PLANO DE PESQUISA



VI SEMEAD ENSAIO

ADM. GERAL

Análise Ambiental nas Grandes Organizações

AUTORES:

Martinho Isnard Ribeiro de Almeida;

Título: Doutor pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP);

Função/Instituição: Professor e consultor da Fundação Instituto de Administração (FIA-USP);

E-mail: martinho@usp.br;

Fábio Lotti Oliva;

Título: Mestrando pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP);

Função/Instituição: Mestrando da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP);

E-mail: fabio-tit-bdn@.br;

ANÁLISE AMBIENTAL NAS GRANDES ORGANIZAÇÕES

I – RESUMO

O artigo apresenta um estudo sobre o processo de elaboração da Análise Ambiental nas grandes organizações. Inicialmente, realizou-se uma pesquisa sobre a atual bibliografia referente ao tema. Adotou-se uma determinada segmentação ambiental que norteou a pesquisa de campo. Aplicou-se uma entrevista aos principais responsáveis pelo planejamento estratégico de uma organização pública e uma multinacional. Destacam-se principalmente as questões relativas à determinação, previsão e fundamentalmente o monitoramento das variáveis ambientais.

Pôr fim, baseado nas evidências colhidas, sugere-se uma técnica para elaboração de um monitoramento das principais variáveis ambientais que tem relevante importância na gestão estratégica da organização na defesa ante as ameaças e na busca de oportunidades oferecidas pelo ambiente.

II- Introdução

No ambiente organizacional atual, globalizado, dinâmico e instável, os fatores econômicos, políticos, tecnológicos e sociais afetam rápida e intensamente a administração das organizações, sendo que, quanto maior o porte da organização as influências tornam-se mais preponderantes na definição do seu destino.

Com o avanço da tecnologia, os processos tornaram-se mais complexos e interdependentes. Neste enfoque sistêmico, constata-se que os novos processos são interfuncionais, onde cada vez mais o conceito de área cede espaço para a função. Nas organizações modernas, por exemplo, a qualidade não se concentra mais em um departamento, a qualidade permeia toda organização, na verdade, deve orientar toda a cadeia produtiva.

A pesquisa foi realizada em duas grandes organizações apresentadas abaixo.

A) Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda do Estado de São Paulo (SEFAZ|)

A Secretaria da Fazenda nasceu em 1892 com 10 funcionários, além do Secretário, e seus serviços eram realizados em quatro prédios distintos, divididos em duas seções básicas: Órgãos Fazendários e Órgãos Econômicos Gerais.

A seção Órgãos Fazendários era responsável pela arrecadação, guarda e manipulação do dinheiro público, dividindo-se em junta da Fazenda a e Seção de Contabilidade. A seção Órgãos Econômicos Gerais era responsável pelo planejamento e coordenação da atividade econômica e social do Estado. De sua criação até 1930, a Secretaria passou por diversas alterações.

A SEFAZ é, atualmente, responsável pela receita e despesa do Estado. Poderia seria ser dito que ela exerce a função de "tesoureira" das finanças estaduais, realizando primordialmente as funções de: controlar a arrecadação de tributos estaduais, controlar a despesa do Estado.

B) Voith Siemens Hydro do Brasil (Voith)

No início da história da empresa que se estende por mais de 130 anos, está a pequena oficina de serralheiro de Johann Matthãus Voith. Em poucos anos, a oficina artesanal de Heidenheim transformou-se na maior empresa de Engenharia de Wurttemberg na Alemanha, com contatos em todo o mundo. Desde então, os produtos Voith têm sido pedras angulares na história técnica.

   A Voith Siemens Hydro do Brasil é o centro de competência mundial, para todo o grupo, na tecnologia de geradores e fabricação de rotores de turbinas. Fornecedora de mais de 50% da energia hidrelétrica do Brasil é reconhecida como pólo irradiador de tecnologia na geração de energia elétrica. A gama de produtos da Voith Siemens Hydro engloba desde o fornecimento de equipamentos mecânicos de unidades de pequeno porte a grandes unidades. Possuí todos os tipos de turbinas e abrange as mais modernas técnicas de geração e transmissão para todos os tipos e tamanhos de usinas hidrelétricas.

