Formas, Estados e Processos da Cultura na Atualidade ...



Universidade de S?o PauloEscola de Comunica??o e ArtesEstados e Formas da Cultura na AtualidadeS?o Paulo, 27 de junho de 2013Trabalho final: “A USP que queremos daqui a 20 anos”Lucia Sestokas (6770755)Rela??es InternacionaisKarl Jaspers, representando concep??es do idealismo alem?o, coloca como miss?o da Universidade da década de 1920 a busca da verdade. Com o advento das Grandes Guerras e baseando-se no pensamento moderno nietzschiano da “morte de Deus”, cai por terra a no??o una e absoluta de verdade. Inicia-se assim uma concep??o moderna de pluralidade de verdades, entendendo a impossibilidade de gerar um único conceito que explique o todo e dando margem à abertura da produ??o de conhecimento.Na década de sessenta, como exp?e Boaventura de Sousa Santos, os fins da Universidade passam a ser a investiga??o, o ensino e a presta??o de servi?os. O autor, porém, identifica diversas contradi??es advindas de tais atribui??es, a gerar crises com que se defronta a Universidade. A crise de hegemonia, resultado das “contradi??es entre as fun??es tradicionais da universidade e as que ao longo do século XX lhe tinham vindo a ser atribuídas”, contrastando a produ??o de “alta cultura” destinada às elites, com a “produ??o de conhecimentos instrumentais” para a forma??o de m?o de obra qualificada, buscando assim ”meios alternativos de conhecimento” e colocando em cheque a hegemonia do e ensino saber da Universidade. A crise de legitimidade, decorrente da contradi??o entre a “hierarquiza??o dos saberes especializados através das restri??es do acesso e da credencia??o das competências e as exigências sociais e da reivindica??o da igualdade de oportunidades para os filhos das classes populares”. Por fim, a crise institucional evidenciando a contradi??o entre a autonomia universitária e a press?o crescente para submetê-la a critérios mercadológicos de “eficácia e de produtividade”.Especialmente os países que viveram desde ent?o regimes ditatoriais experimentaram a drástica redu??o da autonomia universitária objetivando a interrup??o da produ??o e dissemina??o de conteúdo crítico e também a abertura da Universidade ao setor privado, justificada pelo intuito modernizador da institui??o de educa??o. Adaptando-se à lógica da produtividade, cria-se o princípio da competitividade dentro da Universidade, tanto entre alunos quanto entre professores. Dessa forma, a Universidade passa a ser um centro de forma??o de m?o-de-obra super qualificada e de incuba??o de novos servi?os, ou seja, passa a ser vista como uma indústria, no caso, de produ??o de conhecimento massificante, a receber ou n?o investimento, dependendo de seus resultados.Max Weber afirma a ordem econ?mica moderna como “um cárcere de ferro” que “determina a vida dos indivíduos que nasceram dentro desse mecanismo com uma for?a irresistível”. Mas o próprio Weber entendia que, uma vez conscientes doe tal efeito nocivo, os indivíduos s?o capazes de superar tal condi??o.O advento do neoliberalismo pós década de setenta no Brasil, caracterizado pelas baixas nas taxas de desenvolvimento econ?mico e decorrente afastamento do Estado da regula??o econ?mica, enfatizou o caráter de suporte da ciência e tecnologia em rela??o ao capital, agindo como “agentes de sua acumula??o”, como aponta Marilena Chaui. Constrói-se assim, de acordo com a autora, a condi??o em que se encaixará a Universidade, pautada pela “fragmenta??o econ?mico-social da realidade” e pela “incerteza e violência institucionalizadas pelo mercado”. Aqui, a ciência “contempor?nea” é transformada em “engenharia e n?o (...) conhecimento”, transformando “objetos técnicos em aut?matos”. Ou seja, submetendo a ciência a uma lógica neoliberal, criam-se novos mitos e “poderes desconhecidos e incontroláveis”, apropriados e operados de maneira monopolista e secreta por institui??es de poder.No mesmo sentido, a cultura, por ser considerada “improdutiva”, é apropriada pelo capitalismo de modo a tornar-se instrumental. Tais apropria??es podem dar-se por meio da educa??o, “adestrando” a m?o de obra; por meio do refor?o e da reprodu??o de valores sociais, valendo-se como “guia prático para viver corretamente”; ou por meio da reprodu??o de conhecimento, ou seja, da doutrina??o pelo saber estabelecido, contrastando com o “pensamento”, este último pautado pela reflex?o.Marshall Berman define modernidade como “a tentativa feita por homens e mulheres modernos no sentido de tornarem n?o apenas objetos mas também sujeitos da moderniza??o”. ? possível compreender as atividades e produ??es “artísticas, intelectuais, religiosas e politicas como parte de um mesmo processo dialético”, em constante mudan?a. Observa-se a relev?ncia do diálogo e a pluraliza??o dos sujeitos de diálogo. Nesse sentido, o ensino e a educa??o s?o também processos dialéticos, constituindo