MATERIAL DIDÁTICO



Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE- SEED

IES: Universidade Federal do Paraná

Material Didático para o professor: Elementos para uma metodologia para trabalhar com música no ensino de História em EJA na perspectiva da Educação Histórica

Orientadora: Dra. Maria Auxiliadora Schmidt

Autoras: Berenice Schelbauer do Prado

Justificativa: para o público alvo, para a escolha do material e para a metodologia adotada.

De acordo com a resolução do Conselho Estadual de Educação a idade minima para se iniciar o Ensino Médio na modalidade EJA são 18 anos. A maioria do publico da EJA estão inseridos no mundo do trabalho e exercem seus direitos e deveres como todo cidadão, mesmo sem muitas vezes entender esse conceito. Muitos desses sujeitos são migrantes e passaram sua infância em regiões do interior do Estado ou do Brasil, sendo que a música caipira muitas vezes fez parte de seu cotidiano. Ao ouvirem essas canções é provável que os educandos consigam estabelecer uma relação passado/presente e identificá-las como significativas para eles. Essa empatia que os adultos que possuem uma escolarização tardia, têm com a música caipira, inserem-se no campo da Educação Histórica[1], uma vez que os educandos da EJA, podem estabelecer idéias históricas com ela ao apropriarem-se dos conceitos de segunda ordem, como evidência, explicação e empatia histórica (Lee, 2001). Portanto, a utilização de canções para os alunos de EJA, a partir do seu uso como fonte nas aulas de História, poderá contribuir para a superação do sequestro da cognição histórica[2] desses sujeitos e consequentemente da educação bancária[3]. Esta proposta de material didático vem de encontro também ao proposto no texto Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica, da Educação Pública do Estado do Paraná que: “as imagens, livros, jornais, histórias em quadrinhos, fotografias, pinturas, gravuras, museus, filmes, músicas são documentos que podem ser transformados

em materiais didáticos de grande valia na constituição do conhecimento histórico”

(PARANÁ, 2006, p. 52).

Outro fator que justifica, a escolha desse tipo de canção para subidiar a prática docente é o fato de ser um gênero excluído dos livros didáticos de História (CHAVES, 2005).

Para tentar dar conta dessas demandas propõe-se elaborar um material didático que possa subsidiar os educadores na sua prática docente. Dessa forma, a metodologia que será utilizada para trabalhar com música nas aulas de EJA terá como base a unidade temática investigativa a partir do conceito de aula oficina desenvolvido pela pesquisadora Isabel Barca, onde são considerados os conhecimentos prévios dos educandos e o papel do educador como um investigador social que busca compreender e transformar as idéias históricas de seus educandos.(SCHMIDT E GARCIA, 2006:22).

Ao planejar as suas aulas caberá ao educador da EJA problematizar, a partir dos conhecimentos prévios dos alunos o conteúdo que se propõe a tratar, a produção do conhecimento histórico, considerando que a apropriação dos conceitos pelo educandos é processual. Desta forma, o educando da EJA, será sempre agente do seu próprio conhecimento, superando assim a “cultura do silêncio” e desenvolvendo a “pedagogia do diálogo” (FREIRE, 1987) e da consciência critico - genética.

Objetivos:

1º - Proporcionar aos educadores de EJA o uso de diferentes fontes e linguagens no ensino de História na perpespectiva da Educação Histórica, no caso especifico desse material didático, a utilização da musica caipira.

2º - Contribuir para que o processo ensino-aprendizagem se transforme em uma atividade de investigação e produção de conhecimentos por parte de educandos e educadores.

3º - Disponibilizar para os educadores os passos metodológicos para se trabalhar com a Unidade Temática Investigativa na tentativa de superar a forma de conhecimento tópico.

4º - Acompanhar o trabalho dos professores (professor PDE e GTR), na aplicação do material didático em escola de EJA, registrar o desenvolvimento das aulas, bem como acompanhar os resultados e registrar toda experiência, para na sequência, a partir de um relatório disponibilizar para a rede estadual de ensino.

- Linguagens utilizadas: oral, audiovisual e escrita.

DESENVOLVIMENTO

A música caipira como documento histórico em aulas de EJA.

