Hora do Fazendeiro: Porque Minas, há 70 anos, se rende ao ...



Hora do Fazendeiro: Porque Minas, há 70 anos, se rende ao som verde que ecoa pelos campos quando cai a tarde.

Wanir CAMPELO[1]

O programa Hora do Fazendeiro, exibido pela Rádio Inconfidência de Minas Gerais, comemora 70 anos e disputa o título de programa mais antigo do rádio brasileiro. Quais as características de um programa produzido especialmente para o homem do campo e por que ele permanece no ar por tanto tempo? O objetivo desse artigo é reconstruir a trajetória da Hora do Fazendeiro e refletir sobre a recepção do programa junto aos ouvintes.

Palavras-chave: Rádio mineiro, Hora do Fazendeiro, Ouvinte.

Introdução

Há setenta anos, quando cai a tarde, quem está sintonizado na Rádio Inconfidência de Minas Gerais, já sabe, só de ouvir os primeiros acordes da sanfona de Rubens Diniz, tocando a rancheira Campo Belo, de Antenógenes Silva, que está no ar a ‘Hora do Fazendeiro – o programa mais antigo e tradicional do rádio brasileiro”. [2]

A estréia foi no dia 7 de setembro de 1936, quatro dias depois da inauguração da rádio, mas a mobilização em torno da idéia de se criar uma emissora e, consequentemente um programa especial unindo o campo e a cidade, já vinha sendo articulada há muito tempo pelo secretário da agricultura, Israel Pinheiro e pelo governador de Minas, Benedito Valadares.

Um ano antes, em 11 de julho, o Minas Gerais, na página 12[3], informava que “a collaboração das municipalidades mineiras na installação da potente estação radio-diffusora do Estado é idéa brilhantemente victoriosa. Quase todas as prefeituras já responderam à circular que lhes dirigiu o Senhor Secretário da Agricultura, tendo varias dellas depositado a quota com que contribuirão para o oportuno emprehendimento”.

No dia 9 de maio de 1935, faltando dezesseis meses para a estréia da tão sonhada estação radiofônica, o governo enviou às prefeituras mineiras, uma circular expondo a sua intenção em montar uma emissora que integrasse e divulgasse o Estado de Minas Gerais - a criação da Rádio Difusora do Estado - e pedindo uma contribuição

de 2:000$000, para a compra do transmissor. Foi prontamente atendido por várias delas. A mesma matéria publicada em 11 de julho de 1935 no Jornal Minas Gerais, mostrava que vários prefeitos se manifestaram favoravelmente à iniciativa, entre os quais José Pedro Alves Costa, de Manhuassu, em cuja correspondência afirmava estar interessado “em collaborar com essa obra grandiosa e de inegável utilidade para a collectividade mineira, mas cujo pagamento só se efetivaria após a colheita da safra de café, o principal produto do município”.

De acordo com o radialista Jairo Anatólio Lima,[4] que está na Rádio Inconfidência há 65 anos, a resposta das prefeituras ao chamado do governo foi tão imediata que, com o dinheiro arrecadado, tornou-se possível comprar os mais modernos e sofisticados equipamentos, fazendo com que a Rádio Inconfidência conquistasse o título de Emissora Padrão do Continente, em um Congresso de Radiodifusão realizado em Buenos Aires.

O contrato para a criação da rádio foi assinado em 12 de agosto de 1936, entre o governo mineiro e o Ministério de Viação, para que se estabelecesse, em Belo Horizonte, uma emissora com finalidade intelectual e instrutiva subordinada administrativamente à Secretaria de Agricultura.

Rubião (1947:318) em artigo publicado na Revista Social Trabalhista, na edição comemorativa do cinqüentenário de Belo orizonte HoHHorrixoHorizonte destacou os objetivos da Rádio Inconfidência, afirmando que “a sua criação obedeceu ao pensamento e ao propósito de dotar Minas Gerais de um poderoso instrumento de aproximação entre os mineiros, ao mesmo tempo um órgão capaz de divulgar para todo o país as realizações da vida mineira em seus múltiplos aspectos”.

Assim, surgiu a Inconfidência, uma emissora ligando campo e cidade, povo e governo, por meio de uma programação baseada em notícia, música, folhetim, reclame e educação.

Inaugurada às 19 horas e 30 minutos do dia 3 de setembro de 1936, pelo então governador Benedito Valadares, a rádio já nasceu como a melhor e mais sofisticada de Minas.

Ao inaugurar a Rádio Inconfidência de Minas Gerais tenho a satisfação de saudar o povo mineiro, formulando os mais ardentes votos de prosperidade de seu trabalho profícuo no sentido do engrandecimento do Estado. [5]

A solenidade de instalação da emissora contou com a presença de diversas autoridades, entre elas o ex-presidente da República Wenceslau Brás, o ministro da agricultura Odilon Braga e o senador Ribeiro Junqueira. Da festa também participaram o escritor Tristão de Athayde, os cantores Orlando Silva, Carmen Miranda e Almirante, e figuras eclesiásticas importantes, como o núncio apostólico D. Aloísio Magela e o cardeal D. Sebastião Leme (como delegado de Sua Santidade, o papa Pio XI), que vieram a Belo Horizonte para participar do Segundo Congresso Eucarístico Nacional e que prestigiaram a inauguração da terceira emissora radiofônica criada na capital mineira.

Martins (1999:108) relata que, naquela noite, o povo se comprimia nas escadarias do prédio onde funcionava a emissora e se aglomerava na Praça Rio Branco. O fascínio que o rádio despertava tocava os corações e uma curiosidade mágica reunia pessoas e impulsionava indagações. A Rádio Difusora Inconfidência transmitia, e agora o som saía pelos alto-falantes espalhados pela praça. “Encerrados os discursos, foi apresentado um programa de estúdio com pronunciamentos de presidentes das principais associações da capital”.

A sede da rádio ficava na Feira de Amostras, bem no início da Avenida Afonso Pena, centro de Belo Horizonte. O prédio era uma espécie de sala de visitas da cidade. Pioneira das exposições que revelavam riquezas de nossa terra dispunha de stands organizados para apresentar os recursos naturais e a produção industrial de Minas.

