TEXTOS E CONTEXTOS – Divulgação de pesquisas e de ...



PARTE 1 77e ela mora lá...mas ela é...bem velhinha... maluca né? ela até hoje n?o sabe das coisas ela esquece os nome ela:: a mim ela sabe... mas eu invento história pra ela... e ela acreditaem todas as história que eu invento... perturba mui:to a vida de minha irm? porque n?o tem... os conceitos de higiene dela já sumiram... só gosta de andar mulamba... quem chegar na casa de minha irm? ela corre com aqueles mulambo pra atender...Fernanda Dênia JosianeIvia Margarida Andressa Pedro Camila Raquel Tatiany Cristiano O enfeite do jardimMaluca. Era assim que todos chamavam Dona Ester, uma velhinha descuidada e mulambenta que morava na nossa casa. Seus cabelos brancos como algod?o viviam desgrenhados, seus dentes fortes como diamante estavam já amarelados e sua higiene, outrora impecável, encontrava-se atualmente muito defasada.Vivia como agregada na nossa casa com a família, que n?o teve coragem de demiti-la depois de tantos anos de trabalhos domésticos e excessiva dedica??o. Lembrava-se sempre dos socorros prestados à nossa avó, que sozinha jamais teria dado conta das atividades, e continuava permitindo que ela ficasse lá, em um quartinho construído nos fundos da casa. Realizava ainda muito, como sempre: lavava, passava, cozinhava e limpava, cuidava da casa sob a supervis?o de minha tia. Lembrava-se de fazer tudo, mas esquecia-se de si, dos outros e da vida. N?o conhecia mais os nomes, confundia, trocava, inventava. Nomeava todos conforme sua inventiva imagina??o. Sua sujeira afetava diretamente minha irm?, já que ela n?o gostava de sua falta de higiene. Sentia uma incomensurável vergonha quando a pobre velhinha atravessava o enorme jardim para atender as visitas com aquela sujeira impregnada em seu corpo e, ainda mais, quando percebia as loucuras que a demente cometia no auge de sua insanidade. Suas lembran?as difusas me divertiam, eu sempre lhe contava histórias, enganava-a com causos intrigantes, com os quais ela ficava eminentemente perturbada. De perturba??o em perturba??o, ela realizava suas traquinagens.232Minha irm? LinaA Lina mora na casa da minha irm? Ana e tem perturbado bastante a vida dela, pois a Lina está bem velhinha, maluquinha e n?o se lembra de quase ninguém. Esquece seu nome e o das outras pessoas também e acredita em tudo quanto é história que conto para ela. Até no??es básicas de higiene ela já perdeu. Anda toda destrambelhada, desarrumada, bem molambenta e é assim mesmo que ela atende as pessoas que v?o na casa da minha irm?. Ela vive aprontando alguma coisa e a Ana tem que ficar sempre alerta!96...........................Era uma vez uma velhinha, maluca e molambenta que adorava ouvir histórias fantásticas, ao ouvi las ficava atenta e entusiasmada. A pobre n?o tinha no??o de higiene, andava igual um espantalho, mas era gente boa e engra?ada. Ela morava perto da casa de minha irm? ca?ula e ao chegar visita, corria toda atrapalhada com seus molambos para atende- lós e soltava um largo sorriso banguelo e alegre.67...........................Ao visitar uma amiga de S?o Paulo, que n?o via há muito tempo, Joana surpreende-se ao perguntar sobre a m?e de Maria. Maria contava que sua m?e estava morando com sua irm?, porém, já em idade avan?ada, a velha esquecia os nomes das pessoas, n?o tomava banho e n?o se preocupava com a aparência, fazendo sua irm? passar constrangimentos com visitas. 61...........................Morando com minha irm? está ela, a desmemoriada velhinha maluca. Lembra-se t?o somente do nome deste narrador. Extremamente crédula, desasseada, gosta de atender, com seus molambos, quem chega. 