De acordo com (CHAVES, 2006 p. 165) as letras das canções podem sem entendidas como elementos históricos contextualizados, sendo para isso necessário pensar quais as formas mais adequadas de se incorporar a música nas aulas de História. O autor defende a possibilidade de trabalho com a música caipira em sala de aula “como forma de contribuir para o entendimento de vários temas históricos, como recurso para ler e compreender historicamente o passado e como forma de valorização e respeito às diferentes culturas que compõem a cultura brasileira”.

Entre as possibilidades que a música caipira oferece como recurso pedagógico, apresentadas pelo autor estão:

- seu uso como fonte a partir da qual os alunos podem se aproximar das formas como diferentes grupos sociais produzem realidades sociais diversas;

- corrigir idéias preconceituosas que acabaram por se tornar cânones ao longo da História.

Portanto, a música caipira que representa o homem do campo falando de seu cotidiano de sua relação com a cidade e que vem carregada de metáforas e simbologias, é uma importante fonte documental para abordar as temáticas como trabalho, identidade camponesa, cidadania, preconceito, literatura, amor, natureza e relações de poder etc. em aulas de EJA.

Os dois textos a seguir servirão de subsídios para que você professor, possa desenvolver o trabalho em suas aulas.

|CULTURA CAIPIRA |

| |

|A formação da cultura caipira está relacionada aos processos de ocupação do território brasileiro, no movimento que avançava para o |

|interior e explicitava o surgimento da “fronteira” entre dois mundos, o “civilizado” e o “atrasado” – este representado pelo nativo – ao |

|mesmo tempo em que favorecia a sua mistura, da qual nasceria a cultura caipira (CÂNDIDO, 2001, p. 45). |

|É preciso ainda destacar que essa cultura foi marcada por significados negativos, relacionados às idéias de homem atrasado, de ausência |

|de uma cultura clássica, do sertão como espaço de ausência, de vazio. A cultura caipira foi então, ao longo dos séculos, considerada |

|como uma cultura rústica, sem valor social. |

|Nascida nesse contexto, a música caipira possui algumas características de contestação, exaltação e de sátira em relação à ordem política|

|estabelecida. Essa música também foi e é reveladora dos problemas enfrentados por |

|milhares de brasileiros que sofreram com o êxodo rural e seu estabelecimento fora de seu ambiente cultural – a zona urbana -e que fez o |

|homem do campo, ao longo dos anos, ver sua primeira identidade se perder, como argumenta José Roberto Zan: |

| |

|As migrações internas e o êxodo rural, impulsionados pela modernização econômica, faziam com que levas crescentes de populações oriundas |

|de áreas ainda caracterizadas por formas tradicionais de sociabilidade afluíssem para os centros urbanos mais industrializados. Em |

|função do caráter excludente da industrialização brasileira, uma parcela significativa dos migrantes permanecia à margem do mercado de |

|trabalho regular das grandes cidades. Relegados à condição de ‘excluídos’, esses indivíduos não completavam seus processos de |

|re-socialização, continuavam cultivando elementos culturais de sua primeira socialização, ou seja, da “cultura rústica[4] (1995, p. 9). |

| |

|Esse gênero é visto muitas vezes como simplório e desprovido de conhecimento científico, tornando-se alvo, ao longo dos anos, de |

|críticas e de desprestigiamento em diferentes grupos sociais. Assim, pode-se supor que também no espaço escolar haja uma maior aceitação,|

|como cultura musical, de canções privilegiadas pela indústria cultural, na perspectiva defendida por Adorno (1975), implicando a |

|rejeição de outros gêneros, inclusive da música caipira. |

|Ouvir músicas que retratam temas como a mulher, a República, o malandro, o regenerado, a cidade, o campo, é fato inerente ao cotidiano de|

|muitas pessoas, mas essa audição em geral tem finalidade em si mesma, pois não é comum uma reflexão sobre o tema que está em questão |

|nas canções. No entanto, sabe-se da importância da música dentro da sociedade, sobretudo das canções que tratam de temáticas |

|fundamentais que ajudam a construir argumentos ou sentimentos sobre a forma como viveu ou vive um povo. |

|As canções podem vir carregadas de materiais simbólicos que auxiliam na compreensão de uma dada realidade uma vez que permitem a |