Cenário da cidade em tempo de censura.

No início da década de 30, o cotidiano da cidade foi alterado em função da revolução e, como outros grandes centros urbanos, Belo Horizonte viveu dias agitados rompendo diversos limites e passando a experimentar uma acentuada expansão, tomando ares de metrópole.

Breve veremos tudo mudado: essas ruas largas e retas cheias de veículos rápidos, de povo, dessa massa anônima das metrópoles, de grandes magazines abrindo suas vitrines vistosas, de luz intensa e faiscante. Os prédios altos afogarão com suas linhas retas e suas massas impressionantes a paisagem bucólica e vergel de hoje. [6]

A partir de 1935, a capital oficializou um novo ciclo, com a construção de arranha-céus. O processo de ocupação da capital mineira ultrapassou as previsões, e os problemas começaram a ser revelados. Com pouco mais de 30 anos, a cidade já ocupava 30 milhões de metros quadrados além do previsto pela comissão que a planejara. [7] Os serviços de infra-estrutura eram deficientes e as instalações de redes de água, de esgoto e de energia já não supriam a demanda. Belo Horizonte crescia para todos os lados.

Planejada para 200 mil pessoas, três décadas depois de inaugurada, a cidade já contava com 140 mil habitantes, muitos deles distribuídos em vilas e favelas que asfixiavam a área urbana, onde se proliferava a construção dos primeiros arranha-céus.

Às vésperas dos anos 40 evidenciou-se o fortalecimento dos setores industrial e comercial. Ainda assim, o ritmo acelerado de crescimento que a cidade apresentava não foi suficiente para atender à demanda de emprego, gerando, em 1936, várias greves e manifestações de trabalhadores.

Getúlio Vargas foi quem mais influenciou a história do rádio nesse período. Desde que assumiu a presidência, manteve o veículo sob suas rédeas, fazendo propaganda de sua ideologia política.

Com a Revolução de 30, Vargas vislumbrou todo o potencial político e econômico que as ondas do rádio eram capazes de proporcionar. Estabeleceu uma legislação específica que lhe outorgava poder absoluto sobre as concessões para as emissoras de rádio e para garantir o funcionamento do novo regime, criou vários instrumentos de repressão, entre eles o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, encarregado do controle ideológico de todo o sistema de comunicação do país. O órgão exercia a censura total em toda a mídia, e na sociedade impunha o medo do “perigo comunista”, sustentando o clima de insegurança para justificar o novo regime e trabalhando na propaganda do presidente para a formação de uma imagem sempre favorável. Sua finalidade era, portanto, “centralizar, coordenar e superintender a propaganda nacional, interna ou externa, encarregado de servir, permanentemente, como elemento auxiliar de informação dos ministérios e entidades públicas e privadas, na parte que interessa à propaganda nacional”. [8]

Tornou-se lugar comum, o governo plantar notícias que lhe eram favoráveis, estabelecendo, entre 1937 e 1945, a sua doutrina populista, modelo de dominação autoritário e centralizador. Segundo Guimarães (1984:59) o monopólio exercido pelo DIP objetivava garantir a uniformização das mensagens, eliminando a contra propaganda, no sentido de ampliar os efeitos da comunicação.

Ortriwano (1985:79) afirma que o rádio, por suas características intrínsecas, é o veículo mais privilegiado dos meios de comunicação de massa. Em termos geográficos, ele é o mais abrangente, podendo chegar aos pontos mais remotos e ser considerado de alcance nacional. “Ao mesmo tempo, pode estar nele presente o regionalismo, pois, tendo menor complexidade tecnológica, permite a existência de emissoras locais, que poderão emitir mensagens mais próximas ao campo de experiência do ouvinte”.

Haussen (2004:52) afirma que, em 1937, o presidente já destacava o valor que daria ao rádio na mensagem enviada ao Congresso Nacional que anunciava o aumento do número de emissoras no país. Nela, aconselhava estados e municípios a instalarem “aparelhos radiorreceptores, providos de alto falantes, em condições de facilitar a todos os brasileiros, sem distinção de sexo nem idade, momentos de educação política e social, informes úteis aos seus negócios e toda a sorte de notícias tendentes a entrelaçar os interesses da Nação”.

Em Minas Gerais, o DIP também trabalhou intensamente, se fazendo presente

nas ondas das rádios Mineira, Guarani e também da Inconfidência, cujo alcance era inegável. Guimarães (1984:59) salienta que o rádio assumiu importância significativa para a popularização do regime, pois fazia chegar às zonas rurais, não incorporadas pela política populista, o projeto de legitimação do Estado Novo. “As regiões interioranas estavam submetidas ao controle dos coronéis, principais agentes da ordem autoritária. Entretanto, o rádio foi imprescindível como meio de integração e uniformização política e cultural, contribuindo para minimizar as diferenças regionais, de acordo com o projeto nacionalizador do Estado Novo”.

Quem trabalhava na Rádio Inconfidência, nessa época, sabia bem utilizar os mecanismos e recursos radiofônicos que iam ao encontro dos ideais de Getúlio. Afinal, eram todos ali funcionários públicos e, de uma maneira ou de outra, estavam afinados com aquela ideologia. Assim, é comum ouvir daqueles que passaram pela emissora, relatos informando que não percebiam atos explícitos de censura na Inconfidência, especialmente durante as exibições do programa Hora do Fazendeiro (que de 1936 até 1941 chamava-se Meia Hora do Fazendeiro). Às vezes, os cortes eram feitos apenas nos programas humorísticos. São unânimes em dizer que, durante cada uma das edições da Hora do Fazendeiro, tudo transcorria em clima de normalidade, parecendo que a vida lá dentro estava abafada pela proteção acústica que cobre cada cantinho das paredes dos estúdios.

