A Experiência do Rádio na Formação do Narrador de Futebol ...

Intercom ? Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunica??o XXX Congresso Brasileiro de Ci?ncias da Comunica??o ? Santos ? 29 de agosto a 2 de setembro de 2007

A Experi?ncia do R?dio na Forma??o do Narrador de Futebol Televisivo1

Emmanuel Grubisich Monteiro2

Universidade Norte do Paran? - Unopar

Resumo

Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa qualitativa que examinou a influ?ncia do r?dio na forma??o dos narradores de futebol televisivos, os quais iniciaram as carreiras profissionais, atuando naquele meio de comunica??o. A metodologia usada foi a entrevista semi-estruturada e foram ouvidos cinco locutores na cidade de S?o Paulo: ?der Luiz, Milton Leite, Andr? Henning, Silvio Luiz e Jota Junior. Portanto, este artigo se enquadra como pesquisa emp?rica, com a descri??o de evid?ncias por meio de trabalhos de campo.

Palavras-chave

Futebol; r?dio; televis?o; narra??o.

Introdu??o

O r?dio ? o meio de comunica??o mais ?gil porque n?o requer um grande aparato t?cnico para que uma informa??o seja veiculada. O profissional radiof?nico contata a emissora usando um telefone e relata o ocorrido. Por outro lado, a Internet necessita de um computador para que algu?m descreva o fato. A televis?o demanda o deslocamento de pessoal para registrar a imagem, e os jornais e revistas s?o os mais lentos.

O r?dio continua sendo um importante meio de comunica??o porque proporciona entretenimento e tamb?m possibilita ?s pessoas se informarem e aprenderem, por meio de programas de car?ter educativo. Todavia, esse ve?culo sofreu forte impacto no passado, principalmente em 1950 com o surgimento da televis?o. Grande parte dos anunciantes passou a investir na televis?o e, junto com eles, migraram os principais

1 Trabalho apresentado no II Altercom ? Jornada de Inova??es Midi?ticas e Alternativas Comunicacionais. 2 Emmanuel Grubisich Monteiro ? bacharel em Comunica??o Social, com habilita??o em Jornalismo, pela Universidade Norte do Paran? (Unopar), desde dezembro de 2006. Produziu este artigo, com base em seu Trabalho de Conclus?o de Curso, de dezembro de 2006: "A import?ncia do r?dio na forma??o do narrador de futebol televisivo", com nota 10,0 conferida pela banca examinadora, e com orienta??o do professor Gerson Bem Hur Gogel. Endere?o eletr?nico para contato: emmanuel_monteiro@

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profissionais radiof?nicos. Por essa raz?o, muitos acreditaram que o r?dio fosse desaparecer. Uma alternativa encontrada foi a de investir na presen?a do rep?rter na rua, fornecendo informa??o ao vivo: as not?cias e a presta??o de servi?os passaram a receber mais aten??o por parte das r?dios.

Outro fator que tamb?m contribui com a sobreviv?ncia do r?dio ? a narra??o das partidas de futebol. Esse esporte ? irradiado em nosso pa?s h? 75 anos ? a primeira transmiss?o aconteceu em julho de 1931 - enquanto outros g?neros que fizeram sucesso nessa mesma ?poca, como o radioteatro, a radionovela, os humor?sticos, os de audit?rio e os musicais, est?o extintos. O r?dio envolve o ouvinte e permite que ele crie, de acordo com Ortriwano (1985, p.80), "um `di?logo mental' com o emissor". No caso do futebol, a narrativa possibilita ao espectador imaginar o "espet?culo", ao contr?rio da televis?o que, por dispor da imagem, n?o estimula essa recria??o mental da partida. A autora destaca ainda um comportamento do p?blico que evidencia a prefer?ncia pela narra??o radiof?nica. "Na hora do futebol, muitos torcedores preferem unir a imagem da televis?o com a narra??o do r?dio".

Tanto o r?dio quanto a televis?o sempre procuraram conquistar a aten??o do p?blico. Desde o momento inicial da televis?o, no Brasil, esse meio de comunica??o veiculou o futebol em sua grade de programa??o e procurou contratar os melhores ou mais importantes narradores esportivos que iniciaram suas carreiras atuando no r?dio. Esse processo acontece h? 56 anos, quando a TV Tupi, de S?o Paulo, realizou a primeira transmiss?o dessa modalidade esportiva em nosso pa?s: Portuguesa de Desportos 3x1 Palmeiras. Desde ent?o, diversos locutores futebol?sticos trocaram o r?dio pela televis?o.