uma via de m?o dupla, uma troca de conhecimentos e um processo simult?neo e conjunto de aprendizado.Entendendo a Universidade como uma institui??o social, Chaui a coloca como mecanismo de express?o de valores sociais nos quais se insere, constituindo n?o uma realidade separada, mas “uma express?o historicamente determinada de uma sociedade determinada”. A partir do momento em que há uma distor??o mercadológica dos princípios da Universidade, esta passa a servir a propósitos de racionaliza??o e unifica??o da vida social, de modo a controlar os comportamentos por meio dos saberes e adestrar a m?o de obra. O “uso do saber para o exercício de poder” age no sentido de gerar uma m?o única do conhecimento, reduzindo aqueles que o recebem “à condi??o de coisas, roubando-lhes o direito de serem sujeitos do próprio discurso”.Jurgen Habermas e Florestan Fernandes defendem a existência de uma esfera pública aut?noma, voluntaria e independente do sistema político e econ?mico. Fernandes pontua ainda que o alcance de tal autonomia é complexo, especialmente em países latino-americanos, onde as classes sociais n?o desempenham nem fun??es construtivas (de uma na??o aut?noma), nem desintegradoras (da dependência externa). ? pela emancipa??o da esfera pública que ser?o construídas institui??es verdadeiramente democráticas. Nesse sentido, a Universidade, como institui??o pública, deve buscar emancipar-se, conquistando sua autonomia. No sentido de combater a distor??o mercadológica da Universidade, Chaui prop?e primeiramente o entendimento da Universidade como “coisa pública” e n?o só como “espa?o público”, que pressup?e um mero uso instrumental do corpo universitário sem a real apropria??o dele pela sociedade. N?o sendo a Universidade uma institui??o militar ou uma empresa, seu complexo deve ser disponibilizado e tornado acessível à sociedade como um o aponta Boaventura de Sousa Santos, com a pluraliza??o do público que acessa a Universidade, há uma tendência no sentido de tencionar o caráter massificador das estruturas institucionais e do próprio conhecimento. Ocorre, por tanto, um choque que “obriga o conhecimento científico a confrontar-se com outros conhecimentos e exige um nível de responsabiliza??o social mais elevado às institui??es que o produzem”. Evidenciando um bom funcionamento da institui??o, há uma inser??o simult?nea e mútua da ciência na sociedade e da sociedade na ciência.Também, de forma a ponderar as tendências globalizantes de modelos de Universidade, Naomar de Almeida Filho ressalta a necessidade da adapta??o de paradigmas às realidades locais de cada regi?o. Percebe-se como essencial para a legitimidade e eficácia da Universidade que ela se comprometa com as aspira??es do contexto temporal-geográfico em que se insere. Fica a idéia, refor?ada por Franklin Leopoldo e Silva, de que n?o podemos partir de uma realidade dada, e sim inserir a Universidade histórico e culturalmente pois somente assim é possível superar a aceita??o do status quo presente como irrevogável e inevitável.Cabe, por tanto, a compreens?o da Universidade como uma institui??o sustentada por um tripé composto por Ensino, Pesquisa e Extens?o. Tal tripé harm?nico é o que possibilita o ser da Universidade, uma vez que materializa a Educa??o. As bases do tripé constituem entidades aut?nomas, porém n?o independentes, por estabelecerem um ciclo virtuoso de mútua consolida??o do conhecimento. A extens?o constitui uma rela??o dialógica de aprendizado entre a sociedade e a universidade. A pesquisa, como processo de reciclagem infinito, é uma fonte de revitaliza??o do conhecimento e do pensamento crítico. O ensino é a ferramenta da Universidade de proje??o multidirecional do conhecimento. Por conseguinte, a Universidade n?o é um mero agente provedor, mas sim um agente transformador incluso na sociedade. A transdisciplinaridade como reorganiza??o dos saberes universitários clássicos, permite um pensamento crítico, acompanhado por compromisso social e democratiza??o do acesso à Universidade, como coloca Boaventura de Sousa Santos. ?, por isso, um dos pilares da Universidade Moderna. O conhecimento transdisciplinar obriga a um diálogo ou confronto com outros tipos de conhecimento, produzindo sistemas abertos menos perenes e de organiza??o menos rígida e hierárquica.Peter Goddard aponta que as reformas universitárias do século XIX e XX resultaram na departamentaliza??o da Universidade, tornando os departamentos “redutos para os bar?es professorais expandirem ou defenderem seus territórios”, enfatizando uma preocupa??o de caráter corporativista. Goddard coloca que a forma??o de Institutos de pesquisa transdisciplinares dentro e fora das Universidades, abrangendo vários departamentos e disciplinas, representa uma ressignifica??o do papel da academia dentro da Universidade, estando agora presente “no ensino de gradua??o, em