COMPREENDENDO A DEPENDÊNCIA DAS DROGAS



Adilson A. Cassoni

Coordenador de Saúde Publica

Presidente do C.M.S

E-Mail: cassoni8@.br

Fone: (14) 3764-9413

Equipe de apoio Técnico:

Drª.Lucia Sebastiana da Silva - Psicóloga – SMS

Dr. Marco Antonio Ferreira da Silva – Médico Clinico Geral

Enfª Aline Ayres de Lima - Diretora da Vigilância Epidemiológica

Enf.ª Zibia Cristiane Germano – Enfermeira da UBS

Profª Patrícia Heliodora Presser – Diretora da Secretaria Municipal de Educação

Enf.ª Adje Nalva - Fundação CASA/FEBEM

Agradecimentos:

Sr. Paulo Sérgio de Moraes – Prefeito Municipal de Iaras

Sandra Maria Rodrigues de Moraes - Secretaria Municipal da Assistência Social

João Rodrigo Morales – Secretario de Saúde Municipal

Renata Galli Loberto – Diretora de Saúde

Sr. Reginaldo Gonçalves – Presidente da Câmara Municipal

Dr. Armando Antonio de Oliveira - Diretor da Penitenciaria “Orlando Brando Filinto”

Igor Rogério G. da Silva – Diretor da U.I.I e II Fundação CASA

Anselmo de Oliveira - Diretor da U.I. Três Rios

Paulo Ricardo P. Machado - Diretor da U.I. Rio Novo.

Dario de Arruda M. Neto - Diretor da DRS FEBEM

Dr. Fabiano - Delegado da Policia Civil

SGT Marcos - Sargento da PM

Maria Isabel - Coordenadora dos Projetos do C.M.D.C.A.

Repr. Igrejas – Católica e Evangélica

Conselho Tutelar

Agência Banco Brasil – Iaras

Magda El Cassis - Magda Delicatessen

E principalmente a minha “SantíssimaTrindade”; minha mãe Maria José, minha esposa Lucia a meu Pai eterno todo poderoso, que nos momentos de agonia sempre estiveram ao meu lado...

Índice

Abertura/Apresentação

DEPENDÊNCIA QUÍMICA (DQ)

I Dependência de drogas

II O que é droga

III Abuso de drogas

IV O aspecto biopsicossocial da dependência

V Como identificar a dependência

VI Dependência física

VII Dependência psicológica

VIII Tolerância

IX Síndrome de abstinência

X Prevenção ao abuso de drogas

XI Dificuldades em admitir a dependência

XII Possíveis danos provocados por drogas

DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL

I Alcoolismo

II Efeitos predominantes

III Dependência

IV Problemas clínicos

V Outros problemas

VI Possíveis Causas da Dependência

DEPENDÊNCIA DE MACONHA (CANABINÓIDES)

I Formas de consumo

II Efeitos predominantes

III Dependência

IV Problemas clínicos

V Outros problemas (acidentes)

VI Prevenção

DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA (“CRACK” e “MERLA”)

I Formas de abuso

II Efeitos Predominantes

III Tolerância

IV Dependência

V Outros problemas

TRATAMENTO AMBULATORIAL

I Dependência Física

II Dependência Psicológica

III Requisitos Básicos da Dependência

IV Dados Epidemiológicos

V Transtornos Psiquiátricos em Pacientes Dependentes de Álcool

VI Transtornos de Personalidade na dependência da Cocaína

VII Saiba como Agir nas Emergências

VIII Possíveis danos provocados por drogas

A ESPOSA E A DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA

I O que a mulher pode fazer? Qual o papel da esposa na situação?

O PAPEL DA FAMÍLIA DA BUSCA DE TRATAMENTO

OS DOZE PASSOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

ALCOOLISMO - AVALIE-SE

BIBLIOGRAFIA

MENSAGEM:

I Faz de Conta

Abertura/Apresentação:

A idéia principal desta palestra é fomentar a discussão sobre o tema criando métodos e objetivos para ações concretas junto a nossa comunidade.

Sob o tema “Drogadição e Alcoolismo”, este projeto piloto conta com incentivo da política federal, estadual e municipal de saúde, ao qual prioriza a educação e a prevenção da saúde, através da formação de agentes multiplicadores.

O tema por si só é muito complexo. Gostaria de poder desmistificar e principalmente inserir uma noção sobre o assunto, já que o mesmo caberia a um seminário e/ou simpósio.

Porém como conhecedor do assunto e principalmente como facilitador da análise, discussão, sistematização dos dados locais, tentarei sensibiliza-los a pactuar aqui, nesta noite, um projeto de ações c/ caráter didático junto a nossa comunidade, já que cabe a cada um de nós como coordenadores/educadores, sejam eles vinculados a saúde ou educação, priorizar pelo bem estar do próximo e o acesso a informações inerentes aos nossos conhecimentos.

Vale salientar que a educação e prevenção, é a maneira mais inteligente e barata de tratar um problema eminente. Nossa sociedade esta crescendo e com ela, toda a problemática do tema.

Creio que todos aqui presentes conhece alguém que faz uso de entorpecentes ou pessoas com problemas com o álcool. Famílias são dizimadas, crimes são cometidos, acidentes sejam eles automobilístico ou pessoal acontecem, e mesmo que você não seja usuário e/ou dependente, mesmo assim estará correndo um grande risco de tornar uma vitima.

Gostaria de enfatizar, que tal palestra esta sendo efetivada por voluntários sem qualquer remuneração monetária, e sim pelo simples motivo de poder contribuir com a sociedade, para que possamos amenizar essa pandemia de forma objetiva desmistificando o tema.

Ressalto para que não haja qualquer interpretação dúbia de pessoas mal informadas, que não há qualquer tino político, ou realização pessoal dos participantes, e sim, a certeza de estarmos fazendo o que é certo.

Aproveito também o momento para agradecer aos colaboradores/apoiadores: Banco do Brasil de Iaras, aos projetos sociais de apoio à criança e ao adolescente vinculado a Secretaria de Assistência Social, Câmara e Prefeitura Municipal, Fundação CASA, Penitenciaria Orlando Brando Filinto, Secretarias da Educação e Saúde e demais colaboradores.

Todo material didático tais como livro digital, apresentações, estatísticas situacionais, e um vasto acervo de informações bem como certificação, será fornecido a todos os participantes que pactuarem um trabalho de ação assumindo a responsabilidade no desenvolvimento de trabalho didático e/ou procedimentos viabilizando a efetivação do processo maior, seja este seminários, semana cultural ou ações correlacionadas ao tema respeitando as diversidades sócio/cultural/regional.

Gostaria também de solicitar aos Srs. e Sras., que preenchessem ao termino do evento, a folha de avaliação com a maior sinceridade possível, bem como sugestões para que possamos cada vez mais aprimorar esse trabalho piloto de informação, educação e comunicação que se prolongara com demais palestrar de temas correlacionados à saúde publica.

Desde já agradeço a presença e espero poder contar com a participação de todos na efetivação deste processo piloto pequeno, singelo, porém ambiciosos.

Cassoni, A.A.

Profissional I.E.C.

Diretor do CVS

Presidente do C.M.S.

“Não Tenho abandonado a Deus, tanto quanto ele não me abandonou”.

Cassoni

FUNÇÃO EDUCATIVA DO PROFISSIONAL EDUCADOR:

O PAPEL DE CADA UM

“Educação é tarefa de todos os profissionais de saúde e educação: Insere-se em todas as atividades, deve ocorrer em todo e qualquer contato entre profissionais e a população, dentro e fora da Unidade de saúde, escola ou instituição”.

“A ação educativa, como um processo de capacitação de indivíduos e de grupos para assumirem a solução de problemas, é um processo que inclui também o crescimento dos profissionais, através da reflexão conjunta sobre o trabalho que desenvolvem e suas relações com a melhoria das condições de vida da população. O técnico ou educador (de qualquer nível) tem que se preparar para um método educativo que se baseie na participação social, através da sua própria pratica profissional. Os profissionais devem desenvolver entre si um espírito de equipe onde realmente reflitam, decidam e trabalhem juntos, estabelecendo um verdadeiro relacionamento horizontal, com a postura profissional que se estenda às relações com a população”

Paulo Freire

I Dependência de drogas

As drogas são substâncias capazes de alterar algumas funções cerebrais e proporcionar gratificação (sensação de bem estar) aos usuários. Qualquer pessoa que nunca tenha feito uso de tais substâncias é capaz de viver perfeitamente bem sem precisar fazê-lo. Porém, se houver uma experiência agradável, após um certo período de uso, o organismo poderá adaptar-se e passar a depender do consumo dessas substâncias para "funcionar normalmente". Isso ocorre porque a droga age sobre determinadas células nervosas (neurônios) e intensifica as sensações de prazer e bem-estar e, provoca mudanças em algumas estruturas neurológicas, chamada neuroadaptação.

Após a neuroadaptação, o indivíduo necessitará da continuidade do uso para manter-se em equilíbrio, podendo apresentar vários sintomas desagradáveis, se interromper o consumo (síndrome de abstinência).

Para evitar confusões em relação aos efeitos das drogas psicoativas, é preciso reconhecer a diferença entre elas. De modo geral, há basicamente três tipos de drogas:

Ansiolíticos ou tranqüilizantes - drogas que diminuem a atividade mental - são depressoras do sistema nervoso central (SNC) e agem no cérebro lentificando seu funcionamento, reduzindo a capacidade de atenção, concentração, tensão emocional e provocam perdas na capacidade intelectual. Ex: álcool, inalantes (colas e solventes), morfina e heroína.

Estimulantes - aumentam a atividade mental - são drogas que aceleram o funcionamento cerebral; aumentam a produtividade do indivíduo e inibem a sensação de cansaço ou fadiga. O indivíduo pode acreditar que o uso seja benéfico, mas as conseqüências em médio e longo prazo são catastróficas. Ex: cafeína, nicotina, anfetaminas, cocaína, crack e merla.

Alucinógenos - alteram a percepção da realidade - provocam transtornos no funcionamento cerebral, fazendo-o trabalhar de forma desordenada, produz delírios e alucinações. Exemplo: LSD, ecstasy, cogumelos, lírio, maconha e outras substâncias derivadas de plantas.

