A MAIOR INOVAÇÃO BRITÂNICA DOS ÚLTIMOS 100 ANOS CIÊNCIA B ...

18 // Correio do Minho 4 de Abril 2013

Automatic Computing Engine

11 de Abril 2013 Correio do Minho // 13

A `Bomba' de Turing-Welchman

A MAIOR INOVA??O BRIT?NICA DOS ?LTIMOS 100 ANOS

CI?NCIA

B.I.

Turing e a m?quina universal

Terminou h? dias, na Gr?-Bretanha, uma vota??o para eleger a maior inova??o brit?nica dos ?ltimos 100 anos. N?o se tratou de mais um concurso televisivo, mas antes de uma iniciativa promovida por reputadas institui??es cient?ficas, como a Royal Society e o Science Museum, com apresenta??o em v?deo pelo Prof. Stephen Hawkins, da Universidade de Cambridge. O leitor interessado encontra todos os detalhes sobre a vota??o em .

Na shortlist posta ? vota??o, encontravam-se feitos t?o importantes como a descoberta da penicilina ou do modelo em dupla h?lice do ADN, a clonagem da ovelha Dolly ou a cria??o da World Wide Web. Por?m, a inova??o vencedora foi a M?quina Universal de Alan Turing.

Alan Turing (1912-1954) foi um matem?tico ingl?s cujo trabalho, entre muitas coisas, lan?ou as bases das Ci?ncias da Computa??o e, indirectamente, da actual "Sociedade da Informa??o". Educado em Cambridge, publica em 1936 um artigo revolucion?rio "Sobre os n?meros comput?veis".

Apoiado pelo seu professor de L?gica Max Newman, Turing viaja em Setembro de 1936 para Princeton, EUA, para fazer doutoramento.

Menos de dois anos depois, Turing defende a sua tese e regressa a Inglaterra, pressentindo a imin?ncia da guerra. Um dia depois do Reino Unido declarar guerra ? Alemanha, Turing apresenta-se em Bletchley Park, a esta??o governamental secreta respons?vel pelo esfor?o de criptoan?lise brit?nico. Sob orienta??o de Turing, o c?digo da m?quina Enigma, usado para cifragem das comunica??es navais alem?s, ? quebrado, com recurso a avan?ados meios de c?lculo mec?nico que eram desenvolvidos em simult?neo, entre os quais as "Bombas" de Turing-

DR

Estatua de Alan Turing, Bletchley Park

Welchman. Imediatamente ap?s a guerra,

Turing ? contratado pelo National Physical Laboratory (NPL), em Londres, onde desenha o ACE (Automatic Computing Engine), um dos primeiros prot?tipos brit?nicos de computador no sentido moderno, que a imprensa apelidou de "c?rebro electr?nico". Mas o NPL ? ineficaz a construir o ACE e Turing aceita em 1947 o convite de Max Newman para integrar a sua equipa em Manchester, para onde o antigo professor se mudara, e onde desenvolvia um prot?tipo concorrente ? o Mark I. ? neste computador que Turing, antes da sua prematura morte aos 41 anos, faz c?lculos e

simula??es que auxiliam a sua ?ltima investiga??o ? uma teoria matem?tica da morfog?nese em seres vivos.

Turing definiu a M?quina Universal no referido artigo de 1936. A M?quina Universal ? um modelo abstracto do que entendemos hoje em dia por computador: um dispositivo f?sico que, mediante o fornecimento do programa apropriado, se pode converter virtualmente em qualquer outra m?quina: numa calculadora aritm?tica, num processador de texto, num tradutor autom?tico, numa base de dados, etc. Este ? afinal o princ?pio que est? incorporado em personal computers, smart phones, tablets e outros gadgets.

Em virtude da revolu??o tecnol?gica das ?ltimas d?cadas, vivemos hoje rodeados de m?quinas universais (e anglicismos); e talvez vivamos seduzidos pelo poder aparentemente sem limites das m?quinas. Ora Turing investigou esses limites desde 1936. Primeiro provou que a exist?ncia de m?quinas universais tem como consequ?ncia a inexist?ncia de um raciocinador autom?tico, isto ?, uma m?quina (ou app para smart phone) que consiga decidir se uma dada afirma??o ? um teorema da L?gica. Este resultado tinha um interesse t?cnico imediato: resolvia um problema que Kurt Goedel - o grande l?gico deixara sem resposta no seu famoso trabalho, de 1931, sobre a incompletude dos sistemas l?gicos. Mas, depois da guerra, Turing poria o seu resultado num contexto mais abrangente e apelativo para o homem comum, quando investigou, entre 1945 e 1950, a quest?o "Pode uma m?quina pensar?", tornando-se um pioneiro da disciplina que hoje em dia se chama Intelig?ncia Artificial.

No NPL (curiosamente dirigido por um neto de Charles Darwin) os relat?rios t?cnicos que Turing escreveu, onde se falava de m?quinas capazes de jogar xadrez, foram considerados impr?prios para publica??o. Mas Turing insistia num artigo de 1950: "Podemos esperar que as m?quinas venham a competir com os homens em todos os campos puramente intelectuais". Esta profecia, que parece ter moldado o imagin?rio da fic??o cient?fica e do cinema at? aos nossos dias, ? ainda hoje um programa de investiga??o cient?fica e filos?fica para o futuro.

Jos? Carlos Esp?rito Santo Departamento de Matem?tica

e Aplica??es Escola de Ci?ncias da Universidade do Minho

Nome: Jos? Carlos Esp?rito Santo

Forma??o Acad?mica: Licenciatura em Matem?tica e Ci?ncias da Computa??o, Universidade do Minho. Mestrado em Matem?tica Aplicada, IST, Lisboa. Doutoramento pelo Laboratory for Foundations of Computer Science, Universidade de Edimburgo.

Livro Favorito: Um dos livros mais divertidos que li foi "A Queda de um Anjo", de Camilo Castelo Branco.

Filme Favorito: Vertigo, de Alfred Hitchcock.

Cidade Favorita: Depois de visitar Floren?a e Nova Iorque, descobri Braga, a cidade onde vivia h? d?cadas.

M?sico Favorito: Jos? Afonso.

Especialidade Culin?ria: Aprecio a cozinha popular portuguesa.

Hobbie: Ler e caminhar.

Viagem de Sonho: Os A?ores foram o s?tio mais bonito onde estive.

Inspira??o: Hesito entre a beleza da verdade e a verdade da beleza.

Se n?o fosse cientista seria... Qualquer coisa que consistisse em pensar e escrever.

Quer fazer

?perguntas a um cientista? Esta rubrica sobre a Escola de Ci?ncias da Universidade do Minho tem tamb?m como objectivo criar uma rela??o entre leitores e investigadores. Alguma vez pensou em fazer uma pergunta a um cientista? Caso queira participar pode enviar todas as suas quest?es para sec@ecum.uminho.pt e ver? as suas d?vidas esclarecidas.

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