Sequência de atividades: Capitães da areia 1 de Jorge

[Pages:13]Sequ?ncia de atividades: Capit?es da areia,1 de Jorge Amado, e filme hom?nimo, de Cec?lia Amado

Norma S. Goldstein2

A primeira meta ? que os alunos leiam, analisem e interpretem o livro todo. O ideal -- raramente poss?vel -- seria fazer isso em classe. A alternativa ? criar estrat?gias para ler trechos na sala de aula e motiv?-los a completar a leitura fora da escola. O segundo objetivo visa ao filme hom?nimo, de Cec?lia Amado: os estudantes devem assistir a ele e depois comparar filme e livro, observando semelhan?as e diferen?as.

Esta sequ?ncia de atividades destina-se a alunos do ensino m?dio. Eventualmente, a crit?rio da escola e do professor, tamb?m aos do nono ano. Cabe a colabora??o de professores de outras disciplinas, se houver condi??es na escola: o de arte, para a an?lise da linguagem cinematogr?fica; os de geografia e hist?ria, para trabalhar o contexto de ?poca e o cen?rio local; o de ci?ncias, com informa??es sobre a doen?a respons?vel pela orfandade da protagonista Dora, a var?ola (felizmente j? erradicada em nosso pa?s), e apresenta??o de formas de prevenir doen?as contagiosas; o de educa??o f?sica, para explicar as regras da capoeira que os capit?es praticam. Se houver, na grade, uma disciplina voltada ? m?sica, tanto se pode tratar de algumas letras de Jorge Amado para can??es de Caymmi -- como "? doce morrer no mar" -- quanto das can??es que comp?em a trilha sonora do filme, uma delas transcrita no final deste texto.

As atividades sugeridas ao professor de portugu?s se voltam sobretudo para o desenvolvimento da compet?ncia em leitura, buscando levar os alunos a reconhecer e classificar informa??es, identificar opini?es convergentes e divergentes, reconhecer inten??es de personagens, perceber a presen?a (ou omiss?o) do narrador, para que possam compreender pontos de vista abrangentes e ter elementos para formar sua pr?pria opini?o.

A proposta parte de uma abordagem pr?via do tema central das duas obras. Depois, s?o sugeridas quest?es que orientam a an?lise de excertos do livro, observando organiza??o, lingua-

1. Amado, Jorge. Capit?es da areia, S?o Paulo, Companhia das Letras, 2009. 2. Professora da p?s-gradua??o em filologia e l?ngua portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ci?ncias Humanas

da Universidade de S?o Paulo.

2 Norma S. Goldstein

gem, desenvolvimento da a??o, cen?rio, contexto social e personagens. Sugere-se que o trabalho seja feito em grupo e que se dediquem duas aulas -- ou aula dupla -- a cada atividade. O conjunto seria desenvolvido em um bimestre, simultaneamente a outros trabalhos programados.

atividade pr?via: apresenta??o do tema

Ao se propor aos alunos a leitura de Capit?es da areia, de Jorge Amado, diversos encaminhamentos seriam poss?veis. Esta sequ?ncia sugere como ponto de partida um di?logo com a classe sobre a atualidade do tema predominante -- menores abandonados -- por meio de duas atividades: leitura do trecho inicial do livro e paralelo com a realidade presente, para avaliar a atualidade do tema.

Leitura do trecho inicial do livro

"Crian?as ladronas" (pp. 9-12) relata assaltos a resid?ncias pelos "capit?es da areia". Retomar esse trecho -- que teria sido lido como tarefa de casa --, comentar e verificar a compreens?o. Em seguida, reler t?tulo, subt?tulo e primeiro par?grafo; analisar emprego dos adjetivos, verificando se indicam caracter?sticas positivas ou negativas:

? sobre os garotos: "crian?as ladronas"; "aventuras sinistras"; "cidade infestada por crian?as que vivem do furto"; "grupo de meninos assaltantes e ladr?es; "essas crian?as se dedicaram ? tenebrosa carreira do crime";

? sobre a sociedade baiana: "nosso jornal que ? sem d?vida o ?rg?o das mais leg?timas aspira??es da popula??o baiana"; "uma imediata provid?ncia do juiz de menores e do dr. Chefe de pol?cia".

Comparando o modo como o jornal apresenta os menores infratores e a "sociedade baiana", o que se conclui da posi??o do jornal?