De acordo com o radialista Jairo Anatólio Lima, que começou a trabalhar na Rádio Inconfidência como contínuo em 14 de abril de 1941 e por lá permanece até hoje, o programa Hora do Fazendeiro jamais foi censurado. Deve-se ressaltar, contudo, que era o governador quem nomeava os ocupantes dos cargos mais altos da emissora, como acontece até hoje e, naturalmente, a ele também cabia impor os limites para veicular qualquer mensagem. Jairo afirma que todos ali tinham essa consciência, e trabalhavam o tempo todo exercendo a sua auto censura.

A estreita convivência mantida com o pai, João Anatólio Lima, que produziu o programa por mais de quatro décadas, o credencia a falar desse tempo:

Quando eu tinha oito pra nove anos, ou seja, bem antes de entrar pra Inconfidência como office boy, meu pai me encarregou de fazer as anotações de toda a correspondência que ele recebia na Hora do Fazendeiro. Desde aquele tempo, posso afirmar que a maioria das cartas que chegava tratava exclusivamente de consultas ligadas às questões agrícolas e pecuárias, que ele não apenas respondia pelas ondas do rádio, como também, mandava, via correio, o nome do medicamento indicado e o modo de usá-lo, para que não houvesse qualquer dúvida. A mim cabia anotar de quem eram as cartas, em quais dias chegavam, quando eram respondidas, e os temas abordados pelo consulente. Ele queria informação sobre o mundo que o cercava, ou seja o que tinha relação com o campo.Além disso, era o meu pai quem escolhia os convidados que se apresentavam no programa e cabia à Secretaria da Agricultura, redigir as notícias que considerava importante para serem lidas durante a Hora do Fazendeiro. O que a censura poderia querer com um programa assim? A auto censura era muito mais rigorosa, afinal, trabalhávamos todos na emissora oficial do Estado. Não me lembro de um comentário sequer do meu pai, durante todos esses anos, ligado a qualquer tipo de censura na Hora do Fazendeiro, mesmo quando cobriram o Brasil com AI 5.[9]

Para o radialista Ricardo Parreiras, na Inconfidência há quase 60 anos, a palavra censura nunca fez parte do vocabulário da Hora do Fazendeiro. O programa, segundo ele, atinge um segmento da população brasileira de extrema importância, tanto no aspecto econômico, quanto social, que é o homem do campo e foi formatado para, além de informá-lo sobre a bolsa de mercadorias, as oscilações do mercado, os produtos agropecuários e veterinários, realizar um serviço de utilidade pública, de entretenimento.

Esse programa sempre foi um programa muito leve, suave, delicado. Sempre foi um programa ingênuo, romântico, que jamais deixou de tocar a autêntica música caipira; que jamais deixou de responder às dúvidas sobre plantio, fertilizante, colheita, ou problemas com o gado; que jamais deixou de avisar lá na roça, que o compadre chegou bem na capital e que em breve mandará um novo recado marcando o dia e a hora do retorno, para que alguém possa esperá-lo na estação do trem. Portanto, é um programa cujas características mais importantes continuam sendo preservadas até hoje e que sempre se preocupou em levar aos ouvintes a informação e a cultura de Minas, a palavra do governador, os versos dos cantadores, os acordes dos violeiros[10].

Parreira lembra, no entanto, que, a partir da escuridão de 1964 e durante todos os anos de chumbo que se seguiram, o fantasma da repressão se fez presente, mas não na Hora do Fazendeiro. A exemplo do que acontecia nas outras emissoras, também na Inconfidência os soldados se posicionavam na portaria, na redação e por ali perambulavam o tempo todo com olhares e gestos ameaçadores. Ele afirma que os produtores dos programas humorísticos eram obrigados a levar os scripts ao Departamento da Polícia Federal, na Praça Raul Soares, para que passassem pelo crivo dos censores e só aí eram liberados para veiculação. Só que na maioria das vezes, a polícia cortava o final da piada, ou uma palavra que tirava todo o sentido da brincadeira e aí, nada podia mais ser aproveitado, mas a Hora do Fazendeiro se manteve fora desse esquema.

A Hora do Fazendeiro

Mesmo cercada pelas montanhas, a capital mineira ouvia e se fazia ouvir por todos os cantos do estado, assim que a PRI 3 entrava no ar.

Belo Horizonte era então, mais do que hoje, um centro meio rural. Cidade adiantada, mas sertaneja, longe do mar e das suas influências, a capital mineira recebia constantemente uma considerável imigração interna, de gente rude do campo. Diferentemente das grandes metrópoles litorâneas, que se civilizam com as contribuições transatlânticas, a minha cidade era um núcleo de civilização que educava o sertanejo. [11]

Pelas ondas da rádio Inconfidência, campo e cidade se integravam. E se enamoravam quando os primeiros acordes da canção Campo Belo anunciavam, no fim de cada tarde, o início do programa Hora do Fazendeiro.

Ainda hoje é assim. De qualquer canto do Estado é possível sintonizar o som verde que sai da cidade e ecoa pelos campos de Minas, chegando bem perto de cada produtor rural, de cada meeiro, de cada vaqueiro, de cada um que fincou o pé na roça e que faz da Hora do Fazendeiro a companhia mais esperada do dia.

Grisa (1999:366) lembra que o rádio pode afastar a solidão, ou mesmo cumprir o papel de substituto de uma presença humana. Pode servir também como companhia à ação doméstica, profundamente ligada ao presente, pois se antes requeria uma atenção exclusiva - não era móvel - hoje, introduz-se no movimento. “Nessa perspectiva, o sentido de parceria atrela-se à escuta como rotina e a rotina, por sua vez, é capaz de conformar e manter estruturas que vão do individual ao social”.

Idealizado pelo secretário da Agricultura, Israel Pinheiro e produzido, durante 42 anos ininterruptos, pelo agrônomo, João Anatólio Lima, o programa é o mais antigo do rádio brasileiro e há quem diga que seja o mais antigo do mundo.

João Anatólio Lima nasceu em Caeté, em 1899 e aos 23 anos graduou-se pela Faculdade de Agronomia de Belo Horizonte. Falava francês fluentemente e fazia dos livros a sua companhia permanente. Trabalhou como funcionário da Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas, onde chegou a ser chefe de seção, até ser chamado por Israel Pinheiro para produzir o programa.

