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TRANSCRI??OENTREVISTA 01(ENTREVISTADOR A) Bom dia professor. ?, o senhor pode nos contar, é, inicialmente como foi a sua vida escolar?Beleza. Bom, primeiro que eu sou filho de m?e normalista, né, a minha m?e era professora, ent?o sempre eu quis ser professor, e isso veio ent?o a calhar, quando eu passei no vestibular, né, no final de noventa e nove, iniciei em dois mil a faculdade de História na UDESC, e logo na sequência, isso come?amos em mar?o a Universidade, em abril surgiu uma vaga na escola onde eu me criei lá, no Bairro Vendaval em Bigua?u, e acabamos ent?o iniciando a experiência docente, mesmo n?o tendo ainda um estágio, mesmo n?o tendo aprofundamento. Tanto é, que hoje se eu for fazer uma análise assim do que é, eu era como professor lá em dois mil que eu sou hoje, essa diferen?a é do dia para noite, né, a experiência, a forma de lhe dar com a, por exemplo, com disciplina, com outras quest?es que est?o ligadas, principalmente História, História, geralmente Filosofia também que é a minha paix?o também. Ent?o é, que s?o matérias teóricas que tu tem que levar a reflex?o, tem que tentar contribuir para que o aluno reflita né, ent?o isso tudo, o cara aprende, mas uma coisa é certa, sem conhecimento tu n?o domina turma nenhuma, ela pode ter turma como que nós temos aqui, nessa escola de aqui de cinco alunos, se tu n?o tens conhecimento, você n?o tem conhecimento de causa, se tu n?o lê, e o meu vício é leitura, ent?o isso me ajudou muito, mesmo no início lá né com mais dificuldades, porque n?o tinha o domínio do conteúdo, porque n?o tinha experiência, n?o tinha forma??o acadêmica ainda, ent?o tudo isso, me ajudou foi à leitura, a leitura me libertou, aí eu pegava o Paulo Freire, eu pegava n?o sei o que, aprofundava, um filosofo que eu embaso todas as minhas ideias e a??es, que é Nietzsche, né. Nietzsche tem uma frase muito linda, que eu sempre repito, toda a turma que eu vou come?ar o início do ano eu coloco a frase no quadro: “Se a história n?o servir pra vida ela n?o serve para nada.” Ent?o é mais ou menos dessa forma que eu vou pautando a...(ENTREVISTADOR A) E a sua forma??o, assim, na escola mesmo, no Ensino Fundamental, no Ensino Médio, como é que foi?Isso é. Ent?o, na escola na verdade, e aí pega minha, eu aluno, né, eu tive grande professores de História, tive a Professora Regina que eu nunca me esque?o, que ela, só que aí já no final do ciclo do Ensino Fundamental, né, que ela era muito crítica, o meu sonho, eu me espelhei nela, tanto é que depois de me tornar professor, a partir de dois mil etc., fiquei um grande tempo sem, sem, sem estudar, enfim. Quando eu retorno, eu retorno com aquela imagem dela assim, porque eu tive excelentes professores, todos, desde quinta série antiga, que hoje é sexto ano, né, até a oitava série, nono ano atual, os professores foram excelentes, porque eles principalmente eu tive a sorte de professores leitores, e aí alimentaram mais ainda né, a minha m?e já, já era leitora, enfim, leitores, e que estimularam através de indica??es de livros e etc, e também por causa da aula assim crítica, ou seja, crítica n?o no sentido daquela crítica como é que eu posso dizer, n?o é aquela crítica, criticar por criticar, né, a crítica que eu estou falando é aquela que pegava os fatos históricos no material didático, no caso, e questionava esses fatos, por exemplo, o mito sobre o índio, né.(ENTREVISTADOR A) O bom selvagem...O bom selvagem. Ent?o, quer dizer... Essa professora ela era genial, ela foi que mais me marcou, ela na verdade é, é, desconstruía esse mito, e colocava diante de nós os índios como eles eram, os índios s?o seres humanos igual a qualquer outro, n?o s?o nenhum mito que tá lá para ser idolatrado, porque se nós formos visitar hoje uma aldeia indígena, a gente n?o vai encontrar aquele mito, é daí, como é que fica, como é que nós vamos lutar...? Ah, mas eles n?o usam celular, e o que os alunos dizem, mas eles usam, porque eles s?o aculturados, porque a civiliza??o ocidental n?o respeitou a cultura deles, imp?s a sua religi?o e a sua cultura para esse povo. Ent?o, e os professores... Eu tive a sorte de como professor de História ter tido professor no caso de, de História, sensacionais, e todas mulheres, grandes mulheres [risos].(ENTREVISTADOR A) Foi aqui em Bigua?u a sua forma??o?Sim. A minha forma??o foi em Bigua?u, né. A primeira série eu comecei em mil, novecentos e setenta e nove, finalzinho da Ditadura Militar no Brasil, Figueiredo era o presidente ainda, enfim, e em escola pública sempre, só o Ensino Médio depois eu vou concluir na escola particular. Mas toda a base do Ensino Fundamental que realmente me serviu foi em escola pública, e comecei no colégio, na Escola Básica José Brasilício, hoje ativa ainda em Bigua?u, no Centro de Bigua?u, depois do início, fiz todo o Ensino Fundamental. No Ensino Médio, aí eu fiz o primeiro ano no Maria da Glória, que é também escola pública de Bigua?u, depois eu acabei concluindo num colégio, que aí eu fui para o Seminário, aí conclui no Seminário, no caso, particular. Mas todas foram na própria cidade, e aí tenho até orgulho de já ter trabalhado também em escolas que eu estudei, no caso, basicamente assim.(ENTREVISTADOR A) E na sua vida, em que momento que se deu essa escolha por História?Pois é, dizem que eu fiz a escolha errada, mas eu gosto daquilo que fa?o, só sei fazer isso, só sei dar aulas, pra todo o resto sou incompetente, dizem que n?o, mas é verdade, essa é uma grande realidade, eu na verdade... Talvez tenha, realmente tem, que muito da nossa personalidade vem geneticamente, a minha m?e era professora, e dos sete filhos, só dois se tornaram professores, eu e minha irm?, minha irm? na Educa??o Infantil, e eu preferi no caso, no caso, História, porque é uma paix?o, uma paix?o minha História e Filosofia, tanto é que eu sempre pensei, eu vou me formar em História, depois eu vou fazer Filosofia, realmente eu vou come?ar esse ano filosofia, ent?o para poder, né, n?o morrer sem ter realizado esse sonho. E eu sempre tive ligado às humanas, apesar de eu no início ter pensado em ser advogado, aquele negócio todo, enfim, mas n?o tem jeito, o que está no sangue, está no sangue. E na verdade por ser de família pobre também, aquele negócio todo, e a História está mais do lado crítico da coisa, né, buscando sempre questionar a realidade, isso para mim tinha um sentido, um significado, né. Eu venho de uma família, no caso, de esquerda, né, o meu tio, por exemplo, foi preso em 64, foi torturado, meu pai participava do PCB antigo, que hoje é PPS, mas n?o tem mais nada a ver com aquilo que era antes. E tudo isso me empurrou para História, n?o por causa das amizades... Hoje, por exemplo, eu sou um crítico da esquerda brasileira, do movimento, dos próprios países que hoje s?o socialistas, sou crítico, porque eu acho que democracia é uma constru??o, e essa constru??o passa necessariamente, né, pelo debate, né, pela troca de experiência, e um país se fechar, né, como a Coréia do Norte, e eu sou contra, tudo aquilo que fecha a sociedade, eu sou a favor de uma sociedade que seja emancipatória em todos os sentidos, se isso é socialismo, sou socialista; se isso é capitalismo, capitalista n?o sou, mas defendo uma sociedade dessas, mas, enfim.(ENTREVISTADOR A) Ent?o, quando o senhor prestou vestibular já tinha essa ideia de ser professor?N?o.