PALHAÇO HP:



PALHAÇO e OUTROS REPRODUTORES:

OS CAMPEÕES DA ESPERANÇA

Ricardo L. Casiuch

José Luiz Sammarco Palma

Em Dezembro de 2003

Certas histórias passam de geração em geração segundo o modo de narrar de quem as conta. A isto chamamos de lenda, pois ‘quem conta um conto, espicha um ponto’.

As linhas que se seguem vieram a mim de modo muito saboroso, qual broa de fubá de milho fumegante saindo do fogão à lenha em tarde chuvosa.

Descreve a saga de um cavalo marchador que se tornou o ídolo de sua cidade, Altinópolis, encravada nas alturas das serras que permeiam pela Alta Mogiana.

Cavalo - herói, Palhaço era cria do Coronel da Guarda Nacional - Honório Vieira de Andrade Palma, pai dos eminentes criadores Paulo e Luiz Garcia Palma.

Vamos, então, à nossa história que trança pelos meandros das exposições de eqüinos e decisões de juizes de pista, serpenteando por textos de época.

“(...) SÃO PAULO & MINAS – PALHAÇO

Texto de Luiz Carlos Palma

Outono no ar. A tarde do dia “meio da semana” parecia um domingo festivo. O povo, cerca de trezentas pessoas, estava agrupado à frente da Estação da Estrada de Ferro São Paulo & Minas. A banda de música “Lyra de Orpheu”, regida pelo maestro Ítalo Pierucci, estava na prontidão. Os meninos, adiantados como sentinelas, vigiavam a chegada do trem. Voltaram correndo, aos gritos de alegria, e logo se ouviram os três apitos alongados da locomotiva. Plataforma apinhada.

A banda retumbou os primeiros acordes da recém composta marchinha “São Paulo & Minas carrega nosso Campeão”. Obra da lavra do maestro Ítalo, encomenda especial do Coronel Honório Palma para o evento. Notas pistonadas e trinadas pelos instrumentos de sopro apoiadas nos bumbos e pelas tubas. Aplausos, gritos de alegria e saudação. O maquinista, tentando manter ritmo, alucinava os apitos da locomotiva. Foguetório de combate. Vivas... Vivas... Vivas...

Trem de carga com vagão único de passageiros. Ângelo Lúcio, no segundo degrau da escadinha do vagão, saudava com gestos largos. O povo literalmente o carregou nos ombros até perto onde estava o Coronel e os filhos: o Major, o Capitão e o Tenente. O povo quase fez silêncio.

O barulho da porta do vagão - gaiola abrindo trouxe um silêncio mais definitivo. Ângelo, segurando o cabresto, desceu a rampa do vagão conduzindo a estrela do dia: Palhaço, cavalo do Coronel que havia feito bonito na Exposição de Mangalarga do Rio de Janeiro. O campeão estava trazendo a medalha para a sua cidade. Cavalo não possui orgulho, mas aquele estava orgulhoso. Ângelo Lúcio, cavalariço – cavaleiro, alto, magro e corpulento dava falta de um corpo maior para conter sua alma que pedia para explodir. Tenente, que havia levado para o pai o Palhaço ao Rio de Janeiro, se sentia surdo, mudo, com o corpo formigando e uma lagoazinha nos olhos. Emoção pura.

Passada a recepção na Estação Ferroviária, muita gente quis “dar uma voltinha” no cavalo. Assim até chegaram à Praça da Matriz. Foi permitida a montaria para alguns. Palhaço representou, em Altinópolis, a sua categoria campeã de Marchador.

Marcou época. (...)”

E continua a descrição do belo evento com uma das testemunhas juvenis:

“(...) Ângelo Lúcio chegou de trem da São Paulo & Minas. Uma multidão de 300 pessoas estava esperando. Não me lembro exatamente da data. A banda “Lyra de Orpheu” tocou o dobrado: “Palhaço veio na São Paulo & Minas”, referindo ao cavalo Palhaço que tinha ido ao Rio de Janeiro participar da Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga. Lembro que a música que a banda tocava foi feita pelo maestro Ítalo Pierucci por encomenda do Coronel Honório Palma, proprietário do cavalo.

