Mercados de Derivativos - Antonio Lopo



MERCADOS DE DERIVATIVOS

Prof. Antonio Lopo Martinez

SUMÁRIO

1) DERIVATIVOS – VISÃO GERAL 2

Definição 2

Derivativos no Brasil 2

Bolsa de Valores vs Bolsa de Derivativos 2

Principais Mercados 3

Regulamentação dos Derivativos no Brasil 3

A Estrutura do Mercado de Derivativos 4

Aspectos Tributários do Mercado de Derivativos 6

2) MERCADOS FUTUROS 7

Origem 7

Definição 7

As Especificações dos Contratos Futuros 8

Margens 9

A "Entrega" do Ativo 10

Preço à Vista vs Preço Futuro 11

Contratos Futuros vs Contratos a Termo 11

Hedge com Futuros 12

Exemplo de Hedge com Futuros 13

Especulando com Futuros 13

Arbitrando no Mercado Futuro 13

3) MERCADOS DE OPÇÕES 15

Origem 15

Definição 15

Tipos de Opções 16

Terminologia do Mercado de Opções 16

Especulando no Mercado de Opções 17

Hedge no Mercado de Opções 19

Posição não "hedgeada" 19

Posição "hedgeada" no mercado de opções 20

Hedge no mercado futuro 21

Comparação das alternativas 21

4) MERCADOS DE SWAPS 21

Definição 22

Principais Usuários 22

Principais Modalidades 22

Contratos de Derivativos Financeiros, Agropecuários e de Balcão 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS 25

1) DERIVATIVOS – VISÃO GERAL

Definição

Um derivativo pode ser visto como um ativo financeiro cujo valor depende do valor de outro ativo financeiro, o ativo-objeto. Um exemplo seria a opção de compra de uma ação negociada em bolsa. O derivativo é a opção de compra da ação e seu valor depende do valor desta última. Nesse exemplo, o ativo-objeto é um ativo financeiro (ações, bônus, índices, etc.), mas há derivativos cujo valor depende do valor de uma mercadoria/commodity (trigo, boi gordo, café, etc.).

Derivativos no Brasil

No Brasil, o mercado de derivativos encontra-se quase todo centralizado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), que surgiu em julho/85 e começou a operar em janeiro/86. Antes disso, contudo, já havia negociação com derivativos no Brasil. Em 1917, a Bolsa de Mercadorias de São Paulo já negociava contratos a termo de produtos agropecuários.

Bolsa de Valores vs Bolsa de Derivativos

Existe uma diferença básica entre uma bolsa de valores, onde ações de empresas são negociadas, e uma bolsa de derivativos, qual seja: ações negociadas em bolsas de valores representam parte da empresa emissora, ou seja, o comprador da ação torna-se sócio dessa empresa. Por outro lado, os instrumentos negociados numa bolsa de derivativos são derivados do valor de outros instrumentos, tais como bônus, moedas, ações, índices, commodities, etc.

Principais Mercados

A Futures Industry Association divulga regularmente um ranking das principais bolsas de derivativos do mundo, com base no volume de contratos. Como poderá ser observado no quadro abaixo, o Brasil, representado pela BM&F, é um dos mais importantes centros de negociação de instrumentos derivativos no mundo, aí incluídos futuros, opções sobre futuros e opções sobre ativos.

Principais Produtos/Tipos de Derivativos

Os instrumentos derivativos mais negociados no mundo são:

- futuros;

- opções; e

- swaps.

Regulamentação dos Derivativos no Brasil

O mercado de derivativos no Brasil é regulado pela Lei no 10.303/2001, também conhecida como Nova Lei das S.A., que atribui à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a competência para disciplinar e fiscalizar as atividades de negociação e intermediação no mercado de derivativos. Dessa forma, desde a edição de referida lei, foram transferidas para a CVM praticamente todas as competências relativas às operações de derivativos.

Outro importante normativo é a Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) 2.933/2002, por meio da qual se disciplina a realização de operações com derivativos no âmbito do Sistema Financeiro Nacional. De acordo com o artigo 1º da norma supramencionada, o CMN resolveu:

"Art. 1. Facultar aos bancos múltiplos, aos bancos comerciais, à Caixa Econômica Federal, aos bancos de investimento, às sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários e às sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários a realização, no mercado de balcão, por conta própria ou de terceiros, de operações de swap, a termo e com opções não padronizadas, referenciadas em ouro, taxas de câmbio, índices de moedas, taxas de juros, mercadorias, índices de preços, índices de taxas de juros, ações de emissão de companhias abertas, índices de ações, debêntures simples ou conversíveis em ações e notas promissórias de emissão de sociedades por ações, destinadas a oferta publica."

Vale também mencionar a Instrução CVM 382/2003, que estabelece normas e procedimentos a serem observados nas operações realizadas com valores mobiliários, em pregão e em sistemas eletrônicos de negociação e de registro de operações em bolsas de valores e de bolsas de mercadorias e futuros, além de outras providências. Ao Banco Central do Brasil coube regulamentar, via Circular 3.082/2002, os critérios para registro e avaliação contábil de instrumentos financeiros derivativos.

A Estrutura do Mercado de Derivativos

Conforme já mencionado, as operações com derivativos no Brasil estão quase todas centralizadas na BM&F. Essa instituição tem como objetivo registrar, efetuar a compensação e a liquidação, física e financeira, das operações realizadas no pregão ou via sistema eletrônico. Ela também possui mecanismos para regular os mercados nos quais participa e edita normas no sentido de assegurar o cumprimento das obrigações assumidas pelos participantes.

A BM&F é uma associação civil sem fins lucrativos. Há várias formas de se associar a essa instituição:

- Membro de Compensação: responsável pela compensação e liquidação de todos os negócios realizados em pregão viva voz ou eletrônico. Podem adquirir esse título os bancos múltiplos, comerciais e de investimento, corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, devidamente autorizados a funcionar pelo BACEN;

- Corretora de Mercadorias: a pessoa jurídica que adquire esse título tem o direito de realizar operações em seu nome e em nome de terceiros, em todos os mercados da BM&F;

- Operador Especial: pessoa física (ou firma individual) que opera diretamente, em seu nome, mas que não está autorizada a realizar operações em nome de terceiros. Pode, contudo, prestar serviços de execução de ordens às Corretoras;

- Sócio DL (com direito de liquidação): pessoa jurídica autorizada a efetuar a compensação e a liquidação de operações com títulos públicos, títulos de renda fixa e ativos emitidos por instituição financeira;

- Sócio DO (com direito de operação): pessoa jurídica autorizada a intermediar e registrar operações com títulos públicos, títulos de renda fixa e ativos emitidos por instituição financeira;

- Corretora de Mercadorias Agrícolas: embora com direitos semelhantes aos de uma Corretora de Mercadorias, os detentores desse título podem operar diretamente apenas as commodities agropecuárias;

- Corretora Especial: título que proporciona a seu detentor o direito de registrar swaps e opções flexíveis nos sistemas correspondentes da BM&F;

- Operador Especial de Mercadorias Agrícolas: como o Operador Especial, está autorizado a realizar negócios em seu próprio nome, mas somente nos mercados de commodities agropecuárias;

- Corretor de Algodão: opera com exclusividade no mercado físico de algodão. Esse mercado não faz parte dos pregões da BM&F, mas sua regulamentação é de sua competência;

- Sócio Efetivo: título que assegura à pessoa física ou jurídica que o detém redução nos custos de transação; e

- Sócio Honorário: pertencente à Bovespa, na qualidade de instituidora da BM&F.

