UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS



O JOGO NA EDUCAÇÃO: ASPECTOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS DO JOGO NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

(Regina Grando)

Introdução

Até os dias atuais pensa-se a brincadeira ou os jogos como sendo uma recompensa para as crianças que cumprem suas tarefas, ou seja, a criança estuda porque quer alcançar o objetivo maior que é brincar e jogar.

Então, por que não se pode formar uma atividade única, conciliando brincadeira e estudo?

A criança que brinca desenvolve o questionamento, busca diferentes soluções para os problemas, etc..

Jogo e Desenvolvimento

Nesta seção o texto sugere que o jogo ajuda no desenvolvimento cognitivo da criança, pois auxilia na abstração, ferramenta necessária para o aprendizado da Matemática.

O jogo é uma ferramenta que pode ser utilizada pelos professores para motivar as crianças a agir, daí então a possibilidade da imaginação, dadas as devidas condições do agir.

Portanto, a imaginação exerce um papel fundamental para o desenvolvimento da criança e, como o jogo depende da imaginação, ele irá estabelecer um caminho natural que vai da imaginação à abstração de um conceito matemático.

Quando brinca, a criança adquire responsabilidade, atenção, motivação, etc.; assim, ela gera o seu próprio desenvolvimento intelectual.

O jogo propicia um diálogo do indivíduo consigo mesmo, um questionamento sobre as soluções, as possibilidades de dar certo.

Para aprender matemática é necessária muita imaginação para estabelecer as regras e conceitos.

No jogo de regras, a criança passa a ter uma convivência social, esquecendo do “eu”, daí ela se controla e se regulamenta.

Jogo no Ensino da Matemática

Observamos, pelo texto, o valor de jogos no ensino em geral. Os jogos por si só são elementos que necessitam de uma atenção e participação ativa de seus competidores, levando-os a buscarem um melhor desempenho através da criatividade e de estratégias. Com isso, o "jogador" cria relações com os adversários, discute e reavalia seus conceitos em relação às regras, estratégias e metas, criando, dessa forma, um desenvolvimento pessoal e social.

Isso nos mostra que o jogo tem um papel pedagógico, tornando-se de grande importância no ensino, em especial da matemática, pois através dele o raciocínio lógico é utilizado e dinamizado pelo aluno, favorecendo uma aprendizagem mais rápida e fácil.

Cooperação no Jogo de Regras

Com base nas concepções de Piaget, a cooperação no jogo de regras pode ser entendida como “co-operar”, isto é, “operar junto” ou “negociar”, estabelecendo um acordo entre os jogadores. Nesta cooperação, o indivíduo pode analisar o jogo a partir de diferentes pontos de vista.

Ainda segundo Piaget, a interação social é indispensável ao desenvolvimento social, moral e intelectual dos indivíduos. Esta tem um papel construtivo na formação do senso crítico e do pensamento objetivo. A cooperação entre as crianças é importante para o progresso do conhecimento tanto quanto a discussão entre pares e a mediação dos adultos.

As atividades são subordinadas a regras. Por isso, os indivíduos trabalham a regularidade, o limite, o respeito e a disciplina, indispensáveis para o convívio em sociedade.

A discussão auxilia na construção das estruturas mentais necessárias para a elaboração do conhecimento. Durante o jogo, o indivíduo pode desenvolver sua criatividade: cria, elabora estratégias, elabora regras e cumpre regras.

Através de atividades propostas pelo jogo, é possível que o indivíduo desenvolva estratégias de resolução de problemas. Tanto no jogo quanto na resolução de problemas, o indivíduo precisa criar estratégias e analisar todas as possibilidades de resolução. O jogo nada mais é do que resolver uma situação-problema determinada por regras.

Assim, podemos inserir o jogo no contexto educacional, pois ele e a resolução de problemas são estratégias de ensino. Ambos trazem vantagens no processo de criação e construção de conceitos através da discussão matemática entre os alunos e entre o professor e os alunos.

O jogo pode ser utilizado na escola como desencadeador de aprendizagem do aluno e como ponto de partida para formação de conceitos. A vantagem do jogo é que esse processo de aprendizagem se dá de uma maneira lúdica, dinâmica e desafiadora, motivando muito mais os alunos.

