PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE ESTIMULAM A LEITURA

[Pages:32]PR?TICAS PEDAG?GICAS QUE ESTIMULAM A LEITURA

Adriana Regina Feltrin Rauen *

RESUMO: A educa??o tem a leitura como meio de inclus?o social e de melhoria para a forma??o dos indiv?duos. Cabe, formalmente, ? escola desenvolver as rela??es entre leitura e indiv?duo, em todas as suas interfaces. No entanto, o tema leitura est? mais associado ? id?ia de fracasso que de sucesso na escola e isso ocorre pelos mais diversos aspectos. Neste artigo ser?o tratadas as pr?ticas pedag?gicas que estimulam a forma??o de leitores. O objetivo principal ? subsidiar a elabora??o de diretrizes que orientem um trabalho pedag?gico eficiente na promo??o e desenvolvimento da leitura. Para isso, na implementa??o do trabalho, fez-se uma revis?o te?rica sobre as concep??es de leitura, estudos sobre o assunto e, assim, levantaram-se pr?ticas pedag?gicas que possibilitam a intertextualidade para o trabalho com a leitura. Essas pr?ticas foram aplicadas num grupo de alunos e os resultados avaliados paralelamente. Estes evidenciam a import?ncia do papel do professor enquanto leitor e mediador, na evolu??o da pr?tica de leitura dos alunos. Destaca-se a import?ncia deste trabalho, pelos professores de todas as ?reas, pois desenvolve um olhar cr?tico e promove a cidadania. Palavras-chave: Leitura. Pr?ticas Pedag?gicas. Intertextualidade. Cidadania.

Abstract: Education has the reading as a means of social inclusion and to improve the training of individuals. It is, formally, the school develop the relations between reading and individual, in all its interfaces. However, the subject reading is more associated with the idea that failure to succeed in school and this occurs based on the most diverse aspects. This article will be treated the teaching practices that encourage the formation of readers. The main objective is to subsidize the development of guidelines to guide an effective pedagogical work in the promotion and development of reading. For this reason, during the work implementation, theoretical reviews were done over the reading's conceptions, the subject was studied, and after that, pedagogical practices that enables the intertextuality to the work with the reading were identified. Such practices have been applied to a group of students and the results evaluated in parallel. They highlight the importance of the role of the teacher as a player and mediator in the evolution of the practice of reading the students. The relevance of this work, by teachers in all fields, as a critical eye develops and promotes citizenship. Keywords: Reading. Practice Education.Intertextual. Citizenship.

* P?s-graduada em Metodologia do Ensino e Avalia??o, professora do Estado do Paran? e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado.

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1. INTRODU??O

? fun??o primordial da escola, ensinar a ler. ? fun??o essencial da escola, ampliar o dom?nio dos n?veis de leitura e escrita e orientar a escolha dos materiais de leitura. Cabe formalmente ? escola desenvolver as rela??es entre leitura e indiv?duo, em todas as suas interfaces.

A escola pode e deve trabalhar, desde as s?ries iniciais, com textos de diversas naturezas; com textos que surjam do cruzamento de linguagens variadas e, evidentemente, com os textos da literatura que criam a possibilidade do indiv?duo explorar dimens?es n?o usuais do imagin?rio coletivo e pessoal.

No entanto, uma das manifesta??es de maior descontentamento entre professores ? que os alunos "n?o sabem ler", "n?o gostam de ler", "n?o aprendem a ler", "n?o entendem o que o professor diz". Portanto, o tema leitura est? mais associado ? id?ia de fracasso que de sucesso.

Discute-se que o fracasso da escola, quanto ? forma??o de leitores, passa pelos mais diversos aspectos, entre eles: pela posi??o dos livros na escala de valores da tradi??o cultural, pelo papel que os livros desempenham no sistema educacional, ou ainda, pela pr?pria forma??o prec?ria de um grande n?mero de profissionais da escrita que n?o s?o leitores, tendo, no entanto, que ensinar a ler e a gostar de ler.

Percebe-se que entre o que o educador espera do aluno enquanto leitor e o leitor real que tem sido formado pela escola h? uma grande dist?ncia, um vazio, a queixa. Neste ponto crucial est? a pr?tica, o trabalho pedag?gico. A pergunta aqui ?: o que acontece no tocante ? leitura, que causa um distanciamento t?o grande entre o que queremos, esperamos e o que temos, os resultados? Por que dizemos querer um

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leitor competente, bem formado e temos como resultado leitores funcionais?