III- REVISÃO DA LITERATURA

O processo de análise ambiental pode demandar grandes esforços da organização na delimitação de seu contorno. Muitos fatores ambientais podem influenciar a administração da organização. Adotar um método contribui para a organização das informações mais relevantes e identificar as relações de causa e efeito.

Na revisão bibliográfica buscou-se examinar os conceitos relativos ao ambiente das organizações, variáveis ambientais e classificação ambiental. Sendo que o foco da atenção recai no processo de análise ambiental sobretudo nas técnicas de identificação, métodos de previsão e técnicas de monitoramento das variáveis ambientais.

1- Classificação Ambiental

Segundo Bateman e Snell (1998), as organizações são sistemas abertos que são afetados e, por sua vez, afetam seus ambientes externos. Por ambiente externo, entende-se todas as forças relevantes além dos limites da organização. A organização existe em seu ambiente competitivo, que é composto da organização e de seus concorrentes, fornecedores, consumidores, novos entrantes e substitutos. Em um nível mais geral está o macroambiente, que inclui o ambiente político, as condições econômicas e outros fatores fundamentais que geralmente afetam as organizações.

Kotler (1974) foi um dos pioneiros na classificação ambiental embora fosse voltada apenas para as questões de marketing. O ambiente de marketing de uma organização é constituído por agentes e forças que estão fora do controle de marketing, que afetam a habilidade da administração da organização em desenvolver e manter transações bem-sucedidas com seus consumidores-alvo.

Alguns autores desenvolveram classificações ambientais por diferentes motivos. Sendo que a classificação que será apresentada e utilizada no estudo, visou facilitar a análise dos segmentos e seguiu, com pequenas alterações, a classificação de Fischmann e Almeida (1991). Segundo Almeida (2001), segue a classificação ambiental com seus segmentos, principais variáveis, características e principalmente as técnicas mais utilizadas para previsão.

Classificação Ambiental

|Segmento Ambiental |Variáveis Ambientais |Características |Técnicas de Análise |

|Macroambiente Clima |São variáveis decorrentes do poder |Previsão de curtíssimo prazo ou uma |Opinião de Experts |

| |político: inflação, PIB, legislação. |tendência a longo prazo. |Brainstorming |

|Macroambiente Solo |São variáveis da popula-ção: |Previsão, normalmente, é precisa. |Extrapolação de tendências |

| |crescimento por re-gião, renda, sexo, | |Previsões exponenciais |

| |idade. | | |

|Ambiente Operacional |São variáveis decorrentes das |As previsões procuram identificar as |Cenários |

| |operações: clientes concorrentes, |relações operacionais no futuro. |Simulação de modelos |

| |fornecedores. | |Modelos causais |

| | | |Projeções Delphi |

| | | |Análise de impactos cruzados |

| | | |Análise morfológica |

|Ambiente Interno |São variáveis relativas aos valores e |Os valoes e aspirações das pessoas são |Análise da cultura organizacional |

| |aspirações das pessoas relevantes da |dificilmente alterados. As organizações| |

| |organização. |agrupam pessoas com valores | |

| | |semelhantes. | |

2- Classificação das Técnicas de Análise Ambiental

Da mesma forma como diferentes autores propuseram classificações próprias do ambiente, estes também apresentaram diferentes formas de analisar estas variáveis:

2.1- Diffenbach (1983) identifica 14 técnicas de análise das variáveis que são utilizadas em grandes empresas, e indica o percentual de utilização de cada uma das técnicas encontrado na pesquisa, observando-se que a mesma empresa utiliza mais de uma técnica: opinião de experts - 86%, extrapolação de tendências – 83% , cenários alternados – 68%, cenários simples – 55%, simulação de modelos – 55%, brainstorming –45%, modelos causais – 32%, projeções Delphi – 29%, análise de impactos cruzados – 27%, análise de inputs e outputs – 26%, previsões exponenciais – 21%, monitoramento de sinais –21%, árvores de relevância – 6% e análise morfológica – 5%.

