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5 Panorama do comportamento dos principais jornais impressos brasileiros no in?cio do s?culo XX.

Para se ter um panorama do comportamento dos jornais impressos brasileiros no in?cio do s?culo XX, a fim de compar?-los ao Jornal do Brasil, foram selecionados os principais peri?dicos que circulavam na ?poca: Jornal do Com?rcio, Gazeta de Not?cias, Estado de S?o Paulo, O Pa?s e o Correio da Manh?. O motivo de a amostra selecionada ser composta em sua maioria por jornais do Rio de Janeiro se deve ao fato de que a capital da Rep?blica concentrava o maior n?mero e os mais importantes peri?dicos do pa?s, dos quais esses se destacavam. Foram os primeiros a se posicionar como empresas prestadoras de servi?os ? comunidade, em contraponto ?s folhas de cunho exclusivamente pol?tico ou ?s pequenas publica??es provenientes de iniciativas de particulares. O ?nico representante de outra regi?o do pa?s, S?o Paulo, foi selecionado por ter sido um grande jornal, ainda que em uma regi?o que se desenvolveu tardiamente em rela??o ao Rio de Janeiro, pois tinha uma tiragem consider?vel e tamb?m se estruturou como grande ind?stria no in?cio do s?culo XX. Assim, segue um breve relato sobre a trajet?ria de cada um desses ?rg?os noticiosos e suas principais caracter?sticas, para, posterio rmente, ser feita uma an?lise de suas apresenta??es gr?ficas com o intuito de assinalar as semelhan?as e diferen?as em rela??o ?s p?ginas do Jornal do Brasil.

No in?cio do s?culo XX, os principais di?rios impressos na capital da Rep?blica ? o Jornal do Brasil, o Jornal do Com?rcio, a Gazeta de Not?cias, o Correio da Manh? e O Pa?s ? tiravam juntos 150 mil exemplares, segundo o escritor Olavo Bilac. Cada um deles se destinava a um segme nto de leitores em potencial, e adaptavam seu texto e suporte de acordo com o gosto de seu p?blicoalvo. Para ilustrar essa afirma??o pode-se dizer que a Gazeta de Not?cias procurou atingir os leitores que valorizavam o conte?do liter?rio; enquanto o Jornal do Brasil se voltou aos aspectos que atra?am um p?blico com menor grau de instru??o e menor poder aquisitivo. J? o Correio da Manh? revolucionou o jornalismo com a valoriza??o da informa??o em detrimento da opini?o, com as

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not?cias policiais, as reportagens e as entrevistas assumindo lugar de destaque, assim como o Jornal do Brasil foi um jornal popular e muitas vezes sensacionalista (Barbosa, 2007: 41-2). Cabe ressaltar que em todos os peri?dicos estudados as not?cias locais e internacionais, obtidas atrav?s do servi?o telegr?fico, passaram a ter maior import?ncia nas edi??es em rela??o ao conte?do liter?rio. As not?cias policiais tinham a prefer?ncia do p?blico de massa que se interessava pouco pelos acontecimentos pol?ticos.

"Mas se h? uma trag?dia na rua tal, com tiros, facadas, mortes, uma torrente de sangue e diversas outras circunst?ncias dram?ticas, as turbas se interessam, vibram, tem avidez de detalhes, querem ver os retratos das v?timas, dos criminosos, dos policiais empenhados na captura destes" (O Pa?s, 26 de junho de 1914, capa).

Na mesma edi??o em que publicou esse texto sobre o interesse dos leitores pelas trag?dias di?rias, O Pa?s afirmou que o rep?rter de pol?cias faz "verdadeiros romances- folhetins" para atender ao gosto do p?blico. Aliadas ?s mudan?as no conte?do dos jornais encontram-se as novas tecnologias, que, segundo Barbosa, foram "fundamentais para a constru??o do jornalismo como lugar da informa??o neutra e atual". Para exemplificar, ressaltam-se as not?cias telegr?ficas, que informavam fatos ocorridos pr?ximos aos leitores e eram consideradas isentas de opini?o. Assim o ineditismo passou a ser valorizado e transformou o trabalho do rep?rter, que estava sempre atr?s do "furo de reportagem" com todos os detalhes do fato. O interesse maior dos leitores era saber o que havia acontecido, como, onde, o motivo e, de prefer?ncia, ilustrado por fotografia, como o pr?prio jornal O Pa?s afirmou em 1914 (Barbosa, 2007: 24 e 39). Sabendo dessas importantes modifica??es editoriais ocorridas no in?cio do s?culo XX, pretende-se averiguar quais foram as mudan?as gr?ficas que ocorreram nesse mesmo momento.