Curiosamente, jamais falou ao microfone. Porém, muitos foram os locutores que apresentaram a atração durante esses setenta anos em que o programa está no ar, entre eles os irmãos Francisco e Paulo Lessa, o médico Teófilo Pires, o engenheiro Walter Coscarelli, Helionice Rabelo Mourão, os bacharéis em Direito, Rubem Tomich, Ulpiano Chaves e Jacomini Tomazio, o engenheiro químico Antônio Vono Filho, mais conhecido como Bentinho do Sertão, Geraldo Eustáquio e José Penido. Hoje, a Hora do Fazendeiro é apresentado pelo jornalista Cristiano Batista e pela radialista Tina Gonçalves.

Segundo Jairo Anatólio Lima, que herdou do pai o gosto pelo rádio, João Anatólio cumpriu o mesmo ritual durante anos.

Diariamente, assim que o programa terminava, saía da Feira de Amostras elegantemente vestido, sempre de chapéu e suspensório, passava pela Praça da Lagoinha, reduto boêmio de Belo Horizonte, e ali parava em um dos muitos bares da região, para tomar uma cervejinha gelada com a turma e cantar versos de amor dedilhados no violão. Muitas vezes, convidava esta mesma turma para esse mesmo programa, só que na varanda de nossa casa, mesmo que isso deixasse a minha mãe aborrecida, em algumas situações. [12]

Ferrareto (2001:101) afirma que a Hora do Fazendeiro sempre foi líder de audiência em seu horário no rádio mineiro e recordista em número de cartas. Nos primeiros três anos de transmissão o programa teria recebido 25 mil cartas dos ouvintes.

Jung (2004:32) fez os cálculos e afirma que, para atingir o mesmo desempenho

hoje, uma emissora precisaria receber algo em torno de 22 e-mails por dia, sem somar spams e releases. “Pode não parecer muito, mas lembre-se que estamos falando de uma época em que o alcance das emissoras ainda era pequeno e as mensagens chegavam pelo correio convencional”.

Muitos foram também os presentes levados pelos ouvintes para agradar não somente os locutores, como também o produtor João Anatólio Lima.

Meu pai, virava e mexia, chegava em casa com vários presentes. Bem diferentes dos presentes que costumamos ganhar, mas dados com o mesmo carinho. Às vezes, era um cacho enorme de bananas que ele recebia por ter indicado uma fórmula certeira para acabar com a praga que assolava a bananeira. Outra vez, me lembro da minha mãe muito brava, por meu pai ter aceitado um cachorro perdigueiro, daqueles enormes, que passou a ser nosso cão de estimação, também presente de ouvinte. [13]

A Hora do Fazendeiro sofreu algumas mudanças em seu formato durante esses

setenta anos de vida, em função dos avanços sociais e tecnológicos, mas não mudou na sua essência, pois se manteve apoiado nos pilares originais idealizados pelo Secretário de Agricultura de Minas, Israel Pinheiro: Música, entretenimento, informação e serviço de utilidade pública nortearam a linha editorial adotada desde a estréia do programa em 1936.

Rodrigues (2002:155) afirma que o serviço de utilidade pública marcou, também, a existência do programa, numa época em que não existia a agilidade do telefone, a imagem da TV ou a Internet. “O rádio era o meio mais rápido – ficou mais eficiente quando surgiu o rádio de pilha - para se saber quem voltava para a sua cidade, o estado de saúde do parente hospitalizado na capital ou o nascimento de um bebê”.

O radialista Ricardo Parreiras lembra que nos anos 30 não existiam estradas asfaltadas, telefones, linhas aéreas, televisão, que permitissem a troca de informações com a facilidade que temos hoje. Isso mostra a importância da emissora oficial, encarregada de levar a todos os rincões de Minas, a palavra do governo, notícias de toda ordem: a emoção do esporte, a alegria da música, a atuação dos atores e atrizes do radioteatro e as informações para o homem do campo por intermédio da Hora do Fazendeiro.

O João respondia cada carta dos ouvintes que solicitavam consultas sobre a doença do gado, remédios para cuidar da lavoura, os segredos para uma boa colheita, um bom plantio, e outras questões ligadas à agricultura e à pecuária. A parte musical ele mesmo escolhia, convidando os cantadores para emoldurar o programa. Várias duplas caipiras, sanfoneiros, violeiros, trios, solistas, que tanto sucesso fizeram e ainda fazem no Brasil, nasceram na Hora do Fazendeiro como Toninho e Tonhão, Gino e Geno, Trio Parada Dura, Delmiro e Delmon, Sanica e Carijó, Marino e Maringá, Delmário, Caxangá, Bentinho do Sertão, e tantos outros. [14]

A Revista Social Trabalhista, na edição especial em comemoração aos cinqüenta

anos de Belo Horizonte, dedicou espaço ao programa Hora do Fazendeiro..

“Fazendeiros, criadores e agricultores de todo o Brasil sabem muito bem como desfazer as dúvidas de suas atividades. Consultas para animais doentes; como adquirir sementes e ferramentas; sugestões para indústrias rurais, drenagem, reflorestamento e fertilização do solo – esses, e muitos outros assuntos, têm sido ventilados na Hora do Fazendeiro, o mais antigo e mais ouvido programa agrícola do rádio brasileiro, que o agrônomo João Anatólio Lima, há 11 anos vem dirigindo na PRI 3, sempre no horário de 18h20min às 19 horas. Nesse programa se faz também a difusão da música sertaneja, tão do agrado da gente dos nossos campos”.

A matéria termina afirmando que, pouco mais de uma década após a inauguração da Inconfidência, a emissora da Feira de Amostras pôde tornar-se conhecida e apreciada por milhares de ouvintes.

“A Rádio Inconfidência resultou de objetivos elevados como sejam os de servir como veículo cultural tornando acessível ao grande público auferir das suas irradiações as vantagens dos conhecimentos gerais que tornam mais elevado o padrão cultural do povo. É também uma técnica ao serviço do desenvolvimento das indústrias, da pecuária e da produção de Minas”.