2.2- Bethlem (1996) propõe uma divisão nas técnicas de previsão quantitativas e qualitativas. Nas técnicas quantitativas por sua vez distingue as de analise e projeção de série temporal e os métodos causais. As técnicas de análise e projeção temporal são mencionadas entre outras: média móvel; amortecimento exponencial; método de Box Jenkins; X-11; projeção de tendências. Nos métodos causais, são mencionados entre outros: modelo de regressão; modelo econométrico; pesquisa sobre intenção; modelo de input - output; modelo econômico de input - output; índice de difusão; indicador líder; análise do ciclo de vida. Nas técnicas qualitativas são mencionadas como sendo as principais: delphi ou delfos; consenso de grupo; pesquisa de mercado; previsão visionária; analogia histórica; técnicas criativas.

Como pode-se ver o número de técnicas de previsão é bastante amplo, e sua nomenclatura nem sempre é uniforme, podendo existir técnicas iguais com denominações diferentes entre autores.

3- Técnicas de Análise Ambiental

Cada vez mais os administradores preocupam-se com a utilização de técnicas de previsão das principais variáveis ambientais relevantes para a condução da organização. Dentre outras destaca-se as principais técnicas quantitativas e qualitativas utilizadas pelas organizações pesquisadas:

Técnicas Quantitativas

A.1- Técnicas de Previsão de Relações Causais

A análise de regressão é a análise de dados para obter a relação matemática entre as variáveis conhecidas, variáveis independentes, e a variável de estudo, variável dependente que se quer predizer.

A correlação entre as variáveis poderá ou não representar uma relação causal entre elas, ou seja, uma relação de causa e efeito, que será importante para descrever e explicar o fenômeno. No entanto, se o objetivo do estudo for apenas predizer o comportamento futuro da variável ambiental a ausência da relação causal limitará as conclusões.

A.2- Técnicas de Previsão de Séries Temporais

A série temporal é basicamente um conjunto de observações ordenadas ao longo do tempo. Reflete uma relação causal entre o tempo, variável independente, e a variável que se quer estudar, predizer, variável dependente.

Na análise de séries temporais procura-se encontrar e estudar padrões de comportamento que possam ser utilizados para a previsão do valor futuro das variáveis em estudo. O comportamento pode ser dividido em quatro padrões: Tendência- direção ao longo do tempo, crescimento ou redução (longo prazo); Sazonal- mudanças regulares no tempo (curto prazo); Cíclico- flutuações, oscilações no tempo (longo prazo); Irregular- flutuações aleatórias.

Técnicas Qualitativas

No geral, as técnicas qualitativas procuram obter a opinião das pessoas de um grupo voltado ao debate de um dado tema. Dentre as várias técnicas existente, brainstorming, brainwriting, delphi e cenários são as técnicas de maior destaque encontradas na pesquisa efetuada

O brainstorming consiste na geração de idéias de pessoas de um grupo a respeito de um tema, caracteriza-se pela liberdade de procedimento, procura-se aguçar a criatividade. O brainwriting processo derivado do brainstorming. Cada pessoa do grupo escreve sua idéia sobre o tema e disponibiliza para outra pessoa que lê, reflete e gera novas idéias, que depois são discutidas no grupo.

A técnica delphi consiste na busca de opiniões de especialistas sobre um tema em questão. Busca a convergência de projeções futuras através da repetição do processo de coleta das opiniões abalizadas e justificadas, exposição das mesmas ao grupo e discussão.

A técnica de cenários busca estruturar a percepção sobre os ambientes alternativos futuros afim de permitir a tomada de decisão no presente. Nos estudos de cenários é importante estudar a interelação entre as variáveis. Utilizam-se de técnicas diversas, algumas são menos formais para construção dos cenários como é proposto por Peter Schwartz (1998). Outros utilizam-se de métodos matemáticos e estatísticos como Michel Godet (2000) para estruturar as idéias.

IV- PROBLEMA DE PESQUISA / MÉTODO

Ao buscar uma metodologia para o desenvolvimento do tema de um trabalho, o pesquisador deve procurar na literatura especializada o método mais adequado para desenvolver a pesquisa para resolver o problema escolhido.

