Ferraz, João Carlos de Figueiredo
Ferraz, João Carlos de Figueiredo. "O novo mercado de álcool." São Paulo: Folha de São Paulo, 02 de outubro de 1999.
FSP 02-10-99
O novo mercado de álcool
JOÃO CARLOS DE FIGUEIREDO FERRAZ
A desregulamentação do mercado de álcool combustível no Brasil -que
significou a liberação do preço do produto- provocou uma drástica
transformação no setor sucroalcooleiro.
A primeira mudança verificada após esse processo de abertura do mercado foi
o rompimento da estrutura de controle e fiscalização comandada pelo
Departamento Nacional de Combustíveis (DNC) e a criação, em seu lugar, da
Agência Nacional do Petróleo (ANP), novo órgão normalizador e fiscalizador
do governo.
No entanto, esse processo encontrou o setor sucroalcooleiro dividido. Havia
os que receavam a abertura prematura e os que apoiavam a iniciativa oficial,
confiantes nas leis de livre mercado e na capacidade de superar obstáculos.
Surgiu, então, um movimento político que visava a unificação dos órgãos de
classe no Estado de São Paulo. Porém, o afastamento (se não rompimento)
entre as unidades produtoras era iminente. O setor enfrentava problemas,
como o de estoque de passagem -avaliado em 2 bilhões de litros-, que
pressionavam a queda dos preços. Existia ainda a perspectiva da nova safra
(99/ 2000) de cana-de-açúcar, cujo volume seria alto.
Outro obstáculo era o grande número de produtores que negociava com poucos
compradores organizados. Somado a isso, surgiram no mercado inúmeras
pequenas distribuidoras sem compromisso com a ética ou com o fisco. Com a
ajuda da "indústria das liminares" ou da sonegação, essas empresas vendiam
álcool a preços bem abaixo do mercado.
Todos esses fatores colaboraram para a queda dos preços do produto a um
nível insuportável. As unidades produtoras do país trabalhavam com prejuízo
e com alto índice de endividamento, sem quaisquer perspectivas para o futuro
próximo.
No entanto, ao contrário de todas as previsões, iniciou-se um novo movimento
para a recuperação do mercado de álcool. Diante do fato consumado da
desregulamentação, foram criadas as empresas Brasil Álcool S/A e Bolsa
Brasileira de Álcool Ltda. Ambas reúnem representantes da produção do
Centro-Sul do país.
Com 1,2 bilhão de litros de álcool, a Brasil Álcool atua como um estoque
regulador. A idéia é eliminar os excedentes e abastecer o mercado quando
necessário, garantindo tranquilidade e segurança ao consumidor. A Bolsa
Brasileira de Álcool opera como cooperativa de vendas para evitar a
desorganização da oferta e equilibrar o preço do produto ao longo do ano.
A alta do preço da gasolina também contribuiu para a recuperação do setor.
Entre outubro de 1998 e setembro de 1999, o preço do álcool correspondeu a
40% do preço da gasolina para o consumidor final. Ao considerar que os
preços dos dois combustíveis sempre variaram entre 73% e 85%, o álcool
passou a ser bem competitivo.
Mas, apesar do cenário positivo, tal fato acabou por criar uma enorme
distorção no consumo do produto. Em busca de uma economia imediatista,
vários proprietários de carros a gasolina passaram a misturar álcool ao
combustível. Apenas na região de Ribeirão Preto, nos últimos quatro meses,
60 mil motores de veículos movidos a gasolina foram convertidos para álcool.
O setor sucroalcooleiro está preocupado com essa distorção do mercado e com
suas possíveis consequências. A falta de dados estatísticos e informações
sobre esse consumo dificulta a previsão da produção necessária para manter o
mercado abastecido. O setor dá apoio às vendas de veículos movidos a álcool
e fará todo o possível para desenvolver essa fatia de mercado. Também está
pronto para dar segurança ao consumo planejado e programado. O setor confia
que o mercado encontrará um ponto de equilíbrio que contenha essa demanda
inesperada em benefício do consumidor do carro a álcool.
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