ou até se negasse a receber.

     Tal risco de dependência fora eliminado definitivamente, muito embora fosse desnecessário porque a lealdade entre eles era inigualável em qualquer parte do mundo. Porém, como dizia Heron, a traição é universal e nós lidamos com coisas sagradas e neste assunto a história já foi “madrasta” algumas vezes, principalmente, quando lembramos de Judas Iscariotes contra Nosso Senhor Jesus Cristo.

     — É melhor prevenir que remediar – concluía ele...

     Desta feita, o Oráculo do Heron optou por este meio de comunicação onde o emissor geralmente enviava mensagens por via telepática ao receptor eletrônico que as recebia através de suas poderosas antenas transcendentais e as retransmitia para seus microcomputadores de ultima geração.

     As mensagens ficavam gravadas e somente os cavaleiros das ordens messiânicas autorizados teriam acesso às informações através de senhas personalizadas.

     Na realidade, aqueles emissores acoplados na cabeça de Canodes Simão Bolívar eram réplicas atualizadas dos eletrodos do encefalograma do século XX.

     O programa de tecnologia e informática avançada do Oráculo do Heron, através de suas árduas pesquisas na área de telestesia, tinha inventado, então, aqueles superdotados eletrodos fundamentados no princípio das ondas cerebrais.

     Na realidade os supereletrodos eram sensores que captavam ondas a partir do couro cabeludo nas diversas regiões cranianas e iam buscar as informações mais profundas das diversas áreas internas do intelecto humano, assim como nos limiares do subconsciente, aprofundando sua sondagem e captação.

     Funcionavam feitas umas sondas de exploração espirituais, tamanhas a sensibilidade.

     Alguns técnicos admitiriam que vai chegar um dia que, do futuro mais próximo, eles irão se encontrar com a própria alma através daquela nova tecnologia.

     Os telepatas poderiam emitir suas mensagens diretamente para o notebook, substituindo o teclado pelas ondas cerebrais que eram transcritas quase que simultaneamente no monitor do vídeo.

     Registravam-se as mensagens em criptografias muitas vezes com letras formatadas à semelhança de estilos tipo “Symbol Regular”, “Map Symbols”, “Marlett”, “Monotype Sorts” ou através de um misterioso alfabeto Asteca denominado “Talteca Sol”, simbólico e colorido soft feito para dificultar por meio de hieróglifos ilegíveis a ação da pirataria “internauta”.

     Aperfeiçoaram tanto o sistema de hoje que, um bom telepata, será capaz de emitir imagens e sons via “Internet dos templos” diretamente de seus órgãos dos sentidos ao computador e daí para os satélites, em poucos segundos.

     O caráter secreto das mensagens telepáticas se dava justamente por causa do “Chip” daqueles microcomputadores serem constituídos por um revolucionário material sintético artificialmente isômero a aminoácidos, riboses e fosfolipídios de células nervosas em seus processos de atividade celular na transmissão de impulsos nervosos, onde o canal ou a via de retransmissão seria especialmente preparada somente para aquela tecnologia avançada naquele tipo de microcomputador telestésico, quando os transmissores comuns, mesmo os mais avançados daquela geração comercial de transmissores do século XXI jamais conseguiriam ingressar, nem interferir, nem interceptar as retransmissoras sagradas por via satélites.

     O equipamento seria super especializado contra a pirataria do ar.

     De modo que tranqüilamente os cavaleiros messiânicos poderiam cruzar suas mensagens à vontade porque ninguém das tribos de “internautas” iria ter acesso, nem tampouco piratear.

     Portanto, ao mesmo tempo em que as imagens e os sons captados pelos emissores telepatas seriam assimilados nas regiões do seu respectivo córtex cerebral, enquanto viam e ouviam; quando se processava a biossíntese natural dentro do mesmo cérebro emissor, simultaneamente, para elaborarem aquelas imagens e sons nos seus respectivos mecanismos fisiológicos e físico-químicos naturais; daí, os sofisticados sensores acoplados à cabeça daquele mesmo telepata emissor emitiam ondas concomitantes e procedentes daquelas reações para transmitir ao “Chip” a sua biossíntese exata.

     O processamento só seria possível dentro do computador porque o isômero de material sintético que compunham aquele “Chip” reproduzia, instantaneamente em isomeria, exatamente, as mesmas condições bio físico-químicas das células nervosas naturais que estariam sob estímulos da luz e do som exterior na cabeça do telepata emissor.

     Lá dentro da massa encefálica do telepata emissor, enquanto ele via e ouvia atentamente, assimilava e repassava concomitantes aqueles estímulos ao computador que copiava e retransmitia imagens e sons à semelhança dos circuitos de seu cérebro.

     Aquela imagem vista e sons ouvidos depois de processados no computador poderiam ser gravados normalmente em qualquer tipo de disquete, vídeo ou disco lêiser.

     Seria uma espécie de cópia das reações bioquímicas do cérebro telepata dentro do computador.

     Em outras palavras, os cavaleiros messiânicos com aquela tecnologia avançada eram capazes de filmar e gravar com seus próprios olhos e ouvidos que substituíam a câmara filmadora de vídeo, retransmitindo imagens e sons diretamente aos sensores estimulados, que iam e vinham do “Chip” a reproduzir as mesmas imagens e os mesmos sons por similaridade bio físico-química processadas pelos órgãos dos sentidos.

     Logo, simultaneamente, no monitor do vídeo, as imagens resplandeciam tal qual eram vistas pelos olhos e processadas em suas mentes. No entanto, para que essa tecnologia funcionasse perfeitamente eram necessários grandes concentrações e treinamento dos cavaleiros messiânicos sobre as paisagens que avistavam e sobre os sons que ouviam, porque se assim não fizessem, qualquer distração ou dispersão dos pensamentos, interferiria como se fosse um defeito de antena, qualquer que fosse o tipo à semelhança dos sistemas “VHF ou UHF”.

     Todavia, os matemáticos e cientistas cavaleiros das ordens messiânicas estariam aperfeiçoando um novo sistema para isolar tais interferências.

     Caso conseguirem retirar as interferências das emoções durante as meditações telepáticas, num futuro bem próximo eles teriam, em segredo, a mais notável inovação tecnológica dos últimos tempos, porque na verdade, as mensagens seriam retransmitidas telepaticamente, mesmo com todas as emoções e não haveria mais necessidade de concentração, meditação, jejum ou ioga para tal fim – todavia, os computadores eram incapazes de reproduzir por isomeria, salvo se programado qualquer manifestação de raciocínio e lógicas humanas, limitavam-se apenas a copiar os estímulos determinados por imagens e sons exteriores.

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IX – Misteriosas mensagens.

 

     Canodes Simão Bolívar, lá do Deserto de Atacama, após uma série de exercícios em “asanas” adotava a posição de “médio Lotus” e emitia telepaticamente importantes mensagens criptografadas em forma de imagens, à semelhança de estilos [pic]onde o alfabeto é transcrito desta maneira:

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     Desta feita, transmitia:

     — Fui comunicado hoje que Deus com os mesmos sentimentos de homens soube como excluir do Seu Ser o resquício de nossa vaidade e a destrutiva inveja, o menor orgulho e a nossa arrogante soberba – retransmitia – muito embora Ele tenha a altivez da elevação do Seu próprio espírito, Ele jamais fora soberbo por arrogância ou presunção – comentava – Deus jamais poderia sentir inveja de alguém, aliás, nunca poderia senti-la – alertava – só poderia sentir de Si mesmo um grande amor, até mesmo quando criou os homens à Sua imagem e semelhança – concluía – Deus ter ciúmes sim! Da Sua criação e de Seus amados filhos – ressalvava – Além do mais por ser Ele o criador do universo e mesmo que quisesse experimentar todos os sentimentos do homem, não poderia, porque Ele teria que cobiçar a terceiros que são frutos de Sua própria imaginação e esquecer que Seu Ser é superior a todas as coisas porque a perfeição só existiria Nele mesmo...E apesar daquelas condições, mandou ainda Seu filho Jesus para testar as tentações, pois que, para nossa alegria e salvação, Ele conheceu mais de perto nossos pecados, sofrimentos e sensações – relembrava – Deus tinha uma promessa para cumprir de acordo com as profecias e realmente cumpriria da forma mais Divina porque saiu das alturas do reino dos céus e como num sistema de qualidade total desceu aos infernos, acompanhou toda Sua obra desde o mais humilde ao imperador e pode detectar os erros e a imperfeição – explicava – Deus jamais teve um sentimento depreciativo, destrutivo, mesmo na Sua experiência humana como Nosso Senhor Jesus Cristo – salientava – o que Ele realmente sentiu foi o mais nobre dos sentimentos comunitários e construtivos, tamanha à vontade de criar e continuar criando sem parar, quando ficaria até envaidecido, como já ficou, ao verificar que tudo que tinha feito era bom! – Exclamava – os defeitos não procederiam da Sua gestão, visto que, ele na condição de Rei dos reis, justo e verdadeiro, por tamanha bondade instituiria o perdão e tudo que Ele fez, até hoje, é perfeito – elucidava – Deus, na verdade, sentira muito orgulho da Sua criação, nunca jamais nos desejaria o mal e ao contrário tanto que nos amou, até Se humilharia com Sua paixão e morte, animando nosso espírito com a ressurreição dos mortos. Mostraria ao mundo que através Dele existe a potência de uma energia sobre-humana, biodinâmica e cosmonômica, fenômeno este responsável pelo ressurgimento do espírito na carne, resgatando a cosmicidade do gênero humano, tantas vezes anuviada pela razão da fria consciência e pela mesquinharia dos nossos pecados – concluía Canodes Simão Bolívar – com estas palavras – continua – desejo reiterar os pensamentos do querido irmão Heron Domingues de Castelonha sobre a sua cosmurgia – segundo me informaram os anjos de Orion – na verdade – prosseguia Canodes Simão Bolívar – se estas motocicletas assassinas que andam por aí estão mesmo a serviço da destruição dos séculos ou são apenas mais outras dessas invenções bélicas da corrupção destes tempos nos quais vivemos na iminência do colapso total e apocalíptico, eu não saberia ainda afirmar porque não nos foi revelado – no entanto sei que caberá a nós combatê-las – apenas hoje – continua dizendo – já recebi mais de quatro mensagens do “Reino dos Céus “através do meu subconsciente cósmico, eterno e coletivo e os arcanjos mandaram me avisar que o poder das palavras de Heron sobre o Gênesis fora muito bem recebido lá da constelação Orion, onde estão concentradas as milícias do nosso maior general de todos os tempos: Miguel Arcanjo – quanto aos sentimentos de Deus – explicava Canodes – os anjos da guarda não se manifestaram porque foi Gabriel, o poderoso anunciador dos céus, o envio daquela mensagem. Os anjos guerreiros acham que assim o fez por ordem Divina – Deus mostra a Sua face porque é chegado a hora de mostrá-La – afirmava Canodes – voltando ao corolário do Gênesis – segue Canodes sobre a mensagem recebida – quanto ao início do” Deus alfa" ou aquilo que Ele foi, quando Se manifestava pela primeira vez na origem dos séculos, caminhando sozinho sobre as trevas exteriores, apenas complementamos não só a importância da Sua essência na criação, mas também os princípios básicos de todas as leis existentes de hoje em dia que, ao mexer e remexer de frente para trás, vamos chegar nos antigos dez mandamentos das leis de Deus que serviram de base de sustentação para todas as leis, visto que, naqueles remotos tempos os homens não se respeitavam muito quando começaram a viver em sociedades – todavia, milênios se passaram e a questão do respeito mútuo não mudara ainda – explanava Canodes – pelo menos o decálogo espalhava o censo de justiça pela humanidade e alguma coisa de deveres e direitos só existiria se houvesse o próximo recíproco – emitia sua própria opinião – porém, com a Boa Nova do Reino, Jesus pregou o amor ao próximo e consolidou a lei de Deus – complementava – ora, para que o indivíduo ame a si mesmo, antes de amar ao próximo, ele teria de ter um enorme conhecimento de si próprio mediante a nova doutrina – repetia as palavras do anjo – a doutrina da elevação e grandiosidade da “própria pessoa” ou do resgate da pureza do homem interior, cósmico, eterno e coletivo, coisa que não se consegue convencer com a simples retórica tão somente – complementava – o conhecimento de si mesmo é o grande caminho para o amor, a harmonia e a compreensão do próximo. Conseqüentemente, o passo decisivo para a compreensão da pureza do universo e de Deus – comentava Canodes – todavia, as pessoas necessitam de muita disciplina e meditação – continuava falando pelas mensagens dos anjos dos Andes – somos cósmicos e coletivos porque o próximo está em nós e nós estamos no próximo através de uma incomensurável coligação universal, uma grande engenharia emocional ligada por um elo energético e invisível, pairado no ar – retransmitia em grande estilo, Canodes Simão Bolívar, mensagens angelicais lá do deserto de Atacama – todos estamos no mesmo veículo do espaço sideral entrelaçados nestes elos. Estamos unidos não só pelo ar que respiramos e que envolve a nossa Terra como a uma casca, mas pelas partículas quanta que vibram ao nosso redor, onde estamos inseridos na energia do universo, como se o universo fosse uma única e infinita cesta, local onde estariam todos os frutos da criação inseridos e com ela relacionada, flutuando nos sistemas intergalácticos e assim num sistema sobre o outro, elíptico, sucessivamente e em plena harmonia... Explicava Canodes – desta feita, Jesus Cristo, na condição de Filho do Homem ia muitas e muitas vezes ao deserto para meditar e jejuar em busca do autoconhecimento, Suas relações com o próximo e com o universo – reforçava a idéia da mensagem – amar a Deus sobre todas as coisas, com todo o seu ser e toda a sua mente, seria uma tarefa a ser cumprida com o reconhecimento de si próprio – reafirmava Canodes – e amar ao próximo como a si mesmo, um dever recíproco com o conhecimento deste elo energético existente no universo – desta feita, a nova lei não foi criada só por causa da harmonia ética e moral dos direitos entre os povos e as relações humanas entre dois ou mais indivíduos, algo que sempre preocupou muito a Deus no velho testamento. Mas, ela nos transformaria para o autoconhecimento próprio quando a partir de nós mesmos ergueríamos nossos sentimentos à contemplação do universo e à adoração de Deus – comentava – o condizente amor ao próximo seria uma natural conseqüência do autoconhecimento de nosso papel no contexto do universo, quando a lei de Deus se cravaria definitivamente em nossos corações – enfatizava com veemência – o apocalipse ou o “Deus Ômega” ou o fim de todas as coisas, não será jamais, no seu grande dia, somente um final de tempo cronológico, natural e infeliz que extinguirá a história dos governos temporais, um dia, com a finalidade de purificar a humanidade, simplesmente com o fogo – reafirmava ele – o apocalipse deverá vir para deixar fluir a sabedoria do fogo do Espírito Santo livremente sob a nossa ótica retrospectiva daqueles tempos naturais, daqueles fatos passados que não ocorreram jamais que, no entanto, eram para ocorrer, mas que foram podados e se foram apressadamente por caminhos nunca antes viajados e que viriam a percorrer docemente e se o fosse, com certeza, iria ao encontro de todas as nossas coisas belas existentes no tempo passado, porém, os filhos das trevas não as deixaram permitir durante o transcorrer daqueles tempos que se foram e que nunca mais foram vistos anteriormente porque tais fatos passaram desapercebidos e eles não nos deixaram ver, nem fazer – afirmava ele – nunca jamais o apocalipse virá para “deletar” os sonhos e símbolos divinos, nem deixar as belezas da vida perdidas pelos seus cantos passados como era anteriormente – afirmava com certeza – no apocalipse o vento nada levará e tudo será definitivamente bem aproveitado – nada deixará de ser ou acontecer para que as maravilhas da vida sejam plenamente realizadas, resgatadas e nunca frustradas – entregamo-nos a estudar vinte e quatro horas por dia a história da criação de Nosso Senhor e o apocalipse de São João Evangelista... Fazia um comentário – o grande objetivo de Deus quanto ao apocalipse, não será destruir jamais a humanidade e sim continuar sua viagem histórica por outras estradas do tempo e outros governos temporais, sem contratempo, embora, seu cálice da ira já estivesse preste a ser derramado por várias vezes através de séculos sangrentos disposto a exterminar tudo – falava com firmeza outra vez – quando diversas vezes Ele voltou atrás, graças ao imenso amor pela humanidade, assim não ocorreu e graças à intercessão da Santa Madre Maria e do Seu filho Nosso Senhor Jesus Cristo que por compaixão de nós O impediu – ressalvava – contudo, até quando vai durar esta Santa paciência Divina eu não saberia dizer – comentava – eles, os anjos dos Andes, me comunicaram aqui em Atacama que há uma grande tendência das nossas religiões e confrarias místicas em continuar procurando o crescimento espiritual, se unindo com o interior de nós mesmos e a nossa ligação com o próximo na universalidade do nosso meio ambiente, no nosso espaço vital que é o reino de Deus em cada um de nós, apesar dos pesares e dos problemas que já nos afligiram desde os mais remotos tempos e afligem a humanidade até hoje – retransmite as informações dos anjos – afirmam que Deus já admite que houve importantes progressos neste sentido, a partir do último século para cá – confirmava – porque há um grupo de homens cósmicos que vem sentindo novos sentimentos vibrarem e que nunca foram antes experimentados e há uma sede de autoconhecimento místico, atualmente, jamais vivido pela história da civilização em nenhum outro tempo – ressaltava – tais homens procuram a voz de seu interior porque neste século eles já evoluíram o bastante para perceber que o “Reino dos Céus” está dentro de nós mesmos, nos nossos próprios corações e os nossos corações são espelhos de lúcidas mentes que refletem para a humanidade apocalíptica um segmento de continuidade do inconsciente cósmico, eterno e coletivo ao redor que, por sua vez, tornou-se uma parte da mente de Deus – afirmava Canodes Simão Bolívar.