|construção de novas leituras. Uma canção pode auxiliar os ouvintes mais atentos a se situar dentro de um contexto histórico, |

|construindo novos significados. |

|Na perspectiva do historiador Jacques Le Goff (1996, p. 109), “Devemos fazer o inventário dos arquivos do silêncio, e fazer a história a |

|partir de documentos e das ausências de documentos”. Do ponto de vista do ensino de História, a música pode servir como veículo de |

|interpretação de um tempo, criando argumentos que ajudam a “desvendar” novas imagens sobre o povo brasileiro, sua vida, sua cultura. |

|Adaptado de: CHAVES, Edilson Aparecido. A Música Caipira em aulas de História: |

|Questões e Possibilidades. Dissertação de Mestrado. UFPR 2005. |

| |

|MÚSICA CAIPIRA E MÚSICA SERTANEJA: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS |

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|Para se compreender a música caipira, como elemento da cultura nacional, é preciso relembrar que na década de 1920, surgem no Brasil |

|estudos de resgate dessa cultura, denominada popular, e novas discussões são travadas na direção de se opor passado e presente, a |

|música passando a ser entendida como uma das formas de resgate do passado. Foi a partir dessa década que surgiram as primeiras canções |

|caipiras gravadas em disco como a célebre “Tristezas do Jeca”, composta por Angelino de Oliveira em 1918 e gravada em 1923. Mas será |

|com Cornélio Pires e seus companheiros que esse gênero musical entrará na indústria cultural. |

|Grandes mudanças passam a ocorrer na composição das letras; as temáticas que antes tratavam de ritos religiosos, canções de trabalho, |

|ciclos da lavoura, passam agora a tratar do amor, da nostalgia (canções de exílio). Como afirma José de Souza Martins “... é o esforço|

|que o agente faz para reconstituir seu universo simbólico no próprio |

|contexto urbano, apropriando-se positivamente de determinadas mensagens culturais que, embora produzidas na cidade, recorrem a modos |

|rústicos de estruturação da experiência” (MARTINS, 1974, p. 34). |

|Essa cultura rústica é levada ao homem urbano através dos programas de rádio das grandes cidades, influenciando compositores urbanos |

|como Noel Rosa (Festa no Céu, Minha Viola, Mardade Cabocla) Ary Barroso (Rancho fundo) e Lamartine Babo (Serra da Boa Esperança), que |

|só mais tarde se tornariam sambistas. |

|Mas, se o homem do campo migrou para a cidade, a que classe passa a pertencer? Dada a grande migração gerada a partir de 1950, conhecido|

|como período desenvolvimentista, esses homens passam a fazer parte dos segmentos da classe operária, entretanto sem esquecer o |

|passado, como relata a narrativa da canção a seguir: |

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|[pic] |

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|Verifica-se, portanto um reajuste da cultura rural frente à urbana, na qual a primeira obrigatoriamente passa a aceitar as condições |

|impostas pela segunda. Mas o caipira jamais esqueceria sua origem e, um dos instrumentos utilizados para tal fim foi a música. |

|Carregada de uma identidade própria, a música caipira enquanto linguagem traz uma proposta de conhecimento de uma cultura que ao longo |

|da história foi sendo definida como uma “subcultura”. No entanto, essa linguagem pode ser utilizada como formadora de um novo conceito|

|a respeito da cultura caipira e do caipira, sendo capaz destruir alguns mitos de que esta cultura pertença a uma “subcultura” da |

|cultura brasileira. |

|No sentido de se caminhar na direção desse novo conceito, uma primeira questão deve ser discutida: e que diz respeito às distinções |

|entre a música caipira e a música sertaneja: a primeira foi produzida dentro de um contexto verdadeiramente rural e o texto da canção |

|é fortemente marcado por assuntos desse cotidiano. |

|No discurso dos cantadores caipiras está sempre presente uma mensagem que os identifica enquanto comunidade, o que torna difícil para |

|quem não pertence a seu universo entender sua mensagem, nos versos que dizem respeito a fatos ocorridos num determinado local, e |

|relacionados à natureza, às estações do ano, ao gado, à chuva, às aves ou às festas, exaltando a amizade entre os companheiros, |

|serenatas para os futuros noivos, entre outros temas. |

|Um outro aspecto importante e que diferencia a música caipira da sertaneja é que a primeira é sempre companhada de coreografia, como o|

|fandango, cururu, cateretê, cana-verde, dança de São Gonçalo etc. |

|Outra referência à música caipira, e esta, talvez, seja um elemento comum com a música sertaneja é sua área geográfica, que compreende |

|regiões em que houve a influência da cultura caipira: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Paraná (MARTINS, 1979, p. 104). |

|A música sertaneja é vista como uma versão profana da música caipira, como argumenta Waldenyr Caldas: |