Os efeitos variam de acordo com quatro fatores básicos:

Tipos de droga: cada droga possui características químicas específicas que produzem efeitos diferentes no organismo, dependendo da quantidade e do grau de pureza.

Forma de uso: o padrão de consumo da droga, a forma de uso, quantidade, freqüência e propósito do uso, contribuirão para determinar os efeitos da substância.

Tipo de usuário: as pessoas possuem características biológicas e psicológicas diferentes umas das outras podendo, portanto, manifestar reações diferentes sob o efeito de uma mesma droga. Os pensamentos, os medos, o estado emocional, as condições físicas e as expectativas pessoais do usuário formam um conjunto de fatores que influenciam diretamente os efeitos da substância.

Condições ambientais: o ambiente é caracterizado por fatores externos ao indivíduo, mas que o influenciam e interferem nas reações produzidas pela droga. Ex: local, horário, riscos de punição, etc.

O uso prolongado e a crescente necessidade de aumento das doses com freqüência estão associados a gastos excessivos, acidentes, perdas materiais e afetivas, discussões e pressões familiares, perda de emprego ou dias de serviço, problemas com a justiça, etc.

Em geral ocorrem várias tentativas de interromper o uso sem sucesso. Essas tentativas frustradas podem provocar sentimentos de fracasso ou pensamentos como: "Eu nunca vou conseguir parar"; "Não tem jeito, eu já tentei várias vezes e não consigo" ou "Eu sou um caso perdido". No entanto, essas crenças nem sempre são admitidas e, a pessoa tenta justificar-se da seguinte maneira: "Eu uso porque eu gosto"; "Eu paro quando quiser". Desse modo, não é capaz de enxergar sozinha uma saída para o problema, nem pode pedir ajuda, por acreditar que estaria "admitindo sua fraqueza". Todo esse processo, comumente, demora anos para se resolver e com isso os danos se agravam.

II O que é droga

Droga é qualquer substância ou ingrediente usado legalmente em farmácias, tinturarias ou indústria, de origem animal ou vegetal. São denominadas drogas de abuso substâncias ou preparações que diferem da prática médica, legal ou social, que são auto-administradas por seus efeitos prazerosos. O álcool e o tabaco, mesmo legais e socialmente aceitos são drogas de abuso capazes de provocar dependência física e psicológica.

III Abuso de drogas

Usuários em geral acreditam que abuso de drogas é o uso exagerado dessas substâncias e que, se fizerem "uso moderado" não estarão abusando. O que determina uso ou abuso é a finalidade do emprego, ou seja, o uso de drogas é a utilização legal de substâncias para preparo de medicamentos, para fins industriais ou sociais e, abuso de drogas é o consumo ilegal com o propósito de provocar alterações mentais. O abuso é caracterizado quando há prejuízos ou sofrimento, por conseqüência de um ou mais dos seguintes aspectos, dentro de um período de 12 meses: usar várias vezes a substância e deixar de cumprir obrigações importantes seja no trabalho, na escola ou em casa; uso repetido da substância em situações nas quais a pessoa esteja correndo riscos físicos (por exemplo: dirigir veículo embriagado ou operar máquinas); problemas com a polícia; uso continuado da substância apesar dos problemas sociais ou interpessoais que já existam ou possam ser causados.

IV O aspecto biopsicossocial da dependência

Alguns organismos apresentam vulnerabilidade à dependência, isto é, uma tendência ou maior capacidade para tornar-se dependente. Essa condição não significa que a pessoa tenha herdado geneticamente essas características e irá, invariavelmente tornar-se dependente, mas sim que, se abusar de determinadas substâncias psicoativas, terá maiores chances de desenvolver a síndrome de dependência do que as pessoas não-vulneráveis. A ocorrência de vários casos de dependência química numa mesma família pode indicar a existência de um fator que favoreça a instalação da dependência mais rapidamente que nos grupos familiares onde não existe nenhum caso.

Em toda sociedade há disponibilidade de drogas, meio de conseguí-las e oportunidade para usá-las. Sempre existe alguém para oferecer ou fornecer a substância e incentivar o consumo. Se os efeitos experimentados pelo indivíduo forem prazerosos, esse indivíduo tenderá a usar mais vezes a substância, em especial se acreditar poder controlar sempre a quantidade do consumo.

Todas essas questões devem ser levadas em conta para compreender a complexidade da doença e porque umas pessoas tornam-se dependentes e outras não.

A dependência de substancias tem origem multifatorial e pode ser representada da seguinte maneira:

V Como identificar a dependência

De acordo com o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), uma pessoa apresenta a síndrome de dependência de substâncias psicoativas quando, pelo menos três dos critérios abaixo, estiverem presentes.

1. Quando a pessoa pretende usar uma determinada quantidade da substância e acaba consumindo mais do que desejava.

2. Quando quer consumir a substância por um determinado período e gasta mais tempo do que pretendia.

3. Sente desejo forte e persistente de usar a substância.

4. Gasta muito tempo para conseguir a substância, para se embriagar/drogar ou para se recuperar dos efeitos.

5. Intoxica-se com freqüência ou apresenta mal-estar quando é privado do consumo. Continua a usar mesmo sofrendo pressão no trabalho, na escola, em casa ou quando o uso representa perigos físicos.

6. A pessoa abandona as atividades familiares, sociais, profissionais e programas de lazer devido ao uso da substância.

7. Mesmo sabendo que a substância causa problemas graves e persistentes, continua a usar.

8. Desenvolve tolerância com o passar do tempo, ou seja, sente necessidade de aumentar as doses para conseguir os mesmos efeitos.

9. Passa a usar a sustância com maior freqüência. Por exemplo, antes usava uma vez por mês, depois passou a usar semanalmente, todos dias, etc.

10. Na falta da substância, apresenta mal estar e a consome novamente para aliviar esse estado.

11. Já experimentou várias tentativas fracassadas de interromper o consumo.

VI Dependência física

O uso continuado de uma substância pode provocar alterações fisiológicas no organismo e desenvolver sintomas desagradáveis quando interrompe o consumo. Só é considerada dependência física, quando estiverem presentes os seguintes aspectos:

a) tolerância: é a capacidade de suportar doses cada vez maiores de uma substância para atingir os mesmos efeitos. Este fenômeno ocorre por duas razões, ou o fígado passou a metabolizar (destruir) a substância mais rapidamente ou a substância provocou alterações no funcionamento das células nervosas (neurônios).

b) síndrome de abstinência: é o aparecimento de sintomas desagradáveis quando o uso da substância é interrompido ou diminuído abruptamente.

VII Dependência psicológica

A dependência psicológica é caracterizada pela crença de que é necessário usar a substância para sentir-se bem ou obter prazer. Todas as drogas podem causar dependência psicológica. Algumas pessoas usam álcool ou outras drogas como muletas, fazendo delas um meio para lidar com as dificuldades da vida ou para afastar situações que acreditam não ser capazes de suportar. Pessoas tímidas bebem muitas vezes, para ficar mais à vontade, mais desinibidas ou extrovertidas. Alguns fumam para manter as mãos ocupadas, quando se sentem desconfortáveis em ambientes sociais. Alguns caminhoneiros utilizam os chamados "rebites" para permanecer acordados, durante longas viagens. Há pessoas que vivem em conflito com a família, com o trabalho ou não têm habilidades para lidar com determinadas situações; e há ainda, pessoas que sofrem de depressão, ansiedade ou outros transtornos e abusam de álcool ou outras drogas para aliviar tais conflitos ou para afastar os sintomas das doenças. Podemos considerar a dependência psicológica como o sofrimento experimentado por quem tenta deixar de usar drogas. Por exemplo: ansiedade, angústia, sensação de ter fracassado em muitas coisas na vida, medo de nunca mais conseguir parar de usar drogas, agressividade, nervosismo, irritação, etc. Em casos muito graves, o usuário pode cometer suicídio, em decorrência da depressão provocada pelo abuso ou pela falta da substância química ou por outras causas já existentes e camufladas pelo abuso.

VIII Tolerância

Indivíduos dependentes demoram mais tempo e precisam de maiores quantidades da substância para se intoxicar do que aqueles não dependentes.

Este fato pode levar às pessoas a acreditarem que estão mais fortes para beber, mas, na verdade o organismo já se adaptou à droga e pequenas quantidades não produzem mais os efeitos esperados. Após longos anos de abuso, o usuário pode desenvolver a perda da tolerância, isto é, intoxicar-se com pequenas quantidades. O indivíduo com dependência de álcool, por exemplo, não apresenta necessariamente, problemas com bebidas na fase inicial, pois começa com pequenas doses, geralmente em festas e bares. No decorrer do tempo passa a consumir doses maiores e diminui os intervalos entre um beber e outro.

IX Síndrome de abstinência

Síndrome de Abstinência é o mal-estar provocado pela interrupção abrupta do consumo de uma determinada substância. Isso acontece porque o organismo está "acostumado" e sente necessidade da substância. Para entender melhor a síndrome de abstinência devemos compreender o significado da expressão. Síndrome é um conjunto de sinais e sintomas, sendo os sinais tudo o que a pessoa apresenta fisicamente (transpiração, tremores, etc.), e sintomas, as queixas apresentadas (ansiedade, angústia, medo, sensação de estar sendo perseguida ou vigiada, etc.). Abstinência é a privação, ou seja, deixar de fazer algo voluntariamente ou ser impedido. Portanto, Síndrome de Abstinência é o conjunto de sinais e sintomas apresentados quando o consumo de álcool ou outras drogas é interrompido.

Cada droga produz um tipo de síndrome de abstinência e representa sofrimento real (físico ou psicológico). A síndrome de abstinência de drogas como o álcool, a morfina, heroína e cocaína podem provocar aceleração dos batimentos cardíacos, queda na pressão arterial, fortes dores abdominais, angústia, aumento da salivação, agitação psicomotora, sensação de estar morrendo, transpiração excessiva, tremor intenso, insônia, náuseas, vômitos, alucinações (sensação de insetos caminhando sobre a pele, percepção de objetos e pessoas diminuídos) ansiedade e até convulsões.