(ENTREVISTADOR A) N?o?Essa eu só respondo com um grande n?o, porque eu na verdade sonhava em ser historiador, e aí na UDESC, havia o seguinte: você era graduado, se graduava como bacharel e licenciado, n?o havia escolha, como a Filosofia, por exemplo, na Federal, você chega na quinta fase e escolhe se quer o bacharelado, se quer licenciatura. E na UDESC n?o havia, ent?o era obrigada a passar pelo crivo da sala de aula. Mas hoje, interessante, para ver como a coisa ela foi amadurecida, né? Ent?o depois é que eu vi, quando eu entrei em contato com a primeira escola, aí eu disse, n?o, é isso aqui que eu quero. Mas antes n?o, a ideia era fazer bacharelado, interessante né, n?o era partir direto para educa??o.(ENTREVISTADOR A) E o que o senhor acha que influenciou nessa escolha de ser professor, e também na escolha de fazer História, além do que o senhor já falou?Isso é. História é por causa disso, na verdade, por causa da própria forma??o política que eu tinha, que era mais crítica, e isso me levou ent?o a escolher História, a sequência dos cursos seria Filosofia, as duas que me aproximavam mais, que eu gosto, a minha leitura é nesse campo, né, se for ver a biblioteca que eu tenho lá em casa tem poucos livros, mas, dos poucos que eu tenho a maioria s?o de História e Filosofia. ? o campo que eu sempre li desde pequeno, e por isso eu, no caso é, escolhi esse campo. A História pelo fator de querer entender como o mundo é o que é hoje, se a gente, é aquela... Volto à frase do Nietzsche, né, se ela n?o ajudar para compreender a própria vida, por exemplo, para potencializar a vida, a nossa, n?o vai servir para nada, e automaticamente através da História você consegue além de construir a sua História de forma mais consciente, você consegue também entender o porquê que nós usamos a roupa que usamos, comemos o que comemos, pensamos da forma que pensamos, enfim, isso nos, é, como é, nos dota de capacidade de mudan?a, quando eu tenho consciência, n?o da origem, Foucault já trabalha outra ideia, né, Foucault trabalha a ideia de buscar no passado uma origem, mas de buscar as várias formas que contribuíram para que nós chegamos a ser hoje o que nós somos, ent?o... e é justamente isso que me encantou na história, que sempre me encantou por causa de leituras que eu já fazia, eu lia e até é legal comentar, o primeiro livro que me fez encantar com História foi O que é História, da Cole??o Primeiros Passos da Editora Brasiliense, que bacana, eu tenho que ser historiador... Ent?o eu já gostava de História, depois que eu li aquele livrinho aí mesmo que eu me encantei, aí prestei o vestibular, passei no vestibular, prestei para Filosofia na UFSC e História na UDESC, e passei em História na UDESC ent?o, e acabei me tornando professor de História, mas isso foi uma coisa a posteriori, de início era ser historiador, por causa do livrinho, pá, pá, pá, e depois fui me encantar, até hoje, treze anos aí em sala de aula, n?o tem jeito, é um vício, é uma cacha?a isso.(ENTREVISTADOR B) E o senhor ainda tem esse livro?Tenho, tenho.(ENTREVISTADOR B) Eu gostaria de ter oportunidade de ler...Eu até emprestei ele, é muito bom o livrinho, é pequenininho assim [mostra o tamanho com as m?os], mas é muito bacana, ele te empolga, assim, e agora eles fizeram uma edi??o nova, agora atualizada, que tem termos ali que era da época ainda da Uni?o Soviética, enfim, mas é bem interessante.(ENTREVISTADOR A) E o senhor sempre teve convicto dessa escolha, ou assim no meio da faculdade pensou em desistir e mesmo depois de formado?Na verdade é o seguinte, é o que eu queria ser, entendeu, ent?o isso já tava posto, tava decidido, n?o, quero ser, e depois vou fazer Filosofia na sequencia, mas quero ser historiador, professor de História a posteriori, mas historiador inicialmente, mas com certeza a vontade de desistir sempre vai acontecer, que tipo, História te exige muita leitura, e aí, quer dizer, tu está na sala de aula tu tem uma... primeiro, que preparar, que tu n?o é formado ainda, ent?o vais ter que se preparar para ser muito bom, que os alunos v?o perguntar, v?o questionar, v?o te testar, é muito interessante, essa rela??o é apaixonante, a rela??o... Eu t? tendo aula agora, no outro colégio que eu dou aula um aluno eu citei uma frase lá e acabei falando que era de tal autor, e o aluno, hoje eles têm tecnologia, ent?o eles pesquisaram, botaram no Google, olha só que bacana, eu achei bacana isso, e aí “Professor, essa frase n?o é de fulano de tal.” Aí eu digo, “N?o é? De quem é ent?o?” Aí era uma frase que eu deleguei a John Locke, e na verdade era de Voltaire e aí ele pegou, Voltaire, mostrou para mim, no smartphone, olha que bacana, e realmente era de Voltaire, aí eu peguei o meu livro lá e digo “Olha, perfeito, meus parabéns”. Mas que depois de treze anos, aconteceu isso semana passada, até o meu irm?o diz, “Se um aluno perguntar uma coisa e você n?o souber?” Professor é especialista, ele n?o é dono da verdade, ele n?o sabe tudo, tem que ter a hombridade, a humildade de pedir desculpas, e eu pedi desculpas, “N?o precisa professor, foi um equívoco”, claro, mas é para provar que a gente n?o sabe tudo, que conhecimento é constru??o, “E você acabou de me dar uma aula agora”, e a coisa foi bacana por isso, e os alunos também te testam, e essa quest?o da, da, da experiência de querer desistir acontece também, é muita carga de leitura, eu lembro que a carga de leitura de História da UDESC era em torno de 400 páginas semanais, eu digo, como é que eu vou preparar aula, elaborar provas e trabalhos, corrigir esses trabalhos e ainda estar em sala de aula... Se tu conseguisses só estudar, maravilha, agora tu trabalhar e estudar é muito complicado, que depois em 2001 nasce a minha filha, que inclusive é minha aluna aqui nessa escola, a Sofia, ent?o aí tudo complica, por isso que eu atrasei um semestre, tive que parar, e aí aumenta a despesa, aquele negócio todo, querendo ou n?o tu gasta, é fotocópia, mas tu gasta, gasta com passagem de ?nibus, gasta com fotocópia, enfim, tudo isso acumula, e aí deu vontade, assim, deu vontade de parar, pra que isso, é melhor trabalhar lá onde meu irm?o trabalhava de vendedor e ganhava dez vezes mais do que eu. Porque que eu t? igual esse louco na sala de aula, ent?o dá assim esse desestímulo por causa da falta de compromisso... Eu trabalhava em escola particular e pública, tive as duas experiências, muito bacana isso... Essa aqui é particular. Ent?o aí a gente comparava assim, a pública sempre com um salário mais defasado né, e o mesmo trabalho da outra, ent?o, quer dizer, o professor, por exemplo, leva trabalho para casa, ele n?o trabalha só lá na reparti??o, na escola, na sala, reparti??o pública n?o, tu tens o teu trabalho lá, acabou o teu horário deu, acabou, tchau, amanh? eu volto, e tu n?o leva esse trabalho para casa, e o professor infelizmente tem esse... Antigamente houve até um processo que agora está sendo reavaliado de fazer a hora atividade do professor, ou seja, você trabalha vinte horas, você ganha dez horas a mais, né, para poder preparar, corrigir, etc., mas também você n?o pode trabalhar em outra escola, que é um compromisso, ou ent?o a carga cheia... ? igual professor universitário, ele ganha quarenta horas, mas trabalha vinte, para poder ter esse tempo de aprofundamento, né. Ent?o isso realmente desestimulou, a quest?o financeira, a quest?o de desvaloriza??o da classe, tudo isso contribuiu assim pra gente pensar realmente em desistir, mas depois, é uma cacha?a [risos]; n?o tem jeito, quem gosta, gosta, quem n?o gosta n?o vai entender nunca né.