Impacto Económico do Desporto: uma clarificação necessária

Impacto Econ?mico do Desporto: uma clarifica??o necess?ria

Autor Pedro Guedes Carvalho1,2

pedro.guedes.carvalho@

Resumo O desporto ? um fen?meno social com impacto emergente nas economias dos pa?ses. Os estudos de impacto econ?mico s?o habitualmente requisitados por muitos dos decisores pol?ticos, clubes e federa??es desportivas no sentido de apurarem o valor e racionalidade das suas decis?es. Contudo, apenas desde 2007 a UE se tem dedicado a este estudo e est?o em fase embrion?ria a organiza??o das Contas Sat?lite de Desporto. Em Portugal esses passo s?o recentes e ainda n?o conclu?dos. Neste artigo pretende rever-se algo do que tem sido feito e desmistifica-se o resultado de alguns estudos que utilizam m?todos n?o rigorosos para efectuar esse c?lculo. Com base num estudo de caso aplicado aos desportos motorizado autom?vel ensaiam-se algumas novas metodologias que devem prosseguir para trazer nova luz sobre este delicado mas importante assunto.

Palavras-chave Impacto econ?mico, Desporto, Metodologias, Estudo de caso, Portugal, Finl?ndia

1 CIDESD - Grupo STRONG 2 Universidade da Beira Interior

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INTRODU??O

O desporto ? estudado como um fen?meno que contribui para melhor educa??o, maior integra??o social, para a sa?de e qualidade de vida dos cidad?os e, ? um contribuinte l?quido para o PIB dos pa?ses. N?o sendo ainda poss?vel calcular o contributo global como ind?stria, s?o v?rias as abordagens para encontrar uma metodologia adequada de c?lculo do impacto econ?mico de eventos ou megaeventos desportivos que versam diferentes modalidades em diversas competi??es (nacionais, mundiais, Ol?mpicos). Alguns dos ensaios focam apenas os efeitos econ?micos prim?rios, outros tentam estender a an?lise para incluir os efeitos indiretos e induzidos. Na Uni?o Europeia, o Livro Branco do Desporto (UE, 2007) inclui sec??es sobre o papel social, a dimens?o econ?mica e a organiza??o do desporto. Os governos, em conjunto com as organiza??es de educa??o e sa?de, est?o sobretudo focados na inclus?o social de v?rias minorias e na melhoria das condi??es de vida e sa?de da popula??o que ajudam a diminuir os custos com as pol?ticas. Embora os efeitos prim?rios positivos descritos acima sejam medidos em emprego, crescimento e novo financiamento, o desporto serve este ?ltimo objetivo com "efeitos de poupan?a de dinheiro", enquanto os contribuintes v?o pagar menos para o mesmo n?vel de sa?de. A medicina aceita hoje que o exerc?cio e atividade f?sica regulares s?o receita complementar ? prescri??o qu?mica para debelar v?rias doen?as sociais (obesidade, diabetes, osteoporose etc.). Dentro da UE foi criado um grupo de trabalho sobre "Desporto e Economia" em 2006 com o objetivo de elaborar uma defini??o estat?stica comum do desporto e criar um m?todo para ilustrar o impacto econ?mico do desporto na UE, com base em contas sat?lite nacionais do desporto (CSD) e tratando o desporto como um setor industrial. Em Portugal, o autor participa num grupo de trabalho espec?fico constitu?do por representantes de outras universidades, do IPDJ e do INE, desde Fevereiro 2015 e com o objetivo de constru??o de uma CSD nacional. A inexist?ncia de CSD em Portugal elimina desde logo a possibilidade de uso de todas as metodologias de impacto mais conhecidas, baseadas nas matrizes InputOutput (I-O) que permitem calcular efeitos multiplicadores. Um estudo de caso completa a informa??o importante deste assunto.