A Hist?ria da Locu??o Futebol?stica no Brasil

O paulista Nicolau Tuma foi o pioneiro das irradia??es de futebol no Brasil, pela R?dio Sociedade Educadora Paulista. At? aquele momento, as emissoras telefonavam para os clubes ou entidades organizadoras dos campeonatos para obter as informa??es sobre os jogos e depois anunciavam os resultados. Em rela??o ? primeira irradia??o desse esporte, em 19 de julho de 1931, vale destacar que Nicolau Tuma, pouco antes do in?cio do jogo, esteve nos vesti?rios das equipes, com o intuito de memorizar as caracter?sticas

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f?sicas de cada atleta, porque at? ent?o, n?o havia numera??o nas camisas dos jogadores. Naquela ?poca o locutor atuava sozinho, sem a presen?a de rep?rteres ou comentaristas. Por essa raz?o, Tuma improvisou e narrou das arquibancadas, pr?ximo aos torcedores.

Como a publicidade oficial s? foi regulamentada no ano seguinte, o espa?o n?o preenchido pelos an?ncios era substitu?do pelo narrador, que tinha de falar sozinho todo o primeiro e o segundo tempos. Assim sendo, Nicolau Tuma precisou criar um estilo, pois ningu?m havia realizado uma narra??o na qual ele pudesse ter se inspirado. Soares (1994, p.30) ressalta que ele optou por uma descri??o fotogr?fica, a fim de dar ao ouvinte a imagem exata do campo e do jogo. "Determinado a cumprir a decis?o de filmar oralmente o jogo, o locutor ? obrigado a narrar em alta velocidade, enunciando os detalhes como uma metralhadora de palavras". Nicolau Tuma ficou conhecido como "Speaker Metralhadora", por pronunciar at? 250 palavras por minuto.

J? o respons?vel pela irradia??o pioneira no estado do Rio de Janeiro foi o locutor esportivo Amador Santos, pela R?dio Clube do Brasil. Soares (2006) afirma que os cariocas descreviam o lance pausadamente, ao contr?rio dos paulistas, que apresentavam narra??es com mais r?pidas. Naquele per?odo, a tecnologia, como ? conhecida atualmente, estava distante dos radialistas, e as irradia??es eram realizadas pelo telefone.

J? no in?cio da d?cada de 1930, os locutores de futebol come?aram a passar o microfone para os profissionais dos jornais para perguntar a opini?o deles sobre a partida. Com o passar dos anos, esse procedimento se modificou, at? surgirem os comentaristas do jogo e os de arbitragem, al?m dos rep?rteres de campo e os plantonistas.

Em 1933, dirigentes dos clubes de futebol de S?o Paulo alegaram que as transmiss?es radiof?nicas diminu?am o p?blico nos est?dios paulistas. No ano seguinte, as r?dios estavam proibidas de entrar nos locais dos jogos. Entretanto, a exclusividade dos direitos de transmiss?o em S?o Paulo foi concedida ? R?dio Cruzeiro do Sul. De acordo com Cardoso e Rockmann (2005), Alberto Byington, dono da Cruzeiro do Sul e do com?rcio de material de ilumina??o, ofereceu aos clubes, iluminar todos os est?dios de futebol de S?o Paulo a pre?os reduzidos, em troca da exclusividade de transmiss?o. Contudo, a proibi??o imposta ?s outras emissoras n?o impediu que, alguns narradores

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realizassem a irradia??o, do alto de escadas posicionadas ao lado do campo, de cima do telhado de alguma casa vizinha ao est?dio, ou mesmo com a utiliza??o de bin?culos.

A criatividade dos locutores esportivos n?o p?ra por a?. Como esses profissionais costumavam narrar das arquibancadas, em alguns momentos, o barulho da torcida era ensurdecedor, principalmente quando ocorria um gol. Por essa raz?o, o mineiro Ari Barroso, maestro de renome e tamb?m narrador de futebol, teve a id?ia de tocar uma gaita toda vez que algum time marcava um gol.

