Brasileiras que fizeram a história



O Ensino de Língua Portuguesa foi além do limite: uma discussão teórica e metodológica sobre o ensino de PLE.

Ana Paula Kurpan de SOUZA (UFF, Rio de Janeiro - Brasil)

Elizabeth Maria da Penha GAMA (UFRJ, Rio de Janeiro - Brasil)

Introdução

Dentro de uma nova concepção do que seja aprender e ensinar línguas – transpor a idéia de que ensino de língua não se retém somente ao ensino de estruturas –; como trabalhar no nível básico utilizando textos autênticos que contemplem as quatro habilidades, é sempre motivo de inquietação e discussão entre os futuros profissionais de EPLE (Ensino de Português como Língua Estrangeira) nas universidades e o “como fazer” são desafios para os que acreditam nesta nova perspectiva.

Portanto, o presente trabalho é relevante, pois recobra o fato de não existir material que aborde, exclusivamente, um assunto específico. Contudo, é possível a partir de um material autêntico – matéria retirada de um jornal sobre a vida e obra de Chiquinha Gonzaga –, juntamente com a versatilidade e o conhecimento profissional, preparar uma aula que abarque o uso e a forma para alunos iniciantes.

Ressaltaremos também noções básicas do que seja método, metodologia, papel do professor de PLE e avaliação. Além disso, abordaremos os motivos que, hoje, estimulam os profissionais de ensino de Língua Portuguesa como língua materna ao desejo em aprimorar e ampliar seus conhecimentos, agora, no ensino do Português como Língua Estrangeira.

I – Estudar Português com ênfase na variedade brasileira, por quê?

O interesse voltado para o ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira está, na atualidade, também articulado à globalização – processo pelo qual se intensificam os fluxos econômicos e contatos interculturais. Devido a isso, o Português é hoje a quarta língua mais usada na internet (FILHO, 2006, p.30), superando, por exemplo, os números referentes ao alemão, francês ou italiano. Por sua vez, dentro dos países lusófonos, o Brasil constitui a maior e mais dinâmica economia, sendo ainda responsável pela grande maioria dos falantes de Língua Portuguesa.

O dinamismo da economia brasileira esteve relacionado ao processo de forte crescimento produtivo que, no século XX, esteve, também, associado, entre outros fatores, à forte influência das empresas transnacionais. E, no cenário atual da globalização, a força de atuação dessas empresas não pára de crescer. Enfatizamos que, entre os vários papéis que as empresas transnacionais cumprem no cenário doméstico, está a intermediação dos fluxos de trabalhadores estrangeiros para os países em que alocam investimentos.

O Brasil, neste sentido, vem recebendo mão-de-obra estrangeira que, para melhor adaptação, necessita assimilar o idioma português e, mais do que isso, sintonizar-se ao máximo com as variações regionais, com os valores e hábitos do quotidiano e com a cultura local, tornam, sem dúvida, os trabalhadores estrangeiros mais entrosados.

Assim, o Brasil revela-se como um mercado promissor capaz de atrair investidores estrangeiros importantes, despertando, portanto, um grande interesse pelo Português, com ênfase na variedade brasileira, e que, conseqüentemente, acelera a procura e a oferta deste curso.

II - Método e Metodologia: escolhas que fazem a diferença

Buscaremos, a princípio, explanar algumas noções básicas que julgamos apropriadas para o profissional desejoso de atuar na área de EPLE (Ensino de Português para Estrangeiros).

Começaremos por analisar o significado da palavra método em CHAUI (2002, p. 79), o qual atribui a origem dessa palavra ao grego, methodos, composta de meta: através de, por meio de, e de hodos: via , caminho.

Portanto, adotar um método seria, na atividade docente, direcionar, organizadamente, o caminho pelo qual se atinge um objetivo, ou seja, levar o aluno à descoberta de algo antes por ele desconhecido.