X Prevenção ao abuso de drogas

Prevenção é o trabalho de conscientização a fim de impedir a ocorrência da dependência. Conscientizar adolescentes exige muita habilidade, considerando que fatores como a idade e a incapacidade de compreender a complexidade do problema podem dificultar esse processo. Outro agravante é a contradição entre o que os pais e os programas de prevenção dizem e o que dizem os amigos. Comumente, os jovens acreditam que podem experimentar e parar quando quiserem. Essa idéia contribui para encorajar o primeiro contato com as drogas.

Nas primeiras experiências, o organismo pode reagir de várias maneiras. A pessoa pode apresentar dor de cabeça, tonturas, náuseas, entre outros sintomas. Se isso acontecer, a experiência negativa pode inibir a vontade de usar a droga novamente. Pode, no entanto, não ocorrer nenhuma reação, o que poderia diminuir ou aumentar a curiosidade para experimentar mais uma vez. Em muitos outros casos, pode provocar euforia, sensação de leveza ou modificar a percepção da realidade. Se essa experiência for agradável, o indivíduo poderá sentir-se gratificado e usar outras vezes, a fim de obter os resultados prazerosos.

A maioria das drogas não causa dependência nos primeiros contatos, fato que fortalece a crença de que se pode interromper o abuso quando a pessoa desejar.

Em geral, o usuário compreende a dependência quando reconhece todos os prejuízos associados ao abuso. Mas, o conhecimento apenas, não é suficiente para evitar o consumo. É preciso ter consciência da gravidade e extensão do problema, reconhecer as limitações e desejar não se expor aos riscos.

XI Dificuldades em admitir a dependência

Na maioria das vezes, a dificuldade em admitir a dependência deve-se ao fato de o usuário alimentar falsas crenças ou idéias de que a dependência esteja intimamente ligada ao conceito de "falha moral", "defeito de personalidade", falta de vontade, de motivação ou de vergonha, etc. Uma pessoa dependente é aquela cujo organismo sofreu alterações e adaptou-se ao uso de uma determinada substância, o que nada tem a ver com "fraqueza de caráter", ou "incapacidade moral". Acreditar na possibilidade de poder controlar o consumo obriga o indivíduo a tentar provar para si mesmo, que é capaz de controlar a compulsão ou "fissura" pela droga. No entanto, o consumo moderado só é possível no início, antes de ocorrer a dependência. Depois, todo esforço mental nesse sentido será inútil, por tratar-se de alterações neurológicas e, não apenas psíquicas.

A pessoa não pode saber com exatidão quando irá se tornar dependente. Ela só reconhecerá o problema quando tentar parar e não conseguir. A partir daí é comum inventar justificativas como: "Eu uso porque eu gosto"; "Eu uso para ficar mais 'ligado'"; "Todos meus amigos usam e se eu parar não mais serei aceito no grupo"; "Não tem jeito de parar, na minha cidade todo mundo usa". Essas desculpas que cria para si e para os outros se mantém por muito tempo, até a pessoa se conscientizar dos danos e decidir procurar ajuda ou tratamento.

XII Possíveis danos provocados por drogas

Os danos são vários e dependem de muitos fatores: o tipo de droga (álcool, tabaco, cocaína, cola, crack, LSD, etc.), tempo de uso, condições biológicas do organismo, estrutura psicológica, condições financeiras e sociais de cada usuário e das circunstâncias e variáveis ambientais. Podemos destacar alguns danos comuns como agressões físicas ou verbais, mudança no círculo de amigos, marginalização ou discriminação, expulsões escolares ou de lugares públicos, mudanças de endereço, gastos excessivos, perda de bens (objetos pessoais, carros, bens imobiliários, etc.), problemas judiciais (abuso, porte, tráfico, desacatos à autoridades, envolvimento em brigas, furtos e assaltos), acidentes de trânsito, quedas, ferimentos, etc.

No plano profissional pode ocorrer diminuição no rendimento, faltas por embriaguez ou “ressaca”, perda de promoções, falência, mudança do ramo de atividade, etc.

No aspecto escolar ou acadêmico as drogas podem ocasionar desinteresse pelo estudo, baixo rendimento, repetências ou dependências, problemas nos relacionamentos, evasão, suspensões, expulsões, etc.

São inúmeros os danos biológicos e psicológicos provocados por abuso de drogas.

DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL

I Alcoolismo

Na maioria das culturas, o álcool é a droga mais utilizada para fins recreativos e seu consumo é fortemente estimulado pela sociedade e pela mídia.

Alcoolismo foi o termo utilizado em 1849, pelo médico Magnus Huss para referir-se ao uso crônico e patológico de bebidas alcoólicas e suas conseqüências, que passou a ser tratada como doença, hoje conhecida por Síndrome de Dependência de Álcool (Ramos, Bertolote & Cols., 1997).

Por ser uma droga socialmente aceita, as pessoas aprendem a conviver com bebidas alcoólicas, iniciam o consumo moderado, restrito às ocasiões sociais e podem tornar-se dependentes após algum tempo. A passagem do beber moderado para a dependência não ocorre da noite para o dia - em geral demora vários anos. O prazo médio para instalação da dependência é de dez anos para homens e oito anos para mulheres, mas, esse tempo pode variar muito de uma pessoa para outra. O consumo maciço e por tempo prolongado de bebida alcoólica pode desenvolver no Sistema Nervoso Central (SNC), tolerância a essa substância (Edwards, 1987).

Com a evolução da doença aumentam os danos e multiplicam-se os sintomas de abstinência. De um modo geral, as pessoas acham surpreendentemente fácil manter a abstinência em um hospital, onde não há nenhum estímulo para beber. Por isso, passam a acreditar que são capazes de manter esse comportamento também fora desse local, mas não é o que normalmente ocorre.

Pessoas com dependência moderada, após um período de internação podem levar semanas ou meses para voltar a beber como antes. As pessoas gravemente dependentes, em geral, relatam que "estão fisgadas" de novo em poucos dias após ter voltado a beber. Pode também ocorrer de no primeiro dia, embriagar-se anormalmente e surpreender-se ao descobrir que perdeu a tolerância; mas em poucos dias, passa a apresentar sintomas graves de abstinência e voltar a beber para evitá-los (Edwards, 1987).

II Efeitos predominantes

Os efeitos predominantes do álcool são alterações na capacidade de julgamento e no humor, fala arrastada, atividade motora prejudicada (marcha instável ou oscilante), déficit de atenção, agressividade, amnésia, rubor facial, alteração de comportamentos com prejuízos no campo social ou ocupacional e ataxia. Os sintomas de abstinência são tremores que ocorrem eventualmente ou todas manhãs (em casos graves, atingem níveis incapacitantes); náuseas ao escovar os dentes ou após o café da manhã; sudorese e perturbações do humor. Nas fases iniciais, a irritabilidade é comum; em estágios mais avançados, podem aparecer quadros apavorantes de agitação e depressão e uma necessidade incontida de acordar no meio da noite para beber.

Dependência

A dependência de álcool é uma doença biopsicossocial, isto é, sua origem, evolução, tratamento e manutenção da abstinência dependem de fatores biológicos (vulnerabilidade orgânica: condição genética favorável à manifestação da doença), psicológicos (fuga de situações desagradáveis, redução da tensão ou timidez, etc.) e sociais (exemplos na família, influência de amigos, uso de remédios caseiros adicionados de bebidas alcoólicas, etc.). As conseqüências também atingem todos os aspectos da vida da pessoa, seja na área biológica (saúde física), psicológica (saúde mental) e social (relacionamentos familiares, sociais e profissionais). A síndrome da dependência de álcool pode ser descrita pelos seguintes sinais e sintomas:

- empobrecimento do repertório de beber

Diminuição na variedade de bebidas (preferência ou exclusividade no consumo de um determinado tipo ou marca); ocasiões previamente determinadas para beber (data, local e horários); escolha entre beber acompanhado ou só. Por ex: beber aos domingos com amigos após o jogo de futebol; beber aos finais de tarde após expediente de trabalho todos os dias; começar a beber na sexta-feira e parar no domingo à tarde, entre outros.

- supervalorização da bebida

A pessoa passa a desprezar atividades anteriormente apreciadas ou consideradas importantes como jantar com a família, praticar esportes, passear com os filhos e/ou esposa; jogar com amigos; passear com o cachorro, etc. e, utiliza esse tempo para beber. Procura participar apenas dos eventos nos quais haverá bebida alcoólica e organiza seu trajeto e tempo para freqüentar locais já estabelecidos para beber.

- Aumento da tolerância ao álcool

O aumento da tolerância é quando o organismo passa a suportar doses cada vez maiores sem apresentar sintomas de intoxicação (embriaguez). Nesses casos é comum a pessoa acreditar incorretamente que esteja mais “forte” para beber.

Em muitos casos de dependência grave pode ocorrer a perda da tolerância, isto é, após longos períodos ingerindo grandes quantidades, a pessoa passa a se embriagar com pequenas doses.

- sintomas repetidos de abstinência

Algum tempo após a interrupção da ingestão prolongada surgem tremores grosseiros, náuseas, suor intenso e perturbações do humor (irritabilidade, depressão, etc.), fraqueza, alucinações ou ilusões transitórias (passageiras). Estes sintomas podem surgir pela manhã, em graus mais leves ou mais graves, dependendo do estado físico da pessoa e da gravidade da dependência, levando o indivíduo a consumir bebida alcoólica novamente para aliviar esses sintomas.

- compulsão para beber

A compulsão para beber pode ser entendida como perda ou desistência do controle. É um desejo incontrolável ou uma ordem subjetiva para ingerir bebidas. Pequenas doses já não são suficientes para satisfazer uma grande necessidade (tolerância), é preciso beber mais e mais. Tentar controlar esse impulso é inútil; logo, a pessoa desiste e passa a beber o quanto seu organismo suportar ou o quanto puder pagar pela bebida.

- reinstalação da tolerância após anos de abstinência.

A tolerância se reinstala rapidamente, mesmo após vários anos de abstinência se a pessoa voltar a ingerir bebida alcoólica. Isso ocorre pelo fato do uso prolongado de álcool, produzir alterações neurológicas e neuroquímicas irreversíveis no cérebro (Ramos, Betolote & Cols., 1997).