(ENTREVISTADOR A) E como é que foi a sua forma??o na UDESC?Foi muito boa, tive excelentes professores, assim, claro que sempre tem aqueles que marcam mais, e eu como tenho muita leitura eu gosto muito de quem também lê. Ent?o a Maria Teresa, professora, deu uma cadeira que era... Na UDESC tem o seguinte, as cadeiras, no caso, que s?o obrigatórias, e tem as optativas, que você tem que cumprir ao longo do curso, e uma optativa foi a História da Leitura, que foi muito interessante, foi com essa professora, ent?o a UDESC na época tinha maioria, hoje parece que s?o todos doutores, a maioria era doutor, ent?o, e gente muito crítica, muito comprometida, preparava aulas decentes, que a gente sabe quando o professor tá despreparado, e o aluno sabe também, e nesse percurso de treze anos, eu n?o vou ser hipócrita, a gente, muitas vezes tu tava sobrecarregado e n?o conseguia preparar uma aula, e aí tu ia meio para ser artista mesmo, tinha que ser ator de teatro, entendeu, puxar na memória o que deu, e dali construir uma aula [risos], é sério, porque n?o dava pra ti também fazer tudo como tinha que ser, como deveria ser feito, mas lá a forma??o foi excelente, uma forma??o muito crítica, e o grupo de professores, eles s?o meio que divididos, assim, eu acho bacana isso, uns que t?o mais ligados à História Social, no caso, e a linha marxista, da historiografia, e outros t?o mais ligados à História Cultural, à História das Identidades, de Gênero e etc., que est?o mais ligados à Michel Foucault, à Deleuze, enfim, a outro campo... E esse contraponto me ajudou muito a formar o que eu sou hoje, n?o aquele cara fechado na ideologia, mas um cara que procura ver as verdades que existem em cada pensamento, isso é bacana, até para a sala de aula, forma??o pessoal.(ENTREVISTADOR A) E o estágio docente, como é que ele contribuiu para sua vida profissional?Muito, muito, muito, porque aí eu retorno, tive experiência como aluno, excelentes professores, excelentes, mesmo sendo... Eu fiz Ensino Fundamental no final da década de setenta, eu fui me formar em oitenta e seis, ent?o, quer dizer, nono ano atual, oitava série que seria, né? Nesse percurso a gente já tinha uma experiência, entendeu, e mesmo esses professores mais, ah, somos gera??o passada, aquele negócio todo, eram professores altamente din?micos, eu fiquei surpreso, e talvez por isso eu vim a optar, né, e depois no Ensino Médio novamente, professores excelentes de história, essa, essa, como é que se diz? O estágio na verdade fez o quê? O contraponto, eu vi o que tava lá na década de oitenta, vi no início, né, no início de noventa no Ensino Médio e depois eu vou ver lá em dois mil, eu t? pegando três gera??es de professores, e me ajudou muito isso, mas muito, muito, muito, porque, primeiro, eu contrapus as três para minha própria forma??o, e aí, qual é o professor que eu quero ser? Isso que foi bacana, porque já no estágio eu vi professores que teoricamente já estariam no século XXI, mas com uma prática que era antes da década de oitenta do século XX, ent?o quer dizer, ou seja, e aí como é que eu posso dizer, que a professora Regina, que é a que eu n?o esque?o, que marcou mais no Ensino Fundamental, como que a professora Regina consegue dar uma aula de qualidade, embasada, com conhecimento, pá, pá, pá, e no século XXI professor também efetivo, pá, pá, pá, consegue dar uma aula que n?o estimula ninguém, aí... Aí quer dizer, o que é que eu fiz, eu peguei todas essas experiências, na minha cabe?a, né, todas essas experiências, coloquei no amplificador, né, (...) pus professores da universidade, com tudo isso aí eu formei o meu ser professor, que é um ser em constru??o, ainda tá, t? aprendendo até hoje, acabei de falar de uma li??o que um aluno me deu, né? Ent?o, enfim, foi muito bacana por isso, porque eu pude contrapor essas experiências, seja como aluno lá no Ensino Fundamental e Médio, seja como acadêmico na época, e no estágio comparar essas várias temporalidades, foi muito... Uma experiência muito boa. E construí um professor que os alunos conseguem também gostar da aula, porque a gente tenta trabalhar tudo, trabalhar multimídia, livros, enfim, de várias formas, filmes, trabalho muito com filmes.... Ent?o isso eu aprendi com a Professora Regina.(ENTREVISTADOR A) O senhor acha que ent?o isso que levou a construir a sua metodologia hoje?Construir a metodologia hoje, n?o tem como, eu acho que isso é um processo de reflex?o mesmo, a gente tem que refletir, e pegar o que tem de bom, todo mundo tem, mesmo aquele lá do Século XXI, era t?o habilidoso, talvez porque estava em início de carreira. Mesmo ele ensinou alguma coisa, talvez até o que n?o fazer, ou seja, o professor n?o deve convencer, por exemplo, eu aprendi com ele isso, o professor n?o deve convencer o aluno por autoridade que lhe é, né... Michel Foucault trabalha isso no livro Vigiar e Punir, trabalha também na Microfísica do Poder. Ent?o quer dizer, n?o é porque você é uma autoridade, que você tem que se impor, você tem que se impor pelo o seu conhecimento, você tem que se impor pela sua abertura ao jovem que n?o tem a tua forma??o, e n?o tem a tua leitura, tu n?o pode exigir dele, tu pode contribuir para que ele construa a sua identidade, a sua filosofia de vida, enfim, a sua história. Ent?o isso é uma coisa bacana.(ENTREVISTADOR A) Nesse período assim de estágio profissional, o senhor teve alguma experiência negativa assim que marcou?Tive, na verdade é o seguinte, primeiro a observa??o, depois a gente pratica a aula, no caso, né. E na observa??o eu consegui captar, por exemplo, o profissional admitia alguns erros, e ele cometia alguns erros, claro que eu como estagiário n?o vou chegar, n?o está errado, n?o tem nem como, n?o tem sentido, eu n?o tenho autoridade para isso, né. E quando ele se equivocava, ele se alterava, ent?o quer dizer, eu presenciei uma coisa terrível de um aluno lá que na verdade ele tinha conhecimento, eu notava pela fala dele, tinha conhecimento de causa, e acabou questionando o que o professor falava, o professor apenas reproduzia o que o aluno lia, talvez ele n?o tava num dia bom, o professor é um ser humano igual a qualquer outro. E ele acaba dizendo, “N?o, é isso que eu falei, e pronto”. Ficou uma situa??o, e o guri mostrando no livro para a gente, e eu digo e agora o que eu fa?o aqui, eu me escondo, me enfio num buraquinho [risos], o que eu fa?o aqui, ouvi quieto, e é o que eu fiz, fiquei quieto, fiquei na minha, e depois eu conversei com o professor, e é assim: “Vê que n?o pode dar mole”, eu n?o me esque?o da fala, até achei constrangedor. “N?o pode dar mole para essa gurizada n?o, que eles acham que sabem alguma coisa”. Mas aí nesse caso ele estava correto, n?o sei o que, pá, pá... “Ah, mais errar a gente erra, mas n?o pode admitir, o professor n?o pode admitir o erro”. Mas como que n?o? E aí gerou um conflito, porque aí o que acontece, depois ele vai me observar, porque eu vou interferir, eu vou dar aula também, e a primeira observa??o, depois aí... enfim. E aí ele meio que tentou, nas aulas eles vinha, a aula ia ser, tipo, adoro Grécia, sobre Grécia Antiga, que ele estava trabalhando com uma turma “x”, ele vinha com um monte de perguntas, eu era um estagiário, né. Mas eu, claro que eu n?o preparei isso, foi a coisa mais constrangedora, e ele come?ou a fazer perguntas, perguntas, perguntas, e eu pimba, pimba, pimba, respondia, o que eu n?o sabia, digo “Ah, infelizmente eu n?o sei, mas eu posso pesquisar, e na próxima aula quando eu vier...”