3 Evolução tecnológica e modernização da imprensa.

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Evolu??o tecnol¨®gica e moderniza??o da imprensa.

O interior de uma oficina de jornal ¨¦ um labirinto; e, no entanto,

tudo ali se regula do mesmo modo que metodicamente se movem

todas as delicadas e complicadas pe?as de um rel¨®gio!

(Jornal do Brasil, 15/11/1909: 7)

Este cap¨ªtulo enfatizar¨¢ os principais avan?os t¨¦cnicos nos processos de

impress?o, composi??o e reprodu??o de imagens ocorridos no s¨¦culo XIX,

enfocando a moderniza??o do parque gr¨¢fico do Jornal do Brasil e como essas

novas tecnologias possib ilitaram a esse jornal adotar inova??es em sua linha

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editorial.

3.1 Breve panorama da evolu??o tecnol¨®gica que aprimorou os

equipamentos gr¨¢ficos no s¨¦culo XIX

Durante o s¨¦culo XIX o aprimoramento das t¨¦cnicas de impress?o, a

evolu??o dos meios de comunica??o, de transporte e a amplia??o do p¨²blico leitor

com a difus?o da alfabetiza??o contribu¨ªram para o aumento da produ??o de

peri¨®dicos. Foram important¨ªssimas, para a constitui??o da ind¨²stria gr¨¢fica,

inven??es como a prensa cil¨ªndrica, a rotativa, o linotipo, a estereotipia, a

fotografia, e tamb¨¦m a moderniza??o nas comunica??es atrav¨¦s das ag¨ºncias

telegr¨¢ficas de not¨ªcias. H¨¢ que ressaltar que esse processo funcionou com efeito

cumulativo : o aumento do consumo de jornais contribuiu para o aumento do

capital das empresas jornalistas e, com isso, elas investiram na pesquisa de

tecnologias que aumentassem a tiragem e reduzissem o tempo de produ??o sem

que os custos operacionais fossem muito onerados.

As m¨¢quinas impressoras sofreram diversos aperfei?oamentos patrocinados

pelos grandes peri¨®dicos durante todo o s¨¦culo XIX, por¨¦m, a plena mecaniza??o

das prensas tipogr¨¢ficas, s¨® ocorreria com a inven??o das rotativas, resultado de

um conjunto de inventos. Dentre eles estavam o uso do papel em bobinas, para

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dispensar os funcion¨¢rios margeadores; a estereotipia, que permitiu ¨¤ matriz de

impress?o se adaptar aos cilindros da nova m¨¢quina; a impress?o simult?nea dos

dois lados do papel; e o mecanismo de dobragem autom¨¢tica. O processo de

composi??o tamb¨¦m evoluiu no s¨¦culo XIX, visto que desde o invento de

Gutenberg os tipos m¨®veis eram compostos manualmente. Os altos custos e a

morosidade da composi??o de tipos m¨®veis limitavam a produ??o de impressos,

at¨¦ mesmo as edi??es dos grandes jornais, que publicava m no m¨¢ximo oito

p¨¢ginas diariamente. Desde o princ¨ªpio do s¨¦culo XIX, experimentos relacionados

¨¤ melhoria da composi??o mec?nica vinham sendo testados. Por¨¦m, s¨® em 1886

uma solu??o significativa foi encontrada por Mergenthaler: o linotipo, uma fus?o

de tr¨ºs mecanismos b¨¢sicos: reunir (compor), fundir e distribuir. (Meggs, 2006:

141; Porta, 1958: 89, 237 e 366).

