Repositório Aberto
Maria Adelaide Pereira Teles da SilvaRelatório de Estágio no Mestrado em Ensino de Português Língua Segunda / Língua Estrangeira Contos e Lendas Populares Portuguesesnas Aulas de PLE2012Orientador: Professor Doutor Luís FardilhaClassifica??o: Ciclo de EstudosDisserta??o: vers?o difinitivaUNIVERSIDADE DO PORTOFACULDADE DE LETRASContos e Lendas Populares PortuguesesNas Aulas de PLEUMA EXPERI?NCIA METODOL?GICA Relatório final apresentado à Faculdade de Letrasda Universidade do Porto para obten??o do graude Mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira, sob a orienta??o do ProfessorDoutor Luís FardilhaDedicatóriaA Deus, por me ter concedido esta oportunidade, nesta fase da minha vida.AgradecimentosAo meu orientador, Professor Doutor Luís Fardilha, por me apoiar em tudo o que precisei para a realiza??o deste trabalho e a quem agrade?o toda a paciência e disponibilidade que teve para comigo.Ao meu marido, pelo seu amor, apoio e paciência;Aos meus filhos, Xana, Bruno e Diogo, ao meu genro, noras e netos, pela sua ajuda, incentivo e apoio incondicional;Aos meus pais por se orgulharem de mim.A todos os que me apoiaram nesta longa caminhada, professores, colegas, amigos e familiares.“A narrativa [oral] está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, come?a com a própria história da humanidade (…)”.(Barthes, 1976: 19)Resumo O Português é falado por mais de 200 milh?es de pessoas repartidas por todo o Mundo. Daí a crescente procura da aprendizagem da nossa língua. Além disto, há muitos estudantes estrangeiros e imigrantes a viverem no nosso país que querem aprender o português, tanto por raz?es académicas, como por motivos profissionais ou de integra??o social. Com este trabalho, pretendemos, através do relato de uma experiência pedagógica, verificar a viabilidade de utiliza??o de alguns métodos e estratégias que podem contribuir para a compreens?o dos contos populares e lendas, num contexto de contacto dos estudantes de PLE com a cultura popular de raiz nacional. Há algumas décadas, as pessoas que emigravam eram, praticamente, obrigadas a viver de acordo com a cultura do país de acolhimento. Isso acontecia também em Portugal; no entanto, hoje, a realidade é diferente e cada um procura respeitar a cultura do outro, n?o descurando, porém, a cultura do país que o acolhe, pois isso só o enriquece. ? por isso que pensamos ser importante a introdu??o da cultura popular portuguesa nas aulas de PLE. Este tipo de cultura interessará aos alunos estrangeiros, na medida em que, ao tomarem contacto com ela, se sentir?o mais integrados na sociedade portuguesa. A cultura popular e, no caso da experiência que ensaiámos, o conto e as lendas, s?o importantes em qualquer civiliza??o, pois fazem parte das nossas raízes e das raízes dos nossos alunos. “Os contos, as lendas e os mitos” ajudam-nos a entender o mundo em que vivemos. Neste sentido, apresentamos algumas reflex?es sobre os métodos e estratégias utilizadas nas aulas de PLE e, na sequência desta reflex?o, alguns dos materiais selecionados e trabalhados com os alunos.Palavras-chave: conto, popular, narrativa, cultura, leitura, escrita, oralidade. ?ndice TOC \o "1-3" \h \z \u 1. Introdu??o PAGEREF _Toc336280932 \h 82. A aula de Língua Portuguesa para estrangeiros é um espa?o cultural, por excelência. PAGEREF _Toc336280933 \h 113. A import?ncia da Literatura Tradicional nas aulas de PLE PAGEREF _Toc336280934 \h 144. Uma sele??o de contos que, pensamos, poderá motivar os alunos nas aulas de PLE. PAGEREF _Toc336280935 \h 186. O Conto Tradicional na Forma??o do Aprendente PAGEREF _Toc336280936 \h 227. Caraterísticas do conto popular PAGEREF _Toc336280937 \h 248. Estratégias utilizadas na abordagem do conto popular PAGEREF _Toc336280938 \h 298.1.Na leitura PAGEREF _Toc336280939 \h 298.2.Na escrita PAGEREF _Toc336280940 \h 338.3.Na oralidade PAGEREF _Toc336280941 \h 35Da teoria à prática: Reflex?o sobre as propostas apresentadas abordando a cultura tradicional PAGEREF _Toc336280942 \h 399.1. Reflex?o sobre a primeira proposta: “A Lenda de D. Sebasti?o” PAGEREF _Toc336280943 \h 409.2. Reflex?o sobre a segunda proposta: A lenda da “Sopa de Pedra” PAGEREF _Toc336280944 \h 519.3. Reflex?o sobre a terceira proposta: “O Aprendiz de Mago” PAGEREF _Toc336280945 \h 6510. Conclus?o79Bibliografia PAGEREF _Toc336280947 \h 81Anexos PAGEREF _Toc336280948 \h 861. Introdu??oQuando se conhece bem uma cultura, consegue-se uma melhor integra??o no seio da comunidade que nos acolhe. No caso dos estrangeiros em Portugal, há todo o interesse em que conhe?am a cultura popular do nosso povo. Por esse motivo entendemos que seria adequado escolhermos como núcleo da nossa experiência pedagógica no quadro do estágio curricular obrigatório, a utiliza??o da literatura tradicional enquanto recurso didático no processo de ensino e aprendizagem do PLE.Este tipo de textos foi originalmente transmitido de maneira oral e assim foi passando de gera??o em gera??o, num processo em que cada história era contada de um modo pessoal, ou seja, cada narrador disponibilizava o conto à sua maneira, de acordo com a sua personalidade própria e adaptando-o ao público e às circunst?ncias específicas de cada atua??o. Por isso, diz o povo que “quem conta um conto acrescenta um ponto”, uma express?o que remete a produ??o das narrativas populares originalmente para o domínio das artes performativas. Hoje, os contos s?o-nos transmitidos por escrito, mas, ocasionalmente, alguns pais e avós ainda contam histórias aos seus filhos e netos, oralmente, e eles gostam de as ouvir, apesar de poderem conhecê-las, em vers?es livres ou adaptadas, através dos livros ou filmes. ? sempre bom ouvir uma história contada, oralmente, e na perspetiva de outra pessoa.A cultura popular – e, neste caso específico, o conto –, seja de origem nacional ou transversal a outros povos e civiliza??es, é importante na forma??o de todos os indivíduos, pois faz parte das nossas raízes mais profundas e das raízes dos nossos alunos, sejam quais forem as suas origens, idades ou convic??es.Os contos, as lendas, os mitos… ajudam-nos a entender o mundo em que vivemos e a entendermo-nos a nós próprios, enquanto pessoas singulares e membros duma comunidade humana. S?o histórias que falam do início das coisas, da primeira cria??o, de heróis e anti-heróis, de bruxas e fadas que s?o deusas, de drag?es e castelos, monstros e príncipes… Os heróis partem em busca da utopia, em defesa dos fracos, semeando a Justi?a e a Paz, pertinazes na busca de um mundo melhor, onde a igualdade de oportunidades, a fraternidade universal e o desejo de liberdade, sejam bens planetários. N?o é por acaso que hoje, com a sociedade em profunda crise de valores, se procura, de novo, a riqueza e a profundidade psicológica que os mitos, as lendas e os contos tradicionais encerram. Vivemos em círculo permanente. ? urgente e indispensável um retorno à tradi??o ancestral.O “fundo comum”, presente no património das diferentes línguas, expresso em narrativas populares que partilham ingredientes comuns (personagens, situa??es, dilemas…), ou que prop?em ensinamentos convergentes, une a generalidade dos povos e civiliza??es.A Literatura de tradi??o oral integra-se no corpus muito mais vasto da Literatura Popular que se difundiu por todo o planeta desde o início da humanidade.Em Portugal, é o movimento do romantismo que vem despertar consciências no sentido de valorizar esta arte de express?o predominantemente oral e popular e a vai retirar da marginalidade onde estava adormecida.Ernesto Veiga de Oliveira (1999) faz algumas reflex?es sobre este tema, referindo que em Portugal o gosto e o interesse esclarecido pela tradi??o popular, onde cabe tanto a literatura oral como as cren?as e os costumes, se manifestam de modo expresso no dealbar do Romantismo, coincidente com o advento do Liberalismo, como uma afirma??o de puros valores literários, nomeadamente em Garrett e em Herculano, cuja atividade se desenrola ao longo da primeira metade do século XIX, replicando no nosso país o mesmo fenómeno cultural que se verificava ent?o na Europa em geral e mormente na Inglaterra e na Alemanha, representando uma das linhas de for?a em que se apoia e que contribuem para a defini??o daquele movimento, pela sua equipara??o com as raízes genuínas da identidade nacional, a exalta??o medievalista e a recusa da heran?a classicista. (Oliveira, 1999:13-14)? justo também referir que esta valoriza??o da arte do povo n?o interessou só os rom?nticos do século XIX, pois, segundo Adolfo Coelho (citado por Oliveira), “muitos dos grandes espíritos dos séculos XVI, XVII e XVIII […] reconheceram […] o valor das tradi??es populares. Lutero dizia que n?o se privaria por nenhum ouro do mundo das histórias maravilhosas que ouvira na sua inf?ncia; e Leibniz fala da ajuda e inimitável for?a de inven??o que se acha nos jogos tradicionais” (Oliveira, 1999:15).A primeira preocupa??o de etnólogos, sociólogos, antropólogos e outros investigadores dos fenómenos culturais foi, de facto, n?o deixar que a memória do povo, enquanto origem de todos nós, se perdesse. Come?am ent?o as recolhas deste saber saído do verbo popular. Almeida Garrett foi, sem dúvida, um precursor com o Romanceiro (1843) e as suas histórias em verso; depois, seguiram-se-lhe Adolfo Coelho, Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso, Leite de Vasconcelos. De entre os muitos autores e autoras contempor?neos que se dedicam à recolha e reescrita de literatura oral, podemos referir os nomes de Alice Vieira, António Torrado, Maria Alberta Meneres, Luísa Ducla Soares, Alexandre Parafita…“Quando as primeiras histórias escritas come?am a circular iniciam-se também estudos de antropologia cultural, semiologia, filologia, gramática e mitologia comparada para cavar mais fundo e descobrir respostas para as quest?es existenciais dos contos populares: quem somos? De onde vimos?O conceito e a origem, duas vertentes muito exploradas e escritas, têm dado luz a uma panóplia de opini?es que n?o se cansa de problematizar a quest?o. Até hoje!” (MACHADO 2008:11) “No final do século XX, Portugal passou, rapidamente, de país de emigra??o a país de acolhimento e a heterogeneidade sociocultural e diversidade linguística tornaram-se tra?os caraterísticos de uma sociedade cada vez mais multicultural.” (OLIVEIRA e SEQUEIRA 2012: 24)De facto, este fenómeno migratório trouxe gente de todos os cantos do mundo (das colónias portuguesas, da China, imigrantes do Leste Europeu, do Brasil, etc.), o que obrigou o país a uma nova reorganiza??o escolar. A partir daí, tornava-se importante olhar para a diversidade cultural e linguística destes povos que nos procuravam e aos quais era preciso dar uma resposta adequada e pronta. Depois de vários insucessos, pensamos que, atualmente, as coisas est?o minimamente controladas e os filhos de imigrantes já est?o mais ou menos integrados na nossa sociedade.Ainda há muito a fazer, mas, atualmente há uma maior abertura no sentido da integra??o destes povos na sociedade portuguesa. E, se temos de come?ar por algum lado, porque n?o pela cultura popular portuguesa que é aquela com que eles têm contacto mais cedo? O conhecimento da cultura popular, nomeadamente os contos e lendas, é muito importante para a integra??o na sociedade portuguesa, facilitando a frui??o das suas tradi??es e a ades?o aos seus costumes. 2. A aula de Língua Portuguesa para estrangeiros é um espa?o cultural, por excelência.As atividades desenvolvidas na aula de língua portuguesa para estrangeiros (PLE) têm assumido, ao longo dos tempos, diversas modalidades, em fun??o de diferentes variáveis, como sejam os objetivos perseguidos, os métodos de ensino e de aprendizagem utilizados, os públicos de aprendentes a que se destinam.Hoje, a aula de PLE constitui-se, fundamentalmente, como um espa?o de intera??o cultural, onde se evidencia a heterogeneidade das pessoas (professor/a e alunos/as) que nela participam, heterogeneidade esta feita de diferen?as mas também de similitudes, umas e outras detetáveis n?o só no conhecimento e no uso que se faz/tem da língua em estudo, mas também no aspeto socio-relacional que ela instaura, e, ainda, na heterogeneidade face aos falantes autóctones da língua estrangeira que é objeto de aprendizagem.Tendo, no seu próprio gene, a presen?a do Eu e do Outro, a língua (corpo din?mico que nos leva a estabelecer e explorar la?os de comunica??o, preservando a identidade particular de cada um) é, por excelência, resultado e meio de socializa??o (VYGOTSKY 2007) que, por sua vez, n?o deixa de, num efeito boomerang, nela se refletir/construir. Fruto de conven??es (linguístico-culturais) de índole social, o seu uso coletivo garante-lhe a for?a necessária da consolida??o, da sobrevivência e da necessidade, de que a sala de aula de LE procura dar eco.