Problemas clínicos

A dependência de álcool pode ocasionar uma extensa lista de problemas clínicos e, nem sempre, são associados à ingestão excessiva. Muitos desses problemas são produzidos pelos efeitos diretos do álcool sobre o organismo, outros são secundários, se manifestam pelo descaso alimentar, pois, o consumo de álcool diminui significativamente o apetite (Ramos, Bertolote & Cols., 1997; Edwards, 1987).

Alterações sangüíneas: o abuso de álcool pode provocar vários tipos de anemias, hemorragias, doenças do fígado, desnutrição, infecções crônicas, diminuição dos glóbulos brancos ou aumento do tamanho dos glóbulos vermelhos (macrocitose).

Ossos e articulações: é comum a ocorrência de inchaço doloroso das juntas. A dependência de álcool pode desencadear, em pessoas predispostas, crises de gota ou agravá-las (quando já existir) e degeneração dos ossos, com riscos de fraturas em acidentes banais.

Danos cerebrais: muitos danos no cérebro provocados pelo álcool só podem ser diagnosticados após a morte do indivíduo. Algumas lesões cerebrais como Síndrome de Wernicke-Korsakoff, doença de Marchiatava-Bignami (atrofia de uma estrutura profunda do cérebro), mieliniose centro-pontina (lesão da parte inferior do cérebro) são raras e pouco conhecidas por seus nomes técnicos. Degeneração do cerebelo (parte do cérebro localizada na região da nuca, responsável pelo equilíbrio e pela coordenação dos movimentos), turvações da visão (com dificuldades para distinguir o vermelho do verde). Outras demências também podem ocorrer (Edwards, 1987; Schuckit, 1991).

Câncer: o álcool é o maior responsável pelos casos de câncer de boca, faringe, laringe, esôfago e fígado.

Sistema cardiovascular: o abuso de álcool é um dos principais fatores responsáveis por danos no miocárdio por três motivos básicos: ação direta dos efeitos tóxicos do álcool, deficiência nutricional e por lesões miocárdicas provocadas por substâncias como o cobalto, encontradas nas bebidas alcoólicas. Arritmias e elevação da pressão arterial também podem ocorrer.

Problemas pulmonares: o álcool pode provocar vários problemas pulmonares por diminuir a capacidade de funcionamento do sistema imunológico. Em fumantes, o álcool estimula o consumo de nicotina, aumentando os riscos de câncer de pulmão (Ramos, Bertolote & Cols., 1997).

Outros problemas

Alucinose alcoólica: síndrome caracterizada por intensas alucinações visuais ou auditivas (ver ou ouvir coisas inexistentes).

Ciúme patológico ou delírio de ciúme: síndrome caracterizada por idéias de que o cônjuge ou parceiro (a) esteja cometendo adultério ou traição. Situações ou gestos normais são interpretados como indícios de atos suspeitos e, facilmente criam-se situações de conflitos ou agressões (Edwards, 1987).

Acidentes: são muito comuns os acidentes automobilísticos, atropelamentos, quedas, ferimentos, agressões físicas, incêndios entre outros, associados ao abuso de bebidas alcoólicas.

Aspecto biopsicossócio-cultural da dependência de álcool

 A Dependência de Álcool é uma patologia complexa que envolve e compromete todas as esferas do funcionamento da pessoa. É considerada, portanto, uma doença biopsicossócio-cultural.

O modelo acima (ver fig. A) representa a multifatoriedade do problema, através dos seguintes aspectos:

a) biológicos (vulnerabilidade orgânica) - fatores genéticos que favorecem, mas não determinam a instalação da dependência;

b) psicológicos (sensação de gratificação ou prazer resultante do consumo de substâncias psicoativas, minimização temporária de medos ou conflitos);

c) social (disponibilidade da substância no ambiente; influência e modelos de outras pessoas, propagandas, etc.), e

d) cultural (conjunto de valores, crenças e padrões de comportamentos voltados para o consumo de bebidas alcoólicas transmitidos coletivamente por uma sociedade).

O consumo de bebidas alcoólicas, em grandes quantidades por períodos prolongados pode provocar alterações orgânicas, psicológicas e interferir no funcionamento sócio-econômico do indivíduo e, desse modo, tornar-se um círculo vicioso. Após um determinado período sem consumir a substância, a pessoa pode experimentar desconforto e compulsão para beber. Essa necessidade do álcool é uma alteração biopsíquica, que o indivíduo tenta aliviar ingerindo novas doses.

Possíveis Causas da Dependência

O que torna uma pessoa dependente de álcool é consumir a substância por vários anos expondo-se aos efeitos desse comportamento. Por exemplo, necessitar de doses cada vez maiores para obter o mesmo resultado, redução dos intervalos entre um beber e outro etc. Mas a origem do problema pode ser atribuída a outros diversos fatores, entre os quais destacamos os seguintes:

Cumprimento de papéis sociais - por exemplo, freqüentes reuniões de trabalho, jantares, compromissos, festas, onde a bebida está presente;

Acompanhar o grupo ou receber aprovação deste - a necessidade de integração, não raro, faz com que a pessoa considere importante o ato de beber para sentir-se engajado e aceito pelo grupo;

Afastar temporariamente situações desagradáveis - a falta de habilidades para lidar com eventos aversivos, a baixa tolerância à frustração e a necessidade de alívio imediato de sentimentos e emoções negativas podem levar a pessoa a recorrer à embriaguez;

Estímulo familiar – em algumas famílias, os pais, tios, avós, etc., permitem, apreciam e até estimulam o consumo de bebidas alcoólicas por crianças;

Tradições familiares – algumas famílias seguem tradições culturais de consumir vinhos ou outros aperitivos diariamente durante às refeições;

Imitação de modelos - crianças em geral, imitam ou reproduzem os comportamentos dos adultos, repetem o que observam dentro do contexto familiar através de brincadeiras, como um ensaio para a vida adulta, e

Redução da inibição social - pessoas tímidas podem sentir-se mais à vontade em festas ou em qualquer ocasião social após ingerir alguma quantidade de álcool e, abusam da substância com freqüência para tal fim.

As alterações comportamentais provocadas pelo abuso de bebidas alcoólicas podem variar muito de uma pessoa para outra, e num mesmo indivíduo, de acordo com inúmeras variáveis presentes na situação. Por exemplo: reações orgânicas; percepção alterada da realidade; estados emocionais alterados para tristeza, alegria, irritabilidade ou agressividade; mudança na forma de tratar os demais; a quantidade e o tempo gasto para ingerir bebidas alcoólicas; falta de habilidades para lidar com estímulos aversivos, etc.

No contexto familiar, os cônjuges e os filhos são geralmente, as pessoas mais afetadas pelos comportamentos do indivíduo com a síndrome de dependência, podendo estender-se também aos pais, irmãos, etc.

No trabalho é comum, faltas freqüentes por embriaguez ou ressaca; redução do rendimento físico/intelectual; advertências, perdas de promoções, falências, mudanças no ramo de atividade, aposentadoria precoce, acertos prejudiciais, etc.

A doença pode comprometer as condições habitacionais da pessoa e dos familiares envolvidos no problema, provocando atrasos nos pagamentos de aluguéis e/ou impostos, ações de despejo, mudanças para casa de parentes ou, imóveis inferiores, descuido com a conservação do ambiente (acúmulo de sujeira e lixo nas dependências da casa), discussões com vizinhos, etc.

Problemas legais como acidentes de trânsito (com ou sem lesões físicas do condutor ou terceiros ou vítimas fatais), danos materiais, multas, bem como prejuízos sociais como a marginalização por familiares, amigos, vizinhos e/ou colegas de trabalho. Freqüentes expulsões, mudança de endereço ou da atividade profissional, gasto excessivo, perdas de bens e da credibilidade, envolvimentos em brigas, etc. resultantes da supervalorização da bebida e descaso com outras atividades.

No aspecto psicológico em geral, ocorre a negação do problema; incompreensão e sentimento de impotência por parte dos familiares; inúmeras tentativas frustradas de tratamento; crenças inadequadas a respeito do problema; falta de habilidades para lidar com a doença (tanto do paciente, quanto de seus familiares) e, possível manifestação de outros transtornos psiquiátricos simultaneamente como depressão, esquizofrenia, transtornos de ansiedade, etc.

O tratamento adequado da dependência química deve associar atendimento médico (farmacoterapia) e psicoterapia comportamental, considerando e respeitando as necessidades e a individualidade do paciente.

DEPENDÊNCIA DE MACONHA (CANABINÓIDES)

Maconha é o nome usado no Brasil, para o conjunto de folhas, flores e sementes da planta Cannabis sativa, que cresce com facilidade em regiões de clima quente. Em outros países, a droga pode receber nomes como hashish, bangh, ganja, diamba, marijuana e marihuana. A maconha é conhecida há mais de 2.700 a.C. Apesar de antiga é uma das drogas mais populares. Não existem muitos estudos precisos sobre a extensão e gravidade dos males provocados pela maconha. Sabe-se que esta droga afeta o sistema nervoso central (SNC), provocando a chamada síndrome amotivacional, caracterizada pela perda de interesse por atividades sociais e intelectuais, com sérios prejuízos educacionais para o usuário.

No Brasil, os primeiros registros escritos sobre a maconha datam de 1548.

No século XII, lutadores árabes, sob os efeitos dessa substância lutavam e matavam cruelmente e ficaram conhecidos por haschichins, de onde originou a palavra "assassinos" (Tiba, 1997).

O ingrediente ativo mais potente da maconha é o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC). A porcentagem de THC ativo, produzida pela planta depende da quantidade de luz, do tipo de solo, clima, da época da colheita e do tempo decorrido entre a colheita e o uso. A resina das folhas de maconha é chamada, no Brasil, de haxixe, cujo THC é mais potente que na maconha como é comumente conhecida.

Embora existam usuários de maconha nas mais diversas faixas etárias e em todos níveis sócio-econômico, a maioria é adolescente. Desse modo, a preocupação com o abuso é legítima, já que nesta fase os sistemas cerebral e sexual ainda estão em desenvolvimento, podendo ocasionar danos irreversíveis aos usuários.

Formas de consumo

Fumada: a droga pode ser fumada na forma de cigarros enrolados manualmente ou em cachimbos artesanais conhecidos no Brasil como "maricas". Um cigarro de maconha médio contém de 2,5 a 5mg de THC. A maconha fumada demora em média 10 minutos para fazer efeito no organismo. Porém, os efeitos esperados pelo usuário aparecem após 20 ou 30 minutos e podem durar entre 2 e 3 horas.