Compara??o entre fic??o e realidade

Quest?es para orientar a discuss?o:

a) H? menores abandonados, hoje, em nossas cidades? b) Em qual situa??o? c) Devem ser considerados marginais? Ou seriam v?timas? d) Quantos anos se passaram da data da publica??o do livro at? hoje? e) Por que essa situa??o perdura h? tanto tempo? A que pessoas ou institui??es caberia

a responsabilidade?

Os debates apontar?o muitas ideias. ? importante dar a todos os alunos a oportunidade de expor seu ponto de vista e lev?-los a perceber as causas sociais do problema, enfatizando que se trata de jovens com idade pr?xima ? deles que, em vez de estar na sala de aula, se encontram em situa??o de rua.

Sequ?ncia de atividades: Capit?es da areia 3

atividade 1

Contexto social 1

1. Ap?s publica??o da reportagem "Crian?as ladronas", comentada na atividade anterior, foram enviadas cartas ao Jornal da Tarde pelas seguintes pessoas: secret?rio do chefe de Pol?cia (p. 13); juiz de menores (pp. 14-5); uma m?e costureira (pp. 16-7); padre Jos? Pedro (p. 18); diretor do reformat?rio (pp. 19-20). Por ?ltimo, h? os subt?tulos de outra reportagem, publicada ap?s a visita ao reformat?rio (p. 21). Pedir aos alunos que leiam essas p?ginas como tarefa de casa. Quest?es a debater:

a) Em que p?gina do jornal cada carta foi publicada? Houve coment?rio da reda??o para todas?

b) O espa?o reservado ? carta, no peri?dico, indica a import?ncia social de seu remetente. Comparando as posi??es das diversas cartas, o que se deduz?

c) A visita do jornal ao reformat?rio foi de surpresa ou agendada? A partir dessa resposta, o que o leitor deduz?

d) ? importante observar que, nessa parte, o narrador se ausenta e d? a palavra ? reda??o do jornal e aos missivistas. Trata-se de um engenhoso recurso de estilo. Avaliar que efeito causa no leitor a omiss?o do narrador e a express?o direta das v?rias vozes.

e) As missivas devem ser separadas em dois grupos: "a favor" dos menores infratores ou "contra" eles. Retomar essas cartas e: ? classificar cada uma delas, organizando-as em dois blocos; ? selecionar uma de cada grupo; ? estabelecer um paralelo entre as cartas escolhidas, fazendo um levantamento dos argumentos apresentados; ? apontar as conclus?es do grupo sobre a posi??o do jornal.

atividade complementar

An?lise do vocabul?rio na carta do padre Jos? Pedro (termos religiosos); do vocabul?rio e da sintaxe na carta da costureira (registro informal); da linguagem formal na carta do diretor do reformat?rio.

2. Propor o exame de revistas e jornais da cidade ou da regi?o, para leitura e an?lise das cartas de leitor, comparando-as ?s do livro. Levar os alunos a observar que, hoje, para dar espa?o a mais cartas, os jornais as transcrevem apenas parcialmente. Selecionar duas sobre o mesmo assunto, com pontos de vista divergentes, e analis?-las. Em seguida, um tema pol?mico, em discuss?o no momento, pode ser o ponto de partida para que os alunos produzam cartas de leitor e manifestem opini?o.

4 Norma S. Goldstein

atividade 2 Contexto social 2 1. A primeira p?gina do cap?tulo "Alastrim" (p. 139) narra a chegada a Salvador da var?ola --

doen?a hoje erradicada no Brasil. Percebe-se mais uma vez o contraste entre Cidade Alta e Cidade Baixa, na Salvador da ?poca. Reler essa p?gina em classe e propor debater:

a) se a vacina??o foi para todos ou se foi limitada; b) se houve um ou mais de um tipo de var?ola; c) como foi o tratamento aos doentes; d) por que todos temiam o "lazareto" onde se isolavam os doentes; e) o papel do candombl? nesse contexto.

O filme de Cec?lia Amado recria a atmosfera de sincretismo religioso presente no livro. Observar na foto as cores, a sugest?o de movimento, o aspecto solene e festivo da cerim?nia de candombl?. No centro est? a m?e de santo, protetora dos garotos, que lhes oferece ch?s medicinais quando est?o doentes.