“Ao ser entendida, simultaneamente, como instrumento de comunica??o (inter e intrapessoal), mas também como sistema de representa??o, a língua é fazedora de cultura, capaz de construir ou destruir rela??es sociais” (BIZARRO e BRAGA 2005: 828).Já Lévi-Strauss “estabelece um fio condutor entre língua, pensamento e cultura, enfatizando que– A língua é produto da cultura, dado que o seu uso reflete as caraterísticas gerais de uma sociedade, adapta-se a ela e com ela evolui (cf. cria??o de neologismos);– A língua é parte integrante da cultura, a par das institui??es, das cren?as, dos costumes, perspetivando-se como instrumento, mas também como institui??o e como produto social;– A língua é condi??o de cultura, já que é gra?as a ela que a cultura se transmite, preferencialmente, através da educa??o, que ajuda, por exemplo, a caraterizar, equilibrar e desfazer atitudes e representa??es” (apud BIZARRO e BRAGA 2005: 829).Segundo Galisson, “ao definir-se como prática social e produto sócio histórico, a língua é o melhor meio de acesso à cultura, já que é, simultaneamente, veículo, produto e produtor de todas as culturas. Enfatizar a import?ncia e inevitabilidade do ensino e aprendizagem de quest?es culturais no ?mbito da aula de LE é, por conseguinte, uma necessidade que se imp?e e que, por isso, convém equacionar também em termos metodológicos” (apud BIZARRO e BRAGA 2005: 829-830).O conhecimento da cultura popular, nomeadamente os contos e lendas, é de vital import?ncia para a compreens?o do povo português e das suas tradi??es. Quando se conhece bem uma língua e uma cultura, consegue-se melhor a integra??o no seio da comunidade que as acolhe.Através de lendas como a de D. Sebasti?o, os alunos ficar?o a conhecer um pouco mais da História portuguesa, pois para além desta lenda aludir ao que se passou na batalha de Alcácer Quibir, permite também evocar a realidade histórica que a envolveu. O que se passou antes e depois dela e o que a tornou numa lenda t?o importante para o povo português. ? também um dos elementos mais marcantes na idiossincrasia nacional, como é a “saudade”.O povo estava triste e desanimado e procurava, a todo o custo, encontrar algo ou alguém que lhe desse alguma esperan?a. Esse alguém era D. Sebasti?o, aquele que foi t?o desejado e que t?o novo lhes foi “tirado”.D. Sebasti?o morreu no Norte de ?frica, mas o povo sempre acreditou que ele estava vivo e que viria para salvá-lo. Por isso, era importante manter a lenda viva. E assim aconteceu durante séculos. “A tradi??o oral é a transmiss?o de saberes, pelo povo, de gera??o em gera??o, isto é, de pais para filhos ou de avós para netos. Estes saberes tanto podem ser os usos e costumes das comunidades, como podem ser os contos populares, as lendas, os mitos e muitos outros textos que o povo guarda na memória (provérbios, ora??es, lengalengas, adivinhas, cancioneiros, romanceiros, etc.). Também s?o conhecidos como património oral ou património imaterial. Através deles cada povo marca a sua diferen?a e encontra-se com as suas raízes, isto é, revela e assume a sua identidade cultural” (PARAFITA 2005: 30).3. A import?ncia da Literatura Tradicional nas aulas dePLE O conto popular português pode promover uma aprendizagem significativa, na medida em que, para além dos conhecimentos puramente linguísticos, pode levar o aluno estrangeiro a ligar tudo o que já aprendeu sobre cultura popular, no seu país, àquilo que está a aprender de novo, favorecendo a aquisi??o da cultura portuguesa num quadro de interculturalidade. Neste contexto, tendo o conto popular a mesma estrutura (narrativa curta, linguagem simples, poucas personagens, o enredo…) em todos os países, o estudante poderá recuperar as suas aprendizagens prévias, de modo a fazer uma rela??o entre o conto popular português e o conto popular do seu país.Ao mesmo tempo que o aluno estrangeiro aprende a língua portuguesa, é conveniente que a ela se associe o ensino dos costumes e tradi??es mais caraterísticos do(s) povo(s) que a fala(m). Ora, sendo o conto popular uma tradi??o do povo português é natural a sua integra??o nas aulas de Português para estrangeiros. Torna-se imprescindível que o aluno estrangeiro conhe?a este tipo de literatura popular, que outrora circulava de boca em boca entre o povo.Por conseguinte, achamos importante a proposta de atividades a desenvolver na aula de PLE que incluam o conto popular. Este tipo de atividade pode promover, na sala de aula, um clima descontraído, o que pode aumentar a motiva??o dos alunos e, por consequência, um maior progresso na aquisi??o de competências na língua portuguesa. Por outro lado, o conto constitui uma ferramenta útil na descodifica??o de mensagens, valores e atitudes, que podem ajudar o aluno no desenvolvimento de competências, tanto de caráter linguístico, como de natureza cultural, social e humana. - O conto, como narrativa simples, pode e deve ser lido de uma só vez, o que torna mais fácil o seu estudo e a sua compreens?o. - Representa, pela sua extens?o, uma menor sobrecarga de memória para a fixa??o da história e de outros pormenores relevantes. - Abrange uma ampla gama de assuntos, o que potencia a aquisi??o de novos vocábulos. - O enredo da história pode motivar os alunos para a produ??o oral ou escrita de novas histórias. - Permite a planifica??o de atividades variadas que fazem intervir diferentes competências: ler, escrever, ouvir e falar.Os nossos alunos podem ir buscar às suas memórias, histórias que ouviram enquanto crian?as e transportá-las para o presente. Nesta altura, podem compara-las com as histórias portuguesas e fazerem as suas liga??es e/ou compara??es e, até a partir daí organizarem as suas próprias histórias. ? só p?r a imagina??o a trabalhar. Neste caso é o que pretendemos, motivar os alunos para outros textos produzidos por eles. Raúl Ruiz Cecilia fala-nos do contexto espanhol, mas que também pode ser aplicado ao estudo das línguas estrangeiras em Portugal. O autor afirma que: “En el contexto educativo espa?ol, los textos que se han utilizado en el aula de idiomas (primaria, secundaria y bachillerato) se articulan en torno a dos grandes ejes. Aquellos textos cortos (de uno a cinco párrafos en extensión) centrados en lectura intensiva, y aquellos otros (normalmente lecturas graduadas) destinados al fomento de la lectura extensiva. La historia corta, como variante del género novelesco, rara vez ha sido el centro de interés en la praxis del aula de idiomas. Este bloque pretende destacar el potencial de la historia corta como instrumento para mejorar las competencias estética, intercultural, lingüística, comunicativa e interactiva de los aprendices de LE. Históricamente, y de acuerdo con Cuddon (1992: 864-876), se pueden encontrar numerosos ejemplos de historias cortas en la literatura mundial. Así, en la Edad Media destacan los Canterbury Tales de Chaucer o algunas historias del Decameron de Boccaccio. Posteriormente, Cervantes publica sus Novelas Ejemplares y en Francia se desarrolla el cuento (considerado como un tipo de historia corta).” (CECILIA (2007: 252-254) Deste ponto de vista, o conto como história curta pode ajudar os alunos n?o só culturalmente como didaticamente, pois como concretiza o mesmo Raúl Ruiz Cecilia, a história curta tem muitas vantagens: “a) La historia corta está pensada para ser leída de una sola vez. Esta peculiaridad permite que la concentración del sujeto lector sea mucho mayor, percatándose de más detalles y facilitando la asimilación cognitiva.b) La historia corta se ha convertido en un género muy productivo en las últimas décadas. Por ello, desde un punto de vista temático, abarca a un abanico amplio de géneros: ciencia ficción, fantasía, misterio, aventura, realista, romántico… Esta variedad temática permite encontrar historias que se amoldena los intereses individuales del sujeto lector en la clase de LE.c) La historia corta ofrece ejemplos auténticos de la lengua en contextos educativos de LE.d) La extensión es otro factor a considerar para exponer las ventajas que la historia corta presenta. ?sta permite que el lector acceda más fácil al mecanismo mental de recuperación de la información. Obviamente hay menos detalles para recordar y resulta más fácil el diálogo intrapersonal con la información almacenada en las estructuras cognitivas del sujeto.e) El sujeto lector, si no se siente involucrado en la trama de la historia, puede cambiarla (incluso una vez concluida) sin que tenga la sensación de pérdida de tiempo puesto que el tiempo empleado no habrá sido superior a las 3 o 4 horas.f) El profesorado de LE debería incluir en la biblioteca de aula historias cortas que representen las literaturas inglesas en plural y no se restrinjan solamente al ámbito británico o estadounidense.g) En el caso en que el discente de LE quiera volver a releer la historia para recordar algún detalle o para comprobar si una nueva hipótesis tiene cabida, lo pueden hacer rápidamente (tal y como venimos exponiendo en los puntos anteriores).h) Muchas veces, el alumnado se queja de la falta de tiempo para compatibilizar la lectura con las tareas escolares. La historia corta puede ser una alternativa ya que, en días de sobrecarga escolar, los estudiantes lectores pueden optar libremente por una historia accesible y amena.i) La historia corta se presta fácilmente para el dise?o y puesta en práctica de tareas del corte de ?transferencia informativa? (information transfer). Las tareas resultantes pueden llevarse a cabo en clase. Podríamos sugerir las siguientes:— dramatización (destreza oral)— cuenta cuentos (compresión y expresión oral)— transferencia de géneros (destreza escrita)— apreciación de matices culturales y su proyección didáctica (destreza intercultural).” Por tudo isto, pensamos ser importante a integra??o do conto popular nas aulas de PLE. Porque é uma narrativa curta e simples (ao nível da mensagem), com personagens do nosso imaginário e do imaginário dos nossos aprendentes, com histórias bonitas, de reis e princesas, fadas boas e bruxas más, etc. 4. Uma sele??o de contos que, pensamos, poderá motivar os alunos nas aulas de PLE. A sele??o dos contos a apresentar aos alunos n?o pode ser feita ao acaso, devendo obedecer a critérios previamente definidos em fun??o das caraterísticas da turma e, por outro lado, em fun??o da sua pertinência para cumprir o objetivo principal de chamar a sua aten??o para a cultura popular portuguesa. Em particular, a escolha deve contemplar alguns temas variados, para que as histórias n?o se tornem desmotivadoras para os alunos. Assim, para além de evitar o cansa?o, a diversidade de conteúdos poderá proporcionar-lhes o contacto n?o só com um tema, mas com vários, os quais poder?o agu?ar a sua curiosidade em rela??o a outras dimens?es da cultura popular portuguesa.Tendo presentes estas preocupa??es, procurámos respeitar os critérios referidos e perseguir os objetivos enunciados, pelo que escolhemos para a primeira aula do primeiro semestre apresentar uma lenda especialmente significativa da especificidade da cultura portuguesa: a “Lenda de D. Sebasti?o”. Através da figura lendária de D. Sebasti?o e do sonho sebastianista que lhe anda associado desde Alcácer-Quibir, os alunos puderam tomar contacto com um pouco da história de Portugal e com a cren?a que o povo conservou durante séculos. Através desta história surgiram perguntas acerca deste rei português e do que dele se sabe como verdade histórica. Para além disso, houve todo um conjunto de atividades que levaram à apreens?o de novos vocábulos, através de técnicas diversificadas para os descodificar.Na segunda aula, recorremos a um conto propriamente dito, uma narrativa que, segundo a tradi??o popular, está na origem da “sopa de pedra”. Esta história centra-se na figura de um frade muito astuto que conseguiu fazer uma sopa completa e rica, tendo à partida unicamente uma pedra. Usando a sua astúcia e pedindo apenas um ingrediente de cada vez, conseguiu obter dos camponeses que encontrou todos os ingredientes necessários à confe??o de uma refei??o que, a princípio, parecia impossível de obter.Para o segundo semestre, embora os materiais a utilizar n?o possam reduzir-se exclusivamente ao conto popular (pois é necessária a introdu??o de outras leituras que também s?o importantes), trabalhamos o conto “O aprendiz de mago”, recolhido e fixado por Teófilo Braga, por pensarmos que se trata de um conto que tem muita rela??o com histórias cinematográficas exibidas atualmente. ? uma história que alude ao universo da magia, o que poderá, segundo julgamos, criar nos alunos um clima de descontra??o e levá-los a ter um bom momento de estudo. Aqui apelamos à imagina??o dos aprendentes ao propormos-lhes a escrita de um conto do seu país.Esta narrativa centra-se num jovem aventureiro, cujo padrinho era mago/mágico, a quem ele desobedeceu ao abrir as portas que n?o poderiam ser abertas por nada deste mundo. A partir daí surgem uma série de peripécias que o jovem consegue ultrapassar e, no fim, ter a devida recompensa.Outros contos poder?o ser propostos aos alunos em contexto de aula e outros ainda poder?o ser sugeridos para leitura voluntária fora da aula, como motiva??o para uma melhor e mais completa compreens?o da cultura popular portuguesa. Como já foi referido, um dos objetivos desta sele??o foi trabalhar temas variados. Estes contos foram escolhidos com uma inten??o pedagógica, pois, através deles, podemos trabalhar as várias competências: leitura, oralidade e escrita, pois os contos populares prestam-se a esse tipo de a??es.A op??o pelo conto popular português prende-se com o facto de ser um texto simples, mas recheado de potencialidades. Estas facilitar?o a aprendizagem, ou continua??o da aprendizagem da língua portuguesa, pois o conto popular incorpora um conjunto de implícitos que abrem possibilidades diversas de interpreta??o e podem alimentar a imagina??o contribuindo, deste modo, para levar o aluno a uma melhor apreens?o e conhecimento, n?o só da língua, mas também da cultura portuguesa.As turmas nas quais fiz estágio (nível B), eram muito heterogéneas, pois tinham alunos de vários países (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, Polónia…) e, por conseguinte, eram constituídas, também, por muitas culturas e por isso, enriqueceram, tanto os alunos como os professores. A partilha de culturas pode ser importante na aquisi??o de uma língua, só depende do interesse dos alunos em partilhá-las. Ao partilhar a sua cultura na língua que está a estudar, o aluno “arrisca-se” a falar muito mais e melhor, pois quanto mais comunicar mais aprende.Nas aulas de PLE é importante introduzirmos a cultura popular portuguesa, pois, ao mesmo tempo que o aluno está a aprender a língua, está também a adquirir novos conhecimentos que ser?o importantes para a sua forma??o académica e pessoal.5. Literatura Tradicional na Educa??o Intercultural“A narrativa [oral] está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, come?a com a própria história da humanidade (…).” (BARTHES 1976: 19).A Literatura Tradicional é de origem anónima e coletiva e pertence a diferentes povos e regi?es, atravessando todas as culturas. ? atualizada sempre que alguém se p?e no lugar de uma personagem e lhe dá “corpo” no ritual de transmiss?o acrescentando tra?os do seu universo cultural: “Quem conta um conto acrescenta um ponto”.