? importante ressaltar que a leitura ? a base do processo de alfabetiza??o e da forma??o da cidadania. Nesta perspectiva, cada professor deve ter clareza de que educa e ensina para o desenvolvimento das potencialidades do ser, tanto individual como social. Para isto, ? necess?rio que o professor apresente uma nova postura, buscando o aperfei?oamento e atualiza??o dos conhecimentos aplicados ? leitura e, principalmente, fazendo reflex?es sobre o significado do ato de ler.

O Governo do Estado do Paran?, atrav?s do Programa de Desenvolvimento Educacional ? PDE, oportuniza a forma??o continuada de professores, visando atender as reais necessidades de enfrentamento de problemas ainda presentes na Educa??o B?sica.

Esse Programa oferece aos professores acentuada carga hor?ria de forma??o continuada no interior das universidades p?blicas e o retorno ?s atividades acad?micas. Possibilita assim a rela??o do professor com a produ??o do saber, junto com o ensino e a pesquisa, reconhecendo-o como produtor do conhecimento no processo ensino-aprendizagem.

Cada professor PDE, a partir das dificuldades encontradas no interior da escola, deve escolher um objeto de estudo sobre o qual elabora seu plano de trabalho e desenvolve todo o programa, buscando a melhoria educacional a que se prop?e.

Assim sendo, a escolha e o trabalho com o objeto de estudo deste artigo, ocorreu pela participa??o no PDE a partir da observa??o das quest?es de leitura que precisam ser melhoradas na escola.

H? necessidade de novos posicionamentos em rela??o ?s pr?ticas de ensino da leitura, atrav?s da discuss?o cr?tica dessas pr?ticas e da participa??o e envolvimento efetivo dos professores na busca de solu??es para a supera??o dos problemas que se apresentam.

Sendo assim, com este estudo busca-se subsidiar ou pelo menos possibilitar a discuss?o de professores sobre diretrizes que possibilitem a supera??o do problema da leitura no processo ensino-aprendizagem.

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Primeiramente, ser?o feitas reflex?es acerca das concep??es de leitura, e depois analisadas pr?ticas de leitura que os professores t?m usado em sala de aula, o que permite a constru??o de diretrizes de pr?ticas pedag?gicas que estimulam a leitura e contribuem para a forma??o de efetivos leitores.

Assim, se buscamos o enfrentamento do problema da leitura visando a sua supera??o, estamos melhorando o trabalho dentro da disciplina de L?ngua Portuguesa e, conseq?entemente, em outras ?reas tamb?m.

2. REFLETIR A LEITURA

Um dos principais desafios a ser enfrentado pela escola ? o de fazer com que os alunos aprendam a ler corretamente, pois a aquisi??o da leitura ? essencial para agir com autonomia nas sociedades letradas.

O desafio da leitura ? um desafio de democracia e de cidadania, da forma??o do aluno cidad?o leitor, e isso vai al?m das paredes da escola. Por?m, a escola ? uma etapa muito importante nesse processo. A leitura ? tamb?m instrumento para a participa??o do aluno, nas discuss?es da comunidade pol?tica.

Nas ?ltimas d?cadas, as discuss?es sobre a leitura aumentaram consideravelmente, circulando em reportagens, congressos, no ambiente acad?mico entre outros. Apesar disso, o trabalho com a forma??o de leitores n?o tem alcan?ado a efic?cia necess?ria. L?-se pouco, l?-se mal e at? mesmo n?o se l?.

Ler ? condi??o necess?ria para a conquista da cidadania e participa??o social, para o acesso a informa??es que circulam das mais diversas maneiras, assim como para ingressar no mundo do trabalho. No entanto, mesmo diante de sua relev?ncia, a leitura ainda ? praticada por um n?mero muito pequeno de brasileiros.

A necessidade que se coloca para a escola, fam?lia e demais espa?os envolvidos no ensino da leitura e forma??o de leitores ? a de possibilitar ao indiv?duo sua constitui??o como leitor, pois ela lhe permite entender

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criticamente a sociedade e nela interferir. Essa leitura deve ir al?m da simples decifra??o de s?mbolos.

