5 MAIS (A)VENTURAS DO ‘ERA UMA VEZ’

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5 MAIS (A)VENTURAS DO `ERA UMA VEZ...'

H? uma crian?a dentro de mim que se e recusa a morrer. Liv Ullmann

A preocupa??o dos diretores de TV para com a crian?a tamb?m pode ser vista em outras emissoras dos anos iniciais desse meio de comunica??o no pa?s. Embora algumas emissoras demonstrem mais interesse em propor a esse segmento uma diversidade de programas, outras menos, a gurizada alcan?a, sensivelmente, seu espa?o social enquanto telespectador brasileiro.

Neste cap?tulo, veremos que essa discrep?ncia da produ??o art?stica entre as emissoras do per?odo hist?rico, 1950 a 1965, deveu-se a v?rios fatores, como por exemplo, a trajet?ria profissional dos idealizadores do programa e a condi??o financeira da TV. Dentre todos os g?neros do entretenimento, o teleteatro infantil seria uma experi?ncia televisiva que se projetou, nacionalmente, vivenciando essa complexa circunst?ncia.

Na inten??o de dar continuidade ? pesquisa proposta neste estudo de tese, interessa-nos, nas p?ginas seguintes, elencar e analisar a veicula??o e produ??o de teleteatro para crian?a nas esta??es do eixo Rio-S?o Paulo: TV Tupi (1951), canal 6, do Rio de Janeiro; TV Paulista (1952), canal 5 e TV Record (1953), canal 7, ambas de S?o Paulo. Embora na primeira d?cada da TV no Brasil, in?meras emissoras foram inauguradas na regi?o Sudeste, verificamos que somente estes canais e ainda a TV Itacolomi (1955), de Belo Horizonte ? objeto de an?lise do pr?ximo cap?tulo ? investiram na produ??o desse teatro infantil em domic?lio.1

Ainda que n?o buscassem uma programa??o diferenciada da pioneira Tupi paulista, canal 3, as referidas emissoras n?o deixaram de assumir uma caracteriza??o particular de produ??o art?stico-cultural. Cada uma, a seu tempo, demonstrou a prefer?ncia por determinados programas, os quais acabaram por compor o repert?rio de experi?ncias de sucesso na hist?ria da TV brasileira.

Na grade de programa??o desses canais, o p?blico infantil tamb?m se viu agraciado, ainda que houvesse inicialmente poucos hor?rios destinados a ele.

Entre erros e acertos, improvisos e criatividade, uma s?rie de textos do universo do encantamento seduziram os pequenos.

1 Cf. Anexo 4.

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Dessa forma, as a (venturas) do era uma vez ganharam a telinha, e, a partir da?, infiltraram-se na mem?ria de um p?blico que cresceria, mas n?o o esqueceria.

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5.1 O Rio de Janeiro pela tela

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Na inten??o de expandir o prest?gio da "imagem ? dist?ncia", em 20 de janeiro

de 1951, o empres?rio Francisco de Assis Chateaubriand inaugura no Rio de Janeiro, a

TV Tupi, canal 6, mais um projeto ambicioso da iniciativa privada que faria parte do

recente oligop?lio de veicula??o de informa??es do Brasil.

A inaugura??o tamb?m foi marcada por uma s?rie

de comemora??es.

Inicialmente, n?o diferente das demais emissoras

instaladas, a Tupi carioca vivenciaria a incipi?ncia do

ve?culo, sem uma escola que n?o a da experimenta??o e da

Figura 36. Logotipo da

improvisa??o. Dia a dia, na TV do ao vivo, os funcion?rios emissora Tupi-Rio.

enfrentavam as falhas t?cnicas, a aus?ncia de recursos etc... Nestes anos, a imagem, por

exemplo, n?o chegava ?s resid?ncias de forma n?tida. Logo, era preciso que o

telespectador a todo momento girasse a antena para retirar os chuviscos.

Sempre no final da tarde, antes da exibi??o de suas programa??es, o

indiozinho tomava a tela da emissora como

s?mbolo de `sinal de espera'.

Aos poucos, a grade de hor?rios do canal

6 se definiria. Para que ela se consolidasse no

circuito sociocultural do Rio de Janeiro, alguns

dos programas transmitidos na Tupi paulista

eram reproduzidos em seu est?dio. Assim, foi

ao ar toda uma programa??o, que se mostrou diversa nas categorias entretenimento, informa??o e educa??o.

Figura 37. Ilka Soares, ? esquerda e J. Silvestre, no programa O C?u ? o Limite.

(Fonte: )

Na categoria informa??o, diariamente havia a transmiss?o do Rep?rter Esso,

com Heron Domingues ou com Gontijo Teodoro. O esporte tamb?m tinha um hor?rio

sempre aos domingos. Com Oduvaldo Cozzi, Ruy Viotti, Ari Barroso e Jos? Maria

Scassa, Tarde Esportiva ganhava a tela.

Na programa??o de entretenimento, a emissora exibiu O C?u ? o Limite,

programa de audit?rio ? base de perguntas e respostas com premia??o no final. Pelo

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sucesso de p?blico desta produ??o, em S?o Paulo, Aur?lio Campos foi o apresentador e, no Rio, J. Silvestre.