Na época eu tinha quinze anos. Lembro que o Ângelo Lúcio veio sozinho acompanhando o Palhaço. O Tenente (filho do Coronel que havia acompanhado o cavalo ao Rio de Janeiro) deve ter vindo na frente. A São Paulo & Minas era uma estrada de ferro particular, construída pelos ingleses. Ligava as cidades de Ribeirão Preto (SP) e São Sebastião do Paraíso (MG). Altinópolis ficava no trajeto.

O povo elogiava muito o cavalo que trouxe a medalha. Entre as pessoas que ali estavam, tenho lembrança da família do Coronel, o Oldemar Brondi, os ‘patrícios’ todos foram: André Abrão, Augusto ‘Carroceiro’, João Isaac, Isaac José, Orlando José, Elias Alfredo e mais outros. Todo mundo queria ‘dar uma volta’ no Palhaço. Todos comentavam que ele tinha sido campeão.

O Ângelo Lúcio era uma espécie de corretor de gado e de cavalos. Era um especialista entendido. O Palhaço era “amarelo-claro” (na realidade, Palhaço era alazão). Fiquei com uma vontade danada de montar nele. Foi uma festa e tanto.

Inesquecível.[1]

Como se distanciar da figura épica do campeão – Palhaço, e de seus admiradores?

O CAVALO E O TREM

Luiz Carlos Palma

(filho único do ‘Tenente’)

“(...) Passo largo, com compasso na música suave e intenção de ir longe. Pêlo brilhante, afora à sela, reluzia ao sol da Capital da República. Cavaleiro, Ângelo, de primeira, dominava no adestramento e com a amizade de quem pegou no berço, Palhaço, o cavalo, desfilava na pista Mangalarga, em 1936, no Rio de Janeiro.

Tenente pediu ordem ao Coronel, e levou.

O embarque foi mais ou menos discreto. Estrada de Ferro São Paulo & Minas, Mogiana até Guará. Companhia de Estrada de Ferro Paulista, depois não sei. Chegaram lá.

Chegados, cavalo na baia, Tenente e Ângelo se hospedaram em hotel e, depois do banho completo, esperado em quatro dias, tiraram uma soneca de quatro horas. Bateu na porta do quarto o acadêmico de medicina Arsênio Agnesini. Terra distante, abraços efusivos. Arremessaram, juntos, ao Café Colombo. Às seis horas da manhã. Ângelo Lúcio já estava na Hípica cuidando do Palhaço. Tenente chegou cinco minutos depois. Estava pagando o chofer de praça. Negociava.

O belo e bom Palhaço, apesar de uma cabeça fenotípica meio pesada, foi classificado pela origem e pelo que era ademais. Os Junqueira, sei lá quais, premiaram um cavalo ruim.

A locomotiva, a ‘57’, apitou depois da subida. Muita gente estava na Estação de Altinópolis para receber o Palhaço. Terra perto, abraços mais que efusivos. Abraços no perto chegante.

O meu pai Tenente morreu quando eu tinha dois meses nascido, em 1940 no novembro. O Palhaço morreu de velhice na Fazenda Bela Vista, quando eu tinha oito anos. Juca Lourenço, meu avô materno, dono da Bela Vista, fez questão de enterrar junto ao Palhaço, cova bem feita, uma das esporas do Tenente. A outra, não uso no Carnaval, meu cavalo, filho da égua Valsa e do Fidalgo que, há quase um século, marchando, mantêm aquele passo de compasso na música suave e vontade de ir longe. Marchador.

Eu não sou criador de cavalos, mas nasci na paixão. Aquele quem cria cavalos precisa de uma personalidade particular e identificada a qual não desenvolvi. Gosto de beber cerveja e escrever bobices. (...)”