     Era o que eu já suspeitava – anotava o psicanalista Yashimin Zara em seu diário, visto que, naquele momento eu e ele estávamos nas cabinas de informática do Heron a observar aquelas mensagens – o jovem nativo, estaria de novo nas aulas de iniciação.

     — As pessoas de hoje em dia – continuava – quando se encontram pelos caminhos, não se encontram mais por pura e mera coincidência nestes mesmos caminhos – elas se descobrem pelos caminhos, mesmo que timidamente, procurando conversar com alguém sobre assuntos místicos que por sua vez, coincidência ou não, este alguém também desejaria conversar sobre o mesmo assunto – dizia ele – há uma interpessoal relação cósmica, eterna e coletiva, semelhante a um padrão comum de curiosidades em evidência nos espaços – interpretava Canodes – tais fenômenos – prosseguia Canodes – tiveram início nas duas ultimas décadas do século XX e têm como explicação à vibração do inconsciente coletivo, cósmico e eterno de Deus que, através de Suas partículas quanta, estaria se manifestando de novo, vibrando mais uma vez, intensamente ao redor das pessoas, provocando a sensação que todos nós estamos ligados pela mesma energia comum de interesses coletivos – existe o egoísmo e o excesso de individualidade, porém, muitas pessoas já resgataram a energia que nos mantêm coesos e aglutinados, depois de muito tempo tê-la perdido no passado – completava Canodes – as conversas sobre a energia dos quanta – seguia ele – a cosmicidade do gênero humano e do apocalipse são captadas no ar a todo instante e é sobre estas coisas que as pessoas gostariam de saber hoje em dia – as conversas formais e informais sempre mudariam para este rumo, mesmo no meio das pessoas mais cépticas – discutia um fato – de repente...Após uma fútil conversa do dia a dia, as pessoas caíam nos debates das conversas místicas – complementava a idéia – há toda uma energia cósmica dominante que levam as pessoas para estas questões de uma forma coincidente – ressonava categoricamente o assunto – as pessoas vem redescobrindo seu inconsciente coletivo, eterno e cósmico que vibram através das conversas sobre Jesus, religiões, espiritismo, seitas místicas e fenômenos apocalípticos – pensava se comunicando ao computador telestésico da “internet dos templos”.

     Através de hipnose, enigmas, sonhos e teoremas tentam viajar para o interior de nossas próprias almas – sublinhava o meu amigo psicanalista Yashimin Zara em suas pesquisas sobre os “internautas dos templos” e, continuava, dizendo – estas coincidências significativas eram denominadas pelo mestre Carl G. Jung de acontecimentos sincrônicos.

     — As conversas do cotidiano não mudam e só giram ao redor do desconhecido, tornaram-se mais interessantes porque o homem cósmico, dentro de cada um de nós, está se redescobrindo! – Reafirmava, Canodes – Deus ferve de amor pelo homem dado à esperança, às realizações e a intensa vontade de viver emanada por cada um de nós e os sonhos nossos de cada dia, apesar dos pesares... Emitia – as sagradas escrituras falam em tempos, mais a metade de um tempo e mais tempos – calculava – fui avisado também que a Santa Maria mãe de Deus conseguira escapar da serpente quando fugia para o deserto. Os séculos já se passaram e não eram sem tempos, visto que, foram naqueles tempos que a Igreja foi perseguida e escondida entre as grutas e cavernas de Roma – retransmitia – enquanto isto a história continuaria seu ciclo social através de um tempo, mais a metade de um tempo e mais este futuro tempo de hoje – recalculava – os períodos sucedem-se através dos séculos e eras – raciocinava – porém, ainda faltam resultados da soma da metade de um tempo que passou, mais estes tempos que estão passando para começar a nova era do apocalipse – contava – o dragão ainda irado continua a fazer guerra à semente da Santa Maria, contra os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo! – Comentava – recebi mensagens que dizem que os primeiros tempos da história da civilização foram tempos necessários para o “Deus Alfa” concluir o princípio de todas as coisas do gênesis, a primeira etapa da criação tão bem detalhada por Heron e o transcorrer daqueles tempos foi até ao encerramento do velho testamento, cujo livro terminou no profeta Malaquias, o último dos profetas menores – retransmitia Canodes, lá do deserto de Atacama – por outro lado, é tão simples dizer que, a metade dos tempos do qual se referem às sagradas profecias, nada mais é do que o segundo tempo ou a segunda etapa da criação que vai desde o início do novo testamento que se inicia com o evangelho Segundo São Mateus e vem até às bordas deste terceiro milênio cristão, quando começaria o apocalipse – meditava e emitia ao computador eletrônico telestésico – percebi, pelas novas instruções que recebi, que aquela metade de tempos, foram os tempos que decorreram desde o ano zero da era cristã até ao final do segundo milênio que já vivemos e que a partir daí correrá por conta de mais tempos dentro deste terceiro milênio onde se completarão as eras da história e das gerações humanas ou da terceira etapa da criação – calculava de novo – a partir deste ano de dois mil e cinqüenta, os fenômenos do apocalipse poderão acontecer a qualquer momento ou em qualquer lugar, a qualquer instante, com muito mais velocidade e antecedência do que nos séculos anteriores porque é um tempo de verdade espiritual onde o homem busca o seu novo espírito, a sua cara, a sua performance e as suas relações com o universo – dizia – é o tempo das verdades absolutas porque serão nestes tempos que o Homem perseguirá a sua própria alma até os limites do seu conhecimento – comentava – debater-se-á contra ela e a submeterá até nos campos das pesquisas científicas, através da informática e psicofísica no ramo da matemática “bioquântica” na organização das cadeias de DNA, calculando a energia da vida – semelhante à ressurreição.

     Vários pesquisadores do gênio de Carlos G. Jung pesquisam profundamente a parapsicologia – sintetizava o meu amigo Yashimin Zara.

     — É o tempo que muitas coisas ocorrerão por força do nosso espírito e das nossas emoções, pois haverá o Espírito Santo abrindo suas asas sobre a Terra outra vez, pela intercessão direta da Santa Madre Maria e do seu amado filho Jesus – afirmava com fé – alguns homens evoluirão extraordinariamente seu próprio espírito e por si só contemplarão o universo, descobrindo cientificamente o desconhecido – esquecerão os lucros, rasgarão suas máscaras, resgatarão os seus mistérios, as suas crenças e seus valores espirituais que foram massacrados em razão do dinheiro, pseudociência e o misticismo irresponsável – exaltava – muitos destes homens serão exemplos para a humanidade e muitos os seguirão – orgulhava-se – diz a história que a civilização urbana, através dos sumérios, teve início ao sul da Mesopotâmia pelos idos de quatro mil anos a.C. – contava – após o ano zero do Senhor, tivemos mais dois mil anos de expectativas, guerras e tentativas de uma reorganização econômica, social e política na ordem mundial, mais justa e que desse conforto, bem estar e segurança ao mundo, culminando no século XX – comentava – todavia, colhemos muitos fracassos no decorrer destes anos todos, também – matematicamente, um tempo são os quatro mil anos decorridos desde a primeira civilização urbana, antes de Cristo, período que se escrevia o velho testamento – fazia contas – não necessariamente a quatro mil anos exatos antes de Cristo, mas, o escreviam inseridos nos séculos que compuseram aqueles quatro milênios – discorria sobre o assunto – por outro lado, sabemos que a construção da primeira cidade do mundo veio pela descendência de Caim, filho de Adão e assassino de Abel, uma estirpe que fabricava cobre, ferro e até instrumentos musicais – contava histórias – a partir dos sumérios começava o drama da contagem regressiva para o disparo do apocalipse. Por estes fatos os tempos iniciais foram considerados, aproximadamente, o início da civilização urbana no sul da Mesopotâmia até o ano zero da era cristã – recalculava de novo – metade de um tempo são mais aqueles dois mil anos que surgiriam depois do novo testamento, com a vinda de Cristo, quando ele virou a página da história, até a passagem do ano dois mil, quando foi fechado o século XX, período que mais se divulgou os Santos Evangelhos, por diversos meios e formas de comunicação que foram aperfeiçoados pela globalização da economia e da comunicação, numa entre as diversas tentativas de consertarmos o mundo – comentava – finalmente, chegamos nos tempos do apocalipse que são os poucos tempos que ainda nos restam para se completarem esta nova geração de anos que faltam – recalculava – a partir deste terceiro milênio se complementarão os tempos para chegarmos ao apocalipse – afirmava com certeza – percebi que o anjo me deu a dica porque ele fez questão de relembrar que um dia para Deus é como mil anos e mil anos como um dia – explicava – fazendo menção da importância dos grupos de mil anos para a consumação dos séculos – concluí que a partir de agora, o terceiro milênio não será como os milênios anteriores porque o que chamávamos de tempo foi um grupo de anos que durou quatro mil anos, e a metade do tempo, o outro grupo de mais dois mil anos que somados há estes tempos, nesta era do final da contagem regressiva, quanto tempo nos restarão? – Contava nos dedos, dando sinais e fazendo gestos – apenas sabemos que os dias se encurtarão dentro daquele raciocínio lógico dos dias de Deus, quando inclusive há uma promessa de abreviação para que os santos não se perdessem, dada a grande corrupção dos finais destes tempos – comentava – com certeza o processo vai culminar, num dia qualquer, deste terceiro milênio – reafirmava – mesmo assim, diziam os anjos para mim: Ninguém deve ter nada a temer porque grandes decisões ainda serão tomadas no reino dos céus – retransmitia – por quê eles sempre me reafirmavam aquilo? – Perguntava-se – na verdade o dia do Senhor poderia estar chegando a qualquer momento e muitos perigos poderiam nos pegar de surpresa – alertava de novo – então?... Será que aquele “nada a temer”, dito pelo anjo, seria uma advertência e não uma complacência? – Interrogava – isto é, quem não estivesse vivendo em pecado não deveria ter nada para temer? – Continuava a perguntar – somente as pessoas isentas de pecados seriam bem recepcionadas por este novo governo de nossa história, esta nova constituição e esta nova plataforma político-espiritual? – Indagava-se constantemente – estes seriam os desejos de Deus? – Pairava com suas dúvidas no ar – aqueles que estivessem na promiscuidade e na corrupção, poderiam ser pegos de surpresa? – Prosseguia seu interrogatório – aqueles teriam muito a temer?... Sempre reticente.

