METODOLOGIA DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE: USOS EM GEOGRAFIA



METODOLOGIA DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE: USOS EM GEOGRAFIA

Dalvani Fernandes (PET/GEOGRAFIA-UNICENTRO), Nécio Turra Neto (Orientador – Dep. de Geografia/UNICENTRO)

e-mail: dalvanifernandes@

Palavras-chave: Metodologia, Geografia Cultural, Observação Participante.

Resumo: O trabalho em questão coloca em pauta a metodologia de observação participante, criado pela Antropologia e hoje utilizado, entre outras áreas, também pela Geografia, mais especificamente em Geografia Cultural. Esse caminho alternativo foi usado para realização de nosso TCC: Desvendando Territórios: Juventude Evangélica no bairro Jardim das Américas.

Introdução

Nosso objetivo com o presente trabalho é realizar uma breve introdução em relação a metodologia de observação participante, adotada no trabalho de conclusão de curso em Geografia/Licenciatura, intitulado: “Desvendando Territórios: Juventude Evangélica no bairro Jardim das Américas”. O texto apresenta uma discussão que propõe conhecer um pouco mais sobre esse caminho novo que se abre para a Geografia, em particular para pesquisas na área cultural.

Acreditamos que essa metodologia está em sintonia com os estudos geográficos. Sposito (2004, p.38) discutindo o método fenomenológico, afirma citando Armando Corrêa da Silva, que “uma das tendências recentes é ‘apreender o significado do lugar’, por não ser ele ‘apenas algo que objetivamente se dá, mas algo que é construído pelo sujeito no decorrer de sua experiência”. A observação participante nos permite entrar em contato com um mundo de significados encontrado no lugar, como veremos adiante é preciso partilhar da cultura do grupo, de seus símbolos, para entender sua realidade e alcançar os objetivos da pesquisa, que, no nosso caso, é entender como a juventude evangélica constrói representações da sociedade e do espaço urbano e, conseqüentemente, sua territorialidade na cidade, a partir das referências que a Igreja lhe oferece.

Conhecendo novos caminhos

Observação participante é uma metodologia desenvolvida pela Antropologia. Tem sua gênese com Antropólogos que ficavam anos convivendo com tribos indígenas tentando desvendar seu universo simbólico. A partir da década de 1960, essa metodologia foi adotada por antropólogos para o estudo de grupos urbanos. Ela pode ser resumida pela imagem de um observador que adentra em determinado grupo social, com o intuito de, numa relação “face-a-face” com os observados, colher dados para realização de um trabalho científico. Turra Neto (2004A) citando Schuartz e Schuartz afirma que em observação participante o pesquisador é parte do contexto observado, ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por ele.

Para entendemos melhor o uso da observação participante na área da Geografia, recorremos a Turra Neto (2004 A), quando afirma com base em Claval (1997) que a Geografia Cultural, ao colocar o homem no centro de sua análise, obriga-se a adotar novas abordagens de cultura. Assim, buscando inspiração na lingüística e na teoria da comunicação definiu-se que “a cultura é feita de informações que circulam entre os indivíduos e lhes permitem agir” (CLAVAL, 1997, p.94 apud Turra Neto, 2004 A). Acreditamos que a cultura deve ser vista como uma teia de significados, que pode ser analisada por uma ciência interpretativa que buscaria o sentido da significação, pois, cada ato ou gesto transmite informações para aqueles que conhecem seus signos. Desta forma, participar do universo simbólico de um determinado grupo permite que vejamos o sentido dos significados, “a cultura, assim, não seria um poder ao qual se pode atribuir casualmente o ato e o gesto, mas é um contexto dentro do qual eles podem ser lidos e descritos”. (TURRA NETO, 2004B, p.83)

A partir dessa concepção de cultura, para realizar uma leitura da realidade, é preciso participar do universo simbólico. Não é necessário que nos tornemos parte do grupo, mas que mantenhamos um diálogo que não seja apenas como estranhos.

Falamos de uma metodologia que não oferece regras para seguir. Os estudiosos da área oferecem apenas relatos de experiências em que se deparam com problemas e apontam as sugestões de como lidaram com eles.