A origem desta saga inicia-se com Honório Garcia Palma, o ‘Tenente’, que foi ao Rio de Janeiro em Julho de 1936 e escreveu duas cartas a seu pai – Coronel Honório Palma, que ficara em Altinópolis aguardando notícias da Exposição no Rio de Janeiro. Vejamos:

“(...) Querido Papai.

Saudações.

Fiz boa viagem, só que estou muito cansado. Quanto ao Palhaço, vai bem. A classificação deve ser amanhã cedo. Tem uns cavallos que é uma maravilha, mas eu espero que o Palhaço não ficará muito atráz. Logo que for feita a comunicação, eu quero ter o prazer de comunicar a classificação do Palhaço.

Sem mais saudades aos manos, e com a Mamãe queira abençoar o filho.

Tenente

(...)”

E na seqüência, a mensagem sobre a classificação do Palhaço:

“(...) Rio de Janeiro, 18 de Julho de 1936

Querida Mamãe.

Já foi feito o julgamento dos cavalos, o Palhaço não foi classificado.

Formaram uma briga danada. Os julgadores eram os Junqueira ahi de São Paulo, e deram o prêmio para um cavalo muito ruim, e os outros deram na mala.

Os mineiros não aceitaram a classificação, nomearam uma comissão deles para a classificação de seu estado[2].

Os gaúchos ficaram no tinteiro, nem olharam para elles.

Saudades aos manos e queira abençoar com Papai o filho.

Tenente

Obs: Palhaço está fazendo figura.

(carta em papel timbrado do Hotel Vera Cruz, Rua Pedro I no. 35, próximo à Praça Tiradentes)

Ao final do século XX, para cimentar a os ensinamentos de criação que herdaram de suas raízes, colheram-se depoimentos de 2 ramos férteis da tropa do Coronel, quais sejam, as visões de Paulo e Luiz Garcia Palma:

A TROPA DO CORONEL E SEUS DESCENDENTES

Depoimento gravado pelo Dr. Paulo Garcia Palma referente à origem da tropa de cavalos do Coronel Honório Vieira de Andrade Palma e de sua própria tropa.

“(...) A tropa HP veio com meu pai de Santa Rita de Passa Quatro (SP). A tropa era criada pelo pai dele, com origem do avô de sua mulher, isto é, do avô da minha avó, o Capitão – Mór de Franca – Francisco Antonio Diniz Junqueira, filho do casal da Traituba.

Então o meu pai trouxe a tropa lá de Santa Rita em 1890, dos meus bisavós.

Trouxe para a Fazenda da Invernada aqui em Altinópolis. Tinha um pasto, o pasto das éguas, onde essa tropa ficava. O primeiro cavalo..., acho que era o Soberbo. Depois a tropa teve prosseguimento. Eu lembro que meu pai vendia potro a conto de réis, que na época era considerado alto preço.

Essa tropa prosseguiu se aperfeiçoando, eu me lembro dos anos ‘20’, por exemplo. De ’21’ a ‘25’ tinha o cavalo Mato Grosso, que era um cavalo lerdo, mas era reprodutor. Mas o principal era o Alegre, que veio do Pio Avelino, parente nosso, de Patrocínio Paulista. O Alegre trouxe para a tropa de meu pai uma característica muito marcante: a cabeça. Cabeça bonita. Testa larga e profunda. Eu não me lembro da marca do Alegre. Depois vieram o Faceiro, além do Mato Grosso. E depois, o Tango. O Tango tinha uma cor diferente da tropa e imprimiu aquela cor em vários filhos. E, meu pai chegou a ter cerca de 60 éguas no pasto. Reunia-se essa tropa no curral do meio da Invernada. Então soltava-se os cavalos. Do outro lado, no pasto da caixa d´água tinha jumentas. Meu pai criava jumentos também. Tinha jumentos e jumentas para ele tirar a tropa de burros. O negócio evoluiu. E o fato importante é que meu irmão Tenente tirou o Palhaço. E o Palhaço chegou a ser premiado numa exposição do Rio de Janeiro em 1936. (ver cartas).