Para a definição de metodologia diremos que é “a arte de dirigir o espírito na investigação da verdade” (AURÉLIO, 2002). Assim, a metodologia seria, então, a teoria na qual nos fundamentamos para ensinar.

Na prática, o método dar-se-á no instante em que escolhermos o material a ser utilizado, podendo este variar desde uma tirinha, um quadrinho, um folheto de supermercado até um material mais complexo como, no nosso caso, selecionamos uma matéria retirada de um jornal sobre a vida e obra de Chiquinha Gonzaga.

Deste modo, o método é o próprio material de ensino com o qual praticamos a metodologia ou a abordagem (PUREN. C. apud CESTARO, p.3).

Durante algumas décadas, o Brasil presenciou diversas metodologias de Ensino de Línguas Estrangeiras. Entretanto, é a partir da década de 90, com a abordagem comunicativa, que este ganha um novo rumo. A abordagem comunicativa – centrada no aluno e na sua relação com o professor; na sua realidade e no seu processo de aprendizado, com enfoque no uso apropriado da língua em interações comunicativas – se contrapõe à abordagem gramatical – ensino com foco na forma, com memorização de vocábulos e manuseio de estruturas gramaticais; vê a linguagem com autonomia sem vinculá-la fortemente com a cultura. Contudo, não descarta a possibilidade de criar momentos de explicitação de regras e de prática rotinizante dos subsistemas gramáticas (ALMEIDA FILHO apud OEIRAS,1998 p.49).

O esforço de profissionais da área de ensino de português como língua estrangeira, no último decênio, direciona-se ao desafio de operacionalizar, em um programa, um sistema integrado das habilidades lingüísticas, usando duas, três ou quatro habilidades no desenvolvimento de uma tarefa (CANALE & SWAIN apud GOTTHEIM, 2000 p.93)

Assim, com base nessas informações, é importante que atentemos em elaborar atividades e tarefas com textos autênticos, isto é, produzidos por brasileiros e para brasileiros e, de preferência, bem próximos da oralidade (quotidiano) com discursos que exprimem as especificidades da nossa cultura e dos nossos falares, cujos objetivos sejam bem definidos nas quatro habilidades lingüísticas: entender linguagem oral, falar, ler e escrever. Dessa forma, é possível criarmos um material inteligente, dinâmico, criativo e interativo, destacando a comunicação e não a forma, porém sem desprezar o conhecimento de algumas estruturas mais elaboradas, para que o aluno possa, seguramente, produzir pequenos textos indispensáveis ao seu dia-a-dia.

II – O papel do professor de PLE:

Se observarmos o parecer teórico de alguns autores sobre os procedimentos pedagógicos cabíveis ao profissional de EPLE, veremos que, praticamente, nada se difere do que concerne ao papel do docente como orientador/mediador de aprendizagem no ensino de língua materna. No entanto, quanto ao segredo que compõe o sucesso profissional, MORAN, MASSETO e BEHRENS (2004, p.17) afirmam que os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se, de agir. São um poço inesgotável de descobertas.

Ao chegar a um país estranho, o estrangeiro encara uma série de dificuldades: a falta de domínio da língua local, as diferenças culturais que podem provocar situações de estranhamento e preconceito, melancolia, etc.; logo, a adaptação deles nem sempre é uma tarefa fácil.

Tendo em vista os aspectos observados, a aprendizagem da língua e da cultura local pelo empresário, gerente, trabalhador ou estudante estrangeiro é vantajosa em vários aspectos: permite a troca de informações entre funcionários com conseqüente melhoria na produtividade, torna mais inteligível o novo meio social em que está inserido, proporciona a superação de situações desconfortantes anteriormente mencionadas, favorece a adaptação familiar e os contatos interpessoais, etc.