Os títulos de Corretora de Mercadorias, Membro de Compensação e Sócio Efetivo conferem a seus detentores o direito de votar e de ser votados na Assembléia Geral. É ela que elege os representantes do Conselho de Administração da Bolsa. Há conselheiros designados para mercados de juros e câmbio e outros designados para os mercados de índice de ações, energia e agropecuários.

Lembre-se: apesar da grande concentração de negócios na BM&F, a Bovespa também negocia derivativos, com destaque para as opções sobre ações.

Aspectos Tributários do Mercado de Derivativos

Há que se diferenciar futuros, termo, opções e swaps. Para futuros, termo e opções, a base de cálculo do imposto de renda corresponde ao ganho líquido, que é o resultado positivo auferido nas operações realizadas a cada mês, admitida a dedução dos custos e despesas incorridos, necessários a sua realização.

A apuração da base de cálculo para operações envolvendo futuros deve ser feita considerando-se o resultado positivo da soma algébrica dos ajustes diários ocorridos em cada mês. O conceito de ajuste será discutido mais adiante. No caso do termo, tendo em vista a inexistência de ajustes[1], o comprador tem que apurar a diferença positiva entre o valor da venda à vista do ativo na data da liquidação do contrato a termo e o preço nele estabelecido. Pelo lado do vendedor a descoberto, deve-se apurar a diferença positiva entre o preço estabelecido no contrato a termo e o preço de compra à vista do ativo para a liquidação do contrato.

Para o mercado de opções, a apuração da base de cálculo depende do tipo de operação. Se a operação tem por objeto a negociação da opção (compra ou venda), a base de cálculo deve corresponder ao resultado positivo apurado no encerramento de opções da mesma série. Quando a operação é de exercício da opção, a apuração da base de cálculo é diferente para titulares e lançadores de opção, e para opções de compra (calls) e de venda (puts). Utilizando como exemplo o caso de um titular de uma call, a base de cálculo deve corresponder à diferença positiva entre o valor de venda à vista do ativo na data de exercício da opção e o preço de exercício da opção, acrescido do valor do prêmio.

Para todos os casos acima (futuros, termo e opções), após apurada a base de cálculo deve-se aplicar alíquota de 15% para efeitos de imposto de renda. Não há previsão de isenção para operações envolvendo os derivativos citados.

No que se refere às operações de swap, a base de cálculo para o imposto de renda corresponde ao resultado positivo auferido na liquidação, ou cessão, do contrato de swap. Na apuração do imposto, poderão ser considerados custo da operação os valores pagos a título de cobertura contra eventuais perdas incorridas nas operações de swap. A alíquota é a mesma das outras operações já citadas, 15%, e não há previsão de isenção.

Finalmente, para um maior aprofundamento no tema, dentre os normativos que disciplinam o tratamento tributário das operações com derivativos, destacam-se: Leis 8.541/92, 8.981/95, 9.249/95, 9.430/96 e 9.959/00; e as Instruções Normativas da Receita Federal 25/2001, 33/2001 e 53/2001.

Lembre-se: alíquota de IR nas operações de derivativos é de 15%.

2) MERCADOS FUTUROS

Origem

Os mercados futuros surgiram diante da necessidade de fazendeiros assegurarem um certo preço para as colheitas futuras. Ao entrar em um acordo com preço no futuro pré-definido, o fazendeiro podia assegurar determinado lucro ou limitar sua perda. A isso chamamos hedge. Esse conceito foi posteriormente adaptado a outros mercados, possibilitando o surgimento de contratos não-agrícolas. O desenvolvimento desses contratos permitiu que as mesmas estratégias de hedge usadas em mercados agrícolas fossem utilizadas em mercados financeiros.

Definição

Um contrato futuro corresponde a um acordo entre 2 partes para comprar ou vender determinado ativo em uma certa data, a determinado preço. Vale dizer que existe um outro tipo de contrato, o contrato a termo, cuja definição é a mesma do contrato futuro. Contudo, há algumas diferenças entre os 2, quais sejam: a) contratos futuros são normalmente negociados em bolsas, enquanto que os a termo são negociados em balcão (over-the-counter); b) contratos futuros são padronizados, enquanto que as especificações dos contratos a termo dependem da negociação entre as partes; c) em um contrato a termo uma parte sabe qual é sua contraparte, o que não ocorre no contrato futuro negociado em bolsa; e d) o risco de crédito no contrato futuro é o risco-bolsa, enquanto que no contrato a termo corre-se o risco daquela contraparte com a qual se negocia.

Lembre-se: futuros diferem do termo no tocante ao local de negociação, à padronização dos contratos e ao risco de contraparte.

Exemplo

Suponha que você trabalhe em uma corretora associada à BM&F. Estamos em março e um fazendeiro entra em contato com você para vender sua colheita de café arábica, a ser realizada 4 meses depois, em julho. Ele se satisfaz se, em julho, conseguir vender a saca de 60 quilos a USD 50. Com esse valor ele garante um lucro satisfatório. Seu papel como corretor é o de encontrar alguém que esteja disposto a pagar, em julho, USD 50 a saca de café. Ao fazer isso, você receberá uma comissão. Neste exemplo, o fazendeiro é o vendedor do contrato futuro de café com vencimento em julho (está short). Na outra ponta está o comprador (está long).

As partes envolvidas no contrato futuro dificilmente esperam até o vencimento, quando uma parte entregaria dinheiro e a outra a commodity/ativo[2]. Elas normalmente desfazem a posição antes do vencimento. Por exemplo, a parte que está long no contrato de café com vencimento em julho pode fechar sua posição vendendo a mesma quantidade de contrato em uma data antes do vencimento. Seu ganho ou perda seria dado pela mudança nos preços futuros entre o dia em que comprou o contrato e o dia em que vendeu contrato com mesmo vencimento, do mesmo ativo-objeto.

As Especificações dos Contratos Futuros

Ainda usando como exemplo o contrato futuro de café arábica da BM&F, no campo objeto de negociação consta o seguinte: Café cru, em grão, de produção brasileira, coffea arabica, tipo 6 ou melhor, bebida dura ou melhor, para entrega no Município de São Paulo, SP, Brasil. É especialmente importante para o caso de futuro de commodities especificar detalhadamente o ativo-objeto, uma vez existirem muitas variações na qualidade do produto. No caso de ativos financeiros, essa preocupação é menor tendo em vista a pouca ambigüidade existente em definir os mesmos.