Mas meu pai continuava como grande criador e vendendo potro a conto de réis. Eu me lembro quando eu estava no colégio e meu pai pagou dois contos, que era a anuidade lá, com dois cavalos. Eu lembro dos 2 cavalos que os padres andavam no Colégio de Batatais. Então era esse capricho, meu pai caprichava muito, mas não havia muita preocupação com o casco. Não havia não, o negócio era assim solto mesmo. Criado em larga escala, com poucos trabalhadores. E, depois veio o Faceiro. Aí apareceu o cavalo de meu outro irmão, o Capitão (Manoel)... o Camões. Eu me lembro que ele andava no Camões. Ele oferecia um cômodo espetacular. Cavalo macio, esperto. A gente olhava no pescoço, era um pescoço grosso. Era uma visão cheia, um cavalo obediente. Extremamente macio e bom. Dizem que foi uma égua do meu pai lá para o tio José Honório em São Sebastião do Paraíso (MG) e lá enxertou e trouxe o Camões. A grande obra do Camões foi de melhorar a tropa do meu pai... ele melhorou, apesar de cego do olho direito, em um acidente, mas era cômodo. Ele deu o Alegre e esse belo cavalo ficou sendo conhecido como Alegre do Major, meu irmão, para diferenciá-lo do primeiro Alegre. O Alegre do Major saía daqui do Amendoim e ia na Fazenda Barrosa numa marcha só, sem parar, perto de 40 kms. E voltava de tarde. Cavalo marchador e meio indócil. Era tordilho – lobuno quando jovem, e no fim da vida, completamente pedrês. Extremamente fogoso, mas uma marcha esplêndida. Uma marcha de Mangalarga mesmo. Aí nós ficamos cada um com 6 éguas. O Luiz, o Capitão, o Major e eu, porque o Tenente havia falecido. Eu não tinha reprodutor, mas a Invernada era encostada no Amendoim; e eu mandava as éguas enxertarem do Alegre...

Comecei, então, a minha criação, que reputo também importante porque resultou no Faceiro V, compreendeu (,)... que teve bons descendentes. Descendentes que foram campeões nacionais... compreende (,)... e então, comecei.

Eu tinha uma égua chamada Mineira[3], tinha também outras muito boas. Então o 1º Faceiro partiu do Alegre do Major com a Mineira, depois... bom... o Alegre continuou enxertando. Saiu o 1o Faceiro. Então houve consangüinidade. Até que surgiu o chamado “Faceiro Capão”, que foi o melhor cavalo que eu tive. Era o Faceiro número IV, que é pai deste último Faceiro que morreu. O “Faceiro Capão” produziu estas éguas notáveis que eu tenho das melhores, além de ser pai do Faceiro, esse último. Ele se chamava “Faceiro Capão” porque o Antonio Egídio não montava bem a cavalo. O cavalo dava uns pulinhos. Então ele insistiu... ele insistiu, e como nós tínhamos outro Faceiro resolvemos capá-lo porque o “Faceiro Capão” era um cavalo indócil. Bom... nós continuamos assim... o Luiz continuou com a tropa dele, paralela à minha. O Major teve a tropa... digamos... diluída. O Luiz andou ficando com as éguas do Major; o Capitão parou com o negócio. Ficamos nós dois, o Luiz e eu. Um a ver o progresso do outro.

O Luiz se serviu na tropa do meu pai; ele preferiu a linha do Camões, à linha do Alegre do Major. Andou tirando produção do Faceiro, que é da linha do Alegre do Major, mas só depois que eu tirei o Faceiro da minha fazenda e mandei para ele. O Faceiro ficou lá uma porção de tempo. E o Luiz teve umas cabeceiras com o sangue do Faceiro[4], todavia ele tem a tropa com o sangue original.

