TÉCNICAS DE REDAÇÃO - Editora Juspodivm

LILIAN FURTADO VIN?CIUS CARVALHO PEREIRA

T?CNICAS DE REDA??O

para

CONCURSOS

TEORIA e PR?TICA

8? edi??o

Revista, ampliada e atualizada

2021

Cap?tulo III

O PAR?GRAFO DE INTRODU??O

1. A ESTRUTURA GERAL DO PAR?GRAFO DE INTRODU??O

No cap?tulo anterior, estudamos a organiza??o de par?grafos em geral, investigando suas macro e microestruturas. Agora, vamos partir para uma an?lise mais detalhada de um par?grafo de import?ncia crucial na sua prova de reda??o: o par?grafo de introdu??o.

Antes de nos aprofundarmos neste tema, por?m, vale dizer que h? bons textos, publicados em jornais, revistas ou na Internet, que apresentam mais de um par?grafo com caracter?sticas de introdu??o. Entretanto, o objetivo deste livro ? ensinar-lhe como escrever um g?nero textual muito espec?fico, que n?o se confunde com artigos jornal?sticos ou de opini?o. Aqui, estamos nos preparando a fim de escrever reda??es para concursos.

O g?nero reda??o para concurso tem caracter?sticas particulares, que o diferem dos demais: al?m de ser escrito com vistas a uma avalia??o, em um curto prazo de tempo e sem consulta a outras fontes de informa??o, esse g?nero tem uma exig?ncia muito clara: o limite de linhas determinado pela banca.

Assim, n?o adianta voc? escrever dois ou tr?s ?timos par?grafos introdut?rios, se, na maioria das provas, s? vai ter direito a redigir trinta linhas ao todo. ? preciso planejar seu texto, conforme vimos no cap?tulo I, tentando certa simetria entre os par?grafos. N?o ? necess?rio que eles tenham rigorosamente a mesma extens?o, mas ? interessante que n?o difiram drasticamente entre si.

Dessa forma, levando em considera??o que geralmente se espera do candidato um texto dissertativo com quatro ou cinco par?grafos, um ?nico par?grafo introdut?rio ? o suficiente, no qual devem ser claramente definidos o tema do texto (proposto pela banca) e o posicionamento do autor (em caso de texto argumentativo), ou o tema do texto e o recorte proposto pelo autor (em caso de texto expositivo).

A fim de ver melhor como esse par?grafo se articula com os demais, leia atentamente o texto a seguir:

T?CNICAS DE REDA??O PARA CONCURSOS ? Lilian Furtado e Vin?cius Carvalho Pereira

Contribui??o de um antrop?logo

A maior contribui??o do antrop?logo Claude L?vi-Strauss (que, ainda jovem, trabalhou no Brasil, e morreu, centen?rio, em 2009) ? de uma simplicidade fundamental, e se expressa na convic??o de que n?o pode existir uma civiliza??o absoluta mundial, porque a pr?pria ideia de civiliza??o implica a coexist?ncia de culturas marcadas pela diversidade. O melhor da civiliza??o ?, justamente, essa "coaliz?o" de culturas, cada uma delas preservando a sua originalidade. Ningu?m deu um golpe mais contundente no racismo do que L?vi-Strauss e poucos pensadores nos ensinaram, como ele, a ser mais humildes.

L?vi-Strauss, em suas andan?as pelo mundo, foi um pensador aberto para influ?ncias de outras disciplinas, como a lingu?stica. Foi ele tamb?m quem abriu as portas da antropologia para as ci?ncias de ponta, como a cibern?tica, que era ent?o como se chamava a inform?tica, conectando-a com novas disciplinas como a teoria dos sistemas e a teoria da informa??o. Isso deu um novo perfil ? antropologia, que propiciou uma nova abertura para as ci?ncias exatas, e reuniu-a com as ci?ncias humanas.

Em 1952, escreveu o livro Ra?a e hist?ria, a pedido da Unesco, para combater o racismo. De fato, foi um ataque feroz ao etnocentrismo, materializado num texto onde se formulavam de modo claro e intelig?vel teses que excediam a mera discuss?o acad?mica e se apoiavam em fatos. Comenta o antrop?logo brasileiro Viveiros de Castro, do Museu Nacional: "Ele traz para diante dos olhos ocidentais a quest?o dos ?ndios americanos, algo que nunca antes havia sido feito. O colonialismo n?o mais podia sair nas ruas como costumava fazer. Foi um cr?tico demolidor da arrog?ncia ocidental: os ?ndios deixaram de ser rel?quias do passado, deixaram de ser alegorias, tornando-se nossos contempor?neos. Isso vale mais do que qualquer an?lise."