Outra especificação importante do contrato é seu tamanho ou unidade de negociação. No caso do contrato de café, são 100 sacas de 60 quilos, cotadas em dólares americanos, com 2 casas decimais. Essa última informação, a cotação, é outra especificação constante de qualquer contrato futuro.

A maior parte dos contratos também conta com uma oscilação máxima diária. Ao se limitar as oscilações diárias dos preços, previne-se contra fortes movimentos ocasionados por especulação excessiva. No caso do futuro de dólar comercial, por exemplo, a oscilação máxima permitida é de 5% (para cima ou para baixo) sobre o valor do vencimento negociado, calculados sobre o preço de ajuste do pregão anterior.

Outra especificação importante dos contratos futuros são os limites de posição, que referem-se ao número máximo de contratos que um especulador pode deter. O propósito aqui é evitar que a especulação excessiva influencie o mercado. Hedgers (aqueles que buscam proteção) não são afetados por tais limites.

Margens

Imagine a situação em que 2 pessoas concordam em trocar determinado ativo no futuro a um preço pré-definido. No meio do caminho, uma das 2 partes envolvidas pode se arrepender e desistir do negócio. Ainda, aquele que concordou em comprar o ativo ao preço pré-estabelecido pode não ter os recursos para honrar o compromisso. Enfim, existem riscos envolvidos no acordo. Uma das funções da bolsa de derivativos é fazer com que os riscos sejam minimizados, e ela faz isso por meio das margens.

Lembre-se: bolsa de derivativos tem como uma de suas mais importantes funções a minimização de riscos. Isso é feito por meio das margens.

O fato das bolsas, via câmaras de compensação (clearing houses), atuarem como contraparte para todos os compradores e vendedores envolveria, obviamente, níveis inaceitáveis de risco de crédito, para a própria bolsa e para seus membros. Por conta disso, todas as câmaras de compensação exigem o pagamento de margens, tanto de comprados quanto de vendidos. Elas são calculadas de forma a assegurar que os membros sejam capazes de cumprir suas obrigações uns com os outros. Existem dois tipos de margem: a inicial envolve, normalmente, montantes pequenos quando comparados ao valor nominal do contrato. Na maior parte dos casos, o depósito inicial de margem pode ser feito em dinheiro, em títulos ou garantias bancárias. O montante inicial exigido como margem pode variar a qualquer momento, a critério da bolsa/câmara de compensação. Em mercados muito voláteis como o nosso, essas mudanças podem ocorrer diversas vezes em um só dia.

Todas as posições são marcadas a mercado diariamente pela câmara de compensação, ou seja, reavaliadas de acordo com as condições prevalecentes no mercado. A diferença entre o lucro/perda em relação à avaliação anterior é chamada de margem de variação, que vai ser recebida ou paga pela câmara de compensação. Esse mecanismo dá aos futuros uma característica bastante peculiar: lucros ou perdas são recebidos ou pagos diariamente.

Exemplo de Funcionamento da Margem

Um investidor entra em contato com seu corretor em 14 de fevereiro de 2003. Ele quer comprar 4 contratos futuros de ouro com vencimento em agosto/2003 (supondo que existe tal vencimento). O preço futuro para o vencimento citado é de $ 20 por grama. Sabendo que o tamanho do contrato é de 250 gramas, o investidor se dispõe a comprar 1 quilo de ouro a $ 20 o grama. O corretor vai pedir que o investidor faça um depósito inicial de margem, estabelecido em $ 250 por contrato, ou seja, $ 1000 ao todo. Ao final do dia de negócios, a margem será ajustada de forma a refletir o ganho ou perda do investidor por conta das flutuações no preço futuro. É isso que chamamos de marcação a mercado da margem. Além da margem inicial, existe a chamada margem de manutenção, que situa-se um pouco abaixo daquela (para o presente exemplo vamos supor que ela situa-se em $ 800 para os 4 contratos). Em qualquer momento que a conta de margem do investidor ficar abaixo da margem de manutenção, ocorre o que é conhecido por chamada de margem, que deve ser de uma magnitude tal que iguale a margem inicialmente estabelecida ($ 1000 no exemplo atual).

Suponha, por exemplo, que ao final do dia 14 de fevereiro o preço do futuro cai de $ 20 para $ 19,50. O investidor, que está comprado a $ 20, tem uma perda de 1000 x (20-19,50) = $ 500. Haveria, nesse caso, uma chamada de margem de $ 500 para que fosse restabelecida a margem inicial de $ 1000. Vale dizer que a chamada de margem somente ocorre porque foi ultrapassado o limite da margem de manutenção, $ 800. O corretor do investidor que se encontra comprado a futuro teria que passar mais $ 500 para a bolsa, que, então, repassaria para o corretor do investidor que está vendido a futuro na mesma quantidade. Imaginando a situação inversa, quando há um aumento no preço futuro, o corretor da parte vendida passaria a variação da margem à bolsa, que repassaria ao corretor da parte comprada. Vale dizer que todo e qualquer valor depositado na conta de margem do investidor é remunerado, fazendo com que as operações de margem não se traduzam em custo para quem sofre chamadas de margem.

A "Entrega" do Ativo

No passado, contratos futuros eram frequentemente "entregues", ou seja, o vendedor completava a venda do ativo-objeto ao preço negociado na transação do futuro. Dependendo da especificação contratual e das regras da bolsa em questão, isso poderia envolver a entrega, de fato, da mercadoria, ou, mais frequentemente, envolveria os arranjos necessários a assegurar que a mercadoria estaria guardada em armazém independente, escolhido pela bolsa/câmara de compensação, e sem vínculo com as partes compradas e vendidas. O problema é que alguns ativos teriam entrega bastante inconveniente, quando não impossível (veja o exemplo do futuro de Ibovespa). Assim, para os chamados futuros financeiros, a liquidação passou a ser cash: qualquer posição ainda aberta no momento do vencimento do contrato é fechada ao preço do dia, com o montante a ser pago/recebido calculado da mesma maneira que a variação de margem.

Preço à Vista vs Preço Futuro

À medida que o vencimento do contrato futuro se aproxima, há uma convergência entre o preço de mercado do ativo-objeto e o preço futuro. No vencimento, esses 2 preços têm que ser iguais.

Isso acontece por condição de não-arbitragem, ou seja, pelo pressuposto de que, em mercados desenvolvidos/eficientes, não se ganha dinheiro sem correr risco. Para deixar essa idéia mais clara, vamos imaginar a situação em que, na época do vencimento, o preço do futuro esteja acima do preço à vista. O lucro proveniente de arbitragem seria conseguido da seguinte forma: a) vendo o contrato futuro; b) compro o ativo-objeto; e c) faço a entrega. O montante de lucro, sem risco, seria dado pela diferença entre o preço futuro e o à vista. À medida que os agentes fossem explorando tal oportunidade de arbitragem, o preço futuro cairia. No caso oposto, quando o preço futuro encontra-se abaixo do à vista no vencimento, bastaria entrar comprado no futuro e esperar pela entrega do ativo-objeto.