     O “Espiga de Ouro” (Ripercuro Saulo) recebia aquelas mensagens de Canodes Simão Bolívar e as gravava para a próxima reunião.

     Despedem-se...E Canodes Simão Bolívar sai do ar telestésico.

     Saíamos juntos para o lado de fora, quando, para nossa surpresa, vários cavaleiros e sacerdotes estavam a admirar ao redor o jovem índio, descalço, sem camisas naquele frio insuportável a caminhar sobre as águas do lago, corria e deslizava nas águas como se estivesse patinando no gelo, neste lado do parque – o menino nos acenava e dizia lá de longe : Hei! Aprendi a caminhar neste lago também!

     — Milagre! Milagre! – Gritavam alguns e Heron de longe ria às gargalhadas.

     Chegavam de novo outras mensagens vindas dos céus através daquelas extraordinárias antenas metafísicas do Oráculo do Heron nos colocando a par de tudo que aconteceria nas esferas messiânicas.

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X – De volta às batalhas.

 

     No sexto dia de nossa caminhada, militares aliados estavam prontos para atacarem contra as três frentes que já eram três enigmas.

     Primeiro:

     De onde viriam as motocicletas?

     Precisamente de qual lugar? Elas que deixavam tantas marcas de pneus, morte, ódio e sangue.

     Qual a direção que elas atacariam novamente?

     Segundo:

     Seria mesmo uma emissora pirata que de algum ponto do espaço sideral, através de seu “telestar oculto”, estaria emitindo imagens potentes quando transmitia a invasão das “motocriaturas virtuais” em telas e telões nas tevês dos povos latinos americanos?

     Por quê das coincidências entre as vítimas de morte por aquelas “monstras assassinas” que em suas aparições repentinas e procedentes das entranhas da terra, entravam no ar nos horários mais nobres da televisão?

     Alguns até admitiriam ser aquele fenômeno um álibi virtual comandado por uma grande emissora pirata de tevê a serviço da “internet macabra” a fim de distrair a atenção do povo enquanto um exército de motos real realizava os massacres hediondos.

     Os frios e calculistas estatísticos analisavam tais fenômenos como simples frutos da imaginação do povo.

     Colhiam depoimentos daquela gente simples e julgavam como certo que era a fantástica imaginação das pessoas que afirmavam terem visto aquelas motocicletas assassinas, como objetos espaciais, desprenderem-se das telas de televisão, desintegrarem-se do lado de fora dos monitores de vídeos, entrarem luminosas à dentro por entre lares desprevenidos, materializando-se e massacrando pessoas como num filme de terror.

     Porém, as mortes de fato aconteciam, mas os agnósticos concluíam, ainda que, o quê se sucedia, seriam crendices do povo porque os tempos vinham gerando uma histeria coletiva, dada à divulgação catastrófica e tenebrosa do apocalipse – achavam até um exagero, toda e qualquer intervenção militar na América Latina.

     Muitos psicanalistas consideravam algumas mortes, dentre aquelas, como suicidas ou por auto-sugestão, tamanho os efeitos especiais das imagens virtuais nas televisões em confronto com a ignorância e os valores daquele povo em decorrência do assombro daqueles tempos, onde muitos falavam uma linguagem sibilina, todavia, o meu amigo psicanalista “junguiano” devido as suas experiências psicofísicas e anotações do templo de Heron contestaria, achava que aquelas “motocriaturas” seriam reais em algum campo de nosso inconsciente coletivo.

     A polícia internacional fazia conjeturas...

     Terceiro:

     — Não estaria a máfia da cocaína comprometida, também? Seria uma possível causadora daqueles acontecimentos fatais? – Perguntavam peritos investigadores.

     — Não seriam os mesmos “motoqueiros”, entre aqueles aventureiros virtuais, que trocavam os financiamentos rurais promovidos pela máfia das drogas por hectares de terras plantadas de coca? – Suspeitavam.

     — As “motos assassinas” ao prestarem serviços aos criminosos que controlavam o tráfico de drogas do mundo, não poderiam estar envolvidas nos palcos daqueles acontecimentos mórbidos? – Os peritos conjeturavam em suas reuniões técnicas.

     — Até quando vamos ter que esperar o alto comando ordenar o bombardeio do “Complexo Industrial das Drogas”, hoje, confinado, camuflado entre as cavernas e rochas subterrâneas, entre cordilheiras e platôs de pedras em desertos americanos, entre selvas e florestas tropicais? – Cobravam.

     — Até quando devemos esperar? – Perguntavam também, alguns padres capelães que estavam investigando entre nós...

     E...Entre os abismos da “Mãe Terra”, as motocicletas de Magog, continuavam à semelhança de seres horripilantes e abissais!

     A questão do desaparecimento do arco-íris na América Latina estava sendo estudada por uma lógica científico-analítica, onde as investigações e conjeturas militares, neste aspecto, já se tinham exaurido.

     A elite dos cientistas do mundo inteiro estava de olhos voltados para América Latina em função do desaparecimento do arco-íris.

     Faziam medições físico-químicas, análises espectrométricas e cálculos especiais.

     Os cientistas coletavam dados da natureza local onde havia desaparecido todo o arco-íris.

     Lançavam informações numéricas aos computadores científicos que trabalhavam com a estatística probabilidade dos diagnósticos analíticos daqueles fenômenos transcendentais.

     Telescópicos vasculhavam os céus e diversos satélites vasculhavam a Terra, visto que, imensas florestas haviam sido devastadas e descoloradas.

     Todos estavam à procura das sete cores do arco-íris: “Vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil e roxo...”

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XI – Novas Mensagens.

 

     Enquanto incrédulos discutiam...

     Acabávamos de receber outros misteriosos enigmas dos mensageiros de Orion que diziam:

     Com a retirada do Espírito Santo da terrestre atmosfera Divina; numa determinada época da história da civilização, um dia do passado, quando o inconsciente cósmico, eterno e coletivo se perdia, num descuido, num piscar de olhos da humanidade, naqueles tempos pervertidos, quando também só valia a realização da razão humana que, infelizmente, tornou-se unidirecional à obtenção de lucros, a aquisição de bens de consumo e o acúmulo de riquezas materiais sendo o que valia, quando em adoração ajoelhavam-se pelo dinheiro e quando houve um total abandono das ciências místicas, tão desprezadas e invalidadas pelos dogmas da razão e da tecnologia; os vinte e quatro anciões dos céus, hoje, tomaram uma decisão...

     — Por onde andou a veraz natureza humana? – Alguns se perguntavam, lendo aqueles enigmas.

     — Andava permanentemente ausente em todo questionamento a respeito de tudo que Deus tinha construído até agora – respondiam outros no Heron.

     — Teria sido definitivo a ausência daquele Espírito Santo? – Questionavam-se.

     — “Não”! – Os internautas dos Templos respondiam em coro – visto que, por se comunicarem hoje, com a gente, através de nossas antenas transcendentais no vértice da pirâmide do Oráculo, era porque dos céus estavam chegando, urgentemente, grandes decisões.

     Segundo mensagens vindas dos espaços siderais do inconsciente eterno, cósmico e coletivo; de Deus; se retransmitidas pelas ondas da constelação de Orion; seria de se esperar uma comunicação a despeito de tudo que havia ocorrido sobre a reentrada do Espírito Santo que tinha acabado de acontecer na atmosfera terrestre, outra vez...Agora, neste exato momento...