Turra Neto, citando a obra de Becker (1999), afirma que essa é uma metodologia que exige um certo grau de improvisação. Esse autor propõe um modelo artesanal de ciência no qual cada pesquisador produz as teorias e os métodos necessários para o trabalho que está sendo feito. Quer dizer que podemos e devemos ser mais livres para criar nossas próprias teorizações, de acordo com nossa realidade, sem nos prendermos em uma “camisa de força de idéias desenvolvidas em outro lugar” (Becker, 1999, p.12 apud TURRA NETO, 2004B, p.84).

Um dos primeiros passos para quem segue essa metodologia é o processo de negociação da pesquisa, onde o pesquisador precisa demonstrar que não representa nenhum perigo ao grupo. Assim, segundo Turra Neto “a relação pessoal é a dimensão mais relevante para a aceitação no grupo. O pesquisador deve mostrar-se como pessoa, disposta ao diálogo e a convivência. Cicourel (1980) e Becker (1999) argumentam da mesma forma” (2004B, p.85).

Lüdke e André (1986, p.26), discutindo o uso da observação em pesquisas educacionais, afirmam que ela é um método que permite que o observador chegue mais perto da “perspectiva dos sujeitos”, um importante alvo nas abordagens qualitativas. Em suas palavras, “na medida em que o observador acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos, pode tentar aprender a sua visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações”. De acordo com as autoras, existe uma classificação de tipos de observador em campo de acordo com o grau de participação no grupo. Assim temos: 1) participante total, 2) participante como observador, 3) observador como participante e 4) observador total.

O observador como participante segundo as autoras, é um papel em que a identidade do pesquisador e os objetivos do estudo são revelados ao grupo pesquisado desde o início. Nessa posição, o pesquisador pode ter acesso a uma gama variada de informações, até mesmo confidenciais, pedindo cooperação ao grupo. Contudo, terá em geral que aceitar o controle do grupo sobre o que será ou não tornado público pela pesquisa.

Turra Neto, entende por Metodologia de Observação Participante:

(...) uma metodologia, na qual o pesquisador se coloca no campo como uma antena de rádio, captando de forma sensível os elementos que interessam para sua proposta, interagindo com o grupo, vivendo com ele e influenciando e sendo influenciado. Uma relação humana, na qual a empatia é importante, mas o confronto, quando exigido, também o é, já que se torna o pressuposto para relações baseadas na autenticidade pessoal e não na representação de papéis. (2004A, p.42-3),

Conclusões

Acreditamos que essa proposta metodológica vem a colaborar com o desenvolvimento científico, abrindo novas possibilidades e diminuindo a separação entre sujeito-objeto, herança de uma ciência cartesiana e pragmática. Dessa forma essa relação dicotômica é alterada, a pesquisa é escrita a várias mãos, o “objeto sujeito” colabora diretamente no trabalho, o pesquisador não sente a obrigação de produzir a verdade dos fatos, pois conhece suas limitações e subjetividade.

Esperamos ter esboçado algumas características da metodologia que adotamos, considerado alternativo dentro da Geografia Cultural. É a partir dessa perspectiva que nossa pesquisa foi construída, mergulhando no universo cultural da juventude evangélica, levando em consideração nossas limitações e subjetividade. Nos colocamos em busca do entendimento do par dialético lugar e mundo, das relações sociais que se tecem no bairro e seu reflexo na cidade a partir da construção de uma territorialidade juvenil particular.

Referências

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M.E.D.A. Métodos de coleta de dados: observação, entrevista e análise documental. In: _______; Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. p.25-39.

SPOSITO, E.S. Geografia e Filosofia: contribuições para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

TURRA NETO, N. Enterrado Vivo: identidade punk em Londrina. São Paulo, Editora UNESP, 2004A.

____________. Observação participante como metodologia de pesquisa em Geografia Cultural. In: Anais XIII Semana de Geografia: Paraná, 150 anos: Natureza e Formação Sócio-Espacial. Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Guarapuava: UNICENTRO, 2004B. p.81-95.

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