A cobertura da violência na mídia regional na TV Oeste



A cobertura da violência na mídia regional na TV Oeste

Fátima Aparecida Pereira (Aluna Graduação PUC MG Arcos)

Resumo

Este artigo pretende apresentar uma análise da cobertura jornalística da violência urbana realizada pela mídia televisiva regional, mais precisamente, na TV Oeste. Ele aborda a forma como o jornalismo regional enfoca a violência e como os fatos são divulgados ao público-alvo. A violência é aqui apresentada como um desvio em relação a determinados estados tidos como normais. Tal situação garante a ela um lugar especial na mídia, por meio de relatos de notícias que constituem uma forma de narrativa pública diferentes dos diálogos cotidianos ou das narrativas literárias. Eles transmitem situações ou assuntos sociais. Sentindo a necessidade de verificar o modo como a televisão noticia os fatos relacionados aos conflitos urbanos e como a cobertura desses é realizada, foi estruturado um mosaico do qual fazem parte os conceitos sobre violência, jornalismo regional, análise do discurso e cobertura jornalística. Ainda nesse contexto, foi apresentada uma síntese histórica da cidade de Formiga, em Minas Gerais e da TV Oeste, instalada nesse município.

Palavras-chave: violência; mídia; jornalismo regional.

Introdução

Estudar as formas por meio das quais a violência é veiculada pela mídia, mais especificamente dizendo, pela televisão é atualmente um importante tema de pesquisa na área da Comunicação Social. Os meios de comunicação de massa têm o poder denunciar incessantemente fatos violentos da vida cotidiana, porém, às vezes, nem todos estes fatos são divulgados claramente. São inúmeros os acontecimentos criminais nos centros urbanos brasileiros. Por este motivo e também em certos casos pela questão da omissão, prática comum nas cidades de interior, quando tais fatos envolvem alguém de influência na sociedade, certos eventos não são noticiados.

A despeito disso, a mídia deve cumprir o seu papel informativo e revelar ao público esses acontecimentos de forma verdadeira, eficiente e através de uma mensagem visual e lingüística qualificada dentro da ciência da comunicação para atingir seu objetivo principal que é intermediar o fato para o público-alvo. Para tanto, faz-se necessária uma análise que permita observar e entender os vocábulos e estruturas lingüísticas ligadas às diferentes classes sociais.

E importante estudar e analisar a violência em seus dois lados: o que provoca o sentimento de insegurança, e o outro, que motiva o questionamento e a ação. Esse é decisivamente importante para o jornalismo televisivo nacional, pois, o tema enfoca um contexto histórico, político, econômico, social e cultural de cada ser humano, o que torna sobremaneira importante uma visão regional, nacional e mundial de tais ocorrências.

A sociedade brasileira nos últimos anos, melhor dizendo, no último século, vem sofrendo grandes modificações, principalmente no que diz respeito ao comportamento social dos indivíduos. A violência é um sinal dos tempos, um sintoma de questões e mudanças maiores que atravessam o mundo. O crescimento da violência tornou-se espetáculo obrigatório de exibição na TV brasileira. No telejornalismo, em geral, esses fatos representam, em média, 25 a 30 por cento do noticiário.

Aprofundar os estudos sobre a cobertura da violência no campo do jornalismo televisivo regional é um fator de extrema necessidade, pois, o povo passou a se interessar mais sobre o que se passa no dia-a-dia principalmente no que se diz respeito à violência. É necessário então que se aprofunde a consciência da forma como são realizadas as suas coberturas jornalísticas nas televisões regionais.

Com base nesta hipótese e também enfatizando a escassez da conexão da publicidade com a Comunicação Social Regional, este estudo pretende contribuir para a produção de conhecimento nesse campo, pois há a uma relação forte entre as elites locais e os media; o conhecimento partilhado por emissores e receptores quanto aos fatos e realidades constituem referências fundamentais para as mensagens jornalísticas, além de serem decisivos no resgate da memória da imprensa brasileira.

O que é visto jamais é esquecido, principalmente quando se trata de um fato marcante ou emocionante, porque o que fica registrado se torna produto de grande importância para o acervo midiático. Ao divulgar o trabalho de uma emissora, mesmo que ela seja de uma cidade de interior, os fatos registrados por ela ficarão documentados e mesmo que algum dia ela venha a ser extinta, ainda permanecerão na memória histórica não apenas na cidade, mas também em todo o país.

Maria Cecíllia Trannin argumenta no artigo Mídia e memória que as representações sociais, como as presentes no discurso da imprensa e da mídia, no discurso oral dos moradores mais antigos e de personalidades locais, ou ainda em fontes documentais, museus, institutos históricos, entre outros, são discursos memorialísticos produzidos na região; em cada um a memória faz lembrar e esquecer fragmentos da história.