Reconhecer a exist?ncia do outro, a identidade do outro, a cultura do outro ? eis a perspectiva generosa que L?vi-Strauss abriu e consolidou, para que nos v?ssemos a todos como varia??es de uma mesma humanidade essencial.

(Carlos Haag, Pesquisa Fapesp, dez. 2009, com adapta??es.)

No par?grafo de introdu??o, o leitor logo pode perceber a tese defendida pelo autor do texto: "Ningu?m deu um golpe mais contundente no racismo do que L?vi-Strauss e poucos pensadores nos ensinaram, como ele, a ser mais humildes". Veja, por?m, que, antes de afirmar sua tese, o autor optou por fazer uma ambienta??o do tema, isto ?, uma apresenta??o panor?mica do assunto de que fala o texto, mas sem expressar ainda seu ponto de vista.

Uma organiza??o textual como essa, no par?grafo de introdu??o, n?o ? obrigat?ria, mas se revela muito produtiva, especialmente quando temos de escrever r?pido, como em um concurso. Redigir primeiro uma frase com uma informa??o geral acerca do tema e depois outra contendo o ponto de vista defendido na argumenta??o ? um expediente para evitar o t?pico "branco" no in?cio do texto, se??o que costuma tomar mais tempo dos candidatos na hora da prova.

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Cap. III ? O par?grafo de introdu??o

Al?m disso, ordenar as informa??es em cada par?grafo, da mais gen?rica para a mais espec?fica, n?o ? novidade para voc?. No cap?tulo II, vimos como essa estrutura organiza as ideias e favorece o fluxo da leitura e da escrita no ?mbito de cada par?grafo.

A reda??o da introdu??o ? uma das partes mais importantes na elabora??o de um texto dissertativo argumentativo, uma vez que os par?grafos de desenvolvimento devem remeter diretamente ? tese apresentada no in?cio do texto. ? um erro comum dos candidatos redigir par?grafos argumentativos que n?o respaldam especificamente a tese apresentada na introdu??o, limitando-se apenas a expandir o tema apresentado no primeiro par?grafo. Tal abordagem s? ? plaus?vel em um texto dissertativo expositivo, em que n?o h? tese a ser defendida, apenas t?picos a serem desenvolvidos, em car?ter informativo.

No texto argumentativo que estamos analisando, note como todos os demais par?grafos remetem diretamente ? tese contida na introdu??o:

? 1.? par?grafo do desenvolvimento (2.? par?grafo do texto): apresenta o percurso intelectual trilhado por L?vi-Strauss, que influenciou a antropologia e deu ensejo ? cr?tica ao racismo mencionada na tese;

? 2.? par?grafo do desenvolvimento (3.? par?grafo do texto): emprega um exemplo not?rio de texto de L?vi-Strauss contra o racismo e alude ao testemunho de uma autoridade no assunto, que corrobora a tese expressa na introdu??o;

? par?grafo de conclus?o (4.? par?grafo do texto): reafirma a tese, parafraseando-a e acrescentando uma frase de efeito acerca da aplica??o da vis?o antirracista ? vida em sociedade.

No entanto, ? muito pouco dizer que a introdu??o deve conter a delimita??o do tema e a tese defendida pelo autor. H? diferentes t?cnicas para faz?-lo, que veremos a seguir. Optamos, neste caso, por redigir diversos par?grafos introdut?rios sobre um mesmo tema, o papel da mulher no s?culo XXI, mas usando t?cnicas diferentes, a fim de mostrar as diversas op??es de que voc? pode se valer na hora da prova. Escolha aquela com que voc? tem mais facilidade e pratique-a!

2. T?CNICAS PARA REDIGIR UM PAR?GRAFO DE INTRODU??O

2.1. Abordagem padr?o

Neste tipo de introdu??o, apresenta-se primeiramente a tese e logo a seguir enumeram-se os argumentos que ser?o desenvolvidos ao longo do

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texto (cada um desses argumentos corresponder?, a seguir, a cada um dos par?grafos subsequentes). Veja o exemplo abaixo:

O mundo moderno, apesar de j? perceber em sua constitui??o uma maior igualdade entre homens e mulheres, ainda est? eivado de situa??es ultrajantes para o sexo feminino. Nesse contexto, podemos perceber a submiss?o das mulheres islamitas a seus c?njuges, a press?o da m?dia sobre a est?tica feminina e a resist?ncia dos homens quanto a auxiliar suas esposas nas tarefas dom?sticas.