Atualmente, quando o sistema educacional ? acess?vel ? maior parte dos cidad?os, n?o dever?amos falar de situa??es de analfabetismo. Entretanto, al?m do analfabetismo ainda estar presente em nossas realidades, acrescentam-se dados relativos aos "analfabetos funcionais", ou seja, "pessoas que, apesar de terem freq?entado a escola e `aprendido' a ler e a escrever, n?o podem utilizar de forma aut?noma a leitura e a escrita nas rela??es sociais ordin?rias"(SOL?, 1998, p.32).

Estes dados devem ser analisados adequadamente e levar-nos ? reflex?o sobre as pr?ticas educativas que se realizam em nossa sociedade em rela??o ? leitura.

O problema do ensino da leitura na escola ocorre na pr?pria conceitualiza??o do que ? a leitura, na forma com que ? avaliada pelos professores, no papel que ocupa na Proposta Pedag?gica da Escola e, naturalmente, nas pr?ticas pedag?gicas que s?o adotadas para ensin?-la.

Pesquisas internacionais sobre qualidade do ensino revelam que a educa??o de qualidade ? aquela em que os alunos aprendem o que ? necess?rio para que possam vir a integrar-se e ter sucesso na sociedade de informa??o e tecnol?gica.

Segundo dados do Programa Internacional de Avalia??o de Alunos (PISA) de 2006, o Brasil piorou no ?ndice de leitura tendo uma queda de dez pontos (393) em rela??o ao ano de 2003, quando tinha 403 pontos.

Conforme not?cia sobre a avalia??o do PISA, veiculada no Portal de Not?cias da Globo:

"A situa??o ? cr?tica para o pa?s na avalia??o da leitura: o Brasil se encontra no grupo de pa?ses que t?m mais de 50% dos estudantes com dificuldades para usar a leitura como ferramenta para obter conhecimento em outras ?reas"(JARDON, 2008, p.1).

Esses alunos necessitam, portanto, para aprender significativamente, desenvolver habilidades de leitura, compreender e interpretar rapidamente informa??es, resolver problemas, tomar decis?es, dentre

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outros aspectos. Portanto, nesse contexto, n?o tem mais sentido o desenvolvimento de aprendizagens meramente mec?nicas orientadas por reproduzir li??es. Torna-se necess?rio promov?-la como estimula??o cont?nua ao pensamento e desenvolvimento de habilidades mentais.

Durante Semin?rio Internacional realizado na Col?mbia, em 2006, "Li??es Latino-americanas para promover a Educa??o para Todos", concluiu-se que para melhorar a educa??o ? necess?rio come?ar pela leitura. Gestores e educadores de pa?ses da Am?rica Latina, Caribe, ?frica e ?sia, trocaram experi?ncias de sucesso sobre a educa??o em seus pa?ses e os esfor?os para superar suas desigualdades e reconheceram que, no centro do desenvolvimento educacional dos alunos, est? o esfor?o para desenvolver sua capacidade de leitura, como condi??o facilitadora de todas as demais aprendizagens.

H? necessidade de reflex?o, ent?o, sobre o que ? leitura. O ato de ler corresponde ao processo de apreens?o da realidade

que cerca o indiv?duo. Essa realidade se revela ao leitor atrav?s de variadas linguagens. Portanto, o ato de ler n?o diz respeito ? apreens?o da realidade somente atrav?s da leitura do texto escrito: ? a interpreta??o do pensamento expresso por s?mbolos da escrita com a viv?ncia e a afetividade do leitor.

Se consultarmos dicion?rios, podemos encontrar defini??es como: ler ? ver o que est? escrito; interpretar por meio da leitura; decifrar; descobrir; tomar conhecimento do conte?do de um texto pela leitura. Conforme Gadotti (1982), todas as defini??es sobre o que ? ler levam ? exist?ncia de um "leitor", de um "c?digo" e de um "autor". Atrav?s do c?digo, o autor expressa os seus pensamentos, comunicando-se com o leitor. O c?digo ? representado pelo texto, que deve ser compreendido, ou seja, ? necess?rio que o leitor consiga atribuir-lhe significado dentro do contexto hist?rico em que vive.

Para MATOS e SILVA,

Ler ? muito mais que simplesmente decifrar s?mbolos. ? um ato que requer um interc?mbio constante entre texto e leitor e

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envolve um trabalho ativo de compreens?o e interpreta??o do texto ? quer seja ele verbal ou n?o verbal ? a partir dos objetivos do leitor, do seu conhecimento sobre o assunto, de tudo o que sabe sobre a linguagem. (MATOS e SANTOS,2006, p.62).