Na mídia nacional a vida vivida e a vida através da ‘telinha’ vão recortando nossa sociedade e gerando novas gírias, costumes, valores. A mídia, hoje, denuncia e derruba ministros, candidatos, Presidentes, não mais se limitando a ser apenas um meio que transmite a vida gravada ou “ao vivo e a cores”. Ela vai muito além disso: “(...) Sabemos que a mídia não transporta a memória pública inocentemente; ela a condiciona na sua própria estrutura e forma”, diz o cientista social Andreas Huyssen em "Seduzidos pela Memória".

1. Violência, análise de discurso, jornalismo regional, mídia e memória

A cobertura da violência na TV Oeste, na cidade de Formiga, é o objeto de pesquisa deste artigo, pois o jornalismo televisivo em municípios interioranos, muitas vezes não é enfatizado como nas grandes metrópoles, principalmente quando se trata de noticiar a violência.

Este trabalho tem como objetivo geral, registrar a cobertura da violência na mídia formiguense. Assim sendo, espera-se que ele colabore para que se classifique os tipos de cobertura da violência na TV Oeste de Formiga, avaliando, dessa forma, a importância da cobertura dessa violência para o jornalismo regional em Formiga, além de iniciar uma análise do discurso da cobertura da violência, que salienta também a questão do não discurso.

Para efeito deste trabalho, é importante frisar os conceitos de violência, jornalismo regional, análise do discurso e cobertura jornalística.

Michaud considerou que uma maneira eficaz para se iniciar uma reflexão em torno da natureza da violência seria percorrer os sentidos dos termos. A partir da distinção entre estados e atos de violência, propõe a seguinte definição:

“Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais”.

Na opinião de João Carlos Correia, da Universidade da Beira Interior, o conceito de jornalismo regional se origina da possibilidade de se analisar a visão do jornalismo nas seguintes formas: como indústria cultural, como espetáculo e integração social, como ética e liberdade e, finalmente, como cidadania e regionalização. A partir deste panorama ele afirma em seu artigo:

“A identidade de regiões comporta a necessidade de mecanismos de produção simbólica que contemplem o reforço do sentimento de pertença. Os traços atrás descritos podem constituir reminiscências de uma forma de exercício da racionalidade parcialmente banida dos media de massa e que podem ser mantidas dentro do âmbito de uma proposta que tenha em conta, nomeadamente, a necessidade de superar os anacronismos que ainda residem no específico campo da comunicação social regional”.

O perigo maior da conversão do jornalismo em mídia reside na rede de dessubjetivação cuja conseqüência, entre outros efeitos, consiste na ativação de estados de vacuidade. As narrativas que se constróem com um discurso de base oral, buscam o grau máximo de envolvimento leitor, tirando, partido da relatividade dos valores individuais. Tais procedimentos revelam que “as palavras são também instrumentos de ação e não apenas de comunicação” (Marcuschi, 1982:23).

Para Foucault, a análise do discurso é voltada para a análise de enunciados e não pode ser equiparada à análise lingüística, nem o discurso à linguagem. Na sua visão conceitua que:

“A análise de discurso diz respeito à especificação sociohistoricamente variável das formações discursivas (algumas vezes referidas como discursos), sistemas de regras que tornam possível a ocorrência de certos enunciados, e não outros, em determinados tempos, lugares e localizações institucionais”.

Ao se tratar do conceito de cobertura jornalística, o professor Antonio Hohlfeldt expõe que:

“A cobertura dos acontecimentos exige a instantaneidade, mas há uma preocupação evidente com a censura ou o corte das comunicações, justamente por estar a área conflagrada. Por conseqüência, há que se avaliar a perspectiva de continuidade da cobertura ou não, sob o risco de se dar uma primeira série de informações”.

Ele cita ainda, Renée Dreyfuss em seu trabalho:

“(...) deve-se ter em conta a fragmentariedade da informação jornalística no mundo contemporâneo. Por conseguinte, não só "as notícias devem referir-se a acontecimentos o mais possível em cima do momento da transmissão do noticiário", quanto se cria, de certo modo, um ciclo informativo que depende da facilidade/dificuldade de acesso do profissional à área do acontecimento, a disponibilidade de instrumentos técnicos ou tecnológicos capazes de permitir a transmissão da informação e, enfim, mas não menos importante, o tempo necessário para que todas essas operações se concretizem”.