28...........................Naquela manh? de três de maio de 1973, a família despertava tranquilamente para mais um dia de afazeres tediosos e tenazes. ? mesa do café da manh?, a filha mais velha, ainda jovem, irritava-se com a briga matutina dos irm?os menores. A m?e, que se ocupava demais com os dois pequenos, fazendo-os comer algo, nem que fosse para mantê-los em silêncio por alguns preciosos segundos de mastiga??o, mal percebia a presen?a da filha maior, silenciosa e imperceptível como uma cadeira de pés emborrachados. Conformada com sua condi??o de móvel, a filha seguia em frente e, após meia torrada comida e meia xícara bebida, levantava-se e rumava para a escola sem que ninguém notasse. Assim correu a vida.Alguns anos se passaram, a filha n?o seguiu o destino costumeiro de outros jovens. Ela persistiu em ser um móvel. E assim, como um banco, uma mesa ou uma prateleira, ficou envelhecendo aos poucos na casa dos pais, como todo objeto ordinário que paulatinamente deixa de ser conservado com a dose certa de zelo. Ao chegar à fase madura de sua existência, a filha desistira de ser invisível. A poeira e a ferrugem, no entanto, nunca saíram de suas quinas e dobradi?as. Apesar de se tornar mais eloquente, passou a se fazer perceber mais por seu desmazelo e azedume do que por suas interven??es orais, diga-se de passagem, sempre muito pertinentes.228JuqueriO sol despontava amarel?o na manh? febril daquele sábado em Juqueri. Pintores, músicos, brigadistas e médicos circulavam pelos pavilh?es dos edifícios que formavam aquele complexo arquitetural. Até um Ramos de Azevedo circulava pelos corredores, apontando algumas falhas de execu??o na obra, ao que bradava “Aqui, aqui, ou só eu enxergo neste recinto?”.53Casos de famíliaAna e Glória s?o muito amigas, desde a época do primário que possuem fortes rela??es, seguiram suas vidas, tiveram filhos e pouco tempo tinham agora para conversar, aproveitando que aquela semana era mais tranquila, resolveram tirar aquela tarde de sexta-feira para fazer umas compras e tomar um cafezinho.Ana sabia que a Glorinha, assim carinhosamente chamada por todos, passava por vários problemas familiares com a Juliana, sua irm? que estava segurando todos os problemas nas costas, sua m?e que vivia alheia ao mundo, sua tia Luzia sempre cheia de manias e sua avó que há pouco tempo tinha perdido a lucidez.- Qualquer pessoa que chega em casa, ela já avan?a com aqueles mulambos pendurados, banho... Esquece! ? uma luta braba dar um banho nela, Juliana n?o aguenta mais ela em casa. – Desabafou Glória.137...........................Minha mam?e está bem velhinha, maluca e mulambenta, de poucos saberes ,ainda acredita nas histórias que eu invento, esquece-se de tudo, menos o meu nome ela sabe!minha irm? mora nos fundos da casa dela, minha irm? fica perturbada com a pouca higiene dela e o costume horrível que ela tem de quando chega visita na casa da minha irm? parece que é para ela, ela corre desajeitadamente para atender as pessoas cheia de trejeitos, mas ela gosta de ser assim.81...........................Duas vizinhas de muro conversavam e uma desabafa sobre as maluquices da avó, que agora mora com sua irm?, no mesmo quintal. A vizinha comentou com a outra sobre as caduquices da velhinha, e que esta n?o lembra mais de nomes, com exce??o do dela; que é fácil de ser enganada e, com isso, diverte-se contando inúmeras histórias mentirosas para a “velhinha maluca e esquecida”.Ent?o come?ou a falar sobre a avó, que ela perturba muito a vida da irm? porque já n?o possui mais hábitos de higiene, gostando de andar inclusive mal vestida. A vizinha riu. E disse que quando alguém chega à casa de sua irm?, corre o risco de ser atendido pela anci?, trajando um vestuário maltrapilho. Afirmou que ela faz inúmeras coisas sem sentido, inclusive quando morava ainda em sua casa, com sua m?e. 138...........................Lembro-me como se fosse hoje, há cinco anos, o escritório que estagiei designou-me uma pequena demanda de posse de terras. Um dos herdeiros encontrava-se numa pequena cidade a oeste do interior paulista quase divisa com o estado do Paraná. Cheguei à cidade às dezoito horas, hospedei-me no único hotel que existe, o hotel contava com quatro andares e cada andar com seis apartamentos com suíte e varanda. O meu quarto dava em frente a uma pra?a e uma antiga Igreja. Na varanda passei a observar as pessoas que saíam da Igreja, algumas exageradamente elegantes e outras simples e desajeitadas, mas, todas aparentemente felizes, uma felicidade arrebatadora, mesmo que furtivamente interrompida, às vezes, pela peti??o que deve ser assinada amanh? cedo. Ent?o