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|O discurso que se verifica na canção sertaneja é essencialmente profano, o que não ocorre frequentemente na caipira. O texto da canção |

|sertaneja, embora aborde também o cotidiano (falando sempre da problemática amorosa), o faz de forma particularizante, prendendo-se |

|somente à ‘expressão de motivações e nas experiências |

|individuais’, sua poesia não adquire participação no universo (CALDAS, 1977, p. 82). |

| |

|Vista dessa forma a música sertaneja apresenta algumas características que a identificam, como a influência da indústria cultural, que |

|ao se apropriar das músicas, compositores e intérpretes passam a vender sua força de trabalho ao mercado e estes têm que se submeter ao|

|poder das grandes gravadoras que passam a ditar as regras e temas, influenciando inclusive no discurso das composições. |

|A área geográfica da música sertaneja compreende a mesma área da música caipira, o que permite afirmar que também o caipira se |

|apropriou desse “novo” gênero. |

|Mas se a música caipira na sua origem, em meados da década de 1920, tinha como principal tema o discurso rural, na música sertaneja isso|

|é transplantado para o meio urbano e, segundo Waldenyr Caldas, passa a haver, a partir da década de 1960, uma dimensão geográfica |

|maior de sua propagação: “Dessa forma, vamos ver que a urbanização da música sertaneja é, antes de tudo, um fenômeno sociológico de |

|grande importância, que ocorre não apenas no meio urbano, mas que atinge toda a cultura das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do |

|Brasil” (CALDAS, 1977, p. 12). |

|A música caipira, se analisada com o respeito que merece e como produto cultural localizado em seu contexto histórico, pode ser um |

|valioso instrumento para o ensino, porque apresenta um caráter narrativo das dificuldades do homem rural na cidade grande, bem como a |

|negação dos valores urbanos frente aos do sertão. |

|Adaptado de: CHAVES, Edilson Aparecido. A Música Caipira em aulas de História: |

|Questões e Possibilidades. Dissertação de Mestrado. UFPR 2005. |

Assim, a produção cultural, que ocorre e se expressa por meio de uma linguagem alternativa como a canção, transforma-se em evidência a partir do registro, tratado como documento histórico (que deve ser interrogado) e contribui para o desenvolvimento de conceitos históricos e para a formação histórica dos educandos, superando a compreensão de que ele serve apenas como ilustração da narrativa histórica e de seu discurso. ((SCHMIDT e CAINELLI, 2004, p. 90)

Para as autoras o trabalho com fontes escritas em sala de aula exige do educador que ele amplie sua concepção de uso do próprio documento. Sua utilização deve ocorrer como fonte de informação e sempre comparado com outros documentos, desenvolvendo noções de semelhanças e diferenças, mudanças e permanências, localizações temporais e espaciais, construção de conceitos e enunciados históricos.

Nessa perspectiva, “os documentos não serão tratados como fim em si mesmos, mas deverão responder às indagações e às problematizações de alunos e professores, com o objetivo de estabelecer um diálogo com o passado e o presente, tendo como referência o conteúdo histórico a ser ensinado.”

Assim, ao se utilizar a música caipira como fonte documental em sala de aula, todos esses cuidados devem ter tomados. A intenção de acordo com as autoras não é transformar os educandos em historiadores nem substituir a intervenção do educador, mas interrogar o documento passando por várias fases como: explicar o assunto ou tema; relacionar o tema do documento com o momento histórico; identificar as finalidades e ou intenções do documento e ou autor; analisar as opiniões e ou argumentações propostas no documento; deve estabelecer relações com outros documentos ou informações; deve também explicar o vocabulário; decompor o texto; organizar o documento em esquema ou síntese; elaborar um quadro comparativo; produzir considerações históricas e pessoais.