“Fazendo parte do património mundial da humanidade, a Literatura de Express?o Oral é, concomitantemente, um meio milenar de afirma??o de identidade(s) e de aproxima??o entre os povos”. Sendo o Homo Sapiens um Homo Narrans, ouvir e contar histórias é-lhe inerente e proporciona-lhe a socializa??o: “A narrativa n?o é um ato mental individual, mas uma produ??o discursiva de natureza interpessoal e culturalmente contextualizada” (GON?ALVES 1998: 23, apud OLIVEIRA e SEQUEIRA 2012: 29).Para além de proporcionar o conhecimento de diversos universos socioculturais vivenciados pelos alunos, cremos que a Literatura Tradicional lhes oferece, também, a possibilidade de “abrir a sala de aula” a um leque de línguas, linguagens e de práticas que extravasam o que Formosinho (1991) designa como “currículo uniforme – pronto-a-vestir de tamanho único”, pois estas permitem romper com a pedagogia transmissiva e uniforme, articular respostas educativas à heterogeneidade dos alunos, valorizando a sua língua materna, as suas origens socioculturais, os seus valores, conhecimentos e capacidades. Na sociedade excessivamente materializada em que vivemos, há lugar para outras dimens?es, além da material, a que é preciso atender. A concentra??o dos indivíduos nas cidades tende a ser cada vez maior, com o modo de viver de todos cada vez mais ?urbanizado?. A ruralidade, com os seus benefícios, desde o contacto com a natureza, ao modo de viver natural, ao respeito pelos ritmos individuais... está a ser destruída. Os valores tradicionais perderam for?a e deixaram de ser considerados. A vida de hoje decorre a um ritmo alucinante. Falta disponibilidade para a reflex?o, diluiu-se a identidade, uma cultura artificial está a substituir a cultura assente nos valores herdados do passado, que se deterioraram muito e até se perderam. Ora, o recurso à literatura de raiz popular pode, de algum modo, responder à necessidade de recupera??o e preserva??o deste património. A literatura tradicional transporta do mundo do passado respostas pertinentes para o presente, que é preciso fazer chegar ao futuro. A literatura de origem popular desempenha uma ?fun??o compensatória? (BREDELLA 1989: 65) perante os problemas que hoje afetam o mundo e a humanidade. As formas variadas que assumem a literatura tradicional encerram o saber natural do povo, fruto de conhecimentos depurados ao longo dos tempos, diretamente transformados em cultura. Uma ?cultura popular?, originalmente de transmiss?o oral, n?o oposta à cultura dita ?letrada?, mas complementar a ela. O património da cultura tradicional tem, assim, um grande alcance formativo e educativo. Está no conto tradicional a alma popular, o povo depositário de valores, a experiência, a ordem original do mundo, a dimens?o ética no sentido da corre??o do mundo para uma convivência que n?o há” (MOREIRA 2006: 3).Quando é possível o recurso à transmiss?o oral no contexto escolar, este modo de disponibiliza??o das narrativas permite que o aluno, enquanto destinatário e coautor das histórias contadas, possa desenvolver a capacidade de escutar o outro atentamente, com respeito, e liberte a sua imagina??o. Enquanto emissor/contador, ele pode tomar consciência de que a eficácia da comunica??o n?o depende exclusivamente da linguagem verbal, mas, sobretudo, da sua atitude comportamental, que se alicer?a na linguagem n?o verbal, t?o frequentemente esquecida na sala de aula. Assim, os elementos para linguísticos (onomatopeias, interjei??es, pausas, silêncio, entoa??o, fluência, tom, volume e/ou timbre de voz, etc.), a cinésia (express?o gestual, facial) e a proxémia (gest?o da dist?ncia do espa?o interpessoal) podem ser trazidos à ribalta e trabalhados, para que a aten??o e a empatia da audiência sejam captadas, permitindo, a partir daí, uma rela??o de cumplicidade contador/ouvinte, de “coopera??o interpretativa” e de partilha, conducente à intera??o e à comunica??o intercultural, ou seja, a uma comparticipa??o ativa de todos.6. O Conto Tradicional na Forma??o do AprendenteAdvindo do passado, o conto tradicional, a par de outras realiza??es culturais humanas, transporta consigo um conjunto de fatores muito alargado – como informar, educar, estabelecer la?os entre grupos, conservar raízes, apresentar e combater desvios de comportamentos, ajudar a suportar o trabalho, suscitar reconhecimento e recompensa, galantear, enaltecer, recrear... e até, por vezes, ridicularizar e agredir. Tradicionalmente, ele serviu de espelho sociomoral e comportamental a indivíduos, e sobretudo a grupos sociais, e foi-se adaptando e alterando em fun??o disso. “O conto popular, porque tem correspondências especificas no interior dos grupos humanos, é aceite por eles e integra-se no conjunto das ?fun??es comunitárias?” (BLANCO P?REZ 1994 apud MOREIRA: 17). Como tal, pensamos que o conto tradicional deve fazer parte do estudo dos nossos alunos, n?o só pelo seu próprio valor (social, cultural, linguístico, literário…), mas também porque as comunidades precisam de referências que as orientem para melhor conhecerem o seu passado e poderem contribuir para um futuro melhor, mais esclarecedor e mais ciente da sua riqueza cultural. Deste modo, podemos e devemos elaborar materiais e desenvolver atividades que levem os nossos aprendentes a tomar consciência deste grande tesouro que é a literatura popular (nomeadamente os contos e lendas), e leva-los, n?o só ao estudo desta literatura mas também à elabora??o dos seus próprios contos/histórias (n?o só as histórias já existentes e que eles já conhecem mas também, e pondo o seu imaginário a trabalhar, a outras histórias). Isso só os enriquecerá a todos os níveis: cognitivo, cultural, linguístico… e será uma mais valia para a aprendizagem da língua.Neste sentido, é nosso dever, como professores de PLE, incentivar e motivar os nossos alunos (de nível B) para o estudo da literatura tradicional e fornecer-lhes algumas ferramentas que os possam ajudar neste processo de aprendizagem. Podemos aconselhar-lhes alguns textos, deixando, contudo, a escolha dos mesmos ao seu critério. Podemos ensinar-lhes algumas técnicas para a leitura e compreens?o dos textos. Podemos fazer com eles algumas atividades lúdicas, dramatiza??es… Foi com este objetivo que introduzimos nas nossas aulas de PLE três textos de express?o popular (“A Lenda de D. Sebasti?o”, “A Sopa de Pedra” e “O Aprendiz de Mago”). Com estes textos trabalhamos a vertente linguística e cultural. Em todos eles tentamos trabalhar as três competências: a leitura, a escrita e a oralidade (embora num ou noutro texto se tenha trabalhado mais uma do que outra.7. Caraterísticas do conto popular“O conto popular ou tradicional é um tipo de texto muito específico, pois trata-se de uma narrativa que terá existido inicialmente num espa?o bem definido – o da oralidade ? mas que chega até nós, apresentando-se num suporte escrito, registado justamente a partir de fontes orais” (DINE e FERNANDES 1999).Os contos, heran?a da tradi??o oral, para além de conterem fun??es de preserva??o do património do povo e alimenta??o do imaginário e fantasia dos ouvintes, s?o também a express?o da realidade social. Estas narrativas ?s?o primordialmente condicionadas pelas cren?as, pelos padr?es éticos, pelos usos e costumes desses mesmos grupos sociais…? (SILVA 2005: 143).?Contados aos ser?es, à lareira ou nas festas, os contos s?o o veículo de express?o de sonhos, conflitos e também da realidade, muitas vezes, n?o dita. Portanto, encontramos várias vezes, nas histórias da tradi??o oral, marcas do quotidiano da sociedade já desaparecida. Esses vestígios podem ser ainda a manifesta??o dos medos que aterrorizavam as pessoas, bem como os sonhos que ansiavam poder realizar um dia? (TRA?A 1998: 43-46). Quando relacionado com o conto literário, o conto popular exemplifica um género narrativo de uma literatura dita marginal, por gozar de canais pouco valorizados socialmente e n?o contemplados pelos c?nones da institui??o literatura: a transmiss?o oral e a autoria anónima.Atualmente, entende-se o conto popular como um tesouro cultural da língua e da literatura portuguesas, assim como também o é noutras culturas, designadamente as germ?nicas, aliás as pioneiras do estudo dos textos de índole popular, na Europa.O conto popular, assim como o conto literário, costuma ser definido por oposi??o ao género narrativo da novela, sendo critérios de distin??o a reduzida extens?o, a presen?a de poucas personagens e a existência de uma a??o restrita que se desenrola num esquema temporal simples.No vasto universo dos contos populares destacam-se, pela sua quase infinita diversidade: os contos maravilhosos ou mágicos, que s?o vulgarmente chamados “contos de fadas”; as fábulas – contos protagonizados por animais e que têm uma moralidade escondida que o leitor/ouvinte deve descodificar; contos de exemplo – s?o contos com uma índole moral; contos religiosos – distinguem-se pela interferência divina; entre outros.O conto maravilhoso é, provavelmente, o que mais se ouve e lê, dada a sua dimens?o onírica, imaginária… ? um tipo de conto universal, que existe em todo o mundo e em todas as culturas.Consiglieri Pedroso constata que os contos populares portugueses e de outras nacionalidades deste género mantêm as mesmas caraterísticas (e que ainda hoje s?o válidas): “O herói principal é sempre um príncipe ou uma princesa encantada ou perseguida, que depois de várias peripécias, trabalhos e perigos, consegue quebrar o encanto ou escapar à persegui??o. Este tema, que se repete constantemente com uma n?o interrompida monotonia, diversifica-se contudo nos diversos contos, pela variedade dos episódios de que se reveste, constituindo assim a série indefinida das diferentes narra??es, e para cada tipo de narra??o, a série interminável de vers?es e variantes” (CONSIGLIERI PEDROSO 1978: 38).Todavia, estes contos maravilhosos integram-se num universo atualizado. “Muitas vezes, os contos refletem um estado de civiliza??o e cultura, existindo, pois, diferen?as, relativamente ao presente, ao nível das estruturas sociais e políticas” (DINE e FERNANDES 1999).Sendo os contos populares transmitidos pela oralidade, eles podem ser adaptados à realidade em que se vive na hora da sua transmiss?o. Isso só depende de quem os conta e até de quem os ouve, pois o imaginário é que dita o seu desfecho. ? por isso que os contos populares continuam t?o atuais, nem que seja numa nova vers?o, frequentemente subvertendo a sua li??o moral.Estes contos apontam para um horizonte mítico passado, que talvez nunca tenha sido mais que isso, mas que n?o deixa de ser um referente de conduta importante, nas suas dimens?es simbólicas, para motivar na procura de saberes necessários e na recupera??o de valores perdidos. “Eles promovem a integra??o geracional (separa??es motivadas por raz?es tecnológicas e afins), os valores humanistas e humanitaristas, as normas sociais, a ameniza??o dos excessos do tecnologismo, da aridez das burocracias e dos formalismos, o reencontro do ser humano com as suas raízes, a preserva??o da identidade perante os efeitos da globaliza??o” (MOREIRA 2006: 4). Mesmo quando focalizam realidades duras, os contos tradicionais fazem-no de forma maleável, permitindo uma integra??o sem choques da pessoa do destinatário. Assim acontece com a representa??o de temas como a morte, a violência, a vingan?a, o egoísmo, a mentira, a trai??o, a injusti?a... que atravessam muitas das histórias populares. S?o temas que fazem parte da essência da natureza humana e como tal s?o vistos como naturais através das histórias. “Estas histórias resistiram ao tempo, permanecendo belas, encantatórias, surpreendentes, satisfazendo a fantasia, sem moralismos, mas contendo, de modo diluído, filosofia moral e saberes profundos” (BARRETO 2002: 303). “A Literatura Tradicional define-se, n?o apenas pela sua oralidade, como ainda pela sua forma de conserva??o, de transmiss?o: a literatura (considerada) consagrada ?guarda-se? no livro e por ele é transmitida; contrariamente, a primeira conserva-se e transmite-se (ou conservava-se e transmitia-se, porque hoje já n?o é assim) pela memória” (DINE e FERNANDES).Porque a literatura tradicional era transmitida de maneira oral, n?o é de surpreender, por isso, que se constate a ausência de exemplares medievais. No entanto, e para benefício das gera??es futuras, muitos dos nossos grandes escritores passaram este tipo de literatura oral para a escrita, para que ela n?o se perdesse e fosse acessível a todos. Na verdade, o que se pretende com a fixa??o escrita é preservar o conto popular de transmiss?o oral, torná-lo num tesouro e guardá-lo como documento cultural.Apercebendo-se das dificuldades que o registo escrito destas narrativas acarretava, os pioneiros do trabalho das recolhas portuguesas manifestaram um certo cuidado para evitar desfasamentos entre as marcas de oralidade, tra?o intrínseco ao conto popular, e o labor estilístico e expressivo, t?o frequente na escrita literária.Porém, todas as recolhas de contos populares feitas em Portugal até hoje foram de matriz escrita. Os grandes mestres da etnografia oitocentista, como Adolfo Coelho, Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso e José Leite de Vasconcelos empreenderam recolhas deste nosso património oral e transpuseram-no para a escrita. ? óbvio que nas suas recolhas os contos sofreram altera??es, pois o suporte escrito é muito mais rígido do que o “falar oral”. Ainda assim, há elementos caraterísticos, inclusive de cariz narratológico, que permitem definir estes contos como um grupo bastante homogéneo e distinto dos que s?o integralmente construídos pela criatividade singular dos autores eruditos. No estudo já clássico que dedicou à Morfologia do conto, Vladimir Propp p?de delimitar o ?mbito e a natureza da narratologia específica deste género de narrativas:?Em linhas gerais, o conto tradicional define-se como ?qualquer desenrolar de a??o que parte de uma malfeitoria ou de uma falta, e que passa por fun??es intermédias para ir acabar em casamento ou em outras fun??es utilizadas como desfecho.? (PROPP 2000: 144)Este género narrativo é pautado pela ausência de localiza??o quer temporal, quer espacial. A utiliza??o de express?es iniciais como Era uma vez…, que remetem para o passado, podem conduzir a ?um passado que se torna presente para controlar o futuro. Esta distancia??o permite a identifica??o com os elementos do conto e o sentimento de que n?o é de nós que se trata? (DINIZ 2001: 57). O conto ?enraíza-se em ancestrais tradi??es culturais que faziam do ritual do relato um fator de sedu??o e de aglutina??o comunitária (…) que n?o raro tinham, para além da fun??o lúdica, uma fun??o moralizante? (REIS e LOPES 1990: 76). Este género narrativo, para além de divertir, é um veículo transmissor de conhecimentos. Com ele, o indivíduo é levado a refletir e a questionar-se sobre os problemas com que é confrontado no seu dia a dia.