Stephen (1969) diz que as pesquisas podem ser enquadradas como teóricas ou práticas, puras ou aplicadas, e podem ser desenvolvidas de diferentes formas, seguindo métodos que propiciem a descoberta daquilo que se procura conhecer.

Em sua obra, Stephen apresenta nove métodos de pesquisa, que considera como básicos. Resumidamente, esses métodos são: Histórico, Descritivo, Desenvolvimentista, Estudo de caso no campo, Correlacional, Ex-post-facto, Experimental, Quase-experimental e Ação. Em destaque, o método Descritivo que consiste na descrição detalhada de uma situação ou de uma área de interesse e Estudo de caso no campo que estuda intensivamente o presente e as relações com o ambiente de uma unidade social, tal como um indivíduo, um grupo, uma instituição, ou uma comunidade.

O problema de pesquisa reside no entendimento do processo de elaboração da análise ambiental nas grandes organizações. Estudar o processo de identificação, previsão e monitoramento das variáveis ambientais. No primeiro momento, a pesquisa verifica se o processo é estruturado, se existe uma seqüência lógica e formal dos passos no processo. Em seguida, a pesquisa verifica quais são as principais técnicas utilizadas no processo. Pôr fim, identificar a influência da análise ambiental no planejamento estratégico da organização.

Para tanto, dentre os nove métodos de pesquisa relacionados, o Descritivo e o Estudo de caso no campo são os mais indicados para o desenvolvimento deste trabalho.

V – cOLETA DE DADOS

A pesquisa foi realizada através de entrevistas pessoais aplicadas aos principais responsáveis pelo planejamento estratégico da organização. Para tanto, elaborou-se um questionário com 16 perguntas. Aplicou-se o mesmo questionário para a Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda do Estado de São Paulo e a Voith Siemens Hydro do Brasil, duas organizações de grande porte.

1) Qual a estrutura de planejamento?

a) SEFAZ: Departamento de planejamento da CAT – coordenadoria da administração tributária.

b) Voith: Diretoria e gerência de primeiro nível.

c) Comentário: Verificou-se que na Voith o processo de planejamento estratégico é centralizado. Na SEFAZ, constata-se um processo descentralizado.

2) Utiliza a análise SWOT?

a) SEFAZ: Sim. A metodologia é baseada no planejamento estratégico situacional (foco na área pública).

b) Voith: Sim.

c) Comentário: A intenção desta questão foi verificar se existia um grau mínimo de estruturação do processo de planejamento estratégico.

3) A Secretaria utiliza-se da Análise Ambiental para mapear as oportunidades e as ameaças do ambiente?

a) SEFAZ: Sim.

b) Voith: Sim.

c) Comentário: Os detalhes sobre a Análise Ambiental de cada organização serão apresentados nas questões abaixo.

4) Qual a segmentação ambiental?

a) SEFAZ: Macroambiente e Microambiente.

b) Voith: Ambiente Externo, Ambiente Operacional e Ambiente Interno.

c) Comentário: A SEFAZ, como governo, preocupa-se mais com o Macroambiente, ou seja, preocupa-se com os fatores econômicos, demográficos, sociais, tecnológicos, políticos, legais e internacionais. A Voith empresa global, atua no mercado interno e externo. A análise do Ambiente Externo é elaborada pela matriz na Alemanha. No Brasil, a ênfase é na análise do Ambiente Operacional, focada nos concorrentes e clientes. A tecnologia é consolidada, as mudanças são incrementais, não se vislumbra uma ruptura tecnológica a médio prazo. Constatou-se a importância dada ao Ambiente Interno. A Voith como uma empresa de bens de capital, dedicada à execução de projetos de construção de usinas hidroelétricas depende de sua força de trabalho altamente especializada.

5) Quais as técnicas utilizadas na elaboração da Análise Ambiental?

a) SEFAZ: Painel de controle para acompanhamento da receita x arrecadação. Cenários econômicos do IPEA. Técnica Delphi para rateio de meta de arrecadação por delegacia. Análise de séries temporais para previsão do ICMS.

b) Voith: A Voith não desenvolve estudos com técnicas quantitativas. Utiliza-se das projeções econômicas fornecidas pela ANEEL. Quanto às técnicas qualitativas, os cenários macroeconômicos são elaborados pela matriz na Alemanha. A análise do ambiente operacional é efetuada pela engenharia através das técnicas de cenários.

c) Comentário: Vale destacar o alto grau de utilização das técnicas no processo de análise ambiental. A percepção e o julgamento das pessoas tem importância maior, no entanto, sem a depreciação da criatividade, verifica-se um aumento contínuo da estruturação e fomalização do processo.