Na obra "Estrat?gias de Leitura", Isabel Sol? tem a leitura numa perspectiva interativa, segundo a qual escreve

A leitura ? o processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita. Nesta compreens?o interv?m tanto o texto, sua forma e conte?do, como o leitor, suas expectativas e conhecimentos pr?vios. Para ler necessitamos, simultaneamente, manejar com destreza as habilidades de decodifica??o e aportar ao texto nossos objetivos, id?ias e experi?ncias pr?vias (SOL?, 1998, p.23).

Nas Diretrizes Curriculares de L?ngua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino M?dio do Estado do Paran? temos "entende-se a pr?tica de leitura como um ato dial?gico, interlocutivo. O aluno/leitor, nesse contexto, passa a ter um papel ativo no processo de leitura, ? o respons?vel por `reconstruir o sentido do texto'" (PARAN?/SEED, 2008, p.35). Ent?o, o texto n?o existe sem a presen?a do leitor. ? no cruzamento de vozes do autor e dos leitores que os seus sentidos v?o se elaborando e outras leituras ou outros textos v?o se constituindo. Todo texto dialoga com a cultura de sua ?poca e com a sua hist?ria.

Tal ?tica concebe a leitura como instauradora de di?logos, propiciando diferentes formas de ver, de avaliar o mundo e de reconhecer o outro. Considera, tamb?m, o ato de ler uma transa??o entre a compet?ncia do leitor e a compet?ncia que o texto postula (ECO, 1993). Entende, em decorr?ncia, que embora o autor movimente recursos expressivos, na tentativa de interagir com o leitor, a efetiva??o da leitura depende de fatores ling??sticos e n?o-ling??sticos: o texto ? uma potencialidade significativa, mas necessita da mobiliza??o do universo de conhecimento do outro ? o leitor ? para ser atualizado (PERFEITO, 2005, p. 54-55).

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Ent?o, a constru??o dos significados de um texto ? tamb?m de responsabilidade do leitor. Um leitor pode, inclusive, ler e interpretar um texto para o qual ele n?o era o interlocutor origin?rio.

N?o lemos todos um mesmo texto da mesma maneira. H? leituras respeitosas, anal?ticas, leituras para ouvir as palavras e as frases, leituras para reescrever, imaginar, sonhar, leituras narcisistas em que se procura a si mesmo, leituras m?gicas em que seres e sentimentos inesperados se materializam e saltam diante de nossos olhos espantados (MORAIS, 1996, p.13).

O ato de ler pode representar n?o apenas uma condi??o intelectual, mas tamb?m uma condi??o de liberta??o: a de poder ser um leitor mais aut?nomo e cr?tico de qualquer texto, em v?rias linguagens, do mundo que o rodeia, ou de mundos diferentes do seu.

Ler o mundo ? assumir-se como sujeito da pr?pria hist?ria. ? ter consci?ncia dos processos que interferem na sua exist?ncia como ser social e pol?tico. O indiv?duo s? ? capaz de fazer uma leitura permanente do mundo, quando consegue captar o que se apresenta atrav?s do dinamismo deste mundo para nele interferir e atuar, sentindo-se, ent?o, motivado para a leitura da palavra. Nesse sentido, a leitura da palavra escrita s? se realiza quando interage com o espa?o em que o homem se sente sujeito, ou seja, quando existe uma estreita rela??o com o trabalho e o contexto de que participa.

LAJOLO comenta sobre Paulo Freire dizendo,

Para Paulo Freire, leitura boa ? a leitura que nos empurra para a vida, que nos leva para dentro do mundo que nos interessa viver. E para que a leitura desempenhe esse papel, ? fundamental que o ato de leitura e aquilo que se l? fa?am sentido para quem est? lendo. Ler, assim, para Paulo Freire, ? uma forma de estar no mundo (LAJOLO, 2003. p.5).

E FREIRE, atrav?s de exemplos do cotidiano, mostra como lemos o mundo o tempo todo:

Desde que nascemos, vamos aprendendo a ler o mundo em que vivemos. Lemos no c?u as nuvens que anunciam chuva, lemos na

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