Em 1978, João Anatólio Lima teve problemas pulmonares e precisou deixar o programa, após 42 anos de trabalho. João morreu em maio de 1982, aos 83 anos.

Nos últimos vinte e oito anos, foram vários os profissionais que se revezaram na produção da Hora do Fazendeiro. Contudo, nenhuma modificação relevante ocorreu na formatação estabelecida por João Anatólio Lima. Os que ali estão e aqueles que por ali passaram mantiveram as principais características do programa, priorizando, durante todo este período, a necessidade de se aproximar cada vez mais do homem do campo.

Para Jung (2004:39) uma das características do rádio é a proximidade com o ouvinte, a conversa direta que se estabelece com o cidadão. Ele afirma que apesar da expressão “falar ao pé do rádio” tenha se transformado em lugar comum, reproduz bem a sensação de quem está à frente do microfone, contando histórias do cotidiano. “O público se identifica com a emissora da cidade e com o radialista de plantão. Tem no âncora a figura que, diariamente, divide emoções e faz companhia, seja pelo rádio sobre a pia, no painel do carro ou no computador do escritório”.

Em 1984, o programa passou a ser apresentado por Bentinho do Sertão e Geraldo Eustáquio.

Abríamos o programa já com muita alegria, cumprimentando a todos, enquanto o operador colocava de fundo alguns efeitos sonoros que tão bem ilustravam a Hora do Fazendeiro. Eram os sons emitidos pelos bichos da fazenda. Era galinha cacarejando, cabrito berrando, boi mugindo, cavalo relinchando, cachorro latindo, como se todos eles também quisessem participar do programa, dando boa tarde aos ouvintes. Anunciávamos a primeira música e logo em seguida apresentávamos as dicas da Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Sempre apresentávamos uma entrevista, respondendo as dúvidas que chegavam por carta de todo o Brasil. Falávamos do tempo, da bolsa de mercadorias, contávamos causos, piadas, histórias. Dávamos receita culinária com os produtos que estavam na safra, anunciávamos as festas a serem realizadas nas cidades, os rodeios, as exposições agropecuárias; fazíamos prestação de serviço, encaminhávamos os ouvintes para abrigos e hospitais. Fazer o programa todos esses anos ao lado do Bentinho, foi uma experiência inesquecível. Afinal, nem todos tiveram esse privilégio de conviver com esse grande artista que ele foi.[15].

Bentinho do Sertão nasceu José: José Antônio Vono Filho. Era irmão do Compadre Belarmino, nome artístico do médico Vicente Vono, que além da medicina, também se dedicou ao rádio por muitos anos.

O Dr Vicente Vono foi convidado pelo então secretário da Agricultura, Dr Israel Pinheiro, para fazer um programa. A coisa começou quando o secretário ouviu algumas piadas que ele contava em uma festa e não deu outra: chamou-o para a Rádio Inconfidência. Fez uma participação no Programa Hora do Fazendeiro e não parou mais[16].

Bentinho do Sertão, a exemplo do irmão Belarmino, também se graduou em curso superior. Formou-se em Química Industrial e foi para o Rio de Janeiro em busca de trabalho. Ao chegar à capital da República, hospedou-se como pensionista na casa dos pais de Linda e Dircinha Batista, duas cantoras que já eram estrelas do rádio. A ele não restou outro destino a não ser fazer um teste na Rádio Nacional. Afinal, aqui em Belo Horizonte, ele já experimentara o inigualável gostinho do rádio, pois ajudava o irmão nas questões ligadas ao programa, além de apresentar uma extraordinária desenvoltura para tocar sanfona, contar seus causos e criar seus personagens. Bentinho foi contratado para, em dupla com Alvarenga, (também parceiro de Ranchinho), apresentar programas na Nacional. E a partir de então, José Antônio Vono Filho deixou a Química para se transformar em um dos grandes artistas sertanejos do Brasil.

De 1984 a 1992, o programa Hora do Fazendeiro continuou sendo o recordista de correspondência na emissora oficial do Estado. O volume era tão grande, que a direção da Inconfidência achou por bem criar um outro programa – Sertão Verde Amarelo – também apresentado por Geraldo Eustáquio, levado ao ar todos os sábados, de 3 da tarde às 7 da noite, só para responder as cartas que chegavam, pois caso contrário, a Hora do Fazendeiro perderia muito de sua formatação original, consumindo todo o seu tempo para responder a tanta gente.

Acredito que com o progresso, com a tecnologia e com a agilidade da informação, as dúvidas dos agricultores deixaram de ser levadas aos locutores do programa e passaram a ser respondidas de outras formas e não mais pelas ondas do rádio. Afinal, nos dias de hoje, em cada cantinho desse país, existe um órgão ligado à agricultura, com técnicos competentes para responder às questões do nosso homem do campo. As cartas continuaram chegando, mas a maioria delas pedindo música, conselho, comunicando batizados, casamentos, pedindo emprego na capital mineira, desabafando, ou mandando abraços para familiares e amigos. [17]

De acordo com Geraldo Eustáquio, a audiência da emissora era tamanha que havia até fila de anunciantes dispostos a pagar, cada um deles, naquela época, cerca de 20 mil cruzados, para ter o seu nome associado à Hora do Fazendeiro.

O programa teve como patrocinadores a Siderúrgica Belgo Mineira, a Drogaria Araújo Agro Veterinária, o Biotônico Fontoura, além do Laboratório Osório de Moraes, que fabricava as Pílulas de Erva de Bicho Compostas Imescard – para hemorróidas e prisão de ventre. Pílulas De-Lussen, antisséptico das vias urinárias – Vida longa para os rins e bexiga. Elixir de Capeba Composto – a saúde de seu fígado e Auris Sedina – para dor e purgação de ouvido.