Agora nós estamos admitindo cavalos estranhos. O técnico, por exemplo, veio na minha fazenda e disse – “Escuta, Sr. não precisa ir lá... o Sr. tem uma tropa colosso... tal e tal...Está vendo aí que é Mangalarga Marchador da melhor qualidade, e dos antigos, com a anca meio fraca mas de marcha espetacular. O Sr. podia ir lá em Juiz de Fora. Lá tem fulano, beltrano... Eu fui lá e trouxe. Eu trouxe o Herdade Fidalgo[5] e o Herdade Platino[6]. Agora, por exemplo, eu vejo o Platino sendo consagrado com uma filha, uma potrinha, que está no Luiz pois a égua está sendo enxertada e a potrinha está no pé da égua; aquela potrinha é o máximo da minha criação. Uma beleza! Uma coisa! É irmã de uma que foi campeã nacional de marcha, filha de Platino, lá para os lados de Minas Gerais.

Eu sei que temos a tropa nessas condições. Pergunta-se: - qual é o cavalo mais importante? É claro que foi o Alegre, o primeiro; mas depois vieram outros.

Ultimamente, qual é o grande cavalo? O Alegre do Major, esse cavalo foi o grande cavalo.

Agora, o super super, não tem dúvidas, foi o Camões. O Camões era o cavalo ideal. Há pouco tempo eu andei no Faceiro. Há quatro anos atrás. O Faceiro tem a mesma visão... a gente se sente como se estivesse montando o Camões. E, graças a Deus, a nossa tropa está consagrada. Consagrada nas pistas regionais, estaduais e federais. Somos considerados na Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador como um dos melhores criadores de cavalos marchadores. Por isso a contribuição nossa é fundamental. Eu, por exemplo, passei 50 anos escolhendo o reprodutor que marchasse do meu gosto. Uma marcha macia e vistosa. E eu tenho essa marcha até hoje em toda a minha tropa. E, então, nós continuamos e vamos ver se progredimos. Chamo a atenção do José Luiz, que deve estar me ouvindo, para a minha eguinha que está no haras dele. Filha do Platino com a minha égua, essa égua que é filha da Serena, uma das melhores filhas do Faceiro Capão. Filha da Serena com o Expresso de Santa Lúcia. Então o Platino enxertou. Está lá essa eguinha. Ela é o máximo. É o máximo do que pude oferecer até agora em matéria de criação de cavalo.

É isso aí!

Tchau e benção! (...)”

CONQUISTA DA MARCHA

Texto de Luiz Garcia Palma

“(...) Quando o Coronel Honório Vieira de Andrade Palma viu pela primeira vez o vale do Sapucaí Mirim, nas cercanias de Mato Grosso de Batatais, e resolveu estabelecer a sua morada nas terras onduladas à margens do Ribeirão de São João, um afluente menor, não poderia supor que seu filho caçula, de uma irmandade de oito, iria lembrar-se da sua saga e herdar, como os outros irmãos, o seu amor pelo cavalo.

O século XIX adeava de sua marcha de 100 anos, e o casal recém-casado em 1894 trazia na sua mudança uma bruaca cheia de tradições.

Tanto ele como a sua jovem esposa eram descendentes de imigrantes do Sul de Minas[7]; mineiros que povoaram no Estado de São Paulo toda a região de Ribeirão Preto, desde as barrancas do Rio Grande, às cabeceiras do Rio Pardo.

Nesta região meus pais se instalaram, prosperaram e trouxeram em suas raízes a cultura e a tradição dos mineiros; e nos alforjes de sua ‘traia’, o gosto pelo cavalo marchador que levava em seu lombo os arreios dos caçadores de veado e o cilhão das mulheres, nas longas caminhadas de dez dias, nas visitas aos parentes distantes.

Nestes ambientes fomos criados: comendo leite com farinha e galinha com angu, rezando a Nossa Senhora e agradecendo a Deus toda noite quando a mãe nos vestia o camisolão para dormir.

Esta era a família do Patriarca e neste clã o cavalo era fundamental; instrumento de trabalho e de lazer.

O seu primeiro reprodutor foi Despacho, que gerou Alegre, o genearca, que gerou Faceiro, que gerou Palhaço, que gerou Camões, pai do Alegre do Major, que cobriam suas tias e sobrinhas.