O Jornal do Com?rcio ? o primeiro a ser apresentado por se tratar do mais antigo, em circula??o, e, assim como o Jornal do Brasil, ainda hoje ? encontrado nas bancas. Foi fundado em 1? de outubro de 1827, data em que circulavam no Brasil cerca de 30 peri?dicos, n?mero irris?rio devido a diversos fatores como a falta de p?blico leitor, assim como o fato da imprensa ter sido proibida no pa?s at? 1808. Nessa fase inicial a popula??o do Rio de Janeiro n?o ultrapassava 100.000 habitantes e o peri?dico contava com apenas cerca de 400 assinaturas. Desde o princ?pio, o Jornal do Com?rcio n?o tomou partido nos acontecimentos pol?ticos,

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seu conte?do era baseado na publica??o dos fatos ocorridos no pa?s e na Europa, que tinham repercuss?o apesar do consider?vel atraso entre a ocorr?ncia do fato e sua publica??o, comum naquele tempo em que as correspond?ncias chegavam por navio. Mesmo quando ocorreram mudan?as de propriet?rios e de dire??o, esse posicionamento acompanhou o peri?dico, guardadas as propor??es dos acontecimentos (Lloyd et al., 1913: 158-9).

Conhecido por seu car?ter informativo e s?rio, o Jornal do Com?rcio se rendeu ? publica??o dos romances- folhetins ainda no s?culo XIX, quando esse g?nero liter?rio foi introduzido nos jornais parisienses. Publicou em suas edi??es "Os Mist?rios de Paris", "O Judeu Errante", "Os Miser?veis", os quais fizeram sucesso e aumentaram consideravelmente sua tiragem. Para Meyer, apesar de n?o haver dados exatos sobre tiragens e publica??es, n?o faltam ind?cios sobre a rela??o entre a prosperidade do jornal e a publica??o do folhetim:

Os mesmos ind?cios apontados no Jornal do Com?rcio marcam a trajet?ria de outros jornais da corte: modifica??es sucessivas, mudan?a de formato, de diagrama??o, dos rodap?s, dos an?ncios. A publica??o do folhetim parece imprescind?vel a sua vida. Exemplo significativo me parece o caso da Gazeta de Not?cias, fundada em 1875 em oposi??o ao Jornal do Com?rcio . Abolicionista, foi em seu tempo prestigioso jornal, cujo diretor, Ferreira de Ara?jo, favorecia as voca??es liter?rias, ao mesmo tempo em que acolhia muitos escritores portugueses. Na Gazeta colaboraram Ramalho Ortig?o, E?a, Machado, Capistrano, Patroc?nio, Araripe Jr (Meyer, 1996: 294).

Segundo Barbosa, o Jornal do Com?rcio foi o di?rio que mais modificou sua fei??o empresarial em fun??o dos interesses do poder p?blico, que lhe dava sustenta??o. Acrescenta, ainda, que a partir de 1889, com a nova dire??o, assumida por Jos? Carlos Rodrigues, ex-correspondente do jornal nos Estados Unidos e na Inglaterra, recebeu nova orienta??o. Se??es e notici?rios foram ampliados, por?m n?o deixou de ser "o verdadeiro defensor das classes conservadoras do Brasil" (Barbosa, 2007: 44). A partir dessa transi??o foram feitos investimentos em tecnologia gr?fica e, posteriormente, em uma nova sede na Avenida Central, o que abona a afirma??o de Sodr?, j? mencionada, sobre a mudan?a no posicionamento dos principais jornais brasileiros no in?cio do s?culo XX para se tornarem ind?strias de no t?cias (Sodr?, 1999: 261).

As inova??es tecnol?gicas foram importantes investimentos desse peri?dico. No in?cio do s?culo XX, o Jornal do Com?rcio j? dispunha de luz

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el?trica em suas instala??es e possu?a tr?s rotativas Marinoni, que imprimiam de uma s? vez entre oito e dezesseis p?ginas, perfazendo 10 mil exemplares por hora. Havia tamb?m duas m?quinas menores com capacidade de impress?o de duas ou quatro p?ginas, e 12 mil exemplares por hora. O jornal possu?a ainda uma oficina de obras, com sete m?quinas impressoras; uma oficina para a fundi??o de tipos com seis m?quinas, das quais tr?s fundidoras, uma para lamina??o dos fios, outra para laminar as entrelinhas e, ainda, uma m?quina para cortar espa?os de corpo 5 a 14. Em 1906, quando lan?ou a constru??o de sua nova sede na Avenida Central, j? possu?a 12 impressoras e 9 fundidoras de tipos (Barbosa, 2007: 45). Dentre os jornais, o Jornal do Com?rcio possu?a o maior e mais moderno equipamento de impress?o do Brasil at? a segunda d?cada do s?culo XX, quando cedeu ao Jornal do Brasil sua posi??o de jornal carioca de maior prest?gio (Hallewell, 2005: 150). Al?m desses investimentos equivalentes aos feitos pelo Jornal do Brasil, observase outro aspecto similar e importante: a expans?o do servi?o telegr?fico no exterior no final do s?culo XIX e o destaque dado ?s not?cias internacionais, inclusive por meio do trabalho de correspondentes.