Nos finais dos anos 50, o programa Paulistas e Cariocas, no formato gincana, tamb?m ? transmitido, simultaneamente, nos dois canais. Abelardo Barbosa, o Chacrinha, estreia na TV com Rancho Verde e Fl?vio Cavalcanti, em Um Instante Maestro, de forma teatral critica produ??es de discografia, chegando a quebrar algumas em cena. Com requinte, exibiram-se, ainda, Noite de Gala, ?s segundas-feiras, sob patroc?nio do "Rei da Voz", do Abrah?o Medina e Almo?o com as Estrelas, aos s?bados, com Aerton Perlingeiro.

Quanto a esta categoria, vale dizer ainda que a nova emissora carioca, diferentemente, da Tupi de S?o Paulo, passa a priorizar uma programa??o de espet?culos musicais e ter? como modelo as variedades do teatro de revista. Assim, nos est?dios da TV Tupi, tudo era poss?vel.

Nesta nova proposta de transmiss?o, embora artistas do r?dio, do circo, dos espet?culos musicais pertencessem ao seu quadro de funcion?rios, os atores do teatro se tornaram categoria de prest?gio, na medida em que "familiarizava alguns profissionais da TV com as t?cnicas de dramaturgia" (FARIA, 2005, p. 77).

Em virtude de uma tradi??o na arte teatral, desde os tempos do Imp?rio, o Rio de Janeiro oferece como marca de sua singularidade uma TV vitrine da arte c?nica. O ve?culo se torna, assim, um espa?o em que se congrega, ao mesmo tempo, representantes da elite cultural e setores da arte popular. Sua programa??o variava da fic??o mais ing?nua aos mais sofisticados teleteatros.

Deste contexto, merecem destaque as produ??es de alto n?vel cultural, que somariam muitos anos de transmiss?o como os programas de teleteatros. De grande import?ncia foi o C?mera Um, teleteatro de Jacy Campos, que ap?s retornar dos EUA, trouxe a novidade de gravar cena com apenas uma c?mera. Um beijo nas trevas, uma adapta??o de Silvia Autuori, conhecida no universo do r?dio como Tia Chiquinha, foi o primeiro texto de estreia da nova experi?ncia.

Depois do sucesso desta encena??o no canal, o programa passou a transmitir textos importantes da dramaturgia, os quais corroboraram para o seu tempo de perman?ncia na grade da emissora.

Na cena da TV carioca tamb?m surge o Grande Teatro Tupi, de S?rgio Brito, tendo no elenco Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Maria Della Costa, Walmor Chagas, Nat?lia Timberg, Italo Rossi e tantos outros. As encena??es do Grande Teatro

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Tupi, por exemplo, se pautaram num repert?rio de obras cl?ssicas da dramaturgia, adaptando para o v?deo Ibsen, Tenessee Willians, Pirandelo, O'Neill, Garcia Lorca, Jorge Andrade; romances de Oscar Wilde, Balzac, Goethe, Machado de Assis; filmes de sucesso e telepe?as americanas de v?rios t?tulos. Segundo Cristina Brand?o Faria (1999), a inten??o de S?rgio Britto seria fazer com que os telespectadores conhecessem novas produ??es dramat?rgicas e liter?rias, as quais corroborariam, fundamentalmente, para a evolu??o da pr?pria identidade da TV.

A respeito dos bastidores do processo de adapta??o, o roteirista Manoel Carlos (Apud FARIA, 1999, p. 6) esclarece que:

N?o havia um rigor muito grande. Normalmente a id?ia partia de quem fazia a adapta??o, normalmente eu. Eu sempre me interessei por literatura e sugeria: `Vamos fazer isso do Dostoievsky, ou isso de Balzac, ou Maupassant?' Outras vezes o S?rgio sugeria, outras vezes os pr?prios atores. Eu lia, via se tinha possibilidade de fazer um bom teleteatro e fazia. [...] O que funcionava era uma boa hist?ria, um bom elenco e uma boa dire??o. N?o importava se era um drama, uma com?dia ou uma trag?dia. Eram hist?rias bem feitas. N?o tinha problema se eram brasileiras ou n?o. E tamb?m n?o tinha problemas quanto ? dura??o.

Sempre ?s segundas-feiras ? ?nico dia de folga dos atores no teatro ? o p?blico carioca assistia ?s encena??es do teleteatro da Tupi. Durante oito anos, sem interrup??o, foram exibidos 450 espet?culos, em grandes produ??es, e os telespectadores passaram a ter o teatro como complemento importante em suas atividades cotidianas.

Diante desse prest?gio, os diretores do canal 6, tamb?m, chegaram a explorar esse laborat?rio ficcional na produ??o direcionada ao p?blico infantil. Se em S?o Paulo, a TV Tupi exibia os famosos teleteatros e seriados de Tatiana Belinky e J?lio Gouveia e de Francisco Dorce; no Rio, um teleteatro que fez parte da inf?ncia e adolesc?ncia de muitos telespectadores brasileiros seria o Teatrinho Trol, tendo, por longo tempo, na dire??o, o ator F?bio Sabag.

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