Era, portanto, uma criação de alta consangüinidade e todos os garanhões excelentes marchadores.

Suas divergências com os Junqueira em relação ao andamento, inspirados em João Francisco Diniz Junqueira, criador de marcha trotada, não o animou para que controlasse seus animais na recém fundada Associação dos Criadores do Cavalo Mangalarga, permanecendo-os sem registro.

Sua fama de criador de Marchadores, que chegou a ter 500 éguas, era notória.; e além disso, criava o Caracu Caldeano, Jumento Nacional, burros e cavalos marchadores.

Quando uma vaca valia cinqüenta mil réis, ele vendia seus potros por um conto de réis.

Em 1940 doou suas terras e as melhores matrizes a seus filhos, e 4 descendentes de Camões continuaram seu trabalho: Alegre do Major, Faceiro II, Cravo e Baio.

Esta é a origem da tropa ‘Esperança’, que por 100 anos seleciona a marcha.

Estes são os animais que oferecemos aos companheiros, todos marchadores.

Um século de seleção de marcha batida na batida do martelo. Uai!

Quem tem ESPERANÇA, nunca perde a MARCHA! (...)”

Em resumo, ao delinearmos a evolução da tropa do Coronel e de seus familiares, encontramos os seguintes reprodutores sendo utilizados em torno de uma consangüinidade, que soube aproximar as qualidades do andamento marchado e exaltar os detalhes de uma morfologia bem inserida no Padrão da Raça:

1910 – 1920 ( Despacho e Soberbo

1920 – 1925 ( Alegre

1930 – 1935 ( Faceiro e Canário

1935 – 1940 ( Palhaço

1940 – 1945 ( Camões

Número do Registro: 000259/D na ABCCR MANGALARGA

Nome do Animal: CAMOES

Sexo: Macho Reg.: Definitivo

Nascimento: ?

Pelagem: TORDILHA

Sangue: Puro

Criador: HONORIO VIEIRA ANDRADE PALMA (ESP) - 00059

Proprietário: HONORIO VIEIRA ANDRADE PALMA (ESP) - 00059

1950 – 1960 ( Alegre do Major, Mulato e Galante

A partir daí, no ramo da tropa ‘ESPERANÇA’:

1960 – 1970 ( Baio e Cravo

1970 – 1975 ( Cantagalo Furor

|Registro : |0260 |Livro : |5 |Sexo : |Macho |Nascimento : |21/9/1969 |

|Nome : |CANTAGALO FUROR | | | | | | |

|Proprietário : |JOSÉ THALES MEIRELLES | | | | | | |

|Criador : |ROSALVO JOSE DE SOUZA | | | | | | |

|Pelagem: |CASTANHA | | | | | | |

|Tipado : |NÃO | | | | | | |

|0101 - 5 |89 - 3 | |

|CANTAGALO FILON |CANTAGALO BATON | |

| | | |

| |690 - 4 | |

| |CANTAGALO RAINHA | |

| | | |

|1973 - 4 | | |

|CANTAGALO FADA | | |

| | | |

| | | |

| | | |

Furor foi pai, entre outros, da excepcional matriarca Dieta (x Canoa), inscrita no Livro de Elite MM 7 sob o no. 0198.

1975 – 1980 ( Faceiro V

1980 – 1990 ( Caxambu Hindu (pai da Livro de Elite MM 7 no. 0200 – Grapete da Esperança)

Herdade Platino

Herdade Fidalgo (Livro de Elite MM 7 no. 0104)

Herdade Maxixe (Livro de Elite MM 7 no. 035 e pai da Livro de Elite MM 7 no. 0349 – Maçã da Esperança)

Angahy Elegante (pai da Livro de Elite MM 7 no. 0240 – Jabuticaba da Esperança e da Livro de Elite MM 7 no. 0473 – Nêspera da Esperança)

Hippie da Esperança (Livro de Elite MM 7 no. 0191 e pai da Livro de Elite MM 7 no. 0481 – Portaria da Esperança)

Atualmente ( Angahy Elegante (Abaíba Bem Ti Vi x Angahy Sevilha)

Radium da Esperança (Angahy Elegante x Maçã da Esperança

Universo da Esperança (Netuno A.J. x Jabuticaba da Esperança)

E os principais garanhões do ramo ‘P.G.P.’

