A Dança e a criança: apontamentos de uma prática pedagógica

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Minist?rio da Educa??o Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri ? UFVJM

Minas Gerais ? Brasil Revista Vozes dos Vales: Publica??es Acad?micas

Reg.: 120.2.095?2011 ? PROEXC/UFVJM N? 01 ? Ano I ? 05/2012 ufvjm.edu.br/vozes

A Dan?a e a crian?a: apontamentos de uma pr?tica pedag?gica

Priscilla Alvarenga Rocha Especialista em Dan?a e Teatro Universidade Federal de Vi?osa E-mail: priscilla_alvr@ Ana Cristina Alvarenga Fran?a Especialista em Psicopedagogia Universidade Estadual de Minas Gerais E-mail: a.cristinafranca@.br

Resumo: Visando relatar o trabalho realizado durante dois anos com as crian?as frequentadoras do Laborat?rio de Desenvolvimento Humano (LDH) da Universidade Federal de Vi?osa (UFV), buscou-se rememorar e apontar caminhos significativos para o educador que anseia trabalhar com a Dan?a voltada ao p?blico infantil. Desse modo, realizou-se um estudo qualitativo, de natureza explorat?ria e descritiva a fim de expor um breve contexto hist?rico da educa??o infantil, delineando os caminhos selecionados para a aplica??o das atividades expressivas em Dan?a no LDH. Palavras-chave: Educa??o infantil. L?dico. Dan?a-educa??o.

Introdu??o

O seguinte estudo aborda a respeito das aulas de Dan?a lecionadas para as crian?as na faixa et?ria de cinco anos, freq uentadoras do Laborat?rio de Desenvolvimento Humano (LDH) da Universidade Federal de Vi?osa (UFV).

Revista Vozes dos V ales da UFVJM: Publica??es Acad?micas ? MG ? Brasil ? N? 01 ? Ano I ? 05/2012 Reg.: 120.2.095?2011 ? PROEXC/ UFVJM ? www .ufvjm.edu.br/vozes

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Rememorar esse trabalho desenvolvido nos anos de 2008 e 2009, descrevendo alguns apontamentos que foram essenciais para a sua signific?ncia, foi de extrema import?ncia para revisitar andan?as plenas e relevantes para o crescimento dos alunos e, tamb?m o nosso, enquanto futuros docentes.

O interesse em desenvolver um trabalho com crian?as sempre esteve presente em nossa trajet?ria acad?mica. A afei??o por essa faixa et?ria contribuiu para abra?armos mais intensamente esse trabalho que fora realizado no laborat?rio.

A partir das aulas lecionadas, foram germinados caminhos interessantes para o educador em Dan?a, que carecem ser sistematizados enquanto estudo.

Por meio de uma oportunidade oferecida pela Faculdade Angel Vianna em aprofundar a respeito de alguma tem?tica constituindo um artigo, buscamos expor nossas experi?ncias e viv?ncias no LDH, que foram t?o substantivas.

Desse modo, propomos, por meio deste estudo, ressalvar um breve contexto hist?rico da educa??o infantil, bem como descrever e apontar os caminhos selecionados para a aplica??o das atividades expressivas em Dan?a no Laborat?rio de Desenvolvimento Humano.

1. Metodologia

Para realizarmos este relato sobre o contexto hist?rico, descrevendo e apontando os caminhos trilhados para a aplica??o das atividades expressivas em Dan?a, buscamos trabalhar com uma pesquisa qualitativa. Segundo Neves (1996), por meio desta, obtemos dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com o objeto de estudo.

A presente pesquisa ? de natureza explorat?ria e descritiva, sendo constitu?da por uma revis?o de literatura sobre o contexto hist?rico da educa??o infantil, promovendo o di?logo com as aulas ministradas no LDH, descrevendo-as e apontando os caminhos empregados para sua aplica??o.

Primeiramente, foram realizadas observa??es participantes durante as atividades que aconteciam em um per?odo de quarenta minutos, com uma periodicidade ?nica por semana, no pr?prio LDH. Essas observa??es consistiam em averiguar como as crian?as se portavam nas aulas, seu interesse e participa??o,

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analisando as estrat?gias mais pertinentes e correspondidas pelos alunos durante a aplica??o das atividades em Dan?a.

Al?m das observa??es, foi realizada uma entrevista com as docentes da classe, nomeadas neste estudo como FE e KEL, para coletarmos dados em rela??o ?s sensa??es e influ?ncias das aulas de Dan?a para as crian?as, expondo a efic?cia dos caminhos selecionados e relatando os acontecimentos ocasionados durante as aulas. As entrevistadas assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido que nos permitiu analisar e divulgar os conte?dos.

Coletamos, tamb?m, informa??es dos alunos durante as aulas, por meio de conversas informais sobre as atividades, em que relatavam seus interesses, dificuldades, o que lhe despertavam veem?ncias, entre outros aspectos.

2. Aporte te?rico

2.1. Apontamentos hist?ricos sobre a Educa??o Infantil

Para o desenvolvimento deste estudo, inicialmente procuramos compreender o contexto hist?rico da Educa??o Infantil, com o intuito de dar in?cio ?s reflex?es a respeito das aulas ministradas no LDH.

Antes do s?culo XVI, a crian?a aprendia por meio do conv?vio social, em meio a adultos, crian?as, enfim, a pessoas de v?rias faixas et?rias. At? o ano de 1889, segundo Aroeira, Soares e Mendes (1996), h? muito pouco registrado em termos de atendimento ? crian?a pr?-escolar.