“A utiliza??o de uma linguagem simbólica estimula a imagina??o do indivíduo e permite-lhe a aquisi??o de experiências que se vir?o a tornar úteis no seu contacto com a realidade. Eles ajudam ao desenvolvimento integral do sujeito e, mesmo que a realidade veiculada seja diferente daquela em que o sujeito se insere, os contos podem ajudá-lo na procura de solu??es para os seus conflitos interiores” (RIBEIRO 2007: 24)..8. Estratégias utilizadas na abordagem do conto popularNa leituraA leitura é um dos meios indispensáveis na aprendizagem de uma língua. Através da leitura, os alunos, ter?o de identificar instru??es de trabalhos, fazer consultas de esquemas gramaticais, preparar exercícios escritos e orais. Segundo Terzi (2002), a interpreta??o dar-se-á principalmente pelas palavras, pois, “é na palavra que se inscreve o processo de atribui??o de sentido, uma vez que ela é índice de experiências e conhecimentos previamente adquiridos pelo leitor”.O QECR afirma que: “Em atividades de compreens?o escrita (leitura), o utilizador como leitor recebe e processa como informa??o (input) textos escritos produzidos por um ou mais escritores. Entre as atividades de leitura incluem-se:ler para orienta??o geral;ler para obter informa??es, p. ex.: utiliza??o de obras de referência;ler e seguir instru??es;ler por prazer.Ora, como podemos ver, o aprendente de uma língua poderá incluir nas suas aprendizagens como leitor todo o tipo de textos, sejam eles informativos ou de lazer, entre outros. O leitor adapta às suas necessidades o tipo de leitura que mais lhe convém. Usa o seu conhecimento da língua (inclusive da língua materna) para melhor se orientar como leitor autónomo.O aprendente pode, ainda, ter várias estratégias de leitura, entre elas: fazer uma pré-leitura, o que facilitará a entrada no texto; ler um texto em voz alta, o que lhe dá uma perce??o de como a sua express?o oral está a progredir e, muitas vezes, entender melhor o que está a ler. Ao ler um texto em voz alta, o aluno, apercebe-se dos erros orais e tenta aperfei?oar-se nesse ponto. Na quest?o da compreens?o de um texto, muitos alunos utilizam essa técnica, pois dizem que ao ouvirem a sua voz s?o capazes de fixar melhor o que o texto diz e melhorar o seu entendimento das coisas e também tomar consciência das incorre??es ao nível da fala.Dependendo do seu grau de dificuldade, pensamos que as narrativas tradicionais, pela sua escrita simples, breve, concisa e moralizadora, poderá ajudar muito o aprendente na sua aprendizagem da língua portuguesa e a partir daí orientar-se para outras leituras mais complexas. Usando as estratégias de leitura da sua própria língua (memoriza??o visual e cognitiva), o aprendente torna-se plurilingue e desenvolve a interculturalidade. O conhecimento de uma nova língua n?o vai alterar as suas capacidades ao nível linguístico e cultural na sua própria língua, antes, vai contribuir para uma melhor consciencializa??o da prática da interculturalidade. ? desejável que o aprendente da língua portuguesa (ou outra), seja plurilingue mas também pluricultural, ou seja, ao mesmo tempo que aprende uma língua aprenda também a sua cultura. Isso fará com que ele se sinta mais confortável em rela??o aos nativos da língua alvo. E quando lhe perguntarem, por ex: – Conheces a história da sopa de pedra? – ele sentir-se-á à vontade para falar desse assunto.Nesta altura, o aprendente já terá feito muitas leituras, entre elas a leitura de contos tradicionais que trar?o à sua cultura geral um enriquecimento em rela??o àquilo que ele já possuía anteriormente. Por isso, ser capaz de ler um texto e interpretá-lo é um caminho que conduz à compreens?o e à intera??o entre duas ou mais culturas.? claro que a leitura de textos tem de ser adaptada às várias etapas de aprendizagem. Um aprendente do nível A1 n?o pode ter a competência de um aprendente do nível B1 ou B2, ou ainda de um aprendente do nível C1 ou C2. O que é importante é adaptarmos os textos a cada um dos níveis. No nível A1, por exemplo, o aprendente ainda n?o lerá um texto com um conto popular (segundo o QECR (2001: 53), poderá, apenas, “compreender nomes conhecidos, palavras e frases muito simples, por exemplo, em avisos, cartazes ou folhetos”). Mas no nível B2 já é capaz de ler um conto popular pois, segundo o mesmo QECR, ele deve ser capaz de “ler artigos e reportagens sobre assuntos contempor?neos em rela??o aos quais os autores adotam determinadas atitudes ou pontos de vista particulares”. ? ainda capaz de “compreender textos literários contempor?neos em prosa”. E no nível B1, o aprendente, já é capaz de ler textos curtos em que a linguagem corrente seja predominante.Um leitor consciente utilizará as estratégias necessárias para a sua leitura. As estratégias de ensino-aprendizagem s?o cruciais para o desenvolvimento da compreens?o da leitura. As estratégias que est?o mais ligadas à compreens?o da leitura s?o, segundo Julia Mi?ano, as cognitivas e metacognitivas. Segundo ele:“Las estrategias lectoras como aquellos procedimientos que se llevan a cabo con el propósito de comprender lo que se lee, ya sean técnicas conscientes controladas por el lector, o bien, operaciones mentales inconscientes que se ponen en marcha automáticamente cuando se inicia la lectura” (MI?ANO 2000: ). De facto, o leitor utiliza comportamentos automáticos e inconscientes, processos através dos quais chega à compreens?o do texto. Ou seja, o leitor faz as liga??es necessárias entre a sua língua e a língua que está a aprender e assim chega à compreens?o do texto. Essas liga??es, por vezes, têm que ser orientadas, no sentido de uma melhor apreens?o da língua alvo.Assim, e para que o aluno n?o se sinta obrigado a ler o que n?o gosta, podemos sugerir-lhe a literatura tradicional (como os contos, lendas, provérbios, etc.), por ser uma leitura de fácil descodifica??o, visto ser escrita numa língua corrente e até familiar. Mas a decis?o última será sempre dele. Para além destas leituras, como é óbvio, o aprendente terá de fazer outras: de nível informativo, político, jornalístico… para que a sua aprendizagem da língua alvo seja o mais completa possível.Citando Maria da Gra?a Pinto: “A leitura n?o deve ser uma prática apoiada na mera decifra??o, ela deve ser sim uma leitura compreens?o capaz de evocar no leitor as potencialidades do material impresso… o alargamento dos seus conhecimentos e da sua imagina??o, permitindo-lhe também o acesso às mais variadas formas de escrita” (PINTO 1998: 99; apud BIZARRO 2008: 360).Para concluir, pensamos que a leitura tem um papel crucial na aprendizagem de uma língua, seja ela materna, segunda ou estrangeira. O aprendente nunca se pode afastar desta ferramenta que, a par da escrita e da oralidade é muito importante na sua aquisi??o da língua.Na escritaTal como a leitura, a escrita também é muito importante, pois é através da escrita que o aprendente pode p?r em prática os seus conhecimentos aos níveis gramatical, lexical, sem?ntico, ortográfico…“Nas atividades de produ??o escrita (escrever), o utilizador como “escritor” produz um texto escrito que é recebido por um ou mais leitores” (QECR 2001: 95). Assim sendo, a escrita é muito importante na aprendizagem de uma língua, pois é através dela que ele será, também, avaliado. E se n?o souber escrever ou se escrever com muitos erros, o seu aproveitamento será prejudicado.O aluno de língua estrangeira (tal como o de língua materna) come?a a sua aprendizagem escrevendo. Ou seja, o que aprende oralmente deve passá-lo à escrita correndo o risco, se n?o o fizer, de perder toda a informa??o que lhe será útil na continua??o da sua forma??o. Por isso, e segundo o QECR (2001: 95) o aprendente deve, entre outras atividades de escrita:preencher formulários e questionários;escrever artigos para revistas, jornais, boletins informativos, etc.;produzir cartazes para afixa??o;escrever relatórios, memorandos, etc.;tirar notas para uso futuro;anotar mensagens ditadas, etc.;redigir textos com recurso à escrita imaginativa e criativa;escrever cartas pessoais ou de negócios, etc.Nas aulas de língua portuguesa, o professor pode propor e promover tarefas de produ??o escrita. Estas podem acontecer a partir de leitura e discuss?es de textos orais e escritos. Nas aulas de PLE/PL2, todas as habilidades devem ser desenvolvidas de forma interligada, uma vez que as competências comunicativas n?o s?o estanques. Para a produ??o escrita, o planeamento deve prever a prática da leitura, da compreens?o oral, como atividades que deveriam anteceder a produ??o textual escrita.A leitura e a escrita, de acordo com Widdowson (2005: 88), n?o podem t?o facilmente ser consideradas como atividades interligadas. Em grande parte do discurso escrito n?o há sempre um inter-relacionamento estreito dessas atividades. Esse facto é diferente das habilidades de falar e ouvir, porque elas est?o sempre inter-relacionadas. Ler e escrever n?o s?o atividades tipicamente recíprocas da mesma forma que o dizer e o ouvir.Neste trabalho, é importante que todas as atividades de produ??o escrita sejam realizadas a partir da leitura de textos escritos e audiovisuais, permitindo o inter-relacionamento entre essas habilidades. Souza (2009) afirma que “tanto a leitura como a escrita s?o atividades construídas. A conce??o de leitura é feita a partir da atribui??o de sentidos aos textos. O leitor utiliza o seu conhecimento do mundo para dialogar com o autor do texto que está a ser lido. Ao escrever, o aluno também assume o papel de leitor. Escrever enquanto uso (comunicativo) é o contrário de compor (escrita como forma). A escrita pode ser considerada como uma atividade dialogal. O sujeito que escreve já realizou uma leitura de textos conhecidos antes, bem como a leitura do mundo produzida a partir das suas experiências. Além disso, ao escrever, o produtor do texto dirige-se a um leitor virtual, que age sobre si próprio, mesmo antes de o texto estar produzido. O sujeito, autor do texto, escreve a partir do que ele conhece do seu leitor ou leitores”. .Na oralidadeA comunica??o oral é de vital import?ncia, numa conversa com amigos, na escola, na rela??o com o professor, com os outros alunos… Toda a nossa vida é feita a comunicar, seja comunica??o verbal, comunica??o escrita, comunica??o gestual… Estamos sempre a comunicar, mesmo que n?o falemos. Mas a fala é uma das formas mais perfeitas de comunicar. Há um ditado que diz “A falar é que a gente se entende”. Apesar de os outros meios de comunica??o serem muito importantes, a oralidade continua a ser a via mais utilizada. Por isso a conversa??o oral é t?o importante, tanto para os nativos de uma língua como para um estrangeiro que quer aprender essa mesma língua.“As línguas tornaram-se bens funcionais, utilizáveis no dia a dia e constituem um instrumento de comunica??o indispensável no plano profissional, ou para o lazer [...] As competências orais adquiriram uma import?ncia decisiva uma vez que um grande número de comunica??es em LE se efetua no plano oral” (GUIMBRETI?RE1994: 87).Nas intera??es em sala de aula de LE muitas s?o as rela??es que ocorrem: entre os interlocutores (professor–aluno, aluno–professor, aluno–aluno), mas também e, sobretudo, as rela??es entre as línguas em contacto. Quanto às rela??es entre os interlocutores, pensamos que se alteraram bastante nestes últimos anos. Nas abordagens (tradicional e estrutural) privilegiou-se principalmente o esquema de Sinclair e Coulthard (1975, apud BERRIER 1995: 17) para descrever o que se passava numa sala de aula de LE entre o professor e os alunos: a) a iniciativa (do professor) com uma pergunta ou uma ordem; b) a rea??o do aluno (ou resposta); c) a retroa??o do professor (feedback). Neste esquema, o professor tinha um papel central: tudo passava por ele e retornava a ele. Este é um modelo que deve ser evitado se queremos levar o aluno a ter iniciativas na fala, levá-lo à autonomia. Quanto ao professor, ele terá um papel mais de observador discreto das intera??es entre os alunos, o papel de orientador, de mediador.No processo de compreens?o oral, o indivíduo procura reconstruir o sentido da mensagem ouvida. Um dos processos utilizados pelo ouvinte é o que chamamos de antecipa??o e a constru??o de hipóteses (processos esses, parecidos com os que fazemos os nossos alunos utilizarem na leitura de textos escritos). As hipóteses podem ser construídas a partir de vários meios, como por exemplo, os meios sonoros (barulhos inseridos na mensagem) a partir dos quais o aprendiz pode inferir o lugar no qual está inserida a mensagem. Ele pode fazer uso também das lembran?as que possui na mente ou observa??es diversas. Isso tudo permite ao ouvinte confirmar ou rejeitar as hipóteses elaboradas no decorrer da audi??o da mensagem, segundo os resultados obtidos.Para Guimbretière (1994: 67) nesse processo devemos levar em conta que o que é “inato” para um nativo, deve ser “aprendido” ou “transferido” pelo aprendiz de LE. O professor pode ajudar o aprendente a fazer com que ele se dê conta das estratégias de escuta e fazer com que ele transfira alguns hábitos de escuta da LM para a LE, tentando assim facilitar a sua aprendizagem. Segundo Guimbretière (1994: 76-78), as etapas da escuta devem seguir as seguintes:1) atividades de escuta: devem permitir ao aluno desenvolver estratégias de recupera??o, de observa??o de elementos a partir de instru??es, visando a discrimina??o destes elementos ou o seu reconhecimento;2) atividades de apropria??o da língua: esta etapa permite aprofundar a primeira fase e chega à verdadeira compreens?o (aquisi??o, apropria??o, incorpora??o). Esta é a fase de apropria??o e tratamento da informa??o: é preciso propor atividades de “procura de informa??es” a partir de suportes e instru??es variadas;3) atividades de produ??o (rela??o din?mica dos saberes e do saber-fazer (savoir-faire) .Para verificar a eficiência das fases descritas, é necessário propor ao aprendiz a produ??o “em situa??o”, isto é, ativar os saberes e fazer com que estes entrem em a??o em intera??es, para que o aprendente possa testar, ou adquirir, o domínio do saber-fazer. Estas situa??es podem ser vistas como objetivo de autoavalia??o para o aluno uma vez que ele poderá testar os seus conhecimentos na língua alvo.