De acordo com (BITTENCOURT, 2000) a música como documento histórico, possui uma linguagem específica, associando vários componentes e diferentes sujeitos, a saber: autor, intérprete, músicos, gravadores, produtores e técnicos, além de consumidores. Em geral, no ensino de História, costuma-se analisar a letra separada da música e autor, sem o contexto social em que produziu a obra.

Nesse sentido no ensino de História na EJA a utilização predominantemente mecanicista de canções, como estratégias de aula, como vem sendo utilizada, apresenta riscos que comprometem o processo de construção do conhecimento, pois restringe a capacidade dos educandos de lidar criticamente com a informação, além de não propiciar a transformação das informações em conhecimentos históricos

Portanto, pensar uma metodologia para a utilização da música em aulas de EJA, significa estabelecer uma discussão crítica sobre procedimentos, escolhas e questionamentos a serem desenvolvidos pelos educadores. Não é simplesmente escolher uma canção e levar aos educandos. Antes disso faz-se obrigatório conhecer os conhecimentos prévios dos educandos, motivos e realidades históricas da canção, evitando assim equívocos que podem desviar o objetivo pretendido pelo professor pesquisador e, fatalmente, erros que farão tanto do educando quanto do educador sujeitos desconectados com o próprio objeto de estudo.

PLANO DE TRABALHO DOCENTE

ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

Para que você educador possa desenvolver seu trabalho serão utilizados para o desenvolvimento do tema, elementos da Educação Histórica a partir da Unidade Temática Investigativa como:

1 - investigação dos conhecimentos prévios dos educandos;

2 - utilização de documentos/letra de música como evidência;

3 - pesquisa empírica dos saberes;

4 - textos históricos com argumentação.

5 - relações de temporalidade;

6 – produção de narrativa

7 – meta-cognição.

Sugestões para o Plano de Trabalho Docente

Conteúdo Estruturante: Relações Culturais

Temática a ser trabalhada: Urbanização e Industriliazação na Sociedade Contemporânea. Conteúdo Histórico A explosão urbana. Capítulo 7 – Livro Didático Público.

Objetivos da Unidade Temática Investigativa

1º - Identificar a música caipira como fonte de conhecimento do modo de vida de um grupo social em determinado tempo histórico;

2º - Explorar os conhecimentos prévios dos educandos sobre o Mundo do Trabalho presente na canção .

3º - Estabelecer níveis de progressão das ideias dos educandos.

4º - Descrever a consciência histórica que os educandos revelam do que aprenderam.

Instrumentos de Investigação:

1. Chuva de Idéias;

2. Questionário;

3. Fichas de trabalho com fontes escritas e auditivas;

4. Ficha de Trabalho: Exploração e análise das fontes;

5. Ficha de meta-cognição

FORMAS DE ABORDAGEM:

*Realizar um levantamento dos conhecimentos prévios dos educandos sobre a definição de caipira antes que eles ouçam a cançao e analisem sua letra. Esse levantamento poderá ser feito utilizando a chuva de idéias como instrumento de investigação.

Ex: Instrumento 1.

[pic]

*Identificar as ideias de caipira e analisar o seu nível de elaboração.

Para investigar os conhecimentos prévios referentes à música caipira que possibilitará uma melhor qualidade na sua intervenção peça aos educandos que respondam questões por escrito:

Ex: Instrumento 2.

• Você possuía o hábito de ouvir músicas na sua infância? Se verdadeiro que tipo de canção?

• Você acredita ser importante conhecer, músicas, que seus pais aprenderam com seus antepassados? Por quê?

• Você conhece alguma música, que seus pais ou pessoas que você convive aprenderam com seus antepassados? Se verdadeiro, qual?

• Sua família tinha o hábito de ouvir música caipira?

• Em sua opinião é possível conhecer a História a partir de letras de canções? Justifique.

Após análise e categorização das respostas pelos educandos, comunique ao grupo a diversidade de respostas. É importante que você os situe no contexto da música caipira.

Explique para seus educandos que por meio da música, muitas pessoas têm expressado o que elas pensam e sentem.