A problem?tica Organiza??es desportivas, federa??es, clubes, autarquias e outros respons?veis pelas pol?ticas p?blicas querem fundamentar as suas decis?es e encomendam estudos econ?micos de impacto de determinados investimentos. A informa??o obtida nem sempre resulta de metodologias rigorosas, o que induz em erro os decisores e provoca preju?zos desnecess?rios com perda de bem-estar coletivo. Recolhemos uma resenha de alguns estudos que demonstram bem as discrep?ncias de resultados anunciados: - A edi??o deste ano (2013) do WRC Vodafone Rally de Portugal gerou um impacto econ?mico total no valor de 101,734 milh?es de euros. - A edi??o deste ano (2014) do WRC Vodafone Rally de Portugal gerou um impacto econ?mico total no valor de 109,522 milh?es de euros.

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- Edi??o de 2015, com um investimento que rondar? os 3,5 milh?es de euros, prevemos atingir um impacto econ?mico na regi?o de mais de 101 milh?es de euros, o que, claramente, justifica a aposta do turismo e dos munic?pios da regi?o". Outros casos: - o impacto econ?mico do Campeonato Europeu de Futebol, realizado em Portugal no ano passado, atingiu os 440 milh?es de euros. ge_os_440_milhoes_de_euros.html - o cl?ssico entre Benfica e FC Porto, 2015, pode gerar um impacto econ?mico de 23 milh?es de euros. - a Volvo Ocean Race traz impacto de pelo menos 50 milh?es Nota: links foram consultados em 11 setembro 2015 S? em 2007 - 12 anos ap?s o caso Bosman de 1995 - a UE chegou a um acordo sobre quais as transa??es, gastos, investimentos e bens a considerar como atividades econ?micas de desporto! Como poder?amos ent?o chegar a medir impactos econ?micos antes dessa data? Enquanto as CSD n?o estiverem conclu?das e as tabelas Input-Output (I-O) n?o estiverem decompostas resta-nos fazer estudos de caso, ensaiar metodologias e aperfei?oar instrumentos de medida. Foi essa a motiva??o deste artigo, para o que se usou um caso de desporto motorizado que permite comparar com estudos divulgados para Portugal.

Fundamenta??o te?rica do estudo O desejo de viajar por ocasi?o de eventos desportivos continua a ser elevado (Carvalho & Louren?o, 2009; Turco & Swart, 2012). Espera-se que aumentem o orgulho regional/nacional e que as infraestruturas desportivas sirvam de alavanca econ?mica e posterior uso local. Os benef?cios econ?micos esperados centram-se na cria??o de emprego, no aumento do turismo, do com?rcio e do desenvolvimento de neg?cios com melhoria da imagem e qualidade do perfil da cidade como destino tur?stico (Swart & Bob, 2012). Eventos desportivos de maior dimens?o constituem oportunidades diretas de gastos para os turistas da modalidade desportiva e induzem benef?cios indiretos para a economia anfitri?, bem como favorecem, no p?s-evento, o turismo relacionado com a consci?ncia do destino e melhorias na mobilidade infraestrutura urbana (Preuss, 2007). A import?ncia econ?mica de eventos desportivos e seus impactos sobre o pa?s ou cidade anfitri? est?o a aumentar (Kaspar & Kaiser, 2013) e depender?o muito de estrat?gias e instrumentos adequados para implementar as a??es (Taks et al., 2015). Quando bem geridas, as parcerias locais e a coordena??o no ?mbito de um evento desportivo podem criar redes sociais mais densas, conectando a popula??o local para apoio ao evento criando benef?cios para as empresas locais. No entanto, estudos de impacto econ?mico s?o

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bastante contestados, em grande parte devido ? disparidade de resultados para eventos de id?ntica dimens?o (Preuss, 2011). Um dos principais desafios para determinar o impacto econ?mico de um evento desportivo ? conhecer os padr?es de consumo dos visitantes, o n?mero de pessoas que visitam a cidade por essa raz?o e quais as mudan?as introduzidas pelo evento no padr?o de consumo dos moradores. Os impactos de eventos s?o impulsos de curto prazo (Preuss, 2007) e os impactos econ?micos s?o causados principalmente pelo consumo. Ao calcular o impacto econ?mico global, a quantidade de visitantes do evento deve ter em conta o efeito de evic??o, que mede a quantidade de pessoas locais que evitam o evento (saindo da cidade, por exemplo). A fim de medir o impacto prim?rio, ser? apropriada uma "abordagem de baixo para cima", como exposto por Preuss (2011), para determinar os padr?es de consumo individuais, incluindo o n?mero de noites em alojamento, a sua motiva??o para visitar a cidade, bem como o n?mero bruto de visitantes; essa informa??o consegue-se atrav?s da realiza??o de question?rios aos visitantes e outros grupos interessados. Preuss et al. (2007) identificam quatro diferentes grupos de visitantes do evento a ser as pessoas afetadas por eventos que n?o entram na regi?o devido ao evento: espectadores, turistas e excursionistas e residentes que participam do evento. Estes grupos podem ainda ser ilustradas como se segue:

Figura 1- Movimentos de Pessoas afetadas por eventos durante o tempo do evento Preuss (2007)

A dimens?o do evento tem efeito nos impactos negativos; em megaeventos desportivos os impactos negativos s?o maiores do que em eventos de pequena e m?dia dimens?o que podem beneficiar a economia local uma vez que n?o exigem grandes investimentos de

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estrutura (Taks et al. 2011). Por essa raz?o, a medi??o de fugas de rendimento (leakages) n?o ? t?o significativa em eventos de pequena e m?dia dimens?o, como no caso do Neste Oil Rally Finland.

Metodologia do estudo emp?rico O `Neste Oil Rally' ? um dos treze eventos do World Rally Championship (WRC) que se realizam em todo o mundo, todos os anos e o estudo ? um dos que tenho participado desde h? 4 anos. ? um dos maiores eventos desportivos anuais na Finl?ndia e na Escandin?via. O rali ? muito atrativo para os espectadores tendo estado presentes multid?es nas diversas fases/etapas especiais do evento. No geral, o rali finland?s consiste em 23 diferentes etapas especiais, num total de 334,2 quil?metros. Uma das metas do estudo ? gerar informa??es valiosas para o organizador, com a finalidade de melhorar e desenvolver o evento. A recolha de dados foi realizada antes, durante e ap?s o evento (01-03 agosto de 2013) usando iPads e software de pesquisa Webropol. O inqu?rito aplicado foi constru?do pela Sport Business School, Jyv?skyl?, Finl?ndia no ver?o de 2013, uma cidade de tamanho m?dio, com 135.000 habitantes e conhecida como uma cidade de desportos na Finl?ndia. Todos os dados foram coletados nos meses de junho e setembro de 2013, antes, durante e ap?s o evento. A pesquisa realizada foi de natureza quantitativa e os dados foram recolhidos por meio de question?rios estruturados adequados para cada grupo entrevistado. Os grupos inclu?ram espectadores, convidados VIP, representantes dos media, membros das equipas de rali e moradores participantes de Jyv?skyl?. Os espectadores do rali foram entrevistados em tr?s fases distintas, os membros do quartel-general do rali foram entrevistados na sede e no parque de servi?o; os convidados VIP foram entrevistados em tr?s ?reas VIP diferentes em tr?s etapas especiais diferentes. As entrevistas foram realizadas por funcion?rios especificamente treinados por elementos da Sport Business International e por estudantes especialmente formados a partir da Finl?ndia e Pa?ses Baixos. No geral, foram 40 estudantes e 6 funcion?rios que participaram do processo de investiga??o. Os question?rios foram concebidos na unidade de investiga??o do Sport Business School Finl?ndia e desenvolvidos com base em estudos de impacto previamente realizados e assentes numa revis?o da literatura relevante existente. Os dados de impacto econ?mico direto inclu?ram o consumo de participantes membros da equipe de rali (115 entrevistas pessoais a partir de 95 equipas), espectadores e convidados VIP (968 entrevistas) durante o evento de rali e membros dos media credenciados (38 respostas ao p?s-evento em levantamento via Web). Os entrevistados foram selecionados por amostragem aleat?ria. Tamb?m os impactos econ?micos do evento sobre o volume de neg?cios anual de associa??es sem fins lucrativos que organizam os est?gios especiais e outros servi?os para o organizador do evento foram estudados (32 respostas no levantamento via Web). No total, foram analisadas 1153 respostas. Uma vez que os espectadores do rali podiam participar em mais de uma ocasi?o dentro do evento, a quantidade de etapas especiais visitadas foi tida em conta no c?lculo do n?mero de espectadores (cada espectador participou de 2,2 etapas especiais e a por isso se dividiu

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