Contexto Geológico Regional



Zona de Cisalhamento Contracional de Palmeira dos Indios. Um possível Testemunho do Evento Cariris Velhos na Província Borborema

Vanildo Almeida Mendes1; Maria de Fátima Lyra de Brito1; Carlos Alberto dos Santos1

CPRM-Serviço Geológico do Brasil-Recife, vanildo.mendes@.br

INTRODUÇÃO O presente trabalho descreve as informações e tece considerações sobre a Zona de Cisalhamento Contracional de Palmeira dos Indios (ZCPI), identificada durante mapeamento geológico da folha Arapiraca (SC.24-V-D; escala 1:250. 000), executado pela CPRM-Serviço Geológico do Brasil. Neste trabalho são feitos comentários sobre suas implicações tectônicas e a sua possível idade caririana, discorre sobre o posicionamento do Ortognaisse Serra das Flores, um possível marcador do posicionamento na fase final do tectonismo Cariris Velhos, onde o cisalhamento ora referenciado corresponde a um provável testemunho de sua atuação.

CONTEXTO GEOTECTÔNICO A área estudada está inserida na Província Borborema, mais especificamente na Subprovíncia Externa ou Meridional, a qual se mostra limitada a norte pelo Lineamento Pernambuco, e a sul pelo Cráton do São Francisco. Encerra os domínios paleo a mesoproterozóicos Pernambuco-Alagoas, Paulista-Monte Orebe, e neoproterozóicos Canindé e Marancó-Poço Redondo, além das faixas neoproterozóicas Riacho do Pontal e Sergipana. A zona de cisalhamento contracional de Palmeira dos Índios foi identificada durante o mapeamento geológico da folha Arapiraca que, neste contexto, está inserida Subprovíncia Externa ou Meridional da Província Borborema e engloba porções de diferentes Domínios (ver neste Simpósio): Domo de Jirau do Ponciano, Rio Coruripe, Pernambuco-Alagoas, Canindé, Marancó-Poço Redondo e Macururé, limitadas por zonas de cisalhamento, e Coberturas Mesozóicas (figura 1). Neste contexto, a zona de cisalhamento contracional de Palmeira dos Índios constitui o limite tectônico entre o Domínio Pernambuco-Alagoas e o Domínio Rio Coruripe, que serão descritos abaixo.

DOMÍNIO RIO CORURIPE O Domínio Rio Coruripe, distribui-se na porção central da folha Arapiraca, sendo limitado a norte por zona de cisalhamento contracional Palmeira dos Índios, com os litotipos do domínio Pernambuco-Alagoas. Em seu interior afloram os metamorfitos do Complexo Arapiraca representados por paragnaisses a biotita, migmatitos, gnaisses quartzo-feldspáticos, granulitos, kinzigitos, metamáficas, metaultramáficas, formação ferrífera e quartzitos. As idades obtidas em metaultramáficas aflorantes em Serrote da Lage, município de Craíbas-AL forneceram valores de U-Pb de 1.970 M.a., o que nos permite propor uma idade no mínimo paleoproterozóica para o conjunto.

DOMÍNIO PERNAMBUCO–ALAGOAS O Domínio Pernambuco-Alagoas abrange a porção centro-norte da folha Arapiraca (Figura 2), sendo limitado a sudoeste por zonas de cisalhamento contracionais com os domínios Canindé, Marancó-Poço Redondo e Faixa Sergipana, e a sul-sudeste com os metamorfitos do Domínio Rio Coruripe, através de uma zona de cisalhamento contracional com vergência para norte. È formado pelos complexos Cabrobó e Belém do São Francisco. O Complexo Cabrobó contém uma seqüência metavulcanosssedimentar formada por xistos, e paragnaisses eventualmente migmatizados, metagrauvacas, quartzitos, calcissilicáticas, mármores e intercalações de metamáficas. O Complexo Belém do São Francisco compõe-se de ortognaisse granítico a tonalítico-granodiorítico, eventualmente migmatizado, com enclaves máficos de composição quartzo-diorítica e enclaves de rochas supracrustrais. Idade U-PB em SHRIMP obtida em amostra coletada próximo a cidade de Floresta-PE, aponta valor de 2.079Ma., o qual permite deduzir uma idade Paleoproterozóica para a mesma. Idades isocrônicas em Rb-Sr desta unidade apontam valores no intervalo de 1,07 a 1,09 G.a. sugerindo um possível rejuvenescimento isotópico ocorrido durante o Neoproterozóico.