     No decorrer deste sétimo dia, mudar-se-ia, transformado, finalmente, este instante histórico em cósmicos e coletivos, para que toda confederação dos cavaleiros messiânicos soubesse que tínhamos, então, decifrado o primeiro enigma a respeito da reentrada relâmpago do Espírito Santo na Terra!

     Naquele solene instante, os sete anjos da ira nos retransmitiam o enigma através de sete códigos, sete decisões tomada por vinte e quatro anciões dos céus.

     Ao rebuscar o desconhecido pouco a pouco, a única fórmula de deter a vingança divina que vem por aí derramando o cálice da ira e enviando as pragas finais, será resgatar um mistério: o mistério dos sete dons!

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XII – O enigma.

 

     No oitavo dia foram referendados todos os sete dons do Espírito Santo, quando ficou estabelecido que nada de mal acontecerá à humanidade e o Espírito Santo será capaz de transformar o fenômeno da destruição em um mundo maravilhoso, organizado, comunitário, fantástico, abundante e além da nossa imaginação, quando serão devolvidas todas as cores da vida nos arco-íris das colinas – naqueles dias os homens se lembrarão de rezar e louvar a Deus, nunca mais se esquecerão:

     “Sabedoria – Entendimento – Conselho – Fortaleza – Ciência – Piedade – Temor de Deus”.

     Dos sete dons os anjos nos alertariam!

     Deveremos localizar onde estão guardados estes segredos e canalizá-los em direção à humanidade perdida. Cada um dos Sete Dons do Espírito Santo estará protegido em algum lugar deste mundo, dependurado no peito de cada anjo guardião dos quatro ventos que deverão estar com as sete chaves, os sete dons que; juntos outra vez, no inconsciente cósmico, eterno e coletivo; farão comunhão com Deus e nos possibilitarão resgatar da Terra a reversão de toda a crise apocalíptica nos livrando da Sua terrível ira.

     São os sete dons do Espírito Santo – para o homem, sete difíceis segredos.

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XIII – O Oráculo do Templo.

 

     No nono dia, estávamos presentes dentro do Oráculo do Heron, os cavaleiros da ordem Melquisedeque, eu e meu amigo psicanalista – o jovem indígena, continuava brincando lá fora, tentando ensinar aos iniciantes de sua idade como caminhar sobre as águas.

     Atentos decifrávamos aquelas mensagens vindas em código do Atacama e dos espaços siderais do inconsciente cósmico, eterno e coletivo – parecia-nos uma mensagem vinda direta do anjo mensageiro de Deus.

     O Oráculo do Heron era uma grande pirâmide de quatro faces e o seu topo tinha aquela antena transcendental que captava contatos telepáticos, sinais da “Arca da Aliança”, da constelação de Orion e do anjo mensageiro dos céus.

     Os fios daquela antena eram tão finos que poderiam considerá-los semi-invisíveis, visto que, tinham a espessura de um fio de cabelo e eles desciam dos setenta metros de altitude até as câmaras secretas do oráculo, seus estúdios de telecomunicação – onde estávamos.

     Os fios e cabos eram conectados a rádios, computadores, televisores e outros meios de comunicação eletrônicos.

     A pirâmide do oráculo tinha uma entrada em cada uma das suas quatro paredes e destas quatro faces as entradas se interligavam a largos corredores que continham ante-salas laterais em cada um de seus lados, medindo quarenta e oito metros quadrados, do mesmo tamanho do corredor.

     Naquelas ante-salas funcionavam serviços gerais como secretarias, almoxarifados, bibliotecas e protocolos gerais.

     O ingresso ao Oráculo do Heron era mais rigoroso do que o acesso às basílicas, aos aposentos e colégios.

     Praticamente só poderiam entrar ali entes credenciados como os próprios cavaleiros das ordens messiânicas, a Sua Santidade o Papa, alguns pastores evangélicos, bispos e cardeais, rabinos judeus credenciados, chefes de igrejas ortodoxas, alguns representantes do espiritismo e raros astrólogos, parapsicólogos e psicanalistas pesquisadores de sonhos e destinos, como Yashimin convidado.

     As pessoas para entrarem no Oráculo e suas quatro câmaras secretas teriam que ser selecionadas a dedo.

     Todos teriam que lavar os pés, ficar descalço e vestir vestes brancas e sacerdotais – como estávamos.

     Ninguém se excluiria disso, nem mesmo o Papa se ali pusesse os pés um dia.

     Ao se passar diretamente para o interior do oráculo e de qualquer uma das entradas, se olhássemos de frente, poderíamos ver a parte interna das outras entradas de acesso, cada uma procedente de cada face externa da pirâmide.

     No centro do oráculo existe uma enorme mandala ao chão com os desenhos típicos de mapas astrológicos e seus signos ao derredor da circunferência.

     A mandala – dizia Yashimin Zara, apontando para o chão – retrata o equilíbrio perfeito, a formação de um relacionamento harmônico e equilibrado com o “Self” – é a ascensão da auto-estima do indivíduo – a procura do autoconhecimento para a conquista do universo e o amor pela coletividade.

     Bem no centro do eixo deste círculo dois grandes ponteiros à semelhança de um relógio apontavam para o signo do mês corrente em evidência.

     No ponto de intercessão daqueles dois ponteiros, ainda no eixo do círculo, havia uma grande pira com chamas de fogo permanente.

     Ao redor do círculo tinha confortáveis cadeiras e tapetes vermelhos.

     Os convidados muitas vezes se sentavam ali para meditar, debater e discutir os destinos espirituais do mundo.

     Quando era dia de assembléia, o circuito místico se tornava semelhante a um “areópago grego” para discussões sagradas e cabalísticas.

     O crisol ficava sempre naquele centro, visto que, aquelas chamas representavam a “sarça de fogo vivo” vista por Moisés e era a sarça da vida eterna e da vitória sobre a morte.

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XIV – A visão das metrópoles.

 

     No decorrer do décimo dia, várias profecias foram interpretadas no centro do Oráculo de Heron – falava Aníbal Moreno Andrades (também conhecido nos círculos sagrados como o “Algodão da Ásia”): estamos falando dos tempos da nova aliança cósmica e quando nos referimos há estes tempos estamos nos antecedendo à abertura do Livro da Vida! – Eu comparo este tempo de hoje – dizia ele – ao dia em que São João Evangelista teve aquela feliz antevisão lá da ilha de Patmos a respeito do panorama artístico e arquitetônico da Nova Jerusalém, como mais um de seus dias pré-apocalípticos que na realidade, foram dias de visões do nosso mundo atual, num relance, como num brilho de belas pedras preciosas ou ao resplendor de uma pedra de jaspe cristalina que ornamentava em sua visão a cidade santa do futuro – na realidade – interpretava “Algodão da Ásia” – ele pensara que via as pedras preciosas e a jaspe cristalina, todavia, aquelas jóias seriam não mais do que lâmpadas elétricas, multicoloridas, entre um engarrafamento de trânsito e outro, com automóveis de faróis e lanternas ligados, numa larga avenida, no meio de sinaleiros acesos, vermelhos, amarelos e verdes, avistados a certa distância de cima de um morro durante sua meditação, no início de uma noite enfeitiçada, quando via nas principais capitais um mundo de gás néon, raios lêiser e outras tecnologias luminosas que ofuscam as cidades, principalmente nas vésperas de natal e festas de ano novo de nossos tempos – aquelas lâmpadas, jamais São João Evangelista poderia compreendê-las e de sua época o ofuscar de cores e luzes confundia-o com jóias preciosas – explicava – realmente o espírito natalino, apesar do aspecto comercial de suas luminosas propagandas, transformariam cidades inteiras em santas e coloridas – comentava – mesmo confuso, João Evangelista captou, daquela época sem compreensão da lâmpada elétrica, uma idéia ou um pouco do resplendor, mesmo artificial, que ainda restaria nos dias de hoje – reafirmava – quando João Evangelista – continuava o cavaleiro – via o ouro das praças e fundamentos de esmeraldas na cidade Santa, ele estava vendo os reflexos sobre o calçamento de uma praça iluminada por lâmpadas de iodo e holofotes no gramado verde, entre lagoas artificiais das praças do futuro, refletidos em vidraças de enormes arranha-céus – dizia ele – estaria iluminado pela cor da esperança dos símbolos urbanos cobertos de sinais de trânsito entre árvores iluminadas com pisca-piscas verdes, amarelos e vermelhos – abrindo passagem pelas ruas e calçadas feitas pela pureza do ouro fino, ele tinha um espectro alucinado de toda luminosidade das lâmpadas de iodo das ruas no cimento das calçadas, quadras, praças e arranha-céus misturados com a explosão de fogos de artifício dourados e shows de raios lêiser em cascatas nas comemorações de Ano Novo e outras festas das principais capitais do mundo – comentava.

