Construindo Conceitos Biológicos e Históricos com os Temas ...



Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária

Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004

Construindo Conceitos Biológicos e Históricos com os Temas Reprodução e Sexualidade, de Maneira Interdisciplinar

Área Temática de Educação

Resumo

Este trabalho relata experiências vividas por monitores-professores de Ciências Naturais e de História e seus orientadores em turmas do primeiro ano do segundo segmento do Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos da Universidade Federal de Minas Gerais na discussão de uma proposta de currículo interdisciplinar. Todo o processo teve como objetivo construir e ampliar conhecimentos, a fim de relativizar visões acerca de valores dos alunos, de forma que estes fossem percebidos como construções sócio-culturais. Temas relacionados com Anatomia, Fisiologia, fenômenos referentes ao sistema reprodutor e sexualidade foram relacionados com os diversos aspectos da construção da identidade cultural do povo brasileiro. O desenvolvimento dos eixos temáticos foi permeado por debates e discussões e aconteceu através do levantamento de idéias prévias dos alunos, apresentação de modelos tridimensionais, palestras, filmes e documentário com posterior produção de textos, realização de trabalhos em grupo, pesquisas e oficinas pelos alunos. Os resultados demonstraram êxito no processo, constatado pelo desenvolvimento do senso crítico e capacidade de observação, aumento da auto-estima e superação de limites e objetivos dos alunos. Isso permite concluir que esta iniciativa apresenta dados relevantes para Educação de Jovens e Adultos, uma vez que auxilia alunos e monitores-professores na construção de suas identidades.

Autoras

Pollyana Alves Borges da Silva – bióloga

Adriana Cristina Souza Leite – Graduanda em Ciências Biológicas

Bianca Alves Dell’Areti - Graduanda em Ciências Biológicas

Daya Gloor Vellasco - Graduanda em Ciências Biológicas

Ana Cristina Ribeiro Vaz – Mestre em Microbiologia

Instituição

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Palavras-chave: interdisciplinar; EJA; sexualidade

Introdução e objetivo

A Educação de Jovens e Adultos – EJA - é uma modalidade de ensino que visa inserir no processo educativo as pessoas que não tiveram acesso à educação básica na idade regular ou que, por algum motivo, foram excluídas do processo. O NEJA - Núcleo de Educação de Jovens e Adultos da Faculdade de Educação - é o centro responsável pela EJA na UFMG, onde o ensino é compartilhado por três projetos: PROEF-I, PROEF-II e PEMJA.

O PROEF-II é o segundo segmento do Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos e funciona há 18 anos no horário noturno na Escola Fundamental do Centro Pedagógico da UFMG - CP. Neste projeto, novas turmas, com em média 30 alunos, são formadas a cada início de ano e concluem o Ensino Fundamental (5º ao 8º ano escolar) em três anos. O público-alvo é composto pelos funcionários da Universidade e pela comunidade externa. Os alunos possuem mais de 19 anos, freqüentam a escola de segunda a quinta-feira e a construção do conhecimento é realizada em cinco disciplinas principais: Ciências Naturais, Geografia, História, Matemática e Português, articuladas pela área de Pedagogia. Além das aulas de cada área do conhecimento, são destinadas duas horas semanais ao desenvolvimento de projetos inter ou transdisciplinares.

Cada área do conhecimento é formada por cinco membros da UFMG: quatro monitores-professores, alunos dos cursos de licenciatura, coordenados por um professor responsável, membro do corpo docente da Faculdade de Educação, Instituto de Geociências e/ou do CP. Este professor é o catalisador das reflexões sobre a prática pedagógica, coordena e orienta seus monitores-professores nas reuniões de cada área do conhecimento. Além destas, são realizadas também reuniões com a equipe responsável por cada turma (Reunião de Turma), Reuniões Gerais (com a participação de todos os monitores-professores, todos os coordenadores e representantes dos alunos de cada turma) e Reuniões de Formação em EJA (com todos os monitores-professores e todos os coordenadores).

Estas reuniões possibilitam que cada monitor-professor faça uma reflexão sobre sua prática pedagógica, sendo momentos fundamentais para a construção de sua identidade docente conforme Fonseca et al. (2000). As equipes participam de estudos sobre o trabalho de teóricos e pesquisadores da educação, que, além de embasar e sistematizar seu conhecimento possibilitam que elas aprofundem seus estudos sobre as aplicações das teorias que fundamentam a EJA e o ensino de cada área específica.