A substitui??o das velhas impressoras pelas rotativas e do componedor pelo

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linotipo promoveu a renova??o da imprensa. Al¨¦m desses importantes inventos na

impress?o e composi??o de textos, na segunda metade do s¨¦culo XIX, ainda

surgiram importantes tecnologias para a reprodu??o de imagens. Como por

exemplo, o aperfei?oamento das t¨¦cnicas para utiliza??o industrial da litografia e

gravura em metal. O que tornou poss¨ªvel, pela primeira vez, a impress?o de

imagens em larga escala e com baixo custo, processo que culminou com o

desenvolvimento da fotogravura na d¨¦cada de 1880 (Cardoso, 2004: 42- 43). O

processo conhecido como autotipia ou clich¨º a meio-tom foi desenvolvido pelo

alem?o Georg Meisenbach, em 1882, e consistia em reproduzir a imagem original

por meio de uma ret¨ªcula de vidro, fotograficamente. No Brasil, tem-se registro de

algumas experimenta??es feitas pela imprensa carioca na tentativa de reproduzir

fotografias na ¨²ltima d¨¦cada do s¨¦culo XIX. A revista A Semana publicou clich¨ºs

a meio-tom de retratos, fotogravura, em 1893 e sua iniciativa foi seguida por mais

duas revistas, O ?lbum no mesmo ano e A Cigarra dois anos mais tarde. Por¨¦m, a

imprensa brasileira s¨® iniciou a transi??o para um formato em que a integra??o de

texto e imagem realmente acontecesse em 1900, com a primeira fase da Revista

da Semana (Andrade, 2005: 81 e 85; Ribeiro, 2003: 113).

Na ¨¦poca da funda??o do Jornal do Brasil, todos esses revolucion¨¢rios

inventos para a tecnologia gr¨¢fica j¨¢ eram conhecidos; por¨¦m, foi lenta a chegada

desses equipamentos ao Brasil em escala comercial, pois eram onerosos os

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investimentos e s¨® os grandes parques gr¨¢ficos do pa¨ªs puderam, aos poucos, ter

acesso ¨¤s novas tecnologias.

3.2 Tecnologia utilizada pelo Jornal do Brasil.

Quando Rodolfo de Souza Dantas convidou Joaquim Nabuco para participar

como redator do novo jornal que estava criando ¨C o Jornal do Brasil ¨C informou

que tinha se associado a um pequeno grupo de amigos e o capital constitu¨ªdo era

de 500 contos, podendo ser elevado a 1.000, j¨¢ que iriam fundar um grande

peri¨®dico (Abreu, 2001: 2867). Assim, o Jornal do Brasil nasceu como uma

empresa relativamente estruturada e, desde o principio, foram feitos investimentos

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importantes para a cria??o de seu parque gr¨¢fico. Para seu lan?amento, nove de

abril de 1891, fora encomendada uma impressora rotativa, da casa Marinoni 1 :

al¨¦m de imprimir, ela contava e dobrava automaticamente os exemplares. Por¨¦m,

como a m¨¢quina n?o chegou a tempo para ser montada e utilizada no dia

escolhido para o lan?amento, o primeiro n¨²mero do Jornal do Brasil foi rodado

em uma impressora plana de retira??o da marca Alauzet-Express, que imprimia

ambos os lados das folhas automaticamente. As m¨¢quinas encomendadas

chegaram em setembro, a oficina do jornal, equipada com as modernas Marinoni,

passou a imprimir, al¨¦m de suas edi??es di¨¢rias, outros dois peri¨®dicos: o franc¨ºs

L¡¯?toile du Sud e o italiano Il Brasile (Sodr¨¦, 1999: 257-9 e 266).

Para se ter uma id¨¦ia da import?ncia do aporte financeiro inicial do Jornal

do Brasil, ¨¦ interessante comparar esse investimento em maquin¨¢rio com aquele

de outra empresa do ramo, a Companhia de Artes Gr¨¢ficas do Brasil ¨C que

explorava trabalhos concernentes ¨¤ litografia, estamparia e tipografia. Esta decidiu

em sua assembl¨¦ia ordin¨¢ria n?o fazer novos investimentos em seu parque gr¨¢fico

no ano de 1891, devido ao alto custo a ser pago pela importa??o das modernas

m¨¢quinas de imprimir.

