No lançamento do livro “Kumbira” de Graça Fernandes



No lan?amento do livro “Kumbira” de Gra?a Fernandes Por Cor. Manuel Bernardo Cumprimentos: General Pedroso Lima, Coronel Leit?o Fernandes, T. Coronel Sales Golias, Dr.? Gra?a Fernandes e todos os presentes. Igualmente os votos de Feliz Natal e um 2014 melhor que o actual. Como a idade n?o perdoa aqui v?o os breves comentários que redigi para esta ocasi?o. N?o podia deixar de enaltecer, em primeiro lugar, a grande capacidade e o esfor?o despendido pela autora, Dr.? Gra?a Fernandes, - minha colega num curso da Universidade Católica, há uns anos atrás - quer neste trabalho, quer nos anteriores livros publicados desde 2008. Este já é o seu quarto livro editado em cinco anos. Parabéns! Desejava, se me permitem, apresentar algumas considera??es prévias sobre o designado problema africano dos anos 60 e 70 e durante o “consulado marcelista”, que estudei para uma tese no Curso da Universidade Católica - Marcello e Spínola; a Ruptura (…); Portugal 1973-1974 e que fiz publicar em livro, em 1994 e desde o ano passado em 3.? edi??o. Recorde-se que o pano de fundo em rela??o aos figurantes apresentados nesta obra é a guerra africana, que a minha gera??o enfrentou desde o seu início, como subalternos do QP – tínhamos acabado o tirocínio em Mafra em 1960. E que contribuímos para acabar com ela, após a eclos?o do Movimento dos Capit?es, em que muitos de nós participámos, na altura em que estávamos a cumprir a quarta comiss?o por imposi??o/escala. Lembro-me que ent?o e a propósito dos anos que durava referida guerra, dizíamos que n?o se via a luz ao “fundo do túnel”. Há outro aspecto que gostaria de salientar. Alguns analistas e historiadores surgem, de vez em quando, a falar sobre os massacres que as tropas portuguesas ter?o praticado ao longo dos 13 anos de guerra. Tal terá acontecido pontualmente, como em todas as guerras. Mas o maior de todos foi o cometido pelos elementos da UPA (depois FNLA) de Holden Roberto, a partir de 15 de Mar?o de 1961, no Norte de Angola, com o apoio dos EUA e do Congo. Este massacre foi desencadeado com requintes de malvadez, sendo barbaramente mortos à catanada cerca de 1.000 brancos e 6.000 negros em apenas três dias. Quando se questiona a justeza ou n?o daquela guerra, julgo que será perfeitamente aceitável que a tivéssemos desencadeado na defesa das popula??es angolanas, alvos de tais ac??es, que ainda hoje poder?o ser considerados “crimes contra a humanidade”. Tal até era a opini?o de Rosa Coutinho, numa entrevista que me concedeu em 1997. Anos mais tarde, tanto Oliveira Salazar, como Marcello Caetano, na minha opini?o, deveriam ter considerado a solu??o de negociar com os movimentos guerrilheiros (em posi??o de for?a, de preferência), que seria a forma de terminar com esses conflitos em Angola, Mo?ambique e Guiné. E Marcello Caetano teve a última oportunidade perdida de o fazer, quando lhe foi posta essa quest?o em 1972, depois do encontro de Spínola/Senghor, no Senegal, através de Fragoso Allas, o director guineense da DGS. Outro aspecto que gostaria de real?ar era a situa??o das guerrilhas dos três movimentos por altura do 25 de Abril de 1974, em Angola, que várias vezes se encontra referida neste livro da Gra?a Fernandes. A FNLA tinha uma existência muito residual na sua habitual área de actua??o no N de Angola. A UNITA era praticamente a única for?a activa, mas apenas há pouco tempo, no Leste, já que tinha acabado com o acordo que mantivera com as for?as militares portuguesas locais e desencadeara uma emboscada com muitos mortos, em 26-4-1974. A for?a militar do MPLA era quase nula, pois segundo fontes insuspeitas e credíveis n?o possuía mais de 30 guerrilheiros dentro de toda a Angola, depois de uma derrota estrondosa no Leste nos últimos anos. A completar esta situa??o do MPLA encontrava-se dividido em três fac??es:-A “Revolta Activa” de Pinto de Andrade; - A “Revolta do Leste” (umbundos) de Daniel Chipenda;- A fac??o de Agostinho Neto (quimbundos). Esta última fac??o nem num congresso realizado em Agosto de 1974 conseguiria a sua elei??o (ganho por Chipenda) e assim apenas em 22 de Outubro proporia um cessar-fogo com as for?as portuguesas. Mas viria a ser a for?a mais importante de Angola com o apoio de Rosa Coutinho e Pezarat Correia, até ao Acordo do Alvor (Janeiro de 1975) e das tropas cubanas enviadas por Fidel Castro uns meses depois. E ficaria à frente dos destinos de Angola até hoje.Sobre “Kumbira”… Quanto ao livro hoje apresentado desejo acrescentar o seguinte. Inicio com um pequeno comentário sobre o prefácio do meu amigo General Garcia dos Santos e finalista do Curso de Engenharia da AM, quando saímos em 1959, da Gomes Freire, em Lisboa. Subscrevo os seus elogios feitos à Gra?a Fernandes. Apenas n?o concordo com ele quando afirma que “ela (guerra) se poderia ter evitado”. Com os interesses que estavam em jogo da parte das grandes potências de ent?o, dificilmente na parte inicial, como já referi anteriormente, tal poderia ter sucedido de outra maneira. Apesar de poder-se considerar previsível, n?o se previa, com certeza, que a actua??o inicial fosse t?o violenta e com tantos massacres em massa das popula??es. Em rela??o ao conteúdo do livro, considero notável a maneira como a autora apresenta a conversa de café dos militares ex-combatentes em Angola e as recorda??es que cada um deles apresenta sobre a experiência