Desenho Animado, Tv e YouTube: Reflexões Sobre ... - Intercom

Intercom ? Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunica??o XXXIII Congresso Brasileiro de Ci?ncias da Comunica??o ? Recife , PE ? 2 a 6 de set. de 2011

Desenho Animado, Tv e YouTube: Reflex?es Sobre Educomunica??o e Linguagens1

Ademilde Silveira Sartori2 Kamila Regina de Souza3

Nelito Jos? Kamers4 Universidade do Estado de Santa Catarina ? UDESC, Florian?polis, SC

RESUMO

O momento que vivemos apresenta um desenvolvimento tecnol?gico que amplia as possibilidades de comunica??o e informa??o, o telefone, a televis?o e o computador alteram a forma de viver e aprender. Por esta "invas?o" das linguagens multim?dias no cotidiano de nossos alunos ? que pretendemos indagar sobre os aspectos envolvidos na recep??o televisiva de desenhos animados e na publica??o de v?deos no YouTube com prop?sito de gerar processos de an?lises e discuss?o sobre uso das NTIC e como est?o se integrando em nossas escolas, transcendendo a mera utiliza??o para a elabora??o de trabalhos pr?ticos, para constituir-se em dispositivos s?cio-t?cnico-culturais para constru??o do conhecimento, para a compreens?o da sociedade em que vivemos e como inserir-se nela de modo cr?tico e criativo.

PALAVRAS-CHAVE: Linguagem multim?dia; dispositivos de comunica??o; educomunica??o.

1. Introdu??o

S?o vis?veis as transforma??es sociais e culturais ocorridas na sociedade ao longo dos s?culos em fun??o das descobertas e inven??es tecnol?gicas. A Sociedade do Conhecimento se constitui em oportunidade para que se possa lograr uma melhor qualidade na educa??o. Com a mudan?a paradigm?tica a educa??o, que deixou de ser concebida como centrada no ensino e passou a ser baseada na colabora??o e constru??o coletiva, instigada pelo desenvolvimento das NTIC, tem sido desafiada a responder ?s novas gera??es de forma mais flex?vel e aberta. Neste contexto, vemos o docente a mudar, n?o somente os m?todos de ensino, como tamb?m seu papel, o que implica em novas formas de comunica??o, novas atitudes e condutas, tanto como docente quanto como investigador. Para os estudantes o uso das NTIC se apresenta como uma

1Trabalho apresentado no GP Comunica??o e Educa??o, XI Encontro dos Grupos de Pesquisas e Comunica??o, evento componente do XXXIV Congresso Brasileiro de Ci?ncias da Comunica??o. 2Doutora em Comunica??o pela USP, professora da disciplina Educa??o e Comunica??o do Programa de P?s-Gradua??o em Educa??o ? PPGE/UDESC, e-mail: ademilde.sartori@udesc.br. 3Pedagoga, mestranda em Educa??o ? PPGE/UDESC, e-mail: kamila.brasil@ 4Licenciado em F?sica, mestrando em Educa??o ? PPGE/UDESC, e-mail: nelitok@.br.

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alternativa v?lida para a melhoria de sua forma??o e aprendizagem das compet?ncias b?sicas profissionais, que lhes permita integrar-se, e a contribuir para a constru??o de uma sociedade mais humana e equitativa na medida em que se inserem de modo cr?tico, participativo, inquiridor e protagonista.

Os professores devem ultrapassar o papel de transmissores de informa??es para desenvolver uma pr?tica pedag?gica comprometida com a constru??o do conhecimento, aceitando que j? n?o s?o os ?nicos detentores do conhecimento e percebendo como as NTIC fazem parte da vida dos alunos de diversos modos, seja pelo acesso a lan houses, celulares ou TV Aberta Digital. Com o desenvolvimento de tecnologias integradas e cada vez mais potentes, crian?as, jovens e adultos convivem com dispositivos de comunica??o diferenciados, que possibilitam a comunica??o e a co-autoria na produ??o de mensagens. A publica??o de blogs, a cria??o de comunidades no Orkut, a inser??o de v?deos no YouTube, a oferta de material on-line s?o exemplos que j? fazem parte da realidade de muitas pessoas.

O momento que vivemos apresenta um desenvolvimento tecnol?gico que amplia as possibilidades de comunica??o e informa??o, o telefone, a televis?o e o computador alteram a forma de viver e aprender. Por esta "invas?o" das linguagens multim?dias no cotidiano de nossos alunos ? que pretendemos indagar sobre os aspectos envolvidos na recep??o televisiva de desenhos animados e na publica??o de v?deos no YouTube com prop?sito de gerar processos de an?lises e discuss?o sobre uso das NTIC e como est?o se integrando em nossas escolas, transcendendo a mera utiliza??o para a elabora??o de trabalhos pr?ticos, para constituir-se em dispositivos s?cio-t?cnico-culturais para constru??o do conhecimento, para a compreens?o da sociedade em que vivemos e como inser??o nela de modo cr?tico e criativo.

