Mídia audiovisual – a experiência da tv sudoeste no Paraná



II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho

Florianópolis, de 15 a 17 de abril de 2004

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GT História das Mídia Audiovisual

Coordenação: Prof. Ruth Vianna (UFMS)

Mídia audiovisual – a experiência da tv sudoeste no Paraná

Toni André Scharlau Vieira

FADEP/ UNISINOS

Resumo

A produção audivisual no interior do Brasil sempre foi colocada em segundo plano. Historicamente os investimentos governamentais foram concentrados nos grandes centros e a incipiente economia das regiões mais afastadas, provocaram um atraso que só começou a ser vencido nos anos 80. Uma história que chama a atenção é a da Rede Celinauta de Comunicação. Sediada no sudoeste do Paraná (uma das regiões mais pobres do Estado), a empresa começa as suas atividades em 1957 e a Televisão Sudoeste inicia as transmissões em 1987. Hoje, com uma programação local somando mais de três horas diárias, a emissora se consolida como interlocutora privilegiada da comunidade, estreitando relações com os diversos setores e lideranças da sociedade. A trajetória da empresa e o conhecimento da experiência é um exemplo vivo das possibilidades da produção audiovisual do interior. Afiliada da Rede TV, a televisão Sudoeste tem um perfil comunitário e está ligada a uma ordem religiosa, a Associação Franciscana de Ensino do Senhor Bom Jesus. Esta ligação, no entanto, não tem interferência direta na programação, uma vez que há espaços fixos para as informações religiosas. Além dos telejornais locais, a ênfase dos programas se dá na prestação de serviços, espaços comunitários e programas de variedades.

Mídia audiovisual – a experiência da tv sudoeste no Paraná

Toni André Scharlau Vieira*

Com a participação dos alunos Ari Ignácio de Lima e Roberto Rossatti

A produção audivisual no interior do Brasil sempre foi colocada em segundo plano. Historicamente os investimentos governamentais foram concentrados nos grandes centros e a incipiente economia das regiões mais afastadas, provocaram um atraso que só começou a ser vencido nos anos 80. Uma história que chama a atenção é a da Rede Celinauta de Comunicação. Sediada no sudoeste do Paraná (uma das regiões mais pobres do Estado), a empresa começa as suas atividades em 1957 e a Televisão Sudoeste inicia as transmissões em 1987. Hoje, com uma programação local somando mais de três horas diárias, a emissora se consolida como interlocutora privilegiada da comunidade, estreitando relações com os diversos setores e lideranças da sociedade. A trajetória da empresa e o conhecimento da experiência é um exemplo vivo das possibilidades da produção audiovisual do interior. Afiliada da Rede TV, a televisão Sudoeste tem um perfil comunitário e está ligada a uma ordem religiosa, a Associação Franciscana de Ensino do Senhor Bom Jesus. Esta ligação, no entanto, não tem interferência direta na programação, uma vez que há espaços fixos para as informações religiosas. Além dos telejornais locais, a ênfase dos programas se dá na prestação de serviços, espaços comunitários e programas de variedades.

Entre as principais criticas que se lê sobre a produção televisiva brasileira está a que coloca a falta de uma maior produção regional. As décadas de centralização das produções no âmbito do eixo Rio-São Paulo produziram uma certa acomodação e, também, a falta de busca por alternativas nos mercados regionais.

As iniciativas que buscaram ir contra esta realidade foram até mesmo combatidas pelas empresas sediadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Como a lógica de produção e de mercado estava baseada em um consumo nacional (até porque se acreditava que os públicos regionais não comportavam investimentos em produções televisivas), as empresas regionais e locais seguiam as cartilhas das emissoras centrais.

Foi, principalmente, na década de 80 que as coisas começaram a modificar-se. Junto com as transformações que proporcionaram uma expansão do conceito de globalização, surge a preocupação com a necessidade de grandes investimentos para manter grandes mercados. No campo da televisão há um certo barateamento no custo de equipamentos e uma maior disposição de empresários de porte regional e local para investir em um mercado que se apresentava crescente.

Experiências já fortalecidas desde o seu nascimento (como a rádio e televisão Gaúcha, posteriormente chamada de Rede Brasil Sul de Comunicações – RBS) somaram-se a outras que, inclusive, abriam fronteiras para o interior do Brasil (caso das organizações Jayme Câmara no Centro-Oeste e da Rede Calderaro de Comunicação, na Amazônia).