Contratos Futuros vs Contratos a Termo

Pelo que já foi visto, não seria demais afirmar que um contrato futuro é uma espécie de contrato a termo padronizado, com as especificações do contrato definidas pela bolsa, que, por sua vez, atua como intermediária na relação entre as partes compradas e vendidas do futuro. Esse aspecto é muito importante para o sucesso do mercado futuro: o risco de contraparte é o risco bolsa, enquanto que no contrato a termo o comprado (vendido) corre o risco contraparte vendida (comprada).

Outro aspecto a ser destacado é o fato do futuro ser negociado em bolsa, e não em balcão como ocorre no caso do termo[3]. A bolsa atua como facilitadora de negócios, promovendo o "encontro" de agentes com necessidades opostas. Além disso, promove a dinâmica de um mercado secundário para os contratos futuros, conferindo a estes a liquidez desejada.

De qualquer forma, tanto o futuro quanto o termo, em maior ou menor escala, funcionam como mercados de transferência de riscos. De fato, a maior parte das operações nesses mercados se dá pela busca de hedge, somente assumindo riscos aqueles que desejam fazê-lo. Isso nos remete a uma pergunta: quem de fato participa do mercado futuro?

Hedge com Futuros

Imagine a situação de uma empresa que sabe que terá de vender um ativo em determinada data no futuro. Ela pode esperar por essa data e ver o que apura na venda do referido ativo. Pode ser um valor maior do que receberia se vendesse hoje, mas também pode ser menor. Muitas empresas preferem ficar sabendo, hoje, que valor vai receber no futuro, isto é, preferem eliminar/minimizar o risco. Se essa empresa entrar vendida em um contrato futuro do mesmo ativo, com vencimento coincidindo com a data em que terá que vender o ativo, as perdas de uma eventual queda no preço do ativo seriam compensadas por ganhos na posição vendida a futuro. O oposto se aplica ao caso de uma empresa que tenha que compra um ativo no futuro.

Na prática, contudo, as empresas enfrentam algumas dificuldades para realizar o hedge "perfeito". No exemplo anterior, o ativo a ser vendido pode não ser objeto de algum contrato futuro negociado em bolsa. Além disso, a empresa pode não saber ao certo quando terá que vender o ativo. Há ainda problemas relacionados ao tamanho-padrão do contrato e o valor a ser "hedgeado" pela empresa, bem como com as coincidências de data para a venda do ativo e o vencimento do futuro.

Uma questão que deve ser definida é a relação entre o número de contratos futuros e o tamanho da exposição ao risco para que a posição fique protegida de forma ótima. A isso dá-se o nome de hedge ratio. Utilizando (S para a mudança no preço à vista (ou spot) durante o período de tempo igual à duração do hedge, (F para a mudança no preço futuro durante o período de tempo igual à duração do hedge, (S como o desvio-padrão de (S, (F como desvio-padrão de (F, ( como o coeficiente de correlação entre (S e (F, e h como o hedge ratio, teríamos:

h = ( x (S/(F

Exemplo de Hedge com Futuros

Vamos a um exemplo de numérico de hedge com futuros: Uma empresa sabe que terá que comprar 1 milhão de galões de combustível em 3 meses. O desvio-padrão da mudança no preço do galão de combustível foi calculado, para um período de 3 meses, em 0,032. Já o desvio-padrão da mudança nos preços do futuro de combustível, para o mesmo período de 3 meses, é 0,04. O coeficiente de correlação entre as 2 variações, para o mesmo prazo, é 0,8. Sabe-se também que cada contrato futuro de combustível tem o tamanho de 42.000 galões. O que a empresa deve fazer para se proteger quanto a um eventual aumento no preço do combustível?

Resposta: deve comprar 0,8 x 0,032/0,04 x 1.000.000/42.000 = 15,2 contratos futuros de combustível. Como não há como comprar 0,2 contrato, aproxima-se para 15 contratos. Assim, qualquer aumento no preço à vista do combustível será compensado pelo ganho na posição comprada do futuro.

Especulando com Futuros

No que se refere ao especulador, a lógica é bastante simples: especulo no mercado futuro se acredito que o preço à vista na data de vencimento do futuro diferirá do preço do futuro.

Exemplo de Especulação com Futuros

Imagine que um analista do mercado de câmbio acredite que, daqui a 3 meses, a paridade R$/USD estará em R$ 3,7/USD. Ele pega as cotações do mercado futuro e observa que o futuro de dólar comercial, para daqui a 3 meses, está em R$ 3,6/USD. Dispondo de R$ 100 mil e acreditando que sua previsão para a taxa de daqui a 3 meses se concretizará, ele compra a futuro a R$ 3,6/USD, recebendo USD 27,8 mil e, no caso da sua previsão se concretizar, vende a R$ 3,7/USD, recebendo R$ 102,8 mil, lucrando, portanto, R$ 2,8 mil.

Arbitrando no Mercado Futuro

O arbitrador, por sua vez, lucra ao aproveitar-se de imperfeições de mercado que levam à prática de preços diferentes, de um mesmo ativo, em mercados diferentes. Um bom exemplo de uso dos mercados futuros para fins de arbitragem é a chamada arbitragem coberta de taxa de juros, operação que se utiliza dos mercados monetário e de futuro de câmbio quando não encontra-se satisfeita a condição de paridade de taxa de juros. Um exemplo ajuda a entender a operação:

Exemplo de Arbitragem com Futuros

Suponha as seguintes cotações:

✓ Taxa de juros do dólar = 8% ao ano/4% ao semestre (taxa passiva=taxa ativa);

✓ Taxa de juros do iene = 4% ao ano/2% ao semestre (taxa passiva=taxa ativa);

✓ Taxa de câmbio à vista = ¥106/USD

✓ Taxa de câmbio do futuro de 6 meses = ¥103,5/USD

Posso arbitrar da seguinte forma (ignorando custos de transação):

a) Tomo emprestado USD 1 milhão a 8% ao ano/4% ao semestre. Ao final de 6 meses pagarei USD1.040.000;

b) Converto à taxa spot de ¥106/USD. Obtenho ¥106 milhões.

c) Aplico por 6 meses os ienes à taxa do iene. Obtenho, ao final dos 6 meses, ¥108.120.000 (=¥106.000.000 x 1,02);

d) Como sei que em 6 meses receberei ¥108.120.000, vendo essa quantidade de ienes no futuro a ¥103,5/USD (esse passo faz a operação ser coberta). No vencimento do contrato futuro receberei USD 1.044.638 (= ¥108.120.000/103,5). O lucro, portanto, é de USD 4.638.