No PROEF-II, procura-se, nas diversas reuniões, discutir quais seriam as propostas curriculares mais adequadas para despertar o interesse e orientar o aluno na (re)descoberta e (re)construção de sua identidade de maneira integrada nas diferentes áreas do conhecimento. Os conhecimentos construídos nessa etapa inicial são de fundamental importância para que o aluno permaneça freqüentando as aulas. Pretende-se, portanto, que o aluno se reintegre ao convívio escolar de maneira prazerosa e significativa.

A área de Ciências Naturais mantém esta abordagem com enfoque sócio-histórico, na qual cabe ao professor de Ciências Naturais colocar o aluno em contato com os questionamentos, teorias, constatações e postulados da Biologia, Química e Física que explicam o mundo natural. Suas concepções alternativas são valorizadas para que, através de dúvidas pessoais, os educandos percebam o mundo, formulem hipóteses, testem teorias, discutam com seus pares e, através da orientação de seus educadores, passem a utilizar os produtos deste processo para viver em sociedade. Através do desenvolvimento de uma percepção crítica de seu corpo, do meio ambiente e do impacto de suas ações sobre o mesmo, o aluno é orientado a construir sua consciência como ser capaz de preservar e transformar o planeta e a sociedade em que vive. Considerando que o conhecimento do corpo ultrapassa sua dimensão biológica, e que nele estão inscritos a história de vida, a cultura, os desejos e as aprendizagens do indivíduo conforme Secretaria (2002), a Reprodução e Sexualidade estão inseridas no currículo de Ciências Naturais do PROEF- II como primeiro tema do primeiro ano.

O desenvolvimento do eixo temático Reprodução tem como objetivos despertar nos alunos o interesse pelo próprio corpo, o entendimento dos fenômenos relacionados aos aparelhos reprodutores masculino e feminino, a compreensão das "transformações do corpo do homem e da mulher nas diferentes fases da vida, (...) envolvendo emoções, sentimentos e sensações ligadas ao bem- estar e ao prazer do autocuidado" (SECRETARIA,1998, p.143). A partir disso, espera-se que sejam estimuladas entre os alunos as discussões que proporcionam a abordagem do eixo temático Sexualidade. Nesta etapa os objetivos principais a serem alcançados são o desenvolvimento do "respeito à diversidade de valores (...) e comportamentos relativos à Sexualidade, possibilitando tomadas de posições contra discriminações de gênero".(SECRETARIA, 2002, p.87).

Para que os objetivos acima descritos sejam alcançados em sua plenitude as equipes da área das Ciências Naturais e da História têm pesquisado estratégias de desenvolver os temas de maneira interdisciplinar. Uma vez que a sexualidade foi um dos principais fatores da miscigenação de raças no Brasil, aspectos biológicos têm sido tratados nas aulas de História como determinantes de relações entre os indivíduos e como causadores da formação de um país, ao ser abordado o tema Identidade cultural do povo brasileiro.

Além disso, neste primeiro módulo, a identidade do povo brasileiro é tratada como forma de trabalhar a identidade do aluno, relacionando “o particular e o geral, quer se trate do indivíduo, sua ação e seu papel na sua localidade e cultura, quer se trate das relações entre a localidade específica, a sociedade nacional e o mundo”(SECRETARIA, 1998, p.7). O desenvolvimento deste bloco temático permite que o aluno estabeleça relações entre seu EU e o “outro” e compreenda o “nós” através da contraposição da cultura de sua região/país com outras culturas e povos, em diferentes espaços de tempo. O conhecimento do próprio EU envolve a construção de identidades que, nos sujeitos da EJA, podem se encontrar ameaçadas por situações de opressão vividas anteriormente conforme Freire (2003). Desse modo, o monitor-professor orienta o aluno a perceber, entre outros aspectos, as identidades masculina e feminina em diferentes dimensões culturais, identificando em seus antepassados a origem de sua história e de seu mundo.

Assim, o presente trabalho objetiva socializar um projeto de pesquisa em ensino, desenvolvido no PROEF-II da UFMG, no qual estratégias de ensino de duas áreas do conhecimento estão efetivamente construindo seus currículos em sala de aula em conjunto.

Metodologia

Nesta metodologia, as etapas do processo de aprendizado são apresentadas separadamente a fim de facilitar sua exposição.

O desenvolvimento dos temas Reprodução, Sexualidade e Identidade cultural do povo brasileiro acontece em três momentos: a atividade de diagnóstico da turma, a etapa que trata de Anatomia, Fisiologia e Brasil Colônia e a etapa que trata mais detalhadamente de Sexualidade, comportamento e cultura, que estão sempre permeando as etapas anteriores.