“No ensino de LE, dois códigos culturais entram em contacto – a LM e a LE – e estes códigos est?o inseridos na conversa??o de maneira implícita ou inconsciente para os locutores. A LM (a sua cultura e seu código, nos quais muitas vezes o interlocutor n?o reflete) torna-se natural para ele. Essa cultura, essa vis?o do mundo, os seus conhecimentos, ele carrega-os consigo e de alguma forma projeta-os na aprendizagem de uma nova LE. Entretanto, esses fatores nem sempre s?o levados em conta pelos interlocutores da sala de aula” (BERRIER 1995: 12).Para Chomsky, a aquisi??o da linguagem materna n?o é mec?nica, n?o é aprendida por imita??o de modelos; a linguagem é criativa e o indivíduo aprende a partir de hipóteses que faz em rela??o à língua a ser aprendida. O indivíduo faz hipóteses e testa-as: o erro é um indício destas hipóteses. Se o erro aparece é porque o individuo está a testar a língua em aprendizagem. O indivíduo também utiliza estratégias de aprendizagem tanto na aquisi??o de LM como de LE e a transferência de uma língua para outra é uma delas.Atualmente, em contexto de sala de aula (e n?o só), pretende-se que o aprendente, sempre que possível, se exprima oralmente, pois é a falar que o aluno utiliza as técnicas que já aprendeu, para falar corretamente a língua que está a aprender. Quanto mais utilizar essas técnicas e estratégias aprendidas (ou que ainda irá aprender), melhor e mais corretamente falará a LE.Por isso é t?o importante a oralidade na aprendizagem de uma língua estrangeira. ? importante que o aprendente se habitue, desde logo, a falar a língua que quer aprender, mesmo come?ando por pequenas palavras ou frases. O que importa é que tome contacto o mais depressa possível com a língua e a vá tentando entender. Depois é só uma quest?o de tempo, à medida que vai falando também vai aprendendo (mesmo sem dar conta), a exprimir-se corretamente.Neste contexto, pensamos que a literatura tradicional pode dar uma grande ajuda, tanto ao nível da oralidade como da leitura e escrita, sobretudo nos níveis intermédios, ou seja, B1 e B2. Nestes níveis os alunos já adquiriram uma linguagem que lhes permite compreender o que leem e escrevem. Ao lerem silenciosamente um texto/conto est?o a por em prática as suas aquisi??es e estratégias de leitura, mas lendo-o depois em voz alta ele toma consciência dos erros que dá (ou n?o) a falar. E, quando faz o resumo da história oralmente, está a por em prática todos os mecanismos que aprendeu, está a falar na L2.? importante que o professor tente motivar o aluno para o reconto de uma história; para contar uma história popular do seu país; convidar os alunos a participar na dramatiza??o de outros contos populares.Se o fizerem regularmente, os aprendentes v?o sentir-se mais seguros e motivados para novos desafios e, por vezes, até podem ser eles a sugerir este tipo de atividades. Pela minha experiência, penso que estes alunos, apesar de no início se sentirem um pouco inibidos, gostam destas atividades mais lúdicas e aderem muito bem a jogos e teatraliza??es. Da teoria à prática: Reflex?o sobre as propostas apresentadas abordando a cultura tradicionalAo conceber estas unidades didáticas, tivemos como principal objetivo adotar uma perspetiva comunicativa, tendo em conta que o Ensino/Aprendizagem de uma língua deve remeter o aluno para diversas situa??es de comunica??o, às quais este tenha que dar resposta. Para isso, o aluno necessita de desenvolver determinadas competências que lhe possibilitar?o comunicar em língua portuguesa (para eles, língua estrangeira). Assim, nestas propostas contemplamos o desenvolvimento de competências linguísticas que consideramos fundamentais, como ler, escrever, ouvir e falar, mas quisemos trazer para o foco da atividade pedagógica outro tipo de competências indispensáveis a uma comunica??o eficaz, tanto de cariz sociolinguístico e pragmático quanto, especialmente, de natureza cultural.Tendo em conta a necessidade de facilitar a motiva??o dos alunos, tentamos proporcionar atividades nas quais eles pudessem ter um papel ativo e sentir que estavam, verdadeiramente, no centro de todo o processo de ensino/aprendizagem. Ainda e sempre tentando satisfazer as expetativas e necessidades dos nossos alunos, os materiais didáticos foram concebidos com a preocupa??o de contribuir eficazmente para a sua aprendizagem da língua portuguesa, tanto falada como escrita.Ao pensarmos neste tema – contos e lendas populares portugueses – quisemos proporcionar, aos nossos estudantes, algum conhecimento em rela??o às nossas tradi??es e p?-los em contacto com um pouco da nossa História e cultura popular.9.1. Reflex?o sobre a primeira proposta: “A Lenda de D. Sebasti?o”A Lenda (ou mito) de D. Sebasti?o constitui um dos patrimónios culturais que mais perdurou (e perdura) no universo da cultura popular, sem deixar de atravessar outras camadas sociais, o que lhe confere um lugar privilegiado no imaginário nacional. Ainda que apresente dimens?es complexas de caráter histórico, político, filosófico e até psicanalítico, interessou-nos aqui abordá-lo pela perspetiva da cren?a popular (mais ou menos alimentada por imediatos interesses políticos) no regresso do jovem monarca desaparecido na sequência da batalha de Alcácer Quibir em Agosto de 1578. O povo acreditava que ele viria numa manh? de cerrado nevoeiro, para salvar Portugal do domínio castelhano e foi alimentando esta esperan?a ao longo de séculos, atualizando-a em fun??o das circunst?ncias históricas que caraterizaram cada momento particular. Embora nunca mais tenha voltado, a memória de D. Sebasti?o manteve-se como uma figura central n?o só da cultura popular, mas também do pensamento sobre a portugalidade e o modo específico de ?ser português?. Pela sua import?ncia no contexto cultural português, pareceu-nos útil p?r os aprendentes da língua portuguesa em contacto com o mito sebástico, através dum conjunto de materiais e atividades que apresentaremos de seguida. Para introduzir a temática que pretendemos abordar nesta unidade didática, utilizamos a can??o “El Rei D. Sebasti?o”, do conjunto português 1111. Decidimos utilizar esta can??o em suporte vídeo com o propósito de fazer ver aos alunos como ainda hoje, passados séculos sobre o desaparecimento do rei, se mantém atual o fascínio pelo jovem D. Sebasti?o. Por outro lado, a letra da can??o ofereceu-nos o pretexto para sensibilizarmos os nossos alunos para a singularidade da história cultural portuguesa. Do ponto de vista da didática da língua, a can??o serviu-nos para trabalhar a oralidade na sua vertente de compreens?o auditiva. Optamos por n?o trabalhar muito material lexical novo, embora o exercício que foi proposto para controlo da compreens?o oral com base na letra da can??o dos 1111 implicasse, igualmente, a mobiliza??o de competências a esse nível. O objetivo central que nos levou a recorrer a esta can??o foi, contudo, a sua rela??o com a temática sebástica, permitindo lan?ar o tema que, depois, seria enquadrado com a apresenta??o de documentos em vídeo e em papel com informa??o de cariz histórico sobre D. Sebasti?o, Alcácer Quibir, etc… “ A Lenda de D. Sebasti?o”-55245106680“El Rei D. Sebasti?o”Letra e música dos 1111Canta José CidFugiu de ______________El Rei D. Sebasti?oPerdeu-se num _________Com seu cavalo _________As ________ e adivinhos Nas altas serras _________Juravam ___ ___ manh?sDe _________ nevoeiroVinha D. _______________ _________ e trovadores Das regi?es __________ Afirmaram ________ visto Perdido entre os _________ El _____ D. Sebasti?o ________ vindos de longe Falcatos ______________ Tentando ________ o povo Afirmaram serem _______ El Rei D. Sebasti?o E que voltava de ________ Todos foram _____________ Condenados às __________ Pois nas _______ dos Algarves ______________ pelas marés Encontraram o _____________ ____________ do seu gib?o Peda?os de _______________ A ___________ e o cora??o de El Rei D. Sebasti?o _________ de Alcácer Quibir El Rei D. Sebasti?o E uma _______ nasceu Entre a ________ do passado Chamam-lhe o ___________ Pois que _______ mais voltou El Rei D. Sebasti?o ________________________Complete o texto da can??o preenchendo os espa?os vazios com as seguintes palavras:bruxas; real; beir?s; Sebasti?o; que nas; cerrado; terem; pinhais; litorais; ciganos; rei; desconhecidos; eles; iludir; novo; galés; desmentidos; praias; Trazidos; farrapos; cavalo; nevoeiro; Fugiu; espada; lenda; bruma; desejado; nunca; El Rei D. Sebasti?o; Alcácer Quibir. Os alunos ouviram a can??o duas vezes e, depois, preencheram os espa?os em branco do exercício escrito que lhes foi fornecido. A verifica??o e corre??o deste exercício foi efetuada por cada aluno, a partir da letra com as express?es corretas que lhes foram fornecidas depois da audi??o/visualiza??o: Lenda d’el rei D. Sebasti?oFugiu de Alcácer QuibirEl Rei D. Sebasti?oPerdeu-se num labirintoCom seu cavalo realAs bruxas e adivinhos Nas altas serras beir?sJuravam que nas manh?sDe cerrado NevoeiroVinha D. Sebasti?oPastoras e trovadoresDas regi?es litoraisAfirmaram terem vistoPerdido entre os pinhaisEl Rei D. Sebasti?oCiganos vindos de longeFalcatos desconhecidosTentando iludir o povoAfirmaram serem elesEl Rei D. Sebasti?oE que voltava de novoTodos foram desmentidosCondenados às galésPois nas praias dos AlgarvesTrazidos pelas marésEncontraram o cavaloFarrapos do seu gib?oPeda?os de nevoeiroA espada e o cora??ode El Rei D. Sebasti?oFugiu de Alcácer- QuibirEl Rei D. Sebasti?oE uma lenda nasceuEntre a bruma do passadoChamam-lhe o desejadoPois que nunca mais voltouEl Rei D. Sebasti?oEl Rei D. Sebasti?o Na corre??o, e numa primeira abordagem, pudemos explicar, superficialmente, aos alunos, o que foi a batalha de Alcácer Quibir (visto que mais tarde apresentamos um vídeo e um pequeno texto com essa mesma explica??o). Fizemos o mesmo com outras palavras desconhecidas dos aprendentes, como ?labirinto?, cujo sentido era desconhecido para alguns ? embora os alunos espanhóis já tivessem percebido o sentido desta palavra ? ?as bruxas e adivinhos?, “serras beir?s” – explicámos que ?beir?? quer dizer ?da Beira?, que pode ser Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral, Beira Interior, ou seja, zonas que fazem parte do território interior português. Seguiram-se outras explica??es, quando os alunos n?o conseguiram chegar aos resultados esperados, tendo sido explicado o significado doutras palavras, como ?cerrado? (=espesso); ?bruma? (=neblina densa); ?farrapos? (=roupa muito rota, trapos, vestuário rasgado), ?pinhais? (=uma floresta de pinheiros), ?iludir? (=enganar), ?galés? (barcos movidos pela for?a dos prisioneiros acorrentados aos remos), etc.Depois desta atividade, impunha-se a leitura, em voz alta, da letra da can??o, a partir da vers?o completa e depois de integralmente decifrada quanto ao sentido. Na execu??o desta tarefa, pudemos observar a capacidade dos alunos para estabeleceram corretamente a rela??o entre a grafia e o som, o que permitiu, em simult?neo, trabalhar a sua competência ortográfica, ao mesmo tempo que eram levados a aperfei?oar a prosódia e a pronúncia. Na sequência do que ficou apontado na parte teórica deste relatório, julgamos que é importante que o aprendente de uma língua estrangeira fa?a uma leitura dos textos em voz alta, para que ele próprio se aperceba dos erros ou dificuldades que tem na produ??o oral dos enunciados. Embora n?o tenha sido possível fazê-lo, julgamos que poderia ter sido interessante culminar este conjunto de atividades com uma sess?o de karaoke, o que exigiria recursos materiais que n?o estavam disponío complemento informativo a propósito do conteúdo da can??o, fornecemos aos alunos um texto informativo sobre a curta vida de D. Sebasti?o, com o qual procuramos dar aos alunos o conhecimento histórico possível sobre este jovem e t?o desejado rei português.Lendas Populares Portuguesas – “D. Sebasti?o”Biografia D. Sebasti?o foi o décimo sexto rei de Portugal. Nascido em Lisboa, a 20 de Janeiro de 1554, era filho do príncipe D. Jo?o e D. Joana de ?ustria. Ficou conhecido pelo cognome de “Desejado”, por ser o herdeiro esperado da dinastia de Avis, tendo sido mais tarde nomeado também “O Encoberto”. Desapareceu em ?frica a 04 de Agosto de 1558, dando origem ao sebastianismo, uma espécie de cren?a messi?nica, no seu retorno ao país. Neto e sucessor de D. Jo?o III, herdeiro do trono português, foi coroado rei aos três anos de idade e durante a menoridade ficou sob a tutela do cardeal D. Henrique, seu tio-av? paterno, e da avó, D. Catarina. Foi educado austeramente pelos jesuítas e desde cedo demonstrou concentrar os seus interesses nas artes da guerra e da conquista e ter como grande ambi??o a vitória sobre os mu?ulmanos para a glória do cristianismo. Tendo assumido o trono em 1568, deu início ao projeto de criar um império português no norte de ?frica e combater os mouros em nome de Cristo. Comandou uma primeira expedi??o falhada contra Marrocos em 1574 e dirigiu-se uma segunda vez ao Norte de ?frica à frente de um exército de mais de 15.000 homens, onde desembarcou em 1578. O seu projeto terminou tragicamente, pois na batalha de Alcácer-Quibir, no dia 4 de agosto, os portugueses foram esmagados pelas for?as superiores do sult?o Abd al-Malik e o rei desapareceu misteriosamente em combate, quando tinha apenas 24 anos de idade. Com o seu desaparecimento e por n?o ter herdeiros, foi ent?o proclamado rei o velho cardeal D. Henrique, seu tio, que reinou durante os dois anos seguintes. Esgotada a linha masculina da casa de Avis, recorreu-se à feminina, mediante várias manobras da nobreza e dos espanhóis. Assim se facilitou a uni?o das coroas de Portugal e Espanha (1580), que deixaria o país sob o domínio do rei espanhol, ao mesmo tempo que evoluía o mito sebastianista de que o jovem rei sobrevivera e voltaria a Portugal numa manh? de nevoeiro para libertar o seu povo. Essa cren?a sobreviveu por mais de três séculos como símbolo do nacionalismo português. Filipe II, rei de Espanha, viúvo de uma filha de D. Jo?o III subiu ao trono de Portugal em 1581, contra a vontade popular, e o reino só readquiriu a independência sessenta anos depois (1640), quando teve início o reinado de D. Jo?o IV, fundador da dinastia de Bragan? o mesmo propósito, apresentámos, também, um vídeo sobre a batalha de Alcácer Quibir e as suas consequências para a Na??o Portuguesa. Com este vídeo pensamos que poderíamos motivar e agu?ar a curiosidade dos alunos para fazerem outras leituras sobre o rei D. Sebasti?o e tudo o que o envolveu, pois para além de praticarem a leitura também poderiam evoluir mais, culturalmente. Aqui pedimos aos alunos que lessem uma parte, conforme ia aparecendo no ecr?, e que a explicassem para verificarem se tinham compreendido o que iam lendo. Para isso fomos fazendo paragens para que os alunos solicitados pudessem ler a sua parte do vídeo e conseguissem resumir o que tinham lido. Foi um momento em que os aprendentes puderam testar as suas competências leitora e oral, contando para isso com a interven??o, sempre que era preciso, do professor.Quanto ao texto informativo sobre D. Sebasti?o, a sua explora??o envolveu atividades de leitura, de controlo da compreens?o escrita e de produ??o escrita. Depois duma primeira leitura silenciosa, os alunos tiveram a oportunidade de fazerem uma segunda em voz alta, o que serviu para controlar mais uma vez o domínio dos alunos sobre a rela??o da grafia com o som, e depois de terem sido esclarecido o sentido de alguns termos e express?es presentes no texto, procedeu-se à realiza??o dum exercício escrito para testar a compreens?o do preens?o do textoUsando os dados fornecidos pelo texto acerca de D. Sebasti?o, preencha o seguinte quadro:Nome e cognome:____________________________________________Pai:_________________________________________________M?e:_________________________________________________Local de nascimento___________________________________________Data de nascimento:__________________________________________ Em que ano se deu o seu desaparecimento e em que batalha?___________________________________________________________________________________________________________________________________________________Que nome se deu à cren?a popular de em que D. Sebasti?o voltaria ao país num dia de nevoeiro para salvar Portugal?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Qual era a inten??o do rei ao querer combater em ?frica?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Quem ficou a governar Portugal depois da morte de D. Sebasti?o?