1

Impressora rotativa tipogr¨¢fica que se destacou no mercado e revolucionou o modo de impress?o

de jornais com a utiliza??o de papel cont¨ªnuo (Ribeiro, 2003: 143-4).

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O Sr. Pinho pediu ainda alguns momentos de aten??o aos senhores acionistas, para

algumas pondera??es que tinha a fazer em rela??o ¨¤s novas oficinas, cuja

constru??o, julga a diretoria ser atualmente inoportuna a vista do elevado pre?o dos

materiais e da m?o-de-obra, acrescendo ainda a grande baixa do cambio e os

direitos em ouro, que encarecer?o extraordinariamente as m¨¢quinas que ter?o de vir

do estrangeiro, por isso prop?e aos senhores acionistas, que este grande

melhoramento para a Companhia seja adia do para uma ¨¦poca mais favor¨¢vel.

Sendo posta a votos, foi aceita com unanimidade (Junta Comercial L.62 Reg. 1563

G ¨C 5, Arquivo Nacional).

A primeira edi??o do Jornal do Brasil custava 40 r¨¦is e saiu com oito

p¨¢ginas (o dobro da quantidade de p¨¢ginas que se tornou padr?o), no formato

standard, 120 por 51 cent¨ªmetros, com a tiragem de 5.000 exemplares. Cada

p¨¢gina possu¨ªa oito colunas de seis cent¨ªmetros e a primeira p¨¢gina foi impressa

em corpo 10 (Sodr¨¦, 1999: 257; Silva, 1988: 42). A composi??o do jorna l era

manual, ou seja, eram utilizados tipos m¨®veis para compor as p¨¢ginas. Processo

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que, pela sua morosidade e complexidade, limitava ousadias na diagrama??o.

Depois da p¨¢gina montada era feita a estereotipia 2 que tornava poss¨ªvel a

impress?o na m¨¢quina rotativa.

No in¨ªcio, o jornal s¨® publicava ilustra??es nos an¨²ncios publicit¨¢rios. Mesmo

assim, n?o se tratava de trabalhos originais; eram apenas clich¨ºs padronizados

usados nas propagandas. T?o pouco originais que muitas vezes a mesma imagem

seria utilizada para ilustrar a propaganda de empresas concorrentes de um mesmo

ramo de neg¨®cios. Pode-se notar isso nos an¨²ncios de Companhias Mar¨ªtimas, o

desenho do navio utilizado por v¨¢rias empresas ¨¦ o mesmo (figura 22). O resto do

jornal era composto somente de texto, sem que os t¨ªtulos merecessem qualquer

destaque. Quando muito, havendo alguma informa??o a ser enfatizada, esta era

ressaltada em negrito. A pagina??o era homog¨ºnea, as p¨¢ginas monotonamente

iguais do come?o ao fim do exemplar e conservando-se sempre o mesmo n¨²mero

de p¨¢ginas para todas as edi??es.

2

Com a rotativa, a estereotipia passou a ser utilizada para dar ¨¤ matriz de impress?o a curvatura

necess¨¢ria para se adaptar aos cilindros da nova m¨¢quina. Sua utiliza??o diminu¨ªa o custo das

reimpress?es j¨¢ que o material armazenado demandava menos chumbo, por¨¦m os custos iniciais

podiam aumentar at¨¦ sete vezes em rela??o ¨¤ impress?o plana (Hallewell, 2005: 157-8). Tamb¨¦m

foi muito utilizada em jornais que possu¨ªam impressoras planas e precisavam de v¨¢rias matrizes

tipogr¨¢ficas para todas as suas impressoras funcionarem ao mesmo tempo, ganhando velocidade

no tempo de impress?o (Porta, 1958: 145-6).

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Figura 22 ¨C Diferentes companhias mar¨ªtimas utilizando o mesmo desenho de navio em

seus an¨²ncios.

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