fui dormir... Acordei cedo, tomei café no sal?o do hotel e fui ao encalce da assinatura, Ant?nio Ortiz, homem de média estatura, magro, cabelo grisalho e natureza dócil, assim me informou o camareiro. Toquei a campainha, esperei por 7 minutos e quando ia tocar de novo, desta vez, apareceu uma mulher na porta, baixa, aparentando quarenta e seis anos, n?o era gorda nem t?o pouco magra, mas logo, apresentou-se muito solícita. Disse-me que por azar Ant?nio, seu marido, acabara de sair, n?o faz cinco minutos que ele foi resolver uma pendência bancária. Ela insistiu para que eu ficasse. Agradeci e voltei para o hotel e falei que a tarde voltaria para tratar com o senhor Ant?nio.Na volta para o hotel, um fato curioso chamou a minha aten??o, após virar à esquina que dava para a casa de seu Ant?nio, de súbito, um jardim enorme com um casar?o ao fundo, as duas laterais do jardim s?o muradas, na parte dos fundos o muro é mais baixo e dá para visualizar o casar?o e nitidamente o jardim, na parte frontal dois port?es; o primeiro port?o é pequeno e estreito e a passagem por pedestres é obstruída pelo excesso de plantas, o segundo é bem maior e dá para passar até um caminh?o, também há uma entrada que leva até o casar?o. Confesso que fiquei curioso com a distribui??o física daquele lugar.A tarde sai em dire??o à casa de Ant?nio, no caminho passei em frente ao casar?o, como a curiosidade já me consumia fui ao fundo da casa para observá-la. O muro baixo propiciava uma vis?o ampla da casa e do jardim. Andei vagarosamente e minuciosamente procurava objetos para minha curiosidade. Repentinamente observei homens conversando, eles diziam que lá morava uma senhora bem velhinha e maluca, enfim era o que deu para ouvir, mais tarde ouvi uns murmurinhos “suja”, “mulamba” e logo eles passaram a me olhar enviesado e percebi que era hora de correr com a peti??o e segui à casa de seu Ant?nio.455PARTE 2 206faz ene coisas... inclusive quando morava ainda nessa casa... com mam?e tem um jardim grande tem um port?o de: de pedestre né? e tem o port?o de carro... normalmentea gente só entrava no port?o de carro que o de pedestre tinha muita planta... ent?o a gente nunca entrava por ali e minha tia que mora junto... fez uma reforma no banheiro das empregadas jogou fora um aparelho... ela n?o admitiu o aparelho tava quebrado ela n?o admitiu que jogar fora n?o é possível e resolveu guardar... o lugar que ela guardou no jardim lá de casa... mas na frente... assim no jardim... perto desse port?o... quem passava pelo a bacia do aparelho usada antiga velha e amarelada... sabe? aquela bacia branca que fica amarela... ali guardada... e o pior é que passou um tempo e a gente n?o via porque... entra/vinha carro né? entrava pelo port?o de carro... e as empregadas que aguavam o jardim... n?o ligavam do terra?o você n?o via... via do muro... que era pior né?... no meio do terra?o tinha um cajueiro e tem umas plantas que cobrem o muro... você vê muito bem o muro... n?o é? mas quem passava pelo muro a pé via aquele aparelho enfeitando o jardim...Fernanda Dênia JosianeIvia Margarida Andressa Pedro Camila Raquel Tatiany Cristiano De perturba??o em perturba??o, ela realizava suas traquinagens.Certa vez, minha tia, que morava conosco, decidiu fazer uma reforma: sala, cozinha, banheiro submetidos aos reparos e à moderniza??o. O piso foi retirado, a parede pintada, as porcelanas substituídas. Os objetos considerados ultrapassados ou inúteis tornaram-se entulho. Entretanto Dona Ester n?o se conformava com tanto desperdício - tanta coisa jogada fora - e aprontou uma das suas.Viu que estavam se desfazendo de uma amarelada bacia do banheiro do quarto das empregadas e, indignada com o acontecimento, decidiu recuperar o material para, quem sabe, ser vendido ou doado.Sorrateiramente pegou o objeto, mas, sem saber exatamente o que fazer com ele, colocou-o no extenso jardim por algum tempo. Tempo tanto que as plantas que dominavam o espa?o acostumaram-se com o corpo estranho e transformavam a base da bacia em parte do jardim.Os moradores da casa n?o conseguiam ver que, no jardim, havia algo minimamente diferente, pois sempre