Durante muito tempo, a educa??o da crian?a foi considerada uma responsabilidade das fam?lias ou do grupo social ao qual ela pertencia. Era junto aos adultos e out ras crian?as com os quais convivia que a crian?a aprendia a se t ornar membro deste grupo, a participar das tradi??es que eram importantes para ele e a dominar os conheciment os que eram necess?rios para a sua sobreviv?ncia mat erial e para enfrent ar as exig?ncias da vida adulta (CRA IDY; KAERCHE R, 2001, p.13).

No entanto, com a influ?ncia de fatores como o alto ?ndice de mortalidade infantil, a desnutri??o generalizada e o aumento do n?mero de acidentes dom?sticos, alguns setores da sociedade, os religiosos, os empres?rios e

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educadores, come?aram a pensar em um espa?o de cuidados da crian?a fora do ?mbito familiar. A partir dessa preocupa??o, a crian?a come?ou a ser vista pela sociedade com um sentimento caritativo, assistencial e, assim, passou a ser atendida fora da fam?lia.

No final do s?culo XIX, per?odo de aboli??o da escravatura no pa?s, quando se acentuou a migra??o para as grandes cidades e o in?cio da Rep?blica, houve iniciativas isoladas de prote??o ? inf?ncia, no sentido de combater os altos ?ndices de mortalidade infantil. Desse modo, foi criado um n?mero significativo de creches por organiza??es filantr?picas. A cria??o dos jardins de inf?ncia, tamb?m, foi defendida por alguns setores da sociedade por acreditarem que os mesmos trariam vantagens para o desenvolvimento infantil, por?m, outros a criticavam, afirmando serem c?pias europeias.

No entanto, com o processo de implanta??o da industrializa??o no pa?s e a inser??o da m?o de obra feminina no mercado, os movimentos oper?rios ganharam for?a e come?aram a se organizar nos centros urbanos, reivindicando melhores condi??es de trabalho, dentre elas, a cria??o de institui??es de educa??o e cuidados para seus filhos.

Os donos das f?bricas, procurando diminuir a for?a dos movimentos oper?rios, foram considerando como benef?cios sociais a cria??o das institui??es escolares, visando, assim, novas formas de disciplinar seus trabalhadores, buscando control?-los dentro e fora das f?bricas. Para tanto, fora m criadas vilas oper?rias, creches e escolas maternais para os filhos dos oper?rios.

Com o decorrer dos anos, a industrializa??o avan?ou e cresceu o n?mero de mulheres de classe m?dia no mercado de trabalho, o que ampliou ainda mais a demanda pelo servi?o das institui??es de atendimento ? inf?ncia.

Contudo, foi vista a necessidade de expans?o e universaliza??o da educa??o pr?-escolar, que, somente na d?cada de 1980, teve a ades?o de diferentes setores da sociedade, como ONGs, pesquisadores na ?rea de inf?ncia, popula??o civil, entre outros, com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre o direito da crian?a a uma educa??o de qualidade desde o nascimento.

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Portanto, observamos que a crian?a s? teve garantido seu direito ? educa??o na legisla??o com a Carta Constitucional de 1988, que visava assegurar "[...] os princ?pios e as obriga??es do Estado com as crian?as" (BRITTAR, 2003, p.30).

A press?o de diversos segmentos na Assembleia Constituinte possibilitou a inclus?o da creche e da pr?-escola no sistema educativo ao inserir na Constitui??o Federal de 1988, em seu artigo 208, o inciso IV cujo "[...] dever do Estado para com a educa??o ser? efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pr?-escolas ?s crian?as de 0 a 6 anos de idade" (BRASIL, 1988). A partir dessa lei, as creches, vinculadas ? ?rea de assist?ncia social, passaram a ser de responsabilidade da educa??o.

Podemos observar que a constitui??o contribuiu para a garantia de nossos direitos, visto que, segundo Leite (2001), foi um marco decisivo na afirma??o dos direitos da crian?a no Brasil. Al?m disso, de acordo com Aroeira, Soares e Mendes (1996), a Constitui??o de 1988 apresentou a concep??o de crian?a integral, o que corresponde a um atendimento unificado ? crian?a pr? -escolar em um per?odo cont?nuo de 0 a 6 anos e n?o de 0 a 3 e de 4 a 6 anos.

Dois anos ap?s a aprova??o da Constitui??o Federal de 1988, foi aprovado o Estatuto da Crian?a e Adolescente ? Lei 8.069/90, que, ao regulamentar o art.227 da Constitui??o Federal, inseriu as crian?as e adolescentes no mundo dos direitos humanos. Segundo Ferreira (2000), essa lei ? mais do que um simples instrumento jur?dico, pois forneceu o direito de vivenciar a inf?ncia e a adolesc?ncia.

Nos anos seguintes ? aprova??o do Estatuto da Crian?a e do Adolescente, entre os anos de 1994 a 1996, foi publicada pelo Minist?rio da Educa??o uma s?rie de documentos intitulados "Pol?tica Nacional de Educa??o Infantil", estabelecendo diretrizes pedag?gicas e de recursos humanos com o objetivo de expandir a oferta de vagas e promover a melhoria da qualidade de atendimento nesse n?vel de ensino.

Al?m da Constitui??o Federal de 1988 e do Estatuto da Crian?a e do Adolescente de 1990, destaca-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educa??o Nacional de 1996. Esta inseriu a educa??o infantil como primeira etapa da educa??o b?sica, afirmando ser sua finalidade promover o desenvolvimento integral da crian?a at? os seis anos, complementando a a??o da fam?lia e da comunidade.

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