Na primeira etapa, a pergunta: “De onde vêm os bebês?” é colocada em sala de aula pelos monitores-professores de Ciências para que os alunos exponham suas concepções prévias e principais interesses sobre Reprodução Humana. Nas aulas de História os monitores-professores partindo do tema “Chegada dos portugueses no Brasil”, começam a discutir o Brasil Colônia sob vários aspectos, inclusive o comportamental. Os resultados das atividades auxiliam os monitores-professores das duas áreas no planejamento das aulas seguintes.

Na Segunda etapa, os alunos, nas aulas de Ciências Naturais, têm contato com modelos tridimensionais do aparelho reprodutor masculino e, posteriormente, o feminino. Isso possibilita ao monitor-professor uma breve abordagem acerca da metodologia científica, ao explicar como são feitos os cortes anatômicos, representados nos modelos. Além disso, é possível salientar a observação dos aspectos morfológicos: formato, proporção e localização dos órgãos internos e externos representados. Neste momento, o monitor-professor tem a oportunidade de abordar os aspectos fisiológicos de ambos os aparelhos reprodutores. É proposta, em sala de aula, uma discussão sobre os principais fenômenos relacionados ao assunto na qual todos os alunos são incentivados a participar. A área de História continua seu trabalho com filmes (Carlota Joaquina, Xica da Silva e Caramuru: a invenção do Brasil, entre outros), documentos da época, e outras fontes de pesquisa.

Posteriormente, o conhecimento é sistematizado, através da distribuição para cada aluno do material didático produzido pelos monitores-professores nas Reuniões de Área e de Turma. Este material é constituído por vários textos, gravuras, esquemas e exercícios baseados em livros didáticos adotados pelas instituições de Ensino Regular ou elaborados pelos próprios monitores-professores. É importante ressaltar que, no PROEF-II, não há um material didático pronto. Ele é elaborado ao longo das aulas de acordo com a demanda de cada turma. Tudo o que é produzido é arquivado e fica disponível para consulta e uso de outros monitores-professores, nos Cadernos de Turma. Considerando-se que o público da EJA tem suas especificidades, durante a elaboração do material é feita uma adaptação dos livros didáticos do Ensino Regular, tomando o cuidado para não infantilizar a linguagem. O Jovem e o Adulto possuem histórias de vida e experiências próprias, além de poderem trazer tabus e preconceitos que devem ser desmitificados durante o processo de aprendizagem.

Tem-se constatado, no PROEF-II, nas aulas de Ciências Naturais, que em geral, os homens têm um maior conhecimento do próprio corpo do que as mulheres e, por isso, o sistema masculino é o primeiro a ser trabalhado. Ereção, ejaculação, fertilidade e andropausa são os principais temas trabalhados. No estudo do sistema reprodutor feminino, os processos abordados são ovulação, tensão pré-menstrual – TPM, menstruação, climatério e menopausa. Para facilitar a compreensão da metodologia neste relato, os sistemas reprodutores estão sendo apresentados separadamente. Entretanto, no decorrer das aulas, os monitores-professores abordam o conteúdo de forma integrada e relacionada com o cotidiano dos alunos. Assim, as dúvidas pessoais são valorizadas e, muitas vezes, proporcionam a conexão entre os temas relacionados. Isso prepara as turmas para os trabalhos posteriores cujos principais temas são: fecundação, gravidez e parto. Neste ponto, são distribuídos novamente textos e esquemas, também produzidos pelos monitores-professores que preparam os alunos para a compreensão dos vídeos Maravilhas do Corpo Humano, apresentado como encerramento da etapa.

Utilizando os três vídeos apresentados, os monitores-professores promovem discussões nas quais os papéis biológicos e sociais das mulheres e homens são analisados criticamente. A avaliação da atividade é feita através de uma redação que os alunos entregam em folha separada, para as duas áreas, analisando os vídeos apresentados.

A terceira etapa destina-se ao estudo do eixo temático Sexualidade que envolve discussões sobre vivências, comportamento, postura, respeito, higiene e saúde, nas duas áreas do conhecimento. Esses assuntos são recorrentes e, por isso, muitas vezes, podem já ter surgido nas etapas anteriores, porém, aqui são aprofundados. O fato de esses assuntos serem amplos proporciona aos monitores-professores, da área de Ciências, o momento ideal para o estudo de métodos contraceptivos, aborto, doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS, já que todos esses aspectos do eixo temático Sexualidade são interligados.