Em 1987, o Laboratório Osório de Moraes resolveu inovar no lay out da Folhinha do Brasil, um calendário que a empresa distribuía aos seus clientes há muitos anos e que trazia sempre a estampa de Nossa Senhora Aparecida no centro da página. Ao invés da santa, o laboratório decidiu estampar o meu rosto e o do Bentinho, feito em crayon, por um artista de muito talento. No pé da página, vinha escrito “N. S. Aparecida protege esta casa”. Foi um fuzuê. Aí sim a Hora do Fazendeiro não dava conta de atender aos milhares de pedidos que chegavam diariamente, para que enviássemos, pelo correio, a tal folhinha com a nossa cara[18].

Bentinho morreu em 30 de agosto de 1992. Um ano depois, Geraldo Eustáquio passou a fazer a Hora do Fazendeiro com o radialista Zé do Lino. Com a saída do companheiro em 1996, ele acabou voltando a apresentar o programa sozinho até 1999, quando então chegou a radialista Tina Gonçalves para lhe fazer companhia.

Nessa fase, ocorreram alguns ajustes na formatação do programa. Em memorando enviado ao apresentador Geraldo Eustáquio, em 14 de junho de 2000, o coordenador de AM da Rádio Inconfidência, Miguel Resende, e o Chefe de Produção, Cleiber Pacífico apontaram algumas sugestões. A idéia era de que, além de apresentar as músicas sertanejas de sucesso e as de raiz, fossem realizadas, também, duas entrevistas com duração de 5 a 8 minutos cada uma, sendo a primeira de conteúdo mais descontraído, com cantores, artistas, humoristas, e a outra, de conteúdo mais técnico/informativo, com agricultores, criadores, produtores, veterinários, agrônomos. Em seguida, viriam o Noticiário Rural, a cotação dos produtos, o calendário de festas e eventos, o Minuto do Sitiante, com dicas para aumentar a produtividade; e o quadro Artista Sertanejo. O memorando sugeria, ainda, a inclusão de um quadro com os “causos” e as anedotas; a previsão do tempo; a Cozinha da Roça, com receitas de comidas típicas das fazendas; o Faça a Coisa Certa, trazendo dicas técnicas para agricultores e criadores; o Novos Talentos Sertanejos, prestigiando cantores que estariam lançando o primeiro CD; Nossa Mãe Natureza, com conselhos em defesa do meio ambiente; e a Ave Maria, encerrando o programa, às 18 horas[19].

Geraldo saiu da Hora do Fazendeiro em 2003, deixando sua vaga para José Penido. No fim do ano passado, Penido também saiu e há cinco meses, quem apresenta a Hora do Fazendeiro, ao lado de Tina Gonçalves, é o jornalista Cristiano Batista.

A produção está, há três anos, a cargo de Bruno Marum e o formato continua muito parecido com o que era apresentado há quase sete décadas.

O programa Hora do Fazendeiro é produzido pelo Departamento de Jornalismo da Rádio Inconfidência. O modelo do espelho que adotamos é sempre o mesmo. Todos os dias. Ele fica armazenado no computador e vai sendo atualizado a cada edição. Abrimos com seis manchetes do dia, e com a chamada da Dica do Campo. Anuncia-se a hora certa e entra a primeira música. [20]

Durante a Hora do Fazendeiro são rodadas dez músicas, ocupando, praticamente, a metade do tempo do programa, e entre elas são inseridas as outras atrações. No primeiro bloco são produzidos 3 minutos de notícias, diluídos em cinco ou seis notinhas. O segundo bloco traz o calendário de festas e eventos em todo o país. No terceiro bloco são apresentadas as cotações dos principais produtos hortifrutigranjeiros comercializados em Minas. O próximo bloco é como o primeiro, com duas laudas de notas. E como últimas atrações, o programa traz a Dica do Campo, mais dois minutos de informações do dia e a Previsão do Tempo por regiões do Estado.

A exemplo do que acontecia com João Anatólio Lima, os apresentadores da Hora do Fazendeiro também costumam ganhar presentes dos ouvintes. O radialista José Penido já ganhou até um tatu e Tina Gonçalves, até hoje continua recebendo queijo da roça, leitão assado, broa de fubá. Algumas vezes, junto aos presentes, costumam chegar até cartinhas com propostas de casamento.

Para os atuais apresentadores Tina Gonçalves e Cristiano Batista o programa faz sucesso há 70 anos porque é único, porque tem um público-alvo bem definido e porque conta com a fidelidade do ouvinte.

Recebemos telefonemas de vários estudantes de veterinária, dizendo que ouvem o programa desde criança. Eles contam que, quando moravam na roça, aprenderam a ouvir a Hora do Fazendeiro com os próprios pais - fazendeiros, agricultores, pequenos proprietários de terra - que sempre ligavam o rádio as cinco da tarde para acompanhar as novidades e curtir a autêntica música sertaneja. Hoje, esses meninos cursam a Universidade, mas não deixaram pra trás o hábito de ouvir o programa que tem tudo a ver com a profissão que escolheram[21].

No dia 6 de setembro de 2006, segundos antes de soarem os primeiros acordes da Ave Maria, Cristiano Batista e Tina Gonçalves estarão se despedindo de seus ouvintes da mesma maneira como fazem todos os dias: “Estamos indo embora com Deus. Fiquem vocês com Deus. Por onde Deus passa, nada embaraça. Amanhã estaremos de volta”

E quando cair a tarde do dia 7 de setembro, dia em que o país estará comemorando mais um aniversário de sua independência, o Programa Hora do Fazendeiro, estará festejando os seus 70 anos.

Considerações Finais.

Para Piovesan (2004:40) o rádio está intrinsecamente integrado ao cotidiano das pessoas. Ele faz parte do ambiente no qual elas se expressam. Quando se pensa apenas em rádio, se a equipe de produtores é competente e criativa, pode-se obter produtos agradáveis, satisfatórios do ponto de vista técnico e estético, que comunicam adequadamente.

Tem sido assim com a Hora do Fazendeiro, durante esses 70 anos de vida.

O programa está alicerçado sobre bases já consolidadas, e as mudanças ocorridas ao longo desse período pouco influenciaram na formatação original.