entravam e saiam pela garagem por causa das muitas plantas que dificultavam a passagem pelo port?o de pedestres, além disso, estavam sempre apressados ou concentrados devido às atividades cotidianas. As empregadas, que sempre regavam as plantas, também nada conseguiam ver, visto que o grande cajueiro impedia que, do terra?o, elas percebessem a bacia que enfeitava t?o estranhamente o jardim. Já os passantes podiam ver absolutamente tudo, desde a cor até as receptivas plantas, pois o muro n?o era alto o suficiente para impedir-lhes a vis?o e a curiosidade era grande o bastante para bisbilhotar o quintal alheio em busca de comentários engra?ados ou maldosos.261Há muito tempo atrás, quando ainda ela morava com minha m?e, aconteceu um fato muito engra?ado. A minha tia Eulália que morava junto na mesma casa, resolveu fazer uma reforma no banheiro das empregadas e jogou fora um aparelho velho, muito antigo, muito usado e bem amarelado, mas a Lina n?o aceitou isso de forma alguma, achou que era um absurdo jogar aquele aparelho fora e, por isso, decidiu guardá-lo. Mas para piorar um pouco mais, guardou-o bem na frente do jardim de casa, logo na entrada do port?o de pedestres, o port?o pequeno. Como na minha casa a gente só entrava pelo port?o dos carros, a gente n?o via nada, porque o port?o de pedestres ficava escondido no meio de tantas plantas e até tinha lá um Cajueiro. E um detalhe importante, é que de dentro da casa ninguém via nada, só as empregadas quando iam aguar o jardim é que viam, mas nem se importavam com “aquele negócio”, aquele tal aparelho bem amarelado e velho jogado ali. Porém, todos que passavam na rua a pé, viam por cima do muro, esse “tal negócio amarelado”, bem ali enfeitando o nosso lindo jardim. Imaginem a cena pitoresca e muito engra?ada!!200Na casa havia um belo jardim e um port?o grande para carros, entretanto a entrada também era destinada aos pedestres, pois o outro estava ocupado por muitas e belas plantas, além do mais, junto delas havia resto de materiais de reforma do banheiro dos funcionários da limpeza, a velhinha maluca, simpatizou com um vaso sanitário, achou que a cor combinava com a vegeta??o, amarelado, amarelo do tempo e o colocou bem no centro do jardim. As pessoas que caminhavam pela rua olhava aquele objeto n?o identificado e estranho ali no centro, algumas balan?avam a cabe?a negativamente e outras caiam na gargalhada. Minha irm? muito atarefada n?o percebeu nada, e um pé de cajueiro atrapalhava a vis?o as plantas. O vaso foi atra??o do momento daquela semana.126Com a amiga aos risos, Maria continuou contando, que quando sua m?e e ela moravam na mesma casa, havia dois port?es, um para carros e um para pedestres, mas o segundo n?o era utilizado, pois continha muitas plantas. Certo dia sua tia que também morava na casa, fez uma reforma no quarto das empregadas, e para n?o jogar fora o vaso sanitário velho e amarelado, decidiu colocar na entrada de pedestres, junto as plantas. E como todos entravam pela passagem de carro, o vaso ficou enfeitando o jardim por 3 semanas sem ser notado,94? época em que lá morava com mam?e, já havia aquele jardim, grande, com port?es , um destinado a pedestre, intransitável, aliás, devido às plantas , outro, a carros, necessariamente o mais utilizado.Certa vez minha tia, moradora nas imedia??es, fez uma reforma no banheiro das empregadas e jogou a bacia do aparelho sanitário. E a velhinha molambenta n?o admitiu. Pegou-a e guardou-a no nosso jardim, exatamente na frente. Demorou para ser vista. ? que em meio a tantas plantas, havia também um cajueiro a ofuscar a vis?o do novo “enfeite”.91Uma vez decretada sua existência como pessoa, a filha desenvolveu apre?o anormal pelos seres inanimados, antes seus companheiros de existência. A cada limpeza, reforma ou mudan?a na casa, entrava em desespero e saía em defesa dos condenados objetos. Protegia-os todos. Se preciso, usava da for?a física para impedir que um pobre relógio quebrado ou uma inocente escada engui?ada fossem descartados de maneira impiedosa. A m?e, já idosa, nunca dera bola mesmo para filha, de modo que só n?o fazia frente às suas esquisitices.Passou