Em nível de reportagem na comunidade local, pode considerar-se que as elites desejam cobertura positiva. A objetividade da cobertura é um dos mecanismos de defesa e é garantida citando apenas as fontes de informação confiáveis.

Diante deste cenário, é possível esboçar um conceito de jornalismo regional, baseado na forma como a TV Oeste de Formiga veicula as suas informações sobre a violência:

“É um campo jornalístico que mantêm informações específicas e que simultaneamente, deve superar a presença do sensacionalismo, o constrangimento resultante da onipresença dos poderes locais e a ausência da formação e da profissionalização que ainda imperam em muitas empresas jornalísticas localizadas fora da capital”..

A identidade de regiões deve comportar a necessidade de mecanismos de produção simbólica que contemplem o reforço do sentimento e do trabalho de pertença. Os atos de violência na visão jornalística regional dizem respeito às notícias sobre agressões físicas, crimes e injustiças sociais dos párias da sociedade urbana, dos preconceitos em geral. Porém, não seria também um ato de violência da mídia regional o abafamento de alguns acontecimentos, quando estes tratam de envolvimentos com pessoas da elite ou autoridades locais?

2. A cobertura da violência em Formiga

A cidade está localizada no Sudeste Mineiro, a 168 km de Belo Horizonte e foi fundada há 145 anos. Formiga teve a sua emancipação política oficializada no dia 06 de junho de 1858. O município ocupa uma área de 1.500km quadrados e tem uma população de 65.869 habitantes, sendo que 46.651 são votantes. Integrante da micro-região do Vale do Itapecerica limita-se ao Norte, com as cidades de Pains, Arcos, Santo Antônio do Monte; ao Sul, com Candeias e Cristais; a Leste, com Pedra do Indaiá e Itapecerica e a Oeste, com Guapé e Pimenta. É um ponto central e de ligação entre os mais populosos núcleos do País. Formiga é conhecida atualmente como “Portal do Mar de Minas”, por sua proximidade ao Lago de Furnas.

A Fundação Educativa e Cultural de Integração do Oeste de Minas, mantenedora da TV Oeste está instalada há quatro anos na cidade. Foi instituída no dia 18 de janeiro de 1990, tendo como finalidade explorar serviços de radiodifusão, som e vídeo para todo o Oeste do Estado de Minas Gerais e Brasil, sendo seus instituidores: Alessandro Resende Pieroni, Alvano Resende Pieroni, Aurélio Pieroni, Jamila Dib Hussein de Arantes, José Mosar Arantes, Márcio Guilherme Gato de Castro, Maurílio de Arantes. Recebeu em agosto de 2001 outorga para geração de som e imagem através do canal 42 em antena UHF, com sede em Formiga, passando por período experimental, e em 2002 recebeu a autorização definitiva pela ANATEL.

Com sede à Praça Ferreira Pires, nº 20, Centro, a TV Oeste possui atualmente concessão para gerar e transmitir sua imagem e som via satélite para todo Brasil e para o Oeste de Minas Gerais, via link microondas e abrange as seguintes cidades: Arcos, Bambuí, Campo Belo, Região de Candeias e Cristais, Córrego Fundo, Formiga, Iguatama, Lagoa da Prata, Pains, Pimenta, Piumhi.

A meta da emissora é integrar em princípio as regiões circunvizinhas de Formiga e seqüencialmente o Oeste de Minas, através de divulgação dos valores cívicos, morais, culturais, religiosos e educacionais que formam a solidez pacífica e progressista destas regiões.

No ano de 2004 o índice de violência na cidade e regiões vizinhas foi bastante alterado. Porém a Emissora da TV Oeste, por ser uma televisão educativa, passa por algumas dificuldades em divulgar as coberturas jornalísticas. Diversos fatores contribuem para esta questão do não discurso (e também por não dizer o não lugar), a falta de mais equipamentos como câmeras, que são apenas três, falta de mais carros, a necessidade de efetivação da equipe de repórteres, para que possam trabalhar em horários revezados e com isto a TV terá condições de registrar o que acontece durante a noite, finais de semana e feriados. Porém, o fator principal que dificulta a cobertura da violência é a omissão de informações das fontes policiais. As polícias civil e militar não dão muita credibilidade ao trabalho da TV Oeste e com isto costumam a negar e omitir algumas ocorrências importantes dificultando o trabalho de divulgação na emissora. O índice de violência em Formiga pode se escalado da seguinte forma: em primeiro lugar classificam-se os acidentes de trânsito, dentro da cidade e nas rodovias da região, com média de mais ou menos três por dia, logo a seguir os furtos e tráficos, depois os suicídios, homicídios e denúncias.