___________________________________________________________________________________________________________________________________________________Diga se é verdadeiro ou falso V, F:D. Sebasti?o nasceu no Porto. _______Seu pai era o Príncipe D. Jo?o. _______O Desejado desapareceu no Algarve.____O Sebastianismo era uma espécie de cren?a messi?nica ____ D. Sebasti?o queria combater os mouros em nome Cristo.___ O rei D. Sebasti?o era casado e tinha filhos. ________Portugal ficou a ser governado pelo rei D. Jo?o III. _________ O país só adquiriu a sua independência, de novo, em 1600___ A nossa inten??o ao elaborar este exercício de compreens?o escrita foi n?o só verificar a compreens?o do texto escrito, mas também para fornecer aos alunos uma informa??o cultural sumária sobre esta época da história portuguesa. Aliás, foi nossa preocupa??o que a cultura portuguesa estivesse presente em toda esta unidade didática, n?o só a cultura popular ligada à lenda, mas também a cultura histórica ligada ao próprio rei D. Sebasti?o e a tudo o que envolveu a sua figura, tanto em vida como depois da sua morte. As perguntas sobre o texto informativo eram diretas e n?o solicitavam a opini?o dos alunos ou que eles fizessem inferências sobre o mesmo. As informa??es estavam todas no texto para que n?o houvesse erro nas respostas, dado que era um texto de informa??o histórica. Procuramos disponibilizar informa??o precisa, para que os alunos ficassem, minimamente, dentro do assunto. N?o quisemos deixar de trabalhar, nesta unidade didática, a competência gramatical. No entanto, dado que o foco essencial foi posto na competência cultural, optamos por n?o introduzir novos conteúdos, preferindo propor uma atividade de refor?o de conhecimentos adquiridos nas aulas anteriores, respeitantes à morfologia e uso das formas verbais do Presente do Conjuntivo, Imperfeito do Conjuntivo e Condicional Presente. Tivemos, no entanto, a preocupa??o de manter a coes?o temática, pelo que as atividades contemplaram a realiza??o de exercícios estruturais em que as frases a completar mantinham uma rela??o com o tema unificador de toda a unidade didática:Complete as frases seguintes como no exemplo: “? provável que D. Sebasti?o n?o dê ouvidos aos conselhos dos seus generais”. Era provável que D. Sebasti?o n?o ____________ (ouvir) os conselhos dos seus ministros.Se ele n?o _____________(ser) t?o teimoso seria um bom rei . O povo receava que ele __________________ (ter) muitos inimigos. D. Sebasti?o acreditava que venceria a Batalha de Alcácer Quibir, isso fazia com que ele _______________ (ter) fé em si mesmo. 1.5. Fizesse ele o que fizesse o desfecho ___________(ser) o mesmoComplete com a forma correta dos verbos indicados:D. Sebasti?o __________(ser) rei de Portugal, ____________ (nascer) em Lisboa em 1554 e _____________(desaparecer) em 1578. _________ (ser) um homem muito belo e muito aventureiro. Embora ______________ (poder) combater no Norte de ?frica _____________ (dever) ter-se casado antes e deixar um sucessor ao trono, para que Portugal _______________(manter) a sua independência. Assim era natural que Filipe II de Espanha ________________ (querer) governar o país. Ainda que todos ___________ (saber) que D. Sebasti?o n?o ________________ (voltar) a Portugal porque já tinha morrido, o povo, ______________ (dizer) que ele ____________( vir) numa manh? de nevoeiro para salvar o país das m?os dos espanhóis.Coloque os verbos na forma correta e complete as frases:Se eu ________________(poder) ia a Lisboa ver o possível túmulo de D. Sebasti?o!Eu ficava contente se me ___________________ (sair) o euro milh?es.Ele acreditava que se __________________ (trabalhar) muito ficaria rico.Se vós ____________________ (estar) cansados como eu n?o _______________(ir) dan?ar. Se nós _________________ (viver) angustiados a nossa vida __________ (ser) um inferno. Se D. Sebasti?o _______________ (visitar) Portugal nesta época ________________ (ficar) muito preocupado com o que aqui se passa. 9.2. Reflex?o sobre a segunda proposta: A lenda da “Sopa de Pedra” A lenda popular “A Sopa de Pedra” está associada à célebre receita ribatejana de uma sopa que tanto pode ser comida como entrada ou como prato principal, em virtude dos seus ingredientes, que s?o muito substanciais. Integra, assim, um domínio da memória popular que guarda narrativas mais ou menos fantasiosas construídas com o intuito de explicar certos elementos da tradi??o, sejam eles de cariz gastronómico, toponímico, religioso, ou outro. No caso vertente, a narrativa conta como um frade conseguiu fazer uma boa sopa, servindo-se da sua astúcia para obter os ingredientes necessários para uma boa refei??o. Ao escolhermos esta lenda/conto (uns consideram este texto uma lenda, outros um conto) quisemos diversificar um pouco o tema (lendas e contos tradicionais), tendo em conta que na primeira aula apresentamos uma lenda histórica, e nesta falamos de uma história que deu o nome a uma tradi??o gastronómica – a sopa de pedra. Decidimos utilizar este texto, porque pensamos que poderia incentivar a curiosidade dos alunos e suscitar a partilha de outros contos e lendas ligados à gastronomia dos respetivos países. Na planifica??o da unidade didática privilegiamos as vertentes lexical e gramatical, embora n?o tivéssemos descurado os conteúdos culturais, visto que a gastronomia é parte importante da nossa cultura. A gastronomia n?o só é uma parte fundamental da cultura portuguesa, como é um cart?o de visita do nosso país para os estrangeiros. Poderíamos ter escolhido o cozido à portuguesa, os roj?es à moda do Minho, etc., mas, pelo seu conteúdo histórico/ gastronómico, escolhemos a sopa de pedra. Para melhor ilustrar a tradi??o gastronómica que está na origem da lenda ? e na impossibilidade de confecionar ao vivo a sopa da pedra ? foi apresentado um vídeo que permitiu apresentar aos alunos, em detalhe, tanto os ingredientes como a confe??o do prato. O recurso a este material audiovisual, além de ser exemplificativo, permitiu uma intera??o entre alunos/professor e entre alunos/alunos, tendo mesmo surgido a necessidade de fazer paragens e repeti??es de certas cenas, para esclarecimento de dúvidas. Com o vídeo, os aprendentes puderam, assim, praticar a competência oral, porque para além de verem e ouvirem como se faz uma sopa de pedra, puderam também fazer perguntas e obter respostas, de modo a exercitarem as suas competências de compreens?o e produ??o orais, enquanto se tornaram mais informados, no que toca à cultura gastronómica portuguesa. Nesta sequência, os alunos puderam ampliar os seus conhecimentos no que se relaciona com a comida portuguesa e ampliar o seu vocabulário tanto ativo como passivo. Viram como se faz a sopa de pedra, viram os seus ingredientes e fixaram os seus nomes, pois a maioria desconhecia certos termos comuns no ?mbito lexical da culinária e alimenta??o tais como o toucinho, por exemplo. Os nomes dos utensílios utilizados na confe??o da sopa também foram para eles uma completa surpresa, pois quando lhe tentamos explicar o que é uma panela eles n?o conseguiram compreender, nem através do desenho feito no quadro. Só visionando o utensílio é que eles perceberam que afinal já conheciam este objeto, o mesmo sucedendo com outros utensílios apresentados, como a bacia, o garfo, etc. Esta intera??o foi importante para que os alunos ficassem dentro do tema e aprendessem alguns termos e express?es que os levariam, com mais facilidade à compreens?o do texto que lhes foi apresentado de seguida e relativamente ao qual este visionamento do vídeo funcionou como uma atividade de pré-leitura.“A Lenda/Conto da sopa de pedra”91440152400Tal como acontece com quase todos os costumes, tradi??es e também gastronomia regional, a Sopa da Pedra tem um conto/lenda associado (a)…Um frade andava no peditório. Chegou à porta de uns lavradores, n?o lhe quiseram aí dar esmola. O frade estava a cair com fome, e disse:- Vou ver se fa?o um caldinho de pedra!E pegou numa pedra do ch?o, sacudiu-lhe a terra e p?s-se a olhar para ela, para ver se era boa para fazer um caldo. A gente da casa p?s-se a rir do frade e daquela lembran?a.Perguntou o frade:- Ent?o nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa boa.Responderam-lhe:- Sempre queremos ver isso!Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, pediu:- Se me emprestassem aí um pucarinho…Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.- Agora, se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas…Deixaram. Assim que a panela come?ou a ferver, tornou ele:- Com um naquinho de toucinho, é que o caldo ficava um primor!Foram-lhe buscar um peda?o de toucinho. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada pelo que via. Dizia o frade, provando o caldo:- Está um bocadinho insosso. Bem precisava de uma pedrinha de sal.Também lhe deram o sal. Temperou, provou e afirmou:- Agora é que, com uns olhinhos de couve o caldo ficava que até os anjos o comeriam!A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras.O frade limpou-as e cortou-as com os dedos, deitando as folhas na panela.Quando os olhos já estavam quase cozidos, disse o frade:Ai, um bocadinho de chouri?o é que lhe dava uma gra?a!...Trouxeram-lhe um peda?o de chouri?o. Ele p?-lo na panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge p?o e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o bei?o.Depois de vazia a panela, ficou a pedra no fundo. A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou:- ? senhor frade, ent?o a pedra?Respondeu o frade: - A pedra, lavo-a e levo-a comigo, para outra vez. Aqui, os alunos leram o texto, primeiro silenciosamente e depois em voz alta. Cada um leu uma parte para que todos pudessem praticar e participar na leitura. A leitura em voz alta serviu para fazermos uma avalia??o das dificuldades ou progressos que os alunos pudessem revelar ao nível da leitura. Seguidamente, fizemos a interpreta??o do texto, resolvendo o questionário sobre a compreens?o do mesmo, por escrito. Compreens?o do texto1.Baseando-se no que leu responda às seguintes quest?es: 1.1. Quem é “o esperto” desta história?____________________________________________________________________________________________________________1.2. Que fez ele para conseguir fazer a sopa de pedra?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________1.3. O frade era astuto e conseguiu iludir as pessoas daquela casa. Como reagiram elas aos pedidos do frade? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________1.4. O que pediu o frade para fazer a sua sopa de pedra?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________1.5. Que fez o frade à pedra? Justifique a sua resposta.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________1.6. “A sopa de pedra” dá o nome a uma sopa muito apreciada pelas pessoas. Para que servia a pedra? E agora, porque continuam a p?r a pedra neste tipo de sopa?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Depois dos alunos terem dado as suas respostas por escrito, fizemos a corre??o oralmente. Neste caso, os estudantes puderam ir buscar à sua memória recente o que tinham aprendido antes, com a apresenta??o do vídeo. A juntar ao que os estudantes já sabiam, apareceram outras palavras que eles procuraram descodificar e, quando n?o o conseguiam, o professor explicava. Na interpreta??o do texto, cada aluno dava a sua opini?o a respeito da esperteza do frade. Primeiro, ele soube pedir aquilo que n?o lhe queriam dar, ou seja, os utensílios e os ingredientes para levar o seu propósito avante. Usou de manha para “tirar” dos proprietários o que precisava para fazer a sua comida e conseguiu-o. Depois, os proprietários, achando-se muito espertos, caíram no “conto do vigário”, ou seja, fizeram aquilo que n?o queriam fazer inicialmente, que era dar esmola ao frade. Os estudantes tiraram daqui uma conclus?o. Por vezes é preciso ser mais esperto do que inteligente, ou seja, é preciso usar as mesmas armas do adversário. Os proprietários julgavam-se muito inteligentes e riram-se do frade, achando que ele estava doido por querer fazer uma sopa com uma pedra, mas no fim foi ele que a conseguiu fazer e comer.Foi proposto aos estudantes que tirassem deste conto uma li??o. Eles foram pragmáticos neste aspeto e conseguiram fazer inferências acerca do desenlace do conto. Uns tinham uma opini?o, outros outra, mas n?o eram muito diferentes umas das outras. Todos concordavam que a gan?ncia dos lavradores levou à esperteza do frade, ou seja, se eles n?o tivessem sido t?o reticentes em ajudar o frade, n?o teriam sido enganados por ele. A dedu??o que os alunos fizeram foi que se deve ajudar quem precisa com aquilo que se tem e, se isso n?o acontecer, haverá sempre alguém com esperteza suficiente para convencer os outros a fazerem mesmo o que n?o querem.Depois de praticada a competência lexical, assim como a compreens?o e a express?o escritas, apresentaram-se alguns exercícios de gramática, nunca fugindo ao tema proposto para esta aula. Este exercício gramatical foi mínimo, visto que teríamos na segunda parte desta unidade didática a oportunidade de dedicar uma maior aten??o a esta competência, com a introdu??o, pela primeira vez, do Futuro do Conjuntivo. Por agora, fizemos apenas umas frases para complementar a história do frade e testar os conhecimentos dos alunos.Funcionamento da Língua2.“? provável que um frade ande no peditório”. Agora comece esta frase por:2.1. Era provável que _______________________________________________2.2. Agora complete a frase: “Se me emprestassem aí um pucarinho” eu ____________________________________________________________________________________________________plete as seguintes frases:3.1. Se me ___________ p?r a panelinha ao lume eu __________ a minha sopa. 3.2. O frade _________ contente se lhe ___________ um chouri?o para a sopa. Na segunda parte desta unidade letiva, utilizamos como material didático o texto duma receita de sopa de pedra. Sopa de PedraIngredientes (Para 8 a 10 pessoas)2945130546101 litro de feij?o encarnado ; 1 orelha de porco ; 1 chouri?o negro (de sangue da regi?o) ; 1 chouri?o de carne ; 150 g de toucinho entremeado ; 750 g de batatas ; 2 cebolas ; 2 dentes de alho ; 1 folha de louro ; 1 molho de coentros ; sal e pimenta Figura SEQ Figura \* ARABIC 1 - Prepara??o da Sopa de PedraPrepara??o Se o feij?o for do ano, n?o necessita ser demolhado. Se for duro, p?e-se de molho durante algumas horas. Escalda-se e raspa-se a orelha de porco.Leva-se o feij?o a cozer em bastante água juntamente com a orelha, os chouri?os, o toucinho, as cebolas, os alhos e o louro. Tempera-se com sal e pimenta. Se for necessário juntar mais água, deve ser sempre a ferver. Quando a carne estiver cozida, retira-se e introduzem-se na panela as batatas cortadas aos quadradinhos e os coentros picados. Deixa-se cozer a batata. Assim que se retirar a panela do lume, introduzem-se as carnes previamente cortadas aos bocadinhos e uma pedra bem lavada, que deve ir na terrina. A nossa inten??o, ao apresentarmos esta receita escrita dum prato que tinha sido apresentado aos aprendentes de PLE, na primeira parte da aula, foi a de que eles tomassem contacto também com a escrita da respetiva receita, uma vez que já a conheciam audivisualizada. Aqui poderiam ver n?o só os ingredientes, que n?o eram exatamente os mesmos, como as suas quantidades escritas; para além disso, esta receita continha alguns elementos estruturais que nos interessavam para a introdu??o, na aula, do Futuro do Conjuntivo. Neste momento da aula, no entanto, o nosso interesse era que os alunos lessem a receita: primeiro, os ingredientes, depois como se confecionava, para, mais uma vez poder treiná-los na leitura em voz alta e ver as suas dificuldades na oralidade (ou n?o).Ent?o, os aprendentes leram o texto em voz alta, o que serviu, ainda, para controlar a sua competência ortográfica. De seguida, passaram para a execu??o do exercício de compreens?o escrita. Responderam às quest?es primeiro por escrito, e depois oralmente, para termos uma perce??o n?o só do seu domínio escrito mas também oral. Responda às seguintes quest?es:Depois de ler a receita do caldo de pedra compare-a com a sopa feita pelo frade.