a ser tratada como doente, problemática, maluca mais precisamente. Os irm?os mais jovens contavam-lhe com veemência histórias inverossímeis. Assustavam-na sequestrando-lhe escovas de cabelos e tigelas de cereal, que lhe devolviam mediante pagamento de resgate. O tormento da filha era constante e diário. Mas nada foi mais doloroso para ela que a perda daquela bacia do aparelho.? ocasi?o de uma reforma, a tia, que morava com a família, solicitou ao pedreiro o descarte do já amarelado aparelho do diminuto banheiro dos empregados. A filha, em desespero completo, convenceu o homem a n?o jogar t?o indefeso objeto fora, pondo-se aos prantos pelo aparelho condenado. Eis que o homem apiedou-se da desgrenhada mulher e deixou o velho aparelho no jardim, como ela lhe recomendou. E ali, por três semanas, jazeu tranquilamente a bacia do aparelho.217No banco de madeira do último corredor, tra?ava-se um plano genial para passar ao “outro lado do mundo”. O 27 chegara à conclus?o, via linguagem matemática, de que o portal possibilitaria conhecer de fato a “vida” – que existia. Ouvindo-o com aten??o, mas desconfiado de que o 27 tinha inventado apenas uma máquina de esconder mobília, o 33 pensava que valia a pena escutar e fingir acreditar, pois de dia ele poderia acessar a máquina e reaver a casa que tinha sido moradia sua durante quarenta e quatro anos – estava convencido de que o 27 a tinha escondido através do aparelho.Os cálculos terminados e o material listado, o 27 solicitou a ajuda do 33 na montagem do equipamento, o qual se prontificou, sim, a ajudar. Afinal, n?o via chance melhor que essa de localizar a parafernália e puxar dela pela guela a sua casa com todas as coisas dentro. “Mas tinha que ser em plena luz do dia”, completou o 33.Ent?o foram imediatamente, pois há sete meses, ou seja, desde que o 27 e o 33 chegaram àquele prédio, a noite n?o caía em Juqueri. E é bem provável que, enquanto eles lá estivessem, o sol n?o siga seu trajeto rumo às cinzas. Antes de ir, inventaram uma língua pronunciada logo no lance das escadas, que eles desciam, rumo à empreitada. Port?o n?o era mais port?o, bacia n?o era mais bacia, deus n?o era mais deus, tempo n?o era mais tempo e céu n?o era mais céu. 248Ana sabia que era uma situa??o complicada e perguntou:- Hum... E sua tia Luzia? Está dando uma for?a para a Jú cuidar da sua vó?Gloria deu um sorrisinho e respondeu:- Ana, você conhece minha tia, né? Ela desde sempre n?o bate muito bem vive inventado moda, inventou uma reforma no banheiro, tinha uma pe?a toda nojenta que ela cismou que era útil guardar. Adivinha onde ela guardou?- Bom, tomara que tenha sido naquele quartinho de bagun?as dela... - Ana tentou acertar o lugar.- Nunca! Ela simplesmente colocou bem na frente do jardim da mam?e! Gloria respondeu com a voz levemente alterada. Ana ficou com ar de riso, pois seria c?mico imaginar uma privada enfeitando um jardim t?o bem cuidado como era.E a danada da privada deve ter ficado um temp?o por lá, mas ninguém percebeu porque nem a Jú e nem a empregada costumam passar por ali,154A casa que morávamos tinha um jardim grande, um port?o de pedestre e outro para automóveis que era o que nós sempre utilizávamos, pois o de pedestre era cheio de plantas e n?o dava para passar.Lembro-me bem umas das maluquices da minha m?e, certo dia, minha tia em uma reforma do banheiro das empregadas jogou fora um aparelho, uma antiga bacia velha amarelada que minha m?e, em mais um dos seus rompantes, resolveu guardar no jardim de casa, bem na frente do port?o, estava quebrada, mas ela n?o admitia que era apenas uma bacia velha amarelada.Meu Deus! Que horror! Uma coisa horrível no jardim, uma bacia que era branca, amarelada de tanto tempo de uso e antiga demais, e ficou por ali durante dias quase ninguém notou, pois carros entravam e saiam, e a bacia velha amarelada estava ali, esquecida e enfeitando o jardim! As empregadas que faziam seus servi?os de rotinas n?o percebiam, pois as plantas e o cajueiro ficavam em um terra?o tampando a vis?o, mas do muro, do muro da rua sim, as pessoas que passavam na cal?ada entre o muro e a rua e logo tinham aquela vis?o