A TV Oeste possui em sua programação apenas um noticiário diário que passa duas vezes por dia. Fora deste período se houver alguma notícia importante ela entra como plantão dentro de outra programação da emissora. A equipe de reportagem é composta de três cinegrafistas (amadores, mas que possuem boa experiência de câmera), seis repórteres, todos estagiários do curso de comunicação social da PUC Minas Arcos. A edição é composta por dois editores (também amadores), que executam o trabalho com muita competência e prática. Porém a TV possui apenas um veículo para a equipe o que também dificulta muito nas coberturas.

A equipe de reportagem tem que ficar sempre alerta, ligando para os postos policiais, insistindo tentando conseguir informações, pois, na emissora não é permitido trabalhar com o sistema de rádio-escuta. A direção não acha correto visto que a televisão está instalada em uma cidade pequena, onde há um grande círculo de amizades entre os diretores e a elite. Quando se trata de suicídio, a polícia só informa o fato um dia depois do ocorrido, portanto a divulgação vai através de nota simples. Da mesma forma é a questão da prisão por tráficos. A maioria delas são noticiadas em nota coberta. A polícia rodoviária é a que mais coopera e se preocupa em divulgar o trabalho exercido por eles. Sempre ligam e comunicam ocorrências de acidentes. De acordo com as estatísticas informadas pela mesma, em Formiga e regiões da jurisdição eles atenderam um total de 407 acidentes de trânsito no período de janeiro até meados de dezembro. Mas também costumam omitir alguns, como o caso de um acidente que envolveu o promotor de justiça da cidade, um amigo dele e duas prostitutas. A TV, só foi informada na manhã do outro dia e a direção pediu para não noticiar nada sobre o ocorrido. Outro caso recente aconteceu em um domingo, quando um médico da cidade, voltava de um passeio em Furnas e atropelou um rapaz. A vítima teve a perna decepada e morreu. Também só foi divulgado na segunda feira e com pouquíssimas informações.

Na primeira semana de janeiro deste ano, a 52ª Cia. Especial de Polícia Militar da cidade divulgou a toda a imprensa formiguense o balanço das estatísticas totalizadas em 27.858 Boletins de Ocorrências de fatos acontecidos até 31/12/2004, sendo 19.218 atendidos pela Polícia Militar e 8.640 atendidos pela Polícia Civil.

Os dados sobre a violência e criminalidade no município, foram contabilizados da seguinte forma: As prisões ficaram classificadas em 912 de adultos, 250 de adolescentes, 12 de crianças, 10 de armas de fogo, 81 armas brancas. As ocorrências de furtos e arrombamentos em residências e veículos somaram 130. Houve também um total de 20 suicídios e 05 homicídios. As brigas e lesão corporal tiveram a média de 70 ocorrências mensais. No percentual de usuários de drogas em Formiga os adultos somaram 45% e os menores 55%, sendo que foram presos 14 traficantes. Em média são presos 02 usuários de drogas por semana. As principais drogas consumidas na cidade são a maconha e crack.

Na Comarca de Formiga tem 11.262 processos para serem julgados, sendo:

2.850 1ª Vara, 2.500 2ª Vara, 3.422, Vara Criminal, 886 Juizado Especial e 1.604 Juizado Especial Criminal. O mais preocupante tanto pela polícia militar quanto para a polícia civil é que a criminalidade aumenta a cada dia entre os jovens, sem emprego, sem escola e sem esperança. A taxa de desemprego sobre a força ativa de trabalho em Formiga é de 16,25% e atinge de forma homogênea todas regiões e sexos. Estas condições socioeconômicas criam um ambiente de pobreza e vulnerabilidade social para a População.

As drogas oficiais, como cigarro e álcool vêm crescendo e aumentando os problemas para os atendimentos do Serviço Público, enquanto as drogas proibidas além de aumentarem a demanda pelos serviços policiais, entulham o cartório que recebe diariamente vários processos criminais. Diante de todas estas estatísticas quase 90% dessas ocorrências diárias não são noticiadas porque não há cooperação das fontes policiais.

A cobertura da violência na TV Oeste é categorizada dentro do padrão jornalístico da objetividade, veracidade, imparcialidade, esta principalmente, devido a TV ser exclusivamente educativa, exatidão/precisão e criatividade. Ela se enquadra também nas categorias formais clareza, simplicidade, concisão, ordem direta e rapidez (esta dentro do limite possível visto que, as condições de transporte da TV não colaboram muito, conforme foi citado acima). Porém algumas destas categorias às vezes não são executadas corretamente devido a fatores político-sociais. A equipe tem todo o cuidado na preparação do que vai ser lançado ao ar. Os dados e fatos são apurados com toda a certeza de que as fontes são verídicas. Há também o cuidado em relação à cobertura de furtos ou tráfico, quando os infratores são menores. Não se divulga nomes e nem mostra o rosto. Nos acidentes, no caso de vítimas fatais, também não é mostrada a vítima. A TV procura divulgar a violência urbana sem cair no sensacionalismo, pois o trabalho de uma TV Educativa é usar a mídia como utilidade pública e não como um veículo deturpador da comunicação.