     As motocicletas desandavam a correr entre dunas e cascalhos a rodopiar e nas lacunas dos Andes as luzes do arco-íris ofuscavam em suas cabeças.

     O inconsciente cósmico de São João Evangelista sinalizava as imagens das cidades de nossos dias porque para o inconsciente não existiriam barreiras no tempo – ele pode viver o futuro e dar seus sinais no presente, viver o passado vislumbrando-o no futuro, vice-versa e assim sucessivamente – afirmava Yashimin Zara – o inconsciente está além da terceira dimensão do espaço e do tempo – descobria.

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XV – O acordo de cavalheiros.

 

     Yashimin Zara me fazia uma confissão:

     — Fiquei realmente conectado com a minha fé e descobri fantásticas maravilhas no decorrer destes quinze dias de conhecimento do Templo de Heron.

     O menino nativo estava fazendo sucesso com aquele poder de andar e deslizar sobre as águas do lago da praça do Templo – este será um legítimo cavaleiro das ordens messiânicas! – Empolgava-se Heron que ainda não tinha descoberto que era para aquele jovem que ele transmitia os sentimentos da natureza, quando se expressava através das árvores e dos animais daquela aldeia – Heron estava entusiasmado com aquela nova magia que o alegrava profundamente e seria, no momento, o fato que mais se comentava no Templo.

     O jovem nativo tinha passado o dia inteiro a fazer demonstrações de como andar e deslizar sobre as águas, sem cair e afundar – chegado à tardinha, muito cansado, se recolhera para comer, descansar e dormir.

     Yashimin Zara concluía: – neste lago não tem pressão de vapor do gêiser, nem a mesma natureza daquele lugar e este jovem caminha sobre estas águas com suas próprias pernas, tão bem como se fosse lá na sua aldeia, isto é a prova da sua fé se manifestando e ele tem tanta fé que nem ele mesmo sabe da sua extensão, como um rico fazendeiro que não sabe exatamente o número de seu rebanho.

     O amigo se aprofundava em suas pesquisas psicofísicas e obtivera do “Conselho Mundial de Anciões dos Andes” a permissão exclusiva para entrevistar os cavaleiros messiânicos, levantar os relatórios de suas magias e “currículo vitae”, analisar um a um os dossiês de casos registrados nos arquivos dos computadores do Oráculo do Heron.

     — Está chegando a hora de integrarmos à confederação um maior número de pessoas de boa vontade – comentava Heron para Yashimin Zara que tudo via e tudo gravava – porém, insistia com meu amigo – leve este vinho! – Insistia Heron – logo...Logo...Você vai precisar beber deste velho, aliás, delicioso vinho e se sentirá muito bem – insistia entregando-lhe três garrafas de presente – boa noite! Caro amigo – despedia-se.

     O amigo Yashimin Zara ficara lisonjeado com aquela insistência de Heron Domingues de Castelonha a cerca das três garrafas de vinho de antiga safra que recebera de suas mãos.

     Quão grande privilégio o meu em beber tão velho vinho, entregues direto pelas mãos de Heron! – Meditava o psicanalista, concluindo: – “safra de 1950...”.

     Realmente pela primeira vez em minha vida estou vendo Heron presentear alguém com quem teve pouco relacionamento – eu observava para Yashimin que me respondia:

     — Pode ter certeza que se assim o fez, foi por causa do nosso conhecimento científico sobre a psicofísica do inconsciente cósmico, eterno e coletivo e eu me esforçarei para cultivar ao máximo que puder esta amizade porque ela exige honra, respeito, responsabilidade, direitos e deveres – comentava o grande Yashimin Zara, aquele que até Heron parava para escutar – pretendo fazer de minha amizade com Heron duradoura, recíproca, para que, como estes vinhos caros e de alta qualidade, não tenha preço e sejam as marcas de nosso selo de amizade – comparava Yashimin Zara.

     Despedimo-nos – já eram mais de vinte e uma horas e o meu computador me esperava para digitá-lo na biblioteca. Ligava na Internet e se abriam novas janelas. Lembrei-me que Yashimin Zara iria começar a partir de amanhã a se aprofundar nas pesquisas sobre a confederação dos cavaleiros messiânicos deste século apocalíptico – ele começaria pela Ordem dos Cavaleiros de Melquisedeque, sua organização e hierarquia, os seus membros e cavaleiros mágicos, estudando os dossiês e magias, provas de milagres e profecias – em seguida, ele estudará a Ordem dos Cavaleiros Santo Sacra e a Ordem dos Cavaleiros dos Andes e eu irei colaborar na medida do possível. Ao relembrar sobre tudo que já vi, o que aconteceu na viagem e o que virá, na frente do meu computador estava meditando e quando me iniciava no sono, uma voz do fundo da minha alma me despertava falando: “Você tem que concluir o seu livro hoje!” – Desperto e olho ao redor, quando me deparei pela segunda vez com o “Grande Ancião” clamando: “Vá termine hoje de escrever o seu livro!”

     — Mas...Terminar hoje! Caso fizer, não dará tempo e esta obra ficará incompleta, como vou interrompê-la, assim, tão de repente no meio do caminho...?

     — Não, não ficará incompleta porque você escreve sobre acontecimentos cósmicos e o universo é infinito – afirmava o “Ancião” – tanto faz cancelar no início ou no meio, ela nunca terá fim.

     — Mas, eu não agüento mais – eu diria ao “Grande Ancião” da minha alma – não tenho mais tempo e a inspiração me falta, vou engavetar este projeto porque a minha profissão não é de escritor, sou médico veterinário e este negócio de escrever sobre o universo místico me faz perder muito tempo, atrapalha minha vida profissional e particular.

     — Você firmou um contrato comigo ao escrever sobre este imaginável fenômeno – advertia o “Grande Ancião” – agora você terá de cumprir sua missão porque ao escrever você teve inspiração, extraordinários contatos imediatos com os cosmos, conseqüentemente, você teve contatos comigo e deverá cumpri-la – cobrava o “Grande Ancião” da minha alma.

     — Não dá mais – eu dizia – o meu coração não agüenta mais, este livro está me sugando, arrancando-me todas minhas energias, está me afastando de minha esposa e filhos, não me trouxe ainda nenhum benefício...Tenho lindos filhos para criar e deveres para cuidar na minha profissão – preciso estudar mais os assuntos concernentes à área de medicina veterinária, senão, logo...Logo...Poderei ser excluído do mercado, não dá mais senhor! – Justificava.

     — Você pretende abandonar o Templo de Heron, onde você foi batizado? – Perguntava o “Grande Ancião”.

     — Não, absolutamente, porque na verdade, o Templo de Heron é o centro de toda confederação dos cavaleiros messiânicos que sempre se reúnem para participar nas visões de minha concentração mística e espiritual, nas lições de religião que aprendi. Se meu inconsciente a eles me conduziu, nestas meditações, não foi só pelo meu mérito, minha fé e resignação, mas foi por toda inspiração que veio do céu e culminou neste precioso livro que ainda não terminei.

     — Aí é que você se engana! – Dizia o “Grande Ancião” – você tornou-se um membro do Templo de Heron justamente porque você já terminou este livro sem saber – continuava – com um pouco de esforço você conseguirá fazer o acabamento final, tente mais um pouco, não desista, escreva, senão sua fé perecerá – ameaçava.

     — Os assuntos do universo são muito truncados, difícil de desvencilhar, complicados demais para a minha cabeça, por favor, me deixa em paz! – Solicitava.

     — Não o deixarei, enquanto não finalizar este livro – insistia o “Grande Ancião” da minha alma – além do mais este livro é a sua grande missão nesta vida, a sua liberdade espiritual!

     — Mas o que será de mim e de minha família? Se eu desandar a penetrar nos segredos do apocalipse poderei até fundir meu cérebro e não conseguir mais nada – tenho muito medo de enlouquecer!

     — Não enlouquecerá! Confie no “Grande Ancião” de sua alma! – Dizia o velho de cabelos e barbas brancas.

     — Por favor, eu retrucava – já estou cansado, quero levar uma vida normal como qualquer cidadão brasileiro e não ficar por aí a escrever condicionado pelos problemas messiânicos do universo a desafiar minha inteligência – escrever sobre o apocalipse será uma história sem fim – eu prosseguia – eu já estou cansado demais, desde o meu batizado no Heron às câmaras secretas do oráculo, penso vinte e quatro horas por dia nos mistérios enunciados por Heron sobre a criação do mundo e os perigos do “Delete Cósmico” das eras primordiais, preocupo-me, também, com esta onírica guerra atual dos “Motoqueiros de Magog” que invadem a América Latina e os exércitos das nações fazendo manobras – estou cansado e ofegante quanto aos problemas sócio-econômicos e políticos atuais, a questão do meio ambiente e o sumiço do arco-íris nos céus – quem sou eu para descobrir os segredos dos sete dons do Espírito Santo? – É como saber o que estava escrito naquela carta que entreguei ao destinatário no Heron, pessoalmente, a pedido do simpático cidadão das montanhas – apenas peço, senhor, dê-me um tempo para descansar.