. E aí eu acabava com ele, e os alunos ficavam “P?, isso é bacana”, entendeu? E aí ele come?ou a ver que a prática dele tinha que ser corrigida, n?o os alunos tinham que ser. Ent?o foi muito bacana, foi constrangedor, sem dúvidas, mas foi bacana por isso. Talvez eu n?o deveria ter falado com ele, n?o sei, enfim, mas aconteceu dessa forma, e eu achei bem legal.(ENTREVISTADOR A) E como é que foi a sua primeira experiência profissional como professor?Pois é. Comecei na escola pública, no Avelino Müller, Prefeito Avelino Müller, aqui no Bairro Vendaval, isso em dois mil, bem no ano que iniciava na faculdade, e foi muito positivo, assim, porque, eu apesar de tá iniciando, eu já tinha uma história naquela comunidade, eu nasci e me criei ali, na escolinha eu n?o até n?o estudei, estudei até um meio ano, depois voltei para Maria da Glória. Mas eu tinha uma historia já, uma história como líder comunitário, uma história... Ent?o quer dizer, o A... que tava lá em dois mil iniciando a carreira de professor já tinha uma história na comunidade, ent?o eu era respeitado por isso, né. Ent?o devido a isso ajudou muito, a dire??o mesmo que foi, nossa, a dona Esmeralda, a diretora, foi muito querida assim, se tinha um problema ela vinha conversar, ela que já tinha vinte e poucos anos de magistério, ela vinha, “A..., ó, faz assim...”. Ent?o isso também ajudou muito, ent?o ajudou na própria dica que ela dava pras aulas. “Tenta fazer isso, faz aquilo”. No início, por exemplo... Por isso que eu digo, se a gente for analisar o início e a agora a diferen?a que é, no início a gente meio afoito, n?o sei o que, e aí tentava impor a coisa pelo grito, a indisciplina, depois ela disse “A..., isso n?o adianta”. Quer dizer, foram conversas que mesmo em dois mil no final do ano, logo já era mais maduro, né, com mais domínio de turma. No início é um grande desafio, domínio de turma é um grande desafio. Na outra que eu trabalho aqui, aqui tem cinco anos, lá tem quarenta e sete alunos, e eu consigo ficar quarenta e cinco minutos com eles prestando aten??o. Os próprios alunos cobram, né, quando um colega, como é que se diz, está conversando, “N?o, pessoal, vamos prestar aten??o!” Os próprios alunos, eu n?o preciso mais me estressar, no início ia lá bater a m?o no quadro, n?o sei o que, para tentar impor uma autoridade que eu n?o tinha, entendeu? Por quê? Porque me faltava conhecimento, por isso que a forma??o é importante, e a continua??o dela também é leitura.(ENTREVISTADOR A) E a sua metodologia foi mudando ao longo...?Foi mudando, foi um processo, sem sombras de dúvidas, um processo. Muito cuspe e giz, eu sou teórico até hoje [risos], ent?o é o que eu digo para o pessoal, o que mais procuro, por exemplo, lá e aqui também, a gente faz no contraturno, que infelizmente n?o dá para pegar um filme e aí ocupa toda uma manh?, toda uma tarde, ou toda uma noite. Ent?o aí eu fa?o um contraturno, vamos supor, assistimos a um filme sobre o tema, e aí come?amos a discuss?o sobre, no caso o tema, tipo, é Revolu??o Francesa, ent?o a gente pega filmes de época, né? Para eles é complicado, porque é tudo legendado, e eles querem tudo dublado, mas mesmo assim eles conseguem capturar. Ent?o, por exemplo, tem um filme que eu gosto de trabalhar muito, quando eu trabalho a quest?o da Revolu??o americana, né, eu trabalho muito As bruxas de Salém, que é um filme superbacana, para trabalhar a quest?o de como se construiu essa americanidade, como que se construiu esse processo, foi negando a feminilidade, foi negando a mulher no processo histórico, né, foi subjugando, foi excluindo o negro do processo, porque o processo... Abraham Lincoln, oh, fizeram um filme. Aí eu tava tecendo algumas críticas numa turma aqui do Lincoln... O pessoal “Ai, professor, também acabou com a ideia que eu tinha de Lincoln”. Uma ideia rom?ntica, vamos botar o homem real, o cara que proibiu algumas coisas, o cara que, enfim, libertou o negro, mas n?o por causa que... uma quest?o humana, libertou porque precisou de m?o de obra que tivesse dinheiro no bolso para consumir os produtos, quer dizer, e um país capitalista. E aí o pessoal come?a a ver a coisa de outro modo. Mas foi muito interessante assim o processo, e mudou com certeza, no início era mais giz e saliva mesmo, depois eu fui mesclando, comecei na escola, faz tempo, foi na época ainda que era o retroprojetor, hoje é data show, ent?o aí eu comecei a usar o retroprojetor, e aí a aula ficou sendo din?mica. Outra coisa, no início que a gente n?o tem muita experiência, a gente vai mais para leitura, hoje eu pouco leio livro didático, ent?o a aula é preparada mesmo antecipada em casa, eu sei o ponto, eu que o livro está tratando, e aí eu digo, agora eu vou na página tal, leio o texto tal, aí eles v?o lá naquele texto, e aí, o que vocês entendera, n?o sei o que... E mais discuss?o, ent?o mudou completamente, hoje, isso hoje, mas na época lá era leitura, pá, pá, pá... Eu ia lá e explicava, ent?o quer dizer, a coisa era monótona, aí digo gente eu estou repetindo que eu via e o que eu achava e o que n?o achava certo, e cadê a professora Regina, eu comecei a pensar, como é que ela fazia, aí comecei rememorar, p? ela fazia tal coisa, eu vou tentar fazer dessa forma, e come?ou dar certo, tanto é que a gente tem assim um respeito muito grande, meu pelos alunos, e os alunos me respeitam muito por causa disso, por causa dessa... Muda sempre. Outra coisa que é muito interessante, o professor sempre tem que se perguntar, na verdade qualquer profissional, né? Tem que se perguntar, o que é que eu posso fazer para dar essa aula com mais qualidade, essa é uma pergunta que tem que ter, e essa pergunta, aí vêm um monte ideias, perguntar, o que é que eu posso fazer? E é a coisa mais incrível, com essa tecnologia que nós temos hoje, minha nossa! Aí eu estou nessas coisas de facebook, face isso, face aquilo, ent?o a gurizada também tá, eu crio grupos no próprio face lá com os alunos, alunos de Filosofia, que eu tenho dado aula de Filosofia, e História e n?o sei o que, ent?o eles adoram isso, que aí a gente faz algumas atividades que s?o feitas no próprio face, um grupo de estudo, ent?o eles adoram, e isso significa o quê? Que o A... lá do início era um, n?o quero mais ser aquele professor do início, e esse de hoje é muito diferente, nossa, poderia se dizer um camale?o, que muda constantemente, ent?o...(ENTREVISTADOR A) E nessas suas experiências iniciais teve algum momento que o senhor pensou em desistir?Sim, principalmente eu acho que aqui estou sendo bem sincero, n?o vou ser hipócrita, pensei em desistir, principalmente quando aconteceu um fato horrível numa escola na divisa de Bigua?u, Tania Mara, um amigo meu, professor Nazário, professor de Matemática, e ele era um cara muito sério, assim, dava uma aula até decente, tudo, enfim, e tinha, sempre tem nas escolas de periferia têm aqueles malas, né, que s?o realmente infiltrados lá dentro para poder distribuir drogas, enfim, e ele meio que bateu de frente, eu e ele, bateu de frente porque “N?o, porque n?o é assim, tens que estudar”. E o cara, tipo, ele n?o participava, olha só o absurdo, n?o participava, eu tive esse problema aqui, ele lá no Tania Mara. N?o participava das aulas e no final do bimestre queria nota, mas ele n?o fazia nada, n?o fazia prova, n?o participava, n?o vinha para a escola, só vinha no último dia. E eu tive problema aqui, ele chegou, esse guri, ele pegou e “Ah, eu quero saber a minha média?” Eu olhei pra ele “Mas quem é você?” Eu n?o tinha visto ele. Ele disse, “N?o, eu sou fulano de tal, n?o seio o que, pá, pá, pá. Eu digo, “Mas você tá reprovado por falta”. “Tu vai me dar média sete”, assim, “Tu vai me dar média sete, sen?o tu n?o sai hoje do colégio e se tu sair tu tá morto”, assim. Eu fiquei chocado, porque eu havia recebido a notícia do meu amigo que ele tinha sido espancado, e só n?o morreu porque passou um carro na hora e buzinou, aí o pessoal correu, eles quebraram todos os dentes dele, ele era efetivo, eu n?o, tava em início de carreira, ele era efetivo, e ele pegou, ele desistiu, pediu exonera??o, vai continuar numa profiss?o dessas? Os caras quebraram ele, porque ele fez a mesma coisa, “N?o, você n?o participou, você...”