O trabalho da TV Oeste atualmente já vem sendo bastante reconhecido na cidade e região. Muitas vezes as denúncias vem do próprio povo que já está se conscientizando da importância da cobertura dessa violência para o jornalismo regional em Formiga. A audiência teve um progresso inacreditável, por ser uma televisão de interior, nota-se que ela está concluindo o seu objetivo que é levar a informação em tempo rápido e preciso ao telespectador formiguense e das cidades vizinhas.

A cobertura da violência para o jornalismo televisivo em Formiga é importante porque serve para alertar a população da periculosidade que está pondo em risco a segurança de uma cidade que era caracterizada como um lugar calmo, tranqüilo e hospitaleiro. Através deste trabalho a emissora mostra uma visão panorâmica da violência urbana, e também, mesmo não tendo muito apoio, de como é realizado o trabalho da polícia local no combate à criminalidade.

Realizar um trabalho jornalismo regional não se torna muito fácil quando não se pode contar com o apoio de toda a população, visto que, ele se torna público, e tem tudo a ganhar se houver um aprofundamento na comunicação social que ainda mantém uma situação marginal, sob o ponto de vista da consideração dada por parte das organizações profissionais e instituições. A TV Oeste precisa de inovações neste sentido, pois, não existe um profissional formado em jornalismo na emissora, e muitas vezes os estagiários, apesar de ainda não serem diplomados tentam levar a emissora dentro das regras e padrões jornalísticos, mas são obrigados a cumprirem as ordens da direção, que apesar de ser composta por vários integrantes não possui um profissional graduado na área de comunicação social, e fazer um trabalho distorcido. Um caso que pode exemplificar isto é a questão das imagens e notícias de acidentes que um deles sugeriu um fundo musical ao transmitir as imagens e que os repórteres preocupassem, ao editar este tipo de matéria, em mostrar mais imagens com este fundo musical, e não dar muita prioridade em encaixar os textos respectivos ás mesmas. O fato de a emissora ser educativa não interfere na maneira de exercer o jornalismo da forma correta. Ao contrário, há a necessidade de transmitir ao público-alvo a informação precisa em uma linguagem característica da população, sem abalar a integridade moral das pessoas.

A TV Oeste necessita além de mais recursos, uma mudança na sua estrutura, mais profissionalização, pois ela já não está mais em caráter experimental e se não houver uma mudança na sua organização ela não durará por muito tempo.

Se o papel da mídia regional, como no caso da cidade de Formiga, é interagir a comunidade com a informação e servir de veículo de ajuda aos problemas da sociedade, principalmente as classes mais baixas, que diariamente procuram a emissora, porque traçar apenas a história das classes marginais urbanas, se na maioria dos casos entre a elite e a pobreza, muitas vezes o crime parte da classe alta?

Conclusão

Conclui-se então que a cobertura da violência na TV Oeste, por mais que haja empenho dos repórteres, poderia ser feita de melhor forma, visto que as ocorrências estão nas ruas todos os dias. O que falta na emissora é a conscientização por parte dos diretores, de que o projeto experimental que há quatro anos foi implantado na cidade, hoje está funcionando como um forte emissor jornalístico para a cidade e região, chegando às vezes a ultrapassar a mídia impressa formiguense.

Já não se pode mais manter a emissora com pessoas trabalhando apenas em horário comercial, pois a notícia não tem hora para acontecer. A cidade cresce e a emissora tem que acompanhar esta evolução para não deixar a desejar ao telespectador, visto que a audiência do noticiário esta sendo bem repercutida devido aos horários em que ele é transmitido.

O próprio público está exigindo esta inovação, e por incrível que pareça, esta exigência vem das classes mais baixas, inclusive as críticas sobre as matérias, talvez seja porque estas pessoas são as que dão mais credibilidade na emissora e são as que mais procuram pela ajuda da mídia para divulgar a violência que está presente no dia-a dia de suas vidas. Muitas vezes as pessoas procuram recursos na TV devido à falta de eficiência da polícia. Em alguns casos de denúncias assim, a equipe consegue chegar no local bem antes dos policiais e é isto que está fazendo com que a credibilidade e audiência da emissora, cresçam ainda mais.

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