Uma possibilidade é você trabalhar o conceito de Cultura a partir do exemplo abaixo.

Conceito de Cultura:

De acordo com alguns autores como Stuart Mill, Roque de Barros Laraya, Raymond William:s

Cultura é o modo de viver das pessoas. É o conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes que distinguem um grupo social. Modifica-se no decorrer do tempo e indica o modo de vida de um povo.

Destaque que a música como documento, poderá servir para analisar aspectos da vida do passado das sociedades.

Ex: Instrumento 3

Esta música foi divulgada na segunda metade da década de 1960 e, portanto, tem a sua referência histórica delimitada pela política desenvolvimentista dessa época.

1. Tocar a música em sala, para sensibilização dos educandos quanto à letra e a melodia. Fazer uma primeira discussão, levantando as impressões dos educandos sobre os documentos e as primeiras relações com o contexto brasileiro do anos de 1960. (Você poderá escolher outras temáticas e outra canção se quiser).

Como exemplo para se trabalhar a música caipira como fonte documental citamos a canção Saudades da Minha Terra.

Documento 1

|De que me adianta viver na cidade |Por nossa senhora, meu sertão |Que saudade imensa do campo e |Pra minha mãezinha já telegrafei |

|Se a felicidade não me acompanhar |querido |do mato |E já me cansei de tanto sofrer |

|Adeus, paulistinha do meu coração |Vivo arrependido por ter te deixado|Do manso regato que corta |Nesta madrugada estarei de |

|Lá pro meu sertão quero voltar |Esta nova vida aqui na cidade |as campinas |partida |

|Ver a madrugada, quando a passarada|De tanta saudade, eu tenho chorado |Aos domingos ia passear de |Pra terra querida, que me viu |

|Fazendo alvorada começa a cantar |Aqui tem alguém, diz que me quer |canoa |nascer |

|Com satisfação arreio o burrão |bem |Nas lindas lagoas de águas |Já ouço sonhando o galo cantando |

|Cortando o estradão saio a galopar |Mas não me convém, eu tenho pensado|cristalinas |O inhambu piando no escurecer |

|E vou escutando o gado berrando |Eu fico com pena, mas essa morena |Que doce lembrança daquelas |A lua prateada clareando a |

|Sabiá cantando no jequitibá |Não sabe o sistema que eu fui |festanças |estrada |

| |criado |Onde tinham danças e lindas |A relva molhada desde o anoitecer|

| |Tô aqui cantando, de longe |meninas |Eu preciso ir pra ver tudo ali |

| |escutando |Eu vivo hoje em dia sem ter |Foi lá que nasci, lá quero morrer|

| |Alguém está chorando com o rádio |alegria | |

| |ligado |O mundo judia, mas também | |

| | |ensina | |

| | |Estou contrariado, mas não | |

| | |derrotado | |

| | |Eu sou bem guiado pelas mãos | |

| | |divinas | |

Saudades da Minha Terra – 1966 Autores: Belmonte e Goiá. Intérpretes: Belmonte e Amaraí

GOIÁ (GERSON COUTINHO DA SILVA) 1935-1981

 

BELMONTE (PASCOAL ZANETTI TODARELLI) 1937-1972

Trabalhando com o documento:

|Nome da canção | |

|Autor | |

|Intérprete | |

|Data que foi produzida | |

|Meio de divulgação | |

|Como o documento | |

|apresenta a realidade? | |

|Palavras chaves | |

|Palavras desconhecidas | |

|Qual a intenção do autor? | |

2. Reunir os educandos em equipes para realização das atividades que você irá propor.

Sugestões:

a) Após a leitura das músicas, procure registrar como o compositor representou a sua maneira de pensar a vida no meio urbano.

b) A canção é significativa para a compreensão do imaginário da época.

c) Reúna-se com seus companheiros e tentem produzir a letra e a melodia de uma música

caipira sobre as vantagens ou desvantagens de se viver no campo, na realidade em que

você vive.