Ortriwano (op. cit.) destaca que as irradia??es esportivas contribu?ram para o desenvolvimento do jornalismo radiof?nico porque os equipamentos necess?rios para a realiza??o das transmiss?es das partidas foram aperfei?oados e a qualidade do ?udio recebido come?ou a melhorar. A primeira transmiss?o internacional de futebol para o nosso pa?s aconteceu em dezembro de 1936, durante o Campeonato Sul-Americano, disputado na Argentina. J? a primeira partida intercontinental irradiada para o Brasil, ocorreu durante a Copa do Mundo de 1938. Naquela ?poca, o povo se aglomerava nas pra?as dos principais centros do pa?s e acompanhava as locu??es por meio de altofalantes.

Guerra (2006) comenta a identifica??o do povo com o narrador de futebol: ? interessante observar que o narrador do jogo logo caiu no gosto do povo brasileiro. Fascinou e se incorporou ao pr?prio jogo, permitindo retomar o papel do contador de hist?rias, mantendo-o como relator das emo??es, de dramas, alegrias, vit?rias e derrotas (GUERRA, 2006, p.1).

O r?dio reinou soberano at? 1950, com a chegada ao Brasil, de um novo meio de comunica??o: a televis?o. A sua programa??o, ao longo dos primeiros anos, da mesma forma como aconteceu com o r?dio, tamb?m foi direcionada ? elite, por causa do elevado custo dos aparelhos, que eram importados. Grande parte das empresas que investiam no r?dio considerou ser mais vantajoso aplicar os recursos em an?ncios na televis?o. Sendo assim, os principais profissionais de r?dio migraram para a televis?o, entre eles, alguns locutores esportivos. De acordo com Cardoso e Rockmann (op. cit.), os produtores e t?cnicos acabavam enlouquecidos porque a maioria dos funcion?rios da televis?o veio do r?dio e trouxe consigo a linguagem radiof?nica. Desta forma, n?o estavam adaptados ? televis?o e ao seu principal produto: a imagem.

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Alguns locutores de r?dio costumavam supervalorizar ou inventar determinados lances a fim de manter o ouvinte sintonizado na emissora na qual eles trabalhavam. Entretanto, o in?cio das transmiss?es de futebol pela televis?o fez com que os locutores de r?dio fossem mais fi?is na descri??o das jogadas, porque, j? naquele momento, algumas pessoas assistiam ? partida com o volume do televisor baixo e ouviam pelo r?dio. Como mencionado, com o surgimento das transmiss?es pela televis?o, diversos locutores migraram do r?dio para esse novo meio de comunica??o. Aur?lio Campos, Ari Barroso, Raul Tabajara, Walter Abrah?o, Raul Longras e Geraldo Jos? de Almeida, entre outros, s?o alguns desses exemplos. Com o tempo, outros narradores trocaram o ve?culo no qual atuavam.

Soares (1994, p.106) afirma que os locutores vindos do r?dio n?o tinham ainda criado uma linguagem pr?pria. Alguns desses profissionais levaram consigo a agilidade de narra??o que realizavam no antigo ve?culo e poucos conseguiram se adaptar. A autora comenta a participa??o de Geraldo Jos? de Almeida na televis?o: "Dono de uma grande capacidade de comunica??o, conseguiu adaptar-se ? linguagem da TV e foi um dos poucos narradores do radiojornalismo esportivo a dar certo no novo meio de comunica??o".

A autora relata ainda um confronto direto entre r?dio e televis?o durante a Copa do Mundo de 1982. "Persistia a situa??o de inferioridade da narra??o na TV". A TV Globo adquiriu os direitos exclusivos de transmiss?o desse evento, nesse meio de comunica??o, para o Brasil. Nesse mundial, o narrador titular dessa emissora foi Luciano do Valle. A autora afirma que a venda de publicidade foi um sucesso. Por outro lado, a dire??o da TV Record comprou as cotas para a R?dio Record e requisitou que o narrador de televis?o, Silvio Luiz, realizasse as locu??es. Naquele momento, nas transmiss?es de futebol, a TV Record era a maior concorrente da TV Globo, principalmente "porque Silvio Luiz introduzira uma s?rie de bord?es durante a narra??o, diferenciando-a do tom burocr?tico dos locutores da Globo" (SOARES, 1994, p.107). A R?dio Record investiu na campanha publicit?ria "Veja a Copa na TV, mas ou?a com o cora??o... na Record". A autora comenta uma mat?ria da revista Veja, na qual, relata que a R?dio Record conseguiu nos dois primeiros jogos, uma audi?ncia no m?nimo tr?s vezes maior do que qualquer outra esta??o radiof?nica de S?o Paulo, por causa do estilo

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