. Só isso. Ent?o pra mim foi a experiência, mais, assim, eu falei, gente, será que eu vou continuar? O cara n?o recebe um salário digno, decente, tenta dar o máximo de si, porque é difícil tocar uma Universidade e trabalhar ao mesmo tempo, e ver isso, digo n?o, aí eu cheguei em casa arrasado, mas é aquele negócio, é a quest?o da cacha?a, o cara quando é viciado n?o tem jeito, aí passou no outro dia dando aula assim, sem condi??o psicológica nenhuma, mas tem que dar, fazer o quê? Nietzsche até tem uma fase muito interessante: “Eu larguei o magistério, a educa??o, porque que tem dias que o professor n?o tem nada a dizer, o ideal seria sentar e apenas conversar trivialidades”. E é verdade [risos]. Mas infelizmente a gente tem que dar conta do currículo, principalmente em escola particular, tem que acabar, o conteúdo tem que ser, esse capítulo no primeiro bimestre, no segundo tal, tem quem dar conta. E aí tem um momento assim como esse, e no outro dia eu cheguei arrasado, que o pessoal percebe também, o aluno percebe, que o aluno é mais inteligente que o professor, principalmente emocionalmente, ent?o eles captaram. “O que que houve?” Aí eu falei pro pessoal, olha, vamos sentar e vamos conversar, conversar sobre a vida, e foi até bacana, porque aí eu troquei, contei aquela experiência, ficou todo mundo chocado, né, que era uma escola com realidades diferentes, uma escola de periferia, a escola Maria da Glória n?o é de periferia, mas enfim, mas uma escola pública que tem esses problemas, os caras se infiltram mesmo, para poder vender drogas, poder aliciar a gurizada, é complicado, e também pela quest?o da idade, esse menino, por exemplo, n?o guardo nenhum rancor por ele, mas tomara que ele tivesse se libertado disso, mas ele, por exemplo, a turma era de primeiro ano de Ensino Médio, tinha em torno de dezesseis, dezessete anos e ele já tinha vinte e poucos, entendeu? Ent?o os caras se infiltram para realmente para aliciar, e aí só para fechar aquele caso, aí o que que eu fiz, no intervalo conversei com a dire??o, foi passado assim, assado, eu n?o vou dar aula, vocês est?o loucos se vocês t?o passando esse menino, vocês só t?o alimentando essa loucura dele, entendeu? “Mas tem que tomar cuidado”. “N?o tem problema nenhum, se for que for morrer hoje, beleza, morro em nome da educa??o”. Aí resumindo, chamaram a polícia no final, me escoltaram, me escoltaram até em casa e o menino de fato ganhou zero em todas as disciplinas e foi reprovado por, por, né, por falta, né? Ent?o, enfim, resolveu a quest?o, né, até hoje ele n?o me pegou, faz tempo [risos], foi em 2006 isso, seis anos depois de ter come?ado, ent?o, mas mesmo assim, deu vontade de desistir, no caso, nesse sentido, mas n?o tem jeito, depois vem aí os alunos... Até me emocionei agora, os alunos percebem isso também no professor, e aí eles come?aram a dar carta para mim, “N?o pode desistir”, n?o sei o que. Que nessa conversa que eu tive eu cheguei e disse: “Olha, eu t? querendo desistir, que n?o tem sentido isso, aí no outro dia, dentro do escaninho, tem um monte de, assim, que a gente tinha um armário, colocaram um monte de cartinha, “Ai, professor, n?o desiste, você é o melhor professor”, n?o sei o que. Ent?o, foi uma experiência bacana [emociona-se], e vale a pena por isso, pelos alunos, mas a educa??o tem isso, também é uma coisa que a gente n?o pode ter aquela ideia, aquela ilus?o de que eu só vou ter bons alunos na minha frente, eu dava aulas pra todos, eu nunca excluí ninguém, porque eu também n?o fui um grande bom aluno, né, no meu passado, ent?o como é que eu vou cobrar que os outros sejam? Ent?o o maior erro do professor é esse, ele querer, querer no caso, que todos sejam bons alunos, n?o, ele deve oportunizar conhecimentos para que todos tenham a possibilidade de ser, e aí n?o depende dele que cada um tem o seu tempo, cada um tem seu tempo na vida pra poder lutar por aquilo que ele quer, enfim, e a gente n?o pode impor, né, ent?o eu acho que a gente tem que socializar o conhecimento, e o que ele vai fazer com ele, bom, o que eu posso dizer, cada um é dono de si e cada um tem seu tempo, quem sabe no dia lá ele vai resolver, “N?o, mas eu quero, eu quero estudar”. Um chegava assim, dizia “Ah, professor, eu n?o gosto de estudar”, n?o sei o que, eu digo, “Mas tenta fazer o seguinte, tenta primeiro, quando estava no Ensino Fundamental, tenta concluir pelo menos a oitava série, aí quando estava no Ensino Médio, tenta concluir pelo menos o primeiro ano, e assim eles iam, por causa do estímulo assim, iam embora e acabavam se formando mesmo, isso é bacana, porque eu digo, a nossa sociedade infelizmente valoriza só quem tem título, né, ent?o daqui para frente cada vez vai ficar pior, é ent?o, enfim, aí eles até... Aqui tem um caso de um menino que n?o quer, ele n?o quer, só está na escola por causa de mim. Aí eu digo, rapaz, mesmo assim tens que ter nota com todo mundo, aí ele se quebra todo para poder ter pelo menos média para passar, né, por causa do professor, mas a escola vai fechar, a m?e dele tá arrasada, porque ele se identificou comigo dessa forma, assim, meio louca, de dar aula, ent?o, mas é bem bacana.(ENTREVISTADOR A) E a metodologia que o senhor estudou na Universidade foi é, como vamos dizer... Deu para aplicar em sala de aula ou era muito discrepante, assim, do que aprendeu na forma??o?Tem dois momentos assim, que eu achei até que acabava discutindo muito com a professora de Didática, que aí eu era um... Que quando nós chegamos a ter Didática eu já era professor de dois anos, já tinha experiência, sabia o que acontecia em sala de aula, ent?o, resumindo, eu peguei, e discutia muito com ela, porque ela come?ou a aula de Didática citando Lair Ribeiro, eu digo, gente, isso é o fim da picada, aí eu digo, bom, beleza, e aí a didática que ela pregava e a própria aula dela, porque eu digo assim, o professor de Didática ele tem que ser melhor do que bom, como diz a gurizada, mais do que bom, a gurizada costuma fazer esse trocadilho, tem que ser muito bom na didática, na forma que ela vai ar o conteúdo, e ela infelizmente n?o era, e na forma de que didática ela esta aplicando, qual é... Porque a teoria é bonita, mas como dizia Marx, tem que ter a práxis, sen?o teoria n?o tem sentido, se a teoria n?o for iluminada com a prática n?o tem sentido, e ela n?o, ela pegava assim, a ideia que eu tinha na cabe?a que todo mundo come?ava a alimentar era que era tudo perfeito, a escola n?o tinha ninguém indisciplinado, n?o tinha ninguém que seria, entre aspas, mau aluno, tudo era perfeito. Eu digo, “Professora, n?o é assim”. E ela, “Mas como n?o, fulano