Documento 2

| |

|Os sertões deixaram de existir em várias regiões, desaparecendo do oeste paulista, do norte do Paraná e de outras áreas, juntamente com |

|a destruição de grandes extensões de matas nativas. A geração que viveu a transformação dos sertões em pequenas cidades está em vias de|

|desaparecer. Alguns restos dessa memória passarão para nós, cada vez mais desencarnados, mas não menos visíveis como, por exemplo, nos |

|nomes de colégios, nas coleções dos museus, no quarteirão do fundador. No entanto, a lembrança das pequenas cidades, dos campos arados, |

|das plantações, dos subúrbios cultivados, da paisagem reinventada pelos homens, pode se extinguir. |

|ARRUDA, Gilmar. Cidades e Sertões. Bauru: Edusc, 2000. |

a) Identifique as semelhanças e diferenças entre os dois documentos.

Quanto a:

1) Relação Passado – Presente.

2) Narrativa.

| |DOCUMENTO 1 |DOCUMENTO 2 |

|SEMELHANÇAS | | |

|DIFERENÇAS | | |

b) De que forma, a partir da analise dos dois documentos, você poderia sistematizar uma idéia do viver no sertão nos anos de 1966.

c) Observe a frase destacada no texto: restos de memória cada vez mais desencarnados, mas não menos visíveis. Que memórias de sua infância você considera que hoje estão “cada vez mais desencarnadas, mas não menos visíveis?

Documento 3

Fonte: Censo Demográfico 1980, 1991 e 2000 e Contagem da População 1996

Brasil_em_sintese/default.htm Em 05/10/2005. in: Livro Didático Público

1. As relações do mundo do trabalho no campo tornaram-se mais excludentes, empurrando o trabalhador para os centros urbanos conforme os indicadores constantes no documento 3.

a) A cidade atrai o homem do campo? Explique sua resposta.

b) Você ja teve alguma experiência semelhante, ou conhece alguém que migrou do campo e deixou a cidade? Explique sua resposta

c) Você conhece alguém que fez o caminho inverso como aparece no documento 1, voltou para o campo e deixou a cidade? Explique sua resposta.

d) Quais as semelhanças e diferenças entre o documento 2 e o documento 3?

e) De acordo com as informações constantes nos documentos 3 e 1 podemos pensar uma canção para o tempo presente com os seguintes versos:

De que me adianta viver no sertão se fartura não posso encontrar, a seca tamanha e a falta de água fazem com que meu gado não possa engordar, a cidade grande tem tudo que eu quero e é pra lá que quero mudar. Justifique sua resposta.

MOMENTO FINAL:

Para investigar as mudanças que ocorreram nas idéias históricas dos educandos peça que eles respondam individualmente, as seguintes questões:

1. Você percebe em sua comunidade pessoas ouvindo música caipira?

2. Você tem o costume de ouvir esse gênero musical? Justifique.

3. Nas canções que você costuma ouvir, que temáticas são abordadas?

4. Esse trabalho contribuiu para você entender melhor as contradições do meio urbano e rural? Justifique sua resposta.

Após análise e categorização das respostas dos educando você professor, elabore

uma nova discussão para permitir que estes reflitam nas mudanças que ocorreram

em suas idéias históricas e avaliar como se eles se apropriaram ou não o conhecimento.

Se necessário retome a discussão.

Categorização dos conhecimentos prévios:

As categorias das ideias podem ser definidas por niveis conceituais e dentro de cada nível os conceitos evidenciados pelos educandos.

Ex:

Nível 1 - Não conseguiu expressar um conceito.

Nível 2 - Expressou um conceito dentro do senso comum.

Nível 3 - Tentou construir um conceito.

Nível 4 - Elaborou e contextualizou um conceito histórico.

Questões de meta-cognição

1. O que você aprendeu de novo sobre a urbanização na sociedade contemporãnea?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. O que é que você já sabia sobre a relação campo cidade?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. O que você gostaria de saber mais sobre esse tema?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Que dificuldades você sentiu?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Gostou da experiência do trabalho com música? Justifique sua resposta.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

REFERÊNCIAS:

ARRUDA, Gilmar. Cidades e Sertões. Bauru: Edusc, 2000.

BARCA, Isabel. Educação Histórica, cidadania e inclusão social. In: SCHMIDT, Maria A. e STOLTZ, Tânia (orgs.). Educação, cidadania e inclusão social. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2006.