Via de regra, a repetição da operação de arbitragem acima descrita faz com que a paridade de taxa de juros seja restabelecida rapidamente, eliminando a possibilidade de arbitragem. No exemplo utilizado, consideramos coincidência de prazos e ignoramos limitações impostas por tamanho padrão do contrato futuro.

3) MERCADOS DE OPÇÕES

Origem

O mercado de opções surgiu em 1973, quando opções de compra de ações passaram a ser negociadas na Chicago Board Options Exchange (CBOE). Opções de venda somente começaram a ser negociadas em 1977. Na década de 80 o mercado de opções se desenvolveu bastante, não mais se restringindo às opções sobre ações.

Definição

Um contrato de opção é um acordo entre 2 partes por um período específico (até a data de vencimento) que dá ao detentor da opção o direito, não a obrigação, de comprar ou vender uma quantidade específica do ativo-objeto a um preço pré-determinado (preço de exercício). Para ter o direito, o detentor/comprador da opção paga um prêmio, ou preço da opção, ao vendedor, também conhecido como lançador. O fato da opção referir-se a um direito e não a uma obrigação confere a esse derivativo uma característica peculiar: para o detentor da opção, a perda está limitada ao prêmio pago, enquanto que o ganho é ilimitado. Esse assunto será aprofundado mais adiante. Outro ponto importante diz respeito ao tipo da opção. Ela pode ser americana, podendo ser exercida a qualquer momento até a data do vencimento, ou européia, somente podendo ser exercida na data de vencimento.

Lembre-se: o detentor/comprador da opção tem o direito, não a obrigação, de exercê-la.

Um Exemplo de Negociação com Opções

Determinado investidor compra 100 opções de compra de Telemar, ao preço de exercício de R$ 100. Suponha que o preço corrente da ação esteja em R$ 98 e que o investidor pague R$ 5 (prêmio) para ter o direito de comprar a R$ 100 daqui a 2 meses (data de vencimento será daqui a 2 meses). Imaginando que a opção seja européia, ou seja, que somente possa ser exercida na data de vencimento, observemos 2 situações possíveis quando do vencimento (em 2 meses): a) preço da ação no vencimento equivalente a R$ 110. Exerço o meu direito de comprá-la a R$ 100 para poder vendê-la em mercado a R$ 110. Lucro de R$ 110 - (R$ 100 + prêmio pago de R$ 5[4]) = R$ 5 por opção; b) preço da ação no vencimento equivalente a R$ 95. Não exerço o direito e perco o prêmio pago. Com isso o prejuízo é menor que no caso de exercício da opção, que seria de R$ 95 - (R$ 100 + prêmio pago de R$ 5) = R$ 10 por opção. Não exercendo perco apenas R$ 5 por opção.

Tipos de Opções

Opção de compra, ou call, é o direito de comprar um ativo a um determinado preço. Opção de venda, ou put, é o direito de vender um ativo a um determinado preço. Mas, que ativo? Vários são os ativos que podem ser objeto de uma opção. Ações negociadas em bolsa, moedas, índices e até mesmo contratos futuros são alguns exemplos. A maior parte das opções é negociada em bolsas, mas há algumas poucas negociadas em balcão, com a vantagem de fugir dos padrões estabelecidos pela bolsa e poder negociar um contrato feito "sob medida". Vale lembrar também que existem opções Européias e Americanas, sem qualquer relação com o local de negociação das opções. Tal classificação diz respeito apenas ao momento de exercício da opção. Americanas podem ser exercidas a qualquer tempo durante a vida da opção, enquanto que a Européia somente pode ser exercida no vencimento da mesma. Os termos utilizados acima já dão idéia de uma terminologia específica para o mercado de opções. Vejamos que terminologia é essa.

Terminologia do Mercado de Opções

A data de vencimento de uma opção refere-se ao último dia de negociação da mesma. Séries diferentes de opções podem estar abertas para o mesmo ativo-objeto. Por exemplo, podemos ter negociadas diversas opções de Telemar para vencimentos diferentes. Normalmente, a opção mais negociada é aquela com vencimento mais próximo.

Dessa forma, poderíamos ter diferentes opções de Telemar vencendo em algum dia dos meses de janeiro, por exemplo. Além disso, para o vencimento de janeiro, poderíamos ter diferentes opções de Telemar com diferentes preços de exercício, ou strike, que vem a ser o preço ao qual a opção será exercida. Considere, então, que sejam negociadas na Bovespa opções em Telemar, de compra e de venda, para 4 datas de vencimento e 5 preços de exercício diferentes. Teríamos, assim, como negociar 40 contratos diferentes de opções somente do ativo Telemar.

Uma opção dentro do dinheiro, ou in-the-money (ITM), faz com que o detentor tenha resultado positivo se exercê-la imediatamente. Já a opção no dinheiro, ou at-the-money (ATM), é aquela em que o detentor não perde nem ganha se exercer imediatamente a opção. Ainda, a opção fora do dinheiro, ou out-of-the-money (OTM), gera prejuízo para o detentor quando exercida imediatamente. A classificação da opção como ITM, ATM ou OTM ignora o valor pago pelo prêmio e dependerá se a mesma é de compra ou venda (call ou put).

Cada opção tem 3 elementos de preços diferentes: a) o preço de exercício ou strike já mencionado; b) o prêmio, que vem a ser o preço/valor da opção; e c) o preço corrente do ativo-objeto, ou preço spot. O detentor de uma opção tem a escolha de exercê-la, e o fará quando for lucrativa (ITM), ou deixar expirar sem exercê-la, perdendo apenas o prêmio pago. Isso é válido para compradores/detentores de calls e puts, não para vendedores/lançadores que, se exercidos, têm que entregar o ativo ao preço pré-determinado. Esse "direito" faz com que a opção difira de outros instrumentos financeiros, uma vez que limita o risco produzido sem restringir as possibilidades de ganho.

Lembre-se: o detentor/comprador de uma opção tem perda limitada e ganho "ilimitado".

Especulando no Mercado de Opções

O exemplo a seguir utiliza o mercado de opções de moeda/taxa de câmbio. Nesse mercado, o comprador da opção tem o direito, não a obrigação, de comprar ou vender determinado montante de câmbio a um preço fixo por um período de tempo especificado, qual seja, até o vencimento da opção. Imagine que estejamos falando de opção de compra e venda de dólar na bolsa de Frankfurt, ainda na época do marco alemão (DEM), antes, portanto, da entrada do euro. O tamanho do contrato era de DEM 62.500, e as cotações do prêmio, do preço de exercício e da taxa spot apareciam na forma quantidade de dólar/moeda nacional (DEM). Vale dizer que o prêmio pode também vir expresso como % do montante da transação. Este último tipo é normalmente observado no mercado de balcão. As cotações em tela eram as seguintes:

- Taxa spot: USD 0,5851/DEM (a cotação à vista, normalmente, viria expressa em quantidade de DEM por USD, como acontece com o nosso real.);

- Prêmio da Call com vencimento em 3 meses: USD 0,0050/DEM para um preço de exercício de USD 0,585/DEM. Dessa forma, para comprar 1 contrato dessa call, o investidor gastaria DEM 62.500 x USD 0,005/DEM = USD 312,5 a serem pagos no ato da compra da opção de compra;

- Prêmio da Put com vencimento em 3 meses: USD 0,0050/DEM para strike de USD 0,585/DEM. O fato do prêmio da put ser o mesmo do da call é apenas coincidência.