Essas situações, normalmente, concedem novas atribuições ao papel do professor de PLE e, também, diferentes significados aos vocábulos, orientador e mediador. Em determinadas circunstâncias, por exemplo, o professor será o orientador, pois é com ele que o estrangeiro mantém o seu primeiro contato e, conseqüentemente, buscará orientação ou informações sobre como?, onde?, quando?, isto é, inteirar-se-á, informar-se-á, confiando, sobretudo, em suas recomendações – provavelmente, é com ele também que o estrangeiro dividirá suas primeiras descobertas, seus primeiros desagrados e suas perspectivas em relação ao país –; e será o mediador, visto que é ele quem fará a ponte entre o indivíduo estrangeiro e o novo mundo.

Mediante o exposto, podemos preconizar que cabe ao professor de PLE tomar em consideração o que nos diz novamente MORAN, MASSETO e BEHRENS (2003, p.17), é importante termos educadores/pais com um amadurecimento intelectual, emocional, comunicacional e ético, que facilite todo o processo de organizar a aprendizagem.  Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação, pois aprendemos pela credibilidade que alguém nos merece.  A mesma mensagem dita por uma pessoa ou por outra pode ter pesos bem diferentes, dependendo de quem fala e de como o faz. Aprendemos, também, pelo estímulo, pela motivação de alguém que nos mostra que vale a pena investir num determinado programa, num determinado curso.  Um professor que transmite credibilidade facilita a comunicação com os alunos e a disposição para aprender.

III – A seleção de material didático:

Primeiramente, achamos de suma importância definir bem os significados para tipo textual e gênero textual.

Para DIONISIO, MACHADO e BEZERRA (2003. p. 22-23) em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição,injunção.

Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para refletir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária.  Alguns tipos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, bilhete, receita culinária, uma conversação espontânea, bula de remédio, etc.  

Aqui, portanto, de acordo com os autores, podemos dizer que foi por nós selecionado um texto tipo narrativo cujo gênero é uma reportagem jornalística.

Feita a escolha do material, é importante que se registre a fonte (anteriormente, por intuito, o professor já se valeu dos critérios como, por exemplo, o texto selecionado é bom para quê? Quais os tipos de atividades poderão ser trabalhadas? Contempla as quatro habilidades? Perfil dos alunos, etc.).

IV – Brasileiras que fizeram a história: Como trabalhar com um texto autêntico, no nível básico, que contempla as quatro habilidades?

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a) Sugestões de abordagens com ênfase na forma (gramática):

➢ O Alfabeto (base sistema Língua Portuguesa: CV);

➢ Vogais em português a partir do nome FRANCISCA EDIWIGES GONZAGA;

➢ Artigos: definidos e indefinidos;

➢ Pronomes Pessoais do caso reto (formal e informal);

➢ Verbo ser ( presente e pretérito do indicativo);

➢ Listar os verbos regulares do texto e apresentar as três conjugações nos tempos presente e pretérito do indicativo;

➢ Pegar o texto, apagar os verbos e pedir para que os alunos os coloquem no tempo correto;

➢ Relacionar algumas profissões e explicar a formação básica do feminino: em português, as palavras terminadas em vogal o, mudam para a. Ex: médico / médica; as terminadas em consoantes, acrescentam-se a vogal a. Ex: doutor / doutora;

➢ Apresentar algumas formas irregulares do feminino com os sufixos: - esa, - isa, - ina, - triz;

➢ Números de 1 a 50;

➢ Preposições em e de (contrações com artigos);

➢ Conjunção e;

➢ Plural básico das palavras: as palavras terminadas em vogais, acrescentam-se -S.

b) Sugestões de abordagem comunicativa com ênfase no uso da língua- alvo:

➢ Ler o texto em voz alta para que os alunos possam se habituar aos sons da língua-alvo;

➢ Trazer mapa e pedir para que os alunos mostrem onde nasceram construindo as seguintes frases: Eu nasci no(a) .... (país) em ...(cidade);

➢ construir frases como Eu sou... (profissão e estado civil); eu moro...;

➢ Trazer gravuras para ilustrar o vocabulário da família, por exemplo;

➢ Criar, em sala, situações em que o aluno possa cumprimentar e apresentar-se;

➢ Mencionar os meses do ano;

➢ Trazer letras e melodias da compositora em pauta;

➢ Pedir para que tragam uma pesquisa sobre outras mulheres ilustres do Brasil, respondendo às seguintes perguntas: Onde nasceu? Quando? Qual a profissão dela? Quando morreu? Etc; sugestão de site: (opção: brasileiras que fizeram a história).