     — Está bem – dizia-me o “Grande Ancião” – lhe darei este tempo desde que você me prometa, em seguida, terminar esta obra, ainda hoje!

     — Não vejo maneira, senhor, eu cansado do jeito que estou, continuar a escrever e terminar esta obra ainda hoje – retrucava.

     — Finalize assim mesmo, do jeito que está neste ponto, sem muitos rodeios. Publique-a assim mesmo e depois continue após seu descanso, um segundo volume.

     — Não saberia como fazer...Respondia.

     — É só colocar uma frase mágica no final e a obra toda estará pronta – afirmava o “Grande Ancião”.

     — Mas, que frase mágica é esta? – Eu indagava.

     — Só lhe ensinarei se você me prometer que depois vai fazer um outro volume para dar continuidade a este que escreveu, poderá até escrever sobre um segundo imaginável fenômeno – sugeria o “Grande Ancião” da minha alma.

     — Um segundo imaginário fenômeno? Posso até prometer – eu negociava – se você me der um descanso pelo menos de um ano! E...Que este livro não me dê nenhum prejuízo de ordem financeira, sentimental ou moral e se possível nunca me frustrar por não conseguir terminá-lo – peço também que este livro me dê alguma compensação social e reconhecimento porque a trabalheira e o sofrimento para escrevê-lo foi muito grande!

     — Posso lhe dar um descanso no máximo de seis meses.

     — Sim, está bom, mas me diga, então, qual a frase mágica para terminar a edição deste livro?

     — Negativo! – Contestava o “Grande Ancião” – você ainda não me prometeu que vai continuar este livro.

     — Está bem, o senhor venceu, eu prometo! – Estabeleceu-se no poder destas palavras um compromisso assumido.

     Naquele instante o “Grande Ancião” da minha alma foi desaparecendo pela noite adentro e me dizia sorridente – a frase é tão simples: “Habent sus fata libelii” (Os livros têm os seus destinos, os seus fadários).

     Fui saindo da internet, desligando o Microsoft e, salvando o arquivo. Ao pegar no sono, surgiu-me, então, um enorme painel de pequenos espelhos retangulares na tela do meu computador. Via pés-de-vento, rodamoinhos uivantes, arrastando terras vermelhas, erguendo-as nos campos rurais, quando, do seu olho ciclônico, surgia de novo o imponente cavaleiro dos ventos messiânicos – virtual – um senhor de capa azul-vermelha, aquele mesmo general de muitos séculos, muitos exércitos e muitas estrelas, vinha de armadura, escudo e espada para protegê-las. Retornara das alturas celestiais em cima do seu cavalo branco adornado de prata e comandante supremo de todas as alvoradas, desfraldava a bandeira do peixe dourado dos muros do Templo – do Templo de Heron, que lhes falara – onde de mãos dadas, eu saía do centro da flor dos ventos e com seus comandados formava, em força única, uma corrente, o poderoso campo magnético messiânico, psicofísico na fé e no ser, transformando as partículas quanta numa poderosa bola de fogo mágica contra os monstros das montanhas que, expulsos fugiam, desesperados corriam para os vulcões dos Andes, assustados sumiam na fumaça do espaço e do tempo, desaparecendo da televisão e do monitor de vídeo do meu computador.

     Contudo, ainda, não era o fim definitivo – era apenas um sabor de vitória nesta trégua passageira e neste intervalo vinham surgindo às luzes que não se apagavam nunca nos jogos de espelhos que me mostravam novos eventos que eu haveria de escrever no futuro descritivo – o segundo volume no meu ser – e eram: os dossiês dos cavaleiros mágicos, as confrarias místicas e as ordens dos cavaleiros – algo me dizia que, um Santo Papa iria se tornar um cavaleiro confederado e o grande doutor Yashimin Zara iria desvendar importantes enigmas – forças ocultas me informavam que os diversos segredos guardados desde o início dos séculos serão revelados e novas profecias virão surgindo no centro da confederação dos cavaleiros messiânicos – enquanto isto, eu precisava de tempo, sono e descanso...Quando, finalmente, surgia no cristal líquido da tela do micro os seguintes dizeres:

     “Seu computador já pode ser desligado com segurança!”.

     Dormi... E quando acordei, lembrava-me que:

     Fui onírico às montanhas do Templo, esquivar-me das máquinas bélicas e seus mísseis devastadores simulados de monstros das montanhas – motocicletas de Magog – poderosos espíritos da morte, armas assassinas e apocalípticas com o poder da besta-fera em fazer descer fogo dos céus, devastar florestas, envenenar rios e mares, ensangüentar-nos, castigar-nos de gafanhotos e armas bacteriológicas, nos cantos da Terra e dos céus, trazendo-nos pestes, fome e sofrimentos.

     Verifiquei que nenhuma daquelas maldições procederia da vontade de Deus e eram coisas do próprio homem, somente do homem sem espírito e sem imaginação, eternos escravos dos lucros e da ordem numérica da besta do apocalipse – misteriosa figura mitológica da psique dissociativa das desgraças e da devassidão.

     Pude ver através da natureza que a mão de Deus interferiria, se estendendo para perdoar e Ele queria me dizer algo sobre Seu reino que nós ainda desconhecíamos – mostrar que teríamos outros caminhos, novas chances, não precisávamos nos desesperar tanto e se soubéssemos trabalhar com zelo pela Terra, grandes obras e reformas poderiam advir, surgindo uma era celestina de um segundo Iluminismo, nova época, plena de paz, amor e prosperidade para todos – um tempo de equilíbrio entre a inteligência e a emoção! – A grande vitória sobre o Armagedom.

     Finalmente, para a reconquista do “Homem Cósmico”, das cores do arco-íris e o domínio de nossas mentes e emoções, foi nos recomendado ler a Bíblia Sagrada para todas as gerações. E ao se tocarem nossos corações, lá do fundo de nossas almas se aclamaram gloriosas hosanas ao Senhor, hosanas nas alturas ao nosso Deus de muitas moradas, no interior de nós mesmos e em cada um de nós um Templo de Heron!

     Todavia, teríamos de descobrir, ainda, os segredos dos sete dons!

     Lembro-me, ainda que:

     Acabei dormindo, profundamente, e a poderosa bola de fogo mágica gerava a mandala que viera surgindo no meio do meu inconsciente cósmico, eterno e coletivo, para reorganizar minhas idéias entre novas viagens, muita fé e novos sonhos!

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XVI – Epílogo.

 

     Finalmente, a confederação dos cavaleiros messiânica estava preste a acabar.

     Deslocávamos para uma fazenda de criação numa planície a quinhentos e noventa e oito metros abaixo do Templo de Heron – seguíamos por um atalho escondido para confundir os índios nativos do peito abaulado, visto que, eles pensavam que nós estávamos em conluio com os monstros das montanhas – todavia, eles não sabiam ainda que aquelas máquinas sanguinárias tinham feito uma trégua dada à presença dos exércitos unidos e a ação dos cavaleiros messiânicos que se apresentaram no jogo de espelhos do meu sonho.

     Alguns dias na fazenda nos fez bem, lá nos reencontrávamos na relva do meio de uma pastagem verde entre outros indígenas pastores de ovelhas.

     Aproximava-se de nós um pastor, parecia-nos um bom homem. Usava uma velha calça “Jeans”, surrada pela lida. Carregava um cajado na mão direita, usava chapéu de palha e óculos “Raiban”. As suas barbas estavam por fazer, transparecia um ar de cansaço. Os pés eram sujos entre os chinelos de borracha e ele nos dizia:

     — A primeira vez que veio, falou-lhes em parábolas pelas beiras dos caminhos. Na segunda vez, porém, será direto e não falará mais pelas beiras dos caminhos.

     Todavia, muitos desejarão “ver um dos dias do Filho do Homem e não o vereis. Dir-vos-ão: Ei-lo ali, ou então: ei-lo aqui. Não queiras lá ir, nem os sigais. Porque como o relâmpago, ao faiscar, brilha de um extremo ao outro do céu, assim será o Filho do Homem no Seu dia”.

     — Como isso acontecerá? Perguntava um nativo.

     — Não me digam nada, não sei de nada, respondia o bom pastor. Só sei que a ciência do Homem evoluiu muito e hoje não será tão difícil compreender estas coisas. Basta ler no apocalipse de São João Evangelista sobre o trono de Deus – “Do trono saíam relâmpagos e trovões; diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus. Diante do trono havia ainda como que um mar de vidro, semelhante ao cristal; e no meio e em redor do trono, quatro viventes cheios de olhos por diante e por detrás...”.

     Na segunda vinda – dizia o pastor – todos os homens O verão ao mesmo tempo, na mesma hora e no mesmo lugar como os “viventes cheios de olhos por diante e por detrás”.

     — Então, será um acontecimento global? Perguntava Yashimin, tomando parte na conversa.