Em regiões mais afastadas dos grandes centros e com mercados essencialmente ancorados na economia agro-industrial sempre se verificou uma maior dificuldade de instituir investimentos no mercado televisivo. O caso da Televisão Sudoeste e da Rede Celinauta de Comunicação é uma das notáveis exceções a esta regra.

A Rede Celinauta de Comunicação, estabelecida na região sudoeste do Paraná, atinge mais de 40 municípios, incluindo alguns da região oeste de Santa Catarina. Trata-se de uma iniciativa mantida pela Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus, que possui uma grande penetração entre a comunidade local e regional. A televisão Sudoeste mantém-se, desde 1987, com um padrão de programação próprio, qualificado e com maior número de horas, em comparação com outras redes regionais, como a Rede paranaense de Comunicação (afiliada da Rede Globo) e a Televisão Tarobá (afiliada da Rede Bandeirantes, que transmite na cidade de Cascavel e região oeste do Paraná).

A linha de programação visa a atender o mercado regional e possui programas populares com ênfase na prestação de serviços e relação com a comunidade. São três telejornais, um programa jovem, um programa de variedades, um programa de atualidades dos municípios da região e um específico para prestar serviços e auxiliar a comunidade.

Estes programas são realizados pela equipe da emissora, apenas o programa dedicado ao público jovem (chamado Papos e agitos) conta com a parceria de uma produtora de vídeo local. Os profissionais que trabalham na Rede são, na maioria, provisionados. São poucos os que possuem registro pois a região não contava com Curso de Jornalismo até 2000.

A resposta que a população tem dado para o esforço de criar e manter uma programação local e regional são bem expressivos. A emissora, já passou por problemas econômicos e hoje está se reestruturando, sem, no entanto, diminuir o potencial de produção local.

O perfil da programação pode ser definido como comunitário. Há programas de apelo popular, como o plantão policial Parangolé, mas o próprio perfil religioso da emissora provoca um maior controle. Para se ter uma idéia, o programa da Monique Evans é retirado do ar e, no momento que a Rede TV o transmite, é veiculada uma reprise com ênfase religiosa. Não existe, no entanto, prejuízo um prejuízo para o telespectador, uma vez que a maioria das residências possui a opção de captar a Rede TV por satélite via antena parabólica.

Este é um aspecto importante, pois mesmo havendo a opção de assistir a Rede TV sem passar pelo crivo da Televisão Sudoeste, a população tem optado por sintonizar o sinal local. Um termômetro disso é o reconhecimento que os apresentadores e repórteres têm junto a comunidade.

No total são mais de três horas diárias de programação de segunda a sexta, quatro horas nos sábados e quatro horas e meia aos domingos. Aqui estão computados os programas religiosos que retransmitem missas e aqueles com pequenas reflexões de cinco minutos.

Esta realidade da Rede Celinauta e da Televisão Sudoeste contrasta com a maioria das emissoras locais onde praticamente toda a programação é produzida no eixo Rio-São Paulo, as produções locais pouusem poucos horários para serem exibidas e, em geral, as afiliadas das grandes redes produzem apenas telejornalismo.

Não seria necessário repetir que esta concentração tem causas históricas no tempo dos governos militares, nos anos 60. O modelo serviu para incentivar a chamada ‘’integração nacional’’. Em grande parte das praças locais e regionais o que existe são apenas escritórios comerciais para a venda de publicidade local.

Este texto tem como principal desejo apresentar um exemplo que vem dando certo e ampliar o debate sobre as possibilidades da regionalização das produções televisivas. No momento em que a sociedade vê a possibilidade de grandes conglomerados de comunicação receberem dinheiro público do BNDES para saírem da crise, o modelo regional pode ser mais uma vez resgatado. Porque não transformar a Rede Globo em uma grande corporação dirigida por várias emissoras regionais e com autonomia de produção e veiculação? Vele pensar, vale agir!

* O autor é nascido em Sapucaia do Sul, RS, graduou-se em Comunicação Social - habilitação em Jornalismo pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos - São Leopoldo, RS). Concluiu o mestrado e doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. É coordenador do Curso de Jornalismo da Faculdade de Pato Branco - FADEP e Professor do Curso de Jornalismo da Unisinos, São Leopoldo – RS.

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