2. A leitura do cap?tulo "Filha de bexiguento" apresenta a personagem Dora e seu irm?o, ?rf?os cujos pais foram v?timas da var?ola. A leitura do cap?tulo deve ser indicada como tarefa de casa. Em classe, remetendo ao trecho entre a p?gina 163 e o quinto par?grafo da p?gina 169, retomar passagens que evidenciem os seguintes aspectos: a) a queima do barraco e a fuga; b) a fome e o cansa?o das duas crian?as; c) os olhares masculinos dirigidos a Dora; d) a atitude de dona Laura, ao saber a causa da morte da m?e de Dora;

Sequ?ncia de atividades: Capit?es da areia 5

e) a solidariedade de dois capit?es da areia, Jo?o Grande e Professor; f) a influ?ncia do contexto na vida das pessoas, sobretudo dos menores abandonados.

A tens?o entre Cidade Alta e trapiche foi bem captada pela cineasta. Eis o contraste entre dois ambientes: mis?ria no trapiche; refinamento e conforto na resid?ncia da fam?lia que quer adotar Sem-Pernas. O garoto senta-se constrangido no sof?, observando o ambiente para memorizar onde est?o os bens de valor a serem surrupiados pelo bando dias depois.

6 Norma S. Goldstein

atividade 3

Personagens 1

Os garotos vivem num trapiche abandonado na beira-mar, onde se escondem ap?s praticar pequenos furtos. Cada menino tem caracter?sticas espec?ficas e segue rumo pr?prio no final do livro. Os destinos s?o diversificados: um padre, um artista, um m?sico, um cangaceiro, um l?der grevista, um malandro, entre outros. Novos moradores chegam ao trapiche e tudo indica que a hist?ria se repetir?.

O l?der dos garotos ? Pedro Bala, de que se falar? adiante, assim como de Dora, a garota acolhida pelo grupo. Nesta atividade, vamos comentar dois dos "capit?es" e tamb?m um adulto que os ajuda: Pirulito, Professor e padre Jos? Pedro.

Pirulito

O cap?tulo "Deus sorri como um negrinho" (pp. 106-13) aponta aspectos do perfil de dois personagens, Pirulito e padre Jos? Pedro. O cap?tulo deve ser lido como tarefa de casa. Em classe, retomar os trechos sugeridos.

Excerto da p?gina 106 at? o pen?ltimo par?grafo da p?gina 107. Observar: a) como Pirulito se alimenta; b) o futuro com que ele sonha; c) por que Pirulito agradece a Deus; d) como descreve os "capit?es da areia". Avaliar esse retrato; e) a posi??o de Querido-de-Deus sobre a religi?o; f) a vis?o do inferno, segundo Pirulito; g) o sincretismo religioso; h) o conceito de culpa para Pirulito.

Excerto que vai do segundo par?grafo da p?gina 111 at? p?gina 113. Reler e analisar o conflito, o drama, a divis?o interna de Pirulito: furtar ou n?o furtar a est?tua do Menino Jesus? Verificar seus sentimentos, seu racioc?nio, sua hesita??o e tirar conclus?es sobre seu car?ter.

Padre Jos? Pedro

Retomar a seguinte passagem:

O padre Jos? Pedro dizia que a culpa era da vida e tudo fazia para remediar a vida deles, pois sabia que era a ?nica maneira de fazer com que eles tivessem uma exist?ncia limpa. Por?m uma tarde em que estava o padre e estava o Jo?o de Ad?o, o doqueiro disse que a culpa era da sociedade mal organizada, era dos ricos... [...] O padre Jos? Pedro naquele dia tinha ficado muito triste, e quando Pirulito o foi consolar, explicando que ele n?o ligasse ao que Jo?o Ad?o dizia, o padre respondeu, balan?ando a cabe?a magra:

-- Tem vezes que eu chego a pensar que ele tem raz?o, que isso tudo est? errado. Mas Deus ? bom e saber? dar rem?dio...

Padre Jos? Pedro achava que Deus perdoaria e queria ajud?-los. E como n?o encontrava meios e sim uma barreira na sua frente (todos queriam tratar os Capit?es da Areia ou como a criminosos ou como a crian?as que foram criadas com um lar e uma fam?lia), ficava desesperado, por vezes ficava atarantado. Mas esperava que Deus o inspirasse um dia e at? l? ia acompanhando os meninos, conseguindo por vezes evitar atos de malvadeza das crian?as. (pp. 107-8)

Sequ?ncia de atividades: Capit?es da areia 7

quest?es

a) Como padre Jos? Pedro encara os menores infratores? b) Comparar a afirma??o de Jo?o de Ad?o com a frase entre par?nteses no ?ltimo pa-

r?grafo. O que t?m em comum? c) Os demais pensam como o padre? Como os outros veem os garotos? d) Observe a resposta do padre. Ela come?a pela forma verbal "Tem", do verbo "ter".