Al?m do patrim?nio material citado, ? preciso destacar que seu pessoal efetivo ultrapassava a quantidade de 500 funcion?rios, inclusive, havia uma "Associa??o dos Empregados do Jornal do Com?rcio" (Lloyd et al., 1913: 159).

Emprega 429 pessoas, sendo 220 tip?grafos nas oficinas do jornal di?rio e de obras e 66 pessoas na reda??o, sendo 20 efetivos e 46 colaboradores. Entre tip?grafos, pessoal das m?quinas, entregadores e dobradores trabalham nas oficinas 349 oper?rios. H? ainda dois paginadores e 50 revisores, enquanto na administra??o 12 pessoas se revezam. Nestes n?meros n?o est?o inclu?dos os suplentes, aprendizes e serventes (Jornal do Com?rcio , 1908 apud Barbosa, 2007: 44-5).

A expressiva quantidade de funcion?rios e a divis?o minuciosa do trabalho revelam o posicionamento industrial desse peri?dico, em que todos os setores deveriam cumprir prazos de produ??o para n?o atrasar a publica??o do jornal, fator imprescind?vel para sua vendagem.

Outro importante peri?dico brasileiro no per?odo estudado foi a Gazeta de Not?cias. Fundada pelo jornalista Ferreira de Ara?jo em 2 de agosto de 1875, caracterizou-se por ser um jornal barato, liberal e de ampla informa??o. Apesar de seu car?ter popular, vendido a 40 r?is o exemplar (valor equivalente ? passagem de bonde mais barata da capital), sua reda??o foi composta pelos melhores

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escritores da ?poca, tais como: Alberto de Oliveira e Olavo Bilac, poetas not?veis; Alu?sio Azevedo, Coelho Netto e Julia Lopes de Almeida, romancistas; cronistas, humoristas e outros. Al?m desses homens de letras, jornalistas tamb?m trabalharam na reda??o, tais como Ferreira de Ara?jo, Manuel Carneiro, El?sio Mendes e Henrique Chaves, o que enunciava as mudan?as e novas caracter?sticas da imprensa brasileira (Sodr?, 1999: 224-5). No ano de sua funda??o, anunciou uma tiragem de 12 mil exemplares, n?mero que dobrou apenas cinco anos mais tarde. O aumento da tiragem foi permitido pela utiliza??o de modernas rotativas, com a inaugura??o em junho de 1880 de uma Marinoni capaz de imprimir 20 mil exemplares por hora (Barbosa, 2007: 28-9).

"Julgamos conveniente consignar a tiragem a que se eleva atualmente nossa folha, de 24 mil exemplares. O interesse que desperta a atual se??o do parlamento, bem como a expectativa do procedimento do novo ministro, influenciam, ? certo, sobre a tiragem, mas porque n?o podemos prever o que ser? est?vel, consignamos o algarismo a que se elevou nestes ?ltimos meses" (Gazeta de Not?cias, 23 de abril de 1880, capa).

A Gazeta inaugurou o modo de venda avulso, em que pequenos jornaleiros passaram a gritar por todos os lugares os nomes dos principais di?rios da cidade (Barbosa, 2007: 27). Al?m disso, iniciou a entrevista, a reportagem fotogr?fica, a ilustra??o di?ria, elementos que representavam a reportagem moderna. Segundo Sodr?, esse peri?dico contribuiu para o desenvolvimento das artes gr?ficas com investimentos e inova??es de peso, estimulados pela concorr?ncia com os outros di?rios de grande circula??o. Em 2 de agosto de 1895, foi publicada nota de seu propriet?rio Ferreira de Ara?jo, anunciando os avan?os em rela??o ? publica??o de imagens:

A Gazeta iniciou, na imprensa do Rio, com o Hastoy, o servi?o de zincografia, os bonecos, como o p?blico lhes chama, tendo ainda h? pouco tempo, como seu desenhista, um professor da Academia de Belas Artes, Belmiro de Almeida, que lhe forneceu excelentes p?ginas; o zincografo ? o Cardoso, por assim dizer um disc?pulo da Gazeta (apud Sodr?, 1999: 266).

A presen?a dos nomes do ilustrador e zincografo da Gazeta nessa cita??o mostra que existia consci?ncia da import?ncia dos mesmos para o peri?dico, uma vez que eles eram respons?veis pelas imagens publicadas e, conseq?entemente, influenciavam na visualidade das p?ginas.

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