6) Quais as principais variáveis de controle?

a) SEFAZ: PIB tributável e índices setoriais.

b) Voith: PIB, dólar, principais índices econômicos e índices relativos aos insumos empregados na fabricação de seus produtos.

c) Comentário: Para a SEFAZ, os índices setoriais são importantes para acompanhar a arrecadação tributária de cada setor. Quando a SEFAZ percebe uma variação não correlata entre os índices econômicos do setor e a arrecadação, convida a empresa para esclarecimentos. Não dirimida as dúvidas, a SEFAZ envia a fiscalização na empresa. Para a Voith, como empresa global, a variação cambial pode causar grande impacto no volume de exportação. Quanto a custo de produção, os preços dos insumos para fabricação são intensamente monitorados (energia elétrica, sucata, componentes eletrônicos).

7) Qual é o processo de monitoramento? Quais as técnicas?

a) SEFAZ: Acompanhamento da arrecadação. Estudo sobre potenciais sonegadores.

b) Voith: Consulta a jornais, revistas especializadas, internet e outros meios.

c) Comentário: Percebe-se a falta dum procedimento mais estruturado e integrado.

8) Qual a influência da análise ambiental na elaboração do planejamento estratégico?

a) SEFAZ: Total. A Análise Ambiental é parte integrante do Planejamento Estratégico.

b) Voith: Parte integrante. Permite identificar as ameaças e oportunidades do Ambiente. Este processo é fundamental para uma empresa global.

c) Comentário: As respostas confirmam a influência do ambiente no processo decisório das organizações.

9) Qual é o perfil organizacional?

a) SEFAZ: Conservadora.

b) Voith: Conservadora, centralizadora e reativa.

c) Comentário: Acredita-se que uma organização proativa valoriza extremamente a prospecção do futuro, procurando novas oportunidades e as organizações conservadoras como é o caso das duas organizações são mais defensivas procurando as ameaças.

10) Qual é o futuro tecnológico?

a) SEFAZ: Intensificar a automação e informatização dos processos.

b) Voith: A tecnologia é consolidada, as mudanças são incrementais, não se vislumbra uma ruptura tecnológica a médio prazo.

c) Comentário: O futuro tecnológico pareceu mais importante para a SEFAZ, que nos últimos anos, através do incremento da tecnologia da informação, proporcionou um crescimento de arrecadação superior ao crescimento do PIB.

10) Qual é o futuro ambiente operacional?

a) SEFAZ: Mudanças na estrutura produtiva (industria, comércio e serviços). Aumento da participação dos serviços, conseqüentemente, redução da arrecadação segundo a legislação tributária atual.

b) Voith: Acirramento da concorrência. Redução dos players mundiais. No mercado interno, o retorno do Governo como cliente principal.

c) Comentário: Confirma-se que o ambiente operacional é que demanda maior atenção e esforços por parte destas duas organizações.

11) Como é o ambiente interno?

a) SEFAZ: Preocupação com o destino do funcionalismo público. A indefinição e insegurança quanto ao futuro resultam na falta de motivação ao trabalho. O foco deveria ser o trabalho, no entanto, torna-se, naturalmente, a preservação do emprego.

b) Voith: A Voith como uma empresa de bens de capital, dedicada à execução de projetos de construção de usinas hidroelétricas depende de sua força de trabalho altamente especializada. A Voith investe fortemente na retenção de seus talentos, promove uma remuneração superior, benefícios diferenciados (plano médico, odontológico e previdenciário) e plano de participação nos resultados. Conseqüentemente, verifica-se uma força de trabalho motivada e compromissada.

c) Comentário: Verifica-se que há grande espaço para o desenvolvimento de estratégias voltadas a aproveitar todo o potencial do capital humano das organizações. Entender os valores e aspirações dos colaboradores, não implica na busca do controle das pessoas, mas maximizar o retorno causado pela construção de um ambiente interno harmonioso. No caso da SEFAZ verifica-se um que existe uma disfunção no tratamento deste segmento ambiental, conforme é reconhecido pelo respondente.