Imaginado que se queira especular com o mercado de opções e que a opção é européia, o especulador compraria uma call se, no vencimento, esperasse que a taxa spot estivesse acima do strike. Imagine que as expectativas do especulador se confirmem e que, no dia do vencimento da opção, a taxa spot esteja a USD 0,595/DEM. Nesse caso, o lucro do especulador seria:

LUCRO/PREJUÍZO DO DETENTOR DA CALL = SPOT – (STRIKE + PRÊMIO)

Lucro = 0,595 - (0,585+0,005) = USD 0,005/DEM, ou seja, exerce a opção, pegando a taxa de câmbio do strike, vende no spot por um valor maior e se apropria do lucro. O presente exemplo contém uma simplificação porque o prêmio não foi levado a valor futuro. Como o prêmio é pago em T0 e a opção vence 3 meses depois, o correto seria levar o prêmio a valor futuro.

Se, no vencimento, a taxa spot estivesse, por exemplo, a USD 0,580/DEM. O exercício da opção traria o seguinte prejuízo para o especulador comprador da call: prejuízo = 0,580 - (0,585+0,005) = - USD 0,010/DEM. Nesse caso, ao invés de exercer a opção, o especulador deixaria a opção expirar e tomaria o prejuízo apenas do prêmio, USD 0,005/DEM, menor, portanto, que o prejuízo calculado acima.

Existe uma taxa spot que deixa indiferente exercer ou não a opção, taxa que chamamos de break-even. Essa taxa é USD 0,590/DEM. Fazendo os mesmos cálculos feitos acima, percebe-se que se no vencimento essa for a taxa, o especulador não teria nem lucro nem prejuízo na operação. A qualquer taxa acima dessa, o especulador deve exercer. Entre 0,585 e 0,590 o especulador também exerce pois teria prejuízo menor que o prêmio pago. Abaixo de 0,585, o especulador não deve exercer e perde o prêmio pago.

Vamos agora à situação do sujeito que deseja especular com uma put. Com base nos dados acima, alguém compraria uma put se acreditasse que, no vencimento, a taxa spot se encontrasse abaixo do preço de exercício. Dessa forma, o especulador exerceria seu direito de vender a uma taxa de câmbio superior à praticada no mercado. O lucro ou prejuízo seria dado por:

LUCRO/PREJUÍZO DO DETENTOR DA PUT = STRIKE – (SPOT + PRÊMIO)

Perceba que, tanto no caso da call quanto da put, o especulador não precisaria esperar até o vencimento para finalizar a operação. A qualquer momento ele poderia zerar sua posição fazendo operação oposta à original. Por exemplo, o especulador comprado na call poderia, a qualquer momento antes do vencimento, vender o mesmo número de contratos da mesma série de call e se apropriar da diferença entre prêmios pago e recebido.

Hedge no Mercado de Opções

Utilizaremos, mais uma vez, o mercado de opções de câmbio para exemplificar uma estratégia de hedge. Ao final, compararemos tal estratégia com outra que se utiliza do mercado futuro em busca de proteção.

A Dayton é uma empresa americana que fabrica turbinas. Negociações para a venda de uma turbina a uma empresa inglesa acabaram de ser concluídas. A venda foi fechada por £ 1 milhão, para pagamento em 3 meses. O valor envolvido é significativo para a empresa. Estudo foi feito e descobriu-se que se a Dayton receber menos que USD1,7 milhão pelo negócio, estará no prejuízo. Dessa forma, USD1,7/£ é a paridade break-even. O gerente financeiro da empresa ficaria muito satisfeito se, no intervalo de 3 meses, a libra se apreciasse frente ao dólar (mais dólares por libra), mas pode acontecer o oposto. Para tomar sua decisão, o gerente conta com as seguintes informações de mercado:

- taxa de câmbio spot: USD1,764/£;

- taxa do futuro de 3 meses: USD1,754/£;

- custo de capital da Dayton: 12% ao ano;

- opção de venda (put) no mercado de balcão para £ 1 milhão, com vencimento em 3 meses; preço de exercício USD1,75/£ (quase no dinheiro, ATM); prêmio de 1,5%; e

- previsão do departamento financeiro da Dayton para a taxa spot daqui a 3 meses: USD1,76/£.

Para gerenciar a exposição que nasceu da venda a crédito em moeda estrangeira (£), a Dayton pode confiar na previsão do departamento financeiro e permanecer desprotegida, pode se proteger no mercado de opções ou no mercado futuro, entre outros.

Posição não "hedgeada"

A empresa prevê taxa spot daqui a 3 meses em USD1,76/£. Confirmando-se tal previsão, em 3 meses a empresa receberá pela venda £ 1 milhão x USD1,76 = USD1.760.000, acima, portanto, do break-even de USD1,7 milhão. O problema é que a taxa pode diferir da previsão da empresa. O fato é que com a posição não hedgeada, em 3 meses a empresa receberá o milhão de libras e converterá à taxa spot de então.

Posição "hedgeada" no mercado de opções

Opções diferem dos outros tipos de instrumentos financeiros no que se refere ao risco produzido. O detentor de uma opção, quem a compra, tem a escolha de exercê-la, quando lucrativa, ou simplesmente deixá-la expirar. Dessa forma, quem compra uma opção tem a possibilidade de ganho ilimitado, enquanto que a perda fica limitada ao valor do prêmio, que vem a ser o valor pago para se ter o direito de comprar (call) ou vender (put) determinado ativo a determinado preço.

No caso das opções de câmbio, o detentor de uma put tem o direito de vender determinada quantidade de moeda a uma taxa conhecida, o preço de exercício. No que se refere à Dayton, a empresa pode entrar em um contrato de opções que dê a ela o direito de vender o que ela tem a receber em 3 meses, £ 1 milhão, ao preço de exercício de USD1,75/£. Para tal, a empresa tem que pagar 1,5% sobre o montante envolvido na operação.

A vantagem de tal estratégia reside no seguinte: ao comprar a put, a empresa garante uma taxa mínima de USD1,75/£. Caso a taxa fique abaixo disso, a empresa exerce a opção e vende cada libra por USD1,75, recebendo USD1.750.000 menos o prêmio pago em D0, devidamente corrigido. Caso a taxa fique acima de USD1,75/£, a empresa não exerce a opção e troca libras por dólares à taxa spot. Se, por exemplo, a spot estiver em USD1,78/£, a Dayton não exerce a put e obtém USD1.780.000 menos o prêmio pago e corrigido.