vivida nas várias regi?es desse território. Muito interessante é também a descri??o feita nas deambula??es sobre a História de Angola desde a sua descoberta pelos Portugueses até à actualidade. Sobre as duas principais personalidades destacadas no livro, o Rogério e o Aníbal, apenas quero comentar duas pequenas situa??es em rela??o a este último, face ao que acontecia na realidade ent?o vivida. Se ele entrou na Escola do Exército em 1957, n?o poderia ser promovido a major, em Junho de 1971, pois o seu percurso seria idêntico ao meu, que entrei nesse estabelecimento de ensino militar um ano antes dele e apenas cheguei àquele posto de oficial superior (major) em 1 de Janeiro de 1974, tal como a generalidade do meu curso que foi promovida em 1973. A promo??o do Aníbal apenas poderia ser na data indicada pela autora, se fosse promovido por distin??o ao posto imediato, por ac??es muito excepcionais em combate, o que foi muito raro no Exército Português. Julgo que tal n?o terá acontecido na descri??o feita no livro sobre a sua carreira militar. A outra referência que desejava fazer, tem a ver com aquela situa??o da rela??o de Aníbal com Mafalda e da qual teria resultado um filho, “por ela ter ficado grávida por vontade de ambos”. Julgo que a Gra?a terá sido contagiada pelo que sucede actualmente, já que, naquela época, um oficial do Exército teria casado antes com a senhora, como era ent?o a regra normalmente seguida. Sobre a experiência vivida pelo Rogério em Angola, gostaria de destacar a express?o que o ent?o Coronel Carrasco passou a utilizar por sua iniciativa em rela??o a si próprio - “Coronel Killer”, por ter feito essa tradu??o na conversa com oficiais sul-africanos, quando era comandante militar da Huíla. Eu julgava, até agora, ser uma alcunha, que lhe teria sido atribuída quando comandou a Regi?o Militar de Mo?ambique: “John, the killer”; tal foi destacado pelo historiador José Freire Antunes no seu livro biográfico de Jorge Jardim (1996). Apenas salientarei o facto do título do livro ser baseado numa floresta denominada “Kumbira” e n?o no nome de uma mulher, como se poderia deduzir assim à primeira vista… Nesta “mata” onde Aníbal se sentia t?o bem, “por ser um local idílico”, irá decorrendo um interessante diálogo entre ele e um rapaz negro de 15 anos de idade (1968). Os temas abordados eram bastante significativos e iam desde o catolicismo, à história de Angola, à caracteriza??o da coloniza??o portuguesa, ao racismo, ao pan-africanismo e à justeza ou n?o da guerra que continuava em Angola. E por aqui me fico sobre o conteúdo deste livro.Guerra do Ultramar, Colonial ou de ?frica? Antes de terminar quero ainda salientar um outro aspecto que tem a ver com este tipo de trabalhos. Trata-se da designa??o que os escritores atribuem à guerra que enfrentámos. Como atrás referi, a minha gera??o de oficiais do QP fizeram toda a guerra, desde o início em 1961, ao final em 1974, nas quatro comiss?es cumpridas por imposi??o/escala. Apesar de me ter habituado, desde sempre, a dar-lhe o nome de Guerra do Ultramar, na qualidade de investigador, com livros publicados sobre a matéria, estou disposto a aceitar a designa??o “Guerra de ?frica”. Assim subscrevo a explica??o dada pelo Professor Rui de Azevedo Teixeira – um historiador de esquerda, que foi cooperante nas universidades de Angola e Mo?ambique, após as independências, aquando do lan?amento da sua biografia do General Jaime Neves, no 25 de Novembro do ano passado. Segundo afirmou a designa??o “Guerra Colonial” tem uma conota??o de esquerda (vejam-se os livros de Aniceto Afonso e Matos Gomes) e a de “Guerra do Ultramar”, uma conota??o de direita (ver Jaime Nogueira Pinto, etc …). Assim, por essa raz?o, ele diz seguir agora a terminologia utilizada do antecedente pelo historiador José Freire Antunes na sua “Guerra de ?frica” – 2 vols/ed 1995, recentemente reeditada. ? visível que tudo isto tem que ver com o interesse em cativar os leitores para este género de obras, numa época em que cada vez mais se torna mais complicada a comercializa??o dos ensaios de História. Lembro, a propósito, o sucedido recentemente com uma reputada historiadora, em que a Editora Bertrand, no dia do lan?amento de um seu livro de História Contempor?nea, o colocou à venda nas livrarias com 25% de desconto, quando em anos anteriores, na Feira do Livro, as “novidades editoriais” n?o tinham qualquer desconto. Ainda sobre este assunto recordo que, na semana passada, ao assistir à apresenta??o de um livro sobre uma companhia de “Comandos”, de Mo?ambique, da autoria de uma jornalista e de um licenciado em História, os ex-combatentes, que estavam perto mim, ficaram um tanto chocados pelo facto dos autores, nas suas alocu??es, terem designado a guerra de 1961-74, por “colonial”. E é tudo o que tinha para vos dizer. Agradecendo a aten??o dispensada, termino reafirmando os votos de Boas Festas para todos!Obrigado. Manuel A. Bernardo (Coronel ref.) 21-12-2013PS: No decorrer desta sess?o foi considerado por dois intervenientes que o MFA já existia no início de 1974. No entanto, segundo Otelo e Vasco Louren?o, por mim questionados, este termo (MFA), da iniciativa do General Spínola, em Abril desse ano, apenas se tornou público no dia 25. (In Os Militares, as Artes e as Letras; os 25 anos do 25 Abril/2001- coord. Manuel Bar?o da Cunha). ................
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