Estes tópicos são desenvolvidos em grupos através de trabalhos, pesquisas e oficinas, realizados pelos próprios alunos e depois apresentados para a turma, com os monitores-professores das duas áreas orientando. É neste espaço que eles têm a oportunidade de trabalhar em equipe e desenvolver habilidades como organização de idéias, consulta a fontes diversas de informação, expressão oral e corporal, construção de textos, criatividade entre outros. Além disso, muitas vezes são convidadas pessoas que atuam em áreas relacionadas para a realização de palestras e “bate-papos”.

Uma vez que cada turma da EJA possui um perfil característico, em cada uma delas as três etapas apresentadas são desenvolvidas em um tempo próprio.

Resultados e discussão

No PROEF-II, os monitores-professores conduzem a discussão dos temas Reprodução, Sexualidade e Identidade cultural do povo brasileiro nas turmas de forma a enfocar as vivências pessoais dos alunos. Os resultados e observações pessoais dos monitores são sempre discutidos nas Reuniões de Área e de Turma a fim de elaborar práticas cada vez melhores para a abordagem da Reprodução, da Sexualidade e da Identidade cultural do povo brasileiro em EJA.

Muitos são os resultados decorrentes dessas atividades. O diagnóstico realizado com a pergunta “De onde vêm os bebês?”, nas aulas de Ciências Naturais, tem confirmado o maior conhecimento do próprio corpo pelo aluno do sexo masculino em EJA. No entanto, o conhecimento a respeito dos fenômenos relacionados à Reprodução é reduzido e esses constituem uma grande novidade quando abordados em sala de aula. Na área de História, a análise do comportamento social atual e sua comparação com o comportamento do passado surpreendem os alunos quando os mesmos identificam as semelhanças e as reconhecem como origem de costumes atuais. Muitos alunos não conhecem o significado das palavras colonização e miscigenação, apesar de demonstrarem saber que os portugueses são nossos colonizadores e que nosso povo é fruto da mistura entre diferentes raças. Acreditamos que isso ocorre porque essas idéias estão muito difundidas na televisão, a mais acessível fonte de informação dos alunos.

Fica evidente que as discussões realizadas em sala costumam ser ponto de partida para que os monitores-professores apresentem novos conteúdos. Além disso, vários pontos são extrapolados, de modo que o ensino assuma significado relevante para os alunos. Por outro lado, é necessário considerar que muitas pessoas trazem uma cultura escolar referente ao modelo em que estudaram e do qual foram excluídos, mostrando-se insatisfeitos com os debates propostos, por considerarem o professor como o único detentor do conhecimento. Há uma forte tentativa de valorizar o conhecimento adquirido fora do espaço escolar e mostrar que os alunos podem aprender uns com os outros. Felizmente, ao longo do processo, a concepção arraigada vai sendo revista e a maioria dos alunos aceita as diversas formas de aprendizagem e a construção coletiva do conhecimento.

O uso dos modelos tridimensionais, inicialmente, desperta interesse e curiosidade pelas aulas de Ciências Naturais. Os alunos se maravilham com a disposição dos órgãos dentro do corpo. As explicações precisam ser cuidadosas, pois não é fácil para os alunos entenderem os planos de corte. No início, alguns nem mesmo reconhecem os modelos como sendo representações do corpo humano. A resolução para esta dificuldade é a adoção do currículo recorrente, com constante estabelecimento de relações entre os temas.

O trabalho com os textos produzidos pelos monitores-professores permite avaliar a leitura e a compreensão do texto pelo aluno, incentivando, assim, o desenvolvimento dessas habilidades. Eles se sentem satisfeitos quando têm um material para consulta ainda que tenham também acesso às Bibliotecas da Universidade.

Em relação ao trabalho com os vídeos “Maravilhas do Corpo Humano” percebe-se que acompanhar o desenvolvimento e o nascimento de um bebê tem forte impacto para os alunos que têm filhos, o que estimula o envolvimento com a atividade proposta. Os filmes Carlota Joaquina, Xica da Silva e Caramuru: a invenção do Brasil ampliam a discussão sobre os aspectos culturais, permitindo que os alunos percebam os acontecimentos históricos sob a ótica da época. Além disso, a valorização da produção artística brasileira possibilita o aumento de seu prestígio junto aos alunos, constituindo uma atividade pedagógica/cultural já que muitos não possuem acesso ou mesmo hábito. Entretanto, deve ser considerado que, para a maioria, é difícil permanecer concentrado, atento aos vídeos. Após certo tempo, verifica-se que alguns ficam sonolentos, o que pode ser contornado quando o monitor- professor faz intervenções durante a exibição ou pede um relato sobre eles. As discussões realizadas em seguida possibilitam uma compreensão ainda melhor dos conteúdos trabalhados em aulas anteriores.