O custo da put, em dólares, é dado por: £1.000.000 x 0,015 x 1,764 = USD 26.460. Esse valor deve ser pago em D0. Temos, portanto, que corrigi-lo até o vencimento da opção, 3 meses depois. Sendo conservador, assumiremos que o valor desembolsado com o prêmio poderia ser utilizado nas atividades da empresa. O custo de oportunidade, portanto, é o custo de capital da Dayton, 12%. Assim, teríamos um prêmio corrigido de 26.460 x (1+0,03) = USD 27.254.

O resultado final da estratégia é incerto. Sabe-se apenas que a Dayton garante um mínimo de USD1.750.000 – 27.254 = USD1.722.746. O valor máximo vai depender da taxa spot 3 meses depois.

Hedge no mercado futuro

Quando 2 partes entram em um contrato futuro de moeda, sabe-se, no momento da contratação, o montante de moeda a ser entregue e o dia. Em outras palavras, a taxa de câmbio fica definida desde o início, eliminando o risco cambial. O contrato futuro deve ser firmado no momento em que a exposição foi criada, ou seja, no fechamento do negócio. A Dayton sabe que em 3 meses receberá £ 1 milhão. Como a empresa deseja garantir um valor mínimo em dólares, ela pode vender hoje as libras a futuro por dólares, com 3 meses de prazo, a USD1,754/£. Dessa forma, 3 meses depois, na data do recebimento, entrega £ 1 milhão e recebe, da outra parte envolvida, USD1.754.000. Esse valor é superior ao valor break-even estipulado.

Comparação das alternativas

Há a possibilidade de se calcular a taxa de câmbio de indiferença entre as estratégias opções e futuro. O prêmio de 1,5%, equivalente a USD27.254, pode ser expresso em quantidade de dólares por libra, bastando para tal fazer USD27.254/£1.000.000. O valor do prêmio corrigido seria de USD0,0273/£. Como o futuro garante uma taxa de USD1,754/£, teríamos uma taxa de indiferença de 1,754 + 0,0273 = USD1,7813/£. Acima de tal taxa é preferível ficar com a estratégia de opções. O problema é que a decisão de que estratégia adotar deve ser tomada em D0, quando ainda não se sabe a taxa spot que vigorará 3 meses depois.

- Hedge no futuro: em 3 meses a Dayton recebe USD1.754.000 em troca de £1 milhão; e

- Hedge no mercado de opções: em 3 meses a Dayton recebe um mínimo de USD1.722.746, ou um máximo ilimitado, dependendo da spot de então.

Não há como, na verdade, determinar qual a melhor estratégia. A escolha teria que ser feita com base na tolerância a risco da empresa e na expectativa para a spot em 3 meses. Se a firma for pouco tolerante a risco, provavelmente optará pela estratégia do forward, que garante um valor de USD1.754.000. Pode também optar pela de opções, já que garante uma valor mínimo superior ao valor break-even e, além disso, abre a possibilidade de ganhos ilimitados.

4) MERCADOS DE SWAPS

Definição

Swaps podem ser definidos como acordos para troca de fluxos de caixa em datas conhecidas, de acordo com uma fórmula pré-determinada. Um dos tipos mais comuns de swap é o de taxa de juros, em que uma contraparte, B, concorda em pagar à outra, A, fluxos de caixa equivalentes a juros pré-fixados por determinado período de tempo, sobre determinado principal. Ao mesmo tempo, A concorda em pagar a B fluxos de caixa referenciados em taxas pós-fixadas, pelo mesmo período de tempo, sobre o mesmo valor de principal.

Principais Usuários

O principal usuário de um swap é aquele que procura proteção, ou seja, o gerenciamento de risco é a principal motivação para quem entra em um contrato de swap. Uma empresa pode ter um descasamento entre ativo e passivo no que se refere a taxas de juros e, no caso de empresas com negócios no exterior, moedas. O swap é, portanto, uma forma de eliminar tal descasamento.

Principais Modalidades

O tipo mais negociado de swap é o de taxa de juros. Considere um swap iniciado no dia 21/02/2003, com duração de 3 anos, onde a empresa B concorda em pagar à empresa A taxa de 5% ao ano sobre $ 100 milhões e, em troca, A concorda em pagar a B a taxa Libor[5] de 6 meses sobre o mesmo montante. No contrato está especificado que a troca ocorrerá a cada 6 meses.

A primeira troca ocorrerá em 21/08/2003, quando B paga $ 2,5 milhões a A, que pagaria metade da Libor de 6 meses fixada no dia do fechamento do negócio (taxa expressa ao ano), 21/02/2003. Dessa forma, ao fechar o negócio, A já sabe quanto terá que pagar 6 meses depois. Já os fluxos subseqüentes são incertos.

Ao todo serão 6 trocas de pagamentos. Quem paga taxa fixa vai pagar $ 2,5 milhões sempre. Quem paga taxa flutuante só sabe quanto vai pagar na primeira data. Para B o swap pode ter funcionado para transformar um empréstimo a taxas flutuantes em empréstimo a taxa fixa. Suponha que antes de entrar no swap B tivesse tomado emprestado $ 100 milhões a Libor + 0,8%. Nesse caso, após entrar no swap, B receberia Libor, pagaria Libor + 0,8% e também pagaria 5% ao ano. O resultado líquido disso seria pagar os 5% + 0,8%, totalizando 5,8% ao ano. Ou seja, B saiu de uma situação em que tinha que pagar Libor + 0,8% para outra em que paga 5,8% fixos. Se a Libor subir, será bom negócio. Por outro lado, se cair, terá feito mau negócio.

Do ponto de vista da empresa A, o swap constitui-se numa oportunidade de transformar um empréstimo contratado a taxa fixa em empréstimo a taxa flutuante. Suponha que A tenha tomado empréstimo de $ 100 milhões prometendo pagar 5,2% ao ano. No swap, concorda em pagar a B Libor, mas recebe em troca 5% ao ano. O resultado líquido é um empréstimo de $ 100 milhões com juros de Libor + 0,2% ao ano. A pode ter optado pela troca por acha que a Libor, no futuro, cairia[6].

Outro tipo bastante utilizado de swap é o de moeda. Na sua versão mais simples e utilizada, envolve a troca de um empréstimo contratado a taxa fixa, em determinada moeda, por pagamentos a taxa fixa em outra moeda, incluindo o principal contratado.