Nesse caso, a primeira frase, t?pico frasal do par?grafo, ? tamb?m a tese do texto (ponto de vista principal defendido na reda??o). Seguem-se a ela tr?s argumentos, que ser?o explorados em detalhe nos pr?ximos tr?s par?grafos de desenvolvimento. Essa t?cnica de introdu??o ? muito produtiva, na medida em que exige poucos minutos para sua elabora??o.

? preciso, no entanto, tomar cuidado para n?o tornar seu texto repetitivo. Se voc? citou os tr?s argumentos j? na introdu??o, n?o dever? faz?-lo novamente na conclus?o. Al?m disso, em uma abordagem como essa, ? interessante que os par?grafos de desenvolvimento sejam iniciados por elementos coesivos que remetam ? no??o de enumera??o, presente na introdu??o. Dessa forma, ? uma boa ideia come?ar cada um deles por express?es como primeiramente, em primeiro lugar, al?m disso, ademais, some-se a isso etc. Retomar ao longo do texto a estrutura enumerativa presente na introdu??o garante ? sua reda??o mais coes?o e unidade.

2.2. Defini??o

Nesse tipo de introdu??o, antes de apresentar a tese, faz-se uma ambienta??o, isto ?, uma afirma??o inicial que situa a tese na proposta dada pela banca. Neste caso, a ambienta??o pode ser a defini??o de um conceito-chave para a argumenta??o acerca do tema proposto. Veja:

A pr?pria palavra "mulher" carrega em si uma ambiguidade que denota, de certa forma, a situa??o ambivalente que vivem hoje os membros do sexo feminino de nossa esp?cie. Se, por um lado, esse voc?bulo quer dizer "ser humano do sexo feminino", por outro pode ser empregado como sin?nimo de "esposa". Mas ser mulher implica, de fato, ser esposa? Essa breve reflex?o de ordem lingu?stica reflete um pouco do imagin?rio popular acerca do feminino em nossa sociedade e a urg?ncia de que se reavaliem as representa??es sociais sobre esse grupo.

Como, na hora da prova, voc? n?o ter? acesso a dicion?rios ou outras fontes de consulta, tente bolar sua pr?pria defini??o, mas tome o cuidado

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Cap. III ? O par?grafo de introdu??o

de n?o ser demasiado reducionista. A partir dessa defini??o, introduza sua tese, situando-a em rela??o ? ambienta??o do tema. Essa modalidade de introdu??o ? extremamente produtiva em textos expositivos, em que a banca geralmente pede que voc? escreva sobre determinado item do edital, discorrendo informativamente sobre ele.

2.3. Questionamento(s)

A ambienta??o pode tamb?m ser composta por uma ou mais perguntas, que convidam o leitor ? reflex?o acerca do tema. No entanto, tome o cuidado de, ap?s essas perguntas, afirmar sua tese. N?o deixe tamb?m de responder a todas as perguntas ao longo de seu texto.

Observe o exemplo a seguir:

? ainda cab?vel, na sociedade hodierna, a express?o "sexo fr?gil'? A evolu??o da hist?ria confirma a derrocada de tal clich?, visto que, dia ap?s dia, as mulheres assumem postos de trabalho e fun??es sociais at? ent?o restritas ao homem.

Vale ressaltar que esses questionamentos, chamados de perguntas ret?ricas, s?o apenas falsas perguntas, servindo mais ? condu??o do racioc?nio do autor do que a uma efetiva demanda por determinada resposta. Dessa forma, evite responder a tais questionamentos simplesmente dizendo "sim" ou "n?o". Como sua fun??o ? ajudar o encadeamento da argumenta??o, as respostas devem ser apresentadas em frases completas, que sustentem a tese defendida ao longo do texto.

2.4. Cita??o

A ambienta??o tamb?m pode apresentar uma cita??o de algu?m famoso. Nesse caso, lembre-se de p?r entre aspas uma fala que n?o ? propriamente sua, caso seja transcrita literalmente. No entanto, se voc? n?o tiver certeza sobre a forma exata da cita??o, ? melhor parafrase?-la (escrev?-la com suas pr?prias palavras). Al?m disso, n?o deixe de colocar sua tese logo ap?s a cita??o.

"As feias que me perdoem, mas beleza ? fundamental". Essa cita??o do poeta brasileiro Vin?cius de Moraes revela-se n?o s? politicamente incorreta, mas tamb?m caduca nos dias de hoje. A atualidade enxerga a mulher sob uma nova perspectiva, n?o mais atrelada ? sua constitui??o f?sica, como um objeto, mas voltada para aspectos como for?a de trabalho, produ??o intelectual e igualdade

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de direitos. O sexo feminino equipara-se, assim, ao masculino e exige tratamentos iguais.