12) Como será a Organização no ano 2010?

a) SEFAZ: Não apresenta um estudo estruturado.

b) Voith: Não apresenta um estudo estruturado.

c) Comentário: A questão traz a discussão o tema do planejamento estratégico de longo prazo. Verifica-se a tendência do planejamento estratégico nestas organizações é de curto prazo. Na organização pública, a descontinuidade nos govêrnos pode explicar o posicionamento da organização em relação ao prazo de seu planejamento, mas na Voith que é uma empresa bens de capital de longa duração, o prazo do planejamento deveria ser compatível com sua atuação.

13) Estudo sobre ameaças?

a) SEFAZ: Estudo sobre potenciais sonegadores. Mudanças na estrutura produtiva (industria, comércio e serviços). Reforma tributária. Lei Kandir.

b) Voith: O retorno do governo como principal cliente. Aumento excessivo da regulamentação do setor hidroelétrico.

c) Comentário: A lei Kandir que isenta as exportações do pagamento do tributo ICMS, a princípio reduziu a arrecadação, mas em contrapartida aumentaria a atividade interna conseqüentemente aumento do PIB tributável. Verificou-se a redução, no entanto, não se constatou o aumento da arrecadação. Conforme já comentado, as organizações conservadoras tendem a focar sobretudo nas ameaças.

14) Qual a missão da Organização?

a) SEFAZ: Fornecer, ao contribuinte, orientação e serviços mais eficientes; ser um modelo de administração pública baseada em transparência e utilidade; disponibilizar, à sociedade, instrumentos de acompanhamento e informação sobre as contas públicas; promover a inclusão social, através da educação fiscal e divulgação de informações; estimular a prática da cidadania e promover o despertar da consciência tributária no cidadão.

b) Voith: Proporcionar soluções para as tarefas complexas apresentadas por nossos clientes. Isto exige confiança. Honrar esta confiança através de padrões de valor claramente definidos, que orientam todas as nossas atividades.

c) Comentário: Foi realizada esta questão básica sobre Planejamento Estratégico para verificar se os respondentes estavam integrados no seu processo.

15) Momentos de crise?

a) SEFAZ: Redução drástica da arrecadação quando da crise energética de 2001.

b) Voith: O grande momento de crise ocorreu quando o Governo passou de principal cliente na aquisição de usinas hidroelétricas para o regulador do setor. A empresa estava estruturada para atender um mercado com poucos clientes e estável. Com a mudança no setor hidroelétrico, o mercado tornou-se competitivo, dinâmico, global e com múltiplos clientes.

c) Comentário: A SEFAZ utilizou-se dos cenários do Banco Central sobre a evolução do PIB, assim sendo, ajustou sua previsão para o ICMS. Pode-se observar que a análise ambiental desenvolvida pelas duas organizações não foram suficientes para antever as ameaças que levaram a momentos de crise.

VI – Análise e discussão

A pesquisa foi realizada através de entrevistas pessoais aplicadas aos principais responsáveis pelo planejamento estratégico das organizações. Cada uma das 16 questões e as respostas de cada empresa foram apresentadas acima.

Após a análise questão a questão, expressa nos comentários acima, desenvolveu-se um estudo geral sobre o processo de Análise Ambiental nas grandes organizações levando-se em conta as limitações da revisão bibliográfica e da pesquisa de campo em relação ao número de organizações pesquisadas e aos temas abordados.

Através da pesquisa confirmou-se que o processo de Análise Ambiental é parte fundamental do processo de Planejamento Estratégico nestas duas organizações, mas que ainda não é realizado de uma forma que evite as ameaças.