1960 – 1970 ( Faceiro

1970 – 1975 ( Faceiro Capão

1975 – 1980 ( Faceiro V e Cantagalo Furor

1980 - 1990 ( Herdade Platino

Expresso de Santa Lúcia (Ouro Preto do Porto x Dançarina de Santa Lúcia)

Herdade Fidalgo

1990 –1995 ( P.G.P. Dínamo (Herdade Fidalgo x P.G.P. Valsa)

Atualmente ( P.G.P Dínamo

E, assim, encerramos um capítulo desta saga movida pelas patas de marchadores exuberantes, não sem antes lembrarmos das palavras de José Luiz Sammarco Palma:

“(...) Enfim, é trabalho que necessita de tempo, e o pedimos a Deus. E que nós possamos aproveitar tudo o que a vida nos oferece.

Não se esqueça de que o Palhaço, não sendo campeão no Rio de Janeiro, aqui em Altinópolis, com banda de música etc. e tal, se tornou Campeão.

Em resumo, o Campeão sem ter sido Campeão.(...)”

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[1] Depoimento do Sr. João Abrão, pai do Dr. João Abrão Filho, Presidente do Sindicato Rural de Altinópolis (SP).

[2] E na classificação dos mineiros, o vencedor foi Abaíba Niterói (Abaíba Javari x Abaíba Lôla), nascido em 19 de Dezembro de 1928, utilizado no rebanho da Fazenda Abaíba entre Junho de 1933 e Dezembro de 1935. Campeão da Raça na Exposição Nacional de Animais em 1936 no Rio de Janeiro. Vendido para o Governo Federal. Era muito bem caracterizado e conformado, apesar de apresentar o pescoço um pouco pesado. Ótimo marchador. Ótimo reprodutor. (dados colhidos por Maurício Ribeiro Gomes – Tese de Mestrado – 1959 – UREMG – Viçosa – MG)

[3] Nota do Autor: esta é a matriz P.G.P. Mineira, registro no. 3923-4 na A.B.C.C.M.M. Outras éguas de Paulo Garcia Palma que foram registradas em Livro Aberto na mesma época: Faceira, Trigueira, Mangueira e Lagoa.

[4] Nota do Autor: as primeiras matrizes registradas em Livro Aberto por Luiz Garcia Palma – ‘Esperança’ são: Macaca, Cigarra e Fortaleza (mãe de Hippie).

[5] Herdade Fidalgo – Herdade Cobre x Herdade Soberana, nascido em 29 de Outubro de 1979, criação de José de Andrade Reis na Fazenda Herdade (Simão Pereira-MG)

[6] Herdade Platino – Tabatinga Predileto x Herdade Prata, nascido em 20 de Novembro de 1977, criação de José de Andrade Reis na Fazenda Herdade (Simão Pereira-MG)

[7] A origem da família ‘HP’ no Sul de Minas aponta para a Fazenda Traituba, de onde o Capitão-Mór de Franca – Francisco Antonio Diniz Junqueira migrou para a Alta Mogiana em 1819, sendo considerado o primeiro Junqueira a habitar as terras novas paulistas. Foi com o capital da venda de parte da Fazenda Santo Inácio (Cruzília-MG) que ele adquiriu imensa gleba em terras paulistas.

O Coronel Honório Vieira Palma era filho de José Vieira Palma e Teodósia Vieira de Andrade Palma. Esta, por sua vez, era a 2ª filha de Umbelina de Andrade Diniz Junqueira e Manuel Custódio Vieira. Umbelina, por seu turno, era filha deste citado Capitão-Mór Francisco Antonio Diniz Junqueira e de Mariana Constança de Andrade.

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