de tal fala isso, beltrano”. Quer dizer, fulano fala, beltrano fala, mas esses fulanos e beltranos eles eram filósofos, eles n?o eram professores, o que ela usou ali, enfim, tem que ter a prática, ent?o quer dizer, numa disciplina didática, por exemplo, eu sou favorável de ter, tipo assim, uma entrevista, ir lá, ver, uma coisa, sentir a realidade da escola, porque a prática é completamente diferente da teoria. Por quê? Porque a teoria n?o está sendo iluminada com a prática, esse é o problema, e aí eu, ela até ficou meio chateada comigo, mas eu perguntei, “Tá, a senhora tem experiência em sala de aula? Ou a senhora fez a gradua??o, fez estágio...”, que fazer estágio é uma coisa, experiência é outra coisa completamente diferente, estágio é pra ti contrapor o que tu viveu como aluno, daquilo que tu tá vendo o professor fazer na atualidade, e preparar para a prática, mas a prática é completamente outra, aí ela disse que n?o, ela nunca tinha dado uma aula, nem Educa??o Infantil, nem Ensino Fundamental, que ela é formada em Pedagogia, tem mestrado etc., ela foi direto fazer mestrado, ent?o quer dizer, está explicado, e aí ela fazia coisa, depois a gente ficou amigo, a aula até ficou mais bacana, que tinha dois, eu e outra menina, colega, que já eram professores, ent?o aí ela falava, e daí, o que é que vocês acham? E aí a aula come?ou a ficar bacana. Outra foi Metodologia e Prática no Ensino de História, a professora Daniela, muito querida, e ela também, ela pegou mais esse lado assim, ela era professora, ela era professora na UDESC, no caso contratada, né, n?o era efetiva, e era professora no Estado, ent?o, quer dizer, completamente diferente, os problemas que nós tivemos com didática n?o tivemos com Metodologia do Ensino de História, porque lá na UDESC tinha Didática, Metodologia do Ensino de História, aí tinha os Estágios, né, e Metodologia do Ensino de História ela já come?ou, ela come?ou a levar nós na escola, “Hoje nós vamos sair tudo, vamos tudo no colégio fulano de tal, e vamos assistir aula”. Achei bacana. Depois nós debatíamos no outro dia, na outra aula, debatíamos o porquê nós fomos, etc., foi muito bacana nesse sentido, o Estágio, é, essas disciplinas, e depois o Estágio, contribuiu muito, assim, mas a quest?o da Didática, tirando esse problema, interessante, logo com didática, os demais professores eram muito bons, muito bons, eles, na época, n?o sei se hoje o aparelho se chama isso, na época era o opaco, eu acho que é isso, opaco é tipo um aparelho retroprojetor, como se fosse um data show, e você coloca o livro, aí tapa ele aqui [demonstra com as m?os], aí reproduz as imagens. Esse aparelho eu fiquei encantado, se tivesse um opaco na escola que eu dou aula [risos], se eu n?o me engano é opaco o nome, ent?o, e os professores usavam, entendeu, ent?o isso é bacana, p?, no início do século XXI, né, mas mesmo assim já é um avan?o, n?o é aquela aula somente... Tem um texto, e o professor vai explicando tudo direitinho. Mesmo os que faziam isso também utilizavam tecnologia, ent?o eu aprendi muito na Universidade, muito, muito mesmo. Coisas positivas, aprendi o que n?o era para fazer, como em Didática, n?o o que n?o era para fazer, ou seja, teoria e prática tem que vir junto, n?o tem como, mas foi bem bacana, foi uma experiência boa.(ENTREVISTADOR A) Ent?o, é, o senhor até já falou bastante sobre isso, n?o sei se o senhor quer falar mais um pouco sobre a sua prática de ensino, sua metodologia...Isso, eu acho que é bom fazer uma síntese, né, daquilo que eu falei. Hoje, por exemplo, o A... de hoje ele trabalha com várias metodologias, ent?o primeiro, tipo, eu vou trabalhar um texto sobre, é, eu sempre cito Grécia, n?o quero citar Grécia, sobre Iluminismo, ah, gosto tanto porque é Filosofia. Sobre Iluminismo, eu terminei uma temática sobre os filósofos iluministas, explicar, falar, aquele negócio todo, fa?o a aula discursiva, né, dialogada, é, depois tá, temos, por exemplo, os encaminhamentos, no caso, econ?micos, que foi um movimento filosófico, mas foi cultural, foi econ?mico, social, enfim, essas várias facetas né, e aí eu, “?, pessoal agora vocês v?o pegar...”, ou ent?o uso o facebook, que é uma coisa que é mais atual, eles adoram isso, eu digo, “Olha, vou deixar um link lá, um texto sobre a quest?o econ?mica e a import?ncia do Iluminismo para esse processo, é um texto curto, vocês devem lê-lo, nós vamos come?ar o debate e vocês é que v?o falar, n?o sou eu” e é bem isso mesmo, por isso que eles chamam que a minha aula é aula louca, aí eu chego lá, ó, debate, quem... Aí um lá leu, n?o sei o que, “E aí, o que você achou do texto”? Se ninguém falar nada, a aula inteira eu fico quieto. A primeira vez que eu fiz isso eles ficaram assim, “Meu Deus, esse cara é doido! [risos] Fumou maconha mofada, né? [risos]. Na outra eles viram, ou desinibiram, né, chegaram, “N?o, é, eu gostei do texto”, aí pronto, aí a aula deslanchou, aí eu consigo, que também só ouvir o professor, isso no mundo da tecnologia eles sabem muito mais do que nós, os alunos hoje sabem muito mais, ent?o por isso que eu tento entender, nunca fiz curso de informática, n?o, (...) e t? nas redes sociais por causa disso, por causa dessa quest?o, tenho um blog, onde eu coloco meus textos lá do jornal, ent?o, e aí a gente faz muito debate sobre isso, ent?o a minha metodologia hoje mudou completamente, ela tem aulas expositivas sim, que é a parte sempre de História de todo conteúdo que eu fa?o expositiva, ent?o trabalho vídeo, música, muita música, agora, por exemplo, semana passada nós analisamos uma música do Renato Russo que é bem isso que tá acontecendo no Brasil, Que país é esse, né, ent?o nós estávamos no Brasil, pós-ditadura militar, né, ent?o a redemocratiza??o, e aquela música é construída justamente pra aquilo, né, ent?o é muito bacana, e foi muito produtivo, ent?o, quer dizer, filmes, música, texto, o próprio grupos no facebook, blog, eu tento costurar tudo isso dentro da sala de aula, e eles tem gostado das mudan?as que a gente tem feito, e, outra, mais uma coisa, estar sempre aberto a mudan?as. Ah, até eu nem comentei, por isso que era bom resumir, eu sempre paro, ent?o no final de cada mês eu paro, digo “Pessoal, agora nós vamos discutir, o que vocês est?o achando da aula? Está meio chata, n?o sei o que, o que eu posso mudar?” Ent?o, “Aí, professor, porque n?o faz aquilo?” “Opa, ent?o vamos tentar fazer, n?o sei, mas eu vou aprender, vou tentar fazer”. E aí a coisa anda também, que, partindo deles, quando os alunos, ó, criam regras para si mesmos, eles seguem, ent?o como eu venci, por exemplo, a indisciplina? A indisciplina primeiro se vence com uma aula boa, uma aula de qualidade, é a primeira parte, é praxe, mas eles criando regras, e aí eu digo assim, ó, n?o tem como você trabalhar com Filosofia e História com uma pessoa conversando, o pessoal conversando. Filosofia e História é reflex?o, leitura, interpreta??o, análise, reflex?o novamente, ent?o, enfim, n?o tem, “Ent?o como nós vamos fazer? Quando come?ar a aula eu sempre vou dar cinco minutos iniciais para a gente poder extravasar, contar piadas etc.”. Por isso que eu digo que é aula louca, ent?o contar piada, n?o sei mais o que, “Depois é compromisso, vocês concordam com isso? Levanta a m?o quem concorda?” E todo mundo concorda. Aí quando alguém fura come?am eles mesmos a cobrar, “N?o pode, agora n?o, é só nos cinco minutos finais, (...)”