Comestível: a maconha pode ser ingerida na forma de bolo, torta ou outras variações alimentares. Esta forma de consumo não é comum no Brasil, mas em países como a Holanda, onde a droga é aceita legalmente, há lojas especializadas na produção desses produtos.

Efeitos predominantes

Os efeitos físicos predominantes do THC ocorrem no cérebro, coração e pulmões. Podem ser classificados em:

efeitos físicos (ação da droga sobre o organismo)

efeitos psíquicos (ação da droga sobre os pensamentos e percepção).

Podem também ser subdivididos em:

efeitos agudos (quando ocorrem apenas algumas horas após o uso

efeitos crônicos (seqüelas que surgem com o uso prolongado da droga por semanas, meses ou anos).

Os efeitos físicos propriamente ditos são em geral, olhos vermelhos (hiperemia das conjuntivas), boca seca (xerostomia), aceleração do ritmo cardíaco (taquicardia). Os batimentos passam da normalidade de 60 a 80 por minuto, para 120 a 140 ou até mais. As alterações no humor dependem da quantidade, do grau de pureza, da forma de uso, das condições orgânicas do usuário e das circunstâncias em que é usada. Outros problemas físicos da intoxicação incluem tremores leves, diminuição da temperatura do corpo, redução da força e do equilíbrio dos músculos. Algumas pessoas sentem náuseas e dores de cabeça. Com menor freqüência, o THC pode provocar convulsões e, em pessoas com problemas cardíacos, pode causar maiores danos.

Os efeitos psíquicos podem ser euforia, sensação de relaxamento, sonolência, aumento ou negligência do desejo sexual, perda da noção precisa de tempo (sensação de que o tempo demora a passar), lentificação do raciocínio, perda da capacidade de armazenar dados na chamada memória de curto prazo, fome exagerada (conhecida na gíria brasileira por "larica"), vontade de rir à toa (hilaridade) e alucinações. Esses sintomas são desejados pela maioria dos usuários.

Sentimentos de angústia, medo de perder o controle da situação, dores de cabeça, tremores e suor intenso (sudorese) também podem ser experimentados. Quando os efeitos são desagradáveis, a experiência é chamada "má viagem" (bad trip) ou "bode"; esses efeitos diminuem as chances do "experimentador" usar a droga novamente. Os efeitos crônicos mais evidentes da maconha são a diminuição ou perda do interesse por atividades ou relacionamentos sociais.

Esses sintomas caracterizam a síndrome amotivacional. A pessoa que abusa de maconha desenvolve problemas com a memória e prejuízos na capacidade de desempenhar tarefas em várias etapas. Pode apresentar desconfiança, idéias de perseguição, apatia, diminuição da autoconsciência, prejuízo no julgamento social, pensamento lento, decréscimo nos impulsos e a perda da capacidade de avaliar sensatamente a realidade. Se a droga for usada durante um estado de estresse, a pessoa pode se tornar agressiva. Mas, a maconha por sua ação depressora do sistema nervoso central, em geral, diminui a agressividade. No entanto, qualquer usuário pode tornar-se agressivo quando privado do consumo. Como qualquer outra droga de abuso, a reação tóxica da maconha pode produzir confusão, desorientação e pânico.

Dependência

Acreditava-se que a dependência psíquica da maconha era muito mais evidente do que a dependência física. Porém, sabe-se hoje, que a maconha causa dependência física e psíquica, bem como síndrome de abstinência leve.

Problemas clínicos

Os problemas de saúde provocados pelo abuso de maconha, na maioria dos casos tendem a desaparecer com a interrupção do consumo. As áreas mais importantes de possíveis lesões são as seguintes:

Pulmões: a maconha é irritante aos pulmões e pode provocar bronquite (que normalmente desaparece com a interrupção do consumo). O uso crônico de qualquer substância irritante aos pulmões pode causar destruição dos tecidos e diminuir a capacidade vital desse órgão, mesmo em pessoas jovens e saudáveis. A maconha possui níveis de hidrocarbonetos carcinogênicos 50% mais altos que o tabaco. O teor de alcatrão encontrado na maconha é maior do que nos cigarros de tabaco. Ao contrário da crença comum e equivocada de que a maconha, por ser fumada em sua forma natural (não industrializada) não provoca câncer, alguns estudos comprovam a evidência de lesões pulmonares pré-cancerosas em fumantes desta droga após alguns anos de abuso (Schukit, 1991).

Nariz e garganta: não raro, fumantes crônicos de maconha, apresentam faringite, sinusite e aumento significativo do risco de câncer de cabeça e pescoço, idêntico aos fumantes crônicos de cigarros de tabaco.

Aparelho cardiovascular: a maconha produz aceleração do ritmo cardíaco e aumento dos riscos de complicações em pessoas com problemas preexistentes.

Sistema reprodutor: alguns estudos apontam a diminuição em até 60% da quantidade de testosterona (hormônio masculino), prejudicando a produção de esperma em usuários crônicos, bem como a redução do tamanho dos testículos. Apesar dessas alterações, a maconha não causa impotência sexual e nem a perda do desejo sexual na maioria dos casos, mas pode provocar a esterilidade, em homens. Em mulheres, a maconha pode bloquear a ovulação. Tanto em homens, quanto em mulheres essas alterações são reversíveis quando o consumo é interrompido. Durante a gravidez, a maconha pode reduzir a oxigenação, causando danos ao feto e problemas no processo de aprendizagem da criança.

Cérebro: fumantes crônicos de maconha podem apresentar modificações no funcionamento cerebral por três meses ou mais, após interromper o uso e, com menor freqüência, lesões irreversíveis. Alguns estudos mostram que a atuação do THC na região do cérebro responsável pelo controle das emoções provoca danos e disfunções graves na memória.

Outros problemas (acidentes)

Os maiores riscos são os acidentes provocados por prejuízos no desempenho motor. A redução da capacidade de julgamento impossibilita uma avaliação do tempo e da distância. Esses efeitos são muito parecidos aos de bebidas alcoólicas. Alguns pesquisadores afirmam que a maconha reduz a capacidade de dirigir automóveis por até 8 horas após o uso. Um estudo realizado nos Estados Unidos revelou que esta droga diminui a capacidade de pilotar adequadamente aviões por 24 horas após o último consumo de maconha, mesmo em pilotos experientes. Nos casos de preexistência de doenças psíquicas não evidentes ou controladas com medicamentos adequados, a maconha pode agravar o quadro, desencadear a manifestação da doença ou neutralizar os efeitos dos medicamentos, em especial nos casos de esquizofrenia.

Prevenção

As pessoas que decidem fazer uso dessa droga ou que julgam muito atraente o consumo crônico de maconha devem buscar conhecimento sobre seus riscos potenciais. É comum o fato de usuários crônicos de maconha se retirarem da competição e do convívio social, graças à síndrome amotivacional (perda do interesse por tarefas diárias, falta de planejamento e de objetivos na vida). Para educar sobre drogas é preciso estar bem informado. Os argumentos devem se apoiar em estudos científicos, capazes de apresentar com seriedade os males associados ao abuso. As informações erradas ou tentativas de amedrontar o usuário podem levá-lo a desconfiar de todas informações que lhe são oferecidas e comprometer a própria credibilidade do informante.

DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA (“CRACK” e “MERLA”)

A cocaína é uma droga estimulante do sistema nervoso central (SNC), conhecida há mais de 3000 anos. No entanto, o tipo da droga usado hoje, o cloridrato de cocaína (pó branco extraído das folhas de coca), só foi refinado em 1857. Sua ação bloqueia o funcionamento de determinados neurônios (células nervosas), produzindo efeito anestésico (Johanson, 1988; Schuckit, 1991). Em 1914, a imprensa brasileira já alertava para os perigos referentes ao abuso de cocaína, mas somente nas décadas de 60 e 70, a substância tornou-se popular no Brasil, foi considerada a droga da moda nos anos 80. A cocaína é vendida nas ruas em forma de pó.

É conhecida por várias denominações nas diferentes regiões do país. Por exemplo, "pó", "farinha", "branquinha" (CEBRID). Para aumentar os lucros os traficantes adicionam á droga, açúcares, anestésicos, anfetaminas, pó de giz, entre outras substâncias. Desse modo, o usuário consome substâncias de origem e riscos desconhecidos. Outras variações dessa droga recebem os nomes de “crack” ou "pedra", merla, pasta-base, free base, etc.

O crack é fumado em cachimbos artesanais ou improvisados (latas de refrigerante), ou misturado no cigarro de maconha.

A merla (cocaína em forma de base) é conhecida e consumida principalmente em Brasília e em outras localidades da região centro-oeste do país. A pasta de coca, obtida nas primeiras fases de refinação da cocaína, quando as folhas são tratadas com querosene ou gasolina e ácido sulfúrico, é um produto altamente tóxico que contém inúmeros tipos de impurezas.

A merla e a pasta de coca, são fumadas misturadas nos cigarros de tabaco ou de maconha, conhecidos por "mesclados". O crack e a merla por não serem solúveis em água, não podem ser utilizados de forma injetável (CEBRID).

Formas de abuso

Via oral (Mascar as folhas ou em forma de chá).

Nos Andes, os nativos mascam as folhas de coca para aliviar as sensações de cansaço e fadiga produzidas pela altitude da região. Os índios peruanos misturam às folhas cal ou cinzas para facilitar a absorção da droga. Quando mastigadas, a absorção da cocaína é feita pela mucosa da boca; se engolidas, a absorção é feita pelo estômago e pelos intestinos. No Peru e Bolívia, a ingestão do chá das folhas de coca é uma prática legal, e a qualidade é controlada por órgão governamental.

Via intranasal (inalar ou cheirar)

Aspirar pelo nariz é a forma mais comum de abuso da cocaína em pó. O modo de uso consiste em colocar o pó em carreira sobre um vidro e cheirá-lo com canudos, ou com papel enrolado. Os efeitos ocorrem 10-15 minutos após a inalação e a maior parte dos efeitos desaparecem em duas horas aproximadamente, embora alguma atividade persista por até quatro horas. Mesmo com altas concentrações da droga no sangue, a pessoa torna-se ansiosa, irritável e deprimida em poucos minutos após inalar a droga; para evitar esse mal-estar o consumo é mantido por várias horas. Nessa forma de abuso, os efeitos duram por mais tempo, pois a substância ativa pode permanecer na mucosa nasal por mais de três horas e ser detectada na urina após três dias ou mais.