Nos textos acadêmicos e nos relatos das aplicações relativos a Análise Ambiental observa-se, geralmente, a descrição de um processo fragmentado e incompleto. Alguns textos ou aplicações por vez dão grande ênfase a previsão das variáveis ambientais sem mencionar a importância do processo de identificação das mesmas. Ou muitas vezes, omitem a importância real do monitoramento ambiental. Assim sendo, a pesquisa leva-nos a propor a seguinte seqüência de atividades para execução da Análise Ambiental:

1) Identificação das variáveis ambientais significativas: neste passo, para cada o fator ambiental deve-se verificar quais as variáveis que mais influenciam na administração da organização através da análise de situações passadas de sucesso e fracasso e através da análise de situações futuras desenhadas em possíveis cenários;

2) Previsão das variáveis ambientais: consiste na aplicação de técnicas qualitativas e quantitativas para prever o comportamento futuro das variáveis ambientais que tem grande importância na definição das ações futuras;

3) Monitoramento das variáveis ambientais: realizados os passos anteriores, a organização deve concentrar seus esforços para acompanhar a previsão frente à mensuração real das variáveis ambientais, conseqüentemente, melhorar o processo de previsão e principalmente, ante os dados reais com variações significativas, reavaliar as estratégias vigentes e futuras.

Vale destacar o trabalho da Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda do Estado de São Paulo na previsão do imposto ICMS. O ICMS representa mais de 60% da receita total do Estado de São Paulo. Para tanto, a SEFAZ desenvolveu vários modelos quantitativos que foram testados e validados até encontrar o atual modelo implementado. Destaca-se quatro classes de modelos estudados. O primeiro, o modelo aritmético convencional que relacionou a arrecadação futura do ICMS com a arrecadação passada do ICMS, o PIB tributável estadual e a elasticidade PIB do ICMS. O segundo, o modelo econométrico que relaciona a arrecadação futura do ICMS com a variável tempo, busca a melhor relação matemática, linear, quadrática, cúbica e busca uma linha de tendência. O terceiro consiste na clássica decomposição da série temporal, busca-se identificar tendência, sazonalidade, ciclos e irregularidades. Pôr fim, o modelo econométrico auto-regressivo que busca uma relação estatística através dos dados da arrecadação passada do ICMS ao longo de um intervalo de tempo. Sendo que o terceiro modelo foi avaliado como o mais aderente pela SEFAZ.

Destaca-se que no desenvolvimento do monitoramento do ambiente pode-se utilizar de indicadores, a exemplo do que ocorre nas técnicas de Gestão Estratégica, que trazem para o dia-a-dia a orientação estratégica, como o Balance Scorecard de Kaplan e Norton (1996).

Os indicadores podem ser desenvolvidos para as variáveis ambientais em que a organização é mais sensível, não esquecendo que o comportamento das variáveis irá depender do segmento ambiental conforme proposta de Fischmann e Almeida (1991).

VII – ConCLUSÕES E LIMITAÇÕES

Atualmente, as grandes organizações têm investido cada vez mais na elaboração de seu planejamento estratégico. Para tanto, algumas variáveis ambientais são importantes para nortear a elaboração de estratégias e conseqüentemente os caminhos da empresa face às ameaças e oportunidades do ambiente.

As organizações muitas vezes não desenvolvem uma análise ambiental que antecipe efetivamente as oportunidades e ameaças. Nos casos apresentados verifica-se que as organizações ainda não possuem um processo de análise ambiental que antecipe as principais oportunidades e ameaças, mas destaca-se o trabalho quantitativo bastante profundo aplicado pela SEFAZ na previsão da arrecadação do seu principal tributo ICMS, que deveria ser completado por análises qualitativas.

O modelo apresentado por Almeida (2001) tem grande utilidade pois acrescentou ao modelo de segmentação ambiental de Fischmann e Almeida (1991) as principais técnicas a serem utilizadas para previsão das variáveis de cada segmento ambiental.

Vale destacar a importância da determinação das principais variáveis ambientais que influenciam o destino da organização. No entanto, considera-se fundamental o monitoramento das mesmas, que muitas vezes é relegado a segundo plano ou se quer é aplicado. Dentre as etapas da análise ambiental, o monitoramento, se bem realizado, pode ser fundamental para o sucesso na implementação das estratégias, ajustes no plano de ações e até a reformulação das estratégias face às mudanças no ambiente.

VIII- BIBLIOGRAFIA

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