do aparelho enfeitando o jardim, a velha bacia amarelada!203Seguiu descrevendo a respeito da frente da residência, sobre o grande jardim, um port?o de pedestre e a garagem, esta última usada para o acesso ao quintal, já que o port?o de pedestre encontrava-se “interditado” pela grande quantidade de plantas. A vizinha apenas assentia.Explicou, também, que, para piorar a situa??o, a tia, que mora no mesmo quintal, fez uma reforma no banheiro das empregadas e jogou fora um vaso sanitário. Ela n?o admite que o jogou, mas que resolveu guardá-lo. E o lugar que ela utilizou para tal foi o jardim, bem na frente da casa, próximo ao port?o de pedestre.A vizinha a interrompeu e perguntou se se trata da bacia do banheiro, e a outra afirmou, dizendo que estava ali, “guardada”. A vizinha ficou surpresa. E a conversa continua: o tempo passou e ninguém via o vaso sanitário no jardim e voltou a afirmar que usavam a garagem para entrar em casa. A vizinha riu e ironizou com o fato de que o “objeto” estava lá, servindo de enfeite.Ent?o a mulher continuou contando a história da velhinha e do vaso sanitário, relatando que as empregadas que aguavam o jardim nem ligavam com a presen?a dele, lá. Lembrou que, do terra?o, nada se vê, mas do muro sim, o que é pior. Falou sobre o cajueiro, no meio do terra?o, e umas plantas que cobrem o muro. A vizinha achou tudo aquilo engra?ado. E a outra lhe perguntou: “Você vê muito bem o muro, n?o é?”. E a vizinha, mais uma vez, apenas concordou.Disse, refletindo, que, quem passa a pé, em frente ao muro, vê aquele vaso sanitário usado como enfeite, no jardim277Cheguei por volta das dezoito horas e quinze, ele já me esperava, convidou-me para entrar e sua esposa esperava-nos com um café, enquanto ele analisava o documento meu pensamento voltava-se para o casar?o, como aquilo tudo era grande, imponente, de certo era um pouco desarrumado, principalmente o jardim, passei a imaginar quantas gera??es viveram naquele lugar, quem eram os atuais moradores... De sobressalto, seu Ant?nio dava um o.k. para o contrato, que tudo estava muito bem redigido e colocado. Agradeci em nome do escritório e após assinatura nos despedimos cordialmente.Na volta decidi passar mais uma vez no casar?o. Cheguei aos fundos e desta vez n?o havia ninguém, ent?o eu poderia observar com mais acuidade. Por cima do muro a vis?o era privilegiada, dava para ver o jardim que apesar de abandonado apresentava uma riquíssima varia??o de plantas e flores que constituíam a paisagem. Ao centro um cajueiro, atípica planta da regi?o que estava no período de inflorescência e várias flores desabrochavam do pêndulo. Seria o cajueiro o epicentro do jardim se n?o fosse por um jarro branco, um pouco amarelado e talvez porque a luz fazia quest?o de incidir sobre o jarro, recebendo mais destaque que todos naquele jardim. No seu interior alguns cravos brancos que eu n?o saberia responder se fora plantado ou fora um capricho da natureza. Passei a indagar o que um objeto t?o destoante fazia no meio daquele jardim, quando no meio das folhagens, um vulto carregava um pouco de terra e água. Aproximou-se do jarro, n?o dava para identificá-lo, apenas as roupas pareciam mal tratadas. Por um instante acreditei que se revelaria. De repente, uma luz que vinha do casar?o espantou a remota figura e a mim. Voltei às pressas ao hotel.288PARTE 3 115até o dia que um tio meu chegou... e foi entrar por aquele port?o aí gritou pra minha m?e: I. que coisa lin::da... eu n?o sabia que isso era moda... pra que esse jarro t?o...eu vou até comprar uns pra botar no meu jardim... por que você n?o planta cravo dentro? ... ficava mais bonito... aí mam?e “dentro de que n?o estou vendo nada?” que coisa mais engra?ada “eu n?o sabia que você usava aparelho para enfeitar o jardim”...aí foi que mam?e foi ver... só faltou morrer de raiva... porque todo mundo naquelas três semanas passou por ali viu aquele lindo aparelho enfeitando o jardim de minha casa... ent?o ela tem essas maluquices né?Fernanda Dênia JosianeIvia Margarida Andressa Pedro Camila Raquel Tatiany Cristiano E assim as semanas se passavam: a família cotidianamente morando, as empregadas regularmente aguando e os vizinhos abafadamente comentando, até que um tio meu chegou e, como sempre fez, entrou pelo port?o de pedestres enfrentando a flora do jardim. Riu-se e logo entendeu o que havia acontecido, mas seu espírito brincalh?o n?o lhe permitiria sair da situa??o sem fazer uma tro?a, de lá mesmo gritou para minha m?e gargalhando:- Nossa, n?o sabia que isso era moda por aqui! Está t?o lindo que vou até comprar umas para colocar no meu jardim! Mas para ficar mais bonito, é preciso colocar uns cravos, adornar!! Minha m?e, sem entender nada, dirigiu-se até ele.