Via intravenosa (injetável)

O uso injetável de cocaína, em geral, provoca os mesmos efeitos do uso intranasal; a diferença é que ao injetar a droga o usuário experimenta uma aceleração cardíaca intensa ("baque") mais rapidamente. A dose intravenosa costuma ser menor do que a dose intranasal.

O abuso intravenoso de cocaína representa maiores riscos de overdose e de contágio por agentes transmissores da AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, de hepatite, malária e dengue, devido ao compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas.

No Peru, Equador, na Colômbia e Bolívia é uma prática antiga comum, fumar pasta de coca misturada em cigarros de tabaco ou de maconha e, mais recentemente, passou-se a utilizá-la desse modo no Brasil. Mas os resultados não trouxeram satisfação aos usuários e, a partir disso, criaram um preparo especial para alcançar tais efeitos - o crack.

O crack e a pasta de coca necessitam de temperatura relativamente baixa para passar do estado sólido para o estado de vapor (95ºC) e por tal razão são fumados em "cachimbos". O "pó" necessita de temperatura elevada (195ºC) e por isso, não pode ser fumado (CEBRID).

Efeitos Predominantes

Apesar da semelhança dos efeitos destas drogas é preciso distinguir a cocaína em pó do crack e da pasta de coca, em função das diferentes formas de administração.

Quando fumados, o crack e a pasta de coca são absorvidos pelos vasos pulmonares quase instantaneamente, atingindo a corrente sangüínea e o cérebro com maior rapidez do que por outras vias. Os efeitos surgem entre dez e quinze segundos após o uso e duram aproximadamente cinco minutos, obrigando o usuário a aumentar a freqüência do consumo.

Pode ocorrer a intensificação das sensações de prazer, euforia, sentimentos de elevada auto-estima, poder, insônia, perda do apetite, aumento da atividade psicomotora (hiperatividade), excitação sexual e tremores nas mãos. Outras manifestações possíveis são náuseas, vômitos, dilatação da pupila, aumento da temperatura corporal e da pressão arterial decorrente da elevação dos batimentos cardíacos, ranger os dentes, boca seca, destruição do septo nasal, falar em demasia (loquacidade), desconfiança e medo exagerados, tocar ou morder repetitivamente objetos ou partes do corpo e ainda idéias delirantes ou paranóides.

Tolerância

A tolerância à cocaína pode desenvolver-se dentro de poucos dias, isto é, a pessoa usando a mesma quantidade da droga, sente seus efeitos (sensação de euforia) com menor intensidade, sendo necessário aumentar as doses para experimentar os efeitos iniciais, porém, a sensação de ansiedade e aumento de energia podem permanecer por até 4 horas.

Dependência

A dependência de cocaína pode ser observada pela presença de sintomas depressivos ou irritabilidade quando se interrompe o uso. Em forma de crack, a droga causa dependência quase instantaneamente, com apenas três ou quatro doses.

Outros problemas

Os usuários de cocaína injetável podem ter complicações infecciosas pelo compartilhamento de agulhas contaminadas, espasmos dos vasos sangüíneos com sintomas semelhantes aos de derrame. Pode ocorrer destruição do septo nasal em usuários que inalam a droga.

Quando fumada, a cocaína pode provocar bronquite e até perdas na capacidade de funcionamento normal dos pulmões.

A ingestão rápida de cocaína provoca taquicardia e pode resultar em morte. As complicações cardíacas são imprevisíveis e podem ocorrer tanto em iniciantes, quanto em pessoas que já abusam regularmente da droga.

O abuso de cocaína durante a gravidez pode atravessar a placenta e atingir o feto. Os resultados podem ser a diminuição da oxigenação ou efeitos estimulantes sobre o feto (com alterações cardíacas), trabalho de parto prematuro ou abortos espontâneos.

O usuário pode apresentar bruxismo (ranger os dentes) e ainda uma série de problemas cutâneos, incluindo escoriações (resultantes de idéias delirantes sobre insetos na pele ) e úlceras cutâneas. A superdosagem (overdose) no consumo de cocaína pode levar à morte.

A ocorrência de depressão grave e suicídios entre usuários de cocaína é comum.

TRATAMENTO AMBULATORIAL

Os objetivo primordiais do tratamento é ajudar o paciente a se manter abstêmio, reduzir ao máximo os efeitos aversivos da síndrome de abstinência e desenvolver habilidades para lidar com situações de riscos.

Para atingir esses objetivos é fundamental a adesão ao tratamento (cumprimento rigoroso das instruções médico-psicológicas), motivação e elevado empenho para mudar comportamentos e pensamentos inadequados. Não há uma forma única e cem por cento eficaz de tratar os transtornos decorrentes do abuso de substâncias psicoativas.

Nenhum método pode ser considerado superior aos demais. Pessoas com problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas e/ou outras drogas apresentam um histórico de vida com experiências distintas e razões individuais para manutenção do problema.

Portanto, compete aos profissionais avaliar o perfil do paciente e ajudá-lo a escolher o tipo de tratamento mais adequado para o caso. O principal benefício do programa ambulatorial é a oportunidade de tratamento, sem afastar o paciente de seu convívio familiar, profissional e social.

Outro aspecto importante desse programa consiste na aquisição de habilidades para lidar com as situações de risco (situações que facilitam ou aumentam os riscos de recaída), às quais o paciente estará exposto constantemente no contexto sócio-cultural e familiar.

O tratamento é realizado em três (3) etapas, com intervalos de 60 dias entre as consultas. Na consulta inicial, realiza-se uma triagem para formação de grupos, nos quais são esclarecidas as causas da doença, os fatores agravantes, a evolução e gravidade dos problemas e a forma de tratamento.

O atendimento em grupo na primeira consulta visa ampliar a compreensão através de relatos e da observação de casos de outros pacientes do grupo, dos efeitos físicos, psicológicos e sociais provocados pelo abuso de substâncias e o desenvolvimento da doença ao longo dos anos.

Após a consulta motivacional e avaliação do quadro clínico de cada paciente é feita a prescrição dos medicamentos que deverão ser tomados durante o intervalo das consultas.

Tanto o paciente, quanto os acompanhantes ou familiares são incentivados e encorajados a ligar para clínica durante os intervalos das consultas, sempre que houver necessidade de esclarecimentos ou apoio da equipe profissional. Nas consultas seguintes, o atendimento é individual.

O paciente é reavaliado e, se necessário, são realizados ajustes ou alterações nas intervenções terapêuticas.

Dependência Física

Consiste na necessidade sempre presente, a nível fisiológico, o que torna impossível a suspensão brusca das drogas. Essa suspensão acarretaria a chamada crise da "abstinência". A dependência física é o resultado da adaptação do organismo,independente da vontade do indivíduo. A dependência física e a tolerância podem manifestarem-se isoladamente ou associadas, somando-se à dependência psicológica. A suspensão da droga provoca múltiplas alterações somáticas, causando a dramática situação do "delirium tremens".

Isto significa que o corpo não suporta a síndrome da abstinência entrando em estado de pânico. Sob os efeitos físicos da droga, o organismo não tem um bom desenvolvimento.

Dependência Psicológica

Em estado de dependência psicológica, o indivíduo sente um impulso irrefreável, tem que fazer uso das drogas a fim de evitar o mal-estar. A dependência psicológica indica a existência de alterações psíquicas que favorece a aquisição do hábito. O hábito é um dos aspectos importantes a ser considerado na toxicomania, pois a dependência psíquica e a tolerância significam que a dose deverá ser ainda aumentada para se obter os efeitos desejados. A tolerância é o fenômeno responsável pela necessidade sempre presente que o viciado sente em aumentar o uso da droga.

Em estado de dependência psíquica, o desejo de tomar outra dose ou de se aplicar, transforma-se em necessidade, que se não satisfeita leva o indivíduo a um profundo estado de angústia, (estado depressivo). Esse fenômeno não deverá ser atribuído apenas as drogas que causam dependência psicológica. O estado de angústia, por falta ou privação da droga é comum em quase todos os dependentes e viciados.

Requisitos Básicos da Dependência

1 - forte desejo ou compulsão para consumir a substância;

2 - dificuldade no controle de consumir a substância em termos do seu início, término ou níveis de consumo;

3 - estado de abstinência fisiológica quando o uso cessou ou foi reduzido (sintomas de abstinência ou uso da substância para aliviá-los);

4 - evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas;

5 - abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância psicoativa, aumento do tempo necessário para obter ou tomar a substância psicoativa ou para se recuperar dos seus efeitos;

6 - persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por excesso de álcool, depressão consequênte a período de consumo excessivo da substância ou comprometimento cognitivo relacionado à droga.