Como já foi citado, as estratégias para a resolução de problemas são análogas às estratégias de um jogo. Podemos estabelecer um paralelo entre as quatro etapas presentes na resolução de problemas e no jogo:

|Estratégia de resolução de problemas |Estratégia de um jogo |

|Compreensão do problema |Familiarização com o jogo |

|Elaboração de um plano |Procura de estratégias de resolução |

|Execução do plano |Aplicação das estratégias (jogadas) |

|Avaliação dos resultados |Reflexão sobre o processo desencadeado |

Uma desvantagem do jogo é que, muitas vezes, o aluno só compreende o problema depois que o executa e a avaliação da jogada pode não ser imediata, pode acontecer apenas depois de outras jogadas.

Muitos estudiosos (Kishimoto, Machado, Corbalán, Giménez, Grando) têm estudado a utilização de jogos no processo de ensino-aprendizagem. Assim, antes do desenvolvimento de um trabalho pedagógico com jogos, o professor deve refletir sobre suas vantagens e desvantagens:

|Vantagens |Desvantagens |

|Fixação de conceitos |Se mal utilizado, pode ter um caráter puramente aleatório, não |

| |há um porquê para o jogo |

|Introdução e desenvolvimento de conceitos |O tempo gasto em sala de aula é maior |

|Desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas |Falsas concepções de que tudo deve ser ensinado através de |

| |jogos |

|Tomar decisões e analisá-las |Perda da ludicidade do jogo pela interferência do professor |

|Interdisciplinaridade |Professor exige que o aluno jogo, perdendo a voluntariedade |

|Participação ativa do aluno para construção do conhecimento |Dificuldade de acesso e disponibilidade de material sobre o uso|

| |de jogos no ensino |

|Trabalho em equipe | |

|Motivação | |

|Criatividade, senso crítico, participação, competição, | |

|observação, prazer em aprender | |

Percebemos, então, que o sucesso do trabalho depende da reflexão do professor quanto à metodologia, quanto à proposta de trabalho com jogos e quanto à coerência dos jogos com o plano escolar. Os objetivos e as ações propostas pelo jogo devem estar bem claros para o professor. Não é tão simples a inserção de jogos no contexto escolar. Por isso, cabe ao professor uma análise e um estudo para que fique claro o porquê da utilização do jogo para o desenvolvimento de certos conceitos.

Além disso, outros fatores como o ambiente da sala onde serão realizadas as atividades, devem ser verificados. O local de aplicação do jogo deve ser propício para desenvolver a imaginação do aluno, deve possibilitar o trabalho em grupos, deve permitir momentos de diálogos entre os alunos e entre o professor e os alunos.

Com isso, verificamos que o currículo escolar precisa ser revisto. Atualmente, não há espaço de tempo para estas atividades. É importante que seja reconhecida a possibilidade e a importância do uso de jogos para o processo de ensino-aprendizagem.

O professor deve, então, ter um papel de orientador para que seja possível o estabelecimento na sala de aula da seguinte relação:

Jogar ( “Fazer Matemática” ( Aprender Matemática

Assim, para a aprendizagem de matemática, o jogo deve ter formas específicas e características próprias. Dessa maneira, a linguagem matemática, de difícil acesso e compreensão por parte dos alunos, pode ser simplificada e compreendida pela ação no jogo. O aluno pode construir uma linguagem auxiliar na situação de jogo que pode servir como “ponte” para a compreensão de conceitos mais abstratos, distantes e incompreensíveis.

Uma grande dificuldade para os alunos, por exemplo, é o aprendizado da álgebra, pois exige muita abstração. Para o processo de ensino e aprendizagem da álgebra, é fundamental o conceito de variável e incógnita. O aluno precisa distinguir quando a letra representa um número que precisa ser descoberto (incógnita) e quando a letra representa vários números possíveis que vão alterando o resultado (variável).

Com a utilização de novas tecnologias, estão ocorrendo mudanças importantes no desenvolvimento da Matemática escolar. Para a Álgebra, os trabalhos mecânicos e sem significação estão se reduzindo e os trabalhos que demandem uma conceitualização e representação estão aumentando cada vez mais. Nesses casos, o aluno é o responsável por interpretar o problema, elaborar estratégias, construir procedimentos e analisar os erros.