     — Sim, grandioso! Um fenômeno jamais visto na face da Terra, uma verdadeira globalização dos sentimentos e da visão...Muita glória – respondia o pastor seriamente.

     — Tão grandioso assim...Só poderia ser visto pela televisão – retrucava Yashimin com uma certa curiosidade.

     — Tu o dizes, afirmava o bom pastor.

     Yashimin, então, ficara quieto. Lembrava-se que diante do trono havia ainda como que um mar de vidro, semelhante ao cristal – recordava-se ainda dos viventes cheios de olhos por diante e por detrás – no seu entender eram câmaras e filmadoras de vídeo nas mãos de repórteres de toda parte do mundo. Apenas sussurrava, de maneira que só eu percebera: – Mar de vidro, semelhante ao cristal, o mar é líquido, grande quantidade, todos tem o cristal líquido da tela de um monitor. O Senhor se manifestaria na Internet, na televisão, em sua segunda vinda? Será? Por que não?...

     Foram necessários pelo menos uns dez dias naquela fazenda para nos descondicionarmos da magia do Templo de Heron, onde Yashimin Zara recomendara como terapia que acordássemos de madrugada, respirássemos o ar puro das montanhas. Fossemos ao curral para tirar leite das vacas e sentir o calor dos animais. Colocar a mão na terra, cavar, carpir, adubar, plantar, cuidar das hortas, dar ração aos porcos e milho para as galinhas.

     Ir para a cozinha, pegar na massa e fazer o nosso próprio pão.

     Após aqueles dias na fazenda, retornávamos à Cuiabá, mal descemos no aeroporto, logo víamos um grande cartaz:

“EXCURSÃO PARA O ESPAÇO POR APENAS 30.000 DÓLARES, COM DIREITO A DUAS VOLTAS NA ÓRBITA TERRESTRE E ESTADIA NA ESTAÇÃO ORBITAL MIR”

     Jamais poderia esquecer que somos cósmicos e como terapia corri para cozinha e comecei a fazer macarrão.

     Lembrava-me que a Terra era uma grande bola redonda, frágil, a flutuar no espaço ao redor do sol, feito bola de sabão e que eu, os homens e as cidades também flutuávamos sobre ela.

     Peguei na massa outra vez e amassei para fazer pão de queijo.

     Vi que a lua e as estrelas brilhavam e que nós éramos como elas, cósmicos porque tínhamos idéias que também brilhavam.

     Corri para o forno e assei um pernil com bastante molho.

     Vi que toda hora eu estava rezando.

     Descasquei o milho para fazer pamonha.

     A cada instante eu queria ler mais e mais sobre tudo do apocalipse, todos os assuntos.

     Hoje, fui cedo ao trabalho tratar da vida e percebi que um anjo da guarda me protegia.

     Vi meus velhos amigos. Trabalhei o dia inteiro no que consideramos realidade.

     Foi quando Yashimin Zara me chamou e disse:

     — Não precisa mais de mim. Vá em paz, Deus está contigo.

     Yashimin Zara sorvia o último gole do vinho cedido por Heron.

     Daí, passei a entender definitivamente que vivi no Templo de Heron a grande visão mística dos profetas e através de símbolos recebi sinais de alerta.

     Do subconsciente fiz grande viagem ao desconhecido transcendental – Foram meus símbolos religiosos que viajaram comigo e se soltaram na mente, assim como poderiam ser os seus ou de qualquer outra pessoa que tenha o mínimo de fé no desconhecido e que reconheça que ele tenha alguma influência neste nosso mundo estupidamente material!

     Pelas estatísticas existe muito mais gente com fé nas coisas do invisível do que nas coisas materiais, existem mais crentes do que agnósticos, não importa a religião e eu estou no grupo daqueles que crêem porque a fé também é uma ciência que contém informações pesquisadas em filosofia, inclusive, animadas pelo nosso próprio consciente que todos os dias viaja por caminhos desconhecidos – interessantes aventuras ao subconsciente, tal qual aquela travessia pelas Cordilheiras dos Andes em direção ao templo que é capaz de reunir todas as religiões do mundo.

     Após a breve certeza sobre a teoria da evolução das espécies e a sua intrínseca relação com a aurora do Homo sapiens sapiens, creio que Adão foi o elo de natureza cósmica deste homem que evoluiu aqui na Terra por conta de Deus.

     Nesta ampla visão cósmica percebi que Deus é humano porque também teve medos e a Sua solidão foi experimentada num daqueles dias das eras primordiais.

     Na viagem deparei-me com forças contraditórias das trevas, o seu imenso poder, a interferência no campo da matéria e a razão da sua existência no tráfego de drogas, no torpor, corrupção, influência nas mesquinharias, nas injustiças dos sistemas econômicos, sociais e políticos predominantes nas nações do mundo.

     Por quê não se consegue cultivar a elevação do espírito dentro destes sistemas temporais?

     Constatei também que a telestesia será o grande lance do futuro da comunicação informatizada.

     Vi este vilão nas forças negativas caminhando para a destruição do mundo, quando tais forças foram anunciadas por um poderoso exército de monstruosas máquinas eletrônicas reconhecidas como monstros das montanhas que saíram de uma dimensão virtual para a concreta.

     Através de um fenômeno de compactação de energia, atormentando e eliminando inocentes, pessoas humildes e da fé cristã do espaço latino americano, vi através da televisão como se tornavam letais em sua profusão.

     Vi os heróis se rebelarem contra aquela força hedionda, forçando-as a fazer uma trégua – os Cavaleiros dos Ventos Messiânicos – e os acontecimentos que se deslumbraram foi numa atmosfera apocalíptica que tem como pano de fundo o futuro, dias do século XXI, no ano de 2050 d.C.

     Todavia, sou cidadão do século XX, filho da década de cinqüenta e cá estou eu no início dos novos tempos depois de ter escrito sobre os finais dos tempos e decrescido até a criação do mundo.

     Fui, vim e voltei em minhas idéias e não fiz questão nenhuma de cortar minhas asas para deixar de voar – muito menos fugir dos labirintos que desafiam minha fé! A minha fé no horizonte de nuvens, perdida ao poente feita ilhas de céus oceânicos e sóis vulcânicos – raios de sol como áureas de Deus em barrado vermelho – a presença de Deus entre garças brancas, bandos a revoar para repouso, assim como, o povo da roça voltando de foice nos ombros, do corte de cana e das ervas daninhas.

     Separando o joio do trigo a fé é preciso!

     Realmente é uma loucura discorrer sobre o apocalipse. É como se o enigma de Andrômeda nos desafiasse todos os dias. É como se os deuses do Olimpo em seus mais clássicos mistérios nos testassem com provas milenares de suas olimpíadas para superarmos, como Hércules, nossos próprios recordes.

     Porém, o apocalipse não é mitologia, nem, todavia, adversa ao homem em seu ciclo na história e na filosofia, nem tampouco alegoria para enfeitar a vida daqueles que se foi simplória, muito menos poesia para exaltar a vitória do bem sobre o mal, quanto mais vinganças que ficou da cruel memória da humanidade!

     O apocalipse na sua resolução será a finalidade de toda criação, o decisivo salto final do Homem Cósmico para a glória!

     Endoidei-me algumas vezes enquanto escrevia sobre ele, contudo, nem por isso perdi meus sentidos, nem a esperança do Homem, este desconhecido, um dia, provocar um novo choque no iluminismo e nos cosmos, quando desta feita, todos nós, não nos deixaremos mais enganar – estaremos com a paz de Deus e a grandeza em nosso coração, cada vez mais firme e com os pés no chão.

     Cada letra, cada frase, cada sinal, pontos de luz, partículas quanta celestial inseridas nas páginas deste livro fazem da minha energia intelectual homenagens a serviço da hierarquia espiritual.

     Assim sendo, lembrei-me do “Grande Ancião” da minha alma que foi desaparecendo naquela noite adentro e me dizia sorridente – a frase é tão simples: “Habent sus fata libelii” (Os livros têm os seus destinos, os seus fadários).

FIM

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PESQUISAS:

– Referências –

1o.) – Principais fontes de pesquisas Bibliográficas:

– A Bíblia Sagrada – Antigo e Novo Testamento.

O Homem e seus Símbolos – Carl G. Jung.

Os Andes – As regiões selvagens do Mundo/ Time-Life livros.

– História em revista – coleção – Time-Life/Abril-livros.

Observação:

Qualquer semelhança de nomes e sobrenomes de personagens com pessoas que vivem e viveram no anonimato ou que sejam ou que já foram notoriamente públicas, terá sido mera coincidência

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Direitos autorais:

Esta obra foi registrada na Fundação Biblioteca Nacional – Ministério da Cultura – No. Registro: 165.505; Livro: 276; Folha: 146; data: 16/12/98; obra não publicada.

Obra já modificada após registro nos direitos autorais, no entanto, o título e o contexto da obra é o mesmo.

© 2000 – Jary Gomes Filho

jarygf@.br

– Todos os direitos reservados –

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Setembro 2000

ÍNDICE

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