Dados Epidemiológicos

|Uso de Droga em Adolescentes |

|Idade de início |Substância |Tempo para uso problemático |

|11 anos |álcool |2,5 anos |

|12 anos |maconha |1 ano |

|13 anos |cocaína |6 meses |

|14 anos |crack |1 mês |

|Perfil dos Usuários |

|81% |são de classe média |

|46,8% |cursam o nível superior |

|50% |mencionam apenas os efeitos positivos da droga |

|84% |já tiveram episódios depressivos após o uso |

|65,6% |acreditam que o ecstasy é seguro |

|15,6% |já tiveram problemas financeiros pelo uso do ecstasy |

|100% |usam a droga em grupo |

|100% |são usuários de outras drogas como maconha, cocaína e LSD |

|São Paulo – SP |

| Drogas |Anos dos Levantamentos |

| |1987(%) |1989(%) |1993(%) |1997(%) |2004(%) |

|Álcool |77,4 |79,2 |82,3 |74,1 |70,07 |

|Tabaco |25,4 |31,8 |29,1 |30,7 |26,29 |

|Maconha |3,5 |4,7 |5,7 |6,4 |6,6 |

|Cocaína |0,7 |1,9 |2,4 |3,1 |1,7 |

|Solventes |17,8 |24,5 |18,9 |14,7 |16,3 |

Fonte: OBID - Ano IV - Nº. 06 - Junho de 2005 - Secretaria Nacional Antidrogas

|Iaras – SP |

| |Anos dos Levantamentos |

| |Período |Dados |Dados |

|DEL.POL |1 ano |Apreensão de Maconha:4,844 g Aproximadamente R$7.266,00 |Apreensão de Cocaína: 221,80g |

| | | |Aproximadamente R$ 11.100,00 |

|P.M. |1 ano |Apreensão de Maconha:6,152 g Aproximadamente R$9.228,00 |Apreensão de Cocaína: 107g |

| | |Detenção p/ Trafico 06 |Aproximadamente R$ 5.350,00 |

| | |Porte 03 | |

| | |Apreensão 02 | |

|PFF |1 ano |Encaminhamento p/ internação: 07 |Alcoolismo 70 |

| | |Custo aproximado |Custo aproximado R$ 3.000,00 |

| | |R$ 5.000,00 | |

|UBS |1 ano |Intoxicação c/ medicamentos: 02 |Alcoolismo: 24 |

| | | |Custo aproximado R$ 1.032,00 |

Fonte: UBS, PSF, PM, DELPOL - Ano 2008 – Secretaria Municipal de Saúde

|O uso na vida de drogas de abuso |

| na população brasileira |

| |

|Maconha |6,9 % |

|Solventes e inalantes |5,8 % |

|Orexígenos (estimulantes do apetite) |4,3 % |

|Benzodiazepínicos (calmantes) |3,3 % |

|Cocaína,, |2,3 % |

|Xaropes com codeína |2,0 % |

|Estimulantes (anfetaminas) |1,5 % |

|Opiáceos (remédios para dor derivados da morfina) |1,4 % |

|Anticolinérgicos |1,1 % |

|Alucinógenos |0,6 % |

|Barbitúricos |0,5 % |

|Crack |0,4 % |

|Esteróides (anabolizantes) |0,3 % |

|Merla (pasta de cocaína) |0,2 % |

|Heroína |0,1 % |

Fonte: Cebrid (Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas- Universidade Federal de São Paulo)- Levantamento Domiciliar 2001

20% da população usam substâncias psicoativas no decorrer da vida;

15% no mínimo são portadores da doença da dependência química;

10% a 12% desses usam mais de uma droga concomitante;

A incidência de DQ é de 2 a 6 vezes maior no homem;

DQ evolui do álcool para drogas mais pesadas;

150 mil óbitos/ano por alcoolismo nos USA;

15% dos DQ cometem suicídio (20 vezes maior que na população).

Transtornos Psiquiátricos em Pacientes Dependentes de Álcool

- 218 pacientes alcoolistas x 218 pacientes não alcoolistas - Serviço Ambulatorial Universitário do estado de São Paulo;

- Prevalência em toda vida (LTP) de transtornos psiquiátricos: 70% população alcoolista x 26% população não alcoolista;

- Depressão maior em 50%;

- Personalidade anti-social em 30%;

- Fobias em 20%;

- Abuso/dependência de outras drogas em 19%.

Transtornos de Personalidade na dependência da Cocaína

- prevalência ao longo da vida de transtornos psiquáticos foi de 69%;

- 29% com transtornos afetivos e ansiosos

- 40% com transtornos de personalidade

- 31% sem transtornos

Saiba como Agir nas Emergências

Aprenda a conhecer os sintomas de overdose (intoxicação aguda) e saiba o que fazer quando uma pessoa exagerou no uso de drogas e pode estar precisando da sua ajuda:

Conheça os sintomas:

- Perda da consciência, coma ou sono repentino e/ou profundo

- Respiração lenta ou curta ou parada da respiração

- Sem pulso ou pulso fraco

- Lábios roxos

- Convulsões, movimentos involuntários, desmaios

- Palpitação, taquicardia, dor no peito

Saiba o que fazer:

- Chame o resgate ou ajuda médica para emergências, imediatamente.

- Nunca deixe a pessoa sozinha.

- Deite a pessoa de lado, tenha certeza de não haver comida ou vômito na garganta.

- Afaste o queixo do peito.

- Nunca dê outra droga para combater o efeito.

- Nunca ponha nada na boca da pessoa, incluindo água ou medicamentos.

- Se a pessoa estiver tendo uma convulsão segure a sua cabeça com cuidado para não bater no chão ou em algum móvel

Atenção: A mistura de qualquer droga com álcool ou outras drogas aumenta o risco de overdose, ferimentos, violência, abuso sexual e morte.

POSSÍVEIS DANOS PROVOCADOS POR DROGAS

Os danos são vários e dependem de muitos fatores: o tipo de droga (álcool, tabaco, cocaína, cola, crack, LSD, etc.), tempo de uso, condições biológicas do organismo, estrutura psicológica, condições financeiras e sociais de cada usuário e das circunstâncias e variáveis ambientais. Podemos destacar alguns danos comuns como agressões físicas ou verbais, mudança no círculo de amigos, marginalização ou discriminação, expulsões escolares ou de lugares públicos, mudanças de endereço, gastos excessivos, perda de bens (objetos pessoais, carros, bens imobiliários, etc.), problemas judiciais (abuso, porte, tráfico, desacatos à autoridades, envolvimento em brigas, furtos e assaltos), acidentes de trânsito, quedas, ferimentos, etc.

No plano profissional pode ocorrer diminuição no rendimento, faltas por embriaguez ou “ressaca”, perda de promoções, falência, mudança do ramo de atividade, etc.

No aspecto escolar ou acadêmico as drogas podem ocasionar desinteresse pelo estudo, baixo rendimento, repetências ou dependências, problemas nos relacionamentos, evasão, suspensões, expulsões, etc.

São inúmeros os danos biológicos e psicológicos provocados por abuso de drogas.

A ESPOSA E A DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA

O álcool é uma droga psicoativa capaz de provocar graves conseqüências orgânicas, psicológicas e sociais, caracterizando a Síndrome de Dependência Alcoólica.

O problema da dependência de álcool atinge pessoas de todas as esferas sócio-econômicas e culturais no mundo todo, cujas conseqüências negativas atingem senão todos, a maioria do contexto biopsicossocial do indivíduo e de seus familiares. Não existe no Brasil uma estatística precisa a respeito do problema. Nossas estatísticas são projeções de pesquisas americanas e indicam que 10% dos brasileiros são dependentes de álcool.

A esposa e os filhos são as pessoas mais diretamente atingidas. A desinformação ou informações incorretas aumenta a resistência do paciente na busca de tratamento e propiciam tentativas inadequadas de ajuda por parte dos familiares.

As esposas em geral, são as maiores vítimas da violência doméstica provocada pelo abuso de álcool. Por tratar-se de um depressor do SNC, o álcool causa alterações no pensamento e nos comportamentos do indivíduo. Desse modo, a mulher terá de lidar com situações desgastantes e difíceis, onde geralmente há mais isolamento social do que apoio. Não há regras sobre como agir e é imprevisível o que irá acontecer a cada dia. A esposa não sabe se quando o marido voltar para casa ele estará sentimentalmente bêbado ou se estará raivoso e começará a agredi-la.

A exaustão por lidar com o desconforto contínuo e picos de crises durante anos pode ser a queixa principal da esposa. Os problemas emocionais incluem angústia, medo e infelicidade. Os sentimentos da mulher são basicamente os seguintes:

Dúvidas e auto-acusação: não raro, ela se pergunta se o problema não teria surgido por ela ter sido uma má esposa, ter falhado sexualmente ou em algum outro aspecto.

Perplexidade: a esposa pode ficar perplexa diante do conflito agudo de sentimentos que desenvolve em relação ao marido; casou-se com ele porque o amava e às vezes, sente vontade de agredi-lo e abandoná-lo.

Privação: freqüentemente há um sentimento de privação emocional ou de perda: o homem com quem se casou desapareceu. Ela começa a sentir-se desvalorizada e desgraçada.

Além dos problemas emocionais, há também os problemas reais e concretamente ameaçadores: risco de despejo se o aluguel não for pago; as crianças não podem freqüentar escola particular; falta de dinheiro para as compras da semana, água, luz e telefone; vizinhos se queixam do barulho das portas batendo na noite anterior; discussões constantes; ciúme infundado (o alcoolismo muita vezes leva ao ciúme patológico); descontrole esfincteriano do marido (evacuar ou urinar nas roupas).

É claro que seria um erro sempre descrever tais casamentos nesses extremos. Há graduações e às vezes, o comportamento do marido embriagado causa pouco incômodo; ele fica um pouco bobo, discute bastante, rumina o passado, tende a adormecer no sofá e dificilmente vai para a cama, mas permanece educado e não se torna violento. Fornece regularmente o dinheiro das compras e, se tiver um emprego seguro ou uma boa condição financeira, alguns dos problemas da realidade não serão tão perturbadores ou evidentes.

A esposa pode estar envolvida na medida em que tenha relação com a origem do problema, isto é, caso seja conivente com as atitudes do marido ou o estimule a beber. E um envolvimento positivo na medida que seja capaz de ajuda-lo no processo de recuperação.

O que a mulher pode fazer? Qual o papel da esposa na situação?

A passagem do beber sem problemas à dependência de álcool não se faz do dia para a noite. É um processo de longa duração entre o beber normal e o alcoolismo que, em geral leva vários anos. Nessa interface começam a aparecer problemas relacionados ao abuso do álcool. O processo de transição é sinalizado de várias formas, por exemplo: começar a beber mais que o habitual para as circunstâncias, a ponto de ficar perceptível para as pessoas mais próximas; beber sozinho freqüentemente; beber muito rápido; reclamar que o sono não tem sido repousante; dificuldade para lembrar fatos recentes, etc. Algumas conseqüências orgânicas mais precoces do consumo de álcool como gastrite alcoólica, são alguns sinais.

Algumas esposas reconhecem as fases dessa trajetória. Não se trata de regra, mas na maioria dos casos, ocorre o seguinte: constatação relutante de que a bebida é realmente um problema e tenta controlar ou prevenir o comportamento problemático, tentando isolar-se socialmente, como uma estratégia de prevenção; recusa convites ou estimula as pessoas à não lhes convidar para reuniões sociais e, deixa de visitar parentes e/ou amigos.