2. Os desenhos animados e a leitura das linguagens imag?ticas

As transforma??es que a sociedade vem sofrendo, em especial nas ?ltimas d?cadas, evidenciam a forte presen?a das Tecnologias de Informa??o e de Comunica??o nas pr?ticas sociais cotidianas. Embora os contextos familiares estejam sendo invadidos por novas m?dias e tecnologias, ? fato que a cultura televisiva permanece enraizada entre as diferentes classes sociais at? os dias de hoje.

Considerando o significativo papel da televis?o como provocadora de fantasias e os desenhos animados como refer?ncias comuns ao imagin?rio e ?s culturas infantis na

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contemporaneidade, faz-se cada vez mais urgente pensar sobre a constitui??o social e cultural das crian?as diante de tamanha invas?o. Desta forma, para pensar as inf?ncias nos dias de hoje, ? necess?rio buscar uma maior compreens?o sobre a realidade contempor?nea vivida pelas crian?as. Guillermo Orozco-G?mez (2002, p.68) considera que a escola s? ser? capaz de preservar sua fun??o como institui??o educativa principal quando for "capaz de orientar os diversos aprendizados dos seus estudantes".

Silva (2004) afirma que, no mundo contempor?neo, a invas?o dos Meios de Comunica??o de Massa (MCM) ao universo infantil desafia constantemente a crian?a a ler as linguagens imag?ticas. Para Walter Benjamin (1992), as transforma??es na percep??o sensorial da humanidade, ocorridas nos diferentes momentos hist?ricos, d?o origem a um novo sensorium que emancipa o seu olhar ? reflex?o e percep??o sobre as suas representa??es de mundo. Ou seja, essa nova sensibilidade ocorre porque as condi??es sociais s?o mudadas assim como a percep??o humana sobre elas ? mudada em simult?neo. Desta forma, o novo sensorium indica as "[...] mudan?as de nosso aparelho perceptivo e cognitivo a partir da evolu??o e das transforma??es t?cnicas de produ??o de cultura" (SETTON, 2010, p.48).

Principais produtos da programa??o televisiva destinada ao p?blico infantil, os desenhos animados participam da constru??o de saberes e das produ??es e reprodu??es culturais das crian?as. Salgado, Pereira e Souza (2006, p. 165) explicam que:

A cultura l?dica infantil, nos dias de hoje, se apresenta como um espa?o social aberto ? realiza??o de hist?rias, brincadeiras e jogos, em que as crian?as est?o construindo conhecimentos, valores e identidades a partir de constantes di?logos com a cultura midi?tica global. ? cada vez mais evidente o significado que a m?dia tem assumido na configura??o do repert?rio imaginativo das crian?as ao oferecer-lhes refer?ncias simb?licas, narrativas e valores est?ticos, que comp?em o enredo de suas fabula??es, as identidades dos personagens que criam e as linguagens que comunicam e significam suas experi?ncias l?dicas transformadas em textos e imagens.

Citelli (2004, p.23) v? a televis?o como um meio fundamentalmente centrado na linguagem complexa, isto ?, no encontro de diferentes signos num mesmo campo de representa??o. O mesmo pode ser dito sobre os desenhos animados, que re?nem elementos como imagem, movimento, sons e narrativas, que juntos atraem as crian?as pela possibilidade de identifica??o, cria??o, intera??o, significa??o, ressignifica??o etc., integrando-se assim, ? cultura infantil. Diante de tantos elementos de sedu??o e de

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identifica??o n?o ? de se estranhar que as crian?as tamb?m queiram se transformar nos personagens e viver suas incr?veis aventuras.

Ao observar as brincadeiras infantis pode-se facilmente perceber a presen?a de enredos e personagens de desenhos animados como elementos de intera??o entre diferentes inf?ncias. Isso ocorre porque as anima??es trazem elementos comuns em suas narrativas, capazes de nutrir a imagina??o infantil ao possibilitar sua identifica??o com os personagens e hist?rias e, igualmente, a cria??o de novas combina??es, ampliando seus saberes e suas produ??es e reprodu??es culturais. ? o que considera Broug?re (2008, p. 54) ao afirmar que a televis?o, como suporte de comunica??o, tem seu maior valor ao oferecer refer?ncias ?nicas e linguagens comuns para as inf?ncias que vivem em diferentes contextos. Um her?i de desenho animado, por exemplo, pode permitir que as crian?as de distintas realidades participem da brincadeira de igual para igual.