V- Aplicação e avaliação:

Quanto à aplicação de uma aula expositiva, há uma dúvida pertinente entre os interessados em lecionar PLE que gostaríamos de elucidar: ensinar PLE não pressupõe que devemos ter o domínio lingüístico da língua materna de nossos alunos, todavia faz-se necessário, sim, termos o domínio metalingüístico desta; exemplo: numa turma de alunos cuja língua materna seja o alemão, é importante sabermos que, no sistema da língua alemã, a partícula de negação nicht, em frases negativas, se localiza, normalmente, após o verbo ou que, numa interrogativa, o verbo ficará em primeira posição na frase.

Desta forma, tornam-se explicáveis fenômenos de interlíngua como Ele vem não; ou Vem ele não?

Portanto, com o conhecimento metalingüístico da língua materna dos alunos, o professor dispõe com antecedência dos pontos em que estes terão mais dificuldades em assimilar a língua-alvo.

Quanto à avaliação do aprendiz de PLE, JUDICE (1997) lembra que o importante é que tenhamos consciência de que a avaliação constitui etapa intermediária do processo de ensino-aprendizagem, na qual professores e aprendizes revêem as escolhas feitas em função dos objetivos visados em determinado momento do processo de aquisição da língua-alvo.

Enfim, é no processo de avaliação em que o professor tem a oportunidade de refletir sobre a eficiência da metodológica e dos métodos que foram por ele aplicados, ou seja, de aferir-se.

Considerações finais

Procuramos, brevemente, apresentar algumas reflexões acerca do uso de algumas noções básicas referentes ao Ensino do Português como Língua Estrangeira, buscando explicitá-los e ilustrá-los.

Na conversão da teoria em prática, foi comum, para efetivação deste trabalho, o reconhecimento de que o professor deve, também, ter o espírito de aprendiz para compreender melhor o “como fazer”, pois julgamos que o conhecimento e o bom uso dessas informações sejam as “ferramentas” que podem trazer bons frutos aos profissionais de ensino de Língua Portuguesa como língua materna que queiram dar início à carreira de EPLE.

Referências bibliográficas

AURÉLIO, Dicionário Eletrônico Século XXI, 2002.

CESTARO, Selma alas Martins, O Ensino de Língua Estrangeira: História e Metodologia/ Univ. Fed. Rio Grande do Norte/USP, Natal, p.3

CHAUI, Marilena, Filosofia, São Paulo: Ática, 1 ed. 2002

DIONISIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Raquel; BEZERRA, Maria Auxiliadora.  Gêneros Textuais & Ensino. Lucerna: Rio de Janeiro: 2a.ed, 2003.

FILHO, Bearzoti Paulo, revista Discutindo Língua Portuguesa, Ano I – no. 01 pg. 30.

GOTTHEIM, Liliana. Materiais Didáticos de Português do Brasil para Estrangeiros. Linha d’Água, n. especial, p.91-107, jan, 2000.

JUDICE, Norimar. Português Língua Estrangeira: Leitura, produção e avaliação de textos no ensino de Português para Estrangeiros. Cadernos do Centro de Línguas da USP (1): 11-31, 1997

MORAN, José Manuel; MASSETO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 8ª ed. 2004

OEIRAS, Janne Yukiko Yoshikawa, ACEL – Ambiente Computacional Auxiliar ao

Ensino Aprendizagem a Distância de Línguas. Campinas: Dissertação de Mestrado

apresentada ao instituto de Computação, UNICAMP, 1998.

ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo: Brasiliense, 4ª. Ed. 2000.

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