Segundo McLeish (1999:218) um programa atrairá um indivíduo quando causar uma ressonância pessoal em razão da experiência, preferência ou expectativa, mas deve haver também alguns critérios profissionais de consenso que avaliam a excelência de um programa radiofônico. “Num programa de qualidade, pelo menos alguns deles terão proeminência”. E foram esses os mais importantes critérios encontrados durante a realização desse trabalho sobre a Hora do Fazendeiro.

Ao se referir à “Pertinência”, Mc Leish explica que é preciso estar em contato com determinado público a fim de servi-lo, atendendo com precisão às exigências do ouvinte.

As cartas são, sem dúvida, uma prova inconteste para aferição dessa qualidade, pois refletem a recepção do programa.

Natividade, 9-11-95

Saldação. Olá amigo Geraldo. Este seu maravilhoso progama foi o único caminho para mim pedir a voce amigo que encontra meus parente que são na época 1964 meu tio filho de manoel antonio mendes que morava na serra da Romena. Quando elis forão im bora eis forão para Jandaia do Sul no Paraná. Este seu pograma é bon purque é numa hora que todos Estão em sintonia Pricipalmente na roça e sei que ele inziste não só pra nus diverti mais para tamém atender os nossos pedido. Catarina da Silva Mendes.

Outro critério de excelência é o da “Criatividade”, obtido quando apresenta alguma novidade, alguma originalidade.

Pessegueiro 13/12/95

Sou seu ouvinte de poltrona todos os dias gosto de ouvir seus casos, purque são muito originais diferentes e quase ninguém conhece e gostaria que você contace um caso diferente que aconteceu com agente aqui em Paraopeba, porque eu gosto de pescar, sou proficional em inceminação artificial em bovinos (resumindo o caso). Tive notícia de um peixe grande na travessia da barca que já tinha jogado o Afonso dentro do paraopeba. Uma noite fui te lá , juguei a vara e o tal peixe beliscou aí eu ferrei e vim trazeno quando bati a lanterna era a égua baia do seu João. Espero que ocê traduz pros nosos ouvintes. Um abraço do Ademir de Souza Alves.

Santa Bárbara, 31 de janeiro de 1996.

Caro chara, sabe que a mais de 40 anos sou ouvinte da hora do fazendeiro. Chara, ouvi falar no seu programa sobre mordida de cobra. Eu queri dizer que aqui na roça usam matar passarinho e colocar a carne deles em cima do machucado causado pela mordida de cobra pra pucha o veneno delas. Para os supertigiosos mulhe grande não pode olhar para quem foi mordido de cobra porque senão quem foi mordido salva e a mulher grande morre. Geraldo Antônio Ribeiro da Silva

Mc Leish aponta a “Precisão” como um outro critério de excelência. O programa deve ser verídico e honesto não só nos fatos que apresenta, como em seu próprio equilíbrio. O senso de justiça também deve ser evidenciado para ganhar autoridade e confiabilidade

Fazenda Marinheiro Peçanha

Geraldo Estou precizano de uma palavra sua é sobre a apozentadoria da mia mãe quero que ocê me esprica se existe ou não a apozentadoria das pessoa com 70 ano ou mais porque a minha mãe foi enrrolada até passar essa idade e ta doente e magoada porque as amiga dela já conseguiu. Ela gastou tanto e os papeis dela foi anulado o promotor não assino pra ela e ela não foi aceita mais no INSS. Quero que você me escreva dizeno se ela tem direito pois sei que você sabe disso e eu confio nas suas palavra. Termino com meu beijo de sua amiga e ouvinte, Neném, a mesma Maria da Conceição.

Lagoa das Palmeiras, município de Mendes Pimentel. 09 de fevereiro de 1996.

Geraldo essa carta é somente para você Geraldo ler não quero que você ler essa carta no ar. Tenho 32 anos e sou mãe solteira tenho um lindo filho ele tem 4 anos ele chama-se Sudário. O meu pai briga comigo até hoje e fala nisso e não deixa eu sair de casa nem pra ir a Igreja e eu fico triste com isso e fico pensando a minha vida como vou arrumar. Geraldo agora eu te pergunto será que isso que eu fisse é tôo errado assim que precisa de tanto sofrimento assim? É justo isso do meu pai me deixa presa em casa? Assim que fiquei grávida fui morar com o home mas ele morreu e de vagar com muita fé em Deus e em Nossa senhora Aparecida vou vivendo.Termino porque o tempo acabou quem escreva é sua amiga Eva Coso Duarte um beijão na sua boca e um abraço bem apertado a você.

Outro elemento apontado por Mc Leish como critério de avaliação para a excelência é a Holística. “Despertará emoções num nível mais profundo, tocando-nos como seres humanos sensíveis a sentimentos de admiração, amor, compaixão, entusiasmo – ou mesmo a indignação quanto à justiça”.

Ponte Alta do Bom Jesus 27 de outubro de 1995.

Olha, eu sempre ouve a sua voz na radia é linda eu adorei, pelo jeito você não é veio. Bejão a você techal. Maria de Fátima C de Souza.

Santo Antônio do Itambé, 11/03/96

Eu quero que oce saiba que eu amo a Hora do Fazendero e que a nossa amizade nunca tenha fim espero que dure por toda a vida. Você é super legal te curto muito. Seja simpático e alegre desse jeito. Olha Geraldo, você é lindo te amo do fundo do meu coração. Muito obrigado tchau. Lina Maria da Lomba.

Mc Leish aponta, entre outros fatores, o elemento de Ligação Pessoal. O ouvinte tem a sensação de estar ligado aos que fazem o programa, se identificando também com a emissora.

Brasilândia, 13 de maio de 1996

Tem muito tempo que eu não ousso mais a Hora do Fazendeiro e os outros programa da rádio que eu gosto tanto de ouvir porque o radinho de pila que eu tinha era velho e quebrou e não teve mais concertos. Sou de família pobre e não tenho condição de comprar outro e eu estou desempregado à muito tempo. Por favor Geraldo eu te peço pode ser um radinho de pilha usado. Se você não puder ajudar sozinho peço por favor falar com a Maria Sueli, o Carlos Cota e outros eu não conto pra ninguém que vocês me deram o radinho, que você pode mandar pelo correio. Otacílio Pereira

Cabiceira do Santana Sericita Minas Gerais 05 de janeiro de 1996.