- Eu n?o sabia que você usava a privada para enfeitar o jardim! Disse ele.Assim que minha m?e viu a bacia, avermelhou-se enraivecida. N?o queria admitir que durante tanto tempo, todos viram o objeto enfeitando o jardim.Dona Ester, ouvindo a brincadeira, gostou da ideia e pensou seriamente em embelezar o vaso. Teria trazido, assim, mais alegria para a vizinhan?a, se minha m?e n?o tivesse tirado o objeto de lá. Essa traquinagem n?o aconteceu, o que n?o significava que outras n?o viriam...194Esse “lindo enfeite” em nosso lindo jardim ficou ali por um bom tempo, umas três semanas, até que um belo dia, o meu tio Eurico foi visitar a gente, e quando entrou pelo port?o de pedestres, logo avistou algo inusitado no jardim... “aquele tal negócio velho e amarelado” bem ali no meio do jardim...foi muito engra?ada a cena, pois meu tio já entrou rindo sem parara e perguntou à minha m?e se aquilo era a novidade da época que ele ainda n?o sabia. A minha m?e ficou com aquela cara de quem n?o estava entendendo nada, e o meu tio continuou rindo, dando gargalhadas e disse à minha m?e, num tom bem ir?nico, que realmente n?o sabia que era assim que agora se enfeitavam os jardins, e até sugeriu que ela plantasse ali uns cravos, que ficaria muito mais bonito! Foi quando minha m?e resolveu ir ver o que era e ficou super espantada e nervosa, morrendo de raiva, de saber que todos que passaram por ali naquelas três semanas, se depararam com aquela cena inusitada, com aquele “tal negócio”, tal aparelho velho e amarelado, enfeitando o nosso lindo jardim! Que vergonha ela sentiu!E tudo isso foi apenas mais uma das maluquices da minha querida irm? Lina, toda destrambelhada, atrapalhada e que vivia aprontando confus?es!216Certo dia um tio veio nos visitar e ao chegar ao port?o, parou olhou e logo depois come?ou a rir e rir sem parar, seus olhos come?aram a lacrimejar e a ficar sem ar, e dizia: ---- ? a última moda em Paris? Ou em Dubai? Até que ficou bonitinho e mais risos, que chamaram a aten??o de minha irm? para junto do port?o, ela o observava sem saber??!!! O porquê das lágrimas?? Ou melhor, lágrimas e risos, ele apontava ao centro aí todos caíram na risada, inclusive a velhinha que sugeriu a plantar uma planta carnívora dentro dele, mais gargalhadas durante a tarde inteirinha.105até que um tio de Maria indagou a sua m?e que achará muito interessante o enfeite, quando a velha percebeu o vaso sanitário exposto para as pessoas da vizinhan?a quase teve um ataque de raiva.Joana ria enquanto terminava de tomar sua xícara de café. 45E assim permaneceu, até que um dos meus tios veio nos visitar e simplesmente exteriorizou para minha m?e seu encantamento por aquele inusitado adorno no jardim. Enraivecida, minha m?e percebeu que, por três semanas, os transeuntes visionaram aquela bacia sanitária quebrada e amarelecida no jardim.Assim, inesperadamente, um vaso sanitário virou, por algum tempo, também, objeto de decora??o.58Foi quando um tio que, ao passar pelo jardim, notou o estranho adorno e resolveu fazer co?a do incomum objeto. Piada feita, verdade vista, a m?e enraiveceu completamente ao perceber que seu lindo jardim havia sido desgra?ado por um asqueroso aparelho. Houve briga e gritaria, mas nada comoveu e demoveu a m?e de dar fim a t?o inusitado atavio. Foi-se embora o velho e amarelado aparelho. E a vida voltou ao normal, só a filha jamais foi a mesma. 