Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa Prova 734 | 1 ... - DaVinci

Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa Prova 734 | 1.? Fase | Ensino Secund?rio | 2017 11.? Ano de Escolaridade

Decreto-Lei n.? 139/2012, de 5 de julho

Dura??o da Prova: 120 minutos. | Toler?ncia: 30 minutos.

7 P?ginas

Utilize apenas caneta ou esferogr?fica de tinta azul ou preta. N?o ? permitida a consulta de dicion?rio. N?o ? permitido o uso de corretor. Risque aquilo que pretende que n?o seja classificado. Para cada resposta, identifique o grupo e o item. Apresente as suas respostas de forma leg?vel. Ao responder, diferencie corretamente as mai?sculas das min?sculas. Apresente apenas uma resposta para cada item. As cota??es dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Nos termos da lei em vigor, as provas de avalia??o externa s?o obras protegidas pelo C?digo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos. A sua divulga??o n?o suprime os direitos previstos na lei. Assim, ? proibida a utiliza??o destas provas, al?m do determinado na lei ou do permitido pelo IAVE, I.P., sendo expressamente vedada a sua explora??o comercial.

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Leia o poema.

GRUPO I

Sete anos de pastor Jacob servia Lab?o, pai de Raquel, serrana bela; mas n?o servia ao pai, servia a ela, e a ela s? por pr?mio pretendia.

5 Os dias, na esperan?a de um s? dia, passava, contentando-se com v?-la; por?m o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos 10 lhe fora assi negada a sua pastora,

como se a n?o tivera merecida,

come?a de servir outros sete anos, dizendo: ? Mais servira, se n?o fora para t?o longo amor t?o curta a vida.

Lu?s de Cam?es, Rimas, ed. ?lvaro J. da Costa Pimp?o, Coimbra, Almedina, 1994, p. 131.

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1. O tema central deste soneto ? a fidelidade amorosa. Justifique esta afirma??o, ilustrando a resposta com cita??es do poema.

2. Indique quatro das caracter?sticas que comp?em o retrato psicol?gico de Jacob. Fundamente a resposta em elementos do texto.

3. Explicite o sentido do quinto e do sexto versos: ?Os dias, na esperan?a de um s? dia, / passava, contentando-se com v?-la?.

4. Refira a import?ncia que a fala de Jacob assume no soneto, salientando dois aspetos que considere relevantes.

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GRUPO II

Leia o texto. Se necess?rio, consulte as notas.

Lembra-se muito bem de que era segunda-feira e era novembro, mas isso talvez fosse por causa das castanhas.

?Quem??, disse a ?ltima badalada ou a ?ltima palavra, longa e forte, a recusar desfazerse. Depois foi um grande sil?ncio cheio dos ru?dos caracter?sticos de todos os sil?ncios, uma 5 buzina ao longe, um ladrido, uma madeira que estalou de secura, uma tossezinha abafada, um segredo. Quem?

Tudo aquilo durou, deve ter durado, uma eternidade. Quando a pr?pria lembran?a da pergunta se esvaiu, as tosses e tamb?m o bichanar e o mover dos corpos levezinhos, nos bancos, foram sendo mais fortes. S? o c?o se calara. Fora com certeza dar um giro. 10 ?Ningu?m quer falar??, perguntou ent?o a professora, que era magra e usava uns ?culos redondos, muito espessos. ?Se ningu?m confessa tenho de passar revista ?s vossas pastas e aos vossos bolsos. Tu!?, exclamou de ponteiro em riste, ?vem c?. E antes de mais explica como ? a caneta. De que cor??

A mi?da sardenta subiu ao estrado e disse outra vez, na sua voz aflautada, que era uma 15 caneta muito bonita que o pai lhe tinha dado no dia dos anos. Preta, era preta e com um nome

em letras douradas. Que a tinha na pasta e que depois j? l? n?o estava e que... ?Muito bem, espera a?. Meninos! Tragam c? as vossas coisas. Um por um. Vamos come?ar

por ti.? Estojos abertos sobre a grande e velha secret?ria cheia de pingos de tinta ressequida,

20 pastas despejadas, bolsos voltados do avesso. Tesouros de cromos, de moedas, de caricas, dois espelhinhos, tr?s pentes, canivetes. Um, dez, vinte alunos regressaram aos seus lugares com o ar virtuoso e vitorioso da inoc?ncia publicamente reconhecida. Ao vig?simo primeiro a mi?da sardenta gritou: ?? esta! ? a minha caneta, ? a minha linda caneta!? E a professora olhou longamente a culpada, disse-lhe que n?o sa?sse depois da aula, tinham que ter uma

25 conversa as duas. E entregou o corpo do delito ? sua leg?tima e triunfante propriet?ria. Como o seu lugar era na ?ltima fila, a r? desceu a coxia central quase sem for?as nas

pernas. Todos a olhavam e riam dela e diziam coisas que mal percebeu porque estava envolta na pesada capa da sua ignom?nia. N?tida s? a palavra ladra que ningu?m pronunciara mas que nem por isso era menos forte. A professora disse ent?o: ?Sil?ncio, vamos terminar a aula, 30 ainda faltam dez minutos.?

Talvez nunca tivesse sofrido t?o intensamente, pensou mais tarde, em tempo de sofrimento adulto e compreens?es poss?veis. Porque tudo ? relativo ? e ela, naquele dia, tinha ombros estreitinhos, falta de palavras para se defender, e a firme convic??o de que ficaria para todo o sempre com uma marca na testa. E conseguiu pensar o menos poss?vel naqueles minutos, 35 nos que se lhes seguiram. De resto, sempre o fez t?o ? superf?cie, t?o de passagem, t?o de fugida para outros pensamentos, que acabou por n?o saber ao certo se teria mesmo roubado a caneta ou se algu?m a teria metido no seu bolso para a incriminar. Porque num engano ? raz?o que deu ? professora e a que se agarrou com unhas e dentes ? nunca acreditou muito.

A senhora condenou-a ent?o a pena suspensa. Que por aquela vez... Mas se repetisse... 40 Quando saiu da aula, a fazer-se pequenina, receava o pior. Risos, insultos, pancada, quem

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sabe. E ladra, dizia a voz. E ladra. Atravessou os risos e os segredos e deitou a correr pela rua fora, de aflita n?o pensava, logo n?o temia, j? n?o. A certa altura veiolhe um cheiro a castanhas assadas, e avistou, ao fundo da rua, o fumo branco, grosso e arom?tico que sa?a da assadeira. Procurou a moeda, sentou-se num degrau a comer, melhor, a devorar. Os problemas graves 45 sempre lhe abriram o apetite.

Maria Judite de Carvalho, ?Seta Despedida?, Seta Despedida, Mem Martins, Europa-Am?rica, 1995, pp. 14-17.

NOTAS em riste (linha 12) ? em posi??o erguida, como se atacasse. ignom?nia (linha 28) ? desonra; inf?mia.

1. Descreva os sucessivos momentos da interven??o da professora ao longo da a??o. 2. ?"Quem?", disse a ?ltima badalada ou a ?ltima palavra, longa e forte, a recusar desfazer-se.? (linha 3).

Refira a import?ncia da frase transcrita no contexto do epis?dio narrado. 3. Explicite a reflex?o ?ntima da ?r? sobre a sua pr?pria culpabilidade. 4. Analise o valor simb?lico que, no texto, ? atribu?do ?s castanhas assadas.

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