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Conhece alguma receita do seu país que tenha resultado de um conto ou de uma lenda? Se conhece descreva-a em breves linhas. Se n?o conhece pode descrever uma receita típica da sua regi?o.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Fa?a um pequeno resumo do conto apresentado. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Redija um pequeno conto popular do seu país, ou uma receita resultante de uma lenda.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Em algumas das quest?es reproduzidas acima pedimos a colabora??o dos estudantes: com uma receita do seu país que tivesse dado origem a uma lenda (ou qualquer outra receita dum prático típico) e com um conto associado à tradi??o gastronómica local. Eles disseram que n?o conheciam receita nenhuma que tivesse dado origem a uma lenda ou conto, mas que conheciam algumas receitas típicas dos seus países que escreveram, tendo alguns lido os seus textos para a turma. O tempo era escasso e nem todos o puderam fazer.O Futuro do Conjuntivo foi o tema gramatical escolhido. Foi possível introduzir um novo conteúdo gramatical, importante para os alunos. O texto com a receita escrita da sopa de pedra foi o trampolim para trabalharmos este item gramatical. Voltando ao texto, dele retirámos algumas frases que nos ajudaram a introduzir as formas verbais do Futuro do Conjuntivo num contexto comunicativo perfeitamente integrado na unidade didática. Assim, come?ámos por destacar as frases: “Se o feij?o for do ano, n?o necessita ser demolhado. Se for duro, p?e-se de molho durante algumas horas”. E a partir daqui houve toda uma envolvência de professor e alunos, no sentido da aprendizagem das formas e dos usos do Futuro do Conjuntivo nas frases. Este foi um período em que os alunos iam dizendo frases que se adequavam a este item gramatical. Tentaram construir frases que se adequassem ou que estivessem ligadas ao/aos texto/os e, no fim, o resultado foi o esperado. Com as explica??es da docente e com a sua observa??o tanto dos exemplos encontrados no texto como de outras ocorrências em frases construídas para o efeito, os aprendentes puderam, com o auxílio duma ficha informativa que lhes foi fornecida, compreender o processo de forma??o do Futuro do Conjuntivo em português e souberam aplicar estes conhecimentos nos exercícios práticos propostos.FUTURO DO CONJUNTIVO1. Repare nas seguintes frases:Se o feij?o for do ano n?o necessita ser demolhado.Quando a carne estiver cozida, retira-se e introduzem-se as batatas.Assim que se retirar a panela do lume, introduzem-se as carnes cortadas.2. Forma??o do Futuro do conjuntivoO Futuro do Conjuntivo forma-se a partir da 3? pessoa do plural do Pretérito Perfeito Simples do Indicativo (P.P.S.), a que se retira a termina??o — am e se acrescentam as seguintes termina??es:P.P.S.Futuro do conjuntivoeles gostar am eu gostartu gostar esele gostar nós gostar mosvós gostar deseles gostar emAgora complete o quadro:InfinitivoPretérito Perfeito SimplesFuturo do Conjuntivoir Eles foramEu ____________serEles eramEle ____________terEles tiveramElas ___________estarEles estiveramTu ____________darEles deramNós ___________fazerEles fizeramVocês _________dizerEles disseramVocê __________trazerEles trouxeramEu ____________quererEles quiseramEla ___________poderEles puderamEles __________p?r Eles puseramNós ___________verEles viramEles __________saberElessouberamTu ____________EXERC?CIOS PR?TICOSComplete as frases usando o Futuro do Conjuntivo.Se eu _______ (poder) ir a Almeirim este ano ficarei muito contente.Se o Pedro _________ (querer) nós poderemos comer sopa de pedra. Se tu ___________ (p?r) a mesa, eu farei a sopa.Se o frade _________ (querer) comprar o p?o, nós compraremos a água.Se você __________ (fazer) a sopa de pedra eu farei a sobremesa.Se eles __________ (trazer) o toucinho, nós traremos o chouri?o.Se eles ___________ (fazer) muito barulho, nós n?o poderemos comer em paz.Quem __________ (querer) comer desta sopa terá que contribuir com alguma coisa.Sempre que ____________ (comer) sopa de pedra, lembrar-se-?o da história do frade de Almeirim.Se n?o ___________ (gostar) da sopa poderás comer outra comida. Complete as frases com o Imperfeito do conjuntivo ou Futuro do Conjuntivo. Se me _______ (dar) um chouri?o, a sopa ficará uma maravilha. Se me __________(poder) dar umas couvinhas, o caldo ficará mais gostoso.Eu n?o sei cozinhar mas se __________ (saber) faria uma boa refei??o.Eu n?o gosto de andar a pedir mas, se _________ (gostar) iria de porta em porta. Eles n?o têm grande dinheiro, mas, se ___________ (ter) n?o precisariam de andar a pedir.Se os lavradores daquela casa ___________ (ser) pessoas bondosas teriam dado de comer ao frade.Se o caldo _________ (ser) bem cozido, ficará mais saboroso.Se o feij?o __________ (estar) duro, deve p?r-se de molho de um dia para o outro.Sem que eles ____________ (dar) por isso, o frade enganou-os bem.Os lavradores seriam mais felizes se __________ (ajudar) os outros.N?o devemos fazer aos outros o que n?o gostaríamos que nos __________ (fazer) a nós.Quando eu __________ (poder) vou fazer uma sopa de pedra9.3. Reflex?o sobre a terceira proposta: “O Aprendiz de Mago”“O aprendiz de mago”, na vers?o de Teófilo Braga (conto maravilhoso), faz parte de uma recolha de contos tradicionais portugueses feita por este escritor e publicada em 1867.Foi com este conto popular português que pretendemos proporcionar aos nossos aprendentes estrangeiros um contacto direto com uma manifesta??o relevante da cultura popular portuguesa. Para além do veículo cultural, é evidente que n?o podemos esquecer o veículo linguístico que este texto, como qualquer outro, representa. Para contemplarmos as diferentes competências e explorarmos as potencialidades didáticas deste material linguístico, utilizamos estratégias que permitissem desenvolver a compreens?o oral e escrita, a prática da leitura, tanto silenciosa como em voz alta, a produ??o escrita de um conto tradicional do país de origem dos estudantes e a conversa??o em torno do conteúdo da narrativa que lhes foi fornecida.O conto tradicional tem caraterísticas estruturais que o tornam num material particularmente apto para a prática didática do ensino da língua. O facto de ser uma narrativa curta, feita para ler de uma só vez, adapta-se perfeitamente às circunst?ncias do trabalho na sala de aula, uma vez que a sua leitura integral pode ser feita num lapso de tempo razoável, sem prejudicar o trabalho de outras competências, que podem ser suscitadas a partir do texto narrativo. Para além disso, o património cultural constituído pelas narrativas tradicionais n?o está exclusivamente ligado ao passado, mas permite relacionamentos por vezes muito sugestivos com o imaginário atual. Escolhemos o texto “O aprendiz de mago”, porque, para além de ser um conto que faz parte da recolha que Teófilo Braga fez dos contos tradicionais portugueses, permite estabelecer articula??es com algumas narrativas atuais (n?o só literárias, mas igualmente noutras linguagens e, em particular, na cinematográfica), como, neste caso, com “O aprendiz de feiticeiro” de que todos gostam, grandes e pequenosA estas raz?es, podemos acrescentar também a necessidade de oferecer, no conjunto de unidades didáticas que lecionámos, um conjunto de materiais representativos da diversidade de manifesta??es que a cultura popular portuguesa abrange, tal como a de qualquer outro país. Assim, pudemos por os nossos alunos em contacto com uma lenda relacionada com a história de Portugal (cariz histórico), com uma narrativa tradicional associada à sopa de pedra (cariz gastronómico) e um texto que transmite uma vertente importante do universo ficcional de tradi??o popular (cariz maravilhoso, mágico). A narrativa que Teófilo Braga recolheu da tradi??o oral conta-nos a história de um rapaz que foi acolhido pelo tio, que era mago. Tendo-lhe o tio recomendado que o sobrinho n?o abrisse, em hipótese alguma, nenhuma das portas que ele lhe indicara, o rapaz acabou por fazer precisamente o contrário. A curiosidade, própria dos jovens, levou o rapaz a abrir as portas e, a partir daí, desencadeou uma série de peripécias que conduziriam a um final feliz (como é próprio dos contos).A sele??o deste conto n?o se deveu apenas ao seu valor cultural e tradicional, mas teve a ver, também, com o seu sentido intemporal. Ainda hoje se escrevem livros, com histórias que alimentam o imaginário coletivo, explorando a atra??o pelo maravilhoso. Em tempos recentes pudemos constatar isto mesmo com a saga de “Harry Potter”, que para além de livros famosíssimos também deu origem a uma série de filmes que alcan?aram grande sucesso. Poderíamos referir outros exemplos deste gosto geral pelos relatos maravilhosos para justificar a nossa escolha, mas pensamos que n?o será necessário, visto que este tipo de leituras e de filmes agrada a todo o género de pessoas, desde as crian?as até aos adultos. Por isso pensamos que seria do interesse e do agrado dos alunos esta nossa op??o e que se justificava p?-la em prática. Na hora de selecionarmos e produzirmos os materiais didáticos a utilizar nas aulas, fomos, naturalmente, limitados pelos recursos disponíveis. Por exemplo, gostaríamos de poder dar oportunidade aos alunos de verem um filme sobre o aprendiz de mago onde poderíamos trabalhar mais a oralidade, por exemplo. Mas, na impossibilidade de o fazermos, optamos por lhes apresentar o conto escrito, o que proporcionou um importante momento de leitura duma narrativa integral e suscitou a intera??o docente/discentes e discentes/discentes. Na aula que dedicámos a este tema, verificou-se a presen?a dum reduzido número de estudantes, devido à coincidência com a data da Queima das Fitas. Estiveram presentes apenas seis estudantes, o que n?o deixou de ter um lado positivo, pois assim cada um dos alunos p?de participar de uma maneira mais ativa na aula. Enquanto num grupo de vinte alunos nem sempre se consegue que todos participem de uma maneira ativa, neste caso aconteceu precisamente o contrário: todos puderam participar ativamente nas atividades propostas. Os alunos come?aram por ler o texto, primeiro silenciosamente e depois em voz alta e de forma dialogada/dramatizada. Cada aluno assumiu a voz duma personagem dentro do texto. Todos tiveram oportunidade de desempenhar um papel no conto. Depois de lerem o texto, foi trabalhada a interpreta??o global oralmente. Esta atividade serviu para testar a compreens?o oral dos estudantes e para a explica??o de novas palavras e express?es. Neste momento da aula, eles puderam colocar e esclarecer as suas dúvidas quanto a algumas passagens e express?es do texto, como por exemplo: – Pois atira ao vento o punhado de areia, disse-lhe o cavalo branco”. O significado da express?o ?punhado de areia? e de ?atirar? foi explicado com recurso ao gesto: com a m?o fechada em formato de punho, fizemos que atirávamos alguma coisa; quanto à areia, explicámos que eram os gr?ozinhos que existiam na praia. ?Arremeter? foi outro dos termos que suscitaram dúvidas: fizemos o gesto de atirar alguma coisa e eles logo perceberam. Outras dúvidas foram sendo esclarecidas, à medida que foram aparecendo.“O Aprendiz de Mago”Narrador: Um homem de grandes artes tinha na sua companhia um sobrinho, que lhe guardava a casa quando precisava sair. De uma vez deu-lhe duas chaves, e disse:Mago: – Estas chaves s?o daquelas duas portas; n?o mas abras por cousa nenhuma do mundo, sen?o morres.Nar: O rapaz, assim que se viu só, n?o se lembrou mais da amea?a e abriu uma das portas. Apenas viu um campo escuro e um lobo que vinha correndo para arremeter contra ele. Fechou a porta a toda a pressa passado de medo. Daí a pouco chegou o Mago:Mago: – Desgra?ado! para que me abriste aquela porta, tendo-te avisado que perderias a vida?Nar: O rapaz tais choros fez que o Mago lhe perdoou. De outra vez saiu o tio e fez-lhe a mesma recomenda??o. N?o ia muito longe, quando o sobrinho deu volta à chave da outra porta, e apenas viu uma campina com um cavalo branco a pastar. Nisto lembrou-se da amea?a do tio e já o sentindo subir pela escada, come?ou a gritar:Rapaz: – Ai que agora é que estou perdido!Nar: O cavalo branco falou-lhe:Cavalo Branco: – Apanha desse ch?o um ramo, uma pedra e um punhado de areia, e monta já quanto antes em mim.Nar: Palavras n?o eram ditas, o Mago abriu a porta da casa: o rapaz salta para cima do cavalo branco e grita:Rapaz: – Foge! que aí chega o meu tio para me matar.Nar: O cavalo branco correu pelos ares fora; mas indo lá muito longe, o rapaz torna a gritar:Rapaz: – Corre! que meu tio já me apanha para me matar.Nar.: O cavalo branco correu mais, e quando o Mago estava quase a apanhá-los, disse para o rapaz:Cavalo Branco: – Deita fora o ramo.Nar: Fez-se logo ali uma floresta muito fechada, e, enquanto o Mago abria caminho por ela, puseram-se muito longe. Ainda o rapaz tornou outra vez a gritar:Rapaz: – Corre! que já aí está meu tio, que me vai matar.Nar: Disse o cavalo branco:C.B:– Bota fora a pedra.Nar: Logo ali se levantou uma grande serra cheia de penedias, que o Mago teve de subir, enquanto eles avan?avam caminho. Mais adiante, grita o rapaz:Rapaz: – Corre, que meu tio agarra-nos.C.B:– Pois atira ao vento o punhado de areia, disse-lhe o cavalo branco.Nar: Apareceu logo ali um mar sem fim, que o Mago n?o p?de atravessar. Foram dar a uma terra onde se estavam fazendo muitos prantos). O cavalo branco ali largou o rapaz e disse-lhe que quando se visse em grandes trabalhos por ele chamasse mas que nunca dissesse como viera ter ali. O rapaz foi andando e perguntou por quem eram aqueles grandes prantos.Desconhecido: – ? porque a filha do rei foi roubada por um gigante que vive em uma ilha aonde ninguém pode chegar.Rapaz: – Pois eu sou capaz de ir lá.Nar: Foram dizê-lo ao rei; o rei obrigou-o com pena de morte a cumprir o que dissera . O rapaz valeu-se do cavalo branco, e conseguiu ir à ilha trazendo de lá a princesa, porque apanhara o gigante dormindo.A princesa assim que chegou ao palácio n?o parava de chorar. Perguntou-lhe o rei:Rei: – Porque choras tanto, minha filha?Princesa: – Choro porque perdi o meu anel que me tinha dado a fada minha madrinha e, enquanto o n?o tornar a achar, estou sujeita a ser roubada outra vez ou ficar para sempre encantada.Nar: O rei mandou lan?ar o preg?o em como dava a m?o da princesa a quem achasse o anel que ela tinha perdido. O rapaz chamou o cavalo branco, que lhe trouxe do fundo do mar o anel, mas o rei n?o lhe queria já dar a m?o da princesa; porém ela é que declarou que casaria com o jovem para que dissessem sempre: Palavra de rei n?o torna atrás.Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português (1883) (Eixo – distrito de Aveiro)O primeiro material a ser utilizado na aula, para além do texto, foi um exercício em que os aprendentes tinham que organizar, cronologicamente, as a??es do texto. Este exercício para alguns alunos n?o foi muito fácil, mas pensamos que seria uma boa altura para eles come?arem a treinar a organiza??o do texto, fornecendo-lhes segmentos textuais de forma aleatória, para que eles as colocassem na ordem correta. I. Compreens?o do texto Ordene, cronologicamente, os factos que aparecem no texto e que apresentamos a seguir:A??esOrdem cronológica- O rapaz saltou para cima do cavalo branco.- O rapaz abriu a segunda porta- O cavalo branco largou o rapaz numa terra onde havia muito choro.- O rei perguntou à princesa a raz?o por que chorava.- O cavalo branco trouxe o anel do fundo do mar.- O rapaz abriu a primeira porta.- O tio do rapaz proibiu-o de abrir as portas.- O cavalo branco apareceu ao rapaz.- A filha do rei foi roubada por um gigante.- O rapaz disse ao rei que era capaz de ir à ilha onde estava a rapariga.- Quando viu o Mago, o rapaz saltou para o cavalo branco.- O rapaz n?o foi apanhado pelo Mago porque deitou ao vento um punhado de areia.- O rei anunciou que casaria a sua filha com aquele que achasse o anel perdido.- A filha do rei obrigou o seu pai a permitir o casamento com o rapaz.- O rei amea?ou o rapaz com a pena de morte caso n?o cumprisse a sua palavra.- O cavalo branco disse ao rapaz para deitar fora a pedra.- Fez-se uma floresta muito densa que dificultou a passagem do Mago.- Levantou-se uma grande serra cheia de penedos.- O Mago n?o p?de atravessar o mar.De seguida, os aprendentes fizeram um exercício escrito para verifica??o da compreens?o do texto, constituído por perguntas que diziam diretamente respeito ao texto e outras que, embora relacionadas com o texto, também exigiam que o estudante exprimisse uma opini?o pessoal. Pudemos verificar que para a maioria dos alunos n?o foi difícil dar a resposta, mas alguns tiveram certa dificuldade. Nuns casos exigia-se o conhecimento das caraterísticas específicas dos contos populares, noutros apenas a manifesta??o dum juízo pessoal, mas sempre apoiado em elementos relacionados com o conto. Foi nosso propósito fazer com que os aprendentes se exprimissem por escrito dando a sua opini?o em rela??o ao texto (pondo à prova a sua competência escrita no quadro duma atividade comunicativa) e testar os seus conhecimentos no que se refere ao conto tradicional, visto que ele tem as mesmas caraterísticas em todas as culturas.O herói passa por diversas provas como é costume nos contos populares. Qual é o significado que atribui a essas provas?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________O casamento é culminante deste processo. Que li??o moral poderá conter este conto a esse respeito?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________A atitude final do rei pode ser interpretada de dupla maneira:- Ou a sucess?o desagrada ao rei;- Ou o rei n?o quer separar-se da filha. Escolha a que lhe parece mais adequada e justifique a sua op??o.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Explique a rela??o entre rapaz/cavalo branco.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ O herói passa por diversas provas como é costume nos contos populares. Qual é o significado que atribui a essas provas?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________O casamento é culminante deste processo. Que li??o moral poderá conter este conto a esse respeito?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________A atitude final do rei pode ser interpretada de dupla maneira:- Ou a sucess?o desagrada ao rei;- Ou o rei n?o quer separar-se da filha. Escolha a que lhe parece mais adequada e justifique a sua op??o.__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Houve a seguir um momento em que pretendemos favorecer o enriquecimento vocabular, através duma atividade que punha em evidência a utiliza??o nas narrativas de cariz tradicional de elementos lexicais arcaicos ou pertencentes a um nível de língua popular, relacionando-os com os termos correspondentes no português atual ou na norma mais corrente.II. Enriquecimento do vocabulárioDas quatro propostas apresentadas, destaque a palavra que tem o significado mais próximo ou o seu sinónimo em rela??o à palavra escrita a negro.ArremeterAtirar-se, aderir, pegar, largarCampinaTerra, planície, montanha, desertoBotarDeitar, levantar, sentar, andarPenediasPedras, grandes pedras, pedreiras, montesPunhadoM?o cheia, m?o fechada, bra?o, ombroPrantosChoros, risos, falas, frases Chegado o momento de trabalharmos a competência gramatical, em que decidimos abordar a passagem do discurso direto para o indireto (e vice-versa), as dificuldades foram maiores. Pensamos focar aqui esta matéria, visto que o texto era propício à sua introdu??o, ou seja, estava quase todo em discurso direto e/ou indireto e pensamos que seria uma boa altura para o seu estudo. Partimos da análise de algumas frases do texto, como, por exemplo: “Mago: – Estas chaves s?o daquelas duas portas; n?o mas abras por cousa nenhuma do mundo, sen?o morres”. Aqui os aprendentes leram e perceberam que se utilizava o discurso direto, pois eram reproduzidas diretamente as palavras da própria pessoa que falava. Depois, pedimos a um aluno que passasse esta frase para o discurso indireto. Ele consultou o material de apoio que tinha sido distribuído, com as regras que regulam as altera??es estruturais a fazer, e tentou reproduzir a frase no discurso indireto. Conseguiu fazê-lo com alguma ajuda: – O mago disse ao rapaz que aquelas chaves eram daquelas duas portas; que n?o as abrisse por cousa nenhuma do mundo, sen?o morreria. Tentamos levar os alunos, da melhor maneira, a identificarem as diferen?as entre a frase em discurso direto e a que resultou da passagem para o indireto. A parte mais difícil foi fazê-los perceber todas as modifica??es necessárias para operar a transforma??o duma frase em discurso direto para o indireto e vice versa. Os alunos n?o percebiam muito bem que modos e tempos verbais utilizariam num e noutro caso. Ent?o recorremos a alguns exercícios orais propondo-lhes que um aluno dissesse uma frase e outro a tentasse transmitir por palavras suas. Por exemplo, um aluno que estava um pouco confuso disse: “Eu n?o estou a perceber muito bem isto”. Ent?o, propus ao segundo aluno que tentasse transmitir aos colegas o que o outro companheiro tinha dito. E ele disse-o por palavras suas ?F. disse que n?o percebe bem a matéria?. Embora se percebesse o que aluno quis dizer, a frase correspondia ao discurso reportado e n?o ao discurso indireto, pelo que lhe foi explicada, a ele e aos outros, a forma correta de passar do discurso direto para o indireto e vice-versa: ?F. disse que n?o estava a perceber muito bem aquilo.? Foi-lhes explicado que se deviam reproduzir as palavras proferidas em discurso direto, apesar de ser necessário alterar certos tempos e modos verbais, assim como outros elementos cujo significado era contextual (pronomes pessoais, possessivos e advérbios de tempo ou lugar).Neste momento da aula propusemos aos estudantes, como atividade de remedia??o, a resolu??o de alguns exercícios estruturais:III. Discurso direto e indireto:Passe para o discurso indireto a seguinte frase:Cavalo Branco: – Apanha desse ch?o um ramo, uma pedra e um punhado de areia, e monta já quanto antes em mim.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Cavalo Branco: – Apanha desse ch?o um ramo, uma pedra e um punhado de areia, e monta já quanto antes em mim.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Rapaz: – Foge! que aí chega o meu tio para me matar.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Cavalo Branco: – Deita fora o ramo.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________C.B:– Bota fora a pedra.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Rei: – Porque choras tanto, minha filha?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Agora passe o seguinte conto popular para o discurso direto e fa?a as altera??es necessárias. Aten??o à pontua??o! O barbeiro disse ao padre que tinha um segredo, mas que n?o podia revelá-lo a ninguém; e acrescentou que, se o n?o dissesse, morreria, e, se o dissesse, o rei mandá-lo-ia matar. Respondeu-lhe o padre que fosse a um vale, e que fizesse uma cova na terra e dissesse o segredo tantas vezes até ficar aliviado desse peso; e que depois tapasse a cova com terra. O barbeiro assim fez; e, depois de ter tapado a cova, voltou para casa muito descansado.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Nem todos os estudantes conseguiram realizar os exercícios sem ajuda, eles tiveram dúvidas que foram, obviamente, esclarecidas pelo professor. Embora tenha sido possível constatar que esta n?o era uma matéria que eles dominassem integralmente, ficou identificada uma área em que seria necessário realizar atividades de refor?o e remedia??o, tal como viria a acontecer em aulas posteriores.Finalmente, como atividade destinada a desenvolver a competência de produ??o escrita, propusemos aos alunos que escrevessem fora da aula um conto popular do seu país, a entregar na aula seguinte (esses textos vir?o em anexo).IV. Produ??o de uma narrativaRedija um conto popular do seu país. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Nome: _______________________________________________________O balan?o que fazemos desta aula é positivo, apesar de algumas dificuldades encontradas, sobretudo na parte gramatical. Os alunos fizeram os exercícios que lhes foram propostos, exigindo talvez, mais esfor?o mental do que habitualmente, mas, no final, estamos convencidos de que o trabalho desenvolvido deu e dará os seus frutos.10. Conclus?oLer e compreender um texto requer aprendizagem. Neste processo, o professor tem um papel fundamental, pois deve ser um facilitador dessa aprendizagem. Para isso deve ajudar o estudante a encontrar as estratégias necessárias que lhe possibilitam compreender o que lê. “Neste processo da compreens?o da leitura, é crucial a distin??o entre tal representa??o do sentido e uma representa??o da referência. O leitor competente n?o se limita a processar informa??o, analisando as express?es linguísticas em termos do seu conteúdo proposicional e/ou conceptual, mas também constrói uma representa??o de um modelo mental de referência.” (FIGUEIREDO e BIZARRO 1999: 468)No contexto da leitura da literatura popular, o aprendente de PLE vê a sua tarefa simplificada, visto que se trata de textos que veiculam mensagens simples, de fácil compreens?o (na maior parte dos casos). Os textos s?o curtos, pelo que n?o exigem do estudante um grande esfor?o mental para a sua fixa??o e compreens?o.No que diz respeito à escrita, ela tem de mobilizar os recursos linguísticos que assegurem ao texto uma estrutura??o adequada ao sentido que se pretende construir (coerência textual). Neste caso da escrita de um conto de fundo tradicional, portanto de tipo narrativo, o aprendente de PLE tem que saber organizar os elementos do texto atendendo às caraterísticas próprias do conto popular – come?ar por “Era uma vez…, Um dia…”, etc., deve usar formas verbais que remetam sempre para um passado indeterminado, ser curto e conciso, contar uma história que contenha linhas dramáticas no seu desenvolvimento e tenha um fim enigmático, ou seja, mantenha o suspense até ao fim, mas que tenha um desenlace feliz. Portanto, e olhando para o conto popular, o aprendente tem de ter em conta todos estes elementos quando estiver a redigir um conto tradicional ou uma lenda…Quanto à oralidade, o aprendente de PLE deve fazer algumas inferências, ou seja, quando n?o consegue, ainda, exprimir-se bem na língua que está a estudar, neste caso o português, deve suprir estas insuficiências recorrendo às suas aprendizagens prévias em LM e utilizá-las na compreens?o da LE. Também aqui o professor pode ajudar o estudante a encontrar estratégias de aprendizagem que o levem ao resultado esperado, que é exprimir-se na língua que está a estudar.Procuramos, ao longo das aulas, fornecer aos aprendentes ferramentas que os possam ajudar futuramente, n?o só no que diz respeito aos contos e lendas, mas a toda a sua aprendizagem. Foi neste contexto e com esse objetivo que nos envolvemos neste projeto de ensino-aprendizagem.Consideramos que os objetivos que nos propusemos foram cumpridos, pelo menos no que respeita à temática da literatura tradicional (contos e lendas). Pensamos ainda, que, enquanto desenvolvíamos as várias competências, entre as quais salientamos a linguística, a discursiva, etc., fomentamos a interculturalidade, uma competência que em nosso entender contribuiu muito para o desenvolvimento cultural dos alunos.Temos consciência, porém, de que muito ainda haverá a fazer, pois este nosso percurso enquanto docente foi muito curto, esperando que possa ser no futuro continuado, por nós próprias, ou por outros que venham a interessar-se pela utiliza??o deste tipo de materiais para a aprendizagem de PLE.BibliografiaADOLFO, Coelho (1999), Contos Populares Portugueses, 5? ed. Lisboa: D. Quixote.AGUIAR e Silva, V. (2002). Teoria da Literatura, Coimbra: Almedina.ARA?JO, Alberto Filipe e BAPTISTA, Fernando Paulo (2003), Varia??es sobre o Imaginário: Domínios, Teoriza??es e Práticas Hermenêuticas, Lisboa: Instituto Piaget.BARRETO, A. G. (2002). Dicionário de Literatura Infantil Portuguesa. Porto: Campo das Letras BARTHES, Roland et al. 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