. Eu perco ali dez minutos da minha aula, entendeu? Mas n?o perco na verdade, porque aí toda a conversa que nós temos refletindo sobre a aula, seja no início ou no final, é bacana, é bacana, aí contam piada, distrai, n?o sei o que, mas é, esses momentos s?o de reflex?o, sempre no início e no final, e eles cobram entre si, assim eu venci a indisciplina, no início eu ficava batendo no quadro igual a um doido, lá, e berrava, n?o adianta, n?o adianta berrar, poxa, já tais, tu tá cometendo um ato de indisciplina ao berrar, e mostrando que tu tá fragilizado, que tu n?o tem domínio. O que é que eu fa?o? Diminuo a voz, aí eles n?o ouvem, aí eles come?am a cobrar um do outro, (...). Ent?o, quer dizer, é uma coisa eu combino antecipado, e no final de cada mês de aula sempre há uma reflex?o, ent?o eu pe?o um questionário, “? vocês fazem o que vocês quiserem, n?o botem nome nenhum, sobre a aula e o que é que vocês...”. Oralmente, e quem n?o consegue expressar coloca no papel para poder mudar, “O que é que eu posso melhorar, no caso, (...)?” E aí eles t?o vendo que aquilo que eles t?o dando de opini?o eu t? tentando fazer, pelo menos tentando, né, e aí eles se comprometem (...), e isso também faz parte da minha prática hoje, no início eu ficava batendo lá, no quadro, quase furava o quadro, coitado, ent?o o quadro é que sofria.(ENTREVISTADOR A) Ent?o, desde a sua vida acadêmica até agora, nesse período todo da sua trajetória profissional. Quais as experiências mais marcantes, mais significativas assim que o senhor mais se recorda?Mas de que, da minha experiência como professor ou toda a experiência?(ENTREVISTADOR A) ?, como o professor, ent?o a experiência mais marcante na verdade é, foi, se eu n?o me engano, no segundo ano, que eu t? há treze em sala, é, no segundo ano que eu estava lecionando. ? um trabalho que ontem citei ainda para um aluno no outro colégio que eu dou aula, esse trabalho. Eu tinha um aluno, o Renan, era um artista aquele menino, e ele tinha uma dificuldade enorme, e aí vinha à quest?o da avalia??o, uma dificuldade enorme, de, como é que se diz? De passar pro papel em palavras aquilo que ele sabia. Ah, outra coisinha, a quest?o de avalia??o, eu uso todas as avalia??es possíveis e impossíveis, quem tem dificuldade de escrever, faz oral, quem tem n?o sei o que, e assim vai... Mas voltando, aí o que é que acontece, ele pegou, disse, “? professor...” E ele sempre ia mal, digo, “Mas como é que pode o cara que mais participa da sala, ele sabe tudo, como é que...” Eu digo, “Renan”, eu conversei... Chamei ele, eu também tenho isso, eu converso, chamo. “Renan, o que é que tá havendo contigo?” “Professor eu n?o consigo, n?o consigo, se eu decorar dá um branco, n?o consigo, pá, pá, pá, mas eu sei... Tanto é, ele falou eu até mudei a nota, ele fez a prova oral, ele foi bem. Eu digo, “Mas o que tu gosta de fazer?” Aí ele, “Eu adoro pintar.” Beleza, é uma história que eu nunca me esque?o, sétima série, oitava, esse negócio mudou, eu confundo um pouco a cabe?a. Mas enfim, ah, se eu n?o me engano era sétima série, nós estávamos trabalhando a República, Programa??o da República, e aí a prova foi sobre como foi o processo de constru??o dessa Proclama??o. E eu disse, “?, tu faz o seguinte: tu gosta de desenhar, te expressa em desenho”. Emocionante, eu n?o sei se a escola tem hoje, Prefeito Avelino Muller, lá do Vendaval, eu n?o sei se eles tiveram ou devolveram para o menino no final do ano, e depois como eu era ACT, no final do ano a gente n?o está na mesma escola. Ele fez um cartaz com uma história em quadrinhos, ele narrou toda, mas toda, sabe o que é todos os personagens, narrar todo o processo da Programa??o da República em história em quadrinhos. Eu cheguei a chorar. Diretora, todo mundo veio elogiou, fez parte da Feira de Ciências, ele se sentiu t?o valorizado que depois dali ele come?ou a escrever, ou seja, ele conseguiu expressar o que ele sentia, correto, e aí conseguiu, conseguiu vencer aquele bloqueio. Ele tinha um bloqueio na verdade, ele tinha um bloqueio que impedia ele, no caso, de se expressar, e eu n?o sei de onde é que veio aquela ideia, eu digo, “Bom, ent?o te expressa pelo desenho”. Batata! Ele usou desenho e escrita, e a partir dali, come?ou a tirar nota boa comigo, com todas as disciplinas que eram matéria teórica, olha a loucura... Ent?o, foi uma experiência, para mim a que mais marcou, foi a que mais marcou. Eu ainda comentei com a gurizada ontem na sala.(ENTREVISTADOR A) ?, o senhor me falou que já trabalhou em Escola Privada e em Escola Pública, n?o é?Sim.(ENTREVISTADOR A) ?, que diferen?as que o senhor nota assim nas duas institui??es?Olha, hoje para ser sincero n?o há tanta diferen?a, na época, no início sim havia diferen?a, porque, p?, tu ia numa escola pública, por exemplo, eu acho que eu trabalhei na época, tinha um retroprojetor. Bom, tu ia pra escola particular, que eu também trabalhava num turno numa, e no contraturno na outra, tu tinha... data show ainda n?o... Mas eu digo, tinha o retroprojetor, tinha um laboratório para poder fazer pesquisa, no caso, de informática, escola pública n?o tinha, agora está tendo um processo, né, de informatiza??o das escolas, mas na época n?o tinha. Ent?o quer dizer, é outra coisa, que a gente consegue trabalhar com aula mais din?mica, por exemplo, mapas, tinha mapas geográficos, mas tinha mapas históricos, né. Aqui, inclusive, só tem mapas, tem mapa... Tem um mapa histórico só, que é da Grécia Antiga. Mas, enfim, lá tinha tudo, na outra escola que eu dava, (...) tu vê? Ent?o eu trabalhei dez anos ali, tinha ent?o mapas históricos, é outra coisa, ent?o você tinha material para trabalhar o conteúdo, e já na escola pública há essa, esse sucateamento, essa defasagem. Agora que tá come?ando o processo de informática na escola, (...), é outra coisa, hoje é uma outra realidade, tá? Hoje a diferen?a... Claro que aí é alta tecnologia, que é o data show, aqui também tem. No Maria da Glória eu dei aula em dois mil e seis a dois mil e dez, uma coisa assim, e já tinha, tinha data show. Mas quer dizer, é uma escola que tem mil e duzentos alunos, e um data show. Aí tu vai para particular cada bloco de prédio tem um. ? diferente, é outra rela??o, outra coisa, a escola, por exemplo, pública, o acesso à internet é mais difícil, apesar de ter... Maria de Glória tem laboratório, JB tem laboratório. Mas o acesso do aluno e do professor para trabalhar é uma burocracia muito grande. A particular é muito simples, você pega um caderno, anota o dia, pronto aquele dia é teu, acabou. Entendeu? A quest?o da burocracia também atrapalha, mas há diferen?a, há, n?o há dúvidas, porque precisou de tal coisa, por exemplo, aqui, a gurizada aqui, no início do ano eu trabalhei Geografia, que ficou sem professor, e aí eu fui fazer um planetário, n?o sei mais o que, pá, pá, pá, eu só botei, mandei o material, no outro dia tava tudo aqui, ó, ent?o eu pude fazer, é outra realidade, entendeu, outra realidade. Na pública n?o, ou o aluno trás, ou o professor compra. E aí, tu vai ter condi??es de despender dinheiro, pá, pá. Agora, por exemplo, nós tamos fazendo uma maquete com o sexto ano, sobre, né, as sociedades de engenho, sociedades de engenho, n?o sei o que, pá, pá, aí eu digo beleza, a escola fornece material, que eles têm uma taxa de material coletivo, no caso, que eles pagam, e a escola fornece. Na escola pública a gurizada vai ter que ir atrás, é pública, deveria fornecer, mas na verdade n?o existe esse compromisso assim de qualidade no ensino, claro que a qualidade é muito ligada à a??o do professor, mas também é ao material didático, n?o é verdade? Eu posso ser um excelente professor, mas se eu n?o tiver o material didático necessário para trabalhar o conteúdo naquele, do que era planejado, vai comprometer a minha a??o, é lógico. Mas ent?o existe diferen?a, apesar de hoje ela tá diminuindo gradativamente essa diferen?a.