79Foram lá e fizeram o trabalho. Um conseguiu embarcar para a vida. O outro reouve a sua casa, exatamente como a tinha deixado. E naquela noite de sol escaldante, os funcionários do Juqueri só encontraram a privada amarela fugida do banheiro às vinte e duas horas, no centro do jardim, debaixo do pé de caqui.55até que semana passada meu tio José foi visitar Juliana e encontrou aquela bela pe?a no jardim, tinha até umas bromélias plantadas dentro... é mole? O titio, que é um piadista de plant?o disse “ Jú, n?o conhecia essa moda! Muito legal.” - Gloria desatou a falar sem parar e Ana chegou até a rir da situa??o.Ana ficou curiosa porque a Gloria pouco falava da Marta, sua m?e. E ent?o perguntou:- Glorinha, só n?o estou entendendo porque sua m?e n?o vê isso? Gloria respondeu:- Mam?e está apaixonada pela milésima vez... e n?o está ligando pra mais nada, mas no dia que o meu tio fez várias piadas por ver o vaso no jardim, ent?o ela reagiu, mandou a empregada embora, falou horrores para minha irm? e ainda sobrou pra mim! Difícil aguentar, viu?! - Imagino amiga, casos de família... – Ana tentou quebrar a tens?o da Gloria.As duas amigas resolveram esquecer os problemas naquela tarde, curtir o cafezinho e se entregar as delícias do cart?o de crédito, fariam compras e mais compras e acabariam o dia no sal?o de beleza.183O pior foi o dia que um tio meu chegou gritando e dizendo que a bacia era a coisa mais linda enfeitando o jardim e que n?o sabia que era moda aquele jarro, acrescentando ainda que era melhor plantar uns cravos nele que ficaria mais bonito.Minha m?e, por Deus do Céu! Espantou-se dizendo que n?o estava vendo nada e meu tio engra?ado insistia em dizer-lhe que n?o sabia que ela utilizava aparelho para enfeitar jardim.Minha m?e morrendo de raiva da brincadeira sem gra?a viu a bacia velha amarelada ent?o foi entender o porquê das piadinhas do meu tio.O enfeite da casa de minha m?e durante três semanas virou chacota de todos e aquele aparelho a bacia velha e amarelada, o enfeite da casa de minha m?e foi o maior símbolo das maluquices e teimosia dela.138e que, num certo dia, um tio chegou e tentou entrar pelo port?o de pedestre, avistou o “belo enfeite” e gritou para a sua m?e: “Nossa, que coisa linda! Eu n?o sabia que isso era moda! Vou até comprar uns vasos destes para colocar em meu jardim... Por que você n?o planta uns cravos ali? Ficaria mais bonito.”E a vizinha ria, divertindo-se com a história da outra e se perguntando: “para quê um ‘jarro’ t?o...” Grande ou bonito, talvez? E continuou a ouvir, esfor?ando-se para manter-se interessada na história.A neta da velhinha seguiu com a história. Sua m?e perguntou para o tio a respeito do que estava falando, que ela n?o tinha visto nada. E o tio voltou a ironizar, afirmando que n?o sabia que um vaso sanitário poderia servir de enfeite, num jardim. E a vizinha continuou a se divertir com tudo aquilo.Contou que sua m?e foi até o jardim e viu o “enfeite” e ficou morta de raiva, pois, naquelas três semanas, todas as pessoas que passaram ali, na frente do port?o, viram o “lindo” vaso sanitário, enfeitando o jardim de sua casa. E, mais uma vez, a vizinha esbo?ou um riso, tentando demonstrar interesse pela conversa: “que coisa curiosa, n?o é?”.E a contadora de causo conclui a conversa, justificando o enfeite do jardim como mais uma maluquice da velhinha. E seria mesmo da velhinha? Só da velhinha?234Depois disso voltei para capital para entregar o documento assinado pelo seu Ant?nio. E fiquei alguns dias pensando na imagem que apareceu naquele dia no jardim. De resoluto escrevi para o camareiro do hotel e perguntei se algum fato novo acorrerá na cidade após minha vinda a capital. E para minha surpresa ele respondeu,Caro amigo,Após a sua estadia em nossa cidade para resolver assuntos da capital, algumas pessoas estranhamente passaram a observar e comentar a respeito de um esquisito ornamento que apareceu no antigo casar?o da família Orlandi, alguns comentaram que aquilo era um descalabro, outros só ficavam rindo e debochando, mas acredite, o curioso e engra?ado é que um tio da família chamou aquilo de “obra de arte” e disse que iria encomendar um artefato igual aquele para colocar em seu jardim...sem mais, um abra?o.138 ................
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