A cita??o pode servir como ponto de partida a ser ratificado ou criticado, mas ? importante que voc? escolha com propriedade que autor e que fala ir? reproduzir em seu texto. D? prefer?ncia a pessoas famosas e consideradas refer?ncias no tema sobre o qual voc? est? escrevendo.

2.5. Sequ?ncia de frases nominais

Um recurso interessante para iniciar um texto ? fazer uma enumera??o de frases nominais (sem verbo), separando-as por ponto final. Por ser uma estrat?gia diferente, isso chama a aten??o do leitor. Como sempre, a presen?a da tese logo ap?s essa ambienta??o ? fundamental. Veja:

Panela no fog?o. Celular apoiado entre o ombro e a orelha. Filho choroso. Pilha de relat?rios a serem lidos e assinados. Essa ? a rotina estressante de uma s?rie de brasileiras, que, dadas as dificuldades econ?micas por que passa o pa?s, n?o podem depender apenas do sal?rio de seus maridos. Muitas sequer os t?m, ou s?o casadas, mas n?o desejam depender de seus c?njuges. Todavia, a estrutura familiar ainda tem de flexibilizar-se muito, para que os homens se envolvam plenamente nas tarefas at? ent?o ditas femininas.

Note tamb?m que uma boa sele??o dos elementos a serem enumerados ? crucial: estes devem manter entre si paralelismo sint?tico e sem?ntico, a fim de garantir coes?o ao texto. Isso quer dizer que esses elementos devem ser estruturados basicamente da mesma forma (substantivo + express?o modificadora, no caso aqui analisado) e pertencer a um mesmo grupo conceitual (campo sem?ntico).

2.6. Exposi??o do ponto de vista oposto

Voc? pode tamb?m iniciar seu texto enunciando um ponto de vista contr?rio ao seu, na ambienta??o. Em seguida, use um conectivo que expresse oposi??o de ideias (por?m, no entanto, contudo, todavia etc.) e apresente sua pr?pria tese, provando ser ela mais acertada do que o posicionamento anteriormente mencionado.

H? uma s?rie de homens que dizem que, se as mulheres desejam direitos iguais, t?m de abrir m?o de certas regalias, como o que a tradi??o convencionou chamar de cavalheirismo. Todavia, ? preciso

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Cap. III ? O par?grafo de introdu??o

destacar que a luta feminista n?o visa a acabar com as diferen?as entre os g?neros, tampouco com os mecanismos de intera??o entre eles, como a corte. Seu objetivo ? permitir que homens e mulheres tenham as mesmas chances de decidir sua posi??o na sociedade.

Tal recurso, chamado de contra-argumenta??o, ser? estudado em mais detalhes no pr?ximo cap?tulo, mas pode-se adiantar desde j? que se trata de poderoso recurso de persuas?o, uma vez que desautoriza teses e argumentos opostos ? sua linha de racioc?nio ao mesmo tempo em que define claramente o seu ponto de vista.

2.7. Analogia

Este recurso consiste em, antes da tese, fazer uma compara??o/met?fora com outros campos sem?nticos. Trata-se, no entanto, de uma estrat?gia extremamente arriscada, pois, se mal empregada, pode resultar em um texto pouco objetivo. Caso opte por iniciar seu texto assim, lembre-se de revisitar a mesma analogia na conclus?o e n?o a mencionar repetidamente nos par?grafos de desenvolvimento. Leia um exemplo de introdu??o constru?do dessa forma:

Comer a ma?? parece ter amaldi?oado as filhas de Eva de forma muito mais intensa do que os descendentes de Ad?o. Al?m de perderem o ?den e sentirem as dores do parto, as mulheres parecem condenadas ?s tarefas do lar, ao choro dos filhos e ? submiss?o a seus c?njuges. Faz-se, portanto, necess?rio que os deserdados do Jardim das Del?cias se unam e passem a tratar-se com igualdade, carregando seu fardo de forma igualit?ria.

Veja que o par?grafo acima se vale da imagem de Ad?o e Eva para introduzir seu ponto de vista sobre o papel da mulher no mundo contempor?neo. Atente tamb?m para o fato de que ? imprescind?vel afirmar sua tese claramente logo ap?s essa analogia.

2.8. Alus?o hist?rica

Antes de apresentar sua tese, voc? pode lan?ar m?o de uma ambienta??o que a situe historicamente, expondo, brevemente, os antecedentes hist?ricos que confirmam seu ponto de vista. Veja:

Perto da metade do s?culo XX, o mundo v?-se em meio a um conflito de propor??es colossais deflagrado entre as pot?ncias do globo. Nesse contexto, os homens deixam suas casas e rumam para a

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