Raquel Gon?alves Salgado (2005) afirma que assistir TV envolve elementos como o jogo, a brincadeira, a a??o e o movimento, ou seja, vai muito al?m de uma simples postura de telespectador. A autora considera que os super-her?is de hoje, tem caracter?sticas que os aproximam mais da realidade cotidiana vivida pelas crian?as do que os super-her?is de outros tempos: ao mesmo tempo em que os personagens s?o her?is, capazes de salvar a cidade, de criar maquinarias de comunica??o interplanet?ria e realizar in?meros outros grandes feitos, elas s?o crian?as que possuem uma rotina, t?m defeitos, qualidades e necessidades como qualquer crian?a.

Souza (apud PIROLA, 2006, p.65), afirma que o g?nero infantil ? o g?nero de televis?o que mais re?ne profissionais de diferentes ?reas (como psic?logos, educadores, m?dicos e profissionais da ?rea de educa??o f?sica) para consulta na estrutura??o de uma programa??o televisiva que atraia cada vez mais as crian?as. As m?dias, de uma forma geral, possuem atraentes recursos para captar a aten??o das crian?as, que se apropriam dos valores, princ?pios e conceitos propagados por ela. E, como em nossa realidade a cultura infantil est? imersa numa realidade capitalista, desde muito cedo as crian?as aprendem a consumir determinados produtos/brinquedos tal como acontece com os adultos.

H? um conjunto de produtos comercializados a partir de personagens de desenhos animados e filmes infantis. N?o raro, no caminho das escolas, vemos meninas e meninos usando mochilas, roupas e cal?ados que trazem estampas de v?rios

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personagens (Barbie, Power Rangers, Ben 10, Carros, Batman, Pequena Sereia, HotWheels, Homem Aranha, Minie, etc). Ruth Sabat (2002, p. 09), considera que:

A prolifera??o de imagens chega ao sistema educacional atrav?s das mais diferentes formas, sendo que uma das mais eficientes se d? por meio das personagens criadas para desenhos e filmes infantis de anima??o. O conjunto de produtos comercializados em fun??o de determinadas personagens faz delas um tema bastante popular nas escolas e nas salas de aula, trazendo um vocabul?rio pr?prio, permeando as brincadeiras entre as crian?as, sugerindo modos de ser, refor?ando antigos saberes ou divulgando novos.

Os brinquedos provenientes de desenhos animados e filmes infantis al?m de despertarem muito interesse e curiosidade por parte das crian?as costumam ampliar as possibilidades de intera??o entre elas. De acordo Broug?re (2008, p.55), atualmente os brinquedos criados a partir dos personagens de desenhos animados tem refor?ado a import?ncia da televis?o nas brincadeiras e nas pr?ticas sociais e culturais das crian?as.

Raquel Salgado e Solange Jobim e Souza ao pesquisarem as rela??es estabelecidas entre crian?as de 4 (quatro) a 6 (seis) anos de idade com o jogo de cartas Yugioh, surgido a partir do desenho animado de mesmo nome chegaram ao seguinte entendimento:

Desenho animado e jogo se complementam, compondo uma d?ade que se caracteriza pelo interc?mbio de informa??es oferecidas por cada meio. Compreender o desenho animado envolve o conhecimento do jogo de cartas, seu funcionamento e estrat?gias b?sicas, assim como conhecer o jogo de cartas requer um cabedal de informa??es que ? oferecido pelo desenho animado. Ensinando a jogar e a tornarse jogador, o desenho animado constitui-se como o manual de instru??es do jogo de cartas (SALGADO; JOBIM e SOUZA, 2005, p.05).

Quando o jogo de cartas do desenho animado se torna um brinquedo, d? ?s crian?as a possibilidade de materializar os enredos que assistem na televis?o, atribuindo sentido ?s suas pr?prias narrativas e aos personagens que assumem em suas brincadeiras.

A partir dos epis?dios do desenho as crian?as criam novas possibilidades de brincadeiras e, assim como acontece com os personagens da trama, elas constroem seus saberes ao longo de suas experi?ncias cotidianas. Silva (2004) considera que na sociedade moderna os desenhos animados, embora n?o substituam os contos de fada, exercem papel semelhante a eles em outros tempos. A autora ainda afirma que, enquanto os contos preparam a crian?a para lidar com quest?es referentes ? sua

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