Geraldo, por favor manda uma foto pra mim que eu vou esperar com todo carinho. Vou ficar muito feliz se eu receber nem sei como vou lhe agradecer. Avisa na radia que você já colocou no correio porque o correio é muito longe pra mim eu gasto duas horas para ir no correio então por isto eu te peço fale na radia o dia que você mandar a foto pra mim.Maria Aparecida Miranda

Coelhos, 29 de fevereiro de 1996

Daqui a uma semana estará acontecendo o meu casamento e eu queria ganhar o maior e melhor presente de todos que seria a sua presença. Eliane Aparecida de Castro Maia

Às vésperas do septuagésimo aniversário, a Hora do Fazendeiro mantém o frescor da jovialidade. O programa preserva seus principais ingredientes: música, entretenimento, informação, e prestação de serviço, e continua cumprindo o papel objetivo que lhe fora designado em 1936: o de unir a cidade e o campo pelas ondas do rádio.

Referências Bibliográficas

FERRARETO, L. A. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto,

2001.

GUIMARÃES, Silvana Goulart. Ideologia, propaganda e censura no Estado Novo: o DIP e o DIEP. São Paulo: Marco Zero 1984.

GRISA, Jairo Ângelo. Os sentidos culturais da escuta: rádio e audiência popular. Mimeo. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1999.

HAUSSEN, Doris Fagundes. Rádio Brasileiro: Uma história de cultura política e integração. IN. BARBOSA FILHO, André; BENETON, Rosana; PIOVESAN, Ângelo. Rádio: Sintonia do Futuro. São Paulo: Paulinas, 2004.

JUNG, Milton. Jornalismo de rádio. São Paulo: Contexto, 2004.

MARTINS, Fábio. Senhores Ouvintes no ar... a cidade e o rádio. Belo Horizonte: c/Arte, 1999.

MC LEISH, Robert. Produção de rádio: um guia abrangente da produção radiofônica. São Paulo: Summus, 2001.

ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus, 1985.

PIOVESAN, Ângelo. Rádio e Educação: Uma integração prazerosa. IN. IN. BARBOSA FILHO, André; BENETON, Rosana; PIOVESAN, Ângelo. Rádio: Sintonia do Futuro. São Paulo: Paulinas, 2004.

RODRIGUES, Luis Pedro. Show do rádio. Santaclara. Contagem. 2002.

RUBIÃO, Murilo. Rádios Difusoras de Belo Horizonte: Apontamentos para a História do Rádio Mineiro. Revista Social Trabalhista. Número Comemorativo do Cinqüentenário de Belo Horizonte. 1947.

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[1] Wanir Campelo, Jornalista, Mestre em Comunicação (Universidade São Marcos-SP), Professora dos cursos de Jornalismo, Produção Editorial e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) e da Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Coordenadora do Projeto de Extensão: Radioescola Ponto Com do Uni BH. Coordenadora do Curso de Pós Graduação: Criação e Produção em Mídia Eletrônica: Rádio e TV, do Uni-BH. Belo Horizonte, Minas Gerais

[2] Vinheta de abertura do Programa Hora do Fazendeiro, cuja estréia ocorreu em 7 de setembro de 1936, na Rádio Inconfidência de Minas Gerais

[3] Jornal oficial do governo de Minas Gerais.

[4] Jairo Anatólio Lima é radialista e filho de João Anatólio Lima, engenheiro agrônomo e o primeiro produtor do programa Hora do Fazendeiro. Entrevista à autora em 07 de abril de 2006

[5] Discurso do Governador Benedito Valadares na inauguração da Rádio Inconfidência, publicado no Jornal Minas Gerais de 4 de setembro de 1936. p. 9.

[6] Conf: MURGEL, Ângelo. O que falta a Belo Horizonte para ser uma grande cidade? Junho, 1933. In: BH, horizontes históricos. Belo Horizonte: C/Art, 1996, p. 186.

[7] BH 100 anos. Nossa História – CD produzido pela Ciclope e Jornal Estado de Minas, 1997.

[8] Decreto-Lei 1.951, de 27/12/39. Atos do Poder Executivo. Leis de 1939, vol VIII. In: Moreira Virgínia, pp. 29/30.

[9] Depoimento de Jairo Anatólio Lima à autora em 07 de abril de 2006.

[10] Relato Ricardo Parreira à autora, em 04 de abril de 2006.

[11] Conf: FRANCO, Afonso Arinos de Melo. In: CAMPOS, Paulo Mendes. Belo Horizonte; de Curral Del Rey à Pampulha. Belo Horizonte: editado pelas Centrais Elétricas de Minas Gerais, S.A. 1982, p.14.

[12] Depoimento de Jairo Anatólio Lima à autora em 07 de abril de 2006.

[13] Depoimento de Jairo Anatólio Lima à autora em 7 de abril de 2006.

[14] Depoimento de Ricardo Parreira à autora em 4 de abril de 2006

[15] Depoimento de Geraldo Eustáquio à autora em 12 de abril de 2006

[16] Entrevista de Ximango – José Carlos Lotti, radialista que fez dupla com o Compadre Belarmino nas primeiras apresentações do Programa Meia Hora do Fazendeiro, levado ao ar a partir de 07 de setembro de 1936. Jornal Mensal da Rádio Inconfidência. O TUCANO editado em março de 1985.

[17] Depoimento de Geraldo Eustáquio à autora em 17 de abril de 2006

[18] Idem

[19] Memorando da Coordenação de AM e Chefia de Produção para Produção, Apresentadores e Operadores do Programa A Hora do Fazendeiro. 14/06/00

[20] Bruno Marun. Produtor do programa Hora do Fazendeiro. Depoimento à autora em 11 de abril de 2006

[21] Depoimento de Tina Gonçalves à autora em 12 de abril de 2006

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