Os trabalhos em grupo são um desafio tanto para os alunos quanto para os monitores- professores. Para os alunos pois os convida a sintetizar e articular idéias, discutir com colegas e, principalmente, vencer a timidez ao apresentar para a turma o produto final de seu trabalho, enquanto que para os monitores-professores os faz refletir sobre as formas de avaliar seus alunos. Passam a questionar que não devem somente valorizar os estudantes em sua capacidade de realizar pesquisas, precisam também fazer com que os alunos mais resistentes aceitem propostas que exigem para a sua realização capacidade de vencer desafios, de trabalhar em equipe. Percebe-se que alunos ao final da atividade, demonstram, já nas apresentações, um acréscimo de sua auto-estima, denotado em seu modo de vestir e em seus gestos ao falar. A valorização e respeito pelo trabalho de outros colegas e por suas opiniões começam a aparecer e reforçam o sentimento de grupo e a construção do “nós”.

A relação dos alunos com os monitores-professores também é muito beneficiada durante o processo, especialmente nas aulas de Ciências Naturais, nas quais a confiança desenvolvida aumenta as possibilidades de sucesso em qualquer atividade proposta. Isso se evidencia no tipo de pergunta que aparece durante as discussões. Do nível anatômico parte-se para o nível fisiológico e posteriormente aparecem perguntas sobre sexualidade, onde as confidências, medos, problemas conjugais e com os filhos vêm à tona.

No decorrer do trabalho, os alunos compreendem que os papéis culturais e as atitudes dos homens e das mulheres têm determinado, através dos tempos, mudanças culturais, sociais e políticas. Essas mudanças são identificadas por eles, que se reconhecem como sujeitos participantes e inseridos na história.

Muitas vezes as turmas que desenvolvem mais rapidamente o senso crítico percebem intencionalidade de integração entre as áreas e se manifestam a respeito, aprovando a iniciativa e demonstrando satisfação em ver que há um trabalho conjunto por parte dos monitores-professores.

Conclusões

No PROEF-II, o tema escolhido para os primeiros contatos com os alunos do primeiro ano é o de Educação Sexual. Percebe-se que através dele os alunos estabelecem com os monitores-professores uma relação de intimidade e confiança. Esta relação favorece a participação em sala de aula, aumenta o interesse dos participantes e é relatada em Reuniões de Área e de Turma como uma experiência gratificante para os professores em formação e para os alunos do Projeto.

Assim, abordar os temas Reprodução, Sexualidade e Identidade cultural do povo brasileiro tem sido, no PROEF-II, uma boa maneira de despertar no aluno de EJA a consciência de que a retomada de sua vivência escolar pode constituir uma forma de socialização de sentimentos, opiniões, experiências e esclarecimento de dúvidas inerentes ao seu cotidiano. Nesta situação de aprendizado, o aluno também amplia o conhecimento de seu EU, aumenta sua auto-estima e adquire ferramentas que podem auxiliá-lo na manutenção de seu bem-estar físico, mental e social.

Portanto, neste projeto que tenta compreender fenômenos relacionados à Reprodução, Anatomia, Fisiologia e Sexualidade comparando contextos históricos de extrema importância para a compreensão das raízes da cultura brasileira, os alunos passam a identificar e valorizar aspectos positivos pessoais, de seus pares, nacionais e ancestrais. Além disso, o aluno pode perceber-se capaz de reconhecer e romper a transmissão cultural negativa e de agir como agente transformador de costumes sociais e formulador/multiplicador de novas concepções.

O objetivo da proposta pedagógica muitas vezes é extrapolado, pois o interesse dos alunos faz com que as práticas pedagógicas propostas sejam realizadas de formas surpreendentes, já que eles se identificam diretamente com os temas trabalhados. Assim, os alunos se envolvem de tal forma, que os conhecimentos construídos em sala de aula passam a ser aplicados em seu cotidiano e compartilhados com seus pares. Ao final do módulo, cada aluno passa a ser um multiplicador de seu conhecimento e, aos poucos, objetivos tanto das áreas de Ciências Naturais e História quanto do Projeto de EJA são alcançados, pois o aluno se torna um agente modificador da sociedade na qual está inserido.

Referências bibliográficas

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ARRAES, G. Caramuru: a invenção do Brasil.Rio de Janeiro: Columbia TriStar, 2001. 1 fita de vídeo, 100min.

CAMURATI, C. Carlota Joaquina: princesa do Brasil. Rio de Janeiro: Elimar Produções, 1995. 1 fita de vídeo,100 min.

Maravilhas do Corpo Humano: São Paulo: Reader`s Digest,1998. 3 fitas de vídeo, 150 min.

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