Contratos de Derivativos Financeiros, Agropecuários e de Balcão

No Brasil, são negociados os seguintes contratos de derivativos agropecuários: Futuro de açúcar cristal especial; opção de compra sobre futuro de açúcar cristal especial; opção de venda sobre futuro de açúcar cristal especial; futuro de álcool anidro carburante; opção de compra sobre futuro de álcool anidro carburante; opção de venda sobre futuro de álcool anidro carburante; futuro de algodão; opção de compra sobre futuro de algodão; opção de venda sobre futuro de algodão; futuro de bezerro; opção de compra sobre futuro de bezerro; opção de venda sobre futuro de bezerro; futuro de boi gordo denominado em reais; opção de compra sobre futuro de boi gordo denominado em reais; opção de venda sobre futuro de boi gordo denominado em reais; futuro de café arábica; opção de compra sobre futuro de café arábica; opção de venda sobre futuro de café arábica; futuro de café robusta conillon; opção de compra sobre futuro de café robusta conillon; opção de venda sobre futuro de café robusta conillon; futuro de milho em grão a granel denominado em reais; futuro de soja em grão a granel; opção de compra sobre futuro de soja em grão a granel; e opção de venda sobre futuro de soja em grão a granel.

Em balcão (OTC), são negociados os seguintes contratos derivativos: swaps de taxa de juros, índice de preços e câmbio; e opções flexíveis de câmbio e Ibovespa.

Os contratos de derivativos financeiros são: futuro de ouro 250 g, opção de compra sobre disponível padrão de ouro; opção de venda sobre disponível padrão de ouro; termo de ouro; futuro de Ibovespa; futuro fracionário de Ibovespa; opção de compra sobre futuro de Ibovespa; opção de venda sobre futuro de Ibovespa; opção de compra sobre futuro de Ibovespa - Modelo Europeu; opção de venda sobre futuro de Ibovespa - Modelo Europeu; futuro de IGPM; futuro fracionário de IGPM; futuro de dólar comercial; opção de compra de dólar comercial; opção de venda de dólar comercial; opção de compra sobre futuro de dólar comercial; opção de venda sobre futuro de dólar comercial; futuro de euro; futuro de DI de 1 dia; opção de compra sobre índice de DI de 1 dia; opção de venda sobre índice de DI de 1 dia; termo de DI; termo de DI com ajuste periódico; futuro de cupom cambial; termo de cupom cambial com ajuste periódico; swap cambial com ajuste periódico; swap cambial mini com ajuste diário; futuro de cupom de DI x IGPM; termo de cupom de taxa de DI x IGPM; futuro de DI longo; futuro de C bond; e futuro de EI.

Todos os contratos acima relacionados são negociados na BM&F. Os contratos com suas respectivas especificações podem ser obtidos junto ao sítio .br. Alguns contratos de derivativos são negociados na Bovespa, notadamente aqueles de opções de ações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS

BESSADA, Octavio. O Mercado Futuro e de Opções. Editora Record, 1995.

COSTA, César L.. Opções – Operando a Volatilidade. Cultura Editores Associados, 1999.

HULL, John C.. Options, Futures, and Other Derivatives. Prentice Hall, 1997.

LOZARDO, Ernesto. Derivativos no Brasil – Fundamentos e Práticas. Editora BM&F, 1998.

LEMGRUBER, Eduardo F.. Avaliação de Contratos de Opções. Editora BM&F, 1995.

Bolsa de Mercadorias & Futuros (.br)

MERCADOS DE DERIVATIVOS

HEDGE COM DERIVATIVOS

1º.) Dilema do Pequeno Negócio

Gerônimo, proprietário da Pará Export Company, vai receber 10.000 dólares no início do próximo ano (02/01) como pagamento por suas exportações. Gerônimo está preocupado com a sua exposição, dado que ele acredita que existem dois possíveis cenários: (1) A cotação do dólar vai diminuir em 3% ao longo do próximo mês e o (2) A cotação do dólar vai aumentar em 2% no próximo mês. Há 70% de chance do cenário 1 ocorrer e 30% de chance do cenário 2 ocorrer.

Gerônimo observa que a taxa spot atual é de R$2,142, e os contratos futuros na BM&F estão sendo negociados há R$2,163. Gerônimo pode adquirir uma opção de venda no balcão com um preço de R$2,15, com um prêmio de R$,036 e uma data de vencimento no primeiro dia útil do ano.

a) Determine o montante de reais recebidos pela Pará Export Company se os recebíveis não forem hedgeados para os dois possíveis cenários de taxa de câmbio.

b) Determine o montante de reais recebidos pela Pará Export Company se a opção de venda for usada como hedge em cada um dos cenários possíveis.

c) Determinar o montante de dólares recebidos pela Pará Export Company se o contrato futuro é usado para hedge em cada um dos cenários possíveis.

d) Resuma os resultados, com base nas possíveis estratégias e selecione a estratégia que você sugere para o Gerônimo com base na informação disponível.

MERCADOS DE DERIVATIVOS

Prof. Antonio Lopo Martinez

Estratégias com Opções

Com base em informações correntes do mercado acionário brasileiro, estruture as seguintes estratégias com opções:

1. Estruturar uma trava de baixa usando opções de compra de ações. (Bear Bread Spread). Apresentar pay-off e indicar percentagem de lucro/perda. Por que estaria usando essa estratégia?

2. Montar uma estratégia tipo borboleta usando opções de compra de ações (Butterfly). Apresentar pay-off e indicar percentagem de lucro/perda. Por que estaria usando essa estratégia?

3. Elaborar uma estratégia de Long Straddle usando opções de compra e venda para um mesmo papel e vencimento. Apresentar pay-off e indicar percentagem de lucro/perda. Por que estaria usando essa estratégia?

Um straddle consiste numa compra de uma opção de compra e de uma opção de venda ou, alternativamente, de uma venda de uma opção de compra e de uma opção de venda, com ambas opções apresentando o mesmo preço de exercício e data de vencimento. Se o operador está comprado em opções de compra e de venda a operação se chama long straddle, caso contrário, short straddle.

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[1] Por definição, o termo não conta com ajuste, mas a própria BM&F negocia contratos a termo com ajuste periódico.

[2] Poderiam também fazer liquidação cash.

[3] Há casos de contratos a termo negociados em bolsa, como ocorre aqui na BM&F, mas, por definição, o termo é um negócio de balcão.

[4] Cálculo ignora o valor do dinheiro no tempo, já que o prêmio foi pago 2 meses antes do vencimento.

[5] Libor é sigla para London Interbank Offer Rate. É taxa de juros flutuante utilizada em negócios entre bancos. Muda de acordo com as condições da economia. É usada como taxa de referência nos mercados financeiros internacionais. No Brasil, a taxa do CDI é o que mais se aproxima da Libor.

[6] A justificativa mais utilizada, ainda que polêmica, para a prática do swap aqui descrito reside nas chamadas vantagens comparativas. Algumas empresas teriam vantagens comparativas no mercado de taxas pré-fixadas, enquanto outras teriam vantagens ao tomar emprestado a taxas pós-fixadas.

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