um departamento com fun??o de pesquisa dentro de uma disciplina e em um Instituto interdisciplinar”. Os Institutos, ent?o, representariam uma oportunidade para o contato entre indivíduos e grupos de áreas diferentes, estabelecendo um diálogo frutífero aos novos conhecimentos, como retrata Eliezer Rabinovici.Abraham Flexner, trazendo a experiência da implementa??o do Institute for Advanced Studies em Princeton, por sua vez, oferece como alternativa a interdisciplinaridade de Institutos, prezando pelo ambiente de diálogo e troca entre diversas áreas, como um contraponto à forma??o de departamentos fechados. Flexner defende que os avan?os nos conhecimentos de maior valor prático n?o provêm de pesquisas norteadas por objetivos, mas sim daquelas motivadas por curiosidade intelectual.Pautando sob outra ótica a interface entre sociedade e Universidade, César Ades entende o Instituto como elemento de contato e diálogo entre os dois ?mbitos, pontuando que a motiva??o inicial da forma??o de grupos e da ado??o de temáticas deve ter cunho social. Nas palavras dele: “A Universidade deve voltar-se para a sociedade”.No contexto chinês de Universidade, Zhenglai Deng retrata o esfor?o de efetivar a "transi??o do conhecimento para o mundo", buscando o equilíbrio entre a consolida??o da autonomia nacional na produ??o de conhecimento e a supera??o de “armadilhas do localismo tacanho e fechado”, de forma a integrar práticas e experiências e participar de um diálogo global. Nesse sentido, o autor entende como essencial a presen?a de Institutos universitários que permitam e promovam esta troca.? indispensável compreender a presen?a de tencionamentos acumulados ao longo da história da Universidade de S?o Paulo. Fica visível a persistência de anacronismos em alguns pontos de dificuldade, assim como o surgimento, de acordo com a mudan?a do contexto sócio-econ?mico-cultural, de novos paradigmas e desafios.Sempre esteve presente e torna-se cada vez mais patente a necessidade de políticas efetivas de democratiza??o do acesso à educa??o pública de qualidade, que culminaria no acesso às Universidades públicas. Aqui cabe pontuar que a elitiza??o do conhecimento só termina por gerar um ciclo de exclus?o econ?mica-racial. Também, é ainda ponto de disputa a conquista da autonomia universitária, amea?ada por interesses particulares, materializados na forma de investimentos privados, que servem na hierarquiza??o das áreas de saberes e na decorrente exclus?o de campos do conhecimento, refor?ando assim, toda uma lógica de mercantiliza??o do conhecimento.Contribui para a transdisciplinaridade e para o interc?mbio de idéias a amplia??o do público que tem acesso à Universidade e aos saberes nela desenvolvidos. Com o advento de fen?menos globalizatórios, compreende-se mais profundamente a possibilidade de um maior acesso aos diversos ?mbitos da Universidade. Faz-se cada vez mais presente a internacionaliza??o do conhecimento e. ? sem duvidas elemento facilitador da transnacionaliza??o dos conhecimentos desenvolvidos na Universidade a pluraliza??o do acesso ao interc?mbio, bem como a amplia??o de parcerias entre Universidades pelo mundo. Ainda, à nível nacional, percebe-se como gerador de alian?as bi ou multilaterais o intercambio entre Universidades do mesmo país.A interface entre Universidade e sociedade pode se tornar mais presente e profunda com o aproveitamento de meios de comunica??o, como as mídias sociais, as palestras transmitidas ao vivo por streaming, o contato direto com parte da popula??o pelas redes virtuais, etc. Nesse sentido, vale ressaltar a import?ncia do acesso à informa??o, que promove a possibilidade de um contato mais genuíno entre aquilo que antes ficava contido nos muros da universidade e agora se percebe presente pela cidade. Isso fica palpável quando percebemos a atua??o de diversos bra?os da USP em múltiplos pontos da cidade de S?o Paulo. A desmistifica??o do acesso à Universidade só tem a contribuir com uma pluraliza??o dos diálogos e debates e com a real apropria??o da Universidade pela sociedade que a cerca.BibliografiaBERMAN, Marshall. “Tudo que é Sólido Desmancha no Ar”SANTOS, Boaventura de Sousa. “A Universidade do Século XXI”CHAUI, Marilena. “A Universidade na Sociedade”GODDARD, Peter. “O crescimento dos Institutos de Estudos Avan?ados”DOSE, Carsten. “Fascinante diversidade de perspectivas”DENG, Zhenglai. “Instituto Fudan de Estudos Avan?ados: ênfase em abordagens transdisciplinares”ANDES, César. “O IEA da USP: engajamentos”SILVA, Franklin Leopoldo e. “Universidade: a idéia e a históriaCARDOSO, Miriam Limoeiro. “Capitalismo Dependente, Autocracia Burguesa e Revolu??o Social em Florestan Fernandes”HABERMAS, Jurgem. “Mudan?a estrutural da esfera pública: investiga??es quanto a uma categoria da sociedade burguesa.” ................
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