Em seguida, a esposa começa a perceber que tais estratégias não funcionam. As coisas pioram ao invés de melhorarem; suas reservas vão se esgotando; ela começa a temer por sua própria sanidade; cria-se um sentimento de desesperança; o contato sexual diminui ou cessa; há um sentimento geral de contínuo distanciamento, medo ou raiva. Nesta fase a esposa começa a perceber que alguma coisa precisa ser feita - tenta convencer o marido a procurar ajuda. Se não houver melhoras, o casamento pode se desfazer ou continuar arrastando-se por anos a fio. A ordem das fases varia muito e as esposas adotam diferentes estilos de enfrentamento da situação.

As principais estratégias são:

Subterfúgios - fase em que o contato é minimizado ao extremo e começam as esquivas emocionais ou físicas: "Estamos acostumados a isto"; "Vamos para a cama antes que ele volte e eu finjo que estou dormindo quando ele entra no quarto"; "Aviso às crianças para ficarem longe dele"; "Saio com as crianças no fim de semana sem ele, na verdade nem o convidamos".

Ataques - a mulher tenta controlar o comportamento do marido ralhando, gritando; ameaçando deixá-lo; ocasionalmente agride-o fisicamente; avisa-lhe de que já falou com o advogado sobre separação; despeja a bebida na pia; manipula a situação.

Manipulação - envolve comportamentos como procurar envergonhar o marido por ele beber, mostrando seu desconforto enquanto esposa ou acentuando o sofrimento das crianças. A própria esposa pode embriagar-se propositalmente para mostrar-lhe como é a situação inversa.

Mimar - assemelha-se àqueles comportamentos de mães que mimam os filhos: a esposa cuida dele em suas ressacas; mantém o jantar aquecido, quer ele chegue embriagado ou sóbrio; lhe promete benefícios especiais se melhorar suas atitudes ou comportamentos.

Estilo de enfrentamento adequado: Condução construtiva - quando a esposa mantém seu próprio sentimento de auto-estima, isto é, protege e cuida da família assegurando-se de que as finanças estão em ordem; vai trabalhar; garante que não falte nada para as crianças; ela mesma faz pequenos consertos na casa e cuida do jardim.

Busca de ajuda construtiva: caracterizada por comportamentos como procurar o médico da família; fazer uma terapia; informar-se sobre os AAs; informar-se sobre tratamentos; deixar alguns folhetos para o marido ler; ir à biblioteca pública, ler livros ou pesquisar na internet sobre alcoolismo para aumentar seu próprio conhecimento.

O PAPEL DA FAMÍLIA DA BUSCA DE TRATAMENTO

Os resultados mais satisfatórios no tratamento de dependência de álcool são atingidos quando a terapêutica constitui-se de tratamento medicamentoso e psicoterapia cognitivo-comportamental. As chances de êxito no tratamento são maiores quando o paciente decide por si próprio procurar ajuda profissional. Tentar enganá-lo pode ser pior do que inútil, pois além de dificultar a adesão ao tratamento, o paciente poderá agredir a família por tal atitude e ainda, gastar tempo e dinheiro inutilmente.

A família precisa encontrar encorajamento, enxergar claramente seu papel na situação e perceber melhor suas próprias necessidades. Pode-se discutir os comportamentos a serem adotados e avaliar as alternativas. É impossível predizer mecanicamente um modelo de conduta ou comportamentos a serem seguidos pela família de forma padronizada.

É importante que a família decida o que fazer e o que não fará em relação ao problema e, quais são os seus limites emocionais, afetivos e financeiros. Por exemplo, pode-se estabelecer como política de ação, não mais discutir nem reclamar, ou não dar mais dinheiro para o uso e, nem sair para comprar bebida ou drogas para o paciente. Enfim, elaborar um programa pessoal, de acordo com as reais possibilidades familiares é a melhor alternativa para lidar com a situação.

OS DOZE PASSOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.

2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.

3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.

4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.

6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.

10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.

12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses Passos, procuramos transmitir essa mensagem aos alcóolicos e praticar esses princípios em todas as nossas atividades.

ALCOOLISMO - AVALIE-SE

Acha difícil não pensar em bebida?

Perde refeições porque estava bebendo?

Depois de ter começado beber não consegue parar?

Acha difícil parar de beber antes de ficar embriagado?

Bebeu bastante num dia e na manhã seguinte precisou de um gole para sentir-se bem?

Bebe mais que seus amigos?

Amigos e familiares lhe aborrecem dizendo que você bebe demais?

Bebe em grandes goles para sentir mais rápido o efeito da bebida?

Em festas, procura saber se a quantidade de bebida é suficiente?

Deixa de cumprir alguns deveres por causa da bebida?

Permanece bebendo por vários dias seguidos?

Precisa beber mais do que costumava para embriagar-se?

Já tentou diminuir o consumo ou parar de beber e não conseguiu?

Já sentiu necessidade de beber em horários nos quais normalmente não bebe?

Bebeu e na manhã seguinte apresentou tremores nas mãos?

Quase sempre tem náuseas pela manhã e/ou cãibras nas pernas?

Ultimamente tem ficado ansioso e irritado?

Não tem conseguido dormir normalmente, tem pesadelos ou sente-se angustiado?

Sua disposição para o trabalho diminuiu?

Tem faltado muito ao trabalho ultimamente?

Tem atritos e discussões com chefes, colegas de trabalho e/ou familiares?

Já sofreu quedas ou acidentes sob efeito de álcool?

Ciúmes e agressões têm ocorrido em sua vida familiar?

Já não faz tanta questão de manter boa aparência e higiene pessoal?

Se você respondeu SIM PARA ALGUMAS dessas questões, CUIDADO! Procure orientação de especialistas

Referencias Bibliográficas:

RAHD, J.T; (2007) Alcoolismo e Outras Drogas: São Paulo: Editora Bandeirantes

KNAPP, P; Bertolote, J. & Cols.(1994). Prevenção da recaída: um manual para pessoas com problemas pelo uso do alcool e de drogas. Porto Alegre: Artes Médicas.

ADIALA, J. C. O problema da maconha no Brasil. Rio de Janeiro: IUERJ, 1986.

AMÉLIA, C. e COSTA, A. M. Droga: a fina flor do crime. s.d.

ANDRADE, A. G. et alii (editores). Drogas: atualização em prevenção e tratamento. São Paulo: Edições Loyola, s.d.

CONSELHO ESTADUAL DE ENTORPECENTES DE SÃO PAULO. Proposta de ações para uma política pública estadual sobre drogas/violência urbana. São Paulo: Mimeo, 06 de novembro de 2000. (versão corrigida em 12/04/2002).

COORDENAÇÃO DE SAÚDE MENTAL. Normas e procedimentos na abordagem do abuso de drogas. Brasília: Ministério da Saúde (Secretaria Nacional de Assistência à Saúde/Departamento de Programas de Saúde), 1991.

Sites de pesquisas:

.br

cvs.saude..br

.br

Mensagem: Faz de Conta

Recentemente uma professora, que veio da Polônia para o Brasil ainda muito jovem, proferia uma palestra e, com muita lucidez trazia pontos importantes para reflexão dos ouvintes.

Já vivi o bastante para presenciar três períodos distintos no comportamento das pessoas, dizia ela.

O primeiro momento eu vivi na infância, quando aprendi de meus pais que era preciso ser. Ser honesta, ser educada, ser digna, ser respeitosa, ser amiga, ser leal.

Algumas décadas mais tarde, fui testemunha da fase do ter. Era preciso ter. Ter boa aparência, ter dinheiro, ter status, ter coisas, ter e ter...

Na atualidade, estou presenciando a fase do faz de conta.

Analisando sob esse ponto de vista, chegaremos à conclusão que a professora tem razão.

Hoje, as pessoas fazem de conta e está tudo bem.

Pais fazem de conta que educam, professores fazem de conta que ensinam, alunos fazem de conta que aprendem.

Profissionais fazem de conta que são competentes, governantes fazem de conta que se preocupam com o povo e o povo faz de conta que acredita.

Pessoas fazem de conta que são honestas, líderes religiosos se passam por representantes de Deus, e fiéis fazem de conta que têm fé.

Doentes fazem de conta que têm saúde, criminosos fazem de conta que são dignos e a justiça faz de conta que é imparcial.

Traficantes se passam por cidadãos de bem e consumidores de drogas fazem de conta que não contribuem com esse mercado do crime.

Pais fazem de conta que não sabem que seus filhos usam drogas, que se prostituem, que estão se matando aos poucos, e os filhos fazem de conta que não sabem que os pais sabem.

Corruptos se fazem passar por idealistas e terroristas fazem de conta que são justiceiros...

E a maioria da população faz de conta que está tudo bem...

Mas uma coisa é certa: não podemos fazer de conta quando nos olhamos no espelho da própria consciência.

Podemos até arranjar desculpas para explicar nosso faz de conta, mas não justificamos.

Importante salientar, todavia, que essa representação no dia-a-dia, esse faz de conta, causa prejuízos para aqueles que lançam mão desse tipo de comportamento.

A pessoa que age assim termina confundindo a si mesma e caindo num vazio, pois nem ela mesma sabe quem é, de fato, e acaba se traindo em algum momento.

E isso é extremamente cansativo e desgastante.

Raras pessoas são realmente autênticas.

Por isso elas se destacam nos ambientes em que se movimentam.

São aquelas que não representam, apenas são o que são, sem fazer de conta.

São profissionais éticos e competentes, amigos leais, pais zelosos na educação dos filhos, políticos honestos, religiosos fiéis aos ensinos que ministram.

São, enfim, pessoas especiais, descomplicadas, de atitudes simples, mas coerentes e, acima de tudo, fiéis consigo mesmas.

Você sabia?

Que a pessoa que vive de aparências ou finge ser quem não é corre sérios riscos de entrar em depressão?

Isso é perfeitamente compreensível, graças à batalha que trava consigo mesma e o desgaste para manter uma realidade falsa.

Se é fácil enganar os outros, é impossível enganar a própria consciência.

Por todas essas razões, vale a pena ser quem se é, ainda que isso não agrade os outros.

Afinal, não é aos outros que prestaremos contas das nossas ações, e sim a Deus e à nossa consciência.

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