(ENTREVISTADOR A) E com rela??o aos alunos, também, o senhor sente diferen?a?Sim. Aí é o seguinte, tirando aquelas escolas que s?o mais periféricas, que tem o problema desse pessoal inserido para poder aliciar a gurizada, que aí foi denunciado por esse meu amigo, ele acabou perdendo os dentes, coitado, e por mim, quase perdi também [risos]. Ent?o, tirando isso, né, por incrível que pare?a, o que eu vou dizer é incrível, mas é verdade. Respeita-te mais o aluno de escola pública do que o aluno da escola particular. Sabe por quê? O da escola particular joga na tua cara, “Eu t? pagando o teu salário”. ? incrível, o governo n?o faz isso, nós n?o somos loucos, né? [risos]. Ah, eu endoido [risos], eu dou, n?o tem esse negócio. Mas esse é o grande problema, a escola particular, eles têm aquela mentalidade que pagando bem, o diploma vem, né, e a escola pública nesse sentido, é por isso que eu digo, tem coisas positivas em uma, que é negativo na outra, né, aí a escola pública é outra realidade, né, completamente. Eu, por exemplo, vou citar (....) o Teófilo, lá em Sorocaba, (...). Gente, na hora da aula era cenoura, repolho, n?o que professor tivesse pedindo isso, n?o to dizendo, n?o é por isso, mas eu digo, ele é, o professor é tido como um Deus, e na escola no mesmo tempo que eu dava aulas aqui, e o pessoal que n?o ia, né, que n?o está nem aí, eu pago esse pessoal é obrigado a dar aula boa sim, ent?o quer dizer, e outra realidade. Gosto dos dois ambientes, até hoje trabalho só com a escola particular, por causa da quest?o financeira, tanto é, que nem fui na escolha de vaga no Estado. Enfim, mas em quest?o de respeito, tirando novamente, é preciso relativizar, né, tirando a quest?o lá das escolas de periferia, que tem infiltra??o desse pessoal que vai para aliciar a gurizada, tirando isso, a gurizada da escola pública te respeita mais, é outra realidade, é outra também, porque cobra, por que n?o? “?, n?o faz mais do que obriga??o, eu t? pagando” [risos]. Na verdade todos os dois pagam, porque escola pública n?o é gratuita, escola pública é paga com imposto de todos nós, automaticamente.(ENTREVISTADOR A) E a rela??o que o senhor tinha com os seus colegas professores, e com as dire??es dessas escolas, também é diferente, no caso?? complicado, n?o tem problema de eu falar em coisas bem individuais, claro que eu n?o citar o nome de pessoas, que isso seria antiético. Ent?o... Mas a quest?o, por exemplo, de final do ano, o final do ano a escola pública trata a quest?o, por exemplo, da aprova??o e reprova??o, e aí foi o meu grande problema que me fez sair dessa escola depois de dez anos, eu pedi as contas. Ela trata com a quest?o de promo??o ou n?o, ou seja, se o aluno n?o teve condi??es de acompanhar depois de tudo, né, de trabalhar, recupera??o, parará, de todo o processo, e ele reprovou, ele reprovou. A escola particular, ela tem aquele grande problema, que é, se eu reprovo, ano que vêm eles n?o est?o aqui, ent?o vamos passar. E eu n?o concordo com isso, claro que n?o eu quero reprovar, só quem quer. “N?o, eu quero reprovar com o A...”. Aí ele reprova, sen?o n?o tem como, que eu aceito trabalho até na última gota d’água. Ent?o... Mas essa é a grande quest?o, a escola particular há uma, uma ... E é o termo correto, uma mercantiliza??o do saber. Ent?o nessa Mercantiliza??o do Saber, o que é que vai, qual é o processo que vai ocorrer, é, quem paga bem, volta aquele ditado, o diploma vem. E aí terminava o ano, aconteceu esse episódio em dois mil e dez, terminou o ano, “x“ alunos foram reprovados no Ensino Fundamental, “x” no Ensino Médio, iniciou o outro ano, tava tudo na sala, no caso, n?o que ele era para estar na série que eles estavam no ano anterior, estavam, foram promovidos. Aí eu fiquei louco da cabe?a, “Mas que negócio é esse?” Isso no início de dois mil e onze. “Que negócio é esse, o que é que houve, se todo mundo assinou, parará, parará, que n?o tinha condi??es, gente que n?o sabia escrever, ent?o, né, a minha fun??o n?o é reprovar ninguém, entendeu, “Gente eu n?o estou aqui para reprovar ninguém, eu quero construir o conhecimento, mas tem querer também”. ? uma coisa lógica. E aí o que é que aconteceu? A própria dire??o passou, modificou os diários [risos], e aí eu digo n?o, isso n?o pode ficar assim, vocês v?o ter que rever isso aí. “N?o, mas é que o cara paga...”, aí come?a, “o cara paga a mensalidade em dia, n?o sei o que, o outro que n?o paga passou...”. Aí eu digo, “Gente...”. Mas, resumindo, digo n?o, se vocês querem assim, eu digo, se vocês querem assim, e aí eu acabei saindo da escola, por dez anos na escola. Ent?o, enfim, essa é a grande quest?o, a diferen?a é favorável à escola pública nesse sentido, n?o que a escola pública tem que reprovar, n?o é isso, eu acho que ninguém, nenhum professor sonha em reprovar ninguém, está louco, eu queria que todos fossem bem, tanto é, que tá aí esse menino que gosta muito de mim, o Léo. O Léo, ele, ele veio reprovado, e aí ele veio como sendo monstro, e ele na primeira aula se identificou comigo, digo, eu sou o ponto de liga??o com ele, que ele podia ser outra pessoa. E aí eu comecei a conversar com ele no intervalo, chegava lá conversava, sentava, “?, (...), n?o faz assim, tu é um cara inteligente, um cara bom, n?o sei o que, pá, pá, pá”. O pai dele é caminhoneiro, ele quer ser caminhoneiro, e n?o precisa estudar. “Mas calma, precisa sim, quem sabe, você encontra uma gatinha que seja formada” [risos]. Aí eu comecei a fazer essas brincadeiras todas e no fim, hoje, ele vai bem em todas as disciplinas, n?o é sete em tudo, mas pelo menos ele consegue passar tranquilo sem problema, ele tinha problema de disciplina, batia em professor e tudo, foi expulso da escola, e hoje ele é completamente dócil. Por quê? Porque ele se identificou, e eu assumi, porque aí virou uma coisa, vai ser quest?o de honra, eu vou conseguir trazer esse guri de volta, e consegui. Entendeu, ent?o... Mas é trabalho, n?o dá trabalho, dá trabalho. Eu nem vou falar do professor tal que n?o gosta dele, aí tive que come?ar, eu era o ponto, eu, ele, aí come?ava a conversar, “Escuta, n?o é assim, tenta trabalhar dessa forma, pá, pá,pá”. E eu consegui assim, e aí deu certo.(ENTREVISTADOR A) Ent?o, a gente já tá se encaminhando para o final. ?, como é que o senhor se sentiu é, em rememorar assim a sua trajetória profissional nessa entrevista?Eu me senti muito bem, assim, eu até chorei, n?o é? [risos]. Ent?o... (...). Mas na verdade é muito gostoso, esse trabalho infelizmente nós n?o fazíamos na UDESC, na época da minha forma??o, da minha gradua??o, a Universidade Federal está de parabéns, a professora da cadeira. Eu acho que depois de vocês fazerem esse material todo, vai servir muito, assim, para vocês também. (ENTREVISTADOR A) Com certeza.E para mim foi ótimo, é bom isso. Na verdade eu precisava, precisava fazer, rememorar aí todo o processo, isso me deixou com mais vontade de ser professor [risos].(ENTREVISTADOR A) Ent?o tá, professor, muito obrigada pela sua entrevista. ................
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