Por exemplo, a programação do jogo (Tangram) em LOGO (linguagem computacional de programação) permite o registro de todo o processo de raciocínio estabelecido no desenvolvimento das estratégias. Assim, o professor pode acompanhar o pensamento do aluno, o raciocínio envolvido na estratégia e as hipóteses estabelecidas.

O programa serve como “ponte” entre a linguagem natural e o estabelecimento de uma linguagem algébrica. A simbolização algébrica é uma necessidade do programa.

Assim, a combinação do jogo com a linguagem de programação pode facilitar o trabalho do professor, pois permite que seja resgatada a estratégia de jogo feita pelo aluno, bem como a maneira como ele pensava para resolver o problema. Dessa maneira, o professor consegue avaliar como deve conduzir as atividades para que o aluno consiga realmente aprender.

As atividades com jogos de estratégia permitem, então, o desenvolvimento de procedimentos de resolução de problemas e o desenvolvimento do pensamento matemático. O conceito matemático pode ser observado na estruturação do jogo, pois não basta só jogar. É necessário refletir, construir estratégias, determinar o conceito. Com isso, o aluno consegue perceber regularidades na ação dos jogos, permitindo prever jogadas, levantar hipóteses, corrigir jogadas erradas e elaborar estratégias vencedoras. O raciocínio desencadeado permite o desenvolvimento de conceitos e auxilia fortemente o processo de ensino e aprendizagem da Matemática.

A Análise de Possibilidades no Jogo de Regras

Os jogos de estratégia exigem dos jogadores uma elaboração de esquemas táticos para vencerem. Essa necessidade os leva a buscarem novas possibilidades dentro das regras do jogo, favorecendo a criatividade e as associações cognitivas do aluno.

O “erro” na situação de jogo

Destaca-se aqui o fato de que o “erro”, tanto num jogo quanto no ensino de uma dada matéria escolar, deve ser proveitoso. Ou seja, não se deve reprimí-lo, mostrando o correto logo de cara, mas estimular o aluno a pensar sobre esse erro, entender porque está errado e, caso ele não consiga tirar conclusões, esclarecê-lo de uma maneira lógica. Enfatiza-se que a construção da ciência não é perfeita, isto é, consta de uma sucessão de erros e acertos. E esses erros é que acabam solidificando a teoria, através da reflexão daquele que os corrige.

“Momentos” de jogo

Aqui, delineiam-se sete passos para o aproveitamento do jogo dentro da sala de aula, incluindo aprendizado das regras e o jogar só para aprendê-las até a análise do jogo, o registro das jogadas, o planejamento das estratégias que serão utilizadas, bem como a observância e a interpretação dos erros que foram cometidos. Nesse ponto, é fundamental a participação do orientador, com suas observações, comentários e sugestões. Segundo algumas pessoas, essa utilização do jogo em sala de aula faz com que esse perca seu caráter lúdico, o que é uma outra questão.

Cálculo mental e jogo

O cálculo mental, como sugerido no texto, facilita a compreensão do número e as relações que se pode estabelecer com ele, desta forma o sujeito que usa constantemente o cálculo mental terá facilidade para aprender matemática.

Não obstante como um utensílio importantíssimo à aprendizagem da matemática, o cálculo mental também permite estabelecer estratégias cognitivas que irão auxiliar em situações práticas, favorecer a generalização numérica, a imaginação e a memorização.

Apesar das estratégias utilizadas no cálculo mental serem adversas ao cálculo aprendido em aritmética, é importante atribuir para o cálculo mental seu real valor, pois com o cálculo mental pode-se utilizar de imaginação, criatividade para resolver certos problemas, enquanto que no cálculo aritmético a resolução de problemas é mecânica, aprende-se um método e dele se utiliza para resolver os problemas sem pensar no que eles significam.

Os jogos auxiliam no cálculo mental, por isso a importância de aprender matemática com jogos matemáticos. Através do jogo é possível conhecer os alunos, suas dúvidas, criar relações matemáticas que podem ser aplicadas nos jogos, etc.

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