______________Aula Oficina: do projecto à avaliação. In: Para uma educação histórica de qualidade. Actas das IV Jornadas Internacionais de Educação Histórica. Braga (PT): Ed. Universidade do Minho, 2004. p. 131-144.

______________O pensamento histórico dos jovens: idéias dos adolescentes acerca da provisoriedade da explicação histórica. Braga: Universidade do Minho, 2000.

CHAVEZ. Edilson. Música Caipira em Aulas de História: Questões E Possibilidades. Dissertação de Mestrado. UFPR 2005. disponível em educacao.ufpr.br.

FERREIRA. Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo. Contexto. 2002.

FONSECA, Thais Nivia de Lima e. História e ensino de história. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artmed, 1993.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

NAPOLITANO, Marcos. História e Música: história cultural da música popular. Belo Horizonte. Autêntica, 2002.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004.

SCHMIDT, M. A.; GARCIA, T. M. B. Pesquisas em Educação Histórica: Educar em Revista. 2006.

SEVERIANO. Jairo e MELLO Zuza Homem de. A Canção no Tempo (Volume 1 - 1901-1957)  -  85 Anos de Músicas Brasileiras. Editora 34, Brasil, 1997.

SEVERIANO. Jairo e MELLO Zuza Homem de. A Canção no Tempo (Volume 2 - 1958-1985)   -   85 Anos de Músicas Brasileiras. Editora 34, Brasil, 1997.

TINHORÃO, J. R. História social da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998. 365 p.

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[1] De acordo com (SCHMIDT E GARCIA, 2006: 23), “esta linha de investigação tem seus fundamentos pautados em indagações como as que buscam entender que sentidos os jovens, as crianças e os professores atribuem a determinados conteúdos históricos como revolução francesa, renascimento e reforma protestante, chamados de “conceitos substantivos”, e/ou os “conceitos de segunda ordem”, tais como narrativa, explicação ou evidência histórica. (LEE, 2001; BARCA, 2005), e as ações deles decorrentes, apreendidos e conceituados em e a partir de contextos concretos de ensino, bem como articulados aos modos de educar de cada época e sociedade.”

[2] Termo utilizado pelas pesquisadoras (SCHMIDT E GARCIA, 2007: 64-65), para exemplificar que determinadas epistemologias da História como a epistemologia racionalista, impõe uma única forma de interpretação do passado e não admite uma ciência histórica de natureza multiperspectivada.

[3] Um dos principais problemas, verificados nos debates em torno do ensino de História em aulas de EJA é a prática da educação bancária, conceito criado e criticado por Paulo Freire na sua obra Pedagogia do Oprimido escrita durante seu exílio no Chile nos anos 1967-1969 e publicado no Brasil em 1975. A Educação bancária caracteriza-se como mera transmissão passiva de conteúdos onde o educador é aquele tudo sabe, e o educando, aquele que nada sabe, tratado como uma tábula rasa, desprovido de qualquer saber. O papel do educador é o de depositar conteúdos nas cabeças vazias dos educandos , como alguém deposita dinheiro num banco.

[4] O termo é emprestado de Antonio Candido que esclarece: “O termo rústico é empregado não como equivalente de rural, ou de rude, tosco, embora os englobe. Rural exprime um tipo social e cultural, indicando o que é no Brasil, o universo das culturas tradicionais do homem do campo; as que resultaram do ajustamento do colonizador português português ao Novo Mundo, seja por transferência e modificação dos traços da cultura original, seja em virtude do contacto com o aborígene” (CANDIDO, 2001, p. 26).

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CAIPIRA

|“É só eu pega na viola, me vem a|“Eu tinha vaca de leite |“Depois tudo se acabô. |“Hoje eu me vejo em |

|recordação: |e porco no chiqueirão. |Tive um grande prejuizão. |São Paulo, |

|o tempo do meu sitinho, |Tinha dois burro no pasto |Viero os gafanhoto, |nessa rica povoação, |

|que tudo era bom, ai... |E lindo potro lazão, ai... |me dexaro eu na mão, ai... |trabaiando de operário |

|que tudo era bom. |E lindo potro lazão. |me dexaro eu na mão. |sendo que já fui patrão, ai... |

|(...) |(...) | |sendo que já fui patrão.” |

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