Esse emprego ilustra o uso do registro informal da linguagem. Qual seria o equivalente no registro formal ? e) Examine as tr?s ?ltimas linhas, de "ficava desesperado" at? o final. Diga qual o sentido do termo "Mas"; avalie que rela??o estabelece entre o que vem antes e o que se segue: adi??o, explica??o, oposi??o ou altern?ncia? f ) Interprete o papel do religioso junto ao grupo: "esperava que Deus o inspirasse um dia e at? l? ia acompanhando os meninos".

Professor

Como tarefa, ler o cap?tulo "Noite dos capit?es da areia" (pp. 28-47). Reler em classe o segundo par?grafo da p?gina 30.

quest?es

a) Como o Professor v? os livros? b) Interpretar a vis?o de literatura presente nas passagens abaixo:

"Lia-os todos numa ?nsia que era quase febre.". "contando aquelas hist?rias que lia e muitas que inventava, fazia a grande e misteriosa m?gica de os transportar para mundos diversos, fazia com que os olhos dos Capit?es da Areia brilhassem como s? brilham as estrelas da noite da Bahia". c) Apontar um ind?cio do sincretismo religioso da Bahia nesse par?grafo.

Retomar a passagem abaixo, do mesmo cap?tulo. Depois da leitura, levar os alunos a comentar:

a) o dom art?stico do garoto; b) os materiais que utiliza; c) o papel do contexto; d) a opini?o das pessoas em volta.

O Professor, com um peda?o de l?pis e uma tampa de caixa, desenhou Volta Seca vestido de cangaceiro. Tinha um jeito especial para desenhar e ?s vezes ganhava dinheiro fazendo desenhos, nas cal?adas, de homens que passavam, de senhoritas que iam com os noivos. Estes paravam um minuto, riam do desenho ainda indeciso, as noivas diziam:

-- Est? muito parecido... [...] Por vezes j? tinha um grupo grande espiando e havia quem dissesse: -- Este menino promete. ? pena que o governo n?o olhe essas voca??es... -- e lembravam casos de meninos de rua que, ajudados por fam?lias, foram grandes poetas, cantores e pintores. (p. 30)

Cec?lia Amado recria, em linguagem cinematogr?fica, com fidelidade muito grande ao livro, os cen?rios, o enredo e os personagens do romance. Pe?a que os alunos observem duas fotos.

8 Norma S. Goldstein

Na foto a seguir, devem verificar se o Professor do filme retrata com fidelidade o perfil tecido no romance. Solicite que digam o que essa foto sugere.

Notar que o Professor ? o centro das aten??es, enquanto l? hist?rias para os companheiros que ouvem como que enfeiti?ados. Nesta imagem, Cec?lia Amado capta o encanto que a literatura causa nas pessoas.

ATIVIDADE 4 Personagens 2

Pedro Bala ? o protagonista da hist?ria, o l?der do bando de meninos. No livro e no filme, os alunos v?o acompanhar sua trajet?ria e conhecer seu perfil de pessoa justa e digna, tra?os presentes particularmente no cap?tulo "Reformat?rio" (pp. 191-210), que deve ser lido como tarefa de casa. Em classe, retomar o excerto que vai do final da p?gina 194 ("Quando o levaram") at? o final da p?gina 195. Analis?-lo, com apoio nas seguintes quest?es:

a) Reler a primeira fala, dita pelo investigador. A partir dela, avaliar o papel da imprensa (dos jornalistas) para as autoridades.

b) No di?logo da parte superior da p?gina 195, analisar a atitude dos policiais e a rea??o de Pedro Bala.

c) Observar como s?o retratadas as autoridades. d) Reler os dois par?grafos narrativos na metade da p?gina 195 (de "Agora davam-lhe"

at? "n?o sente mais nada"). Apontar as caracter?sticas psicol?gicas de Pedro Bala. e) Retomar o par?grafo final e interpretar seu sentido. Em meio ?s dificuldades do

momento, o que a can??o sugere? Pedro e Dora formam o par amoroso do romance e do filme. S?o muito jovens, mas o sofrimento os amadurece antes do tempo, por isso d?o muito valor ao sentimento que os une. Dora ? acolhida pelos Capit?es da Areia, torna-se uma m?e ou irm? para todos eles, menos

................
................

In order to avoid copyright disputes, this page is only a partial summary.

Google Online Preview   Download