AS ZONAS DE CISALHAMENTOS CONTRACIONAIS DE PALMEIRA DOS INDIOS E JACARÉ DOS HOMENS Os Domínios Pernambuco-Alagoas e Rio Coruripe acham-se cortados por zonas de cisalhamento transcorrente de rejeito sinistral e orientação NE, que afetaram as deformações plicativas anteriores e formataram o atual modelo tectono-estrutural destas entidades. Trabalhos anteriores na região (Medeiros, 2000) consideravam que a zona de cisalhamento de Jacaré dos Homens (ZCJH) consistia em um cisalhamento contracional contínuo e que teria vergência de movimento para sul. Entretanto, os trabalhos de campo executados durante o Projeto Arapiraca não confirmaram a existência desta estrutura tal como fora definida, na realidade a ZCJH é descontínua, sendo compartimentada nas zonas de cisalhamento contracional de Jacaré dos Homens, com vergência para sudeste, e na zona de cisalhamento contracional de Palmeira dos Índios, com sentido de transporte para norte. Em conseqüência, a diferença entre o sentido do empurrão da ZCJH (SE), com o do Cisalhamento Palmeira dos Índios (N-NW), é interpretada como gerada por movimentos tangenciais distintos ocorridos em eventos tectônicos diferentes. A zona de cisalhamento de Palmeira dos Índios mostra-se sinuosa em mapa, constitui o limite entre os Domínios Pernambuco-Alagoas e Rio Coruripe e os litotipos registram uma vergência de empurrões e de dobras para norte, geradas em regime contracional, desenvolvidas por movimentos direcionais para N-NW, provavelmente paralelos ao eixo de interação entre os Domínios Pernambuco-Alagoas e o Domínio Rio Coruripe. Provavelmente o movimento para N-NW do Cisalhamento Palmeira dos Índios foi controlado pelo tectonismo Cariris Velhos, enquanto os empurrões de Jacaré dos Homens e de Belo Monte-Jeremoabo associam-se ao Brasiliano.Tal assertiva é explicada pela estruturação observada nos limites entre os domínios Rio Coruripe e Pernambuco-Alagoas, análise em projeção estereográfica das superfícies “S” no Domínio Rio Coruripe evidenciam um grau de dispersão dos pólos indicando que a sua área foi palco de um intenso redobramento, mas deixando antever vestígios da atuação de uma pretérita compressão meridiana sobre a citada entidade (Figura 2A). No que concerne aos estudos das superfícies “S”, também executados em projeção estereográfica no Domínio Pernambuco-Alagoas observa-se que o esforço compressivo atuante apresenta direção NNE-SSW, com as foliações orientadas para WNW-ESE (figura 2B), em flagrante contraste com o observado no primeiro domínio.

ORTOGNAISSE SERRA DAS FLORES Este corpo ocorre na porção central da folha Arapiraca, intrudindo as rochas metassedimentares do Domínio Pernambuco-Alagoas e constituindo as Serra das Flores e Serra do Sacão. Datações geocronológicas efetuadas em amostras deste litotipo, durante o transcorrer deste projeto forneceram uma idade toniana (947Ma) para o pluton. Constitui um biotita gnaisses de composição sienogranítica a monzogranítica e corresponde a um granitóide relativamente homogêneo, rico em sílica, metaluminoso, sem termos intermediários e com assinatura geoquímica indicativas de granitóides Tipo A, intraplaca, possivelmente originados em ambiente extensional. Estes litotipos, posteriormente, foram submetidos à orogenia Brasiliana. O plutonito em tela dispõe-se na direção N-S, é perpendicular a direção da zona de cisalhamento contracional de Palmeira dos Índios e a sua colocação é interpretada como conseqüência da atuação do esforço distensivo E-W geradas na fase final do tectonismo caririano atuante nesta porção do Nordeste Brasileiro.

CONCLUSÕES Com base no exposto, sugere-se que a intrusão dos ganitóides da unidade Ortognaisse Serra das Flores ocorreu na fase distensiva do Evento Cariris Velhos e este constituiu o marcador desta etapa do ciclo tectônico em questão, o qual atuou de forma significativa nesta porção da Província Borborema, e em cuja fase compressiva originou-se a Zona de Cisalhamento Contracional de Palmeira dos Indios, responsável pelo deslocamento para norte das massas de rochas do domínio Rio Coruripe sobre os metamorfitos e plutonitos do Domínio Pernambuco-Alagoas.

BIBLIOGRAFIA

MENDES, V.A. & BRITO, M. DE F. L. (Org.) Arapiraca. Folha SC.24-X-D-V: estado de Alagoas escala 1:100.000. Brasília: CPRM; DNPM, 1995. 100 p. il. + 2 mapas color. Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil - PLGB.

MEDEIROS, V. C. Aracaju NE: folha SC.24-X estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Escala 1:500.000. Brasília: CPRM, 2000. 1 CD-ROM; mapas. Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil - PLGB.

PEARCE, J. A. Source and settings of granitic rocks. Episodes, v.19, p.120-125, 1996.

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Figura 1 – Mapa esquemático mostrando a compartimentação geotectônica da folha Arapiraca.

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Figura 2 - Projeção estereográfica das superfícies “S”. A- do Complexo Arapiraca (Domínio Rio Coruripe) e B-dos Complexos Cabrobó e Belém do São Francisco (Domínio Pernambuco-Alagoas)

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B

A

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